domingo, 29 de maio de 2016

Vamo que vamo!

Obaaa, mais um ano começando!

Não dá nem para acreditar que já vai fazer quatro anos que temos esse blog!

Que 2016 seja cheio de boas histórias, surtos e comentários. E, claro, que não falte nunca boas risadas para compartilhamos juntas.

Vem com tudo 2016, que eu já estou preparada para você!

sábado, 28 de maio de 2016

Capítulo 33 – Só dance a dança

Notas iniciais: Depois de um Fest Show inflamável, o cap 33 está mais “morninho”, mas cheio de informações importantes para os próximos capítulos. Espero que gostem! <3
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Uma montanha-russa que vai pra cima, para os lados, pra baixo e com vários loopings. Augustus Waters que me perdoe, mas minha vida andava mais cheia de reviravoltas do que novela mexicana. Se bobeasse, eu seria capaz de ouvir a Thalia cantando uma música de fundo para embalar minha trágica vida amorosa.

Virei para o lado na cama e cobri a cabeça, como se assim pudesse evitar que meu velho e nada simpático monstrinho viesse me visitar. Afinal, apesar de ser domingo de manhã, eu não estava nem um pouco no clima de alguém me atormentado para ouvir minha voz de sono.

Mas, é claro, que aquela frágil proteção não seria o suficiente. Menos de cinco segundos depois, meu celular começou a tocar. Ignorei o barulho insistente, porém a pessoa do outro lado resolveu que não iria desistir.

Na sétima tentativa, acabei cedendo e atendendo ao telefone.

- Alô - disse, sem a mínima empolgação.

- Nossa, finalmente! Achei que tinha morrido!

- Alê, alguém já te disse que você é insuportável? - falei, encarando a tela do celular. Eram, exatamente, oito e quarenta e cinco da manhã.

- Não. Já me chamaram de lindo, maravilhoso, inteligente, divertido...

Desliguei a ligação e joguei a cabeça contra o travesseiro.

O skatista não desistiu. Esperei até o quinto toque para atender de novo - Não deu pra perceber ainda que não quero falar com você?

- Às vezes eu sinto falta da época que você era uma boneca de porcelana - meu amigo respondeu em tom de reclamação - Para de ser chata, Gabi. Eu preciso falar com você...

- Vai fazer chantagem emocional, mesmo? - me fiz de durona, mas me sentei na cama e encostei a cabeça na cabeceira, pronta para escutá-lo.

- Poxa Gabs, você é a única pessoa que pode me ajudar nesse momento - o skatista choramingou.

- Meu Deus, mas o que aconteceu, afinal? Dona Melissa resolveu te transformar em um filho "coxinha"? - brinquei, querendo descontrair. Eu sabia que o pior pesadelo do Alexandre era a mãe tentar fazer dele um mauricinho tipo Caio.

- Para com isso, menina! "Tá" louca? - respondeu de pronto - Na verdade, tô querendo saber se a Laís falou alguma coisa de mim - sua voz falhou um pouco, deixando clara a sua ansiedade.

- Aaah, é isso? Não... Ela nem tocou no seu nome - falei fazendo voz de desinteressada, só para provocá-lo.

- Sério? - precisei prender a respiração para não cair na risada, tamanho foi o desespero dele.

- Claro que não, né? Qual é, Alê? Cadê aquele cara que tira onda com todo mundo, aquele cara descolado? - continuei provocando.

- Perto da Laís ele não existe. Gabi, você já reparou o tanto que ela é gata? Sem falar que ela é toda cheia de estilo e inteligente. Fico sem saber o que fazer perto dela... Na verdade, estou achando difícil ela querer alguma coisa comigo - confessou meio sem graça.

- Ai Alê, deixa de ser bobo! Não tem nada a ver isso. Primeiro que você também é bonito, legal e engraçado. E segundo porque ela está pensando a mesma coisa que você...

- Que ela é muita areia pro meu caminhão? - disse como se fosse uma criança querendo confirmar algo com a mãe.

- Não, seu bobo! - acabei rindo do seu jeito - Ela está pensando que é você que não quer nada com ela.

