quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Capítulo 42 – Maktub – Parte 1


Notas iniciais: Eu sei que demorei pra postar... Mas a boa notícia é que esse cap é bem decisivo. A partir daqui caminhamos para a reta final e para a conclusão dessa história. Não é à toa que o nome é Maktub, uma palavra árabe que significa “estava escrito”. E sim, já estamos no clima das arábias porque o aniversário da Gabs vai começar. Será que a maldição das festas vai continuar?

Então, como diria o Nando (já, já, vocês vão entender): “Essa é a mistura do Brasil com o Egito. Tem que ter charme pro cap ficar bonito...”
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O burburinho do público aumentou e as luzes se acenderam. Meu pai se levantou e me ajudou a segurar o Alê. Eu continuava segurando um dos seus braços e pedindo para que ele se acalmasse.

Vi minha mãe vir correndo dos bastidores e se juntar ao Miguel. A essas alturas, o Fernando já estava ao lado do nosso amigo no palco, os dois de mãos dadas.

- Gabi, me ajuda a tirar ele daqui – Marco Sérgio pediu. O olhar do meu amigo estava fixo no rosto do rapaz que ofendera o Mig. Eu nunca tinha visto o skatista tão bravo.

Saímos do auditório e paramos no saguão de entrada. Atendendo a pedidos do meu pai, corri na lanchonete comprar água para o Alê. O corpo do meu amigo tremia e ele estava muito pálido, os olhos arregalados.

Quando voltei, ouvi a música recomeçar no interior do teatro. Poucos segundos depois, vi a Beca, Carol e a Laís passarem pela porta.

- O Miguel está dançando? – perguntei espantada.

- Ele não queria muito, mas o Nando foi incrível. Ficou ao lado do Mig, explicando que o dom dele é como se fosse uma estrela que precisa continuar iluminando o mundo, mesmo que algumas pessoas escolham ficar na escuridão – Rebeca contou com a voz um pouco emocionada.

- Ele também disse que nós sempre estaremos aqui para ajudá-lo e que não tem porque sentir medo. Foi muito fofo. Queria muito que vocês tivessem visto! Nando foi falando com calma até o Miguel se sentir confiante de novo – a Carol completou – Por isso viemos chamar vocês. Vai ser importante o Miguel ver que estamos todos lá para apoiá-lo.

- Se vocês quiserem entrar, eu fico aqui com o Alê – a Lala ofereceu para mim e para o meu pai.
- Vem cá, amor. Faz massagem em mim – o skatista choramingou – Cara, eu não sabia que bater em alguém doía tanto! Parece que alguém deu vários pauladas na minha mão. Está doendo demais!

- Isso é para você aprender que não devemos tentar impedir a violência com mais violência – meu pai chamou sua atenção de maneira carinhosa, se é que isso é possível...

- Eu sei, mas aquele cara é escroto demais! Ele não pode ficar tratando as pessoas do jeito que bem entender, como se fosse o dono do mundo – eu nunca tinha visto o meu amigo tão alterado. Ao mesmo tempo que aquela reação me preocupava, também me fazia gostar ainda mais do meu futuro “irmão postiço”. Ele era o tipo de pessoa que não media esforços para proteger quem ama e mais uma vez havia provado o quanto era leal e justo.

- Alê, o que aconteceu? Você não está bravo desse jeito só por causa de hoje, né? – aproveitei para perguntar, olhando fixamente para ele. Ele apenas desviou o olhar e se calou, deixando ainda mais claro que havia algo que não queria contar.

- Meninas, por que vocês não voltam lá para dentro? Como a Carol disse, é importante que o Miguel veja que não está sozinho – meu pai pediu, usando o seu melhor tom de “cara gente boa e educado” – Aliás, o garoto que falou aquelas bobeiras ainda está lá dentro?

- Não. Os seguranças pediram que se retirasse. Eles usaram a saída de emergência. Acho que não queriam chamar a atenção – Laís explicou, um dos braços ao redor do meu amigo que continuava fazendo drama por causa da sua mão.

- Menos mal... Mas, mesmo assim, acho melhor vocês voltarem... – ele insistiu.

Dava para perceber que as três queriam ficar para tentar descobrir o que o Alê estava escondendo, mas acabaram voltando para dentro. A mais contrariada era a Laís, que parecia não querer largar o namorado. Vi o Marco Sérgio olhando para a Lala como se quisesse dizer “vai ser melhor assim” antes dela se dar por vencida e passar.

- Agora sim! – ele disse animado depois que ficamos sozinhos – Alexandre, eu preciso que me conte o que realmente está acontecendo aqui – meu pai pediu olhando sério para o skatista.

Silêncio. Ele realmente não parecia disposto a falar.

- Que tal sentarmos para tomar um café? – “seu” Marco tentou novamente.

Caminhamos até a lanchonete, escolhemos uma mesa e fizemos os nossos pedidos. Café para meu pai, Coca-Cola para mim e para o Alê.

Ficamos em silêncio esperando as bebidas até o meu amigo não aguentou e resolveu falar.

- Tá bom, foi o seguinte: teve um dia que estava chovendo e minha mãe me pediu para pegar o carro e ir até uma daquelas lojas no centro que vendem aquelas “bagacinhas” naturais que ela adora. Já estava meio escuro e eu corri para chegar antes da tal loja fechar. Deixei o carro perto da escola da mãe da Gabi porque é mais fácil de estacionar e fui correndo até a loja. Só que, na correria, eu virei na rua errada e foi aí que eu vi... O Miguel estava encurralado por mais três garotos, um deles é o idiota que estava na plateia hoje. Acho que o Miguel tinha acabado de sair do ensaio, porque dava para perceber que estava com uma daquelas roupas justinhas que vocês usam para dançar – ele apontou para mim para enfatizar o seu exemplo – Claro que os idiotas dos meninos ficaram enchendo o saco dele, falando um monte de baboseira... Ví o Miguel tentar fugir do cerco e levar um baita empurrão. Na hora que ele caiu no chão, um outro garoto foi até ele e deu uma “bicuda”. Não sei se conseguiu acertar, mas eu saí correndo para ajudar antes que a situação piorasse. Passei pelos meninos, peguei a mão do Miguel e saímos correndo com o trio atrás da gente. Ainda levamos uns tapas e uns socos de raspão, mas conseguimos entrar no carro e eu saí acelerando para fugir – Alê fez uma pausa dando um gole na sua bebida que acabara de chegar. Por reflexo, eu e meu pai fizemos o mesmo, sem saber o que falar. O assunto era muito mais sério do que podíamos imaginar.

- E por que vocês não contaram para a gente? - perguntei, brava com o fato segurarem aquela barra sozinhos.

- Gabs, o Miguel ficou muito mal. Ele entrou no carro e começou a chorar. Demorou pra caramba para ele se acalmar. Eu falei que poderíamos ir pra casa, que ele poderia conversar com a minha mãe, mas não rolou. Acho que o Miguel já vinha sofrendo com esses meninos há um tempo e estava assustado demais para revidar - meu amigo explicou mexendo as mãos de forma agitada – Talvez ele sofra com esses meninos até hoje. Eu não sei... ele não quis conversar sobre o assunto.

- Então foi por isso que ele estava com tanto medo de se envolver com o Nando... - pensei em voz alta, tudo fazendo sentido na minha cabeça - E por isso que sempre que falávamos dos dois ficarem juntos você desconversava. É porque já sabia de todo esse rolo com o Mig.

- Hmmm... Será que alguém pode me atualizar aqui? O Nando e o Miguel tem alguma coisa? - meu pai estava boiando na conversa, o que fez eu e o Alê cairmos na risada.

