segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Capítulo 41 – Operações-Cupido

Notas iniciais: Vocês também são o tipo de pessoa que planejam uma coisa e fazem outra completamente diferente? Pois eu sou! Planejei que a festa da Gabs já ia começar nesse capítulo, maaaas... Bom, vejam por si mesmas... hahaha

Só posso dizer que o esquenta para a festa está bem agitado e tenso.

Espero que gostem do capítulo! =)
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 - Wherever, wherever, nã, nã, nã, nã, nã, to be together...”

- Primeiro de tudo – Rebeca interrompeu a cantoria (ou a tentativa de uma) do Nando com um olhar que seria capaz de matá-lo instantaneamente – pelo amor de Deus, não acaba com a música desse jeito. A Shakira não merece essa desfeita! Até porque nem é essa música que a Gabi está ensaiando! Você tinha que estar cantando a outra...

- Minha filha, Shakira é cultura! Vai das Arábias à África, passando pelo Brasil, Colômbia e o mundo todo. O tema da festa, aliás, deveria ser os hits dessa mulher. Eu iria fantasiando de “La Tortura”, bem lindo cantando “Ay amor, fue una tortura perderte” e dançando todo sensual e arrasador – nosso amigo rebateu caprichando na dose de humor.

Estávamos saindo de um dos meus ensaios de dança do ventre no estúdio da Pérola. E, enquanto o Nando e a Rebeca discutiam sobre o sucesso da cantora colombiana, eu só conseguia pensar se conseguiria sobreviver até o meu aniversário. Na minha primeira semana de ensaios fiquei apenas treinando os movimentos básicos, que de básicos não tinham nada. Era um tal de joga quadril pra lá, bota perna pra cá, e a costela vai acolá... Meus quadris, abdômen e pernas estavam mais moídos que na época do balé. A única vantagem era a que eu não precisava usar sapatilhas, o que não posso negar: já era um tremendo alívio. Porém, não fiquei livre de movimentos na ponta e meia-ponta do pé.

Como tínhamos pouco tempo até a festa os ensaios estavam bem puxados. Duravam cerca de duas a duas horas e meia. A principal desvantagem de ser filha da dona Beatriz era essa: a Pérola sabia que o ritmo da minha mãe sempre fora muito puxado, por isso não fazia nenhuma cerimônia ao exigir o máximo de mim. Inclusive, a minha coreografia que ela tinha prometido que seria algo simples, ao que tudo indicava, não seria assim, tão fácil... A música escolhida pela minha professora foi uma da Shakira chamada “Ojos Así”. A coreografia, inclusive, também seria inspirada em uma performance que a cantora fez em um dos seus DVD’s. Segundo ela, como a música não era tão típica, permitiria que eu improvisasse mais nos passos.

Para minha surpresa, ter feito balé me ajudou muito a pegar os movimentos. Eu não fazia ideia, mas muitas profissionais da dança do ventre faziam aulas de balé clássico, sapateado e até yoga para aperfeiçoar suas apresentações. Outra coisa muito interessante foi conhecer um pouquinho da cultura dos países árabes, muito diferente da nossa ocidental. Mas, o mais legal, sem sobra de dúvida, era o quanto eu estava me sentindo linda e poderosa. A dança do ventre tinha vários movimentos sensuais e aprendê-los estava me ajudando descobrir um lado meu que ainda não tinha explorado.

Como iria rolar um vídeo só com os preparativos da festa, alguém sempre ia comigo para registrar os meus micos durante as aulas. Claro que também rolavam muitos stories no Instagram, o que estava rendendo vários comentários e aumentando ainda mais a expectativa da festa entre os convidados.

- Gente, é sério: acho que amanhã eu não consigo ensaiar. Tudo dói – falei enquanto caminhávamos pelas ruas do Centro de Guararema com destino à Casa da Cultura, onde encontraríamos minha mãe para pegar uma carona para casa.

- Pois trate de aguentar firme, porque hoje ainda temos a Operação Cupido Sem Fronteiras – Nando me lembrou.

- O Alê e a Lala avisaram no grupo que tudo está correndo bem. Eles já começaram a preparar o jantar – Rebeca nos posicionou com seu típico jeito de líder – Mas vamos precisar de você para levar seu pai até o salão de eventos do condomínio.

