quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Pesquisa de opinião

E aê, gurizada?

É o seguinte: Está aberta a temporada de pitacos!

Isso mesmo! Tô querendo saber a opinião de vocês!

Então fiquem à vontade para me dizer o que vocês gostariam que mudasse ou melhorasse aqui na "nossa casa"! 

Tá valendo também dizer que tipo de fic gostariam de ver por aqui! Tenho ideias para duas inéditas, mas quem sabe, a partir da sugestão de vocês, não surgem novas histórias?

Basta clicar ali nos comentários e soltar a voz! É rápido, prático, indolor,  e vai deixar essa quase-escritora aqui muito feliz! =)

Conto com a participação de vocês!
  

Capítulo 23 - O nosso tempo é hoje - Parte II

Notas iniciais: Espero que gostem!
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No capítulo anterior:

- Rafaela, calma! Nós vamos agora mesmo para Sampa. Eu vou ligar para o Dr. Ursinho e deixá-lo a par da situação. Enquanto isso, você liga para a Malú e para o André, pede para os dois pegarem a Dora e a Vick, depois passarem no hotel para pegarem a mala da Nicole que está lá e partirem para nos encontrarem no hospital. Eu vou avisar a Dona Marizete e pedir que ela dê a notícia ao Luan assim que o show acabar – Passei as instruções calmamente tentando achar uma posição confortável naquela maca – E agora, pé na tábua! Eu tenho um bebê para dar a luz!
 
***
Toda a minha calma e tranquilidade acabaram quando cheguei no hospital. Um batalhão de enfermeiros já estavam a minha espera e mais uma bateria de exames foi feita para verificar se a Nicole estava bem.
 
Fizeram eu vestir uma camisola horrível e me deixaram em uma sala para esperar que as contrações ficassem mais frequentes. Cada vez que uma nova vinha eu fazia um tremendo escândalo, nem me importando com a cara feia que as enfermeiras faziam ao meu ouvir gritar. Que se danasse a dignidade e as boas maneiras! Aquelas contrações doíam mais que do que se alguém estivesse arrastando a minha cara no asfalto!
 
- AHHHHHHHHHHHHHHH, EU QUERO A MINHA MÃE! – Gritei quando outra “onda” de dor veio. Agora elas estavam cada vez mais frequentes, sinal que a minha hora estava chegando.
 
- Calma Gata Garota! É assim mesmo! Vai doer um pouquinho, mas vai valer a pena... – A Rafa apertava a minha mão, tentando me dar forças – O André e a Malú já chegaram. Estão lá na sala de espera com a Vick e a Dora. O Luan daqui a pouquinho deve estar estourando por aqui também... Você não sabe, lá fora já está um pandemônio! Tem repórter e fotógrafo para todo lado! Não sei como eles conseguem ficar sabendo das coisas tão rápido... Eu nem consegui avisar a sua mãe ainda...
 
- Ahh, que se dane tudo isso, Rafa! Mas pelo amor de Deus, faz essa dor parar! – Pedi, suando frio.
 
- Não tem como, Any! Não tem como... Mas daqui a pouco passa... Agora falta pouco! Aguenta só mais um pouquinho... – Ela me pediu acariciando meus cabelos, o olhar preocupado.
 
- Rafa, se alguma coisa acontecer, você cuida da Nick pra mim? – Falei baixinho.
 
- Para com isso, Anita Tunice! Tudo vai dar certo! Nós ainda vamos levar as nossas filhas para fazerem compras juntas no shopping! - Ela me repreendeu, a expressão séria.
 
- Você vai levar, né? Porque eu “tô” fora desse “rolê” de patricinhas! – Pulei fora daquele “passeio de índio”.
 
- Tudo bem, eu levo... – Ela riu – Any, eu só queria te falar que... – A minha empresária hesitou, ainda mexendo no meu cabelo - ...Que eu tenho certeza que você será uma ótima mãe! Você se saiu muito bem até aqui. Bom, tirando todos esses gritos, né? Enfim... só quero que você saiba que eu sinto muito orgulho de você e que tenho certeza que tudo vai dar certo. Não foi à toa que a sua primeira contração veio logo na hora que o Luan ia cantar “O nosso tempo é hoje”. Isso foi um sinal de Deus, Any. É Ele querendo te dizer que um novo tempo está começando, com muitas alegrias e bênçãos.
- Rafaaa, você vai me fazer chorar – Pedi que ela parasse, já com os olhos cheios de lágrimas.
 
- Eu tenho certeza que você vai muito longe ainda, Gata Garota! Como mãe, atriz, mulher, esposa... E eu sempre vou estar aqui do seu lado, para te aplaudir e te dar a mão toda a vez que precisar – A essas alturas a loira já estava aos prantos, as lágrimas rolando pelo seu rosto e caindo ao meu lado na cama.
 
- É bom mesmo que não largue, porque você sabe que eu não sou nada sem você! – Confessei, as lágrimas também tomando conta de mim.
 
- “Paxããããõooo”, ôôôô “Paxãããõoo”! Minha Nossa Senhora, fiquei preocupado demais com você! – O Luan entrou de sopetão interrompendo o momento “mimimi” que estava rolando entre eu e a loira.
 
- Nossa, agora que o Luan chegou, vou procurar uma enfermeira. A Anita apertou tanto a minha mão que acho que conseguiu até quebrar os meus ossos – A Rafinha exagerou antes de nos deixar a sós.
- E aí, como você tá? Tá doendo muito? – Ele perguntou sentando ao meu lado e pegando a minha mão.
 
Bem nessa hora outra contração chegou, fazendo todo o meu corpo tremer. Apertei a mão do meu marido muito forte, mas dessa vez não gritei. Não queria que o Luan pensasse que eu era uma fraca.
 
- Tô indo... – Respondi tentando manter a minha voz firme – E o DVD? Como foi? Desculpa não ficar até o final. É que a Nicole não quis esperar até a hora dos créditos...
 
- Shiuuu, não precisa falar nada! Eu sei o que aconteceu... – Ele me deu um beijo carinhoso na testa – Fiquei preocupado quando não te vi lá, mas aí o Well me contou que você estava a caminho do hospital. Nunca quis terminar um show tão rápido... – Meu marido deu aquela risada gostosa que só ele sabia dar - Toda hora o companheiro ficava me falando no ponto que eu tinha que ir mais devagar, mas eu “tava” é com uma pressa danada! Nem errei as letras que era para não ter que voltar e fazer de novo...
 
- Negão fofoqueiro! – Resmunguei mal humorada – Mas “tava” tudo lindo demais! Eu conseguia sentir toda a energia positiva que estava rolando ali, fiquei emocionada com as pessoas cantando com você. Esse mundo que você criou ficou perfeito... – Falei, tentando esquecer por um momento a dor que estava tomando conta de mim.

- O nosso mundo, Ní... Eu fiz tudo aquilo para você, para nós... – Ele passou a mão pela minha barriga – e para todo mundo que vive esse sonho com a gente – O Luan se abaixou e beijou os meus lábios suavemente, o seu gosto doce contrastando com o sabor salgado das minhas lágrimas – Obrigada por fazer parte disso tudo e por fazer de mim o homem que eu sou hoje!

Tentei responder, mas outra onda de dor tomou conta de mim. Cerrei os olhos, tentando aguentar o mais firme que eu conseguia, mas dessa vez a contração veio forte demais. Tão forte que eu precisei me agarrar na beirada da maca.
 
- Lúúú... Faz essa dor parar! – Gemi, sentindo que todas as minhas forças já estavam indo embora.
 
- Calma, calma! Eu vou chamar a enfermeira! – Ele saiu em disparada pelo corredor, voltando pouco tempo depois com uma mulher loira ao seu lado.
 
- É Anita, acho que a hora chegou... Vamos lá? – Ela perguntou se posicionando atrás de mim na maca, falando como se estivéssemos indo fazer compras no shopping e não prestes a entrar em uma sala de parto. Fala sério, será que ela sabia a dor que eu estava sentindo?
 
- Beleza, eu vou com vocês! – O Luan disse decidido.
 
- AHHH, NÃO VAI NÃO! – Protestei usando o resto de energia que me sobrava.
 
- Ahhh, mas eu vou sim! – Ele bateu o pé.
 
- Senhor, para entrar no centro cirúrgico é necessário estar com roupas adequadas – A enfermeira observou. Com certeza os coturnos do meu marido não seriam bem aceitos naquela ala do hospital.
 
- E onde eu arrumo essas tais roupas? Fico pronto num “instantinho” só! – Ele insistiu, irredutível.

- Se o senhor me acompanhar... – A enfermeira falou com a voz vacilante, como se estivesse se decidindo se aquela era ou não uma boa ideia.
 
- Luan Rafael, eu te proíbo de entrar na sala de parto! – Tentei parecer firme, mas outra contração veio, me fazendo gritar e me contorcer de dor. A última coisa que eu queria era que ele me visse naquela situação: coberta de sangue, em uma posição nada sexy e fazendo força que nem uma “égua veia”. Não havia amor que resistiria a isso, eu poderia apostar!
 
- Você não está em condições de discutir, Ní! – Meu marido falou – “Vamô” moça, minha mulher está tendo um filho! Leva logo ela daqui!
 
Uma segunda enfermeira apareceu na sala e trocou algumas palavras rápidas com a primeira. Após entrarem em um acordo, a segunda começou a empurrar a minha maca corredor afora enquanto a outra falava com o meu marido.

No caminho fui resmungando sem parar. Praticamente implorei para que a enfermeira não permitisse a entrada do Lú no centro cirúrgico. Ela apenas balançava a cabeça, sem nem se dar o trabalho de me responder. As dores aumentavam e conforme eu avançava, mais apreensiva eu ficava. Depois que eu passasse por aquelas portas não teria mais jeito...

Fui levada até o centro cirúrgico, onde me deitaram sobre uma mesa rodeada de aparelhos médicos. O Dr. Ursinho veio até mim e me explicou o procedimento do parto normal e conversou comigo para me acalmar. Tentei me concentrar nas palavras que ele me falava, mas todos aqueles equipamentos, a luz forte sobre mim, os enfermeiros andando de um lado para o outro como formigas... Tudo estava tirando a minha concentração e me deixando completamente apavorada.
 
De repente comecei a lembrar que tudo poderia dar errado. Que a minha filha poderia nascer com algum problema e que os médicos poderiam não conseguir ajudá-la, ou que eu poderia não resistir ao parto e não conseguir ver o rosto da minha Nick... Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto e tive vontade de me encolher e ficar ali, quieta. Mas a dor das contrações não parava e o Dr. Ursinho já estava dando início ao parto. Era como se houvesse um bilhão de pessoas ao meu redor, mas ninguém realmente entendia o que estava se passando dentro do meu coração. Eu queria gritar, queria fugir, me esconder... Eu estava tão desesperada e com tanto medo que não conseguia ouvir nada do que as pessoas me falavam. A luz e as paredes brancas ofuscavam e a minha visão, me deixando sem conseguir enxergar nada.
 
Eu tremia inteira quando senti alguém segurando firme a minha mão. O meu braço já estava atado a alguns equipamentos, limitando os meus movimentos. Olhei para o lado e lentamente vi o rosto do meu marido entrando em foco. Ele estava usando uma roupa verde esquisita; dessas típicas de hospital, e uma máscara no rosto que tampava a sua boca. Ele olhava para mim com os olhos emocionados e apertava a minha mão com força, como se nada fosse capaz de fazê-lo soltar. Mesmo sem falar nada, consegui compreender o que ele queria me dizer: Que tudo iria ficar bem, porque aquele era o nosso tempo. Tempo de ser feliz e ir além, assim como eu dissera para ele naquela manhã.
 