- Vou conversar com a sua mãe sobre a melhor maneira de ajudar o Miguel. O que ele sofreu vai muito além do bullying, como foi o seu caso. Não é à toa que está tão assustado - Marco Sérgio ponderou depois que o atualizamos de toda a história.

- Você acha que os dois vão conseguir ficar juntos? - perguntei, os últimos acontecimentos ainda rodando na minha cabeça.

- Aí só o tempo, o Miguel e o Nando poderão nos contar - meu pai abriu um sorriso carinhoso para mim, como se assim pudesse espantar todos os fantasmas - Mas agora acho importante voltarmos para assistir o final do espetáculo. Vamos lá, meninos?

Voltamos para o teatro e retomamos nossos lugares. A apresentação já estava quase terminando e o Miguel interpretava a parte que o Romeu se preparava para tomar o veneno.

Eu sabia que não deveria usar meu celular naquele momento, mas tinha muita coisa acontecendo e queria muito contar as novidades e as minhas impressões para alguém. Abri a conversa com o Edu, porém não tinha nenhuma nova mensagem. Nosso último assunto fora sobre uma praia que ele iria surfar há dois dias.

Murchei ao lembrar que não tinha notícias dele há um tempo e fiquei ainda mais desanimada ao ver a cara feia que a Beca estava fazendo para mim por causa do brilho da tela.

Bloqueei o aparelho e me concentrei na peça tentando afastar a ideia de que o Edu sempre seria o Edu...

***

Era uma tradição que, ao final do espetáculo, todo a companhia se reunisse no palco para agradecer. Todos ficaram enfileirados lado a lado enquanto a Julieta iniciava o protocolo de dar alguns passos a frente e se curvar para o público enquanto era aplaudida.

Eu sabia que o segundo seria o Miguel, por isso já me preparei para levantar e aplaudi-lo de pé. Fiquei surpresa ao ver que meus amigos tiveram a mesma ideia. Todos levantaram enquanto o Nando assobiava, bastante empolgado.

Do palco, o Miguel olhou para nós, o sorriso brilhando de felicidade. Porém, quando ele olhou para frente novamente, vi seu rosto mudar para espanto e depois ser tomado pela a emoção. Olhei para trás e vi que todo o teatro também estava em pé para aplaudi-lo, muitas pessoas gritando palavras como “bravo” ou “maravilhoso”.

A sensação era de arrepiar. Era incrível ver todas aquelas ovacionando o trabalho do meu amigo. Era como o Nando falara: o dom do Miguel era como uma estrela e, naquela noite, ela havia brilhando ainda mais forte.

***
Uma semana depois

“Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida. É pra Gabi nadaaaaaa!Tudoooo! Então como é que é...”

Finalmente o dia do meu aniversário havia chegado. Depois de uma semana tensa por conta da repercussão do que aconteceu com o Miguel e muitos ensaios para que tudo saísse perfeito na minha apresentação de dança do ventre, era reconfortante abrir a porta de casa e ver todos os seus amigos usando chapéu de festa e cantando parabéns.

- Aêeee, diva! Tá ficando “véia”, hein? – Alê foi o primeiro a se pendurar no meu pescoço para me parabenizar.

- Fica tranquila que está tudo certo para hoje à noite! Estou em contato com todos os fornecedores e daqui a pouco a equipe de decoração chega para começar a montagem – nossa líder, digo a Beca, tentou me abraçar enquanto equilibrava com uma das mãos vários papéis. Na certa, ali estavam todos os recibos e documentos relacionados à decoração.

- E aqui está a roupa da odalisca mais maravilhosa de todos os tempos – Laís apontou para uma daquelas capas de roupas que ela estava carregando – Miga, é sério! “Cê” vai ficar um arraso!

- “Essa é a mistura do Brasil com o Egito, tem que ter charme pra dançar bonito”. Já “tô” entrando no clima para ralar o tchan logo mais – era difícil saber o motivo pelo qual o Nando estava mais feliz: se era por causa da festa ou porque estava de mãos dadas com o Mig.

Nos últimos dias, minha mãe e meu pai haviam dado uma atenção especial ao Miguel. Depois que souberam do que aconteceu no teatro, os pais dele não queriam que ele continuasse dançando. A bem da verdade é que eles nunca apoiaram totalmente a carreira de bailarino do meu amigo, porém, como a prefeitura dava uma ajuda de custo para alguns integrantes da companhia, eles não reclamavam. Mas, agora que a homossexualidade do filho fora exposta para toda a cidade, eles diziam que a culpa de tudo era o balé e que, se o Mí saísse da companhia, as coisas voltariam ao “normal”.

Foi necessária muita conversa para convencê-los que o Miguel deveria continuar dançando. Eles ainda estavam fazendo uma forte oposição, alegando, principalmente, que não queriam que o filho fosse “contaminado”. Eu já tinha ouvido histórias de pessoas que sofriam preconceito, mas ver tudo acontecendo tão de perto despertava uma sensação de incapacidade... Era como se estivéssemos falando em uma língua na qual eles não eram capazes de compreender e, cada vez que tentávamos explicar que tudo estava bem, que não havia motivo para achar que o Miguel era “diferente” ou “estava infectado”, mais incapazes de nos entender eles se tornavam, como se estivessem erguendo muros ao seu redor que os impediam de enxergar a situação como um todo.

Meu pai descreveu a situação como uma pessoa dentro de um carro com os vidros embaçados. Ela só vai conseguir enxergar o que está ao seu redor se desembaçar as janelas, porém, nem todo mundo está disposto a ter este trabalho. E, então, ficam presos dentro do carro com a vista limitada, controlando tudo pelos mesmos botões que eles acreditam dominar. Um dia o carro vai acabar saindo da estrada e causando um tremendo problema. Mas, até que isso aconteça, eles vão continuar seguindo sem querer enxergar.

- Nossa! Parece meio surreal que vou participar de uma festa depois de tudo... Mas estou feliz por estar aqui com você – meu ex-partner veio até mim e me deu um longo abraço.

- E você? Está bem? – perguntei baixinho para não chamar atenção, afinal, não sabia se ele queria conversar sobre o assunto naquele momento.

- Eu... me sinto aliviado – ele me ofereceu um sorriso tímido – Eu tinha tanto medo do que poderia acontecer ou do que as pessoas iriam falar que acabava guardando tudo pra mim, sabe? Eu nunca me permiti parar e pensar se era gay ou não. Foi algo que sempre reprimi e que me causava um penso imenso aqui dentro – falou, colocando uma das mãos sobre o peito – É como se alguém tivesse tirado um gorila das minhas costas. Agora, sim, eu consigo parar e analisar o que estou sentindo. A terapia tem ajudado muito nesse sentido.

- Jura? Meu pai me perguntou se eu queria fazer, mas... sei lá... – desconversei. Marco Sérgio havia comentado sobre o assunto naquela semana e falou que, se eu sentisse a necessidade, por conta de tudo o que tinha acontecido no começo do ano, ele me ajudaria a procurar um profissional. Eu até pensei em aceitar, principalmente, por causa dos episódios que acabei descontando na comida e colocando tudo pra fora... Mas, já fazia um tempo que eu não passava por uma crise.

A única coisa que eu vinha fazendo era comer demais. Aliás, eu tinha até engordado um pouco.  Principalmente em épocas tensas, como a briga com a Marília, a história do Miguel, a preparação para o meu aniversário, eu acabava ficando muito ansiosa e descontando na comida. Mas... eu sempre ouvia a Laís e até e Beca falando que comiam um pouco a mais quando estavam nervosas e tristes. Isso era normal, não era? Não era algo para me preocupar, ou, pior, preocupar meus pais... Eu já tinha causado uma verdadeira revolução na família inteira. Não poderia nem pensar em causar mais um problema, ainda mais agora que tudo estava se encaixando.

