Notas iniciais: olha, vou
contar uma coisa... deu trabalho escrever essa briga, viu?
Mas
acho que aqui vale uma reflexão interessante: estariam Gabi e Mari invertendo
os papéis? Se sim, isso faz da Gabi uma vilãzinha também?
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No capítulo anterior...
- Pessoal, vou correndo no banheiro
e encontro vocês na biblioteca, ok? – avisei, já pegando minha mochila e
saindo.
- Beleza, bonequinha. Eu vou ver se
a Carol vai participar com a gente... –
o Alê deu de ombros, tentando se justificar. Desde o ocorrido na festa, ela
andava faltando aos nossos encontros.
Ouvi a Rebeca
comentar algo sobre o assunto, mas estava apertada demais para prestar atenção.
Desci as escadas o mais rápido que pude e só parei ao sentir o alívio de quem
consegue chegar a tempo para fazer xixi.
Estava me preparando para abrir a porta do box onde
estava quando ouvi alguém entrar no banheiro chorando muito alto. Preocupada,
saí para ver do que se tratava e dei de cara com a Marília.
- Está feliz com o que você fez, Gabriela?
A acusação chegou até a
mim como um tapa na cara. Demorei para conseguir organizar os meus pensamentos
e entender a situação. A Mari estava me acusando de fazê-la chorar? Era isso
mesmo?
- Não adianta ficar aí fazendo essa cara de santinha. Estou indo na
diretoria agora reclamar desse vídeo ridículo que vocês fizeram – sua voz
estava cheia de agressividade – Eu não consigo nem andar pela escola sem ficar
ouvindo alguma piadinha. Está todo mundo rindo de mim porque você e os seus
amiguinhos resolveram criar uma imagem minha que não é verdadeira.
Ao ouvir isso o meu sangue ferveu – Ah, então você está bravinha porque o
vídeo faz uma pequena referência a você?! Está chorando desse jeito porque o pessoal
está fazendo piadinha pelos corredores? Agora imagina o que você fez comigo!
Todo mundo me olhava e torcia o nariz, me ofenderam, eu ouvi coisas horríveis,
eu fiz coisas péssimas comigo mesma... EU PERDI O CARA QUE EU GOSTAVA POR SUA
CAUSA! – foi inevitável. Quando percebi, estava gritando a plenos pulmões,
colocando para fora a raiva que senti por todo aquele tempo. De onde eu estava,
conseguia ver um espelho que refletia a minha imagem e a da loira. O que estava
refletido ali me assustou: éramos duas completas estranhas. Como era possível
que pudéssemos ter sido amigas por tanto tempo e agora eu mal reconhecê-la?
- Minha culpa? Quem saiu se oferecendo para o Eduardo não fui eu,
queridinha! Pelo contrário! Eu tentei te avisar que não ia dar certo – disse
com ar de desdém.
- Você tentou coisa nenhuma. A única coisa que sempre quis foi continuar
sendo a queridinha por todos, por isso que ficou tão enciumada quando ele não
quis saber de você... O que mais te incomoda é, lá no fundo, saber que eu nunca
precisei correr atrás dele como você adora ficar espalhando por aí.
- Pode até não ter corrido atrás, mas sempre ficou se fazendo de
coitadinha, falando que tinha que ensaiar, que não podia comer, que não podia
ir... – afinou a voz para dar um ar infantil e frágil às afirmações – Se toca,
Gabriela! Chega uma hora que as pessoas se cansam dessa sua vida de bonequinha.
E é claro que todo mundo ia ficar falando, né? Não tenho culpa se você surtou,
fugiu do colégio e se afastou do nosso grupo. Aliás, deve ser por isso que está
criando toda essa confusão. Pra chamar a atenção, porque é isso que você faz
para as pessoas ficarem te paparicando... – enquanto falava, ela secava as
lágrimas, os olhos vermelhos e inchados. Eu duvidada que aquele choro era de
tristeza. Para mim, era de raiva. Afinal, ela estava provando do próprio
veneno.
Fiz uma pausa, respirando fundo para organizar os pensamentos. Eu estava
diante de uma mestra em tirar as pessoas do sério. Não poderia permitir que ela
ganhasse mais essa - É verdade, Marília! Eu era uma bonequinha mesmo e assumia
a posição de frágil quando permitia que todo mundo desse opinião na minha vida
e decidisse por mim o que eu deveria ou não fazer. Mas você ajudou a mudar isso
quando me mostrou que nem todos que estavam a minha volta realmente se
importavam se eu estava bem. O que elas queriam eram continuar vivendo a
vidinha perfeita que levavam, independente do preço. Então, não! Eu nunca quis
chamar a atenção. Isso quem faz é você! Eu me omitia, justamente porque não
queria atenção, eu não queria era ter que me posicionar. Mas, ó, na real, eu
preciso é te agradecer por ter sido essa pessoa tão egocêntrica e egoísta,
porque só assim eu entendi que eu poderia ser muito maior que esse seu mundinho
de aparência – enquanto eu falava, fui caminhando pelo banheiro até encostar no
espelho. O movimento me ajudou a clarear melhor as ideias e, quando dei por
mim, tinha encontrado todas as respostas que vinha procurando durante os
últimos meses. A sensação era a de limpar uma vidraça e conseguir enxergar o
que havia além – Agora, me fala Marília: quando foi a última vez que você se
permitiu ser você mesma? Sem precisar ficar se preocupando com o que os outros
vão pensar?
