segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Capítulo 39 – Que tiro foi esse? – Parte 2



No capítulo anterior...
Foi como se alguém tivesse apertado o botão pause. Todos ficaram imóveis e em silêncio sem saber como reagir à cena. A situação era tão inusitada que todos pareciam ainda estar processando a informação, como um computador com o sistema muito lento que demora para abrir um programa. Eu conseguia quase ver a mente do pessoal tentando fazer o download da informação: todo mundo brincava que Miguel e Fernando poderiam ser um casal, mas aquela situação significava que a possiblidade era real? E se fosse, significava que o Miguel estava dispensando o Fernando bem na frente de todo mundo?

Foi o carioca quem pensou rápido.

- Ainda bem que ela não quis. Sinal que ainda tenho chance - ele brincou, caminhando até perto de mim com o seu melhor sorriso de "garoto do Rio" no rosto.

- Hmmm, não sei, hein? Acho que o Miguel tem vantagem, já que os dois têm muita coisa em comum - minha mãe opinou sem fazer nenhuma questão de esconder que não tinha superado o vacilo do Edu.

- Já diria o Teatro Mágico: "os opostos se distraem, os dispostos se atraem" - ele sorriu para dona Beatriz em uma tentativa de se redimir.

- Você sabe que o cara realmente quer ficar com uma garota quando começa a declamar poesia. Prepare-se, Gabs! O próximo passo é enviar flores - Nando entrou na conversa com seu típico tom ácido. Mesmo empenhado em manter sua postura descontraída, dava para perceber na sua expressão que algo estava errado. Na certa, ele esperava outra reação do Miguel.

- Bom, enquanto vocês discutem o futuro romântico da Gabs, eu vou indo para casa começar a edição do material. Não sei vocês, mas eu "tô" ansioso para subir o vídeo para o canal e ver a reação da Realeza - Alê mudou de assunto radicalmente cortando de vez o climão. Foi como se alguém tivesse mandado a nuvenzinha negra que aparecera sobre nós embora. Até às expressões do resto do pessoal melhoraram.

A partir daí as coisas aconteceram muito rápido. Eu comecei a explicar para minha mãe quem era a Realeza e porquê estávamos gravando o clipe para dar o troco nas "inimigas", a Laís foi para a cassa do Alê junto com ele, enquanto Edu, Rebeca e Nando organizavam as perucas e figurinos. Miguel disse que tinha um trabalho para entregar e foi embora superrápido.

Sei que, quando dei por mim, a noite já estava caindo, a Beca e o Edu também já tinham ido embora e eu estava parada na porta dando tchau para o Nando, que, ao julgar pela sua cara, tinha desistido de fingir que estava bem.

- Você acha que o Miguel pegou muito mal comigo? – perguntou com a voz abatida.

- Mew, não faço ideia. Conheço o Miguel há muito tempo, mas nunca conversamos de verdade sobre esse assunto. Tudo que sei é que ele não gosta do estereótipo de que todo bailarino é gay... - fiz uma pausa pensando na melhor maneira de perguntar o que estava passando pela minha mente - Mas... você está a fim dele? - embora não tivesse nenhum preconceito, eu ainda não tinha ideia de qual era a posição do Nando sobre o assunto, por isso achei melhor ir com cautela.

Em silêncio, ele apenas balançou a cabeça confirmando minhas suspeitas. - Eu meio que sempre soube que era gay, mas nunca quis assumir. Sabe como é, né? Negando as aparências, disfarçando as evidências... - ele deu uma risada fraca tentando deixar o assunto mais leve - Mas desde que conheci o Miguel, está cada vez mais complicado disfarçar. Eu nunca tinha me interessado realmente por um cara, mas o acho incrível. Esse lance de dançar, a sensibilidade que ele tem, o jeito como sorri... - enquanto falava, sua expressão se suavizou e os olhos brilharam de um jeito que transmitia uma sensação tão boa. Algo que se aproximava da serenidade. Não resisti e abri um sorriso.

- Só que acho que ele não sente mesmo por mim - sua voz voltou ao tom triste de antes - Aliás, depois de hoje, tenho certeza.

- Calma! Não desiste ainda. Tenho a impressão que essa situação é muito mais complexa para o Miguel. Todas as vezes que fizemos alguma brincadeira que envolvia vocês dois a reação dele sempre foi mais fechada enquanto a sua era bem mais receptiva. Porém, é inegável que tem algo rolando aí. Todo mundo já percebeu. E é como diria minha mãe: onde há fumaça, há fogo. Só precisamos descobrir o jeito de fazer essa faísca virar uma chama.

