segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Capítulo 17 - Bandeira branca

Notas iniciais do capítulo:
Olá pessoal!
É o seguinte: Cap estava ficando gigante, então já sabem, né? Dividi em duas partes. 

A primeira está "morna" por um único motivo: Estamos entrando na reta final da fic e algumas coisas precisam acontecer antes de chegarmos à cena do hospital (lembram? Aquela lá do prólogo?)
Bom, capítulo de hoje é dedicado a mim mesma (Rs!) e a minha amiga Rachel (Quem já foi no Trii sabe quem é), porque nós somos as pessoas que mais ficam gripadas nesse mundo! kkkk
Boa leitura meninas!
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Eu não havia me enganado quando tinha imaginei que bons ventos estavam a caminho. Desde o dia que fiz as pazes com o Luan no meio do corredor do hotel as coisas melhoraram bastante.

Primeiro porque ele e o Welligton haviam aderido ao apelido “Cristalzete” e agora só me chamavam daquele jeito. As vezes o Luan também me chamava de “Nega” ou de “Linda”, mas isso era mais quando estávamos sozinhos. Na frente das outras pessoas eu era a “Cristalzete” ou a Cris.

Os nossos “papos” também melhoraram bastante. Agora ao invés de sentar cada um em uma ponta do avião nós ficávamos perto um do outro e comentávamos sobre os mais diversos assuntos: desde os shows, passando por filmes até chegar em novelas. Fiquei surpresa ao descobrir o quanto o Luan era “noveleiro”.

O único ponto negativo da nossa reconciliação era eu ter que ir para a academia com o Luan. Segundo ele, gastar minhas energias “malhando” junto com ele iria me fazer ficar menos “braba”. Eu fingi que acreditei naquela desculpa “esfarrapada” dele. A verdade por trás daquele “papo” era que ele odiava ficar se exercitando sozinho. O que ele queria era mais uma “vítima” para sofrer nas mãos do Gutão, o personal trainner do Luan.

– Ai... Eu vou morrer – Falei depois de espirrar cinco vezes seguidas. Eu já estava gripada há alguns dias e não aguentava mais me sentir daquele jeito: nariz escorrendo, febre, dor no corpo e vontade de nunca mais sair da cama.

– Para de drama, muié. Tá falando isso só porque quer fugir da academia hoje, não é? – Luan ficou me provocando enquanto terminava de tomar o seu café da manhã que na verdade já estava mais para um café da tarde por conta do horário. O Luan não gostava de comer sozinho e por isso eu estava no quarto de hotel onde ele estava hospedado lhe fazendo companhia. Aquela era uma das funções que foram adicionadas ao meu cargo depois que nós fizemos as pazes.

– Eu juro que eu até iria para a academia feliz se eu melhorasse dessa gripe. Já acabei com três caixas de lenço de papel e já tomei tanta aspirina que já perdi as contas – Falei triste.

– Oh nega, a coisa tá ruim mesmo, hein? Já falei para você passar no médico, mas você é teimosa que nem uma porta! – Ouvi o meu “patrãozinho” dizer enquanto eu o encarava com o meu olhar de “Do que mesmo você me chamou?”

– E não adianta me olhar com essa sua cara de enfezada não – Ele completou ao perceber a minha expressão de irritação – É verdade mesmo, você é muito teimosa, Cristal. Ó, “vamo” fazer o seguinte: Eu te libero da academia hoje e você aproveita o tempo livre e vai até o hospital aqui da cidade, combinado? – Luan e suas “barganhas”. Já estava ficando craque em “escapar” das propostas do meu “patrãozinho”.

– Ih, hoje não vai dar, não... O meu irmão vai passar aqui no hotel mais tarde para a gente se encontrar. Ele está trabalhando em um salão náutico que está rolando aqui na cidade – Comentei. Nós estávamos no Guarujá, litoral norte de São Paulo, onde todos os anos o estaleiro da família do Diogo e do Léo participavam de uma importante feira de barcos que era realizada por lá. Como dei sorte de o Luan fazer um show na cidade no mesmo dia, aproveitei para marcar com o Tomás para colocar o papo em dia.

– Sério que você vai encontrar com o seu irmão? Poxa Cristal, que bacana! Já faz um tempão que você não vai visitar a sua família, não é? – O Luan ficou todo empolgado com a notícia que eu havia acabado de lhe dar. Parecia até que era ele quem iria receber a visita e não eu.

– Pois é... Eu sempre ligo para casa para saber como estão as coisas, mas ir para lá mesmo faz um tempinho que eu não vou! – Confessei.