A pergunta pareceu pegá-la de jeito. Ela me respondeu com seus olhos azuis
frios e céticos cravados em mim – E dá para ser quem somos de verdade,
Gabriela? O preço que se paga por isso não é alto demais? – perguntou com a voz baixa. Na sequência,
passou as mãos pelo cabelo e arrumou a postura, como se precisasse esconder aquele
momento de fraqueza – O que eu sei é que você precisa parar de me culpar por
tudo ter dado errado. Não posso fazer nada se você não tem o meu carisma, se eu
não preciso ficar me fazendo de pobre coitada ou jogando baixo com as outras
pessoas para conseguir o que quero – seu tom provocador retornou. Era engraçado
como algumas pessoas precisavam atacar para se defender. Quanto mais acuada ela
ficava, mais ela se agarrava aos seus argumentos tentando provar que estava com
a razão. O problema dessas pessoas é que, na maioria das vezes, a estratégia
delas funcionava. Quase ninguém tinha coragem de puxar a cortina e descobrir o
que acontecia nos bastidores.
- O nome disso não é carisma. É medo disfarçado de sarcasmo, prepotência
e autoritarismo que fazem as pessoas temerem ir contra você. Não te culpo pelo
aconteceu comigo. Já falei: eu te agradeço, porque só assim fui capaz de ver a
farsa que estava vivendo. Você e toda a Realeza que te cerca são uma farsa,
Marília. Tão frágeis quanto um castelo de areia. Por isso se apegam tanto às
aparências, porque sabem que por dentro não tem nada que se salve – despejei as
palavras todas de uma vez me esquecendo de todo e qualquer tipo de filtro. Por
mais que eu não quisesse descer ao nível dela, não conseguia controlar a raiva
e a mágoa que estava sentindo.
- Gabi, chega! Vem! Vamos embora! – alguém colocou as duas mãos nos meus
ombros e me empurrou para a saída. Eu nem tinha percebido, mas estava tremendo
e gritando enquanto várias meninas assistiam a tudo fazendo comentários ou até
filmando.
- Vou te falar uma coisa, viu bonequinha! Meu sonho sempre foi entrar no
banheiro das meninas, mas não nessas circunstâncias – o Alê tentou apaziguar os
ânimos fazendo uma piada enquanto me colocava sentada na escada.
Rebeca me encarava com a expressão tensa enquanto Nando parecia estar se
divertindo horrores com a situação. - Quero deixar claro que fui contra o Alê
entrar para te tirar de lá. Eu queria mesmo era ter visto a treta – meu amigo
disse, cheio de empolgação.
- Falando nisso, como vocês perceberam o que estava acontecendo? – aos
poucos, fui me acalmando e absorvendo tudo o que estava acontecendo ao meu
redor.
- Lembra que eu ia avisar a Carol do nosso grupo de estudos? – Alê
começou a explicar – Pois bem, ela disse que iria participar, mas, antes,
precisava passar no banheiro. Eis que esperamos todos terminarem de pegar suas
coisas e descemos juntos. Assim, já nos encontraríamos aqui na porta do toalete
– ele falou a última palavra com uma entonação diferente só para fazer graça –
Aí a Carol entrou e voltou poucos segundos depois com os olhos arregalados e
dizendo que você estava brigando com a Marília.
- Você precisava ver, Gabs! Alê nem pensou duas vezes: saiu correndo para
ir te socorrer – Nando contou, o que me fez sorrir para o skatista.
- E a Carol saiu correndo atrás do Alê que nem uma boba – Rebeca soltou
em tom ácido – Aquela ali não se toca!
- E cadê ela? – perguntei.
- Deve ter ficado com a abelha-rainha, né? Ela ia ser boba de abandonar a
líder da realeza justo nessa hora? – foi a vez do Fernando comentar em tom
venenoso – Mas o que importa mesmo é: como que essa briga começou?
- Quando estava saindo do banheiro dei de cara com a Marília chorando.
Quando me viu, ela reclamou do vídeo que fizemos. Disse que todos na escola
estão rindo da cara dela... – contei enquanto sentia a raiva voltar a tomar
conta de mim. Lembrar das acusações da loira me deixava indignada.
- Oi? Ela está bravinha porque fizemos um vídeo que faz uma referência a
ela? E espalhar boatos pela escola e acabar com a vida das pessoas pode? –
Fernando parecia tão bravo quanto eu.
- Essas meninas da Realeza são tão inúteis – Rebeca engrossou o coro dos
revoltados.
- Gabi, você está bem?
Só percebi a Carol se aproximando quando ela já estava, praticamente, ao
lado do Alê. Ao se dar conta da sua presença, a Rebeca revirou os olhos e fez
uma careta, confirmando sua falta de paciência com a amiga da Marília. Tive que
me segurar para não rir da sua reação.
- ... falei para ela não fazer isso, mas sabe como a Mari é, né?