- COMO ASSIM? - pelo grito que o meu amigo deu, já consegui imaginá-lo caindo da cadeira de tanto susto. Claro que isso só me fez rir mais.

- Alê, você precisa se ligar. A Laís está te dando o maior mole e você aí, fazendo draminha.... Coloca esse lado de garoto vida "loca" pra trabalhar - aconselhei.

- Aí que está. Não sei se ela está me dando mole. A gente se fala todo dia, ela é super gente boa, conversamos sobre vários assuntos.... Sei lá, é diferente da Carol e da Marília, sabe? A Laís não fica de gracinha, fazendo mimimi. Por isso que fico na dúvida se ela quer mesmo ficar comigo - ele finalmente botou pra fora o X da questão.

- Ela está sendo legal, porque sabe que você não é desses garotos que partem pra cima, saca? - expliquei.

- Mas o que eu faço, então? Chego nela já beijando, no maior estilo cachorrão? - ele fez graça.

- Hmmm.... melhor, não. Você não faz esse tipo - brinquei.

- Qual é, Gabi? Está me zuando? – o skatista ficou todo ofendido.

- Só estou dizendo para você parar de se preocupar tanto. Da próxima vez que encontrar com ela, deixa rolar, entendeu? Não fica encanando com bobagem...

- Acho que você tem razão, Gabs – concordou depois de ficar alguns segundos em silêncio – Vou seguir o seu conselho. Agora, quero saber de uma coisa: que cena foi aquela com o meu primo?

- Ai amigo, nem eu sei... – soltei  o ar pesadamente como se assim conseguisse mandar minha ansiedade embora – Quando vi, já tinha rolado.

- Você ainda gosta dele, né? – perguntou com jeito de quem entendia perfeitamente o que acontecia no meu coração.

- Não sei, Alê. Na real, não sei mesmo. Eu achava que estava completamente apaixonada pelo Edu. Fiquei super mal quando ele aprontou tudo aquilo e paramos de nos falar. Acreditei que tinhámos tudo para dar certo.  Mas aí tanta coisa aconteceu... Tenho impressão que me apeguei mais à ideia de querer ter um romance do que a ele em si, saca? – ponderei, voltando a deitar na cama.

- Nossa, que complexo! Mas.... no fundo, acho que isso é só uma explicação muito grande para justificar algo simples. Você gosta do meu primo – afirmou com seu tom de garoto sério que, às vezes, ele resolvia mostrar.

Dentro de mim, ouvi uma vozinha chata gritar “nããão, eu gosto é do Léo”. Balancei a cabeça para afastar aquele pensamento. O Cabeludinho era um assunto complexo demais para um domingo de manhã – Realmente não sei, Alê. Tenho sim uma quedinha por ele, mas não sei se isso significa gostar.

- Nesse caso, acho que o conselho que deu pra mim vale pra você também. Deixa rolar e vê no que dá.

- Foi a mesma coisa que a Laís falou – contei.

- Não “tô” dizendo que essa garota é demais?! – ele riu, me fazendo rir também – É isso aí, Gabs. Agora trate de levantar dessa cama e vir me ajudar a gravar um vlog pro meu canal.

- Detesto quando você usa esse tom de mandão – protestei.

- Qual é, Gabi?! Você é a estrela do meu canal. O vídeo do making off do clipe bombou! Preciso de você para conseguir visualizações.

Claro que não resisti ao apelo do meu amigo. Acabei passando o domingo segurando a câmera para ele, enquanto ele fazia um vídeo mostrando algumas manobras fáceis e atitudes essenciais para quem queria aprender a andar de skate. No final, invertemos os papéis e tentei, sem sucesso, fazer os movimentos. À noite, quando editamos o material, chegamos a conclusão que aquele era o vídeo mais engraçado do canal até o momento. O Alê fez vários comentários enquanto eu estava treinando com o skate e a minha participação ficou batizada como “o que não fazer se você quer ser um skatista”.

- Velho, por que a gente não se divertia tanto antes? - o skatista perguntou se jogando na cama de qualquer jeito.

