quinta-feira, 28 de maio de 2015

Tutorial de como escrever comentários

Hey, gurias!

E aí? Como está a vida?

É o seguinte: ontem, eu e minhas amigas estávamos conversando sobre fanfics e comentários. O assunto era, mais especificamente, como é legal receber um feedback positivo, com opiniões, surtos, ideias e etc, etc, etc.

Foi daí que surgiu esse maravilhoso tutorial, criado e patenteado pela minha querida Taísa. Ela detalha, passo a passo, como escrever a “review” dos sonhos de qualquer autora e fazê-la muito, mas muito feliz mesmo!

É simples, é fácil, é prático e pode ser para você! ~~ lê com voz de anúncio de produtos mirabolantes na TV ~~. Acompanhe:

Passo 1 – Ler a fanfic;

Passo 2 – Emocionar-se com a fanfic e tomar as dores do personagem. Uma dica é vê-lo como o seu BFF encarando todas aquelas situações e dividindo todos os medos/alegrias/angústias/alegrias com você (e só COM VOCÊ);

Passo 3 – Registre seus pensamentos sobre a história. Exatamente tudo, sem se importar se é relevante ou não. Afinal, você está dentro da situação. Tem todo o direito de dar o seu pitaco;

Passo 4 – Posicione-se. Aconselhe o personagem;

Passo 5 – Não esqueça que lembretes mentais também são importantes para justificar a razão pela qual você está comentando;

Passo 6 – Deixe sua opinião sobre o futuro da história. Surpreenda o autor com ideias inusitadas e criativas;

Passo 7 – Faça uma avaliação do capítulo: elogie, critique, escreva o que achou. Autores agradecem.

Passo 8 – Publique o comentário e faça um autor feliz.

E aí? Gostaram das dicas? Eu acrescentaria mais uma observação: não espere chegar ao último capítulo para comentar! Fique à vontade para deixar sua opinião a qualquer momento da história.

Mas fala sério: com um tutorial desse, não tem desculpa para não comentar, não é mesmo? Deixem de ser BBB e ficar aí só espiando e venham fazer a alegria de um autor. Vocês podem mudar o nosso dia. Olha quanta responsabilidade está nas mãos de vocês!

Brincadeiras à parte, saibam que o comentário é o combustível que move o autor. Funciona como uma troca de energia: nós nos dedicamos a ter ideias, escrever e publicar e vocês mandam esses bons fluídos de volta em forma de opinião, surto, lágrimas, ou seja lá qual for a sua reação lendo.

Portanto, fiquem à vontade! A casa é sua! Mas não esqueçam que ela também precisa de vocês para permanecer de “pé”.

Capítulo 10 – Morde e assopra

Notas iniciais: O clima está tenso, Braaaasil! 
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- Booom dia, dorminhoca! Acorda!

Abri os olhos só o suficiente para ver minha mãe sentada ao lado da minha cama tentando me fazer acordar. Fechei os olhos novamente e me concentrei: eu não tinha aula, não tinha ensaio, tampouco algum compromisso de família. Então por que ela estava querendo que eu saísse da cama se, supostamente, aquele era o meu dia de folga?

- Vamos Gabriela, deixa de ser preguiçosa! Tenho uma surpresa para você! – ela pressionou sabendo que eu não resistiria: meu ponto fraco era a curiosidade.

Vencida pela vontade de descobrir o que estava acontecendo, me espreguicei e me sentei na cama, coçando a vista para tentar enxergar melhor.

- Como está a melhor Julieta dos últimos tempos, segundo a opinião do pessoal da Companhia Bolshoi? – dona Beatriz era só sorrisos. Parecia que tinha visto “passarinho verde”.

Passei a mão pelos cabelos relembrando a noite anterior: Edu falando que eu estava o surpreendendo, a nossa caminhada de volta para casa abraçados, a conversa na frente de casa até altas horas da madrugada, o beijo de despedida e a frase de “durma bem e sonhe comigo” que ouvi antes de deixá-lo. É, acho que poderia dizer que a minha noite foi boa. Bem boa...

- Com sono – resmunguei de volta. Por conta do dia cheio, eu não havia conseguido dormir direito. Fiquei acordada, mexendo no celular e relembrando os melhores momentos da apresentação, da alegria da minha mãe, das reações do público...

- Também, pudera! Ficou até tarde conversando na frente de casa...

Oooops! Pega no flagra novamente...

- Ai mãe, é a minha última semana de férias. Só quero aproveitar um pouco... – tratei de mudar de assunto antes que ela começasse um interrogatório sobre o Edu.

- Mas é exatamente sobre isso que eu quero falar – ela levantou com um brilho travesso nos olhos e foi até a escrivaninha que ficava do lado oposto do meu quarto. Observei enquanto ela parecia fazer esforço ao ajeitar algo em seus braços.

Assim que se virou, não acreditei no que vi. Dona Beatriz carregava uma bandeja de café da manhã completa. Uaaauu! Ser Julieta estava rendendo bons frutos...

- Bom... – fez uma pausa para ajeitar a bandeja entre nós duas sobre a cama – A apresentação ontem foi um sucesso. O pessoal do Bolshoi amou você e, assim que abrirem vagas para a companhia, vão me mandar um e-mail para agendarmos um teste – o sorriso de contentamento quase não cabia no seu rosto – Além disso, tudo indica que a nossa companhia será convidada para apresentar o espetáculo em festivais e premiações de balé em outras cidades. Hoje mesmo começo a trabalhar nisso! Mas, por enquanto, quero que você aproveite os seus dias de folga. Ainda falta uma semana para as aulas começarem, então aproveite o tempo livre. Nada de se preocupar com ensaios e com a dieta.