- Ainda estou no começo, né? Mas é bom poder conversar com alguém e falar o que você está sentindo – ele me explicou – E ainda tem o Nando, né? Ele está me ajudando bastante. Temos conversado muito e combinamos de ir devagar. Até porque, isso também é novo para ele. Estamos nos descobrindo juntos – o sorriso que ele abriu ao falar do seu companheiro foi contagiante. Como alguém tinha coragem de dizer que um sentimento como aquele era errado?

- Hey, vocês! Estão achando que vão ficar aí de boa sem ajudar? – Nando, que até então estava entretido com os meus outros amigos, veio até nós querendo dar bronca. Até então, ele e meus outros amigos estavam reunidos dividindo as tarefas para a montagem da festa. Não preciso nem dizer quem estava dando as ordens... Rebeca controlava cada detalhe acompanhando as anotações que fizera em um aplicativo que ajudava na organização de tarefas.

Montamos uma verdadeira operação para deixar tudo em ordem a tempo. Logo na entrada, para que os convidados já fossem entrando no clima, colocamos lanternas que fizemos com potes de vidro pintados com desenhos na temática árabe. Ao entrar na sala, eles seriam recebidos com tecidos coloridos presos no teto e muitas almofadas nos sofás. Havia também tapetes e uma mesa de doces decorada com espelhos, velas e algumas flores.

A festa se estenderia até a beira da piscina, onde tochas acesas ajudariam a manter as pessoas aquecidas. Mesastambém decoradas com tecidos e colocadas sobre tapetes serviriam como local para que as pessoas comessem o jantar árabe que os garçons serviriam. Seguindo a tradição, colocamos almofadas para que as pessoas se sentassem mais confortavelmente no chão. Grandes incensos perfumavam o lugar com o aroma de sândalo, enquanto flores davam o toque final na decoração.

- Gente, isso daqui tá um ba-fo! – Fernando comentou ao terminarmos a montagem – Vou fazer vários stories pra postar agorinha mesmo e deixar todo mundo morto de curiosidade pra ver a decoração completa.

- Só depois que terminarmos de organizar as bebidas, querido – Rebeca cortou o barato dele na mesma hora sem nem tirar os olhos do seu aplicativo – Estamos quase acabando, mas ainda temos algumas coisinhas pra fazer.

- Na boa, na hora que essa festa finalmente começar, eu vou estar é morto – Alê fez drama se jogando no sofá. Na mesma hora a Laís fez sinal para que ele se levantasse, o que só o deixou ainda mais contrariado.

- Não vale estragar a decoração antes da hora, né amor? – ela o repreendeu de forma carinhosa – Meninos, como vocês se arrumam mais rápido, vou raptar a aniversariante e a Reb para começar a maquiá-las, ok?

- Isso! Leva essa general para longe da gente! – o skatista fingiu estar implorando.

- Vou até organizar as bebidas mais feliz. A Beca não dá moleza – até o Miguel resolveu desabafar, o que fez todos caírem na risada.

***

- Chega, Rebeca! É hora de relaxar – Laís disse puxando o celular da mão dela. Foi um verdadeiro sacrifício convencê-la a subir e deixar o resto da organização com os meninos. Aliás, assim que chegamos ao andar de cima, tive a impressão de ouvi-los comemorando. Com certeza a Laís também tinha ouvido, porque agora falava de forma persuasiva para que nossa amiga desencanasse um pouco – Tudo o que você precisa fazer agora é relaxar e se concentrar em arrasar na festa hoje. Escolhi figurinos caprichados para nós. Afinal, não é todo dia que podemos nos vestir de odaliscas.

A Lala não estava exagerando quando dizia que tinha arrasado. Meu traje de apresentação, por exemplo, estava incrível: bustiê e cinto bordado com moedas e pedras douradas, além de alguns outros detalhes em preto e uma saia com uma fenda de cada lado com duas camadas de tecido que acompanhavam as cores predominantes do figurino.

Além da roupa para a hora da dança, havia outra que eu usaria para receber os convidados: um cropped que tinha um acabamento de amarração na frente e mangas em sino na cor vinho e uma saia longa na mesma cor que também tinha detalhes dourados e uma fenda bem ousada. Nos pés, uma sandália dourada com algumas tiras amarradas na altura do tornozelo fechavam o visual. E claro: muitos acessórios. Colares, brincos e pulseiras eram o que não faltava no look.

A maquiagem também foi bem caprichada: olhos com delineados bem marcados e sombra em tons de marrom e dourado para combinar com as roupas. A pele tinha bastante iluminador, enquanto a boca ficava mais discreta com um batom de tom claro.

- Uaaaau! Não quero me gabar, mas acho que fiz um excelente trabalho aqui, hein? – Laís disse quando terminou – Calma, não se mexe ainda! Preciso fazer vídeos para ir para o vlog.

- Gente, depois desse aniversário a Gabi já vai poder virar uma blogueirinha. Já tem vídeo mostrando a rotina, já fez permuta pra festa... Só falta chegar uns recebidos – Rebeca me zuou enquanto terminava de colocar os brincos e a Laís me pedia para fazer poses para o vídeo.

Ela também estava muito bonita: usava um vestido preto com transparências na área do colo e dos braços, além de ter aplicações pratas e verdes. O cabelo estava solto com ondas, o que ajudava a quebrar o ar de séria que lhe era típico. Quem a visse hoje, com certeza, não reconheceria ao primeiro olhar.

- Você esqueceu o mais importante: as polêmicas, né? Blogueira que é blogueira sempre tem alguém criticando – brinquei.

- Na verdade, também está faltando um tutorial, né? Tipo um “oi, beninas! Tudo bom? No vídeo de hoje vou ensinar a como se meter em uma briga com a Realeza. Para isso, vocês vão precisar de um Carioca, um skatista, uma amiga songa-monga e uma bruxa disfarçada de princesa – Laís entrou na brincadeira enquanto terminava a sua maquiagem. A namorada do Alê estava fantástica: calça azul escuro que lembrava a que a Jasmin usava no filme do Aladim, um bustiê branco com pedras em diferentes tons de azul bordados e uma sandália prata de salto fino. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo bem alto e a maquiagem tinha sombras em tom de azul metálico que estava um verdadeiro arraso – Aliás, falando em carioca...

- Nenhuma notícia dele – respondi um pouco irritada. Fazia dias que eu estava tentando descobrir se o Edu viria e ele sempre desconversava. Mas, depois que ouvi a dona Melissa avisando o filho que chegaria um pouco mais tarde na festa porque passaria o dia em São José atendendo uma cliente, eu desisti de vez. Afinal, se ela não iria buscá-lo no aeroporto era porque ele não viria mesmo... – Acho que não conseguiu resolver o problema no cartão da mãe... – emendei, tentando disfarçar um pouco a frustração.

- Bom, vocês podem comemorar outro dia... – Laís tentou remediar – O importante é que hoje você está linda e maravilhosa e vai deixar todo mundo babando com aquela coreografia babadeira!

- Falando em descer, “bora”, gente? A festa já começou. Preciso ver se está tudo bem lá embaixo.

- Rebeca, você não relaxa nunca? - a Laís fez cara de séria para perguntar.

- Aposto que até quando dorme ela fica pensando nas coisas que precisa fazer – foi a minha vez de provocar – Mas dessa vez eu vou ter que concordar com a Beca. “Tô” curiosa também pra ver quem já chegou.