- Anita, vamos começar! Preciso que você faça força sempre que sentir uma contração vindo, ok? – Aos poucos consegui voltar a “compreender” tudo que estava ao meu redor e me concentrar nas orientações que o médico estava me passando.
 
Tentei focar no toque do meu marido na minha mão e pensar que tudo daria certo. De olhos fechados, pedi que Nossa Senhora abençoasse a nós duas e iluminasse o aquele parto. Depois comecei a imaginar como seria o rostinho da minha filha, em como seria bom poder carregá-la no colo, sentir o seu cheiro... Agora faltava pouco para conhecer aquela que iria mudar a minha vida para sempre.
 
Não sei se foi essa curiosidade que tomou conta de mim, ou se foram as minhas forças que já estava prestes a se esgotarem, mas tudo passou muito rápido. Em um minuto eu estava fazendo força e sentindo dor e, de repente, veio um alívio, um silêncio e o choro de uma criança tomando conta da sala. Era a Nicole, a minha filha! Finalmente ela havia chegado!
 
Tombei a cabeça para o lado à procura do meu marido. Ele ainda estava segurando a minha mão, me encarando com os olhos cheios de lágrimas.
 
Com um enorme esforço, mexi a cabeça para o outro lado, à procura da minha menina. Uma nuvem de aventais brancos estava ao seu redor, a examinando. O seu choro ainda enchia a sala e fazia o meu coração doer. Eu queria poder colocá-la nos meus braços e protegê-la de todos os males.
 
- O coração não está respondendo como deveria, temos que levá-la para o centro cirúrgico, ela vai precisar ser operada – Ouvi o pediatra falar. Meio minuto depois a minha pequena já estava sendo encaminhada para a pediatria, a "nuvem branca" correndo atrás dela.
 
Meu coração parou dentro do peito. Não, minha filha não! Tudo o que eu queria era ver o rostinho dela, conhecer aquele ser tão pequeno e frágil. Senti como se tivessem arrancado um pedaço de mim, como se eu fosse impotente demais para proteger o meu bebê.
 
- Luan, por favor, cuida dela! Cuida da nossa filha – Pedi com o que restava das minhas forças antes de tombar novamente a cabeça na maca e fechar os olhos, a exaustão me vencendo por completo.
 
***
Acordei com um sobressalto. De imediato percebi que não estava mais no centro cirúrgico. Paredes em um tom de verde sem vida; móveis em cores neutras e poltronas de couro que pareciam muito desconfortáveis. Com certeza aquele era um quarto de hospital. A minha experiência em aposentos como aquele durante a minha gestação não deixava dúvidas!
 
Ao meu lado, sentado em uma cadeira completamente torto e com a cabeça sobre o colchão estava o meu marido. Ele dormia como uma “pedra” com uma das mãos sobre a minha e o celular ao lado. Apesar do desconforto da situação, eu não quis acordá-lo de imediato. De olhos fechados ele parecia um menino que havia aprontado demais ao longo do dia e que agora estava exausto. Sem dúvidas o dia fora muito longo para o Lú... E eu bem sabia que, por conta do DVD, ele não dormia direito há pelo menos umas duas noites. Por isso aqueles minutinhos de descanso eram mais do que merecidos...
 
Fiquei velando o seu sono por uns cinco minutos até que a curiosidade falou mais alto. Eu estava desesperada por notícias da minha filha... Precisei cutucá-lo umas quatro vezes até que finalmente o Luan abriu os olhos, a expressão de cansado estampado no seu rosto.
 
- “Paxão”, você acordou! – Ele disse com a voz enrolada de sono.
 
Assenti com a cabeça sorrindo para ele e acariciando seus cabelos. Ele se ajeitou na cadeira e, coçando os olhos, já foi logo falando tudo o que eu mais precisava saber.
 
- A Nica tá bem, Ní! Graças a Deus! O médico me disse que, na verdade, o procedimento era bem simples e que tudo correu bem. Agora ela está no berçário, mas já, já vão trazê-la para a primeira mamada. Você precisa ver, “Paxão”, nossa menina é linda demais! Igualzinha a você! – Ele me contou com os olhos brilhando de felicidade e com um sorriso largo no rosto.
 
Respirei aliviada. Era como se o mundo tivesse voltado a girar, como se o ar de repente ficasse mais leve, e até o quarto de hospital ficara mais alegre. Eu estava toda dolorida, parecendo que havia sido atropelada por um trator, mas a única coisa que me importava era que a minha filha estava bem. E que o Luan gostava dela... Todo o receio que eu tive ao longo da gravidez porque a Nicole era uma criança especial de repente evaporaram como água. Ver o sorriso no rosto do meu marido era a prova de que a Nick já era muito amada, por mim e por ele.
 
- Com licença, podemos entrar casal? – A Rafa abriu um pouquinho a porta para anunciar a sua presença, além do André e da Malú.
 
- Trouxemos várias “coisinhas” úteis para animar esse quarto de hotel tãããooo sem GRA-ÇA! Frutas, “comidinhas” saudáveis, travesseiros, revistas de mulher, leia-se sobre moda e FO-FO-CAS-; e filmes “água com açúcar” – O diretor foi falando enquanto descarregava em uma das poltronas uma sacola grande de supermercado e uma mala, ambas lotadas até as “tampas” de tranqueiras.
 
- Também trouxemos roupinhas e fraldas extras para a Nicole e “pijaminhas” confortáveis e chiques para que você possa receber as suas visitas, Any – A Rafa emendou sentando-se na beirada da cama.
 
- Sua mãe e o Caio já passaram por aqui, mas você estava dormindo... Eles viram a Nick e falaram que voltam mais tarde para ficar com você – Foi a vez da Malú se pronunciar – “Seu” Amarildo e Dona Marizete também já estiveram por aqui. O “sogrão” e a “sogrona” foram para o hotel tomar um banho e também devem voltar mais tarde com a Bruna. Seu celular não para de bombar! Não aguento mais atender tanta gente querendo saber se você e a Nicole estão bem. Até o seu amigo Robert ligou... - Ela fez questão de enfatizar bastante o nome do meu amigo britânico.
 
- Só meu amigo, Maria Luiza? – Levantei a sobrancelha e perguntei em tom irônico.
 
- É, é... Meu amigo também... – Ela desconversou. Eu ainda não acreditava que ela e o Rob tinham ficado na temporada que passamos em Los Angeles. Na época eu estava gravando um filme com o meu amigo e a fotógrafa aproveitou para se “aproximar” e manter uma "amizade colorida" com ele – Mas o que importa é que a Nicole mal chegou ao mundo e já é o assunto mais comentado nas redes sociais. Sem falar na multidão de gente que está lá fora, esperando por notícias! Cara, a Nick tá fazendo mais sucesso que o bebê real que nasceu lá na Inglaterra – A Maria se apressou em mudar de assunto, fingindo propositalmente que não vira a cara feia que o André fez quando tocamos no nome do Robert.
 
- Luan, se você quiser ir tomar um banho e descansar um pouco, pode ir...- a Rafa se virou para o meu marido – Você deve estar morto de cansaço! Não arredou o pé do lado da Any desde que chegou ao hospital...
 
- É, o sono tá pegando aqui.. – Meu marido bocejou, os olhos quase fechando de tão cansado – Mas eu não queria deixar nenhuma das minhas duas “Nís” sozinhas – Ele segurou novamente a minha mão, me olhando de uma forma tão carinhosa e apaixonada que precisei me conter para não suspirar de tanto amor. Passar por toda aquela dor do parto até que tinha as suas vantagens...
 
- Vem cá, Paixão! Dorme aqui comigo – Fui um pouco para o lado, dando espaço para o Lú deitar-se ao meu lado.
 
O Luan não se fez de rogado. Pulou para o meu lado, encostando as costas no travesseiro, cruzando as pernas confortavelmente sobre o colchão.
 
- Com licença, com licença... – A Bruxa Loira bateu na porta e já foi entrando, dando de cara com aquela cena – Mas... o que é isso? Luan, já falei que sua esposa precisa de repouso agora. Tudo bem que o senhor queira oferecer apoio e estar ao lado da Anita, mas acho que não precisa tanto, né? – A médica chamou a atenção do meu marido, que estava com tanto sono que mal deu atenção ao que a doutora estava falando.
 
- E vocês? – Ela olhou para os meus demais colegas de quarto – Francamente, isso é um quarto de hospital e não uma reunião de amigos. A Anita PRECISA descansar!
 
- Ô “dotora”, leva a mal, não! É que a nossa Trupe é assim mesmo... Meio “festera” – O Luan despertou de repente e soltou a sua “pérola”, fazendo todo mundo cair no riso.
 
- Certo Anita, vim até aqui para ver como você está. Isso é, se o seu marido permitir... – A médica retomou o assunto com a cara fechada, olhando feio para o Luan.
 
- Opa, opa! É pra já... Pode examinar “dotora”.Olha aí como a minha “Paxão”, tá... – Ele pulou da cama, já cheio de energia. Nem parecia o mesmo de dois minutos atrás.
 
A médica me fez uma série de perguntas além de medir a minha pressão e me examinar. Todo mundo ficou no mais completo silêncio no quarto, na certa com medo de levar outra bronca da Bruxa Oriental.
 
- Pronto! Está tudo bem com você, Anita. É normal você se sentir cansada assim, mas nada que um pouco de repouso não vá te ajudar – Ela disse lançando um olhar muito severo para o meu marido – Mas agora... Quem aqui quer alimentar a filha pela primeira vez? – Ela mudou de assunto sorrindo pela primeira vez desde que chegara, aliviando o clima no quarto.
 
- Ahhhh, eu quero muito! Por favor, por favor! – Praticamente implorei.
 
- Vou chamar a enfermeira. Só um “instantinho” – Ela saiu do quarto, voltando pouco tempo depois com uma moça vestida de branco com um bebê no colo. O meu bebê! O meu bebê!
 
Meu coração disparou dentro do peito, e quase não consegui respirar de tanta ansiedade. Parece que demorou uma eternidade para a enfermeira atravessar o quarto e entregar a Nicole para mim.
Fiquei de braços estendidos, contando os segundos para segurar a minha filha. Primeiro eu senti o calor do seu corpo, depois apreciei o seu rostinho, os olhinhos puxados, as mãozinhas que pareciam as de uma boneca, a boquinha... Meu Deus, ela era tão perfeita! E era minha, só minha!
 
- Lú... Ela é a sua cara! – Falei, com lágrimas nos olhos – Tem o seu nariz, a sua boca...
 
- Para Ní, ela é igualzinha você! Uma mini-granfina! – Ele rebateu.
 
- Dona Anita, vamos lá? Tem alguém aqui que está morrendo de fome! – Uma segunda moça, que eu nem tinha reparado até então, me falou – Meu nome é Carolina, eu sou fonoaudióloga, e vou ajudá-la a amamentar a sua filha pela primeira vez – Ela sorriu, simpática e solícita.
 
Eu já sabia que bebês com Síndrome de Down poderiam ter dificuldade na sua primeira amamentação, por isso já havíamos incluso a “fono” na minha “Super Equipe de Parto”. Cuidado extra do Dr. Ursinho que se mostrou muito útil.
 