- Oi? Desculpa, não entendi... – disfarcei para que ninguém notasse que a
Carol estava falando comigo e eu não estava nem ouvindo. Porém, a Rebeca foi
mais rápida e pegou a minha gafe. Segurando o riso, fez um gesto com as mãos
como se quisesse dizer “nem liga. Ela é nem é importante mesmo...”.
- Falei que tentei fazer a Marília não ir reclamar de você na diretoria,
mas não adiantou. Ela convenceu as outras meninas a irem com ela – Carol
explicou pacientemente.
- E você não foi junto? – Fernando não conseguiu esconder sua surpresa.
- Não. Dessa vez eu vou fazer o que acho certo. Vou ficar do lado da
Gabi, o que deveria ter feito quando rolou o lance com o Edu – ela disse com a
cabeça baixa, sem coragem de olhar para nós.
Por um instante, todos ficaram sem saber o que falar. Vi a Beca e o Nando
trocarem um olhar, enquanto o Alê mexia no boné, o que sempre fazia quando
estava sem graça.
- Obrigada, Carol – sorri para ela de modo carinhoso – Bom, “bora”
estudar, né gente? É o que tem pra hoje – tentei mandar o “climão” embora e
fingir costume com a situação.
- É... com briga ou sem briga, temos provas na semana que vem – Rebeca
recuperou seu típico ar de nerd.
-Ahh, agora sim! Essa é a Hermione que eu conheço. Já estava te
estranhando, Beca. Como assim você está se envolvendo em assuntos mundanos e
deixando os estudos de lado? Não pode isso! – Alê não perdeu a chance de
cutucar nossa colega.
A partir daí a conversa seguiu um rumo mais confortável para todos.
Rebeca falando dos resumos do dia, Alê fazendo suas provocações, Nando
disparando comentários ácidos, Carol se esforçando para parecer que fazia parte
do time e eu... bem, eu fingia estar acompanhando tudo, mas, na verdade, não
conseguia parar de pensar nas acusações da Marília. Se ela estivesse certa,
isso indicava que tínhamos trocado de lugar. Que eu tinha me transformado na
Realeza, que agia sem dar a mínima para o que os outros sentiam. Será que eu
era mesmo esse monstro que ela estava dizendo? E será mesmo que ela era essa
vilã que eu tinha criado na minha mente?
Eu não sabia quais eram as respostas para essas perguntas, mas poderia
garantir uma coisa: a funcionária da secretaria que tinha acabado de entrar na
biblioteca não estava ali por acaso. Quando a vi mexendo a cabeça de um lado
para o outro procurando por alguém, levantei da cadeira, surpreendendo meus
amigos de estudo.
- Ah, Gabriela! Era você mesmo que eu estava procurando. Por favor,
preciso que me acompanhe até a diretoria – ela disse enquanto caminhava até a
nossa mesa.
- Ok. Já estou indo...
Era como se eu estivesse no piloto-automático. Calmamente, peguei meus
livros e cadernos e coloquei na mochila. Depois, segui a funcionária do colégio
até a diretoria, onde a Marília e a dona Cecília estavam me esperando.
- Gabriela, boa tarde! Gostaria de conversar sobre o vídeo que você e
seus amigos gravaram e também sobre a discussão que aconteceu hoje no banheiro
- seu tom era ditatorial e seu olhar frio e julgador - Você sabe que nesta
escola não permitimos bullying. Sendo assim, por que você incitou os seus
amigos para gravarem esse tipo de material?
- Eu já falei. Ela queria se vingar porque acha que o Edu não ficou com
ela por minha culpa. Mas eu a avisei desde o início que ele não era esse tipo
de garoto – Mari disparou.
Naquele momento consegui visualizar como as mulheres acusadas de bruxaria
se sentiram durante o período da inquisição. Eu estava sendo queimada na
fogueira por causa de uma acusação completamente distorcida.
- Gabriela, não vejo outra solução senão aplicar as medidas cabíveis
nesse caso: suspensão por três dias. Também vou chamar sua mãe aqui para que
ela fique ciente desse seu comportamento.
Pensei na minha mãe e no apoio que ela estava me dando nos últimos dias.
Lembrei também do meu pai e na sua célebre frase “surfe com a onda”. Se ela
estava me enxergando como uma pessoa transgressora, então era isso que eu
seria.
- Pode chamar. Mas chama a mãe da Marília também, porque há alguns meses
ela fez algo semelhante comigo e ninguém da escola se posicionou. O que me
parece algo bem estranho, já que o colégio não admite a prática de bullying –
encerrei a frase levantando a sobrancelha e com um tom bem desafiador. O Alê,
se estivesse vendo a cena, diria que eu estava no modo “vilã afrontosa” do jogo
do Engana Trouxa – Além disso, quem disse que fui eu quem incitou os meus
amigos? Nós fizemos o vídeo juntos, porque é assim que amigos de verdade fazem
as coisas. Não temos um “líder” que dita como devemos ser e pensar... –
finalizei dando uma alfinetada na Mari.