- Certo, o pedido da aniversariante é uma ordem! Deixa eu só dar uma última olhada na make de vocês...

- Laís, em algum momento você para de pensar em maquiagem? – foi a vez da Rebeca dar o troco.

- Certo, fui vencida! Vamos descer! – a morena, finalmente, largou os pincéis enquanto ria da pergunta.

Fui uma das primeiras a sair do quarto. Estávamos trabalhando naquela festa há quase um mês e o meu nível de ansiedade estava elevadíssimo. E eu precisava confessar: meu histórico para festividades não andava muito positivo aquele ano: desde o esquenta das voltas aulas, quando conheci o Edu e torci o pé, até a festa de aniversário do Caio eu só tinha me dado mal. Não queria que essa maré de azar se estendesse para o meu aniversário...

Desci os primeiros degraus prendendo a respiração de nervoso. Porém, conforme fui avançando, um sentimento imenso de alegria e empolgação foi tomando conta de mim. Estava tudo muito lindo! O colorido dos tecidos, os tapetes, as pessoas conversando, a música temática e duas dançarinas do ventre que a Pérola indicara animando os convidados. Estava tudo perfeito!

Olhei para o lado e vi na expressão das meninas que elas estavam tão empolgadas quanto eu.

- É isso aí, Gabi! Hora da festa! – a Laís piscou para mim e me puxou para o meio do pessoal, assim que terminamos de descer as escadas.

***

- Uaaaaau! Mas que espetáculo!

- Obrigada, Alê! Vocês também estão incríveis – sorri para o meu amigo que, assim como Nando e Miguel, também estava com o figurino a caráter: batas com lenços pendurados no pescoço. O do Nando era colorido como o arco-íris em uma mensagem subliminar – ou nem tão subliminar assim.

- Foi mal Gabi, mas dessa vez estou falando desta mulher maravilhosa aqui – ele pegou a mão da Laís e a girou.

- Mas eu estou falando de você, Gabi. Está divina. Feliz aniversário! – o Caio apareceu entre os convidados para me dar um abraço – A festa está muito irada! Vocês mandaram muito bem!

- Obrigada! Que legal que você veio!

- É... – ele coçou a cabeça, sem jeito – Mas eu não vim sozinho.

Franzi as sobrancelhas, confusa. O que ele queria dizer?

- Vem cá... – ele me puxou para um canto, passando por entre os convidados que iam acenando para mim, elogiando minha roupa ou me parabenizando. Muitas pessoas já estavam por ali: integrantes da companhia da dança, colegas da escola, vizinhos do condomínio...

- É o seguinte, Gabi. Você mandou convite para mim e para o Gusta, né? – ele começou a sussurrar depois que chegamos do lado de fora, em uma parte que não tinha muita gente.

- Isso! E cadê o Gusta, aliás? – eu não estava entendendo a razão de tanto mistério.

- Então... Ele está lá fora. Com uma pessoa que queria muito te ver... – ele falou de forma rápida.

- Para de gracinha, Caio! Fala logo! – por mais que não fosse lógico, lá no fundo meu coração acelerou com a possibilidade de ser o Edu. Mas, o carioca não gostava do Caio, então, as chances disso acontecer eram bem mínimas.

- Desculpa, Gabs. Mas a única maneira de você descobrir é ir lá fora e ver quem está com o Gusta.

Parei por um segundo e pensei nas possibilidades. Eu não conseguia pensar em ninguém além do Edu até que, de repente, um estalo me trouxe um outro nome à cabeça.

- Não pode ser... – virei e fui em direção a saída, andando o mais rápido que podia.

Passei pela porta de entrada da minha casa, virei à direita e fui até a esquina e lá estava ele, encostado em uma mureta, os cabelos bagunçados e os olhos fixos em mim.

- Léo?!
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Notas finais: Eis que esse encontro finalmente aconteceu. Senhoras e senhores: GaLeo está in the house! E aí? Essa festa promete ou não promete?

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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Capítulo 41 – Operações-Cupido

Notas iniciais: Vocês também são o tipo de pessoa que planejam uma coisa e fazem outra completamente diferente? Pois eu sou! Planejei que a festa da Gabs já ia começar nesse capítulo, maaaas... Bom, vejam por si mesmas... hahaha

Só posso dizer que o esquenta para a festa está bem agitado e tenso.

Espero que gostem do capítulo! =)
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 - Wherever, wherever, nã, nã, nã, nã, nã, to be together...”

- Primeiro de tudo – Rebeca interrompeu a cantoria (ou a tentativa de uma) do Nando com um olhar que seria capaz de matá-lo instantaneamente – pelo amor de Deus, não acaba com a música desse jeito. A Shakira não merece essa desfeita! Até porque nem é essa música que a Gabi está ensaiando! Você tinha que estar cantando a outra...

- Minha filha, Shakira é cultura! Vai das Arábias à África, passando pelo Brasil, Colômbia e o mundo todo. O tema da festa, aliás, deveria ser os hits dessa mulher. Eu iria fantasiando de “La Tortura”, bem lindo cantando “Ay amor, fue una tortura perderte” e dançando todo sensual e arrasador – nosso amigo rebateu caprichando na dose de humor.

Estávamos saindo de um dos meus ensaios de dança do ventre no estúdio da Pérola. E, enquanto o Nando e a Rebeca discutiam sobre o sucesso da cantora colombiana, eu só conseguia pensar se conseguiria sobreviver até o meu aniversário. Na minha primeira semana de ensaios fiquei apenas treinando os movimentos básicos, que de básicos não tinham nada. Era um tal de joga quadril pra lá, bota perna pra cá, e a costela vai acolá... Meus quadris, abdômen e pernas estavam mais moídos que na época do balé. A única vantagem era a que eu não precisava usar sapatilhas, o que não posso negar: já era um tremendo alívio. Porém, não fiquei livre de movimentos na ponta e meia-ponta do pé.

Como tínhamos pouco tempo até a festa os ensaios estavam bem puxados. Duravam cerca de duas a duas horas e meia. A principal desvantagem de ser filha da dona Beatriz era essa: a Pérola sabia que o ritmo da minha mãe sempre fora muito puxado, por isso não fazia nenhuma cerimônia ao exigir o máximo de mim. Inclusive, a minha coreografia que ela tinha prometido que seria algo simples, ao que tudo indicava, não seria assim, tão fácil... A música escolhida pela minha professora foi uma da Shakira chamada “Ojos Así”. A coreografia, inclusive, também seria inspirada em uma performance que a cantora fez em um dos seus DVD’s. Segundo ela, como a música não era tão típica, permitiria que eu improvisasse mais nos passos.

Para minha surpresa, ter feito balé me ajudou muito a pegar os movimentos. Eu não fazia ideia, mas muitas profissionais da dança do ventre faziam aulas de balé clássico, sapateado e até yoga para aperfeiçoar suas apresentações. Outra coisa muito interessante foi conhecer um pouquinho da cultura dos países árabes, muito diferente da nossa ocidental. Mas, o mais legal, sem sobra de dúvida, era o quanto eu estava me sentindo linda e poderosa. A dança do ventre tinha vários movimentos sensuais e aprendê-los estava me ajudando descobrir um lado meu que ainda não tinha explorado.

Como iria rolar um vídeo só com os preparativos da festa, alguém sempre ia comigo para registrar os meus micos durante as aulas. Claro que também rolavam muitos stories no Instagram, o que estava rendendo vários comentários e aumentando ainda mais a expectativa da festa entre os convidados.