- Foi por isso que você montou esse café para mim? – eu quase não conseguia acreditar. A bandeja estava caprichada com sucos, cereal, salada de frutas, bolachas recheadas e – o que de longe me chamou mais atenção – um generoso pedaço de bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro: o meu predileto. Eu não lembrava a última vez que tinha comido um daquele!

- Isso mesmo! Se tudo der certo, em breve teremos que voltar aos ensaios. E ainda vai ter o colégio, né? Então quero que você descanse nesses dias, aproveite para repor as energias e se preparar para os desafios que vem pela frente...

Por mais que tentasse disfarçar, a última frase veio carregada de significados. Eu sabia que aquele ano seria decisivo para mim e minha mãe fazia questão de bater naquela tecla sempre que possível. Entre as principais escolhas, eu teria que decidir se a)eu conseguiria passar na audição do Bolshoi – ou de qualquer outra grande companhia de dança – e iniciar uma carreira profissional como bailarina b)escolher o curso que gostaria de estudar na faculdade – que, obviamente, teria que ser relacionado com dança para assim conseguir manter a escola de balé da minha mãe c)no meio disso tudo, tentar convencer a minha mãe a me deixar fazer um intercâmbio, porque na verdade não estava muito interessada nas duas primeiras alternativas.

- Você não vai comer? – ela interrompeu os meus pensamentos, olhando para mim de forma ansiosa.

- Já que você faz questão... – dei de ombros, fingindo indiferença. Mas assim que peguei o garfo na bandeja, ataquei o bolo sem nenhuma cerimônia. Meu Deus, como aquilo era bom!

- Vai devagar, Gabriela! Não é porque está liberado que precisa comer tudo de uma vez – dona Beatriz me repreendeu, mas fingi nem ouvir. Afinal, dieta liberada significava comer o que eu quisesse e na quantidade que bem entendesse.

- Bom, vou deixar você aproveitar o seu banquete! Tenha um bom dia, filha! – ela me deu um beijo na testa antes de se levantar sair. Devorei o meu café em minutos e passei o resto do dia no quarto, de pijama, só aproveitando o doce gosto de não ter nada para fazer.

***

- “Garoto do Rio, calor que provoca arrepio...” – ouvi alguém cantarolar da porta do meu quarto. Dei pause no seriado que estava assistindo jogada sobre a cama com o notebook, deixei a pipoca de lado, tirei os fones e dei de cara com a Carol me encarando.

- Que milagre é esse? – ela apontou para o pote de pipoca fazendo cara de impressionada.

- Estou livre da dieta e dos ensaios até segunda ordem. E que música é essa que você está cantando? – questionei enquanto me sentava na cama e fazia sinal para que ela entrasse.

- É Caetano Veloso, um clássico da música popular brasileira. Escolhi a dedo para homenagear o seu boy, Edu – minha amiga se sentou na minha frente, uma expressão sarcástica no rosto.

- Huuumm... Deixa eu adivinhar – fiz cara de desentendida -  Você quer saber tudo o que aconteceu ontem, certo?

- Não só o que aconteceu ontem, mas tudo que o vem acontecendo há tempos, mocinha! – exigiu.

- Ok, vamos lá... Do início – respirei fundo tentando organizar as ideias.

- Não, espera!

- O que foi?

- A ocasião pede algo especial – a Carol sorriu de um jeito “diabólico” – “Bora” fazer um brigadeiro de panela caprichado para colocar o papo em dia.

- Amiga, você é brilhante! – concordei de imediato com a ideia.

Animadas, levantamos e seguimos até o mercadinho que havia perto do condomínio para comprar os ingredientes. Depois, voltamos para a casa e a Cá assumiu o fogão enquanto eu soltava o verbo. Claro que ela fez questão de questionar cada mínimo detalhe e fazer muitas observações, interrompendo várias e várias vezes a minha narrativa.

- E foi assim que terminamos a noite de ontem... – encerrei meu relato sentindo a boca salivar só de encarar a panela de brigadeiro que esfriava em cima da bancada.

- Ai gente, quanto amor vocês dois! Esse jantar foi tudo de bom! Mãozinha dada, beijinhos, abraços e todo o mimimi que um casal tem direito! Está mais adiantada do que eu com o Caio – minha amiga analisou.

- Não vou nem começar a falar o que eu acho sobre o Caio... – mexi as mãos como se quisesse evitar o assunto.

- Eu sei, eu sei... – ela concordou de modo relutante – Mas agora é hora de falar o que euzinha aqui sei!

- Então diga, oras – pedi de modo impaciente.

- É o seguinte: Mari veio falar comigo esses dias no Whats. Falou que estava preocupada porque o Edu disse para ela que tinha gostado muito da Nathy e que a garota, por sua vez, tinha achado o carioca um gatinho... Mari disse que está rolando um climinha entre eles – seu tom de voz ficou sério e ela se sentou na minha frente na bancada, esperando ansiosa pela minha reação.

Fitei a panela sem saber o que pensar. Tudo era muito estranho! Até onde eu me lembrava, Edu e Natália só tinham se encontrado uma única vez, na festa do Gueto na qual eu trombei  com ele e machuquei o pé. Em nossas conversas ele comentava de todo mundo, menos dela. Sem falar que o garoto parecia estar empenhando em me conquistar. Por outro lado, o seu jeito misterioso e fechado abria espaço para várias e várias dúvidas.

- E tem mais – Carol acrescentou ao perceber que fiquei muda – Marília jura de pé junto que ele é super pegador e que você vai se machucar nessa história. Ela fica repetindo a todo momento aquele papo chato sobre você nunca ter se apaixonado e acabar se apagando mais do que deveria.

