quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Capítulo 36 - Eita, Time B!

Notas iniciais: o forninho caiu...
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No capítulo anterior:
Resolvi ir até o banheiro para dar uma respirada. O local estava cheio, a música alta e algumas pessoas dançavam, enquanto a maioria ficava apenas conversando e bebendo. Peguei o celular para me distrair e dar uma olhada nas notificações quando, sem querer, esbarrei em alguém, me desiquilibrei e acabei quase caindo em cima da pessoa que me segurou firme pelos braços.

- Opaa! Cuidado por onde anda, bonequinha.

Levantei a cabeça tentando retomar o equilíbrio. Acabei soltando uma risada irônica ao perceber que tinha acabado de refazer a “cena” do meu primeiro encontro com o Edu. Pelo jeito, a noite ainda me reservava muitas emoções.

- Desculpa. Eu me distraí – disse, me afastando dele.

- Eu percebi. A festa está tão chata assim pra você ficar focada no celular? – o carioca provocou.

- Na verdade, está. Por mim eu já teria ido embora – fui sincera.

- “Tá” cedo ainda, Gabi. O melhor da festa começa agora.

Olhei séria para ele, ciente da sua mania de jogar frases com duplo sentido no ar.

- Será? Não tenho tanta certeza disso.

- Para, vai... Você só quer ir embora porque está brigada com as meninas – disse em tom provocador.

- Você também com esse assunto? – respondi de forma impaciente – Quero ir embora porque a festa está chata mesmo... Não tem nada a ver com Mari ou Carol.

Como se estivesse apenas esperando a deixa, a loira apareceu.

- Oi, Edu! Que bom que você veio – ela cumprimentou o carioca de forma bem entusiasmada – A festa está bombando. Entra!

- A Gabi disse mesmo que estava animada. Ela até me falou que ia dançar comigo – ao terminar a frase, o primo do Alê lançou um olhar de canto de olho e abriu um sorriso presunçoso.

Encarei o garoto na minha frente, a expressão no meu rosto deixando claro que queria matá-lo.

- Você prometeu, lembra? – foi a sua resposta ao perceber o meu olhar fulminante – Na casa da tia Melissa.
Respirei fundo, recordando a nossa última conversa. Fiquei ainda mais brava, porque fiz aquela promessa só para fugir dele.

- Que bom que vocês estão se dando bem – Mari se meteu no meio da conversa – Eu sempre achei que vocês não combinavam. Mas, pelo jeito, estava enganada.

“Ah, jura? Não me diga!”, pensei comigo mesma. Estava difícil lidar com tanta falsidade.

- Gabi é “parça”! Nós sempre nos demos bem – piscando para mim, o Edu respondeu em tom um pouco convencido.

- É que eu achava que vocês eram muito diferentes e que alguém ia acabar... se machucando. Por isso fiquei com tanto medo no início – a loira voltou a falar em tom inocente, como se fosse a santa da bondade e amor ao próximo.

- Relaxa, Marília. Você não precisa mais se preocupar – tentei controlar minha voz, mas o comentário acabou saindo de forma ácida.

- Você sabe que sempre gostei de você, Gabriela – ela disse, fazendo cara de ofendida.

- Eu sei, Marília. Só estou dizendo que não tem mais motivos para você querer me proteger falando para o colégio inteiro as suas conclusões – eu não queria, mas acabei jogando a verdade na cara dela. Eu sentia meu coração bater mais rápido e todo meu corpo em alerta, como se estivesse em modo de ataque. Daquela vez eu não iria deixar que ela conduzisse a discussão da maneira que quisesse.

- Eu não contei nada para ninguém. Apenas fiz um comentário que se espalhou pela escola – ela colocou a mão no peito e fez cara de que estava sendo acusado injustamente. Porém, sua expressão mudou de “ovelha encurralada” para raposa quando achou algo para argumentar – Não tenho culpa se falei a verdade e as pessoas se impressionaram com isso.

- Verdade ou não, da próxima vez é melhor você guardar a sua opinião para você – Edu entrou na conversa com uma postura decidida – É sério, Mari. Eu e a Gabi nos damos bem e sabemos nos virar. Se precisarmos de ajuda, nós pedimos.

- Vocês é que sabem – ela deu de ombros, seus olhos azuis frios como gelo – Vou lá na frente encontrar um pessoal que acabou de chegar. Tchauzinho para vocês – eu era capaz de sentir o cinismo escorrendo dos seus lábios. Aff!

O Edu ficou olhando ela se afastar por um tempo antes de virar para mim e levantar as sobrancelhas em uma expressão questionadora.

- Bem que a Beca disse que ela iria tentar se fazer de amiga pra amenizar as suas mancadas - comentei, mexendo no cabelo. Eu estava agitada por causa da discussão, com o coração acelerado.

- Muita cara de pau da parte dela, né? - o carioca parecia não acreditar que aquilo era possível.