- Gente, é sério: acho que amanhã eu não consigo ensaiar. Tudo dói – falei enquanto caminhávamos pelas ruas do Centro de Guararema com destino à Casa da Cultura, onde encontraríamos minha mãe para pegar uma carona para casa.

- Pois trate de aguentar firme, porque hoje ainda temos a Operação Cupido Sem Fronteiras – Nando me lembrou.

- O Alê e a Lala avisaram no grupo que tudo está correndo bem. Eles já começaram a preparar o jantar – Rebeca nos posicionou com seu típico jeito de líder – Mas vamos precisar de você para levar seu pai até o salão de eventos do condomínio.

- Nossa, é verdade! Ainda tem mais essa... E eu pensando que chegaria em casa e me jogaria na cama como se não houvesse amanhã – falei, respirando fundo.

Estava previsto que meu pai chegaria ao Brasil na semana passada. Porém, por conta de alguns problemas na empresa, ele precisou adiar a data, o que nos deu tempo de preparar um plano para juntá-lo de vez com a dona Melissa. A ideia era bem simples: organizar um jantar à luz de velas com a mensagem “Se casem” e deixar o resto por conta dos dois. Pelos sinais que ambos vinham dando, a única coisa que faltava era esse pequeno empurrãozinho – e, justamente por isso, resolvemos ajudar.

Para isso, depois que ele chegasse em casa, por volta das oito da noite, eu iria convidá-lo para dar uma volta pelo condomínio e levá-lo até o salão de eventos, onde já teríamos organizado o jantar ao lado do deck. O Alê estava encarregado de fazer o mesmo com a dona Melissa.

Peguei o celular para checar se havia alguma novidade do meu pai. Pelas mensagens, tudo estava correndo bem e ele chegaria no horário marcado. Agora era só esperar a hora de entrar em ação.

***
- Ôôôô de casa... – ouvi alguém chamar da porta de casa.

- Está aberta! – gritei de volta e sorri ao ver meu pai passar pela entrada puxando sua bagagem. Eu estava à sua espera enquanto fingia que assistia uma série no Netflix. Digo fingia porque, na verdade, estava no Whats confirmando os últimos detalhes com o resto do pessoal.

- Demorei, mas cheguei – ele disse enquanto dava um longo abraço de boas-vindas nele.
- E deu tudo certo com o seu trabalho? – perguntei, ajudando-o com as malas.

- Ah, sim. Tivemos um imprevisto, mas nada muito complicado. A única coisa chata é que acabei precisando adiar a viagem. Mas agora estou aqui e estou morrendo de fome. Tem alguma coisa pra comer nesta casa?

Precisei me segurar para não abrir um sorriso de vitória antes do tempo. Eu nem precisaria me esforçar. Sr. Marco Sérgio estava me dando a deixa que precisava de bandeja.

- Hmmm... Deve ter. Minha mãe sempre pede para a Maria deixar alguma coisa pronta na geladeira. Mas pai... Será que podemos sair para comer? Aí aproveitamos e conversamos... – tentei fazer uma expressão de quem estava confusa e precisando de orientação para convencê-lo. Eu sabia que ele não resistiria a um pedido de ajuda da sua filha problemática.

- Ah, claro! Quer chamar um Uber? – ele mordeu a isca com uma expressão de intrigado.
Ponto pra mim!

- Dá pra ir andando, pai. Tem uma espécie de “vilinha” na frente do comdomínio com algumas opções boas para comer. Tem um japonês ótimo lá, inclusive – falei, relembrando o dia que jantei lá com o Edu depois da minha apresentação como Julieta. Era muito difícil acreditar que isso tinha acontecido há poucos meses. De lá pra cá, tanta coisa tinha mudado...

- Bom, então vamos... Talvez a gente possa passar pela casa da Melissa e ver se eles também querem ir – ele sugeriu – Claro, se não quiser conversar em particular.

- Ah, você sabe que amo o Alê e a dona Melissa, mas acho que prefiro falar só com você primeiro, embora eu saiba que depois você vai acabar contado pra ela... – falei em tom provocativo.

Ele me respondeu com um sorriso amarelo, se entregando ainda mais. Gente, não tinha nada mais fofo que uma pessoa apaixonada. - Você anda terrível, né mocinha? Melhor irmos logo, antes que você continue com essa língua terrível!

Fiz sinal para que ele fosse na frente com um sorriso irônico no rosto. Ele nem imaginava o que ainda estava por vir. Antes de sair, peguei o celular e digitei no grupo “A caminho”.

- E então, sobre o que queria falar? – ouvi meu pai perguntar enquanto eu trancava a porta da frente.

- Semana passada fui levar o Edu no aeroporto com o Alê e a dona Melissa fez uma pergunta no carro que me deixou meio encucada – comecei ao mesmo tempo que caminhávamos lado a lado pela rua – Ela quis saber se já estamos pensando no vestibular e... bem... eu não tenho a mínima ideia do que quero fazer na faculdade. Eu passei a vida inteira achando que estudaria Dança e faria parte de uma grande companhia. Agora estou perdida – desabafei. Desde a briga com a minha mãe e o meu tempo com o balé, eu não tinha parado muito para pensar no que faria dali para frente. Mas agora, com os professores fazendo uma verdadeira lavagem cerebral sobre universidade, provas e tudo mais, eu me sentia cada vez mais confusa.

- Gabi, realmente há muita pressão para que vocês escolham uma formação quando terminam o Ensino Médio. Mas saiba que eu não apoio a ideia que você precisa terminar o colégio e ir imediatamente para uma faculdade. Acho que há outras opções muito mais válidas, como viajar, aprender algum outro idioma, ser voluntário em alguma causa ou começar a trabalhar... Pressionar alguém a escolher uma profissão pode causar consequências muito graves.

Eu adorava o jeito que meu pai falava de coisas sérias de um jeito natural, como se fosse se fosse só mais uma conversa comum. Isso sem falar no alívio em saber que, pelo menos por enquanto, não seria obrigada a decidir sobre algo que estava totalmente confusa.

- Além do mais, você não precisa riscar a dança da sua lista completamente – ele emendou com uma voz um pouco mais animada – Você dançou balé por muito tempo. Teve um problema este ano, mas isso não significa que não possa pensar em voltar. Mas, enquanto está dando este tempo, pode experimentar outros tipos de dança ou, quem sabe, explorar outras artes, como o teatro, por exemplo. Nova York tem escolas ótimas de jazz, sapateado, interpretação, música... Você poderia estudar por lá – ele sugeriu do mesmo jeito que uma criança tenta convencer um adulto a sair para brincar com ele. De modo doce e fazendo parecer que a proposta seria muito divertida.

- Nossa, pai! Como é que nunca pensei nisso? – a ideia parecia tão genial e incrível que eu não conseguia acreditar que não tinha cogitado a hipótese antes – Lembra que te falei da Pérola, a professora de dança do ventre? Então, ela me explicou que o balé pode servir de base para muitos outros tipos de dança e até para atores e atrizes... Poder estudar outros gêneros vai ser incrível – eu não estava me aguentando de tanta empolgação. Mil ideias começaram a surgir na minha mente. Talvez eu poderia até ser uma daquelas atrizes de musicais, que cantavam, dançavam e atuavam... Será que era sonhar alto demais?

- Às vezes focamos tanto no problema que não percebemos que a solução está logo abaixo do nosso nariz – ele piscou para mim – Você pode terminar o colégio e ir passar um tempo comigo em Nova York. Sua mãe e eu temos falado sobre isso e ela apoia a ideia. Na verdade, ela está se apegando a ela com todas as forças porque acredita que você tem muito talento para a dança, independente se for ou não seguir carreira no balé. Mas não conta essa parte para ela, ok? – pediu como quem conta um segredo.