- Qual é a da Mari, afinal? Por que ao invés de ficar fazendo fofoquinha ela não tenta me ajudar? Se ela e o Edu ficaram tão amigos assim, por que ela não tenta descobrir algo útil a meu favor? – explodi. Já fazia muito tempo que estava com aquilo entalado na garganta.

- Sinceramente, eu também não estou entendendo nada... Desde que esse carioca apareceu a Má está estranha. Ela fica fazendo de tudo para chamar a atenção dele. Esses dias eu peguei o celular dela e vi a conversa dos dois. Você precisa ver! Fica puxando o saco dele, forçando uma amizade, saca? – ela fez careta, mostrando sua reprovação – E desde quando ela é tão amiga assim da Nathy para ficar do lado dela ao invés do seu? Até ontem ficava falando mal da menina para a gente, lembra?

Suspirei alto. Minha cabeça rodava com tantas informações. Poxa, por que justo quando aparecia um cara legal, uma das minhas melhores amigas resolvia criar problemas com isso?

- Calma, Gabs. Come um pouco de brigadeiro que eu acho que já esfriou – a Cá disse, já colocando a colher na panela e se servindo de uma generosa porção do doce.

Imitei o seu gesto levando o conteúdo à boca. O gosto era algo surreal. Eu já havia esquecido como um simples brigadeiro de panela tinha o poder de levantar a moral de qualquer garota – E agora, Carol? O que eu faço?

- Bom, não posso deixar de dar um pouco de razão para a Marília – ela começou a falar se deliciando com o chocolate – Você está realmente “apaixonadinha” pelo cara. Mas, na boa... Acho que a Má e nem ninguém tem que se meter nisso. Quem tem que decidir se vai dar certo ou não são vocês. Esse tal medo dele te machucar... Isso só você pode decidir.

- Eu concordo com isso... Só queria que a Mari me apoiasse ao invés de ficar complicando as coisas – fiz biquinho antes de pegar mais uma colherada de brigadeiro.

- Mas tem uma coisa – a Carol levantou o talher em tom de advertência – Você e o Edu não tem nada oficialmente. E infelizmente, isso te deixa na mesma situação que eu enfrento com o Caio: ele pode ficar com quem quiser. Ou seja, se realmente estiver rolando um clima com a Nathy, nada o impede de ir adiante.

- É, você tem razão... – comentei com a voz baixa. A última coisa que eu queria era ver o Edu ficando com outra garota, ainda mais uma conhecida.

- Mas sinceramente, acho que a situação está a seu favor. Tudo indica que ele está curtindo ficar com você. Acho que o melhor a se fazer é deixar rolar. Com o tempo vamos descobrindo os mistérios desse “garoto do rio” – a Cá disse em tom carinhoso, só para tentar melhorar a minha cara de triste.

 - É só o que eu posso fazer, não é mesmo? – dei de ombros dando a discussão por encerrada. Minha única saída era esperar que o tempo apontasse o que era certo ou errado naquela história.

***

Resolvi seguir o conselho da Carol e deixar o tempo correr, sem me preocupar com nada. O resultado foi uma semana tranquila e divertida. Eu acordava tarde todos os dias e gastava meu tempo assistindo séries ou comprando material e algumas coisinhas a mais que precisaria para o ano letivo. Geralmente, no final da tarde, eu saía e encontrava com o Alê e o Edu na rua de casa e ficava filmando as manobras de skate que eles tentavam aperfeiçoar.

A melhor parte, claro, era a hora de voltar para casa quando o carioca fazia questão de me acompanhar até a porta e ficávamos juntos. Eu já havia me acostumado com o seu jeito fechado e com a “rotina” que impôs para os nossos dias. Na frente do Alê, ele me tratava como uma amiga, conversando e fazendo brincadeiras. Mesmo que percebesse olhares atentos e um certo “cuidado extra” quando estávamos em público, os gestos carinhosos ficavam reservados exclusivamente para os momentos que ficávamos a sós.

Quando as aulas começaram, esse comportamento se repetiu. Eu meio que já esperava que o Edu não fosse me tratar de modo diferente na frente das pessoas, mas era estranho agir como se nada estivesse acontecendo. Eu precisava me segurar ao máximo para não dar nenhuma brecha, como mexer no cabelo dele ou dar um selinho na hora de cumprimentá-lo de manhã. Ele, no entanto, parecia nem se importar com isso.

Para não dar nenhum fora, passei a primeira semana de aula mais na minha, falando pouco, mas observando muito. E quanto mais eu via, mais eu me preocupava. O que a Carol comentara sobre a Mari estar se esforçando para chamar a atenção do Edu realmente era verdade. Ok, ela era o tipo o garota que adorava ser o centro das atenções e agradar a todos e aquilo nunca me incomodou. Mas estava na cara que ela estava concentrando uma energia extra para se tornar amiga do carioca. Dentro dos “esforços”, a Mari emprestou livros e anotações, apresentou todos os professores e foi extremamente simpática – ao ponto de deixar eu e a Carol um pouco enjoadas diante de tanta cordialidade.

Fora isso, não vi mais nenhum comportamento “anormal” por parte do Edu. Ele tratava todas as meninas – inclusive a Natália – de forma educada e simpática, mas sem grandes intimidades. Quanto a mim, conversámos sempre que havia uma “brechinha” entre uma aula e outra. Os assuntos eram mais “gerais”, como o conteúdo das matérias, filmes ou seriados, mas eu sentia uma espécie de “vantagem” por ter papos mais sérios com ele, como a mudança para a nova casa e a vinda do pai e do irmão para São Paulo. Como nos falámos muito por Whats, conhecia muitos detalhes da sua vida que ele não havia dividido com as outras pessoas. Concluí que isso deveria somar alguns pontos extras a meu favor e me dediquei a manter esse “vínculo especial” entre nós, já que aparentemente essa era a única vantagem que eu tinha. Se a Mari tentava ganhá-lo pela simpatia e a Nathy pela beleza – que ela tinha de sobra, por sinal – minha estratégia seria agir pelas “beiradas”, focando em oferecer o que elas não poderiam: o companheirismo.