- Acho que por que a gente ficava meio preocupado em seguir o "padrão Marília" de qualidade, que se resumia a organizar festas e se comportar como os mais populares do colégio - ponderei - Você quase não andava de skate perto da gente.

- "Tá" vendo, Gabs? Quebrar as correntes pode ser difícil, mas é libertador - disse com a voz séria.

- Libertador e engraçado - acrescentei ao encarar o vídeo que ainda estava na tela do notebook. Tudo tinha começado com um plano de contra-ataque. Mas, sem querer, estávamos fazendo daquilo uma nova maneira de levar a vida. E, a cada dia, eu gostava mais daquele plano.

***

- E agora, a surpresa do dia - o professor de Matemática fez uma pausa na entrega das avaliações para deixar um clima de suspense no ar - o Alexandre tirou sete! - ele fez cara de espanto antes de entregar a prova para o skatista - Estou muito feliz, rapaz! Sinal que ainda existe esperança - o tom do professor era irônico, o que fez a sala inteira rir, inclusive meu amigo.

- Valeu, "fessor". A Rebeca está me ajudando a estudar. Eu, ela, o Nando e a Gabs estamos pegando firme com a revisão das matérias. Espera só! Até o final do ano minha nota será maior que a dos nerds da sala.

- Menos, né Alê? - o professor brincou - Mas, parabéns pela iniciativa, meninos! Se precisarem de alguma ajuda nessas revisões, é só pedir. Vocês estão em ano de vestibular, todo reforço na matéria é bem-vindo. E isso vale para todos, viu? - claro que o professor não perdeu a chance de alfinetar o resto da sala antes de continuar entregando as provas na mesa de cada um.

- Já fiz um planejamento de revisão da matéria para o resto do semestre inteiro. Se seguirmos o cronograma ficaremos com o conteúdo na ponta da língua - a Rebeca virou para conversar com a gente, toda animada.

- Meu Deus, se sem cronograma você já quase arrancou meu couro, imagina agora! Vou virar uma máquina de estudar – Alê fez drama – “Tô” achando melhor ficar com as notas baixas mesmo, viu?

- Eu não arranquei o couro de ninguém. Não posso fazer nada se você e a Gabi estavam muito atrasados com a matéria – a nossa “nerd querida” se defendeu.

- Heey, não me coloquem nessa briga! Não falei nada – me meti no assunto.

A discussão continuou até o fim da aula. Na verdade, eu adorava ver as provocações da Rebeca e do skatista. Eles eram as típicas pessoas que se faziam de marrentas só para não darem o braço a torcer.

- Posso falar com vocês rapidinho? – alguém nos interrompeu com a voz não muito segura.

Quase caí da cadeira quando vi quem era. Parada na nossa frente, com cara de cachorro sem dono, estava a Carol.

- Claro! Fala, mulher – Fernando a incentivou.

- Será que poderia participar do grupo de estudos de vocês? Minhas notas de Matemática estão péssimas – pediu.

Foi como se alguém tivesse apertado a opção mudo da televisão. Por um instante, ninguém disse nada. Rebeca e Fernando fixaram o olhar em mim, enquanto eu encarei o Alê tentando ler sua reação. O skatista engoliu em seco, como se ainda não tivesse entendido muito bem o pedido da nossa ex-amiga. Dez longos segundos se passaram enquanto ele processava a informação.

- Por mim, tudo bem – disse olhando para mim, como se estivesse me contando a sua opinião e não respondendo a Carol.

- Por mim também – falei, dessa vez olhando para ela.

- Nós nos reunimos aqui no colégio mesmo, depois da aula. Tudo bem pra você? – Fernando, o “deboista” da turma, tratou de incluí-la no “rolê”.

- Será que você está com as mesmas dúvidas que a Gabi e o Alê? Se bem que, com o tanto de dúvida que esse menino tem, a gente já vai ter que rever a matéria inteira mesmo... Aí, na certa vamos revisar o ponto que você precisa também – Rebeca opinou.

- Garota, me faz um favor? Me ama menos – meu amigo retrucou – Eu nem sou tão burro assim, Carol.