Tentei ao máximo segurar a emoção enquanto ela me passava todas as instruções. Mas no final das contas tudo foi muito natural, como deveria ser. Parecia que eu fora treinada a vida inteira para aquilo. Senti ela sugando o leite de mim, e por mais que doesse e incomodasse um pouco, eu nem me importava. Naquele momento éramos só nós duas, alimentando a nossa conexão entre mãe e filha que seria eterna.
 
Depois que ela mamou, fiquei uns minutinhos com ela no colo, até que ela dormiu. Depois o Luan também a segurou um pouquinho e todo mundo ficou paparicando a minha Nick até que a enfermeira disse que era hora de levá-la de volta. A "super equipe médica" nos deixou sozinhos novamente, eu já morrendo de saudades da minha “filhota”.
 
- Bom, já vimos a Nica, agora é hora de descansar um pouco. Luan, tenho ordens expressas para te levar para casa. Você PRE-CI-SA dormir! – O André anunciou.
 
- É Nick, Dé! - Corrigi impaciente - E você não tinha parado de falar AS-SIM? – Quis saber.
 
- A minha CU-RI-CA gosta! – Ele rebateu seco.
 
- Lú, pode ir descansar! Eu fico com a Any – A Rafa entrou no assunto.
 
- Tá certo, tá certo... Tô precisando mesmo de um banho. Tô “numa” catinga só – Meu marido brincou – Ní, eu vou indo lá, mas eu volto tá, “Paxão”? – Ele segurou o meu rosto me dando um beijo na testa – Você fez de mim o homem mais feliz do mundo hoje. Eu te amo, te vivo... pra sempre, até além dessa vida minha Granfina – Ele sussurrou baixinho no meu ouvido para que só eu pudesse ouvir. Depois me deu outro beijo nos lábios antes de sair, me deixando com o coração transbordando de tanto amor. Caraca, eu tinha o melhor marido do mundo!
 
- Rafa, eu tive uma ideia... – Falei empolgada. Eu tinha gostado tanto daquela sensação de fazer o meu marido o homem mais feliz do mundo que não custava fazer mais uma “coisinha” para agradá-lo...
 
- Diga Any, estou aqui para ouvi-la – Ela me respondeu, mais interessada no seu celular do que em mim. Na certa falando com o Murilo, que estava de malas prontas para embarcar para Nova York. O Bebê não havia conseguido cancelar a sua inscrição no curso de interpretação no qual se matriculara e, como já havia pagado e a escola não devolvia o dinheiro, ele resolveu ir mesmo assim. Claro que agora ele estava me odiando por fazer a esposa desistir da viagem, mas... o que eu poderia fazer? Só mandar um beijinho no ombro para ele!
 
- Eu quero me casar de novo – Contei o meu plano genial.
 
- Tá louca, Anita? Você já é casada! – Ela me encarou como se eu estivesse delirando.
 
- Exatamente! Mas eu quero me casar de novo! Na capela da fazenda. Lembra que te contei daquela “ceninha” que eu e o Luan fizemos na igrejinha quando ele me levou lá pela primeira vez? Então... Quero fazer de novo. Mas dessa pra valer!
 
- O casamento da Granfina e o Caipira; o Segundo ato? – A loira perguntou com um brilho nos olhos. Na certa ela já estava imaginado a cena, assim como eu.
 
- Com todo o charme da fazenda – Assenti – Porque tudo que é bom merece um “repeteco”. E aí, topa me ajudar?
 
- Tô dentro! Que venha o segundo ato! Luanita vai brilhar, com certeza!
_______________________________________
Notas finais: Siiiim, eu sou dessas que curte um casamento! Rs!
Então se preparem, porque a Granfina e o Caipira vão casar de novo! E esse casamento vai bombar!

E a nossa pequena Nica? Linda, né? Uma verdadeira princesa!

É isso meninas, o próximo será o último cap dessa temporada! Separem os trajes de gala, porque será uma despedida em grande estilo!

Espero por todas vocês!

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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Capítulo 22 - O nosso tempo é hoje - Parte I

Notas iniciais: Genteee, é o seguinte:
O capítulo estava ficando enorme, então precisei dividi-lo em duas partes!
Essa primeira tá bem "morna", mas espero que gostem!
Bora lá?
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Ponto de vista da Anita
 
Algum tempo depois...
 
- Tá nervoso?
 
- Demais da conta...
 
- Fica tranquilo! Esse é o nosso mundo, lembra? O lugar onde os nossos desejos se tornam realidade... – Segurei a sua mão entre as minhas a acariciando de leve – O nosso tempo é hoje, Paixão! Tempo de amar, ser feliz e ir muito mais além. Pode ficar tranquilo que tudo vai dar certo! E eu vou estar aqui do seu lado para comemorar mais essa vitória com você!
 
- Obrigado por tudo “Paxão”. “Tô” feliz demais por te ter aqui comigo hoje – Ele me abraçou e me beijou delicadamente nos lábios, acariciando de leve o meu cabelo – Mas e você? Tá tudo bem? Tem certeza que quer ir agora comigo? Porque dá para você ir depois, na hora do show e ficar quietinha na área dos convidados com a minha família... – Era a quinta vez que ele me falava desde que havíamos chegado em Itú, pela manhã. Isso é o que as pessoas chamam de “pai coruja”.
 
- Luan Rafael, já disse que quero estar do seu lado nesse momento tão especial. E também já disse que eu e a Nicole estamos bem. Tá tudo certo com o pessoal do hospital para quando chegar a hora. Mas por enquanto, tudo o que podemos fazer é esperar a Nick resolver sair daqui de dentro! – Expliquei usando toda a minha didática e paciência para tentar acalmar o Luan. Nem se o mundo resolvesse acabar eu deixaria de acompanhá-lo naquela gravação.
 
- Então tá certo, Ní! - Ele se deu por vencido, finalmente -  Já vi que você não vai mudar mesmo de ideia, né? Mas se Deus quiser vai dar tudo certo! Bora que o dia hoje vai ser longo e promete... – Pegamos as nossas coisas e, depois de me dar outro beijo rápido, saímos do nosso quarto no hotel.
 
Logo de cara no corredor já encontramos com o Fábio, futuro novo empresário do Luan, junto com o Sorocaba. Os três engataram uma conversa animada à caminho da garagem comentando as expectativas para o show de logo mais, me deixando sobrando no assunto. Homens... Aff!
 
Fazia um dia bonito em Itú e, enquanto seguíamos de carro para a Arena Maeda, local onde aconteceria a gravação do 3º DVD do meu marido, me sentei “quietinha” no meu canto e fiquei refletindo sobre tudo o que acontecera naqueles últimos dias.
 
O grande dia finalmente chegara e o Luan estava com os nervos à flor da pele. Eu sabia que aquele novo trabalho seria um “divisor de águas” na sua carreira, que já era considerada mais do que meteórica. Ao longo de todo o processo de pré-produção eu estive ao lado dele, cuidando de cada detalhe... Até quando estávamos brigados eu colaborei involuntariamente compondo uma música que acabou entrando para o novo repertório.
 
Era claro que eu queria estar ao lado do meu marido naquele dia tão importante. Era minha obrigação como esposa, e meu dever como pessoa que o amava infinitamente. Porém, por outro lado, tinha a nossa filha que me preocupava muito.  Eu estava no oitavo mês de gestação e, como era comum acontecer com crianças com Síndrome de Down, a Nicole corria o risco de nascer antes do tempo. Não bastasse isso, ainda havia o risco da Nick precisar passar por uma cirurgia no coração logo após o seu nascimento – crianças como ela estavam propensas a ter problemas cardíacos. O procedimento geralmente era simples e não oferecia risco, mas mesmo assim me assustava.

 Os meus dois médicos (O Dr. Ursinho e a Bruxa Oriental) já haviam escalado um verdadeiro “batalhão” de profissionais para o meu parto. Na lista estavam pediatra, cardiologista, fonoaudiólogo e fisioterapeuta. Os doutores haviam me aconselhado a permanecer perto de São Paulo, onde ficava o hospital que eu escolhera para dar a luz, para o caso de um parto prematuro. Mas é claro que eu ignorei todos os avisos e viajei para Itú, linda e glamurosa, pronta para “divar” no show do meu marido. Tirando um cansaço fora do normal e um “peso” enorme na barriga, eu me sentia ótima. Mesmo que a Nicole resolvesse vir ao mundo naquele dia, eu estava confiante que tudo iria dar certo. O clima de otimismo entre o pessoal da produção era tão bacana que parecia que Deus havia abençoado especialmente aquela data e permitido que todos nós sentíssemos uma energia diferente, algo que beirava à magia. Era uma sensação incrível, e era essa sensação de bem-estar que me dava a certeza que eu tinha tomado a decisão certa.
 
- “Paxãããooo...”, Ôoôôô muié, vai descer não? – Ouvi o Luan me chamando. Eu nem havia me dado conta, mas nós já havíamos chegado ao local do show.
 
- Ops, foi mal! Acho que viajei aqui... – Me desculpei enquanto me levantava para sair do carro.
 
- Ihhh gente, não repara não! A minha “bolotinha” anda muito “avoada” esses dias. Minha mãe disse que é por causa da gravidez – Ele explicou para o resto do pessoal que estava na van com a gente.
 
- E essa “meninona”, nasce quando? – O Sorocaba quis saber.
 
O Luan olhou sério para mim. Ele estava completamente ciente da possibilidade da Nicole chegar ao mundo antes do tempo e do pedido dos médicos para que eu não viajasse. Mesmo assim ele concordou em me deixar ir para Itú. Primeiro porque ele queria toda a sua família reunida naquele dia, e segundo porque sabia que mesmo que não concordasse eu iria de qualquer jeito. Mas era claro que o exagerado do meu marido e a “complexada” da minha empresária haviam contratado uma ambulância e pedido para que ela ficasse de plantão na arena, caso acontecesse algum “imprevisto”.
 
- Para o mês que vem! – Respondi sorrindo, como se tudo estivesse na mais perfeita ordem.
 
- Êêê... Quero nem ver o quanto o Luan vai ficar babando nessa menina! – O “Soro”, como o Lú o chamava, comentou tirando onda com a cara do amigo.
 
O Lú não disse nada, apenas ficou me encarando como se estivesse pensando “Como você pode ficar assim, tão tranquila, com tudo isso que está acontecendo?”. Ignorei o olhar e passei a caminhar ao seu lado, acompanhando o resto do pessoal que seguia para os bastidores do palco.
 
Assim que tive uma chance, virei para ele e falei sem emitir som “Tá tudo bem, para de se preocupar”.
 
- Eu não sei se fico mais preocupado com você ou com essa gravação. Desse jeito eu “num” guento não, “Paxão”! – Ele sussurrou para mim, fazendo cócegas no meu ouvido.
 
- Foca só no show, tá? O resto deixa comigo! – Pisquei para ele, tentando lhe passar confiança.
 
Ele apertou a minha mão antes de me puxar e passar o seu braço ao redor de mim – Obrigada de novo por estar aqui.
 
- Eu prometi, lembra? Estar ao seu lado sempre para te fazer voar cada vez mais alto – Repeti baixinho parte dos meus votos de casamento, para que só ele pudesse me ouvir.
 