- Nossa, é verdade! Ainda tem mais essa... E eu pensando que chegaria em casa e me jogaria na cama como se não houvesse amanhã – falei, respirando fundo.

Estava previsto que meu pai chegaria ao Brasil na semana passada. Porém, por conta de alguns problemas na empresa, ele precisou adiar a data, o que nos deu tempo de preparar um plano para juntá-lo de vez com a dona Melissa. A ideia era bem simples: organizar um jantar à luz de velas com a mensagem “Se casem” e deixar o resto por conta dos dois. Pelos sinais que ambos vinham dando, a única coisa que faltava era esse pequeno empurrãozinho – e, justamente por isso, resolvemos ajudar.

Para isso, depois que ele chegasse em casa, por volta das oito da noite, eu iria convidá-lo para dar uma volta pelo condomínio e levá-lo até o salão de eventos, onde já teríamos organizado o jantar ao lado do deck. O Alê estava encarregado de fazer o mesmo com a dona Melissa.

Peguei o celular para checar se havia alguma novidade do meu pai. Pelas mensagens, tudo estava correndo bem e ele chegaria no horário marcado. Agora era só esperar a hora de entrar em ação.

***
- Ôôôô de casa... – ouvi alguém chamar da porta de casa.

- Está aberta! – gritei de volta e sorri ao ver meu pai passar pela entrada puxando sua bagagem. Eu estava à sua espera enquanto fingia que assistia uma série no Netflix. Digo fingia porque, na verdade, estava no Whats confirmando os últimos detalhes com o resto do pessoal.

- Demorei, mas cheguei – ele disse enquanto dava um longo abraço de boas-vindas nele.
- E deu tudo certo com o seu trabalho? – perguntei, ajudando-o com as malas.

- Ah, sim. Tivemos um imprevisto, mas nada muito complicado. A única coisa chata é que acabei precisando adiar a viagem. Mas agora estou aqui e estou morrendo de fome. Tem alguma coisa pra comer nesta casa?

Precisei me segurar para não abrir um sorriso de vitória antes do tempo. Eu nem precisaria me esforçar. Sr. Marco Sérgio estava me dando a deixa que precisava de bandeja.

- Hmmm... Deve ter. Minha mãe sempre pede para a Maria deixar alguma coisa pronta na geladeira. Mas pai... Será que podemos sair para comer? Aí aproveitamos e conversamos... – tentei fazer uma expressão de quem estava confusa e precisando de orientação para convencê-lo. Eu sabia que ele não resistiria a um pedido de ajuda da sua filha problemática.

- Ah, claro! Quer chamar um Uber? – ele mordeu a isca com uma expressão de intrigado.
Ponto pra mim!

- Dá pra ir andando, pai. Tem uma espécie de “vilinha” na frente do comdomínio com algumas opções boas para comer. Tem um japonês ótimo lá, inclusive – falei, relembrando o dia que jantei lá com o Edu depois da minha apresentação como Julieta. Era muito difícil acreditar que isso tinha acontecido há poucos meses. De lá pra cá, tanta coisa tinha mudado...

- Bom, então vamos... Talvez a gente possa passar pela casa da Melissa e ver se eles também querem ir – ele sugeriu – Claro, se não quiser conversar em particular.

- Ah, você sabe que amo o Alê e a dona Melissa, mas acho que prefiro falar só com você primeiro, embora eu saiba que depois você vai acabar contado pra ela... – falei em tom provocativo.

Ele me respondeu com um sorriso amarelo, se entregando ainda mais. Gente, não tinha nada mais fofo que uma pessoa apaixonada. - Você anda terrível, né mocinha? Melhor irmos logo, antes que você continue com essa língua terrível!

Fiz sinal para que ele fosse na frente com um sorriso irônico no rosto. Ele nem imaginava o que ainda estava por vir. Antes de sair, peguei o celular e digitei no grupo “A caminho”.

- E então, sobre o que queria falar? – ouvi meu pai perguntar enquanto eu trancava a porta da frente.