- Chama, não! Fogueira, querida! Boys on fire - pela sua empolgação, eu tinha falado a coisa certa. Respirei aliviada, porque eu não queria que ele desistisse ainda. Algo me dizia que seria complicado, mas que aquele casal iria dar certo.

- Já shippo! Por favor, se casem e tenham filhos - brinquei.

- Você pode me ajudar, Gabs? Ele gosta muito de você...

- Não vale fazer cara do gatinho do Shrek! Eu não aguento assim... - fingi chamar sua atenção - Claro que ajudo, né? Mas deixa eu fazer uma pergunta: posso comentar o assunto com o Alê, a Beca e a Laís? Acho que eles também podem ajudar.

- Pode, claro! Acho que estou pronto para me assumir gay, pelo menos para vocês - seu tom era de uma pessoa decidida - Mas antes, preciso ir para casa terminar os deveres. Se vacilarmos agora que estamos quase no final do semestre a Rebeca nos estrangula!

- Nossa, ainda bem que você me lembrou! Já tinha até esquecido - coloquei a mão na cabeça - Sorte que é de História, menos sofrido para mim.

- Para mim já é justamente ao contrário. Bom, vou andando... Obrigada por me ouvir - disse antes de me dar um abraço de urso, do tipo que você quer morar nele para sempre.

- Eu te ajudo, você me ajuda e juntos somos mais fortes - falei me dando conta de que aquilo era a mais absoluta verdade.

- Me senti um Power Ranger chamando o Megazord - caímos na risada juntos e foi com esse clima gostoso de amizade que nos despedimos com mais um abraço-casa.

Assim que o Nando foi embora, subi correndo para tomar banho. Eu estava louca para ir ver o Alê e atualizá-lo das novidades, além de estar muito curiosa para conseguir ver alguma coisa do clipe. Porém, mesmo com pressa, lembrei de pegar minha mochila. No meio de todas as novidades, ainda teríamos que arrumar tempo para fazer a lição de casa.

- Mãe, tô indo na casa do Alê, tá? - passei pelo quarto da dona Beatriz antes de sair.

- Vão trabalhar no vídeo de hoje, né? Parece que vai ficar muito legal. Você é o Miguel deveriam mesmo pensar em gravar mais vídeos com coreografias. São ótimos nisso! Como eu disse antes, eu e os professores da escola podemos ajudar - ela parecia tão animada com a ideia que até me senti tentada a tirar o projeto do papel.

- Vou falar com o Miguel. Se ele topar, podemos pedir para o Alê dar uma força. Agora vou indo, tá? Ainda tem lição de casa para fazer - falei já me virando para sair.

- Gabi, mais uma coisa... - ouvi dona Beatriz me chamar de volta - Cuidado com esse Edu. Sei que ele é um rapaz bonito é que já rolou muita coisa entre vocês, mas vai com calma! Acho que nunca te vi tão bem, com amigos bacanas, se dedicando à escola, até com seu pai está falando... Talvez não valha a pena colocar tudo a perder - ela veio até mim e me deu um beijo carinhoso na testa, antes de me presentear com um dos seus raros sorrisos.

- Pode ficar tranquila, mãe. Não está rolando nada entre eu e o Edu.

- Mas, se depender dele, essa situação não vai durar muito tempo, né? - ela levantou as sobrancelhas em tom de alerta.

Franzi a testa por um instante, em parte assustada com sua sinceridade e em parte considerando o quanto aquela afirmação soava verdadeira - Ficarei de olhos abertos - prometi - Agora vou indo! Até mais tarde!

Desci as escadas pensando no que minha mãe me disse. Como se estivesse só esperando a deixa, meu celular apitou. Dei uma olhada rápida na tela e ri sozinha da coincidência. Era uma mensagem do Edu.

"E aí? Que tal foi a minha performance? Estou aprovado, bailarina?"

"Arrasou na coreografia hoje. Principalmente na parte do quadradinho. Se eu fosse um garoto, não resistiria a tanto charme”.

Eu sabia que estava brincando com fogo, mas aquele era o grande lance do Edu. Era como um ímã, o poder que ele tinha para me atrair era mais forte que a força que eu tinha para resistir.

“E quem disse que você precisa ser um garoto? Não aprendeu nada com o climão de hoje? O amor não precisa ter gênero...”.