Por um momento as duas me olharam completamente sem reação. Na certa elas
não esperavam uma resposta tão ácida da minha parte. Olhei fixamente para a
diretora sentada na minha frente e depois para a Marília que estava ao meu
lado. Mantive a expressão séria, mesmo que por dentro eu estivesse dando pulos
de alegria por ter conseguido desarmá-las tão rapidamente.
- Bom, sugiro que os pais de todos os envolvidos sejam chamados para
conversar sobre o tema – o tom ditatorial havia passado, mas ainda havia uma
firmeza ao falar que parecia um pouco exagerado, como alguém que precisa se
impor - Por enquanto, a suspensão de três dias será mantida para você e todos
os envolvidos no filme que estudam no colégio, é claro. Vou pedir para
chamá-los aqui para conversarmos. Marília, você está dispensada. Agradeço muito
a sua coragem de vir me contar sobre o vídeo e a discussão. Foi muito
importante para o colégio – a última frase foi dita com uma voz suave, que
beirava o tom maternal e seguida por um sorriso de compreensão que quase me fez
revirar os olhos.Era sério mesmo que a Marília ia sair como santa da história?
Tentei pensar em algum argumento
rápido para fazê-la ficar, mas quando a loira atravessou a sala e colocou a mão
na maçaneta, dei a batalha por perdida. Eu não conseguiria fazê-la ficar. Bem
nesse momento um Alê completamente esbaforido entrou na sala aos gritos,
seguido de todo o resto da nossa turma que começou a falar ao mesmo tempo. Pelo
visto, o boato da suspensão já havia se espalhado.
No meio da confusão de mãos e
vozes, ouvia-se muitas frases soltas e era difícil descobrir quem estava
falando o quê.
- Diretora, a culpa não é da Gabi. Nós fizemos o vídeo junto com ela!
- Não foi ela que começou a briga no banheiro. Foi a Marília que começou
a acusá-la.
- Não é justo só ela ser punida!
- Estamos em época de prova! Não pode tirá-la da escola agora – sem
nenhuma dúvida, essa reclamação era da Rebeca...
- MENINOS, ACALMAM-SE! – a diretora precisou elevar a voz para que todos
escutassem – Ninguém será punido agora, nem precisará perder as provas. Vou
fazer o seguinte – ela fez uma pausa, passando a mão pelos cabelos soltos. Sua
expressão era a de alguém que olhava um quarto bagunçado e não sabia por onde
começar a organizar – Vou chamar os pais de todos os envolvidos para conversar.
Também reunirei o conselho da escola para definir quais serão as medidas
adotadas pelo colégio. Uma coisa é fato: não vamos admitir bullying neste
colégio. Todos entenderam? – lançou um dos seus olhares duros em nossa direção.
- Desde que fique claro quem estava praticando e quem estava sofrendo
bullying – Mari fez questão de ressaltar.
- Fique tranquila, Marília. Vamos fazer o que for melhor para todos e
para o colégio.
A partir desse momento, parece que alguém pegou os dias, colocou em uma
caixinha e chacoalhou. Tudo virou uma loucura. Os pais foram chamados na escola
e passaram dias discutindo o que deveria ser feito. Até meu pai participou da
conversa via Skype. Como Marco Sérgio assumiu a questão, minha mãe não
participou das reuniões. Ela estava prestes a sair em turnê com o espetáculo
Romeu e Julieta e preferiu focar nos ensaios. Mas, Dona Beatriz fez questão de
conversar comigo dizendo que estava ao meu lado e que não achava justo que eu
fosse suspensa. Achei interessante quando ela me explicou que a dança, assim
como outros tipos de arte, também pode ser usada como ferramenta de protesto,
como eu e meus amigos havíamos feito nos dois últimos clipes. Intencionalmente
ou não, conseguimos fazer com que outras pessoas olhassem para aquele problema
de forma diferente e passassem a pensar em novas soluções.
E quando digo que outras pessoas passaram a prestar atenção no assunto,
não estou exagerando. Todo o colégio resolveu se posicionar contra a punição
que a diretoria queria nos dar e muitas pessoas se sentiram confortáveis para
falar sobre situações parecidas que tinham acontecido com elas. A parte de
comentários do nosso vídeo foi transformada em um mural de confissões anônimas
dos mais variados casos que aconteceram dentro e fora da escola. Alguns eram
engraçados, mas a maioria assustava. Era impressionante pensar que uma palavra
ou uma ação impensada de alguém poderia interferir na vida de outra pessoa de
maneira tão profunda. E também havia os vídeos da briga que foram postados nas
redes sociais e serviram como combustível para vários memes.
Como o assunto deu o que falar e também porque as férias do meio do ano
já estavam se aproximando, o conselho estudantil junto com os nossos pais
resolveram organizar uma semana especial de atividades para lidar com o tema no
segundo semestre. A organização já estava a todo vapor e, claro, que dona
Melissa e Marco Sérgio se ofereceram para participar. Também ficou decidido
que, até um segundo momento, as suspensões não precisariam ser cumpridas.
Mas, antes do merecido descanso, ainda tínhamos as provas de final de
semestre para nos preocupar, como a Rebeca fazia questão de lembrar sempre que
ameaçávamos perder o foco.