- Prometo que fica entre nós – levantei a mão imitando um gesto solene.

- Era para ser surpresa, mas já que você tocou no assunto, vou te contar – seu modo de falar era o de alguém que estava aprontando algo. Aí vinha coisa – A Melissa fez essa pergunta porque temos conversado muito sobre o projeto que estamos desenvolvendo para jovens. E, como está sempre com vocês, ela já tinha notado que você e o Alê estavam com problemas em decidir uma faculdade. Por isso pensamos em propor essa temporada em Nova York para vocês.

- Peraí... vocês? Para o Alê também? – perguntei mal acreditando no que estava ouvindo.
- Isso mesmo! Para o Alê também. Nova York é uma cidade incrível, cheia de opções, seja para bailarinas, skatistas, youtubers... – dava para perceber que meu pai também estava muito empolgado com a ideia. O sorriso no seu rosto só não era maior que o meu.

- Isso vai ser incrível! Vai ser ótimo viajar com meu amigo – estava tão entusiasmada com as novidades que, por pouco, não estraguei o plano inteiro. Já estávamos quase chegando perto do lago. Eu precisava pensar rápido para desviar a rota sem chamar muita atenção.
- Falando no Alê, ele disse que estaria com a Laís no deck. Agora que já conversamos, será que podemos chamá-los para ir com a gente?

- Podemos. Mas este assunto, por enquanto, precisa ficar entre nós. A Melissa disse que estava de acordo com a ideia, mas sabe como é, né? Não podemos nos meter. Ela precisa conversar com ele primeiro – meu pai se preocupou em explicar.

- Fica tranquilo, não vou dizer nada! Agora, vem – puxei sua mão apressando o passo. Eu queria muito que ele encontrasse a surpresa logo.

Chegamos perto do lago onde havia a entrada para o salão de festas. O ambiente era amplo, com o pé direito alto, piso de madeira e grandes portas de vidro. Uma delas dava acesso direto ao deck. A segunda levava a um jardim que tinha uma ligação com uma outra rua do condomínio. O Alê usaria a segunda opção para levar dona Melissa até o nosso jantar. Eu estava só imaginando quais artimanhas ele usaria para convencer a levar a mãe até ali.

- Filha, o que está acontecendo?  Meu pai perguntou ao perceber a movimentação diferente. Na beira da água havia uma mesa para dois e, logo ao lado, um aparador com os pratos e as bebidas. O cardápio foi especialmente selecionado pela Beca: lasanha de berinjela e salada de folhas verdes e frescas. Também havia algumas frutas para a sobremesa, além de uma torta com cobertura de frutas vermelhas que parecia divina. Para beber, suco de jabuticaba para a dama e vinho para o cavalheiro. Uma playlist montada pela Laís tocava em uma caixinha de som. Em um canto, acertando os últimos detalhes, estava todo o resto do Time B, com exceção do Nando que estava incumbido de registrar o encontro dos pombinhos.

- Tenha só um pouquinho de paciência que já, já, você vai descobrir – falei.

- Enquanto isso, o senhor pode ir se sentando à mesa – Nando sugeriu enquanto fazia imagens do meu pai.

- Tudo que está aqui é para você e para nossa outra convidada especial. Por favor, espero que apreciem – Laís juntou-se a nós o conduzindo até o seu lugar.

A mesa estava muito bonita, forrada com uma toalha branca, pratos de porcelana com estampas de flores delicadas e taças. Velas, flores e fios de luz completavam o visual de forma simples, porem muito charmosa.

*** Segue uma foto pra dar uma ideia da decoração. A diferença é que eles estavam em um deck***

- Meninos... – a expressão do meu pai era uma mistura de medo com expectativa.

- Calma! Confia em mim. Você vai gostar – falei olhando pela entrada do jardim, esperando o Alê dar sinal de vida. Será que algo tinha dado errado?

- Gostaria de provar a entrada? – Rebeca interviu para distrair meu pai.

- Acho que prefiro descobrir quem será a pessoa que vai jantar comigo primeiro – ele respondeu sério. Sua expressão começava a ficar bem desconfiada e não ajudava muito a demora do Alê. Olhei o celular para checar se havia alguma mensagem dele. Nada! Dava para perceber que todos os meus amigos estavam apreensivos.

- Pessoal, acho que levei um bolo e nem sei de quem foi... – meu pai disse, levantando-se da mesa depois de 10 minutos de espera.

- Calma, pai! Só mais um pouquinho de paciência... – quase implorei enquanto rezava para o skatista aparecer logo.

Por sorte, e como se Deus estivesse atendendo as minhas preces, ouvi a voz do meu amigo e da dona Melissa se aproximando.

- Vem, vem! Por aqui. Isso... só mais alguns passos... Já estamos chegando – ele falava enquanto guiava a sua mãe que estava com uma venda nos olhos. Ai meu Deus! O que aquele garoto estava aprontando?

- Só um pouquinho mais adiante... Pronto! Agora, pare! Pegue no compasso! Brincadeira, brincadeira... Seguinte: uando eu contar até três você pode tirar a venda, ok? – ele foi dando as instruções todo convencido até que sua mãe parasse em frente à mesa onde estava meu pai.

- Alexandre, o que é tudo isso? – fui até ele e sussurrei em seu ouvido muito séria. Ao meu redor, todos encaravam a cena com cara de “mas o que diabos está acontecendo aqui?” – Era para trazer a sua mãe, não para fazer uma gincana!

- E qual seria a graça se não tivesse um pouco de dramaticidade? – ele retrucou, voltando a prestar atenção na sua mãe e me fazendo revirar os olhos – Ok, vamos lá! No três: um, dois, dois e meio... e... – fez uma pausa dramática se achando o animador de festa – três!
Ao ouvir o sinal, dona Melissa tirou a venda e, ao dar de cara com meu pai, congelou feito uma estátua. Do outro lado da mesa, a reação do “seu” Marco Sérgio foi exatamente a mesma. Era difícil saber se eles ficaram felizes com o que aprontamos.

Por um momento, tudo o que se ouvia era o som da música. Ninguém sabia o que falar ou o que fazer. Até o Nando, que estava filmando tudo, pareceu perder o foco.

- Por favor, dona Melissa, sente-se – a Laís foi a primeira a tomar uma atitude – Vou servir algo para vocês beberem. Beca, a entrada, por favor.

Ao ver a dupla sentada na mesa nos olhando de jeito questionador, Alê resolveu explicar – Vocês sempre nos incentivam a ir atrás do que queremos, a expressar o que sentimos e essas coisas todas... Por isso, tomamos coragem para mostrar o que estamos pensando de uma maneira bem... digamos, que direta. Mas, caso não tenham entendido ainda, queremos que vocês fiquem juntos porque eu e a Gabi queremos ser irmãos – ele foi direto ao ponto, explicando a situação de uma maneira bem casual, como se estivesse contando que foi comprar pão na padaria.

- E, eu no caso, quero ser a nora de vocês – Laís completou dando uma piscadinha.

- Portanto, aproveitem o jantar, a decoração, conversem, se amem, se beijem... E não precisam ficar preocupados. Todos nós vamos dormir na casa da Gabi hoje para não deixar nossa Bonequinha sozinha, já que dona Beatriz só volta amanhã. Ou seja, nossa casa estará livre hoje, tá mãe? – o skatista voltou a falar fazendo gracinha, o que ajudou a quebrar o clima na mesa.