- A casa caiu para o lado dela, né? A realeza está perdendo o poder. Ela está querendo passar um pano para a situação ficar menos feia - por mais que eu quisesse não me estressar com a situação, era quase impossível ficar indiferente diante a postura dissimulada da Marília. Como alguém poderia ser tão egoísta?

- Mew, não tenho paciência pra gente assim. Parece que faz de tudo pra se mostrar... - Edu parecia realmente chateado.

- Eu só não consigo entender como fui amiga dela por tanto tempo. Como eu não enxergava isso? - desabafei, a voz tremendo de raiva.

- Na verdade, você não queria enxergar. Exatamente porque vocês eram amigas. E difícil ver o problema quando você faz parte dele - o carioca chegou mais perto colocando as mãos no bolso.

- E eu realmente fazia parte disso, infelizmente - lembrei de todas as piadas de mal gosto e preconceituosas da Marília que eu acabava apoiando só para manter o status de sua "BFF".

- Sabe... eu nunca te enxerguei como uma delas. Sempre te achei diferente, mais frágil... - ouvi o rapaz na minha frente falar com a voz fraca, como se as palavras tivessem escapado da sua boca.

- Como uma bonequinha de porcelana - revirei os olhos, impaciente.

- Não é isso - ele se apressou em consertar - É que, pra mim, você sempre foi um pássaro difícil de alcançar, daqueles que tem um canto triste e você quer colocar em uma gaiola para protegê-lo, só que ao mesmo tempo não tem coragem de capturá-lo.

Encarei o carioca sem saber o que dizer. Eu não esperava por aquela resposta tão sincera.

- Hmmm... Acho melhor a gente voltar para a festa - desconversei com medo que a conversa estivesse tomando um rumo pessoal demais.

Virei em direção ao Gueto e já estava dando o primeiro passo quando senti o Edu puxando o meu braço. Antes que pudesse fazer algo, sua boca já estava na minha, suas mãos me segurando delicadamente a minha cintura.

Foi um beijo bom, exatamente como eu imaginava que seria. Lento, do tipo que faz você querer ir além. Porém, eu me sentia diferente. Já não existia mais a ansiedade de tê-lo para mim e muito menos o medo de perdê-lo. Ele era um garoto bonito e que beijava bem e mais nada além disso. Não tinha expectativa, nem coração batendo forte, nada disso. O que existia era aquele momento, que decidi desfrutar até o fim.
- Eu queria tentar isso de novo... - sua voz soou doce no meu ouvido. Aah, como aquele garoto sabia ser sedutor quando queria...

Fitei seus olhos verdes de tempestade pensando na melhor maneira de respondê-lo. Como sempre, ele não havia deixado suas intenções claras com a sua fala.

- Você e os seus joguinhos de palavras - acabei expondo o que está pensando.

Ele ergueu as sobrancelhas, a expressão confusa. Eu conseguia imaginar os pensamentos tentando se organizar na sua cabeça. Aproveitei o momento de confusão para dar um passo para trás. Meu sinal de "alerta" dizia que o melhor era me manter longe.

De relance vi alguém vindo. Apertei o olho e me concentrei. Me surpreendi ao ver o Alê se aproximar com a cara de quem estava perdido em pensamentos.

Dei mais um passo para trás e me virei na direção do meu amigo. Ao captar para onde eu estava olhando, Edu também se virou e estalou os dedos chamando a atenção do primo - Ei, cara! "Tá" bem?

- Nossa, vocês estão aqui?! - o skatista estava no mundo da lua.

- Não, somos só uma ilusão d'ótica - o outro retrucou de forma irônica - É claro que estamos aqui. O que aconteceu com você?

- Eu beijei a Carol... - sua voz saiu fraca.

- Oi? Como foi isso, Alexandre? - perguntei, surpresa. Não achei que ele chegaria aquele ponto.

- Estávamos conversando de boa. Mas aí ela começou com uma história de arrependimento que matava, disse que sentia a minha falta e que só não tinha continuado a ficar comigo porque a Marília ficava zuando ela.

- Marília gosta de tomar conta da vida dos outros, né? - o carioca comentou de forma ácida.

- Tá, mas e aí? Pela sua cara você gostou do beijo - voltei a focar no assunto principal.

- Não, Gabs... Eu detestei - meu amigo mexia a cabeça enfaticamente, negando.

- Então por que está com essa cara? - fiquei sem entender.

- Porque é estranho. Há um tempo eu queria muito beijá- la. E agora que o jogo virou... - ele deu de ombros, querendo dizer que não significava nada. Eu entendia bem aquela sensação. Era estranho como empenhávamos todas as nossas forças construindo castelos de areia para as pessoas erradas. Será que havia, afinal, como saber quem é a tal pessoa certa antes de fazer planos? Ou, só o fato de planejarmos muito já significava que estávamos no caminho errado?  Será que o amor exigia mesmo tanto esforço e luta?