Meu marido deu um selinho rápido nos meus lábios antes de entrarmos na área dos bastidores. Dali em diante o dia virou uma loucura! Começamos com uma troca rápida de roupa, conversa com os empresários e a assessora... Depois coletiva de imprensa, atendimento aos fãs ganhadores de uma promoção organizada pela Central de Fãs, acertar os últimos detalhes, troca definitiva de figurino e maquiagem para a gravação... Fiz o possível para acompanhá-lo em todos os momentos. Às vezes eu precisava parar e repirar um pouco mais fundo, mas no geral passei o dia super bem. Só de ver o sorriso no rosto do Luan já era o suficiente para me manter de pé. Ele estava tão feliz e empolgado que era capaz de contagiar a todos ao seu redor.
 
- Ahhh, vou aproveitar que o Luan te largou um pouquinho para paparicar a minha “cunha” e a minha sobrinha! – A Bruna sentou-se ao meu lado enquanto eu fazia uma “boquinha” nos bastidores. O Luan estava no camarim, se arrumando para o show (coisa que poderia demorar horas e horas se dependesse dele...). O lugar parecia com uma grande sala, decorada com mesas e sofás brancos e estava cheia de gente. Desde os integrantes da banda até o pessoal da produção, todo mundo conversando em um crescente clima de expectativa.
 
- Ahhh, vem cá Piroca! E aí, como está a facul de Moda? Te contei que a Rafa amou o vestido que você escolheu para ela, né? – Comentei depois de tomar um gole de suco.
 
- Eu vi a foto no Instagram dela! Ficou um arraso mesmo, né?! – A  Brú disse, também se servindo de um gole de suco – Então, a facul de moda está indo, mas... – Ela parou no meio da frase, a expressão desanimada.
 
- Mas... – Tentei incentivá-la a continuar falando.
 
- Eu adoro moda e tudo mais... Mas acho que não é exatamente o que eu quero para mim. Tipo, viver disso, sabe? – Ela tentou me explicar, mexendo nos cabelos.
 
- Você queria mesmo era fazer teatro, não é? – Perguntei em tom de confidência.
 
- É... – Ela concordou me encarando com aqueles olhos castanhos que pareciam os de uma boneca de porcelana.
 
- E por que não faz? – Indaguei dando outro gole no meu suco.
 
- Porque eu tenho medo. Não quero ser aquele tipo de pessoa que todo mundo vai olhar e falar: Só fez sucesso porque é irmã do Luan Santana. Eu quero ser como você, sabe? Ter a minha própria carreira, ser reconhecida pelo meu talento, construir a minha trajetória pelo o que eu sou... – Ouvi  a Bruna falar e aquilo, de certa forma, me encheu de orgulho. Era bom saber que apesar da minha personalidade “difícil”  mesmo assim eu servia de exemplo para alguém.
 
- Piroca, para qualquer coisa que você fizer nessa sua vida você sempre vai enfrentar esse tipo de julgamento. Não importa o quão boa ou quão ruim você seja. Você só deixará de ser "A irmã do Luan" quando fizer algo que seja só seu. Eu não sou conhecida como Anita Tunice porque esse é simplesmente o meu nome. Sou conhecida dessa maneira porque essa se tornou a minha assinatura, a minha marca pessoal. Se o que eu faço hoje é reconhecido é porque eu sempre me joguei atrás do que eu queria sem medir as consequências. E eu acho que é isso que você deve fazer: Ser você mesmo, correr atrás do que quer e dedicar-se ao máximo às suas paixões – Aconselhei sorrindo para ela de uma maneira encorajadora.
 
- Aiiii Any, mas será que eu levo jeito? Tenho medo de ser muito tarde para começar... – Ela voltou me encarar com aquele jeito de “menina”, capaz de encantar a todos.
 
- Nunca é tarde para correr atrás dos seus sonhos, Brú! E claro que você leva jeito, já te disse isso! Se quiser eu te ajudo! Posso te encaminhar para fazer um teste na escola do Wolf Maia! A Inês, a moça que me ajuda a compor os meus papeis, dá aula lá! Tenho certeza que você vai amar – Sugeri me sentindo o máximo no papel de “Cunhada super-mega-legal”.
 
- Fechou Any! Eu vou sim! Você tem razão, acho que é hora de arriscar e ir atrás de fazer algo só meu – Ela disse com um sorriso contagiante no rosto.
 
- É assim que se fala, garota! Fica tranquila que amanhã mesmo eu ligo para a Inês e acerto tudo com ela – Garanti, empolgada com a ideia.
 
- CHE-GA-MOS! Viemos desejar sorte ao DI-VO! – O André entrou na sala chamando a atenção de todos. Junto dele estavam a Malú, Rafa e Vick, além da Dora. O restante da Trupe infelizmente não havia conseguido estar presente. O Neymar já havia viajado para a Europa. O Pato tinha jogo e a minha amiga Bruna estava ocupada com a gravação da novela e a participação no quadro da “Dança dos Famosos”.
 
- E aí, Any? Como estão as coisas? – A Rafa perguntou. Pelo tom de voz, a minha empresária estava se referindo à mim e à Nick e não à gravação no geral.
 
- Estamos bem. Luan já está se trocando e aquecendo a voz. Daqui a pouquinho ele vai entrar no palco... – Desconversei de propósito – Já tô ansiosa demais!
 
- A arena lá fora tá super lotada! E o pôr do sol está lindo! Até os céus estão colaborando com o Luan – A Malú comentou, me ajudando sem querer a evitar um “sermão” da Rafaela.
 
- Tô pronto, tô pronto! – Meu marido apareceu na porta do camarim vestindo um blazer com detalhes brancos, camisa e calça preta. Ele estava simplesmente divino! Meu coração bateu disparado dentro do peito e eu senti como se estivesse me apaixonando por ele pela segunda vez.
 
- Então vamos, pessoal! Hora de assumir os seus postos! Temos um DVD para gravar! – A Joana, a diretora, gritou animada.
 
- Espera, espera! –Meu marido pediu – Queria aproveitar que está todo mundo aqui e fazer uma oração antes.  Vem cá Ní, vem mãe... Quero as duas bem aqui do meu ladinho – Ri do jeito “carente” do meu marido. Junto com a minha sogra, nos juntamos a ele e nos demos as mãos.
 
Em pouco tempo, todo mundo nos imitou e a sala se tornou uma grande corrente. Então o Luan fechou os olhos e começou a pedir que Deus iluminasse aquela noite e que tudo desse certo na gravação do DVD. Enquanto ele falava, fechei os olhos e fiz a minha própria prece. Pedi que tudo corresse bem, que o Nosso Senhor abençoasse todo o pessoal que estava trabalhando naquela noite, e que Ele usasse a voz do meu marido para tocar o coração de cada pessoa que tinha viajado de tão longe só para prestigiá-lo naquele momento tão especial. Me concentrei e pedi com todas as minhas forças que tudo desse certo e que aquela noite fosse inesquecível. Para mim, a única coisa que importava era ver um sorriso no rosto do Luan. Enquanto ele estivesse sorrindo, tudo estaria bem para mim.
 
Em seguida todos nós rezamos um Pai Nosso juntos e rolou uma espécie de “grito de guerra” entre o pessoal da banda enquanto o “burburinho” de excitação aumentava entre o pessoal da produção.
 
Os músicos seguiram para o palco e todos familiares e amigos foram até o Luan para desejar-lhe sorte. Uma por uma as pessoas foram desaparecendo ficando apenas o Lú, eu, a Joana, o Fábio, Arleyde e os “câmeras-men” responsáveis pelo making-off. A Dora também estava por ali. A babá-barra-secretária iria ficar tomando conta da Vick nos bastidores por exigência da Rafa que temia que a filha não fosse gostar do som alto do show.
 
- Luan, eu vou assumir o meu lugar. Quando você quiser, ok? Boa sorte para todos nós! – A diretora avisou, também subindo.
 
- Vamos, Luan? Tá na hora! – O empresário chamou.
 
- Rapáiz, tô nervoso demais! – Ele respondeu com a voz tensa.
 
- Relaxa, garoto! Vai tudo dar certo! – A Arleyde tentou tranquilizá-lo com o seu típico jeito baiano.
 
- Respira fundo que tudo vai dar certo! – Dei um abraço forte nele – Hoje só os anjos vão cantar com você...
 
- Tem certeza que você não quer ficar lá em cima com a minha mãe, a Pi e a Rafa? – Ele perguntou, ainda me apertando em seus braços.
 
Só olhei para ele com cara de “Nem adianta insistir”, me soltando dos seus braços – Vai logo, sobe e quebra tudo lá em cima! – Praticamente ordenei - Agora você tem que se concentrar só em você! Já falei que do resto eu cuido!
 
- Bora então! “Vamô” com Deus e Nossa Senhora! Vamô com tudo agora! – Ele deu um último beijo na minha testa, fez o sinal da cruz e saiu para pegar o carro que o levaria até o  palco, junto com o Fábio.

Fui com a Arleyde em um segundo carro e subimos por uma escada lateral até o palco. Escolhi um cantinho de onde eu conseguia ter uma vista privilegiada de todo o local. Dali eu via a Marla conversando com a backing nova, a Karielle, tentando tranquilizá-la, o Dudu Borges batucando ansioso na lateral do seu piano e o Juju fazendo graça para as meninas na grade. O clima no pessoal da plateia era o melhor possível. O público estava muito animado e bastante ansioso para o começo do show. Dava para ver cartazes de fãs de toda a parte do Brasil. Meu marido era mesmo muito amado! Não era a toa que ele chamava as suas "negas" de "as melhores fãs do mundo"...
 
De repente, como não queria nada, o Well trouxe uma cadeira e sutilmente a colocou do meu lado.
 
- Foi o Luan que mandou você fazer isso, né? Pode tirar isso daqui! Não vou ver o show sentada como uma velha! – Ralhei com ele fazendo cara feia.
 
Ele só deu de ombros, mas não tirou a cadeira de perto de mim. Ótimo! Pelo jeito o segurança ia ficar me vigiando... Tudo o que eu precisava!
 
Eu já estava bufando de raiva quando ouvi as badaladas que anunciavam o início do show soarem. A música começou a tocar e o público gritou, indo ao delírio quando o Luan surgiu de dentro da “caixa”. Era o fim da tarde, e o crepúsculo contrastava com as luzes dos painéis, formando um espetáculo único.
 
A apresentação correu sem maiores problemas. Com exceção da abertura que precisou ser refeita, as outras músicas foram todas gravadas logo na primeira tentativa. Fiquei arrepiada quando o Lú cantou “Tudo o que você quiser”. As notas do piano junto com o coral que o público formou fizeram a música ficar perfeita, daquele tipo que te faz parar e fechar os olhos para ouvi-la.
 
Também me emocionei quando meu marido cantou “Tanto faz”, a música que eu escrevi para ele, e dancei animada na hora de “Te Vejo Linda”. Segundo o Lú, aquela música era perfeita para mim.
 
Tentei me manter animada ao longo de todo o show, mas a minha barriga estava “pesando” demais, o que me deixava com um sensação de cansaço enorme. De repente a cadeira que o Well deixara ali me pareceu muito convidativa e acabei não resistindo. Me joguei nela, dando um alívio para os meus pés já inchados. Não muito longe dali o segurança me olhou com cara de “Quem foi que desprezou a minha ajuda mesmo?”
 