 Bom, mesmo se eu não quisesse ficar na minha, meio que fui obrigada a isso... Afinal, a Mari resolveu se aliar de vez com a Nathy e suas amigas e me deixar cada vez mais de lado. Quando conversávamos, o seu assunto preferido era “como evitar desilusões amorosas”. Ela ficava comentando histórias de pessoas que ficaram com alguém e acabaram se iludindo. Claro que tudo isso era uma indireta sobre o Edu, mas eu sempre fingia ignorar as “dicas” e dar um jeito de fazer comentários focando o lado positivo da história. Era inevitável não se divertir com as expressões de brava que ela fazia ao perceber que suas alfinetadas não estavam funcionando.

Eu até tentei retomar nosso antigo relacionamento contando para ela que eu e o Edu estávamos ficando e que tudo estava indo bem, mas ela não ligou muito para a notícia. Pelo contrário: voltou a repetir aquele papo sobre eu me machucar e blá, blá, blá...

A Carol assumiu a posição de “neutra” nessa história. Como era amiga das duas, ela não opinava. Só escutava e dava alguns conselhos quando pedíamos.

No final das contas, passei a semana inteira presa na correria da volta às aulas, deveres de casa e curso de inglês e francês – que também haviam voltado de férias – e a ansiedade de tentar entender o que estava acontecendo. Se eu e o Edu estávamos nos dando bem, então por que ele agia daquela forma estranha? Por que não dávamos um passo adiante e assumíamos para todos que estávamos juntos? E se a Mari estivesse certa? E se ele estivesse apenas me enrolando? E se eu estivesse fantasiando demais, me deixando levar por um sentimento novo e completamente desconhecido?

Acabei descontando todas as minhas frustações em doces ao longo da semana. Eu passava no mercadinho e comprava um estoque imenso de chocolates, balas e guloseimas enquanto via vídeos na internet tentando não pensar em nada. Mas é claro que, quanto mais esforço eu fazia para tirar Edu, Mari e companhia da cabeça, mais eles apareciam para me assombrar.

As dúvidas só acabavam quando eu via a mensagem dele no Whats. “Estamos aqui fora. Vem prá cá”.
Incapaz de dizer não, eu me arrumava e descia para assumir o meu papel de “melhor amiga do Edu” até a noite acabar e receber minha recompensa, como uma boa menina. Era um ciclo vicioso do qual eu não enxergava a saída.

***

Só um assunto foi capaz de quebrar a tensão da primeira semana de aula e reunir o nosso trio como nos velhos tempos: o grito de Carnaval do Gueto.

Todos os anos, eu, Carol e Mari organizávamos uma festa à fantasia para celebrar o primeiro dia de folia. A comemoração já era considerada tradicional no colégio e todos os anos rolava uma certa expectativa sobre a festa, já que que era uma das poucas ocasiões que convidávamos pessoas que não faziam parte do nosso grupo para participar.

Com a proximidade do Carnaval, eu e as meninas deixamos um pouco as “brigas” de lado e passamos a nos concentrar nos preparativos: lista de convidados, convites, bebidas, petiscos e, claro, as nossas fantasias.

Levando em consideração que aquela poderia ser a nossa última festa de Carnaval – a previsão é que todas nós estaríamos morando em outras cidades no ano seguinte por conta da faculdade – resolvemos fazer “O” grito de carnaval. Caprichamos ao máximo na decoração e na seleção das músicas. Nos reunimos todos os dias na casa da Cá para recortar cartolinas, fazer downloads de músicas e escolher cada detalhe do nosso look.

Marília escolheu ir fantasiada de Rainha Elsa, do filme Frozen. Como era loira e tinha olhos azuis, a personagem cairia muito bem nela. Carol escolheu uma fantasia militar super sexy enquanto eu decidi que iria de sereia.

Mesmo encomendando os trajes em uma loja especializada, ainda passamos muito tempo pesquisando detalhes da maquiagem, cabelo e customização de algumas peças para dar um charme a mais à produção.

Aquele tempo ocupada acabou me fazendo bem. A agitação me fez comer menos doces. Além disso, era ótimo estar de bem de novo com as minhas duas melhores amigas. Mesmo que o clima não estivesse exatamente igual a antes, era como se estivéssemos experimentando um período de trégua. Eu só temia que aquele tempo de paz fosse o prenúncio de um período ainda mais tenso, como se estivéssemos apenas nos preparando para o conflito inevitável.

Minhas suspeitas foram confirmadas na quinta-feira à noite, véspera da festa. Como de costume, estava na rua do condomínio com o Alê e o Edu, quando vi no meu Instagram uma foto postada pela Nathy. Na imagem, ela aparecia abraçada com a Mari, as duas rindo muito de algo que não dava para saber o que era. A legenda dizia “Aberta a temporada para Mozão 2015”. Abaixo, um comentário da Mari chamou a minha atenção: “Estamos juntas, amiga. #PartiuRio #VamosVirarSurfistas #ORioÉNosso”.

Por mais que não estivesse escrito diretamente, o recado era claro. A Nathy realmente queria ficar com o Eduardo e a Mari estava disposta a ajudá-la – mesmo sabendo que estávamos juntos. Mas o que estava acontecendo, afinal?

- Planeta Terra chamando Gabriela! – o carioca estalou os dedos na minha frente tirando a minha atenção da tela – Vai ficar aí mexendo no celular ao invés de falar comigo?