As coisas andavam tão malucas que eu e o Edu acabamos nos reaproximando.
Começou com o assunto do bullying. Ver as pessoas relatando seus casos e como
refletiu na vida delas abriu uma porta para que falássemos como nos sentimos
depois que a Mari espalhou o boato a nosso respeito. Falei para ele sobre a
minha fuga da escola, do Léo, de conhecer o meu pai e da briga com a minha mãe,
do Jogo do Engana Trouxa e de quanto o Alê me ajudou no processo de voltar ao
colégio e tudo o mais que acontecera desde então...
O carioca não era muito de falar sobre o que pensava, mas acabou revelando
um pouco de como foi complicado vir do Rio para cá, que ao chegar aqui ele
tentou se encaixar em algum grupo e, quando viu que tudo estava indo por água
abaixo, fugiu para outro colégio, onde sofreu mais ainda porque não quis fazer
amigos para ter certeza que não prejudicaria ninguém. Lembrei que já tínhamos
conversando um pouco sobre o tema no Guararema Fest Show, mas dessa vez ele foi
um pouco mais fundo contando alguns detalhes mais específicos. Uma coisa era
certa: não foi uma barra fácil para ninguém segurar.
Confissões a parte, nós passamos a nos falar todo dia, o dia inteiro.
Tudo virava assunto: a escola, o almoço, séries que estávamos assistindo no
Netflix, o vizinho que tinha arrumado uma namorada nova... A conversa não
morria nunca. Dormíamos conversando e, pela manhã, a primeira mensagem sempre
era dele. Tínhamos virado melhores amigos, fato que não tive coragem de
compartilhar com os meus amigos. Afinal, por mais que todo mundo fale que não
devemos nos importar com a opinião dos outros, também há aquele ditado que diz
que errar uma vez era humano, mas a segunda já era burrice. E aí surgia uma
tremenda dúvida que me deixa bem confusa: ficar com o Edu tinha sido um erro ou
não? Sem toda a intromissão da Mari, nós teríamos dado certo?
***
Quando as aulas acabaram, foi como se o furacão tivesse passado. Os
primeiros dias do recesso foram marcados pelo silêncio. Parecia que todo mundo
estava de ressaca, porque o assunto no grupo estava bem escasso. Demorou uns
quatro dias para que a ficha que estávamos de férias caísse. E, claro, que o
primeiro a se manifestar a esse respeito foi o Alê, colocando em prática o
plano para aproximar o Miguel e o Nando que havíamos arquitetado antes de toda
a repercussão do clipe.
“E aí, pessoal? Bora aproveitar o
recesso pra gravar mais clipes de dança, que nem a mãe da Gabs sugeriu? A gente
pode tentar não causar tanto dessa vez... hahaha”
Era uma quarta-feira de manhã e o tempo já estava bem frio. Eu já havia
tirado todos os casacos pesados do armário e pela janela do meu quarto via o
típico céu do inverno, aquele bem azul e com um sol fraco, que aquecia como se
fosse uma fogueira se apagando.
Enquanto digitava que estava mais do que disposta, meu telefone tocou,
indicando uma chamada de vídeo via WhatsApp.
- Oi, filha! Tudo bem? Está aproveitando as férias? – vi a figura do meu
pai aparecer do outro lado. Ele estava com roupas de calor, o que me fez
lembrar que o tempo em Nova York era diferente do nosso.
- Não muito, ainda. Com toda aquela confusão no colégio, o pessoal acabou
ficando meio desanimado. O Alê está tentando animar a galera agora para gravar
mais vídeos... Vamos ver o que vai rolar – respondi enquanto colocava o celular
em um suporte que ficava na escrivaninha, deixando, assim, minhas mãos livres.
- Mais vídeos? Hm... ainda bem que estou indo para o Brasil então, né?
Assim, se der problema de novo, já estarei aí para intervir por você... – disse
em tom de brincadeira.
- Nossa, pai! É verdade! Acabei me esquecendo completamente...
- Como assim esqueceu de mim, Gabriela? Esses jovens de hoje são
realmente muito ingratos – ele fez um drama, fazendo os dois caírem na risada -
Sua mãe vai entrar em turnê com o espetáculo e, como este ano você deu uma
pausa na dança, ela me pediu para ficar com você. Aí, já vou unir o útil ao
agradável: organizarei as atividades antibulying na escola com a Mel e ficarei
para o seu aniversário. Pensei em fazer uma festa à fantasia. O que acha?
- Uaaauuu! Nós até estávamos pensando em algo, mas nada tão caprichado
assim... – exclamei, bastante animada. Como sempre estava em turnê na época do
meu aniversário, as comemorações sempre foram simples: só eu, minha mãe, Carol,
Mari e o pessoal da companhia de dança. A ideia de ter uma festa de aniversário
de verdade me deixou muito animada. Só uma coisinha me incomodou – Mas à
fantasia não pode ser. Já tivemos uma no Gueto esse ano – fiquei séria ao me
lembrar da ocasião. Afinal, foi ali que tudo começou.
- Bom... podemos pensar em algo diferente. Uma festa temática, sei lá...
Ou só uma comemoração mais básica mesmo... – o tom do meu pai diminuiu ao
perceber minha hesitação sobre a festa à fantasia.