- Acho que criamos dois monstros... – foi tudo o que dona Melissa disse o que não nos ajudava a descobrir se eles tinham gostado ou não.

A Beca entrou em ação explicando o menu, o que pareceu deixar os dois menos retraídos. Antes de sairmos, avisamos que no dia seguinte iríamos limpar e organizar o local, e que eles não precisariam esquentar a cabeça com nada.

- E aí? Vocês acham que rola? – Rebeca questionou um pouco apreensiva enquanto caminhávamos para a minha casa.

- Mas é claro que rola. Quem resiste a toda essa produção? – Alê estava um nojo de tão convencido.

- Não sei não, hein? Eu esperava uma reação mais alegre da parte dos dois. Eles ficaram meio tensos – Lala avaliou.

- Normal, né? Não é todo dia que seus filhos e os amigos deles resolvem bancar o cupido. Se você for parar para pensar, é um pouco constrangedor, né? Parece que eles estavam encalhados... – foi a vez do Nando falar.

- Será que mandamos mal? – de repente senti um mau pressentimento.

- Relaxa, bonequinha. Tudo vai dar certo. Em breve estaremos rindo disso tudo passeando por Nova York – Alê não se deixou abalar. O comentário dele me fez lembrar da conversa com meu pai antes da “Operação Cupido”. Será que nossa tentativa de aproximá-los poderia colocar tudo a perder?

- Eu espero que você esteja tão confiante assim amanhã à noite para me ajudar com o Miguel – Fernando estava ansiosíssimo para que o dia seguinte chegasse. Afinal, já fazia um tempo que ele não via o Mig.

De repente, a autoconfiança do Alê desapareceu. Tudo o que meu amigo fez foi balançar a cabeça, como se não soubesse o que dizer.

- Bom gente, não tem mais nada que possamos fazer além de esperar, não é mesmo? Então, enquanto aguardamos, quero saber de uma coisa: qual filme vamos assistir hoje? – Lala conduziu a conversa para um ponto mais neutro: a festa do pijama que havíamos programado para aquela noite. Tudo bem que o objetivo inicial da festa era comemorar o resultado positivo do jantar... Agora, ao que tudo indicava, a comemoração serviria mais como uma forma de distração até que recebêssemos alguma notícia do deck.

- De terror, é claro! Porque, se a Lala ficar com medo, vai poder pular no meu colo e ficar agarradinha comigo a noite inteira... – o skatista tentou disfarçar o momento de tensão fazendo piada.

Ao ouvir a gracinha do meu amigo, eu, Beca e Nando reviramos o olho ao mesmo tempo.
- Deus, como que uma única pessoa consegue falar tanta besteira? – nossa Hermione provocou.

- Eu treino bastante, querida. Um dia você chega no meu nível...

- Lala, pelo amor de Deus, dá um jeito nele – praticamente implorei.

- Pode deixar, Gabs. Vou mantê-lo na linha! – ela respondeu, abraçando o namorado mais forte, fingindo uma punição – Mas ó, eu topo o filme de terror. Mas nem pense em usar isso como desculpa para ficar me agarrando – ela advertiu o skatista, que pareceu bem desapontado com a notícia.

Chegamos em casa bem mais animados do que antes. Bom, quase todo mundo. Nando parecia um pouco encucado com a reação do nosso amigo. Pra falar bem a verdade, eu também tinha ficado com o pé atrás. Nota mental: conversar com o skatista e descobrir porque ele estava agindo estranho quando o assunto era Nando e Miguel.

Mas, enquanto não a oportunidade de falar com o meu “futuro irmão” não aparecia, eu e a Lala o deixamos escolhendo o filme, enquanto preparávamos os petiscos e o Fernando e a Rebeca pegavam os refrigerantes.

O filme estava na metade quando ouvimos a porta abrir, assustando todo mundo.

- Calma, meninos! Sou eu – meu pai avisou – Pelo nível do susto de vocês, devem estar assistindo filme de terror. Acertei?

- Isso mesmo, “seu” Marco. Até porque, romance é com você e a minha mãe – Alê não perdeu a oportunidade.

- Bom... não quero atrapalhar a sessão pipoca. Filha, você pode me ajudar a levar as coisas para o quarto? Ainda preciso responder alguns e-mails antes de dormir – “seu” Marco Sérgio desconversou. Não pude deixar de notar que, para quem estava chegando de um jantar romântico, sua expressão parecia um pouco séria demais.

- Hm... Claro! – disse antes de me levantar do sofá.

- Meninos, estarei no meu quarto se precisarem de mim. Antes de dormir passo para ver se está tudo certo. Comportem-se, hein? – Marco Sérgio tentou dar uma aliviada na tensão sem muito sucesso – E Alê, sua mãe pediu para ficar de olho em você – deu uma piscada para o meu amigo antes de pegar as malas – Boa noite!

Seguimos até o quarto sem falar muita coisa. Ele me perguntou a senha do wi-fi e confirmou se realmente iríamos assistir o espetáculo da minha mãe no dia seguinte.

- E aí, pai? Gostou do jantar? – arrisquei perguntar depois que o ajudei a se instalar no seu quarto.

- Estava tudo muito bom, filha. Agradeça aos seus amigos, aliás. Eles capricharam – respondeu com um meio sorriso nos lábios.

- Maaas... e aí? E a dona Melissa? – tentei descobrir algo.

- Gabriela, não posso negar que achei a atitude de vocês muito bacana. Mas, estou aqui para cuidar de você. Foi o que prometi para a sua mãe, inclusive. Não podemos perder o foco, ok? – ouvi meu pai falar antes de vir até mim e me dar um beijo na testa – Agora, volta lá para a sala que seus amigos estão te esperando. Boa noite!

E, com essa resposta que não esclarecia nada, ele se despediu e fechou a porta do quarto. Segui pelo corredor novamente sem saber o que pensar. Ele tinha gostado do jantar. Tinha gostado da iniciativa. Então, por que diabos não ficou com a dona Melissa?

- E aí, Gabs? Alguma novidade do jantar? – Nando quis saber assim que retornei à sala.

- Pela cara do seu pai a coisa não funcionou como imaginávamos... – a Beca avaliou antes de dar um gole no seu refrigerante.

- Ele disse que gostou da ideia, mas que prometeu para a minha mãe que cuidaria de mim e que não podíamos perder o foco – resumi a resposta depois que voltei ao meu lugar no sofá.

- Hmmm... Será que ele ainda está interessado na sua mãe?  -a especulação veio do Fernando.

- Gente, será que ele acha que a dona Beatriz ainda não o perdoou por ter ido embora e está tentando se redimir? – Lala embarcou na teoria do nosso amigo e foi ainda mais além.
- Olha, hoje mais cedo meu pai comentou de eu ir passar um tempo em Nova York com ele. Pode ser que ele esteja com “medo” de comprar briga com a minha mãe e acabar atrapalhando a viagem – falei, mantendo a parte sobre o Alê em segredo. Se minha teoria estivesse certa, era bem possível que não rolasse do skatista ir comigo para a “Big Apple”.
- Eu ainda não estou acreditando que tivemos todo esse trabalho para nada... – meu amigo se lamentou.

- Calma! Nem tudo está perdido, galera. Ainda tem a festa de aniversário da Gabi. Como os três estarão juntos no mesmo lugar, poderemos observar e entender melhor o que está rolando. A partir daí, definimos qual será o nosso próximo passo – a nerd do grupo fez o que fazia de melhor: colocava ordem no “barraco”, determinando o que deveríamos fazer.
- Se a Hermione está dizendo, quem eu sou para discordar? – o skatista provocou deitado no colo da sua namorada – O jeito será esperar a festa...