Ignorei o olhar do Welligton e continuei “sentadinha”, balançando os meus pés ao ritmo da música. Porém, nem cinco minutos depois, o Luan resolveu fazer a troca de figurino e veio correndo na minha direção, todo feliz.
 
Dei um pulo, ficando de pé o mais rápido que uma barriga de oito meses me permitia, quase me desequilibrando.
 
- “Paxãããoo” do céu, tá tudo muito lindo! Tô feliz demais! – Ele segurou o meu rosto com as duas mãos e me deu um beijo, a felicidade transbordando pelos seus olhos.
 
Ele sumiu corredor abaixo para trocar de roupa, sendo seguido pela Arleyde e pelo empresário. Depois que o “furacão” Luan passou, me preparei psicologicamente para enfrentar novamente o caminho palco-camarim quando senti uma pontada estranha no abdômen. Foi uma dor forte, como se alguém estivesse tentando colocar a minha barriga dentro de uma lata de “sardinhas”. Parei por um momento, me encolhendo com a dor, fechando os olhos e usando toda a minha força de vontade para não gritar. Cara, aquilo doía...
 
- Anita, está tudo bem? – Ouvi o Welligton me perguntar parado ao meu lado exatamente dois segundos depois.
 
- Não. Acho que acabei de ter uma contração – Falei, respirando fundo e endireitando o corpo, completamente ciente que o local estava lotado de repórteres e fotógrafos e que tudo o que eu menos queria naquele momento era chamar a atenção do pessoal da imprensa – Mas você não vai fazer nada agora! Finge que só está conversando comigo enquanto o Luan troca de roupa...
 
- Mas eu preciso descer para acompanhá-lo... – O segurança disse, deixando o seu instinto de “carrapato” falar mais alto.
 
- Vai por mim, Well. O lugar tá cheio de seguranças e eu estou precisando muito mais de você nesse momento. Agora vai, sorria e finge que estamos conversando sobre qualquer coisa que não seja o nascimento da minha filha – Ordenei enquanto fingia que nós dois estávamos no meio de uma conversa muito divertida e interessante.
Relutante, o segurança me obedeceu, discretamente puxando a cadeira para perto para que eu pudesse voltar a me sentar.
 
- Obrigada! Você vai ficar aqui disfarçando, até o Lú voltar para o palco. Aí, assim que o show recomeçar, nós descemos para a ambulância, combinado? – Pedi, tentando me manter o mais calma possível enquanto minha mente trabalhava freneticamente em tudo o que eu precisaria fazer para acionar a “Missão Parto”.
 
Acho que ele ficou com medo de mim, porque não me contrariou mais. A Marlinha animava o palco na ausência do Luan e eu, ainda fingindo estar em uma conversa muito bacana com o Well, peguei meu celular e mandei uma mensagem para a Rafa.
 
“Alerta vermelho! Preciso de você na ambulância o mais rápido possível. Seja discreta”.
 
Graças aos deuses, a loira andava com o seu celular para cima e para baixo. Nem um minuto depois ela me respondeu.
 
“Fala agora que é um exagero deixar uma ambulância de plantão! Já tô indo! E relaxa, serei mais discreta que uma parede branca (como já diria o Luan...)”.
 
Ahhh, ótimo! Eu prestes a ter um filho em um parto prematuro de uma criança com Síndrome de Down e a Rafa fazendo piada com a música nova do meu marido... Perfeito!
 
O show recomeçou e assim que o Luan começou a cantar “O nosso tempo é hoje”, eu e o Well seguimos em direção à área externa da arena, onde a ambulância estava estacionada. Eu me apoiava no segurança e caminhava devagar, com medo de fazer qualquer movimento brusco e prejudicar a minha filha. As contrações não haviam voltado, mas pelas minhas contas, elas ainda demorariam um pouquinho para tornar a aparecer. As primeiras sempre aconteciam com um intervalo grande entre uma e outra.
 
Quando cheguei, os paramédicos já estavam de plantão me esperando junto com a Rafa, que estava prestes a ter um ataque de nervos.
 
- Anita, o que está acontecendo? Pelo amor de Deus, estou preocupada! Até parece que sou eu que estou tendo um filho! Me fala, me fala! Tem alguma coisa doendo? Você está sangrando? Está precisando de alguma coisa? De um abraço, de chocolate, de colo... – A loira disparou a falar, completamente histérica.
 
- Se aquieta Rafaela Prado, eu estou bem! Tive uma contração que doeu pra caramba e acho que enquanto eu vinha para cá aquele tal de “tampão” estourou, porque estou sentindo algo estranho na minha perna – Expliquei respirando fundo,tentando puxar ar para os pulmões – E pelo amor de Deus, vão demorar muito para me colocar nessa maca?  - Perguntei nervosa para os médicos que estavam apenas me olhando, paralisados.
 
Como se de repente alguém tivesse apertado o botão do”Ligar”, eles correram até mim e me levaram para o interior da ambulância. Os dois se mexiam de um lado para o outro fazendo todos os tipos de exames possíveis em mim. E quando eu digo todos os tipos, eu quero dizer TODOS os tipos MESMO, até aqueles mais indiscretos...
 
- É, a senhora realmente está em estado de parto! – O moreno de olhos claros conclui com uma expressão de “Sabe-tudo”.
 
- Ahhh, não me diga! – Revirei os olhos – Se você não me falasse, eu nunca iria imaginar...
 
- Anita, não fala assim com o rapaz! – A Rafa chamou a minha atenção.
 
-  Bom, indo direto ao ponto, precisamos ir para São Paulo imediatamente. Como trata-se de um parto prematuro e como a criança tem Síndrome de Down cada minuto é precioso! – O outro médico, esse loiro de olhos castanhos, diagnosticou – Vou avisar o motorista. Partimos assim que as senhoras derem o sinal – Ele conclui, antes de sair. O moreno permaneceu por ali, organizando os equipamentos que foram usados nos exames.
 
- Ai meu Deeeeeus! E agora? O Luan tá fazendo show, todo mundo está lá em cima, estamos a uma hora e meia da capital e eu nem peguei a bolsa do neném! – A Rafa voltou a ficar histérica, mexendo no cabelo e andando de um lado para o outro.
- Rafaela, calma! Nós vamos agora mesmo para Sampa. Eu vou ligar para o Dr. Ursinho e deixá-lo a par da situação. Enquanto isso, você liga para a Malú e para o André, pede para os dois pegarem a Dora e a Vick, depois passarem no hotel para pegarem a mala da Nicole que está no meu quarto e partirem para nos encontrarem no hospital. Eu vou avisar a Dona Marizete e pedir que ela dê a notícia ao Luan assim que o show acabar – Passei as instruções calmamente tentando achar uma posição confortável naquela maca fria e dura. Vida de grávida não era nada fácil... – E agora, pé na tábua! Eu tenho um bebê para dar a luz!
________________________________________________
Notas finais: Ai meu Deus, e agora? Será que vai dar tudo certo nesse parto?
Ó, não é por nada não, mas a segunda parte tá ficando top! Preparem os corações! #FicaDica
Tentarei postar o mais rápido possível!
 

#VemNicole #NicaPrincesa #ONossoMundo


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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Capítulo 21 - O dia do "Fico"

Notas iniciais: Sei que estou MUITO atrasada com a postagem, mas explico os motivos mais tarde! Por enquanto, espero que aprovem o cap! Não sei se ficou bom, mas fiz o melhor que pude! Rs!
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Ponto de vista do André
 
Entrei na exposição usando o meu disfarce de “investidor europeu sério e comprometido” que a Rafinha me ajudou a compor. A “Loira Deslumbrante” era a minha cúmplice no meu engenhoso e brilhante plano para recuperar a minha “Curiquete”.
 
Para ser sincero, foi ela quem havia me incentivado a tomar aquela decisão. Em um belo dia na Toca, a Rafa percebeu que eu estava a ponto de entrar em depressão e me afogar em um mar de lágrimas porque a Maria Luiza estava com aquele “nerdizinho fantasiado de garoto descolado”. Foi então que a rainha das Gatas Garotas entrou em ação com aquele seu jeito de falar de professora do maternal e me convenceu com toda aquela bobeira que eu deveria correr atrás do meu verdadeiro amor, que às vezes precisávamos abrir mão de algumas coisas e rever alguns conceitos em nome daqueles que mais amávamos, que o amor consistia em 20% de paixão e 80% de paciência e compreensão e blá, blá, blá...
 
Por um momento pensei que ela estivesse tentando me vender um exemplar de “Como ser uma Gata Garota”, mas dei o braço a torcer e concordei com a empresária. Eu já estava até começando a me acostumar... Era sempre assim: Nós brigávamos e depois eu é que tinha que ficar correndo atrás da minha “Curiquete”. Aquela era um sina terrível, um destino lastimável, uma cruz pesada e difícil de ser carregada, mas amar era isso, não era? Sacrificar-se pela pessoa amada?
 
Se ouvisse isso, a “Loira Deslumbrante” certamente diria que eu estou fazendo drama, mas... Quem liga? Eu sou um diretor de cinema, e como um dos melhores profissionais da minha área sei que toda boa história PRE-CI-SA ter um pouco de drama. Vide as novelas mexicanas e todas as obras do Manoel Carlos na Globo! Puro drama misturado a caras gatos sem camisas e mocinhas muito boazinhas e choronas! É a fórmula infalível!

 
Mas voltando...  Já que eu, mais uma vez, ia ter que praticamente implorar pelo amor da Malú, deicidi fazê-lo com muito estilo. Coloquei o meu plano em ação, caprichando bastante nos detalhes “glamurosos”. Contratei a Natália para fazer a “ponte” entre eu e a Maria Luiza, gastei “rios” de dinheiro na organização da exposição e cuidei pessoalmente de toda a produção do evento. Aquela noite seria ES-PE-TA-CU-LAR, digna de uma obra assinada por André Magalhães.
 
- Malú, Will... Esse é o homem que decidiu investir no trabalho de vocês e bancou a exposição. “Grande Investidor”, esses são os autores da obra que tanto te encantou – a Natália fez as apresentações, que foi seguida por uma série de aperto de mãos. Os dois pareciam bem nervosos e inseguros enquanto eu estava me sentindo o DO-NO da festa. Eu deveria ter inventado esse lance de “G.I.” antes. Era muito luxo parecer uma pessoa tão poderosa e generosa, apoiadora das artes e da cultura e que prezava por obras originais e bem feitas. Eu estava tirando onda de intelectual! A-DO-RO!
 
- Diga a ela que todas as imagens estão de muito bom gosto, embora estejam muito “simpleszinhas”. Na minha opinião está faltando um “tchan” a mais. Não sei... Um pouco mais de brilho, talvez...  – Sussurrei no ouvido da Natália após avaliar cada foto da exposição fazendo cara de “Grande Investidor sabido, inteligente, misterioso e sexy”. Até ali só a “Rebelde sem Causa” da Anita e o meu Nego-Divo tinham percebido quem eu era de verdade. O meu disfarce estava funcionando muito bem!
 
- Ele disse que a exposição está magnífica! Na opinião dele, cada imagem soube captar com perfeição cada mínimo detalhe do nosso cotidiano, destacando os pequenos gestos que muitas vezes não reparamos, mas que fazem toda a diferença em nossas vidas – A Natália “repassou” a minha mensagem, mudando completamente o sentido do que eu havia dito, procurando "suavizar" o meu discurso"
 
Cutuquei a gordinha que sorriu para mim daquela maneira TÃO simpática, parecendo um desenho animado – Confia em mim! Estou te ajudando! Se falo o que você disse para ela, a Malú te põe pra fora aos tapas – Ela sussurrou de volta, os dois fingindo que absolutamente nada estava acontecendo.
 