- NÃO! Nada básico! – quis deixar claro – Gostei da ideia da festa
temática. Vou pedir para o pessoal sugerir temas. E você chega quando ao
Brasil?
- Até o final dessa semana. Aí acertamos melhor os detalhes, ok? Estou na
correria para deixar tudo pronto para a viagem, liguei só para avisá-la e saber
como estava.
- Beleza, pai! Fico só te esperando, então... Enquanto isso, já vou
pensando nos detalhes da festa – disse antes de nos despedirmos.
Quando voltei a atenção ao grupo, o pessoal já tinha se manifestado com
algumas sugestões de músicas para gravarmos a coreografia. Comecei a digitar
novamente para contar a novidade quando o chegou uma mensagem do Miguel.
“Pessoal, não poderei gravar agora.
Podem seguir sem mim”.
Parei de digitar e fiquei olhando para a tela tentando entender porque
meu amigo estava sendo tão seco. Pelo o que dava para perceber, a minha dúvida
era a mesma de todo mundo, porque um silêncio constrangedor tomou conta do
grupo. De repente, todos ficaram quietos.
“Mí, tudo bem? Está ansioso com a
turnê?”
Mandei mensagem para ele no
privado. Eu sabia que a preparação para apresentações sempre era tensa, por
isso achei melhor confirmar se ele não era só nervosismo pré-estreia.
“Bastante! Principalmente porque
você não vai estar lá, né? Tantos anos com a mesma parceira que estou achando
muito estranho me apresentar com outra pessoa. É quase como se estivesse te traindo”.
“Magina! Tenho certeza que tudo vai
dar certo. Minha mãe anda bem calma aqui em casa e isso só pode ser sinal de
uma coisa: que os ensaios estão indo bem” .
Tentei descontrair um pouco antes de ir direto ao assunto.
“Mas é só por isso mesmo que você
não quer gravar com a gente?”
A resposta demorou para chegar. Enquanto esperava, quebrei o “climão” no
grupo contando sobre a festa e que precisava de sugestões de temas. Alê não
perdeu a oportunidade: já foi logo dizendo que o tema deveria ser “A Barraca do
Beijo” pra gente armar dos nossos pais ficarem juntos de uma vez.
Embora tenha achado a ideia muito engraçada, a notificação de resposta do
Miguel voltou a me deixar tensa.
“Bom, acho que deu para perceber
que não fiquei tão à vontade com a brincadeira do Nando quando gravamos da
última vez. Confesso que estou um pouquinho confuso com isso, Gabs. Eu amo a
companhia dele, mas não sei se é desse jeito... Além disso, eu morro de medo.
Você sabe que só por eu dançar balé já sofri muito preconceito. Imagina se um
dia eu me assumir gay?”
Li a mensagem do meu amigo com tristeza. Infelizmente, eu sabia que não
era fácil para ele ser um bailarino. Eu já tinha presenciado algumas situações
constrangedoras nos bastidores com pessoas que faziam perguntas ou comentários
homofóbicos. Até os pais dele não apoiavam muito no início. Minha mãe precisou
conversar muito com eles para conseguir com que mudassem de ideia.
“Mig, sei que não é fácil para
você. Mas ó... você não precisa tirá-lo da sua vida de uma forma tão radical. Acho
que podemos ir com calma, respeitando o seu tempo. E não esquece que estamos
aqui para te apoiar em tudo” – tentei argumentar.
“Obrigada pelo apoio, Gabs. Mas eu
realmente não quero pensar nisso agora. Estou bastante focado nas
apresentações. Trocar de parceira está me deixando bem inseguro. E você sabe
que dona Beatriz é bem exigente quando o assunto é apresentação”.
Resolvi dar a batalha por perdida, pelo menos por um tempo para não
estressá-lo ainda mais. Mas, antes, eu precisava falar com o Nando que também
devia estar triste com aquela situação.
“Se te
conheço bem, você não está se manifestando no grupo porque ficou chateado com a
resposta do Miguel. Acertei?”.
“Na mosca, garota. Desculpa, mas
perdi totalmente o clima. Prometo que depois te ajudo com a festa, beleza?”
Mandei um áudio contando pra ele sobre a minha conversa com o Miguel e
falando que, por causa das apresentações, seria melhor dar mais um tempo para
ele.
“Gabs, se a questão é o balé, não
podemos ir todos juntos assistir alguma das apresentações? De repente podemos
ficar nos bastidores dando um apoio moral, sei lá... você entende melhor como
essas coisas funcionam. Assim ele vai confiando mais na gente” – Nando
sugeriu.
“Ótima ideia, migo. Vou perguntar
pra minha mãe as datas das apresentações aqui perto. Aí vemos com o resto do
pessoal se eles também vão querer ir” – me animei imediatamente com a
ideia. Fazia toda a diferença receber o apoio de pessoas queridas antes de
subir ao palco.
“Querida, já vou montar o meu kit
cheerleader, com direito até a pom-pom e coreografia. Se Miguelzito precisa de
apoio, é isso que ele vai ter”.
“Vindo de você, eu não duvido!