Por mais que eu adorasse essas pequenas – e raras - demonstrações de ciúme que ele dava – minha mente estava trabalhando em uma velocidade muito rápida para comemorar aquele gesto. Toda a ansiedade e dúvida que vinham se acumulando dentro de mim durante aquelas semanas vieram à tona e não consegui me segurar. Eu precisava agir.

- Você vai amanhã na Festa do Gueto, né? – perguntei em tom frio e calculista.

- Não sei. Lembra que comentei que meu pai vem do Rio e que minha mãe está querendo aproveitar a família reunida para visitar meu irmão em São Paulo? – questionou em tom indiferente.

- Lembro sim. Se você for, me dá um toque? – pedi, ainda com a voz controlada.

- Aviso, pode deixar. Agora vem, você não queria aprender a andar de skate? Ou vai ficar aí no Whats? – ele provocou com o seu típico jeito mandão.

Levantei com um sorriso decidido no rosto. Eu havia cansado de ficar esperando o tempo passar. Era hora de entrar em ação e a Festa no Gueto seria o cenário ideal para o meu plano.
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Notas finais: Caraca, quantos mistérios.
E aí, gente? Edu está ou não afim da Gabi? E a Mari, o que diabos essa menina está aprontando? E o que será que vai rolar nessa festa?
Só digo uma coisa: o Grito de Carnaval no Gueto será inesquecível. Podem começar a esquentar os tambores porque teremos fortes emoções na passarela do samba.
E depois desse trocadilho horrível, eu vou embora! Hahahaha

Beijão e até semana que vem!


*** Bora para o próximo capítulo? Então clique aqui

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Capítulo 9 - Romeu e Julieta - Parte II

Notas iniciais: Quem estava com saudade de Gadu grita EU! hahahaha

Bora para a continuação do capítulo?
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No capítulo anterior:

Embora o movimento fora do teatro estivesse grande, não foi difícil arrumar um táxi disponível para me levar. Indiquei o meu destino e me sentei confortavelmente enquanto o motorista regulava o taxímetro. Durante o percurso, cacei meu celular na bolsa. O que não faltavam eram notificações de mensagens e comentários nas redes sociais. Mas claro que ignorei tudo ao ver que havia mensagens não lidas do Edu no Whats...

 “O que acha de uma comemoração especial depois da apresentação?”

Ele enviara a pergunta logo depois que nós falamos à tarde, enquanto fazia meu cabelo para o balé! Puts! Então foi por isso que ele perguntou se eu estava com o meu celular quando estávamos conversando nos bastidores? Ele estava querendo uma resposta para o seu convite?

Droga! Por que não vi aquela mensagem antes? Era claro que eu topava uma comemoração especial com ele! Aliás, nem precisava ser especial... Poderia ser comer um pão com ovo lá na frente de casa que eu nem iria me importar. Tudo o que eu queria era ficar com ele de novo. Desde o dia da nossa “dança”, nada mais havia rolado entre nós.

E agora? Eu já havia dito que iria para o Gueto, comemorar com o restante do pessoal. Não tinha como desmarcar. Chateada, digitei uma resposta:

“Poxa Edu, só vi o seu convite agora. Desculpa! Fiquei concentrada com a apresentação e acabei me esquecendo do celular... Se tivesse visto antes, nem teria combinado de ir para o Gueto”.

 Não demorou para que ele mandasse uma resposta.

“Ainda dá tempo de mudar de ideia...”

Sempre enigmático”, falei sozinha, o que fez o motorista me encarar com uma expressão confusa no rosto. Fingi não me importar com os olhares de esguelha do taxista e me concentrei na mensagem. O que ele quis dizer, afinal?

Bati a minha mão na testa, assustada com a minha falta de perspicácia. Era óbvio: ele queria que eu cancelasse a Festa no Gueto para comemorar só com ele! Só tinha dois problemas. 1 – Era certo deixar minhas amigas de lado? Afinal, elas estavam organizando uma festa para celebrar o MEU sucesso na apresentação. 2 – Mesmo que minha consciência não ficasse pesada em “dar o perdido” nelas, que desculpa eu daria para justificar a minha ausência na MINHA festa?

 Estava tão entretida buscando soluções para o meu problema que nem percebi que já havíamos entrado no condomínio. O motorista esperava pelas minhas instruções para chegar à minha casa. Me concentrei em indicar o caminho e, ao chegar na minha rua, vi o Edu abrindo a porta do carro da dona Melissa.

 - Pode parar aqui, por favor! – quase gritei para o taxista.

 Ele freou o carro com tudo me fazendo quase bater a cabeça no banco da frente. Atraído pela estranha movimentação, o carioca interrompeu o que estava fazendo para descobrir o que estava acontecendo.

  - Quanto deu, moço? – perguntei apressada, caçando o dinheiro na bolsa.

  Paguei a corrida e saltei do veículo, parando em frente ao Edu. Ele apenas me observava, uma expressão divertida no rosto. - E então? Mudou de ideia? – foi direto ao assunto, sem nem me dar tempo para tomar fôlego.

 Encarei aqueles olhos verdes tão intensos que estavam cravados em mim enquanto esperavam por uma resposta. Que se danassem as dúvidas, medos e até mesmo o peso da consciência por deixar as minhas amigas de lado! Eu queria mesmo era ficar com ele e nada mais.

 - Eu tive uma ideia, mas... não sei se vai dar certo – avisei com voz hesitante.

  - Huum... E o que é? – ele parecia realmente interessado.

 - Espere e verá – disse, pegando meu celular e discando para a Carol. O plano era extremamente ousado e tinha grandes chances de não dar certo, mas não custava tentar, não é mesmo? A ideia era a seguinte: ao invés de mentir e inventar mil pretextos para não ir à minha própria festa, eu simplesmente diria a verdade. A esperança era a Carol ficar empolgada com o meu “lance” com o Edu – se é que existia um lance – e resolvesse me ajudar.