- Sendo assim, inventa qualquer coisa pro “nerdizinho” do chapéu de palha, aí. Eu é que não vou perder meu PRE-CI-O-SO tempo lendo esses textinhos chatos e entediantes – Voltei a sussurrar para a minha assistente.
 
- Will, o G.I. está me dizendo que os textos também estão ótimos! Você realizou um belo trabalho de pesquisa, indo atrás da história dessas pessoas, além de escolherem muito bem as descrições deixando apenas as mais interessantes. E a forma como você colocou as palavras... O nosso Investidor aqui confessa que se emocionou em vários momentos... – A Naty “traduziu” as minhas palavras, caprichando na entonação dramática. Aquela mulher merecia um Oscar, francamente...
 
- Ele não fala a nossa língua? – A Curiquete não aguentou a curiosidade e perguntou.
 
- Não! Ele mora na Holanda, mas é um grande apreciador da cultura brasileira. O “G.I.” consegue compreender o Português, mas não fala muito bem. Por isso que ele prefere que eu “traduza” por ele – A gordinha voltou a improvisar.
 
- Ahhh, que bacana! – Os dois responderam em uníssono, parecendo “robozinhos”.
 
- E o que fez ele decidir apoiar o nosso trabalho? Claro, sabemos que ele viu o nosso blog e curtiu a ideia, mas... Tem que ter uma razão a mais, um motivo em especial – O “nerdizinho” resolveu meter o nariz onde não foi chamado. Aff... Tudo bem ele acreditar que tudo nessa vida tinha um porquê. Eu também dividia essa mesma opinião. Mas daí a ficar perguntando o porquê de tudo era algo muito chato e deselegante.
 
- No começo achei a ideia muito clichê. Mostrar a força do poder feminino, encontrar a beleza  nos pequenos detalhes, valorizar as coisas simples... Tudo me parecia muito “politicamente correto demais”. Mas depois que parei e reparei melhor nas imagens, que li e refleti sobre os textos cheguei à conclusão que vivemos em um tempo muito louco. Corremos de um lado para o outro querendo impressionar as pessoas ou impressionar à nós mesmos para nutrir a nossa vaidade e esquecemos de parar e reparar no que realmente importa. Tudo isso é muito clichê sim, mas no fundo, tudo o quê desejamos é ter uma vida clichê: casar, ter filhos, ser feliz para sempre... – Cochichei para a Naty para que ela repassasse adiante. Por incrível que pareça, ela conseguiu repetir palavra por palavra, sem esquecer-se nem das vírgulas. Caramba, a garota era uma máquina.
 
- Nossa! Você falou como o meu ex agora... – A Malú comentou com o tom saudoso.
 
- E onde ele está agora? – Perguntei por intermédio da minha tradutora.
 
- Em algum lugar de Porto Alegre... – A fotógrafa respondeu triste – Ele não gostou muito da ideia do nosso projeto e se negou a apoiar desde o início. Tanto que nem veio à exposição...
 
- Tenho certeza que o André já mudou de opinião. Ele só não quer é dar o braço a torcer... –Tentei amenizar o meu lado, usando o G.I. para defender a mim mesmo!
- Você conhece o André? – A morena parecia surpresa.
 
- Conheço de vista... Você sabe, né? Nessa área das artes todo mundo meio que acaba se conhecendo... – Desconversei.
 
- Agora que você tocou no assunto – Ela hesitou por um momento, me encarando dos pés à cabeça – Tenho a impressão que te conheço de algum lugar...
 
A Natália me encarou, esperando apenas por um sinal para fazer o que combinamos. Acabei concluindo que aquele papo furado não ia dar em nada, então achei melhor partir direto para a ação. Afinal das contas, eu sempre fui muito melhor agindo do que falando...
 
- É hora do show! – Sinalizei, me preparando para o grande momento da noite.
 
Tudo aconteceu muito rápido. A Naty assoviou para o DJ que estava animando a festa que entendeu o aviso de imediato. Ele trocou a música “chumbrega” que estava tocando e aumentou a canção que eu selecionei no último volume ao mesmo tempo que apagava todas as luzes, deixando apenas um refletor iluminando somente à mim e a Malú no centro do salão.
 
*** Link para música - https://www.youtube.com/watch?v=mfIjnLL9akM *** (Pulem a introdução desse homem sem noção falando e vão direto para a música, ok?)
 
Olhei bem nos fundos dos olhos dela e, enquanto a introdução rolava, comecei a tirar o meu disfarce para revelar quem eu era de fato. Comecei jogando o chapéu longe e depois arranquei o bigode falso, fazendo a Curica ficar de queixo caído.
 
Comecei a cantar, abrindo o meu casaco lentamente em um movimento sexy e cheio de glamour.
 
“Tenho! Um mundo de sensações
Um mundo de vibrações
Que posso te oferecer
Tenho! Ternura para brindar-te
Carícias para entregar-te
Meu corpo prá te aquecer...
Serão os dias mais felizes
Se vives junto a mim
Espero que decidas
É só dizer que sim...”

 
Arremessei o  casaco longe, revelando o “look- divo” que a Rafa escolhera para mim: camisa de seda vermelha bem justa, calça preta colada e sapatos de couro que chegavam a cintilar de tão lustrados. Tirei um óculos escuros do bolso da camisa e coloquei no rosto, para dar mais “tchan” a minha interpretação. De longe, ouvi a Anita gritando “Arrasaaa André!” “Brilha muito, Madé!”. Pelo canto de olho vi que a “Rebelde sem Causa” estava puxando o marido para dançar. Aquela ali adorava uma bagunça. Era só dar corda que ela logo se jogava!
 
“Tenho! Mil braços para abraçar-te
Mil bocas para beijar-te
Mil noites para viver
Tenho! Um mundo que é côr-de-rosa
De coisas maravilhosas
Que tanto sonhavas ter...
Serão os dias mais felizes
Se vives junto a mim
Espero que decidas
É só dizer que sim....”

 
Comecei a dançar em torno da minha “Curiquete” arrasando nos passos, me sentindo o “Rei da Pista” todo trabalhado no brilho e no luxo. Ao nosso redor as pessoas nos incentivavam, entrando no clima, batendo palmas e “chacoalhando” os esqueletos. Tudo parecia uma cena de filme de comédia romântica, do tipo que eu A-DO-RA-VA! E é claro, eu quem havia pensando em tudo para que fosse exatamente daquele jeito! Além de gênio eu era um dançarino cheio de charme e elegância!
 
Continuei dançando, dessa vez puxando a Maria Luiza para junto de mim. Colei o corpo dela ao meu, rebolando de um jeito sexy. Depois a segurei firme e curvei os nossos corpos até quase tocarmos o chão. Eu mexia os braços, o quadril, as pernas, fazia caras e bocas encarnando o próprio Sidney Magal e ela tentava me acompanhar da melhor maneira que conseguia. Eu não sei por que, mas ela não parecia surpresa com a minha aparição repentina. Devia ser porque a Curica me conhecia bem e sabia, que no fundo, eu não perderia aquela exposição por nada nesse mundo.
 
- Mas o que diabos é isso? – Ela perguntou tentando retomar o fôlego quando a música acabou.
 
- Esse sou eu e essa foi a minha entrada TRI-UN-FAL! Você achou mesmo que eu ia perder toda a diversão? Não só vim, como BAN-QUEI tudo isso aqui! Porque sou RI-CO, poderoso e DE-LI-CI-O-SO! – Afirmei de forma contundente para que não houvesse dúvidas.
 
- Não mudou em nada a minha vida... – Ela desdenhou se achando a “Rainha da Cocada Preta”, tentando esconder um sorriso. A Curica bem que tentava me enganar, mas eu já a conhecia muito bem e sabia que ela só estava se fazendo de durona.
 
- Cara, quando a Malú falou que você era surpreendente eu não acreditei, mas agora... Tô vendo que você é muito mais que surpreendente! Você é inacreditável, tipo... fora do script – O “nerd com pinta de galã” comentou.

- Ninguém perguntou a sua opinião! - Cortei o jornalista de forma grosseira, sem nem lhe dar atenção.
 
- André, não fala assim com o Will! – Ela chamou a minha atenção, toda nervosinha.
 
- Eu falo do jeito que eu quiser! A festa é minha! E eu tô pagandoooo... – Retruquei, imitando a personagem daquele programa humorístico muito chinfrim, mas que tinha bordões que entravam na sua cabeça e não saiam mais.
 
- Quer saber de uma coisa? Chega de show! Você está roubando toda a atenção para você, e hoje as pessoas vieram até aqui para ver o meu trabalho! – A Maria me deu uma bronca, magoando os meus sentimentos.
 
- Sua mãe não te deu educação não, sua mal agradecida? - Encarei a Maria com cara de lutador de MMA pronto para a briga – E eu não vou embora coisa nenhuma! Primeiro porque eu sou o dono da festa; e segundo porque vim até para te fazer um pedido Maria Luiza, e não vou embora sem cumprir a minha missão! – Avisei com o tom decidido, mostrando quem mandava no pedaço.
 
- Pedido? – Ela ficou tensa de repente, tipo criança quando os pais chamam para conversar sério com elas.
 
- É, pedido! Entendeu ou vou ter que desenhar? – Revirei os olhos, impaciente. A minha volta todos ficaram em silêncio, a expectativa tomando conta do lugar. Parecia jogo de final de Copa do Mundo quando o jogador vai bater o pênalti. Sorte que naquele momento era eu quem ia decidir a “jogada”. Porque se dependêssemos do Pato para bater um pênalti...
 
- Senhoras e senhores, um minuto da atenção de vocês, por favor - Pedi, depois que finalmente consegui fazer a Luiza me ouvir - E você Curica, presta bem atenção – Fiquei de joelhos diante dela e estalei os dedos. Em questão de segundos a Natália surgiu ao meu lado com uma caixa pequena de veludo preto decorada com uma fita cor de rosa e me entregou. Abri a caixinha, revelando um anel de prata decorado com pedras azuis.
 
- André, não me diga... - Ela me interrompeu, os olhos faiscando de curiosidade e excitação.
 
- Shhhiuuuu! Não me interrompa, sua estraga prazeres! Esse é o meu momento! – Pisquei para ela, antes de respirar fundo para tomar coragem – É o seguinte: Curica, eu não escolhi essa música à toa para dedicar a você. Eu escolhi, porque de fato, tenho tudo o que a letra diz: Mil sensações diferentes, um mundo novo cheio de aventuras e descobertas além de muito carinho e amor para oferecer. E eu gostaria de dividir tudo isso com você... Por esse motivo estou aqui hoje. Porque eu quero ser muito mais que o cara que apoia e investe nos seus sonhos... Eu quero ser a pessoa que sonha junto com você e que torna todos os seus desejos em realidade. Casa comigo, Maria Luiza Duarte? Te prometo casa, comida, roupa lavada, muito amor e sedução todos os dias, até a gente "bater as botas"! – Fiz o meu pedido com a voz embargada, deixando de lado todos os trejeitos e manias para ser apenas eu mesmo, sem máscaras ou disfarces.
 