- Semana passada fui levar o Edu no aeroporto com o Alê e a dona Melissa fez uma pergunta no carro que me deixou meio encucada – comecei ao mesmo tempo que caminhávamos lado a lado pela rua – Ela quis saber se já estamos pensando no vestibular e... bem... eu não tenho a mínima ideia do que quero fazer na faculdade. Eu passei a vida inteira achando que estudaria Dança e faria parte de uma grande companhia. Agora estou perdida – desabafei. Desde a briga com a minha mãe e o meu tempo com o balé, eu não tinha parado muito para pensar no que faria dali para frente. Mas agora, com os professores fazendo uma verdadeira lavagem cerebral sobre universidade, provas e tudo mais, eu me sentia cada vez mais confusa.

- Gabi, realmente há muita pressão para que vocês escolham uma formação quando terminam o Ensino Médio. Mas saiba que eu não apoio a ideia que você precisa terminar o colégio e ir imediatamente para uma faculdade. Acho que há outras opções muito mais válidas, como viajar, aprender algum outro idioma, ser voluntário em alguma causa ou começar a trabalhar... Pressionar alguém a escolher uma profissão pode causar consequências muito graves.

Eu adorava o jeito que meu pai falava de coisas sérias de um jeito natural, como se fosse se fosse só mais uma conversa comum. Isso sem falar no alívio em saber que, pelo menos por enquanto, não seria obrigada a decidir sobre algo que estava totalmente confusa.

- Além do mais, você não precisa riscar a dança da sua lista completamente – ele emendou com uma voz um pouco mais animada – Você dançou balé por muito tempo. Teve um problema este ano, mas isso não significa que não possa pensar em voltar. Mas, enquanto está dando este tempo, pode experimentar outros tipos de dança ou, quem sabe, explorar outras artes, como o teatro, por exemplo. Nova York tem escolas ótimas de jazz, sapateado, interpretação, música... Você poderia estudar por lá – ele sugeriu do mesmo jeito que uma criança tenta convencer um adulto a sair para brincar com ele. De modo doce e fazendo parecer que a proposta seria muito divertida.

- Nossa, pai! Como é que nunca pensei nisso? – a ideia parecia tão genial e incrível que eu não conseguia acreditar que não tinha cogitado a hipótese antes – Lembra que te falei da Pérola, a professora de dança do ventre? Então, ela me explicou que o balé pode servir de base para muitos outros tipos de dança e até para atores e atrizes... Poder estudar outros gêneros vai ser incrível – eu não estava me aguentando de tanta empolgação. Mil ideias começaram a surgir na minha mente. Talvez eu poderia até ser uma daquelas atrizes de musicais, que cantavam, dançavam e atuavam... Será que era sonhar alto demais?

- Às vezes focamos tanto no problema que não percebemos que a solução está logo abaixo do nosso nariz – ele piscou para mim – Você pode terminar o colégio e ir passar um tempo comigo em Nova York. Sua mãe e eu temos falado sobre isso e ela apoia a ideia. Na verdade, ela está se apegando a ela com todas as forças porque acredita que você tem muito talento para a dança, independente se for ou não seguir carreira no balé. Mas não conta essa parte para ela, ok? – pediu como quem conta um segredo.

- Prometo que fica entre nós – levantei a mão imitando um gesto solene.

- Era para ser surpresa, mas já que você tocou no assunto, vou te contar – seu modo de falar era o de alguém que estava aprontando algo. Aí vinha coisa – A Melissa fez essa pergunta porque temos conversado muito sobre o projeto que estamos desenvolvendo para jovens. E, como está sempre com vocês, ela já tinha notado que você e o Alê estavam com problemas em decidir uma faculdade. Por isso pensamos em propor essa temporada em Nova York para vocês.

- Peraí... vocês? Para o Alê também? – perguntei mal acreditando no que estava ouvindo.
- Isso mesmo! Para o Alê também. Nova York é uma cidade incrível, cheia de opções, seja para bailarinas, skatistas, youtubers... – dava para perceber que meu pai também estava muito empolgado com a ideia. O sorriso no seu rosto só não era maior que o meu.

- Isso vai ser incrível! Vai ser ótimo viajar com meu amigo – estava tão entusiasmada com as novidades que, por pouco, não estraguei o plano inteiro. Já estávamos quase chegando perto do lago. Eu precisava pensar rápido para desviar a rota sem chamar muita atenção.
- Falando no Alê, ele disse que estaria com a Laís no deck. Agora que já conversamos, será que podemos chamá-los para ir com a gente?