Após cinco toques, ela atendeu o telefone parecendo estar muito animada – Central Gueto de Produções, Gabriela Borges falando.

- Cá, é a Gabi. Tudo bem? – comecei de jeito tímido.

- Poxa, não me diga! E eu achando que era o Chay Suede... – mesmo de longe dava para imaginar ela revirando os olhos – Fala logo, Gabriela! O que foi?

- O pessoal já chegou para a festa? – resolvi investigar antes de ir direto ao assunto.

- Mais ou menos... Mari e Alê estão aqui me ajudando. Resolvemos fazer pastel para comemorar sua apresentação. O resto do pessoal chega mais tarde...

Caramba! A Mari estava na cozinha ajudando a fazer pastéis? E tudo aquilo era para mim? Uau! Aquele era realmente o meu dia de glória.

- E eles estão perto de você agora? – continuei especulando.

- Não. Vim aqui no meu quarto pegar os copos de dose quando você ligou. Gabriela, desembucha logo de uma vez! O que está acontecendo? Sua mãe está pegando no seu pé? Porque se for isso, eu posso ligar para ela...

- Não, não! Calma!  - interrompi seu fluxo de pensamento. Seguindo o conselho que era melhor ir direto ao ponto, respirei fundo e comecei a contar – É o seguinte: o Edu me propôs uma comemoração especial. E eu queria ir – me afastei um pouco, sentindo meu rosto ficar vermelho. Não queria ficar falando daquele assunto com ele assistindo tudo de camarote.

- Comemoração especial? Como assim? – sua voz parecia chocada – Então ele quer mesmo ficar com você?

- Bom, eu diria que ele não só quer, como já conseguiu... – confessei.

- O QUÊ? Gabriela Navarro, me explique agora mesmo essa história! – precisei afastar o aparelho do ouvido por conta do grito que ele deu.

- Olha, eu juro que te conto tudo, detalhe por detalhe, mas depois. Agora, tudo o que você precisa saber é que já ficamos duas vezes e hoje ele me fez esse convite – fiz uma pausa, olhando para trás para checar se já estava longe o suficiente para ele não ouvir – E eu quero muito ir, Cá! Sei que vocês estão fazendo uma mega festa para mim e eu agradeço muito, muito mesmo! Mas, por favor, essa tal comemoração seria o encerramento de ouro para a noite perfeita que tive hoje. Juro que eu não pediria a sua ajuda se não fosse importante... – implorei, abrindo o meu coração.

Por um momento, ela não disse nada. Cheguei a prender a respiração, com medo de que dissesse não.

– Ai meu Deus, minha amiga está apaixonada! Gabi, que coisa mais linda! – ela riu de mim.

- Carolina, isso é sério! – chamei sua atenção.

- Claro que é sério! Você está caidinha por ele! E pelo jeito que o Edu te olhava naquele palco, ele também está bem interessado em você... – ela estava tão empolgada que parecia que, na verdade, eu estava contando que ela acabara de ganhar na Mega-Sena.

- É... a gente tem se dado bem... – contei, um sorriso brotando no meu rosto por conta da última frase da Cá.

- Tá, eu topo ajudar. Mas e aí, falo o quê para o pessoal?

- Fala que a minha mãe me prendeu no teatro para falar com o pessoal do Bolshoi. Eu já comentei sobre essa companhia com vocês, é capaz de alguém lembrar. E de fato, eles vieram ver o espetáculo, mas não sei minha mãe conseguiu falar com eles. Fugi antes que ela realmente me fizesse ficar para apresentá-los a mim, mas... ninguém precisa saber disso – improvisei uma desculpa qualquer. Dona Beatriz já havia atrapalhado tantas festas por causa das exigências com dieta e ensaios que eu duvidada que alguém fosse desconfiar que dessa vez tratava-se de uma mentira.

- Beleza, essa será a desculpa, então – ela concordou de imediato.

- Carol, só mais uma coisa... – fiz uma pausa, tomando coragem – Por favor, não conta nada para a Mari ainda – pedi. Era muito estranho manter segredo da pessoa que considerava como minha melhor amiga, mas tudo estava perfeito demais para que ela ficasse implicando comigo.

- Hum... Já até sei o porquê você está dizendo isso. A Mari anda implicando bastante com você por causa do Edu, né? Ela conversou comigo hoje sobre isso. A loira tem uma opinião bem contrária sobre vocês dois juntos, viu? Já colocou mil e um empecilhos – a Cá me alertou.

- É, estou sabendo... – concordei, contrariada – Mas não quero falar disso agora. Não quero estragar a minha noite. Quero que hoje tudo termine bem...

- Então vai logo se arrumar para o seu boy! Mas ó, amanhã quero um relatório completo dessa comemoração, hein? E mais, quero saber tudo o que aconteceu até agora, porque você, sua falsa, não me contou nada! – ela se fingiu de brava.

- Dou minha palavra de honra! Juro que te conto tudo! – prometi.

- Combinado! Agora vou descer e dar a triste notícia que a dona da festa não vem para a comemoração... Ai, ai... Só aqui no Gueto que essas coisas acontecem! – ouvi minha amiga rir de forma descontraída e imediatamente soube que estava tudo bem. Respirei fundo. Pelo menos não ficaria me sentindo mal – Beijo, Gabi! Divirta-se muito, você merece! E ahhh, você estava linda hoje! De verdade... Arrasou muito, amiga! Diva absoluta daquele palco...

- Obrigada, Cá! Beijo para você também! Qualquer coisa manda mensagem no Whats...