A Malú ficou parada que nem uma estátua na minha frente. Ela abria e fechava a boca, sem conseguir falar nada. Seus olhos estavam tão arregalados que pareciam duas jabuticabas maduras.
 
Permaneci ajoelhado esperando pela minha resposta, o anel ainda na minha mão. Um minuto se passou, e nada! Como assim aquela Curica desqualificada estava me enrolando? Será que ela tinha noção que não era todo dia que alguém da minha estirpe ficava ajoelhado na frente de uma dama pedindo a sua mão em casamento? Será que ela não sabia que em situações como essa a boa educação pede que você aceite o pedido de imediato, mesmo que depois tenha que dar uma desculpa esfarrapada para voltar atrás? Poxa, era bastante desconfortável ficar de joelho no chão! Bem que ela poderia se tocar isso...
 
Cansei de esperar e me levantei, pronto para começar uma briga. Imagine, só! Eu era André Magalhães, o grande DI-RE-TOR que fazia e acontecia, não que ficava esperando...
 
Foi nesse momento que o Will puxou o coro de “Aceita, aceita”, fazendo todo mundo cantar junto, como geralmente acontecia em festas de criança na hora do “Parabéns”. O fato é que isso me distraiu por um momento e acabou salvando a Curica (que ainda estava parecendo uma boneca com defeito que só sabia abrir e fechar a boca sem falar nada) de uma discussão.
 
- Peraê, por que você está tentando me ajudar? Achei que você estava aqui, só rodeando... Louco para roubar a minha Curiquete de mim... – Fui objetivo, curto e muito grosso. Não tinha tempo para perder com “tipinhos” como aquele. Sem falar naquele coro de “aceita, aceita”, que já estava de me irritando...
 
- Não cara, não é nada disso! – Ele se apressou em dizer – Eu adoro a Malú, mas só como amiga e parceira de trabalho. Nossa relação não passa disso. E outra... Ela nem faz o meu tipo! Na verdade, eu prefiro uma mulher mais “cheinha”, sabe? Dessas que você tem onde pegar... – O nerd com pinta de galã contou lançando um olhar muito sugestivo em direção à Natália e sendo devidamente retribuído.
 
Que isso, gente, para tudo! Babado do ano! A gordinha tinha se dado bem!
 
- Meu filho, se é isso que você quer, é isso que vai ter! Pega a Naty, leva embora, usa e abusa, manda a ver! Ripa na “gorduchita”! – Joguei a minha assistente nos braços do jornalista que não perdeu tempo. Levou a moça para um canto mais reservado onde começaram a ter uma “conversa” mais íntima. Muito íntima, na verdade... Cruzes! Eu nem queria ver onde aquilo ia parar...
- E então, “Miss Curica”? Tá muito difícil dizer sim? – Voltei ao foco da conversa, cruzando os braços, batendo o pé no chão e fazendo biquinho, impaciente.
 
- E quem te falou que vou dizer sim? – Ela me respondeu fazendo birra.
 
- Ahhh, para de charme, vai... Assume! O seu SO-NHO sempre foi casar comigo! Eu sei que você me esnoba, chuta, pisa mas no fundo, ó... PA-GA PAU!
 
- Mas você é muito prepotente mesmo, né? Acha que só existe você de homem nesse mundo? Não estou tão desesperada assim, para me casar com o primeiro que aparecer! – Ela continuou desdenhando, o que só fez a minha raiva aumentar.
 
- Dessa categoria, só existe eu mesmo de homem no mundo! Porque eu sou DO-CE, DO-CE, DO-CE! – Tirei onda, dando um beijinho no ombro e sambando na cara do recalque.
 
- Quer saber de uma coisa? Já chega disso, rapaiz! Vem Ní, me ajuda aqui! – O “boy magia” do Luan entrou no meio da discussão querendo colocar ordem no “barraco”.
 
- Com prazer! – A Rebelde Sem Causa concordou de imediato, posicionando-se atrás de mim, assim como o seu marido já tinha feito com a Malú.

- No três! – Ele disse, já iniciando a contagem – UM, DOIS, TRÊS!
De repente os dois empurraram as nossas cabeças uma na direção da outra, nos forçando a dar um beijo. Claro que eu não queria participar daquela loucura, mas fazer o quê? Eu já estava ali, e a minha Curica já estava tão perto de mim que acabei aceitando, só para não ficar como o chato da história... É como diz a Rafa: Às vezes precisamos ceder nessa vida, não é mesmo?
 
O beijo começou meio “torto” e desengonçado, mas como eu era muito bom naquilo, dei um jeito de melhorar o nosso desempenho. Peguei no cabelo da minha Curiquete, puxei ela para o lado, curvei o meu corpo sobre o dela a segurando pela cintura com o meu outro braço em um perfeito “cosplay” de beijo cinematográfico BA-PHÔ-NI-CO!
 
- Mas rapaiz... Isso é safadagem demais! Chama o bombeiro que o trem tá pegando fogo! – O Divo comentou, rindo da gente.
 
- Não, pera... Onde tá a mão da Malú? Ai meu Deus, isso é uma exposição de família, Maria Luiza! Comporte-se! – A estraga prazeres da Anita chamou a atenção da minha Curiquete, me roubando toda a concentração e interrompendo o meu beijo “Desentupidor de pia”.
 
- Eu... aceito... Aceito... o que... você... quiser... Mas não para de... me beijar – A minha futura esposa falou puxando ar para recuperar o fôlego antes de pular no meu colo, passar as pernas ao redor de mim e me tascar outro beijo, do tipo “Desentupidor de pia Plus Advanced”.
 
- É o seguinte – Consegui falar com os convidados depois que a Malú desgrudou de mim por um momento muito rápido – A dona da exposição vai mais cedo para casa para começar um curso IN-TEN-SI-VO de Lua- de Mel. O último a sair apaga a luz! Beijo, não me liguem! Estaremos MUI-TO ocupados! – Falei, sequestrando a minha noiva e deixando todo mundo nos olhando com cara de “Oi? É isso mesmo, produção?”
 
Isso que eu chamava de saída triunfal! O resto era amadorismo...
 
*** 
Ponto de vista da Anita
 
Depois do pedido de casamento mais “maluco” de todos os tempos, voltamos todos para casa, já que os principais interessados - a fotógrafa e o jornalista - abriram fuga do evento. Sobrou para a pobre Dora pedir desculpas aos convidados e fazer “sala” até que todos fossem embora. Bom, ninguém poderia falar que a exposição não tinha bombado...
 
Sentei em uma das poltronas da sala e fiquei esperando a Rafa chegar. Eu queria, ou melhor, precisava conversar com a minha empresária. O Pato já havia me atualizado de tudo o que ocorrera no jantar de princesa, enfatizando bastante a parte do beijo e de como a Rafa ficara balançada com a atitude do jogador. Mas, só para manter o costume, o Murilo tinha aparecido para empatar tudo. Se não fosse por aquele pequeno detalhe, eu já estaria comemorando o sucesso do meu plano. Mas com a aparição do “Bebê”, eu estava realmente apreensiva. Eu sabia o quanto aquele menino podia ser persuasivo quando queria. E, infelizmente, a Rafa tinha um coração “mole demais”, o que sempre a fazia acreditar na boa intenção das pessoas. Essas eram combinações muito perigosas e que ameaçavam seriamente o sucesso da minha operação.
 
A ideia era esperar acordada, com o meu olhar inquisidor de Nina naquela clássico episódio de Avenida Brasil quando ela espalhou fotos da Carminha com o Max pela casa toda. Mas toda aquela agitação e o cansaço que eu estava sentindo por causa do meu “barrigão”, me fizeram dar umas “pescadas” uma hora e outra. O Luan ficou bastante preocupado comigo e tentou me convencer a voltar para o quarto a todo custo, mas como eu me neguei a “arredar” o pé da sala, e já sabendo da minha teimosia fora do comum, ele optou por me acompanhar na “vigília” lá do seu estúdio ensaiando as “modas” novas para o DVD.
 
Assim ficamos eu e a Divinha, que dormia tranquilamente no tapete ao lado do seu mais novo amigo: o Faísca. Pois é, se até cão e gato conseguiam se acertar, por que eu e a Rafa não conseguiríamos?
 
Eu estava pensando nisso quando ouvi o barulho da chave na porta. Segundos depois a Rafaela entrou, com os sapatos nas mãos, segurando a cauda do vestido e ainda vestindo o blazer, que agora eu sabia que pertencia ao Alexandre.
 
- Posso saber onde você está até essas horas? O que o Murilo tinha para te falar de tão importante e que demorou tanto? – Perguntei usando o meu melhor tom de “mamãe chata esperando a filha chegar da balada”.
 
- Acho que isso não te interessa, Anita. Afinal, a nossa relação limita-se apenas ao ramo profissional, lembra? – Ela retrucou de forma azeda. Só não perdi a linha com ela porque, se ela estava nervosa, significava que o encontro com o Bebê não tinha sido tão bom assim... E isso era muito bom para mim.
 
- Na verdade, isso me intessa muito. Porque se você viajar, vai deixar de ser a minha empresária, o que influencia diretamente na minha carreira, o que me torna parte desse assunto também. E como você bem desconfiou, sim! O jantar com o Pato era um plano organizado por mim para te fazer ficar no Brasil e que teria dado muito certo se não fosse o Murilo. Portanto, eu preciso saber qual é a sua decisão, pois ela interfere no futuro de muitas pessoas – Expus o meu ponto de vista de forma calma e concisa, como um advogado que defende o seu cliente em um tribunal.
 
- Você deveria saber que não é certo brincar com a vida das pessoas desse jeito. Lembra quando o Caio se juntou com a Lú Dias e manipulou toda a situação para que você e o Murilo ficassem juntos? Acho que você não se esqueceu do quanto isso doeu, né? Será que isso não te serviu de lição? – Ouvi a Rafa falar em um tom frio e até um pouco irônico, nada típico dela, enquanto fechava a porta atrás de si, colocava as sandálias no chão soltando a cauda do vestido e caminhava até um dos sofás, onde apoiou as mãos e me encarou, séria.
 
- Claro que não e você sabe muito bem disso. Acontece que nem sempre “brincar com a vida alheia” é algo ruim. Lembra quando você entregou o meu diário para o Luan sem a minha autorização? – Mantive o meu tom de voz calmo, fingindo ignorar as insinuações dela.
 
- Isso foi diferente... Eu tinha os meus motivos – Ela se defendeu.
 
- Pois bem, eu também tinha os meus. Eu sei que errei, Rafa. Sei que não deveria ter sido grossa e ter me desfeito da sua ajuda no início da minha gestação. Mas eu estava em um momento delicado, grávida, duvidando de mim mesma... Não tava sendo fácil encarar tudo isso! Perdi a linha, passei da conta, exagerei, errei... Mas quem não erra nessa vida? – Falei, me levantando e indo até ela – E esses são os meus motivos. Eu sei que você só estava indo viajar por causa da nossa briga. Eu só queria te dar um motivo para ficar, além de mim, é claro! - Fiz graça, tentando tirar um sorriso dela.
 
- Ai Anita... – Ela se jogou nos meus braços, desabando em um choro soluçante, que fazia o seu corpo todo tremer.
 
- Que foi? O que o Murilo fez dessa vez? – Puxei ela até o sofá, onde sentei deitando a cabeça dela no meu ombro, já que não dava para colocar no meu colo por causa da barriga. Eu acariciava os seus cabelos e sob à luz fraca da sala e vestida daquele jeito, ela parecia uma boneca quebrada, uma princesa sem coroa.
 