A garota apenas riu, como se soubesse que, no fundo, a Rebeca tinha razão - Relaxa, Alê. Eu também ando bem ruim de matemática... Umas duas horas a gente se encontra, então?

Depois de combinarmos horário e local, tratamos de prestar atenção na aula que estava prestes a começar.

Abri meu caderno e olhei de relance para o Alê, como quem diz “está tudo bem?”. Ele apenas de deu ombros, querendo falar “vamos ver no que dá”. Balancei a cabeça enquanto pensava comigo mesmo “a semana promete”.

***

Quando o Alê disse que a Rebeca pretendia nos transformar em máquinas de estudo, ninguém sabia que, na verdade, ele estava fazendo uma profecia. No segundo dia de estudos com o tal cronograma, senti que meu cérebro ia explodir com tanta informação.

Além de toda a matéria, ainda tínhamos outras questões para lidar. Por exemplo, eu me lembrava da Carol e do Alê se darem bem. Porém, será que ela sempre se deu tão bem assim com o skatista? Eu não sabia se era impressão minha, mas achava que a Cá estava se esforçando para ser “legal demais” com ele. Em contraponto, a Rebeca continuava “arrancando seu couro”, como meu amigo costumava dizer.

Bom, independente do que estivesse acontecendo, o Alê parecia não se abalar. Zuava e implicava com a Reb e conversava normalmente com a Carol, embora eu sinceramente achasse que ele não estava nem de longe tão empolgado com essa amizade quanto a garota estava.

Já eu tinha o Edu para lidar. Lá pela quarta-feira ele veio puxar assunto comigo no Whats. Não falamos nada demais - na verdade, com tanta coisa pra estudar, nem dava muito tempo de conversar - mas me concentrei em fazer o que a Laís me aconselhara: colocá-lo para jogar nas minhas regras. Sem mistérios, sem encontros às escondidas, sem brincar com os meus sentimentos.

Durante as aulas, começamos a perceber um movimento estranho. Era como se o nosso grupo estivesse chamando muita atenção e, claro, incomodando a “realeza”. A Mari parecia mais disposta do que nunca a ser simpática com as pessoas só para que todo mundo continuasse a paparicando. Porém, por mais que se esforçasse, o Alê ia “correndo por fora” com seu vlog. Se pudesse comentar o caso, nosso professor de história diria que aquele momento representava a queda da monarquia e o início da ascensão da democracia. Para mim, mera “súdita”, significava mais liberdade de expressar quem você realmente era – por mais que, nesse quesito, eu ainda estivesse com muitas dúvidas e, infelizmente, não havia revisões milagrosas da Rebeca capazes de me ajudar nesse caso.

***

- Você também achou estranho quando a Carol se ofereceu para vir aqui em casa estudar?

Era sábado depois do almoço e eu estava na casa do Alê esperando a Rebeca e o Fernando. Tínhamos um trabalho nível hard de História para terminar e resolvemos fazer todos juntos para vencermos a “guerra” unidos. Além disso, também tinha a edição do clipe. O Alé já estava quase terminando e  queria que víssemos o resultado antes de apresentar para o professor. O Miguel e a Laís também viriam mais tarde para opinar. Fazia um dia bonito, por isso resolvemos ficar na mesa da edícula, perto do jardim. Com sorte, as flores e a fonte da dona Melissa nos serviriam de inspiração.

O que aconteceu foi que, durante uma das tardes na escola, o Fernando comentou sobre o nosso encontro e a Carol se ofereceu para fazer o trabalho junto com a gente.

- Não queria falar nada, mas acho que a nossa amiga está sofrendo do mesmo mal do seu primo - opinei.

- Arrependimento? - ele parecia surpreso com a minha sugestão.

- É o que está parecendo... - confirmei.

Ele fez silêncio por um instante, como se estivesse ligando os pontos - É... pode até ser.

- Mas a questão que não quer calar é: você vai dar uma segunda chance pra ela? - levantei a sobrancelha.

Vi meu amigo mexer no boné, inquieto. - Não sei, Gabs. Não sei...