“Uau! Que bonito isso! Alguém está inspirado hoje”.

“É preciso estar muito inspirado para se vestir de mulher e fazer o quadradinho, ciente que alguém está filmando tudo e vai divulgar na sua antiga escola onde minha fama, diga-se de passagem, não é lá muito boa. Aliás, preciso me lembrar de agradecer a Marília, por isso”.

Parei, olhando para a mensagem. Aquela resposta me incomodou. Ok, a Marília não era exatamente a cópia da Madre Tereza de Calcutá, mas ela não teria feito nem metade do barulho que fez se ele não tivesse fugido... ou se eu não fosse tão frágil. Quanto mais eu pensava no assunto, mais eu entendia aquele lance de ação e reação.

- Ei, Gabi! O que está fazendo parada aí, mocinha?

A voz da dona Melissa me trouxe de volta à realidade. Eu nem tinha me dado conta, mas estava paralisada na frente da casa do meu amigo parecendo uma estátua olhando para o celular.

-Dona Melissa... oi! Ééé... eu vim falar com o Alê - fui voltando aos poucos à realidade, saindo da bolha “Edu, Mari e todo o drama de pessoas que deveriam fazer uma coisa, mas acabam fazendo outra”.

- E está fazendo tanta cerimônia aí na porta por que, menina? Entra, entra... – ela mexeu as mãos, pedindo que eu passasse.

- Desculpe! Acabei me distraindo com a mensagem – apontei para o celular para explicar melhor enquanto passava pela porta.

- Hmmm... E de quem é essa mensagem, hein? – perguntou em tom curioso enquanto fechava a porta.

- Era do Edu. Estávamos falando sobre a gravação de hoje – esclareci, um pouco sem graça.

- Ahh... que bom que vocês estão se dando bem – senti sua voz vacilar um pouco, como se não tivesse certeza se aquilo era realmente algo bom.

- Eu não diria que estamos nos dando bem, mas... estamos nos falando. Acho que já é alguma coisa...

- Na verdade, já é muita coisa. Fico feliz que estejam tentando resolver as questões do passado. É importante para que possam seguir em frente.

Encarei dona Melissa tentando entender o que ela estava querendo dizer.

- Acho interessante a forma como vocês dois estão aprendendo e evoluindo com tudo o que aconteceu e é mais interessante ainda que estejam fazendo isso juntos. Mas... – ela fez uma pausa balançando a cabeça – não vou ficar te enchendo com os meus devaneios. O Alê está no quarto com a Laís. Os dois estão concentradíssimos na edição do vídeo.

- E eu estou curiosa para saber como está ficando – falei já caminhando em direção ao corredor – Até já dona Melissa.

- Opa! Chegou o reforço que precisávamos – meu amigo exclamou assim que me viu.

- Cheguei e, como diria Ludmilla, cheguei chegando – brinquei, tirando a mochila das costas e me sentando na cama – Tenho novidades.

- Pois nos conte, garota – Laís pediu enquanto parava de mexer no celular e deixava o aparelho de lado. Tudo indicava que estava checando seus stories no Instagram.

- Depois que todo mundo foi embora, o Nando veio falar comigo. E, adivinhem: ele está afim do Miguel.

- Tá! Agora me fala a novidade... – meu amigo debochou. De fato, todo o grupo desconfiava que estava rolando algo entre eles.

- Acho que novidade mesmo é o Miguel fugir do Nando, né? Que bafo foi aquele no final da gravação? – a Laís falou o que estava se passando na cabeça de todo mundo.

- Na verdade, acho que essa é a grande novidade que a Gabs queria falar. Porque eu não sei vocês, mas eu já via os dois com filhos e um cachorro – Alê chegou ao ponto X da questão com seu bom humor típico.

- É... eu também – Lais disse – Mas tem algo muito estranho nessa história. Porque eles estavam se dando bem. Aí, de repente, pá! Tudo vai embora...

- Acho que o Miguel está com medo. Pensem: não deve ser fácil assumir um relacionamento homossexual. Se nós, héteros, na hora de falar que estamos afim de alguém já sofremos, pensa eles que ainda precisam lidar com o julgamento das pessoas – ponderei, usando a minha situação como exemplo. O Edu andava se esforçando para me agradar e eu não podia negar que aquilo mexia comigo. Porém, de nenhuma maneira daria o braço a torcer e deixaria isso transparecer. Primeiro por medo de me machucar e, segundo, porque temia justamente a opinião dos outros. O que eu teria que ouvir se desse uma segunda chance para o garoto que virou a minha vida pelo avesso?