Concordei, a expectativa para o meu aniversário ficando cada vez mais alta. Além desta nova questão, eu ainda não sabia se o Edu viria ou não. Nós ainda estávamos conversando via Whats com quase a mesma frequência de antes. Porém, por causa de um problema no cartão da mãe, ele ainda não tinha conseguido comprar a passagem de volta e não sabia se conseguiria fazer a compra a tempo da festa. Ou seja: assim como no caso do meu pai e da dona Melissa, tudo o que me restava fazer era ter paciência e torcer para que tudo desse certo...

***
- Quem foi mesmo que convidou essa guria chata para vir com a gente? – Laís quis saber com a cara fechada.

Estávamos na frente do Teatro Municipal da nossa cidade esperando a Carol chegar para entrar e assistir a apresentação da minha mãe. Nossa missão ali era clara: ajudar na reaproximação do Nando e do Miguel. O que me lembrou que, com a chegada do meu pai tão cedo em casa, eu acabei me esquecendo de conversar com o Alê. Hoje, sem falta, precisaria tirar aquele assunto a limpo com ele.

- Já disse: ela me mandou mensagem perguntando se poderia vir com a gente. Eu não tive como dizer não... – relembrei o que já havia explicado no grupo mais cedo assim que a Carol me chamou no Whats.

- Às vezes eu queria que você não fosse tão boazinha, Gabs... – a morena respondeu ainda de cara feia.

- Relaxa, bebê. É só uma mocreia chata que não tem cemancol e acha que a gente gosta dela. Sou muito mais você – Nando tentou acalmá-la.

- Tem horas que eu queria ser que nem a Beca. Tá nem aí pra boy nenhum – Lala disse enquanto passava um braço pelo ombro da nossa amiga em uma espécie de abraço – Essa aqui é o orgulho do grupo.

Assim que terminou a frase, o Caio apareceu descendo a rua ao lado de uma mulher que parecia muito ser sua mãe fazendo com que a Reb quase sofresse um mini colapso.

- Bom, talvez ela ligue um pouco... – Nando corrigiu a informação enquanto caíamos na risada e nossa pequena nerd ficava toda vermelha de vergonha.

- Oi, pessoal – o Caio nos cumprimentou rapidamente já que a mulher ao seu lado estava bastante apressada. Eu não sabia se era impressão minha, mas ele me pareceu um pouco nervoso ao ver a Beca...

- Oiiiii Alê! – uma Carol muito animada e simpática fez com que todos voltassem o foco para o assunto anterior à aparição do Caio. Vimos nossa companheira de estudo dar um abraço bem apertado no skatista, o que não seria nada demais se ela não estivesse colocando um pouco a mais de “empolgação” no gesto e se o Alê não parecesse ligeiramente incomodado com a situação.

 “Pode me tirar tudo que eu tenho, pode falar tudo o que eu faço, mas eu só te faço um pedido...”.

Ouvi a Lala cantar enquanto a Carol cumprimentava todo o resto do grupo. A referência era tão clara que a amiga da Mari ficou sem saber como agir. Para piorar, o Nando entrou na zuera, deixando a Carol ainda mais constrangida.

- “Não encosta no meu namorado”. Adoro essa música, gente!

- Eu também amo! Ludmilla disse tudo, não é mesmo, Carol? – Lala continuou sua vingança.

É... sim, verdade! – a garota não sabia como sair daquela saia justa. Acho que se ela pudesse viraria um avestruz e colocaria a cabeça na terra só pra não ter que encarar a Laís.

Olhei para o lado para ver qual tinha sido a reação do Alê, mas ele estava sério, olhando fixamente para um garoto do outro lado da rua. Ele mal notara a troca de farpas entre as duas meninas.

- Acho melhor a gente entrar senão vamos perder o início da apresentação – Rebeca decidiu intervir a favor da Carol que só faltou dar um beijo nela para agradecer – Gabi, seu pai vai nos encontrar lá dentro, né?

- Isso mesmo! – concordei. “Seu” Marco Sérgio havia ido conosco, mas entrou antes para que pudesse visitar os bastidores.

Entramos no teatro e senti a nostalgia tomando conta de mim. Lembrei da época que estava me preparando para dar vida à Julieta, dos ensaios, das broncas da Mari por ter uma vida tão regrada, das minhas dúvidas e medos... A minha vida havia dado um giro e tanto nos últimos meses, não só no sentido figurado como também no literal: saí do papel principal para o de uma simples expectadora. Ironicamente ou não, eu nunca me sentira tão protagonista da minha própria história como agora.

***
A peça começara e, como já era esperado, o Miguel estava arrasando no palco. Não pude deixar de notar que ele e sua nova parceira ainda não estavam 100% e precisavam refinar alguns movimentos quando dançavam juntos. Porém, só as pessoas que entendiam de balé notariam este pequeno detalhe. No geral, tudo estava perfeito o que me encheu de orgulho. Eu sabia que dava trabalho montar um espetáculo de tamanha magnitude e que todo mundo se esforçara bastante para estar naquele palco.

A história foi seguindo e chegamos ao ponto alto da apresentação, no qual o Romeu e a Julieta executavam juntos uma sequência complexa de saltos e giros.

- Bichaaa! Lugar de veado é no zoológico, seu gay – ouvi uma das pessoas que estava sentada na plateia falar. Ao olhar para o lado, percebi que tratava-se do garoto que o Alê encarava antes de entrarmos no teatro. Ele não estava falando em um tom tão alto, mas, como estávamos bem na frente, era o suficiente para quem estivesse no palco ouvisse.

Mais pessoas ouviram o insulto, porque houve uma agitação entre o público, a maioria pedindo silêncio.

Assustada, olhei para o Miguel que segurava a Julieta em seus braços perto de nós. Sua expressão estava tensa, mas ele permanecia firme.

- Até que a bichinha aí é bem forte... É bom ir ficando fortinha mesma, porque da próxima vez não vamos ser tão bonzinhos.

Tudo aconteceu muito rápido. Vi o Miguel desviar o olhar para o garoto por apenas um segundo, os olhos cheio de pavor. E, então, ele se desiquilibrou e ele e sua parceira foram ao chão.

Imediatamente o Nando deu um pulo da sua cadeira e foi correndo ver se o Miguel estava bem. Eu já estava me levantando para ajudá-lo quando vi o Alê ficar em pé e ir em direção ao autor dos comentários homofóbicos.

- Quem não vai ser bonzinho agora sou eu! – ele disse com a voz cheia raiva. E, antes que eu pudesse segurá-lo, acertou um soco no rosto do garoto que tombou para o lado com o nariz ensanguentando.

Ele estava se preparando para acertá-lo novamente quando consegui impedi-lo – Alê, o que está acontecendo aqui? – gritei, tentando fazê-lo voltar a razão.

Estava claro que ele sabia de algo. Mas o que poderia ser tão grave a ponto de fazê-lo agir de maneira tão violenta?
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Notas finais: Maaaaas gente... As operações-cupido deram bem errado, né? Algum palpite do que fez o Alê agir de forma tão violenta?

E o jantar da dona Melissa e do Marco Sérgio que também deu errado?! Palpites do que está impedindo o casal-fofura de ficar junto?

Sem falar no típico mistério do carioca: será que ele vai aparecer na festa da Gabi? Mas ó, posso falar quem já garantiu presença? Sim, ele mesmo: o Léo! Quem aí está com saudade do Cabeludinho?

Preparem os corações que muita coisa vai acontecer no próximo capítulo!

Beijão e até o próximo!

(***)

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