- Podemos. Mas este assunto, por enquanto, precisa ficar entre nós. A Melissa disse que estava de acordo com a ideia, mas sabe como é, né? Não podemos nos meter. Ela precisa conversar com ele primeiro – meu pai se preocupou em explicar.

- Fica tranquilo, não vou dizer nada! Agora, vem – puxei sua mão apressando o passo. Eu queria muito que ele encontrasse a surpresa logo.

Chegamos perto do lago onde havia a entrada para o salão de festas. O ambiente era amplo, com o pé direito alto, piso de madeira e grandes portas de vidro. Uma delas dava acesso direto ao deck. A segunda levava a um jardim que tinha uma ligação com uma outra rua do condomínio. O Alê usaria a segunda opção para levar dona Melissa até o nosso jantar. Eu estava só imaginando quais artimanhas ele usaria para convencer a levar a mãe até ali.

- Filha, o que está acontecendo?  Meu pai perguntou ao perceber a movimentação diferente. Na beira da água havia uma mesa para dois e, logo ao lado, um aparador com os pratos e as bebidas. O cardápio foi especialmente selecionado pela Beca: lasanha de berinjela e salada de folhas verdes e frescas. Também havia algumas frutas para a sobremesa, além de uma torta com cobertura de frutas vermelhas que parecia divina. Para beber, suco de jabuticaba para a dama e vinho para o cavalheiro. Uma playlist montada pela Laís tocava em uma caixinha de som. Em um canto, acertando os últimos detalhes, estava todo o resto do Time B, com exceção do Nando que estava incumbido de registrar o encontro dos pombinhos.

- Tenha só um pouquinho de paciência que já, já, você vai descobrir – falei.

- Enquanto isso, o senhor pode ir se sentando à mesa – Nando sugeriu enquanto fazia imagens do meu pai.

- Tudo que está aqui é para você e para nossa outra convidada especial. Por favor, espero que apreciem – Laís juntou-se a nós o conduzindo até o seu lugar.

A mesa estava muito bonita, forrada com uma toalha branca, pratos de porcelana com estampas de flores delicadas e taças. Velas, flores e fios de luz completavam o visual de forma simples, porem muito charmosa.

*** Segue uma foto pra dar uma ideia da decoração. A diferença é que eles estavam em um deck***

- Meninos... – a expressão do meu pai era uma mistura de medo com expectativa.

- Calma! Confia em mim. Você vai gostar – falei olhando pela entrada do jardim, esperando o Alê dar sinal de vida. Será que algo tinha dado errado?

- Gostaria de provar a entrada? – Rebeca interviu para distrair meu pai.

- Acho que prefiro descobrir quem será a pessoa que vai jantar comigo primeiro – ele respondeu sério. Sua expressão começava a ficar bem desconfiada e não ajudava muito a demora do Alê. Olhei o celular para checar se havia alguma mensagem dele. Nada! Dava para perceber que todos os meus amigos estavam apreensivos.

- Pessoal, acho que levei um bolo e nem sei de quem foi... – meu pai disse, levantando-se da mesa depois de 10 minutos de espera.

- Calma, pai! Só mais um pouquinho de paciência... – quase implorei enquanto rezava para o skatista aparecer logo.

Por sorte, e como se Deus estivesse atendendo as minhas preces, ouvi a voz do meu amigo e da dona Melissa se aproximando.

- Vem, vem! Por aqui. Isso... só mais alguns passos... Já estamos chegando – ele falava enquanto guiava a sua mãe que estava com uma venda nos olhos. Ai meu Deus! O que aquele garoto estava aprontando?

- Só um pouquinho mais adiante... Pronto! Agora, pare! Pegue no compasso! Brincadeira, brincadeira... Seguinte: uando eu contar até três você pode tirar a venda, ok? – ele foi dando as instruções todo convencido até que sua mãe parasse em frente à mesa onde estava meu pai.

- Alexandre, o que é tudo isso? – fui até ele e sussurrei em seu ouvido muito séria. Ao meu redor, todos encaravam a cena com cara de “mas o que diabos está acontecendo aqui?” – Era para trazer a sua mãe, não para fazer uma gincana!