***

Como se quisesse comprovar a nossa teoria, a Carol passou boa parte da tarde de brincadeirinhas com o Alê. Porém, dessa vez, ele parecia mais "receptivo" a ela. Até o Fernando, que não sabia do rolo dos dois, fez uns comentários sobre a proximidade deles. Rebeca também não perdoou e soltou várias alfinetadas, como “será que dá para vocês deixarem o xavequinho para depois que a gente precisa terminar o trabalho?”. De onde estava, vi o Alê se ajeitar na cadeira, tenso, enquanto a Laís abaixava a cabeça e dava um sorrisinho de canto de boca.

Acabei me distraindo do meu trabalho e pensando nas reviravoltas da vida. Há pouco tempo o skatista estava lamentando que a Cá não quis ficar com ele. E agora ela estava ali, correndo atrás. O que será que fazia as pessoas mudarem de ideia? Será que realmente era preciso perder para dar valor?

- Nossa Alê, eu adorei esse boné - a Carol disse quando estávamos quase terminando os nossos trabalhos. Em um gesto rápido, ela estendeu o braço e pegou o acessório da cabeça dele, revelando os seus fios bagunçados.

- Aaah, não! Devolve isso aqui! - ele se esticou para pegar a peça de volta, mas ela foi mais rápida. Levantou-se da cadeira e saiu correndo para o jardim da dona Melissa. O Alê foi atrás dela tentando recuperar o boné, mas a Laís não deixou.

Quando conseguiu alcançá-la, ele aproveitou-se que conhecia o ponto fraco da garota e começou a fazer cosquinha nela. Contorcendo-se e quase morrendo de rir, ela acabou soltando o boné.

- Isso não vale, Alê! Você sabe que não aguento com cosquinha – ela reclamou, ainda vermelha de tanto rir.

- Cada um luta com as armas que tem – o skatista respondeu em tom solene, enquanto recolocava o boné na cabeça – E ó, eu também sei que você tem medo de barata. Por isso, é bom você parar, senão já sabe, né?

- Ai, por isso que eu te adoro, Alê. Você me conhece tão bem – ela estendeu os braços para abraçá-lo, pegando-o completamente desprevenido. Para retribuir o gesto, ele voltou a fazer cosquinhas nela, encenando algo que não me parecia normal. Talvez eu estivesse apenas de implicância, mas os gestos da Carol me pareciam afetados demais, muito parecidos com o da Mari quando queria conquistar a simpatia de alguém. Será que em algum momento eu também tinha me comportado daquele jeito?

Balancei a cabeça para afastar a ideia e tentei desviar o olhar dos dois. Foi quando vi a Laís parada no meio do caminho de pedra que ligava a cozinha da casa à edícula. Sua expressão era de quem assistia uma cena muito impactante. Sua mão estava parada na altura do peito, como se estivesse pronta para acenar e dizer oi, mas foi forçada a parar no meio do caminho.

Ao perceberem a minha cara de espanto, Fernando e Rebeca olharam na mesma direção. O Nando passou a mão pelo rosto, apreensivo, enquanto a Rebeca limpava a garganta, na tentativa de avisar o Alê.

A ideia deu certo, porque o skatista olhou para os lados e, ao ver a Laís, estacou no lugar, o rosto vermelho de vergonha.

- Sua mãe disse que eu podia entrar – ela respondeu a pergunta que estava estampada no rosto do meu amigo: como você chegou aqui? – Pelo jeito cheguei muito cedo, né? Vocês ainda estão fazendo trabalho – seu tom era controlado, mas mesmo assim era possível sentir um toque de ironia na sua voz.

- Não, não! Na verdade, chegou bem na hora! Acabamos de terminar, não é pessoal? – ele veio até a mesa e começou a organizar seus papéis, em uma tentativa patética de parecer um cara organizado e sério.

Do outro lado, a Carol assistia a tudo com cara de “ué”. Precisei me segurar para não rir. As coisas estavam ficando fáceis demais para ela, o que não era justo. Além disso, eu era “Team Laís” e defendia a teoria que meu amigo merecia coisa muito melhor que ex-amigas arrependidas.

- Laís, adorei o look – elogiei. Ela estava com um vestido bem solto, tipo t-shirt, com um New Balance azul e cabelo preso em um rabo de cavalo. Simples, mas o suficiente para valorizar a sua beleza.