Desliguei o telefone com um sorriso bobo no rosto. Além de tudo estar dando supercerto, o dia estava rendendo ótimas histórias: o carinho e apoio da minha mãe, todos os detalhes dos bastidores da peça e, claro, o fato de eu não comparecer à festa dedicada a mim por causa do convite do carioca.

- E então? Deu certo? – Edu questionou quando voltei a me aproximar. Ele me encarava com um brilho divertido no olhar, o que me fez ficar vermelha imediatamente. Será que ele havia escutado a minha conversa com a Cá?

- Sim. Falei com a Carol e criamos uma desculpa para justificar a minha ausência hoje lá no Gueto. Já está tudo certo... Quer dizer, só falta descobrir quais são os seus planos... – mexi no cabelo, tentando parecer despretensiosa. Na verdade, estava louca para descobrir o que ele estava planejando.

- Relaxa, que já, já você vai descobrir... Te encontro daqui uma hora na frente da sua casa, pode ser?

Como assim te encontro daqui uma hora? Nem uma dica do que iríamos fazer ou de onde iríamos? Como eu poderia me arrumar daquele jeito? – Hããã... Eu não posso saber quais são os planos para a noite? – Insisti, me esforçando para disfarçar o tom de irritação na voz. Eu simplesmente odiava aquele ar de mistério que o Edu insistia em criar em torno dele.

- Se fosse você para você saber eu já teria contado... – ele respondeu de maneira curta e grossa.

Bufei de frustação antes de começar a caminhar para a minha casa, sem nem me preocupar em me despedir. Minha vontade naquele momento era de desistir de tudo, mandá-lo para um lugar nada bonito e ir para o Gueto comer os pastéis da Carol.

- Hey, Gabs... – ouvi ele me chamar. Relutante, me virei para vê-lo – Não se preocupe! Tenho certeza que você vai gostar – mesmo com a curta distância que nos separava consegui vê-lo piscar para mim e dar um sorriso de lado, antes de entrar na casa carregando uma sacola que tinha tirado do carro – na certa era algum favor para a dona Melissa.

Mais uma vez a sensação de estar dividida tomou conta de mim. Não sabia se continuava irritada com o seu jeito mandão e imprevisível ou se ficava feliz por ele estar tentando me impressionar. Respirando fundo, decidi deixar a noite me mostrar a resposta. Quem sabe o Edu não me surpreenderia?

***

Depois do banho e de caprichar no hidrante corporal, lá fui eu para o sacrifício de escolher uma roupa. Revirei meu guarda-roupa inteiro à procura de algo que pudesse causar uma boa impressão. Só o fato de não saber para onde iria já complicava bastante a situação. Não bastasse isso, eu queria me vestir como uma garota de atitude, sexy, segura de si. Só que nenhuma das minhas roupas combinava com esse estilo. Tudo era tão sem sal...

Em situações normais, eu correria pedir ajuda para Mari. Ela sempre sabia como combinar as peças... Porém, naquele dia, eu teria que me virar sozinha.

Depois de muito custo, escolhi um vestido branco de renda e bota de cano curto. Deixei o cabelo solto, fiz uma maquiagem básica, escolhi uns acessórios que combinavam, joguei tudo que ia precisar dentro de uma bolsa a tirocolo básica e lá fui eu. Antes de sair, chequei o relógio: estava vinte minutos atrasada. Bom... não dá para ficar linda em só uma hora, né?

Assim que abri a porta já dei de cara com o Edu. Ele estava com a mesma roupa da apresentação: camisa jeans com camiseta branca por baixo, calça preta e tênis branco. Enquanto eu matava para me arrumar, ele nem se deu o trabalho de escolher uma roupa. Homens... Mas apesar de tudo, estava muito bonito. O tipo de garoto que não passa despercebido.

- Uaauuu – foi tudo que disse assim que sai de casa. Sorri ao concluir que havia causado uma boa impressão. Ponto pra mim!

- E aí? Estou de acordo com a ocasião? Muito difícil me arrumar sem saber para onde vou – perguntei assim que cheguei mais perto. Ok, ele estava cheiroso – mais do que o habitual - e tinha dado um jeito no cabelo geralmente bagunçado. Sinal que não era só eu que tinha me preocupado com a produção.

- Quem faz a ocasião somos nós... – ele desconversou – Mas está ótima assim. Agora vamos – pegou minha mão e começou a caminhar sem falar mais nada.

Fazia uma noite quente e a lua cheia iluminava o caminho. Seguimos uma boa parte do caminho ainda em silêncio, só o meu coração batendo aflito dentro do peito. Nunca havia experimentado algo tão intenso: ao mesmo tempo que desejava desesperadamente ficar com aquele garoto, parte dos meus instintos me pediam para sair correndo dali. Eu não sabia se poderia realmente confiar nele, principalmente quando agia daquele jeito.

- Fica tranquila que não vamos caminhar muito. O Alê me disse que tem um restaurante japonês legal aqui na frente do condomínio... – disse, certamente depois de reparar na minha postura receosa.

Huumm... Japonês?! Então ele lembrou que eu gostava de comida oriental? Senti meu corpo relaxar um pouco e resolvi dar um voto de confiança ao rapaz. Ele parecia estar bem intencionado, apesar da personalidade fechada. Talvez eu só precisasse insistir um pouco para fazer ele se “abrir” mais...

Passamos pela portaria do condomínio, atravessamos a rua e entramos no restaurante. Eu sempre costumava pedir a comida dali para entregar em casa, mas nunca tinha entrado no estabelecimento. Por dentro, o espaço era bem confortável: decoração oriental, funcionários bem vestido e iluminação diferenciada. Agradeci mentalmente o Alê pela sugestão.

Sentamos em uma mesa mais reservada e fizemos nossos pedidos. Deu para perceber que o carioca não curtia muito comida japonesa, mas ele me acompanhou mesmo assim.