- E qual seria a graça se não tivesse um pouco de dramaticidade? – ele retrucou, voltando a prestar atenção na sua mãe e me fazendo revirar os olhos – Ok, vamos lá! No três: um, dois, dois e meio... e... – fez uma pausa dramática se achando o animador de festa – três!
Ao ouvir o sinal, dona Melissa tirou a venda e, ao dar de cara com meu pai, congelou feito uma estátua. Do outro lado da mesa, a reação do “seu” Marco Sérgio foi exatamente a mesma. Era difícil saber se eles ficaram felizes com o que aprontamos.

Por um momento, tudo o que se ouvia era o som da música. Ninguém sabia o que falar ou o que fazer. Até o Nando, que estava filmando tudo, pareceu perder o foco.

- Por favor, dona Melissa, sente-se – a Laís foi a primeira a tomar uma atitude – Vou servir algo para vocês beberem. Beca, a entrada, por favor.

Ao ver a dupla sentada na mesa nos olhando de jeito questionador, Alê resolveu explicar – Vocês sempre nos incentivam a ir atrás do que queremos, a expressar o que sentimos e essas coisas todas... Por isso, tomamos coragem para mostrar o que estamos pensando de uma maneira bem... digamos, que direta. Mas, caso não tenham entendido ainda, queremos que vocês fiquem juntos porque eu e a Gabi queremos ser irmãos – ele foi direto ao ponto, explicando a situação de uma maneira bem casual, como se estivesse contando que foi comprar pão na padaria.

- E, eu no caso, quero ser a nora de vocês – Laís completou dando uma piscadinha.

- Portanto, aproveitem o jantar, a decoração, conversem, se amem, se beijem... E não precisam ficar preocupados. Todos nós vamos dormir na casa da Gabi hoje para não deixar nossa Bonequinha sozinha, já que dona Beatriz só volta amanhã. Ou seja, nossa casa estará livre hoje, tá mãe? – o skatista voltou a falar fazendo gracinha, o que ajudou a quebrar o clima na mesa.

- Acho que criamos dois monstros... – foi tudo o que dona Melissa disse o que não nos ajudava a descobrir se eles tinham gostado ou não.

A Beca entrou em ação explicando o menu, o que pareceu deixar os dois menos retraídos. Antes de sairmos, avisamos que no dia seguinte iríamos limpar e organizar o local, e que eles não precisariam esquentar a cabeça com nada.

- E aí? Vocês acham que rola? – Rebeca questionou um pouco apreensiva enquanto caminhávamos para a minha casa.

- Mas é claro que rola. Quem resiste a toda essa produção? – Alê estava um nojo de tão convencido.

- Não sei não, hein? Eu esperava uma reação mais alegre da parte dos dois. Eles ficaram meio tensos – Lala avaliou.

- Normal, né? Não é todo dia que seus filhos e os amigos deles resolvem bancar o cupido. Se você for parar para pensar, é um pouco constrangedor, né? Parece que eles estavam encalhados... – foi a vez do Nando falar.

- Será que mandamos mal? – de repente senti um mau pressentimento.

- Relaxa, bonequinha. Tudo vai dar certo. Em breve estaremos rindo disso tudo passeando por Nova York – Alê não se deixou abalar. O comentário dele me fez lembrar da conversa com meu pai antes da “Operação Cupido”. Será que nossa tentativa de aproximá-los poderia colocar tudo a perder?

- Eu espero que você esteja tão confiante assim amanhã à noite para me ajudar com o Miguel – Fernando estava ansiosíssimo para que o dia seguinte chegasse. Afinal, já fazia um tempo que ele não via o Mig.

De repente, a autoconfiança do Alê desapareceu. Tudo o que meu amigo fez foi balançar a cabeça, como se não soubesse o que dizer.

- Bom gente, não tem mais nada que possamos fazer além de esperar, não é mesmo? Então, enquanto aguardamos, quero saber de uma coisa: qual filme vamos assistir hoje? – Lala conduziu a conversa para um ponto mais neutro: a festa do pijama que havíamos programado para aquela noite. Tudo bem que o objetivo inicial da festa era comemorar o resultado positivo do jantar... Agora, ao que tudo indicava, a comemoração serviria mais como uma forma de distração até que recebêssemos alguma notícia do deck.

- De terror, é claro! Porque, se a Lala ficar com medo, vai poder pular no meu colo e ficar agarradinha comigo a noite inteira... – o skatista tentou disfarçar o momento de tensão fazendo piada.