Os dois ficaram em silêncio, refletindo. Depois de um minuto, Alê foi o primeiro a se pronunciar.

- Bom, nesse caso, temos que ajudá-lo a perder esse medo.

- Acho que aquele projeto de fotografia que o Nando sugeriu é uma boa ideia. Com certeza vai aproximá-los – Laís sugeriu.

- Tem toda razão. Difícil vai ser fazer o Miguel aceitar, né? – comentei passando a mão no cabelo, ponderando a situação. Poxa! Por que gostar de alguém tinha que ser tão complicado?

- Aí que você se engana, minha cara. Todos nós já fizemos coisas desafiantes nesse grupo. Você já gravou o clipe de Shake it off, eu já fiz uma serenata para reconquistar a minha morena aqui – ele lançou um olhar carinhoso em direção a Laís que retribuiu com um sorriso – e até a nossa Hermione já foi extremamente corajosa ao beijar o Caio – o skatista se esforçou para segurar o riso -  Tudo o que precisamos é encontrar a maneira certa de encorajá-lo.

- Sabe o que eu acho? – Laís falou com um tom de voz de mais sério, chamando a atenção para si.

- Que a minha ideia é brilhante e que tem uma tremenda sorte de ter um namorado como eu? – Alê fez gracinha.

- Não, seu bobo! – ela desmentiu enquanto todos nós ríamos – Acho que, ao invés de ficarmos aqui especulando sobre o que o Miguel está sentindo, o que realmente deveríamos fazer é perguntar o que ele acha sobre tudo isso.

- É por isso que eu amo essa mulher! – meu amigo lançou um beijo em direção à namorada – Gabriela, essa é uma missão para você. Confio no seu potencial, “maruja”.

- Sim senhor, capitão. Entrarei em ação imediatamente – falei enquanto pegava meu celular para mandar mensagem para meu ex-parceiro de dança.

“Hey, Mig! Está tudo bem? Você saiu correndo hoje lá de casa. Minha mãe e eu estranhamos...”.

Por sorte, Miguel era do meu tipo predileto de pessoa: a que responde rápido no WhatsApp.

“Está tudo bem, Gabs. Só estou atolado de lição de casa para fazer. Final de semestre, você sabe como é, né?”

“Nem me fale! Sorte que tenho a Rebeca para me ajudar, senão estaria encrencada com a maioria das matérias. Mas você não me engana! Sei que não era só isso. Ficou um climinha meio estranho no final da gravação. Você não gostou da brincadeira do Nando?” – achei melhor ir direto ao assunto. O Miguel não era muito do tipo que falava sobre os seus sentimentos. Ficar dando voltas antes de tratar sobre o que realmente interessava poderia fazê-lo perceber que gostaria de tratar de um assunto sério, o que o deixaria na defensiva.

“Para falar bem a verdade, eu não curti, Gabs. Já é meio chato aguentar os comentários das pessoas porque eu danço balé. Não ajuda em nada ele fazer brincadeiras desse tipo.”

“Ah, mas o Nando não fez por mal. Você sabe que ele é brincalhão assim mesmo...” – tentei amenizar a situação.

“Não, Gabs, você não entende... Brincadeira ou não, muito chato as pessoas ficarem te definindo o tempo todo”.

“Se tem uma pessoa que entende bem disso, essa pessoa sou eu. Acredite!” – escrevi, enquanto uma sensação estranha percorria o meu corpo. Sentir-se como se fosse um alvo era uma experiência atormentadora. “E você sabe que o que realmente importa é o que você é. E o resto a gente deixa pra lá... Shake it off, lembra?”

Mas não é isso o que eu sou, Gabs.”

            - Eitaa! Acho que a situação é mais complicada do que imaginávamos – falei, chamando a atenção dos dois que editavam o vídeo. Ao ver o olhar de questionamento deles resumi a conversa.

            - Bom, temos duas opções: ou ele está em estado de negação ou... o Nando não faz o tipo dele – Alê ponderou.

            - Mas se ele estiver em negação, como vamos fazê-lo confessar? – Laís questionou enquanto se ajeitava melhor na cama usando o travesseiro do namorado. Era incrível como ela parecia tão à vontade ali. Era como se sempre tivesse pertencido àquele lugar.

            - Tem uma terceira opção: ele pode estar em dúvida. E, nesse caso, tudo o que precisamos fazer é aproximá-los ainda mais – abri um sorriso malicioso.