Aqueles bastidores jamais serão os mesmos depois que você passar por lá” –
respondi, rindo só de imaginar a cena.
Depois de resolver essa “questão”, voltei para o grupo do Time B, onde a
conversa estava bombando. Depois de dar uma olhada por cima nas mensagens, vi
que a Beca sugeriu o tema “Noite Mexicana”, que estava agradando a todos até o
momento. A Laís já estava até procurando referências de como fazer uma
maquiagem de caveira mexicana quando Nando voltou ao grupo com uma entrada
triunfal.
“Gente, o tema pre-ci-sa ser As Mil
e uma Noites! Já imaginaram a Gabi dançando para o Eduardo que nem a Jade
dançava para o Lucas enquanto tocava ‘somente por amor...’. Vai ser épico!”
*** Para quem não entendeu a
referência, Jade e Lucas eram personagens de uma novela chamada O Clone. Pra
entender melhor, dá uma olhada no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=aLFfzffSPKA
(Eu amava a Jade dançando. Meu sonho de
princesa é dançar que nem ela. Rs!”) ***
“Nando, você arrasou na ideia
agora. Já estou imaginando minha fantasia inspirada na Jasmin. Sem falar nos
delineados bafos que vai dar pra fazer. Por favor, o tema tem que esse” –
Laís foi a primeira a se manifestar a favor.
“Se a Gabi falar que consegue
dançar igual a aquelas odaliscas, eu topo!” – Rebeca engrossou o coro.
“Ela consegue, sim. Essa garota
dança super bem” – Miguel entrou de novo na conversa. Fiquei mais tranquila
ao vê-lo interagindo com o pessoal.
“Já era, Gabs. Tema fechado! Só não
sei se vai rolar a parte de dançar para o meu primo, porque ele ‘tá’ indo pro
Rio hoje... Aliás, eu, minha mãe e a Lala vamos levá-lo no aeroporto. Bora
junto, Gabi?” – o Alê me marcou na mensagem.
O Edu tinha comentado que iria pro Rio, mas, quando ele disse, as férias
ainda pareciam algo distante. Eu não tinha me dado conta que já havia chegado. Tanto
que levei um baque ao me lembrar. Tínhamos nos reaproximado bastante nos
últimos tempos. Como ficaríamos com ele longe?
***
As discussões no grupo sobre o meu aniversário continuaram. Laís ficaria
responsável pela decoração, Beca por fazer os orçamentos do buffet e escolher o
cardápio, enquanto Alê e Nando registrariam todos os preparativos. A ideia da
Lala era conseguir os itens da decoração com desconto ou com permuta oferecendo
a divulgação no canal.
- Seu pai já falou com você? – minha mãe apareceu na porta do meu quarto.
Ela estava preparada para sair para os ensaios com a bolsa a tiracolo.
- Sim, ele ligou faz uma meia hora. Mãe, você acha que consigo aprender
dança do ventre até o meu aniversário?
Precisei explicar todo o contexto para que ela entendesse a minha dúvida
– Hmmm.... Acredito que seja possível, sim. Evidente que uma coreografia
simples, né? Nada muito complicado – ela parecia estar falando mais com si
mesma do que comigo – Conheço uma professora ótima que pode te dar aulas. O
nome dela é Pérola. Vou te passar o contato, aí você vê se há disponibilidade
de horários – dona Beatriz parecia muito feliz por me ver demonstrar algum
interesse na dança novamente, mesmo que não fosse pelo balé – Mas agora eu
preciso ir. A Maria vai fazer almoço, tá? – se aproximou, dando um beijo na
minha testa.
- Mãe, será que eu e o pessoal podemos acompanhar as apresentações que
vão acontecer aqui nas cidades da região? – aproveitei para perguntar.
- Pode, claro! – um sorriso ainda maior surgiu em seu rosto agora que eu
tinha reforçado o meu interesse pela dança – Vou pedir para o pessoal da
produção colocar os nomes na lista da equipe.
- Tá, pede para me passarem as datas e os locais das apresentações
também, por favor.
- Pode deixar. Mas agora eu realmente preciso ir. Depois me fala se deu
certo com a Pérola. Tchau! – deu outro beijo na minha testa e bagunçou de leve
o meu cabelo.
- Ahh, vou com o Alê e a dona Melissa levar o Edu no aeroporto, tá? –
avisei enquanto ela caminhava para a porta.
Dona Beatriz virou e me lançou um olhar de “como que é?”.
- Calma, mãe. Somos amigos. Só isso... – me expliquei.
- A Marília também era... – ela soltou baixinho. Depois, balançou a
cabeça e saiu.
***
- Podemos colocar uns aquecedores na parte da piscina para esquentar as
pessoas, lenços coloridos pendurados e lanternas marroquinas para dar um ar
diferenciado. E incenso, né? Ou é em festa indiana que se usa incenso? Preciso
pesquisar...
Estávamos no carro a caminho do aeroporto e a Laís não parava de falar da
festa. Eu já tinha marcado de ir até a escola da Pérola para explicar melhor o
que eu tinha em mente.