Ao ouvir a gracinha do meu amigo, eu, Beca e Nando reviramos o olho ao mesmo tempo.
- Deus, como que uma única pessoa consegue falar tanta besteira? – nossa Hermione provocou.

- Eu treino bastante, querida. Um dia você chega no meu nível...

- Lala, pelo amor de Deus, dá um jeito nele – praticamente implorei.

- Pode deixar, Gabs. Vou mantê-lo na linha! – ela respondeu, abraçando o namorado mais forte, fingindo uma punição – Mas ó, eu topo o filme de terror. Mas nem pense em usar isso como desculpa para ficar me agarrando – ela advertiu o skatista, que pareceu bem desapontado com a notícia.

Chegamos em casa bem mais animados do que antes. Bom, quase todo mundo. Nando parecia um pouco encucado com a reação do nosso amigo. Pra falar bem a verdade, eu também tinha ficado com o pé atrás. Nota mental: conversar com o skatista e descobrir porque ele estava agindo estranho quando o assunto era Nando e Miguel.

Mas, enquanto não a oportunidade de falar com o meu “futuro irmão” não aparecia, eu e a Lala o deixamos escolhendo o filme, enquanto preparávamos os petiscos e o Fernando e a Rebeca pegavam os refrigerantes.

O filme estava na metade quando ouvimos a porta abrir, assustando todo mundo.

- Calma, meninos! Sou eu – meu pai avisou – Pelo nível do susto de vocês, devem estar assistindo filme de terror. Acertei?

- Isso mesmo, “seu” Marco. Até porque, romance é com você e a minha mãe – Alê não perdeu a oportunidade.

- Bom... não quero atrapalhar a sessão pipoca. Filha, você pode me ajudar a levar as coisas para o quarto? Ainda preciso responder alguns e-mails antes de dormir – “seu” Marco Sérgio desconversou. Não pude deixar de notar que, para quem estava chegando de um jantar romântico, sua expressão parecia um pouco séria demais.

- Hm... Claro! – disse antes de me levantar do sofá.

- Meninos, estarei no meu quarto se precisarem de mim. Antes de dormir passo para ver se está tudo certo. Comportem-se, hein? – Marco Sérgio tentou dar uma aliviada na tensão sem muito sucesso – E Alê, sua mãe pediu para ficar de olho em você – deu uma piscada para o meu amigo antes de pegar as malas – Boa noite!

Seguimos até o quarto sem falar muita coisa. Ele me perguntou a senha do wi-fi e confirmou se realmente iríamos assistir o espetáculo da minha mãe no dia seguinte.

- E aí, pai? Gostou do jantar? – arrisquei perguntar depois que o ajudei a se instalar no seu quarto.

- Estava tudo muito bom, filha. Agradeça aos seus amigos, aliás. Eles capricharam – respondeu com um meio sorriso nos lábios.

- Maaas... e aí? E a dona Melissa? – tentei descobrir algo.

- Gabriela, não posso negar que achei a atitude de vocês muito bacana. Mas, estou aqui para cuidar de você. Foi o que prometi para a sua mãe, inclusive. Não podemos perder o foco, ok? – ouvi meu pai falar antes de vir até mim e me dar um beijo na testa – Agora, volta lá para a sala que seus amigos estão te esperando. Boa noite!

E, com essa resposta que não esclarecia nada, ele se despediu e fechou a porta do quarto. Segui pelo corredor novamente sem saber o que pensar. Ele tinha gostado do jantar. Tinha gostado da iniciativa. Então, por que diabos não ficou com a dona Melissa?

- E aí, Gabs? Alguma novidade do jantar? – Nando quis saber assim que retornei à sala.

- Pela cara do seu pai a coisa não funcionou como imaginávamos... – a Beca avaliou antes de dar um gole no seu refrigerante.

- Ele disse que gostou da ideia, mas que prometeu para a minha mãe que cuidaria de mim e que não podíamos perder o foco – resumi a resposta depois que voltei ao meu lugar no sofá.

- Hmmm... Será que ele ainda está interessado na sua mãe?  -a especulação veio do Fernando.