            - E para isso só precisamos colocar em prática a ideia da dona Cecília em prática – Alê pareceu ler meus pensamentos.

            - O que vou fazer imediatamente – sorri, pegando o celular e digitando.

            “Hmm... Espero que essa negação não seja a respeito da dança, porque eu estou empolgada com que minha mãe sugeriu hoje e gostaria muito que você participasse.”

            “Gabs, eu gostei muito da ideia da dona Beatriz, mas ando um pouco confuso com esse lance também. Querendo ou não, é o fato de eu dançar que faz com que as pessoas pensem que sou gay”.

             “Você está há muito tempo na companhia da minha mãe fazendo espetáculos. Mudar de cenário vai te ajudar a clarear as ideias e tomar uma decisão” – respondi, tentando acalmá-lo, já que ele parecia um pouco confuso.

            “Talvez você tenha razão. Mas precisamos ver com calma. Lembra que teremos turnê do espetáculo agora no meio do ano?” – respondeu, referindo-se às apresentações que a companhia da minha mãe faria durante as férias de julho.

            A noite acabou rendendo muito mais do que esperávamos. Fiz meu dever de casa e combinei com o Miguel quais músicas escolheríamos para coreografar. Ele tinha ficado de arrumar um tempo na agenda para que pudéssemos gravar juntos. A resposta já me deixou bem feliz. Seria melhor fazer essa aproximação dele e do Nando ir devagar. Assim, ele não se assustaria.

Enquanto isso, Alê e Laís trabalhavam no vídeo (o skatista iria copiar a lição de mim depois, na maior cara de pau). Quando estávamos no final da noite, eles já estavam quase finalizando o clipe.

            - Nossa! Que meninos compenetrados! – dona Melissa entrou no quarto com uma bandeja nas mãos – Trouxe um lanchinho para ajudar a clarear as ideias e para compartilhar uma novidade.

            - Se essa não for a sogra que pedi pra Deus, não sei mais qual é... – Laís brincou.

            - Se a novidade for tão boa quanto o cheiro desse bolo, então deve ser algo maravilhoso – brinquei dando uma espiada na bandeja. Os pratos de dona Melissa eram de comer rezando.

            - Bolo de banana com canela sem glúten e sem lactose. Aceita? – ela nos serviu com todo o cuidado de mãe. O bolo ainda estava morno, o que o deixava ainda mais delicioso.

            - Mãe, fala logo essa novidade! – Alê pediu com a boca cheia.

            - Lembram que falei que estava trabalhando em um projeto para jovens? Então, o pai da Gabi se interessou na ideia e quer ser meu sócio. Em breve ele estará no Brasil por causa do aniversário de uma certa pessoinha – ela sorriu para mim de forma carinhosa – e vamos aproveitar para formalizar a sociedade.

            Automaticamente, eu e o Alê trocamos olhares e sorrimos um para o outro. Nossos planos estavam se concretizando e nem precisamos nos esforçar para isso.

            - Conheço esse sorrisinho. Vocês estão aprontando alguma coisa... – dona Melissa nos provocou.

            - Claro que estamos, mãe. O vídeo que gravamos hoje. Não te contamos? – o skatista desconversou.

            - Calma, sogrinha! Na verdade, eles estavam planejando a festa da Gabs. Aí você comentou que o “seu” Marco Sérgio vem, já se empolgaram mais ainda – Laís tentou disfarçar enquanto deixava seu prato vazio na mesa do computador.

            - Hm... sei, sei... – ela se fez de convencida – Mas enfim, o Marco acha que eu não devo parar de focar no atendimento às mulheres agora. Por isso, ele vai tocar este projeto dos jovens enquanto me ajuda a aprimorar o meu trabalho com o público feminino.

            O sorriso no rosto da dona Melissa era contagiante. Ele se sentou ao lado da Laís na cama e ficamos conversando sobre os projetos, enquanto o Alê trabalhava freneticamente na edição do vídeo com a ajuda remota do Nando. Os dois tinham instalado um programa chamado Team Viewer e, por isso, um conseguia acessar o computador do outro.

            Já era quase meia-noite quando eles terminaram e liberaram o vídeo no canal. Por conta do horário, a Laís já tinha chamado um Uber para ir pra casa e a dona Melissa também dera boa-noite para nós porque ia levantar cedo no dia seguinte.