Sentado ao meu lado no banco de trás, além da Laís, estava o Edu, que
mexia no celular, parecendo alheio à conversa. Vi que ele bloqueou a tela do
seu aparelho e, segundos depois, uma notificação chegou no meu telefone.
“Por que está todo mundo tão
animado para essa festa árabe, menos você?”.
Era uma mensagem do Edu. Pelo canto do olho, percebi que ele estava
vigiando para ver a minha reação.
“Acho que é por causa desse lance
da apresentação... Estão achando que vou dançar igual a uma Odalisca. Não sei
se consigo” – comentei, só então notando a ironia: tinha escapado de subir
ao palco com o balé, mas não consegui fugir da pressão de ter que me
apresentar.
“Relaxa, Gabi. Pra quem já foi a
Julieta, ser uma odalisca vai ser facinho” – ele mandou com vários gifs e
emojis de pessoas dançando.
“Você sabe que nenhum desses é de
dança do ventre, né?” – provoquei.
“Sim, mas pelo menos fez você dar
risada. Estava muito séria...”
Precisei me segurar para não demonstrar uma reação muito exagerada ao
comentário. Eduardo sabia ser fofo quando queria.
“E aí? Animado para voltar ao
Rio?”.
“Simplesmente contando as horas para ver o amor da minha vida”.
“Calma! Estou falando da minha prancha.”
– ele riu da cara de assustada que fiz ao ler a mensagem. Fiquei morrendo de
vergonha com a bandeira que eu dei, mas, por sorte, ele continuou digitando e
não percebeu nada.
“Deixei a prancha na casa desse
amigo onde vou ficar esses dias. Fiquei de ir buscar, mas acabei me enrolando e
não fui. Vou trazê-la comigo na volta”.
“Falando nisso, quando você volta?
Chega a tempo para o meu aniversário?” – não aguentei e acabei perguntando.
- Gabi, olha esses acessórios para o cabelo que maravilhosos! Vão ficar
incríveis em você – Laís interrompeu nossa conversa para mostrar algumas
imagens no seu celular.
Percebendo que eu estava ficando um pouco aborrecida com o assunto, dona
Melissa deu um jeito de puxar outro assunto. Infelizmente, ela não foi tão
feliz na missão...
- Meninos, a conversa da festa está muito boa, mas... vocês já decidiram
se vão prestar vestibular esse ano? Acabamos não conversando sobre isso ainda.
Eu quase conseguia sentir o Alê se encolhendo no banco do passageiro.
Assim como eu, ele também estava bem confuso sobre o assunto.
- Nossa, mãe! Que assunto é esse? Deixa a Laís continuar falando das
arábias que estava melhor...
- É que eu e o Marco Sérgio estávamos conversando e tendo algumas ideias.
Por isso perguntei. Queria saber se estão planejando algo – por mais que
tentasse esconder, dava para perceber um ar de alegria na fala da mãe do meu
amigo.
- Mãe, se vocês estiverem planejando se casar e oficializar eu e a Gabi
como irmãos, saiba que os planos de vocês batem com os nossos, não é Gabi? Mas
esquece esse lance de vestibular, pelo amor de Deus! E nem pense em perguntar
de Enem...
Daí em diante a conversa ficou bem mais animada. Para nossa surpresa,
dona Melissa achou graça na brincadeira do filho e praticamente todos no carro
eram a favor da ideia de que não precisávamos decidir nossas carreiras assim
que saímos do colégio, o que me deixou muito mais calma. Eu já ficaria
extremamente feliz se conseguisse sobreviver ao último ano do Ensino Médio.
Esse lance de definir a minha vida teria que esperar um pouco...
***
- Boa viagem sobrinho lindo! Aproveite a Cidade Maravilhosa! – dona
Melissa deu um abraço apertado no Eduardo. Já estava quase na hora do embarque
e tudo o que eu conseguia pensar era que ele ainda não havia me respondido. Eu
realmente odiava a mania que ele tinha de fazer mistério sobre tudo.
- Hey, Julieta! Juízo, hein? Sem causar polêmicas por aí. Não estarei na
cidade para ajudar a gravar vídeo de revanche – ele brincou antes de me abraçar
bem apertado – Guarde uma dança pra mim, combinado odalisca? – o ouvi sussurrar
no meu ouvido antes de me soltar e se virar para entrar na sala de embarque.
Enquanto ele caminhava, senti um aperto estranho no peito. Como eu
poderia querer tanto que ele não se afastasse ao mesmo tempo que me causava
medo tê-lo por perto? Será que algum dia o carioca deixaria de ser um mistério
pra mim?
_______________________________
Notas finais: Vocês estão
sentindo esse cheiro? Siiim, é cheiro de festa no ar! E vocês já conhecem o
problema que Gabi tem com festas, né? Algo sempre dá errado para nossa
bonequinha. Será que algo vai dar errado justo no aniversário dela? Será que o
Edu vai voltar a tempo? E Nando e Miguel? Vão ou não se acertar?
A propósito, tem alguém com saudade do Léo aí?
E a briga da Marília com a Gabi? O
que acharam?
Estamos entrando na reta final de
VOV, meus caros! Emoções é o que não vão faltar!
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Oiieeee.... xD
Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!
Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*
Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*
E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!