- Gente, será que ele acha que a dona Beatriz ainda não o perdoou por ter ido embora e está tentando se redimir? – Lala embarcou na teoria do nosso amigo e foi ainda mais além.
- Olha, hoje mais cedo meu pai comentou de eu ir passar um tempo em Nova York com ele. Pode ser que ele esteja com “medo” de comprar briga com a minha mãe e acabar atrapalhando a viagem – falei, mantendo a parte sobre o Alê em segredo. Se minha teoria estivesse certa, era bem possível que não rolasse do skatista ir comigo para a “Big Apple”.
- Eu ainda não estou acreditando que tivemos todo esse trabalho para nada... – meu amigo se lamentou.

- Calma! Nem tudo está perdido, galera. Ainda tem a festa de aniversário da Gabi. Como os três estarão juntos no mesmo lugar, poderemos observar e entender melhor o que está rolando. A partir daí, definimos qual será o nosso próximo passo – a nerd do grupo fez o que fazia de melhor: colocava ordem no “barraco”, determinando o que deveríamos fazer.
- Se a Hermione está dizendo, quem eu sou para discordar? – o skatista provocou deitado no colo da sua namorada – O jeito será esperar a festa...

Concordei, a expectativa para o meu aniversário ficando cada vez mais alta. Além desta nova questão, eu ainda não sabia se o Edu viria ou não. Nós ainda estávamos conversando via Whats com quase a mesma frequência de antes. Porém, por causa de um problema no cartão da mãe, ele ainda não tinha conseguido comprar a passagem de volta e não sabia se conseguiria fazer a compra a tempo da festa. Ou seja: assim como no caso do meu pai e da dona Melissa, tudo o que me restava fazer era ter paciência e torcer para que tudo desse certo...

***
- Quem foi mesmo que convidou essa guria chata para vir com a gente? – Laís quis saber com a cara fechada.

Estávamos na frente do Teatro Municipal da nossa cidade esperando a Carol chegar para entrar e assistir a apresentação da minha mãe. Nossa missão ali era clara: ajudar na reaproximação do Nando e do Miguel. O que me lembrou que, com a chegada do meu pai tão cedo em casa, eu acabei me esquecendo de conversar com o Alê. Hoje, sem falta, precisaria tirar aquele assunto a limpo com ele.

- Já disse: ela me mandou mensagem perguntando se poderia vir com a gente. Eu não tive como dizer não... – relembrei o que já havia explicado no grupo mais cedo assim que a Carol me chamou no Whats.

- Às vezes eu queria que você não fosse tão boazinha, Gabs... – a morena respondeu ainda de cara feia.

- Relaxa, bebê. É só uma mocreia chata que não tem cemancol e acha que a gente gosta dela. Sou muito mais você – Nando tentou acalmá-la.

- Tem horas que eu queria ser que nem a Beca. Tá nem aí pra boy nenhum – Lala disse enquanto passava um braço pelo ombro da nossa amiga em uma espécie de abraço – Essa aqui é o orgulho do grupo.

Assim que terminou a frase, o Caio apareceu descendo a rua ao lado de uma mulher que parecia muito ser sua mãe fazendo com que a Reb quase sofresse um mini colapso.

- Bom, talvez ela ligue um pouco... – Nando corrigiu a informação enquanto caíamos na risada e nossa pequena nerd ficava toda vermelha de vergonha.

- Oi, pessoal – o Caio nos cumprimentou rapidamente já que a mulher ao seu lado estava bastante apressada. Eu não sabia se era impressão minha, mas ele me pareceu um pouco nervoso ao ver a Beca...

- Oiiiii Alê! – uma Carol muito animada e simpática fez com que todos voltassem o foco para o assunto anterior à aparição do Caio. Vimos nossa companheira de estudo dar um abraço bem apertado no skatista, o que não seria nada demais se ela não estivesse colocando um pouco a mais de “empolgação” no gesto e se o Alê não parecesse ligeiramente incomodado com a situação.

 “Pode me tirar tudo que eu tenho, pode falar tudo o que eu faço, mas eu só te faço um pedido...”.

Ouvi a Lala cantar enquanto a Carol cumprimentava todo o resto do grupo. A referência era tão clara que a amiga da Mari ficou sem saber como agir. Para piorar, o Nando entrou na zuera, deixando a Carol ainda mais constrangida.

- “Não encosta no meu namorado”. Adoro essa música, gente!

- Eu também amo! Ludmilla disse tudo, não é mesmo, Carol? – Lala continuou sua vingança.