– Poxa, eu queria conhecer o seu irmão também, nega...

Oi? Luan e Tomás juntos? Nem pensar! Seria demais para a minha cabeça...

– Acho melhor não... Você e o Tomás juntos iriam me enlouquecer! – Falei rindo.

– Por que? Ele é “brabo” que nem você? Ou você ficou com toda a chatice e a teimosia da família? – O Luan provocou.

– Senhor Luan Santana, vê se me faz um favor... Vai para o seu treino e me deixa em paz, tá bom? – Falei nervosa. Odiava quando o Luan ficava me provocando daquele jeito.

– Eita que eu adoro quando você fica bravinha assim – Ele riu – Inté mais, Cristal. Fala pro seu irmão ficar aí para eu poder conhecê-lo, tá bom? – Ele falou levantando-se da cadeira e pegando a sua mochila com os itens que ele usava durante os treinos com o Guto. – Beijão, nega. Fui...

Fiquei olhando o Luan passar pela porta do quarto e não pude evitar sorrir sozinha. Por mais que ele me irritasse com as suas “implicâncias” eu estava adorando aquele clima de “somos melhores amigos” que estava rolando entre nós. Eu só precisava tomar cuidado para que aquela amizade não ficasse “colorida” demais, ou eu acabaria tendo problemas.

***

– Cristal? Tô aqui embaixo no saguão. Desce aí, maninha – Ouvi a voz do meu irmão depois que atendi a sua ligação no meu celular.

– Tomás, você chegou! Já tô descendo. Não sai daí – Eu estava tão feliz que iria ver o meu irmão que por um momento eu até me esqueci da minha gripe. Sai do meu quarto, peguei o elevador correndo e praticamente voei até o saguão. Mas, a minha animação acabou na mesma hora que vi quem estava ao seu lado o acompanhando.

– Laura? – Exclamei sem esconder a minha surpresa. A irmã do Leó e do Diogo estava parada ao lado do Tomás me encarando com uma expressão curiosa no rosto.

Fiquei parada sem saber o que falar. Na minha frente estava o meu irmão, alto, com a pele queimada de sol, cabelos castanhos bagunçados e olhos cor de mel, vestido com o uniforme de calça social e camisa polo do estaleiro ao lado da Laura, que poderia muito bem ser confundida com uma modelo de passarela: alta, magra, cabelos pretos lisos e sedosos, pele alva e a postura de uma verdadeira dama. Aquela era a Laura, a filha mais velha do “seu” Francesco. Olhando para ela ninguém duvidava que ela era dona de uma verdadeira fortuna.

– Cristal, quanto tempo! O que aconteceu com você? Que roupas super descoladas são essas? – A Laura correu para me abraçar enquanto não parava de comentar sobre o meu cabelo e a minha aparência.

Para ela deveria ser mesmo uma grande surpresa me ver daquele jeito. Desde que eu havia começado a viajar com o Luan eu estava me vestindo mais de acordo com o estilo do meu “patrãozinho”. Eu andava abusando das botas, vestidos menos “caretas”, jeans justos e camisas xadrez. Muito ao contrário do que eu costumava usar na época que trabalhava no estaleiro: roupa social, sapato de salto e de bico fino e cabelo liso e geralmente preso.

– Cris, você tá linda! Olha isso, Tomás... O que esse Luan anda fazendo com você, Cris? – A Laura comentou me encarando da cabeça aos pés. Achei melhor não contar para ela o quê o Luan andava aprontando comigo. Ela poderia se surpreender...

– Calma Laura! Deixa eu abraçar a minha irmã também. Depois vocês fofocam sobre moda, cabelos e esmaltes – Meu irmão comentou antes de vir e me dar um abraço carinhoso. Era incrível a saudade que eu sentia daquele menino.

– Eu não sabia que você viria, Laura – Finalmente consegui recuperar o fôlego para falar alguma coisa.

– O Tomás comentou que você estava na cidade. E como você não responde mais os meus e-mails e nem retorna as minhas ligações, resolvi vir pessoalmente para checar como está - Ela comentou imitando um tom de voz bravo para reclamar da minha falta de comunicação com ela – O Léo ia vir também, mas de última hora apareceu um cliente super chato lá no estande e ele teve que ficar. Aliás, você precisa conferir o estande que eu montei para o estaleiro lá na feira. Tá lindo...

Oi? Eu tinha entendido direito? O Léo também queria vir me encontrar? Eram muitas surpresas para um dia só.

– Ah, que chato que o Léo não pode vir – Tentei disfarçar antes de dar o bote – Mas por que ele viria com vocês? Tipo, quero dizer... O Léo não é muito desse tipo de coisa, sabe? De ficar encontrando amigos em hotéis por aí...