            - Como diria o querido Chorão, há dias de lutas e dias de glória. Hoje, sem dúvida, estamos vivendo um tempo de glória: vídeo de revanche contra a realeza pronto, minha mãe e seu pai se acertando e, querendo ou não, achamos um caminho para solucionar a questão do Miguel e do Nando – ouvi meu amigo comemorar colocando as mãos atrás da cabeça e os pés sobre a mesa do computador.

            - Será que esses dois vão ficar juntos? – especulei.

            - Minha mãe e o seu pai? Certeza!

             - Eu me referia ao Nando e o Miguel – revirei os olhos.

            - Aí eu não sei... Acho que só vamos descobrir ao longo dessas gravações – seu olhar ficou taciturno.

            - Não senti confiança nesse seu comentário...

            - É que, depois que o Miguel falou hoje, estou achando que esse casal não vai rolar.

            Levantei a sobrancelha em tom questionador.

            - Não sei, Gabriela. É só o que eu acho... E sabe o que eu acho também? Que está na hora da gente dormir! Amanhã será um grande dia e quero estar bem para apreciá-lo com tudo o que tenho direito.

            - Eitaaa! Está me expulsando mesmo? – me fingi de ofendida.

            - Jamais! Até porque você já é quase da família, né? – pelo seu tom, ele estava querendo me provocar em relação ao Edu.

            - Se o nosso plano de juntarmos nossos pais der certo, serei mesmo... – dei uma piscada, mostrando que não tinha caído na sua armadilha – Mas, da família ou não, eu vou para casa. Estou deixando meu caderno. Vê se não esquece amanhã, hein? – disse antes de pegar minhas coisas e me despedir dele com um beijo.

            Eu não tinha percebido o quanto estava cansada até chegar em casa. Foi só o tempo de vestir o pijama e deitar na cama para pegar no sono. Acordei no dia seguinte com minha mãe me chamando na porta.

            - Vai se atrasar, garota! Levanta!

            Dei um pulo, me vesti voando e fui me encontrar com o Alê para ir para a escola. Nunca estive com tanta pressa para chegar ao colégio.

            Logo na entrada já dava para perceber que algumas pessoas estavam comentando sobre o clipe. Eu e meu amigo trocamos olhares, felizes. Porém, quando sentamos para comer na hora do intervalo, o assunto havia se espalhado pelos corredores como fumaça. Muitos alunos vieram comentar com a gente sobre o vídeo e dava para perceber que a Realeza estava bem incomodada com a repercussão.

            - Objetivo atingido com sucesso, pessoal – Rebeca levantou seu copo de suco, propondo um brinde. Nosso grupo não poderia estar mais radiante.

            Assistir as aulas que vieram na sequência foi até um pouquinho complicado. Como eu postara o vídeo no Facebook pela manhã, não parava de chegar notificações de pessoas deixando comentários. Acabei desligando o celular, até porque a última aula seria de Matemática, matéria que pedia toda a minha atenção.

            - Liberdade! Graças a Deus – ouvi o Nando dizer assim que o sinal bateu. Ele odiava Matemática tanto quanto eu.

            - Não fique feliz ainda. Ainda temos grupo de estudos, lembra? – Rebeca cortou seu barato.

            Vi o Nando torcer o nariz para ela enquanto eu arrumava as minhas coisas. Pelo canto do olho, vi uma agitação perto da mesa da Carol e Natália, mas não prestei muita atenção.

            - Pessoal, vou correndo no banheiro e encontro vocês na biblioteca, ok? – avisei, já pegando minha mochila e saindo.

            - Beleza, bonequinha. Eu vou ver se a Carol vai participar com a gente...  – o Alê deu de ombros, tentando se justificar. Desde o ocorrido na festa, ela andava faltando aos nossos encontros.

            Ouvi a Rebeca comentar algo sobre o assunto, mas estava apertada demais para prestar atenção. Desci as escadas o mais rápido que pude e só parei ao sentir o alívio de quem consegue chegar a tempo para fazer xixi.

            Estava me preparando para abrir a porta do box onde estava quando ouvi alguém entrar no banheiro chorando muito alto. Preocupada, saí para ver do que se tratava e dei de cara com a Marília.

            - Está feliz com o que você fez, Gabriela?
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Notas finais: It’s timeeee!
Senhoras e senhores, já podem fazer sua apostas! Quem vence esse confronto: Marília ou Gabi?
E o casal Nando e Miguel? Sai ou não sai?

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Oiieeee.... xD

Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!

Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!