É... sim, verdade! – a garota não sabia como sair daquela saia justa. Acho que se ela pudesse viraria um avestruz e colocaria a cabeça na terra só pra não ter que encarar a Laís.

Olhei para o lado para ver qual tinha sido a reação do Alê, mas ele estava sério, olhando fixamente para um garoto do outro lado da rua. Ele mal notara a troca de farpas entre as duas meninas.

- Acho melhor a gente entrar senão vamos perder o início da apresentação – Rebeca decidiu intervir a favor da Carol que só faltou dar um beijo nela para agradecer – Gabi, seu pai vai nos encontrar lá dentro, né?

- Isso mesmo! – concordei. “Seu” Marco Sérgio havia ido conosco, mas entrou antes para que pudesse visitar os bastidores.

Entramos no teatro e senti a nostalgia tomando conta de mim. Lembrei da época que estava me preparando para dar vida à Julieta, dos ensaios, das broncas da Mari por ter uma vida tão regrada, das minhas dúvidas e medos... A minha vida havia dado um giro e tanto nos últimos meses, não só no sentido figurado como também no literal: saí do papel principal para o de uma simples expectadora. Ironicamente ou não, eu nunca me sentira tão protagonista da minha própria história como agora.

***
A peça começara e, como já era esperado, o Miguel estava arrasando no palco. Não pude deixar de notar que ele e sua nova parceira ainda não estavam 100% e precisavam refinar alguns movimentos quando dançavam juntos. Porém, só as pessoas que entendiam de balé notariam este pequeno detalhe. No geral, tudo estava perfeito o que me encheu de orgulho. Eu sabia que dava trabalho montar um espetáculo de tamanha magnitude e que todo mundo se esforçara bastante para estar naquele palco.

A história foi seguindo e chegamos ao ponto alto da apresentação, no qual o Romeu e a Julieta executavam juntos uma sequência complexa de saltos e giros.

- Bichaaa! Lugar de veado é no zoológico, seu gay – ouvi uma das pessoas que estava sentada na plateia falar. Ao olhar para o lado, percebi que tratava-se do garoto que o Alê encarava antes de entrarmos no teatro. Ele não estava falando em um tom tão alto, mas, como estávamos bem na frente, era o suficiente para quem estivesse no palco ouvisse.

Mais pessoas ouviram o insulto, porque houve uma agitação entre o público, a maioria pedindo silêncio.

Assustada, olhei para o Miguel que segurava a Julieta em seus braços perto de nós. Sua expressão estava tensa, mas ele permanecia firme.

- Até que a bichinha aí é bem forte... É bom ir ficando fortinha mesma, porque da próxima vez não vamos ser tão bonzinhos.

Tudo aconteceu muito rápido. Vi o Miguel desviar o olhar para o garoto por apenas um segundo, os olhos cheio de pavor. E, então, ele se desiquilibrou e ele e sua parceira foram ao chão.

Imediatamente o Nando deu um pulo da sua cadeira e foi correndo ver se o Miguel estava bem. Eu já estava me levantando para ajudá-lo quando vi o Alê ficar em pé e ir em direção ao autor dos comentários homofóbicos.

- Quem não vai ser bonzinho agora sou eu! – ele disse com a voz cheia raiva. E, antes que eu pudesse segurá-lo, acertou um soco no rosto do garoto que tombou para o lado com o nariz ensanguentando.

Ele estava se preparando para acertá-lo novamente quando consegui impedi-lo – Alê, o que está acontecendo aqui? – gritei, tentando fazê-lo voltar a razão.

Estava claro que ele sabia de algo. Mas o que poderia ser tão grave a ponto de fazê-lo agir de maneira tão violenta?
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Notas finais: Maaaaas gente... As operações-cupido deram bem errado, né? Algum palpite do que fez o Alê agir de forma tão violenta?

E o jantar da dona Melissa e do Marco Sérgio que também deu errado?! Palpites do que está impedindo o casal-fofura de ficar junto?

Sem falar no típico mistério do carioca: será que ele vai aparecer na festa da Gabi? Mas ó, posso falar quem já garantiu presença? Sim, ele mesmo: o Léo! Quem aí está com saudade do Cabeludinho?

Preparem os corações que muita coisa vai acontecer no próximo capítulo!

Beijão e até o próximo!

(***)

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Oiieeee.... xD

Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!

Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!