- Isso significa que você vai ficar com a Laís? - perguntei.

- Se eu vou ficar com a Laís? Eu vou é namorar com ela, casar, ter filhos... Hoje eu tive certeza do quanto ela é maravilhosa - ao ouvir a menção do nome da morena, os olhos do skatista brilharam.

- Vai com calma, cara. Você pode estar empolgado assim por causa do que acabou de acontecer - o Edu fez o papel de advogado do diabo.

- Calma, nada! Vou pedi-la em namoro agora mesmo - o Alê pegou o celular e desbloqueou a tela. Poucos segundos depois, o barulho que indicava o envio de audio no Whats soou e o garoto começou a falar - Laís, sua linda, quer namorar comigo? Eu queria muito ter você sempre ao meu lado, porque não é todos os dias que a gente encontra alguém legal, gente boa e, além de tudo, bonita que nem você. Acabei de perceber isso e não quero correr o risco de te perder por qualquer bobagem.

Quando ele terminou de falar eu e o Edu estávamos boquiabertos.

- Primo, você é maluco! - foi tudo o que o carioca conseguiu dizer.

- Foi muito sem noção? - ele pareceu cair na real da loucura que acabara de fazer.

- Foi um pouquinho - confessei rindo da situação - Mas, foi fofo. Tenho certeza que ela vai gostar.

- Vem, você precisa de uma cerveja - o primo o puxou pelo braço, também rindo. Meu amigo o seguiu, novamente com a expressão de alguém perdido. Coloquei a mão em seu ombro e os acompanhei, fazendo o possível para segurar o riso. O Alê era uma pesso única. Só ele para ser espontâneo e engraçado naquele nível...

 Quando chegamos ao ponto de concentração da festa, a maioria das pessoas estava sentada em um círculo, gritando e gesticulando para um garoto e uma garota que estavam no meio da roda.

- O que está acontecendo aqui? - perguntei, franzindo a sobrancelha.

- Parece uma roda de verdade ou desafio - o loiro respondeu.

- Pessoal, eu estou muito louco ou aqueles ali no meio são a Rebeca e o Caio? - o Alê apontou.
Demorou uns 10 segundos para que eu pudesse acreditar no que estava vendo. No centro do círculo, abraçados e trocando um beijo “de parar a rua” estavam as duas pessoas que eu nunca imaginaria que iriam sequer se falar um dia.

- Eu não estou acreditando no que estou vendo – consegui falar depois do susto. Se era pra tombar, a Beca tombou.

Quando finalmente se soltaram, a Rebeca estava com uma expressão pior que a do Alê depois do beijo com a Carol. Ela saiu apressada do meio da roda em nossa direção, o rosto mais vermelho que um pimentão.

- Quero ir embora da festa agora – disse, passando por nós que nem um foguete e indo em direção à saída.
Ficamos um encarando o outro sem entender nada até que o Fernando se aproximou.

- Gente, acho que a coisa foi séria – ele, que tinha uma expressão sempre sorridente e descontraída, estava com um ar de preocupado.

- Isso que dá ser tão nerd. Não aguenta nem uma brincadeirinha. Por isso que não gosto de estudar... – Alê comentou em voz baixa.

- Você não gosta de estudar por outros motivos, garoto. Não inventa! Agora, vem! Vou precisar de todo esse senso de humor para ajudar a nossa Hermione – Fernando disse já puxando o skatista para fora.

Encontramos nossa amiga sentada no meio-fio, com a cabeça sobre o joelho.

- Que foi, pequena nerd? Não conseguiu resolver o problema de matemática que o professor passou na aula?  – Alê já chegou fazendo piada.

- Não estou para brincadeira hoje, Alexandre – ela retrucou de forma ríspida.

- Eita! Calma! Não precisa de tudo isso – Fernando tentou acalmar os ânimos – Só queremos saber o que aconteceu.

- Eu não deveria ter aceitado aquele desafio bobo – ela choramingou.

- Relaxa, Bequita! Foi só um beijo. Todo mundo faz besteira na vida – lancei um olhar de relance para o Edu para que ela entendesse o recado.

- Mas esse não é o problema. A questão é que eu gostei – a garota confessou baixinho.

O Edu soltou um assovio baixinho e o Alê colocou a mão na testa.

- Senhoras e senhores – Fernando chamou a nossa atenção com a voz séria – o forninho caiu.
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Notas finais: o que não faltou nesse capítulo foi beijo, hein?

Cap foi mais curtinho, só pra tirar um pouco o “climão” que geralmente acompanha a história. E, gente, fala sério: o que foi a Marília fazendo a falsinha? Aff. Essa garota não tem jeito!

Próximo cap tem ressaca moral da festa. Eita que isso ainda vai render, viu?

Beijo, meninas!