- Eu não posso ficar... – Ela contou, depois que conseguiu controlar o choro.
 
- E POR QUE NÃO? – Quase gritei. Não dava para acreditar naquilo...
 
- O Murilo me procurou porque ele queria voltar. Disse que se arrependeu de tudo o que fez, que sente a minha falta, que não quer perder o crescimento da filha, que não se importa que eu não possa ter outra criança, que podemos adotar um bebê se eu quiser... – Ela começou a falar, fungando entre uma palavra e outra.
 
- Ah não, Rafa! Você não caiu nessa, né? – Protestei – E por que isso te impede de viajar, afinal?
 
- Porque ele disse que vai viajar comigo. O Murilo se inscreveu em curso de interpretação lá em Nova York. Já fez a matrícula, alugou o apartamento e... comprou uma casa no Rio pra quando a gente voltar. A casa que eu sempre sonhei... Com quintal para Vick brincar, jardim... – Ela voltou a chorar baixinho, apertando a minha mão nas dela com força.
 
- Tá, e daí? Rafa, olha a sua volta! Aqui tem tudo isso! Quintal, jardim... Você e a Vick podem e serão muito felizes aqui! Você não precisa voltar com o Murilo para isso! – Fiquei nervosa. Eu queria de todo jeito fazer com que ela enxergasse a realidade, que se libertasse do “véu” de ilusão que o marido colocara em sua cabeça.
 
- Anita, a questão não é tão simples assim... A casa eu mesma posso comprar. Aqui, no Rio, em São Paulo, tanto faz... Será que você não vê? O que está em jogo não é só voltar ou não voltar com o Bebê. O que está em jogo é o meu sonho, o que eu sempre desejei para mim! Casar, ter filhos, construir uma família, envelhecer cercada por netos... Quando o Murilo me deixou, foi como se tudo isso tivesse se perdido para sempre. Como se alguém passasse uma borracha em todos os meus planos, era como se houvesse um buraco dentro de mim que nunca mais voltaria a ser preenchido... – Ela me contou com os olhos fechados, as lágrimas ainda rolando pelo seu rosto.
 
- Tá Rafa, mas isso não é algo permanente. Você pode encontrar outra pessoa. O Murilo não é o único cara disponível no mercado... O Pato, por exemplo, é um ótimo partido e um belo “preenchedor” de buracos – Brinquei, tentando amenizar o clima.
 
- Eu sei, Any... – Ela riu, endireitando-se no sofá – Mas eu preciso pensar na minha filha em primeiro lugar. Quero que a Vitória cresça com o pai por perto, em um lar feliz... Isso é importante para toda criança, e você sabe disso. Quantas vezes já não te ouvi reclamar da sua família? – Ela secou as lágrimas, assumindo uma postura mais controlada.
 
Não tive como argumentar contra. Uma das grandes frustrações da minha vida era não ter conhecido o meu pai, ter uma mãe ocupada demais com o trabalho e ter sido praticamente criada pelo meu irmão para depois ser traída por ele. O campo familiar era uma área bem complicada na minha vida e que acarretou em sérios problemas na minha vida, como ser egocêntrica e mimada demais. Esse com certeza não era o futuro que eu desejava para a minha afilhada...
 
- Além disso, quando me casei, prometi que ficaríamos juntos na alegria e na tristeza, na saúde ou na doença. Não me parece justo que eu desista assim, logo na primeira dificuldade. Eu sabia que um casamento não era fácil e que uma relação a dois exigiria de mim muita paciência e capacidade de compreensão. Por isso eu vou voltar com o Murilo e nós vamos viajar para Nova York. Eu preciso tentar de novo, saber que essa segunda chance existiu e que eu me esforcei para que tudo desse certo. Porque se amanhã ou depois ele resolver me deixar de novo, pelo menos eu sei que não será por culpa minha. Que eu fiz o que pude para salvar o meu casamento e manter a minha família de pé – Ela completou com a voz firme, o queixo levantando, a expressão decidida.
 
- E o Pato? Onde ele fica nessa história? – Perguntei baixinho, sentindo ao mesmo tempo orgulho da decisão da minha empresária e um pouco de pena. Ser mãe exigia de todas nós; mulheres, alguns sacrifícios. Alguns maiores, outros menores, mas sempre havia algo a ser deixado para trás por causa de um filho.
 
- Acho que ele não fica... – Ela disse com a voz triste, tirando o paletó que estava usando e o dobrando cuidadosamente sobre as pernas – Essa noite foi como um conto de fadas, mas na minha história o príncipe não termina com a princesa. Mas obrigada por tudo. Acho que eu nunca vou me esquecer desse jantar, muito menos desse vestido divino. Bruninha mandou muito bem na escolha do “look” – Ela sorriu, mas o seu olhar continuava sem brilho. Comparado ao que eu tinha visto ali no momento em que ela chegou na exposição, agora aqueles olhos verdes pareciam sem vida, sem cor...
 
- Toma, fica com isso – Ela tirou um anel com uma pedra verde do dedo e me entregou – Guarda para mim. Pelo menos essa será uma prova de que tudo isso aconteceu de verdade, que não foi um sonho... E agora eu vou subir para ver a minha filha. Falta pouco para a gravação do DVD do Luan e pretendo viajar logo após o show, por isso tenho que deixar tudo preparado, principalmente a mala da Caramelo – Minha empresária anunciou, ficando de pé e sorrindo confiante, como ela sempre fazia diante de qualquer desafio. Afinal de contas, ela era uma gata garota e toda gata garota era top. Nem parecia que apenas há alguns segundos ela estava aos prantos no meu colo.
 
Vi quando ela começou a subir a escada, o casaco do Pato em baixo do braço porque as mãos estavam ocupadas erguendo a barra do vestido para que ela pudesse enxergar os degraus. Como ela conseguia ser tão forte? Passar por tantos problemas e ainda ficar de pé? Em uma situação como aquela pensar primeiro na filha e não em si própria? Qual era o segredo de tanta fibra, determinação e otimismo?
 
Foi só nesse momento que me dei conta que a Rafa era a figura mais próxima que eu tinha de uma mãe, ou de uma irmã mais velha. Alguém em que eu pudesse me espelhar, seguir o exemplo, me apoiar, alguém que sempre estaria ao meu lado independente da situação.
 
- Rafa, por favor, não vai! – Gritei, correndo até ela e a abraçando muito forte – Não vai! Eu preciso de você aqui! – Pedi, as lágrimas surgindo sem que eu pudesse controlá-las – Não vai, porque eu não sou nada sem você por perto. Eu preciso de você para saber que no final tudo vai ficar bem. Enquanto você estiver aqui, eu sei que tenho com quem contar – Minha voz soava desesperada e eu agia como uma louca prestes a perder algo muito precioso e que queria evitar isso a todo custo.
 
- Anita... – Ela me abraçou de volta, emocionada.
 
- E tem mais... Eu respeito a sua opinião e entendo que você queira dar a Vitória uma família. Mas você precisa saber que, se isso não der certo, nós podemos ser a família da Caramelo! Sabe quando você disse que sabia que eu me sentia triste porque não tinha conhecido o meu pai e tudo mais? Então, eu posso não ter uma família “normal”, com pai, mãe, cachorro e tia; mas eu tenho vocês, a Trupe, que é a melhor família que eu alguém poderia sonhar em ter. E se nada der certo, nós podemos cuidar de você e da Vick e eu tenho certeza que ela vai crescer em um lar muito feliz, cercada de pessoas que a amam muito e dispostas a fazer de tudo por ela – Falei, segurando as suas duas mãos e olhando fixamente em seus olhos. Ela precisava saber que existia um “Plano B”, que sempre estaríamos ali para apoiá-la e que nunca a deixaríamos por uma bobagem, como o Murilo fizera.
 
- É Rafinha, nós somos a sua família também! Aquela que se reúne no domingo a tarde pra tocar umas moda, tomar tereré e comer churrasco... Que se junta pra jogar conversa fora e falar mal dos outros... – Meu marido surgiu à porta, acendendo a luz, fazendo a claridade tomar conta de todo o lugar.
 
- A família que vai te arrumar um jantar com um Marreco, e escolher roupas e acessórios para te deixar ainda mais ES-CAN-DA-LO-SA de linda, Loira! – Com a luz acesa, vi que o André e a Malú haviam interrompido o “treinamento intensivo para a lua de mel” para ouvir a nossa conversa do topo da escada. Os dois estavam sentados um ao lado do outro no último degrau e pareciam que haviam chorado há pouco tempo.
 
- Família que sempre vai se orgulhar de ter uma Gata Garota cheia de atitude – A Malú disse.
 
- Família que aceita cada um do jeito que é, sem discriminação – Emendei, colocando a mão na minha barriga, sentindo a minha filha se mexer.
 
- Família que é o seu porto seguro, aconteça o que acontecer – O Luan disse, chegando perto de mim e me envolvendo em seus braços.
 
- Ai gente, vocês vão me fazer chorar... – A Rafinha já estava com lágrimas nos olhos, olhando para todas nós de uma forma muito carinhosa – Tá bom, tá bom! Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga a Trupe que fico!
 
- Uhuuuuuuuu! Operação concluída com sucesso! Bate aqui, André! – Comemorei, aos pulos, ainda chorando, mas agora de alegria.
 
- Sabe o que isso merece? – Ele perguntou ficando de pé – Dança da vitória! Corre Rafa, liga o som Rebeldizinha! Bora fazer a “Festa do Fico”!
 
Fiz como ele me pediu e liguei o som alto, em uma música animada. O Luan foi até a cozinha, voltando com um petiscos e abriu o bar, servindo a todos (menos eu e a Rafa) com cerveja. Nos divertimos muito e até a Divinha e o Faísca entraram na festa com a gente.
 
- Peraê, peraê! Tá faltando um brinde! Junta todo mundo, “vamô” brindar que a noite merece – Meu marido propôs, já meio “alto” por causa das “cachaças” - Vou pegar a "champa", pera!
 
Cada um pegou o seu copo e nos juntamos, fazendo um círculo no centro da sala.
 
- À Trupe! – O Luan propôs, erguendo a taça.
 
- À Trupe! – Repetimos, batendo as talas de leve e bebendo em seguida.
 
Dei um gole no meu suco, a felicidade transbordando dentro de mim. Era bom ver a família reunida de novo. E dessa vez para sempre...
_____________________________________________
Notas finais: E aí, gostaram? André pedindo Malú em casamento, Rafa ficando no Brasil, o triângulo "Rafa-Pato-Murilo". Cap estava cheio de emoções!

E ó, sabe quem chega no cap 22? A Nicole! Tá chegando a hora da Any dar a luz! Vivaaaa!

Agora falando sério:

Gente, perdão pela demora, de verdade! Passei por alguns problemas pessoais, andei um pouco triste e cansada para escrever. Estava precisando "refrescar" a mente um pouco, por isso o cap demorou tanto!
Mas não se preocupem, está tudo bem comigo! E prometo que não vou demorar mais tanto para postar,ok? Daqui até o fim da temporada vou tentar o máximo para escrever um cap por semana!

Bom, é isso! Curiosa demais para ouvir as opiniões de vocês! Não deixem de comentar, combinado?

Beijão, e que Deus abençoe a todas nós! *---*

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