– Ah, ele disse que está com saudades de você! Afinal de contas, você sumiu, né? Nossa, ele iria se surpreender te vendo desse jeito toda linda – A Laura comentou. E eu precisava confessar que aquele “papo” dela não estava fazendo muito sentido para mim. Para falar bem a verdade, ela estava me deixando muito confusa.

Achei melhor mudar o foco daquela conversa e parar de falar do Léo. Até porque a minha experiência me dizia que depois do Léo ela iria começar a falar do Diogo.

Chamei os meus convidados para tomarem um suco comigo no restaurante do hotel. Conversamos quase a tarde inteira e colocamos todas as novidades e os “bafos” do estaleiro em dia. Fiquei sabendo que o meu irmão agora era gerente de vendas e que a Laura estava lançando uma nova coleção de itens decorativos para barcos inspirados na África, cenário da sua última viagem de férias.

O papo rolou super animado e, para minha sorte, nenhum dos dois quis comentar a minha saída do estaleiro. Ninguém da minha família sabia o real motivo da minha demissão da empresa do “seu” Francesco, e o meu irmão não havia concordado muito com a minha saída. Mesmo assim ele me apoiou, assim como os meus pais, mesmo eu dando uma desculpa “esfarrapada” de que queria conhecer novos horizontes na minha vida profissional. Eu não poderia contar para eles que na verdade eu estava fugindo do Diogo e por isso estava trocando de emprego.

A Laura também nunca entendeu muito bem a minha saída, mas ao contrário do meu irmão, ela sabia que a minha demissão estava relacionada com algo que o Diogo fez. Ela e o Léo haviam descoberto aquilo por causa de um funcionário da marina que tinha me visto deixando o barco na noite que tudo aconteceu. Se a Laura resolvesse tocar naquele assunto na frente do meu irmão ela me deixaria em um beco sem saída.

– Cristal, e a gente não vai conhecer o Luan? Preciso ver pessoalmente quem é o seu novo patrão e me certificar que ele está te tratando bem – A Laura brincou depois de muito tempo de conversa.

– Ih, ele deve estar por aí no hotel. Hoje ele tem o dia livre e está aproveitando para colocar o treino físico em dia – Respondi – É capaz de ele aparecer por aí daqui a pouco. Como o movimento no hotel não está muito grande é até possível que ele consiga dar uma “fugida” do quarto.

– E você vai nos abandonar mesmo? Não volta para o estaleiro? – A Laura me perguntou de repente.

– Estou gostando muito desse meu novo trabalho. Voltar para o estaleiro não está nos meus planos agora – Respondi. Eu não pensava em voltar, principalmente com o Diogo trabalhando lá.

– Uma pena. Meus irmãos sentem muito a sua falta – Pelo tom de voz da Laura saquei que ela estava querendo me dizer alguma coisa. De repente percebi que aquela não era uma simples visita de cortesia. A Laura estava ali para me sondar, por isso ela estava falando tanto no Léo e no Diogo. Ela estava querendo descobrir alguma coisa, eu só não sabia o quê. De repente fiquei tensa com medo das verdadeiras intenções da minha ex-patroa.

– Bom meninas, o papo está ótimo, mas eu preciso voltar para a feira. É agora à noite que o evento costuma “bombar” e eu preciso estar lá para não perder as melhores oportunidades de vendas – Meu irmão disse enquanto dava os últimos goles na bebida que ele havia pedido.

– Já vai? – Fiz “biquinho”. Eu mal tinha conseguido conversar com o meu irmão.

– O dever me chama, maninha! Mas eu adorei te ver bem desse jeito. Detesto ter que assumir, mas acho que você fez uma boa escolha saindo do estaleiro – Ele falou enquanto se levantava para me dar um beijo de despedida – Você está linda! A mãe vai adorar saber disso – Ele riu.

– Ah, manda um beijo grande para eles. Fala que quando eles menos esperarem eu apareço por lá – Avisei.

– Darei o recado. Se cuida, maninha! E não deixa de mandar notícias – Ele se despediu de mim e depois se virou para a Laura para perguntar – Vai comigo?

– Hãã... Não, Tomás! Vou ficar mais um pouquinho matando as saudades da Cristal – Ela deu um sorriso que não me convenceu.

– Já entendi... Agora é a hora do papo de meninas, né? Então é melhor eu ir embora mesmo. Tchau, bons fuxicos – Meu irmão brincou antes de nos deixar a sós. Eu não sabia o porquê, mas eu senti o clima ficar pesado de repente.