- Obrigada, Gabs! – ela piscou, deixando um pouco a tensão de lado.

- E então, vamos ou não ver como esse clipe está ficando? Já estou morrendo de curiosidade, gente – Fernando achou uma maneira de cortar o “climão”.

- Opa, vamos lá! Vou mostrando para vocês enquanto o Miguel não chega – o dono da casa se ofereceu, as palavras e os gestos saindo de um modo forçado, como se não soubesse como agir. Era impossível não rir da situação.

- Que clipe? – a Carol pareceu se recuperar.

- É para o trabalho do professor Gabriel – expliquei.

- Aaah, nós estamos fazendo uma história em quadrinhos – ela contou – A Nathy desenha super bem e estou dando uma força para ela.

Se eu bem conhecia a Marília, ela deveria estar amando a Nathália por causa disso.

 - É uma ideia bem interessante – a Rebeca comentou – Dá para brincar bem com a música.

- Sim, escolhemos o Show das Poderosas da Anitta, sabe?

- Nossa, que original! – o Nando alfinetou – Não esperava nada diferente de vocês.

- Por quê? – a Carol fez cara de ofendida.

- Tenho certeza que vão inventar uma história mostrando toda a superioridade do grupo de vocês em relação aos outros pobres alunos da escola que não tem estilo ou carisma. Nota 10 para originalidade de roteiro.

Fiquei espantada com a sinceridade do meu parceiro de grupo. Caraca! Ele sambou na cara da Carol e com salto 15 ainda por cima.

- Pelo jeito que está falando, a ideia de vocês deve ser sensacional – ela retrucou com os braços cruzados em frente ao corpo.

- Mais do que sensacional, Carolzinha! Está um trabalho digno de Oscar – foi a vez do Alê falar.

- Uaau! Quero ver, então! Me mostra!

- Nem pensar! O vídeo nem está pronto ainda – resolvi colocar um ponto final naquela situação. De repente, pensar no clipe me trouxe de volta a velha sensação de estar me afogando. Eu não tinha pensando no que as pessoas poderiam pensar quando assistissem o nosso trabalho. Será que eu estava preparada para as críticas?

- A Gabi tem razão. Melhor não mostrar ainda – a Laís apoiou minha decisão.

- Bom, se é assim, melhor eu ir embora e deixar vocês terminarem – a Carol se “rendeu”. Porém, estava estampado na sua testa que ela não tinha gostado nem um pouco da nossa provocação e muito menos de deixar o skatista de “mão beijada” para a Laís.

- A gente se vê segunda no colégio – o Alê foi o primeiro a se despedir dela fazendo questão de parecer o mais distante possível. Dessa vez, a garota não tentou nenhuma gracinha. Apenas agradeceu pela ajuda no trabalho, pegou suas coisas e foi embora.

- Migo, arrasou na resposta pra ela – disse, assim que ela virou as costas.

- Sabia que você ia curtir, best. Toca aí – ele levantou as mãos para um hi-five.

- Nosso plano de contra-ataque está a todo vapor, pessoal – o skatista também comemorou.

- Não sei, não. Você parecia bem afim de confraternizar com o inimigo – Rebeca não perdeu a chance de provocá-lo.

- Aff... Você não sabe de nada. O nome disso é se infiltrar no grupo inimigo para pegar informações – meu amigo inventou uma desculpa qualquer, não sem antes lançar um olhar bastante desaprovador na direção da nossa nerd – E agora chega de falar! Vamos ver esse vídeo logo de uma vez.

Como se estivesse só esperando a deixa para aparecer, o Miguel chegou. E, logo atrás dele, o Edu.

- Agora sim o nosso time está completo. Vem, pessoal. “Bora” pro meu QG – o skatista chamou. Ele fez questão de segurar o braço da Laís e pedir para que ela fosse na frente, enquanto ele seguia logo na sequência. Mais cara de pau, impossível!

- E aí, tudo bem? – o carioca ficou por último na fila para entrar só para me cumprimentar.