De início, o papo girou em torno da minha dieta. Eu estava faminta, e era muito bom poder comer à vontade, sem ter alguém contando cada caloria. Mas claro que isso despertou a curiosidade do Edu, que fez várias perguntas sobre as minhas refeições. Depois falamos da apresentação, contei vários detalhes dos bastidores e ele comentou as cenas que mais havia gostado.

Por fim, falamos do ano letivo que começaria dali uma semana. Descobri que ele já estava matriculado na mesma escola que eu, o que só despertou ainda mais minha ansiedade. Como seria encontrar com ele todos os dias?

O papo estava animado quando uma mensagem da Carol chegou no meu celular “Por aqui tudo bem, ninguém desconfiou de nada. E por aí? Já conquistou o bonitão?”

Ri sem jeito depois que terminei de ler. Conquistar o “bonitão” era uma tarefa muito mais complicada do que ela poderia imaginar.

- O que foi? – ele questionou dando um gole na sua Coca Cola.

- Nada... Só a Carol querendo saber como estão as coisas – expliquei, digitando uma resposta rápida só para avisar que tudo estava indo bem. Detalhes eu contaria só depois, com calma.

- Vocês são bem amigas, né?

- Sim, a gente se conhece desde criança. Crescemos juntas...

- Dá para perceber que elas se preocupam bastante com você. A Marília, principalmente – algo em seu tom de voz chamou minha atenção.

- Como assim? – resolvi investigar.

- Sei lá... Ela está sempre falando que eu preciso ter cuidado com você. E o Alexandre comentou algo de você ser a boneca de porcelana do grupo – ele tentou parecer indiferente, mas dava para perceber que aquele não era um comentário à toa. Ele estava avaliando o terreno, vendo se era seguro dar o próximo passo.

- Essa história de boneca de porcelana é mais por causa da minha aparência: pele branquinha, cabelo escuro e tudo mais. E também porque eu sempre fui mais na minha, nunca gostei de me meter em confusão, e tem o lance da minha mãe: os ensaios, a comida balanceada, todas as restrições... E, sei lá... Acho que a Mari está preocupada porque eu sempre peço a opinião delas para tudo. Sou um pouco insegura, às vezes. Mas dessa vez tenho agido de acordo com o que acho certo e isso deve estar a preocupando. É como se ela perdesse o controle, entende? – respondi com o máximo de honestidade que consegui reunir naquele momento. Se ele realmente queria saber onde estava se metendo, o melhor que eu tinha a fazer era colocar as cartas na mesa logo de uma vez.

- Entendo... Dá para sacar que ela é uma pessoa gente boa... – ele fez uma pausa – Mas, sei lá... Só quero dizer que a gente não é amigo, nem nada assim... Conversamos nas festas, hoje na peça, ela falou um monte de coisa, jogou um monte de indireta... Mas eu estou na minha, saca?

- Assim como eu também estou na minha... – enfatizei, começando a ficar um pouco mais irritada com aquela situação do que deveria.

- É que eu... – dava para perceber que ele estava bem desconfortável. Enquanto ele procurava as palavras eu imaginava o que a Mari teria dito para deixá-lo daquele jeito – eu não quero te machucar...

- Edu, ninguém está se machucando aqui. Acho que já sou bem grandinha para tomar as minhas próprias decisões. É como eu disse, elas são minhas amigas há muito tempo, gosto muito das duas, mas no fim das contas, a vida é minha. Já faz um tempo que tenho procurado por isso, por um pouco mais de “independência”, por um pouco de mudança, um respiro diferente... Talvez esse seja o momento. Acho que o que importa é a gente estar bem, estar curtindo esse momento, você não acha? – tentei falar como uma garota madura e séria, mas acho que acabei me atrapalhando ao longo do discurso, porque terminei a fala como se fosse uma garotinha assustada se defendendo de uma acusação. Mesmo assim, mantive a pose de “durona”, só para não dar o braço a torcer.

- É, acho que você tem razão... – ele me ofereceu um sorriso de canto de boca o que me fez somar mais uns pontinhos no placar a meu favor – Você é muito bacana, sabia? É bonita, gente boa, inteligente e dá para perceber que tem um ótimo caráter. Acho que estou me surpreendendo muito mais do que poderia imaginar com essa bonequinha de porcelana – ele acariciou os meus cabelos de um modo suave e, sem pressa, se aproximou para beijar os meus lábios.

Fechei os olhos, curtindo o momento e ouvindo a música que tocava ao fundo.

*** Link para músicahttps://www.youtube.com/watch?v=lp-EO5I60KA ***

I'm thinkin' bout how (Estou pensando em como)
People fall in love in mysterious ways (As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas)
Maybe it's all part of a plan (Talvez seja parte de um plano)
I'll just keep on making the same mistakes (Eu continuarei a cometer os mesmos erros)
Hoping that you'll understand (Esperando que você entenda)

That baby now (ooh) (Que, querida, agora)
Take me into your loving arms (Me abrace com seus amáveis braços)
Kiss me under the light of a thousand stars (Beije-me sob a luz de mil estrelas)
Place your head on my beating heart (Coloque sua cabeça em meu coração que bate)
I'm thinking out loud (Estou pensando alto)
Maybe we found love right where we are (Talvez tenhamos achado o amor bem aqui, onde estamos)

Depois do beijo, o abracei forte, repousando a cabeça sobre o seu ombro. Naquele momento eu só conseguia pensar em uma coisa: aquela era a melhor noite da minha vida!
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Notas finais: O lance Gabi e Edu está ficando sério, né? Mas o que vocês estão achando dessas interferências da Mari?

É gente, daqui pra frente a coisa vai ficar mais e mais tensa. Preparem-se!

Beijão e ótimo final de semana para todos!


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