- Tudo certo. E você? – dei dois beijos no seu rosto, o estômago revirando de uma maneira estranha.

- Vim ver qual era a boa do final de semana por aqui. Pelo jeito a coisa está animada – brincou, caminhando logo atrás do Fer e do Miguel que conversavam super animados.

- Vamos terminar de editar um clipe que gravamos para a aula do Gabriel – resumi.

- Ah, aquele que o Alê postou os bastidores no canal? – concordei com a cabeça e ele sorriu de modo provocante, antes de continuar – Então cheguei na hora certa. Você está linda nesse vídeo.

Tentei retribuir o sorriso, mas sem muito sucesso. Para a minha sorte, já havíamos chegado ao quarto e todos estavam dispersos escolhendo o melhor lugar para sentar. Acabei ficando com a poltrona, enquanto o Edu sentava na cama, bem perto de mim. Laís ficou com uma cadeira que o Alê fez questão de buscar na cozinha para ela.

Assistimos as partes que já estavam prontas e a dupla Nando e Miguel ajudou a definir como ficaria o resto. No geral, o vídeo estava ficando ótimo. Porém, a conversa da tarde fez meu monstrinho dar às caras.

“O que te faz pensar que a sua história é melhor que a de qualquer outra pessoa?”

“Por que as pessoas vão gostar do que você tem a dizer? Só porque a pobre bonequinha de porcelana andou se quebrando, isso não faz de você uma celebridade, queridinha”.

- Planeta Terra chamando Gabriela. Alguém na escuta? – a voz do Edu me trouxe de volta à realidade – Vem, a tia Melissa chamou a gente para lanchar.

Olhei ao redor e percebi que todos já haviam saído. Só restávamos nós dois.

- Vem – ele estendeu a mão para me ajudar a me levantar. Aceitei seu gesto. Porém, senti que ele colocou mais força do que deveria ao me puxar, o que me fez parar bem ao seu lado. Rápido, ele colocou sua mão na minha cintura – Você está ótima no vídeo. Só não entendi uma coisa: você não está mais na peça com a sua mãe? Ouvi o pessoal comentar algo por cima e fiquei na dúvida...

- É uma longa história, mas não... – disse, torcendo para que tivesse deixando claro que não queria falar sobre o assunto.

- E agora? O que a bailarina anda fazendo da vida? Além de protagonizar clipes e fazer participações no canal do meu primo – perguntou enquanto seguíamos pelo corredor, bem perto um do outro.

- Por enquanto, só estudando. Ainda não achei uma atividade para colocar no lugar do balé.

- Bom, então, o melhor o que você tem a fazer é aproveitar...

Não sabia se era impressão minha, mas senti um leve toque de provocação na sua voz. Resolvi ignorar. Não ia entrar no seu jogo novamente.

- Acho que estou nem querendo curtir, nem ficar de boa, sabe? - olhei pra ele, surpresa com a verdade daquelas palavras - Estou cansada de ter que fugir e me precaver de tudo. Queria dar tempo ao tempo, deixar as coisas simplesmente acontecerem. Dançar conforme a música, sabe?

- Me parece uma boa ideia para uma bailarina - ele levantou a sobrancelha com jeito de sabichão.

- Acho que é um bom conselho para qualquer pessoa. Até para você - ofereci ao carioca um olhar provocador antes de ir me juntar ao pessoal na mesa. Acabei me sentando perto do Miguel e do Fernando. E eu não sabia se estava sob influência do lance entre Carol e Alê, mas me parecia que aqueles dois também andavam muito próximos um do outro. Mas, ao contrário do skatista com a nossa ex-amiga, a amizade daquela dupla parecia mais... sólida, como uma árvore grande que não balança com qualquer vento.

- Gabi, querida, aceita pão de queijo? – dona Melissa interrompeu meus pensamentos.

- Claro – disse, estendendo as mãos para segurar o pequeno prato que ela me oferecia.

Lanchamos, todos juntos, em um clima descontraído. Fernando estava tentando convencer o Miguel a posar para ele em um ensaio de fotográfico – nosso colega de sala estava fazendo um curso de fotografia e precisava entregar um trabalho com imagens que enfatizassem o jogo de luz e sombra. A proposta era clicar o Miguel executando passos de balé com a sombra projetada em uma parede branca. A ideia do Nando parecia genial, mas estava difícil fazer meu parceiro de dança deixar a vergonha de ser modelo por um dia de lado.

- Você sabe andar? – a Laís me perguntou depois de um tempo de conversa, mudando completamente de assunto. A morena apontou o dedo para dois skates encostados no canto da parede. Eu nem precisava fazer esforço para ter certeza que pertenciam ao Edu e ao Alê. Havia perdido as contas de quantas noites ou tardes das férias ficamos andando de skate na frente de casa.

- Mais ou menos. Bem o básico – respondi.

- Bom, pelo último vídeo do Alê, mais pra menos do que pra mais, né Gabs? – A Rebeca se meteu no assunto.

Balancei a cabeça, rindo ao recordar a minha falta de coordenação motora.

- Ah Gabs, mas mesmo assim você vai me ensinar a andar – a morena levantou da mesa determinada. Ela pegou os skates, levou até uma parte plana e cimentada do jardim e subiu em cima de um.

Fui até ela e repassei as instruções que meu amigo me passara quando gravamos o vídeo.

- Peraê, meninas! Deixa que eu faço isso, vai – o skatista apareceu de repente, todo solícito. Ví ele pegar a mão da Laís e começar a ajudá-la. Ele explicava como ela deveria se mexer, de vez em quando colocando a mão na sua cintura de modo respeitoso. Fiquei torcendo para que eles se acertassem de vez e o meu amigo deixasse de lado as suas inseguranças. Assim como eu enxergava na amizade do Miguel e do Nando algo mais firme, ali eu via uma união que tinha tudo para dar certo. Era como se a Lá tivesse exatamente o que faltava no Alê e vice-versa.

- Está distraída hoje, hein? – era a voz do Edu, novamente me trazendo para a realidade.

- Nossa, estou filósofa hoje. Cheia de análises e pensamentos – brinquei.

- Sei, sei... – ele balançou a cabeça – E aí? Está querendo trocar de ramo e virar skatista? – perguntou, claramente referindo-se ao vídeo que o primo publicara.

- Acho que preciso praticar muito ainda para isso acontecer... – disse, tentando justificar o meu fracasso sobre o equipamento.

- Que nada! Você só precisa melhorar algumas coisinhas. Quer ver?

O carioca me mostrou algumas manobras simples e começamos a praticar. Divertimos-nos muito com os meus quase tombos e piadas que ele fazia para me provocar. Eu não conseguia me lembrar de nenhum outro dia que nos demos tão bem. Parecia que depois da conversa do Fest Show ele estava mais solto, o que permitia que as coisas fluíssem mais facilmente. Além disso, esse Edu sem mistérios me dava liberdade para eu ser uma Gabi que eu mesma não conhecia muito: uma garota divertida, inteligente e que até sabia flertar em alguns momentos.

A noite já estava caindo quando, de repente, perdi o equilíbrio e cai com tudo em cima dele ao tentar fazer uma manobra. Quando me ajudou a me levantar, o Edu me deu um selinho. Olhei para ele, completamente surpresa com o gesto. Demonstrações públicas de carinho não eram o seu forte.

- A ordem é dançar conforme a música, não é? – ele deu de ombros, o sorriso de carioca que entedia das malandragens brincando em seu rosto.

Concordei com a cabeça, sorrindo de volta.

- Então só dance a dança, bailarina – ele disse em tom baixo, sua mão segurando a minha de leve.

- Só dance a dança, carioca – repeti, ciente de que o Eduardo acabara de me dar a chave para todas as respostas que eu precisava.
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Notas finais: Ai, ai, esse Edu! Gente, admito que sou “xonas” nesse carioca. Hahahaha

Mas, para aquelas que são Team Léo, calma! O Cabeludinho ainda volta, viu?

E esse triângulo Laís, Alê e Carol? Como fica, gente? Ai, ai... teremos muitas emoções pela frente ainda, viu gente? Muitos forninhos ainda vão rolar!


Beijoooo!

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