– Cris, eu precisava conversar um assunto em particular com você. Será que você poderia me escutar por um minuto? – A Laura pediu.

– Claro, Laura. Eu só não posso me estender muito. Daqui a pouco preciso cuidar dos preparativos para o show – Avisei.

– Não precisa se preocupar, Cristal. Eu serei breve e já vou direto ao ponto: O Diogo me contou o que aconteceu entre vocês – Ela falou isso em um tom frio e por um momento eu fiquei em dúvida se ela estava apoiando a atitude do irmão.

– Sabe? – Optei pela cautela, afinal de contas ela poderia estar blefando.

– Lembra aquele dia que te liguei para contar que o Léo que fiquei sabendo que a sua demissão tinha a ver com o Diogo por causa daquele funcionário da marina que te viu sair chorando do barco? – Confirmei com a cabeça e ela continuou – Então, desde esse dia o Léo tem apertado o Diogo para saber o que ele fez com você. Sabe o que é mais engraçado, Cristal? Quando você foi embora, o Léo achou que você simplesmente tinha o abandonado... Ele ficou com raiva de você e por isso disse que não iria te pedir para voltar – Ela mantinha o mesmo tom de voz frio. Eu não sabia o que estava acontecendo com a Laura. Ela geralmente era uma pessoa alegre e de bem com vida. Eu poderia sentir que ela estava com problemas.

– Mas, ele precisou que você fosse embora para perceber que você não era mais a “menininha” que brincava na praia com ele. E quando ele descobriu que foi o Diogo que fez você se afastar, aí o Léo virou outra pessoa. Você nem acreditaria se visse... Ele está confrontando o Diogo, lutando para impor as suas próprias opiniões e até tomou gosto pela parte da administração dos negócios da família. O Léo mudou muito desde que você pediu demissão, Cristal – A Laura completou sem me encarar nos olhos.

– Fico muito feliz pelo Léo, mas o que isso tem a ver com o Diogo? – Perguntei tentando entender aquela situação.

– Você sabe que eu nunca me dei muito bem com o Diogo, né? – Ela olhou para mim em busca da confirmação antes de continuar – Pois bem. Desde que você foi embora o Diogo também está diferente. Ele ainda é a mesma pessoa arrogante de sempre, mas ele andava muito preocupado com alguma coisa. Quando o Léo descobriu que ele estava envolvido na sua demissão ele quase surtou. Foi aí que ele resolveu abrir o jogo comigo. Um dia nós dois ficamos trabalhando até mais tarde na empresa e eu vi que ele estava muito mal. Eu perguntei se poderia ajudá-lo em alguma coisa e ele desabafou comigo. Falou que tinha te enganado se passando pelo Léo para ficar com você... – Ela fez uma pausa. Eu tentava controlar a minha vontade de chorar. Para mim nunca era fácil me lembrar daquela história.

– Cristal, eu só queria te agradecer por você não ter denunciado o meu irmão. Sei que ele errou, mas acredite, ele se arrependeu. Sei que não é fácil acreditar nisso partindo do Diogo, mas ele se arrependeu de verdade. Ele não queria te perder, e está sofrendo por isso... Só que o Diogo tem aquele jeito dele e nunca vai dar o braço a torcer. Mesmo por baixo ele vai dar um jeito de parecer por cima – A Laura comentou rindo como se achasse graça do jeito “marrento” do irmão.

– Eu não fiquei quieta pelo seu irmão, Laura. Fiz isso pela minha família e pelo “seu” Francesco. Meu pai e meu irmão trabalharam a vida inteira na empresa de vocês e o seu pai sempre foi muito legal com a gente. Eu não teria coragem de jogar uma bomba dessas no colo dele – Falei tentando segurar a raiva dentro de mim. Eu não conseguia acreditar que mesmo depois de saber de toda a verdade a Laura defenderia o Diogo.

– Foi uma atitude de muita coragem a sua, Cristal. E eu fico realmente muito grata por toda a consideração que você teve com a nossa família e com a nossa empresa não falando nada para niguém. Isso teria rendido o escândalo do ano se tivesse saído na mídia – Ela disse mantendo a sua frieza. Eu estava espantada com a atitude da Laura.

– Tudo bem Laura, agora já passou... E se você não se importa, eu prefiro não ficar falando sobre esse assunto – Pedi com a voz um pouco fraca.
– Eu entendo, Cristal. Eu só preciso te pedir uma coisa... Eu sei que você gostava do Léo, e sei também que ele anda se questionando sobre o quê realmente sente por você. Mais cedo ou mais tarde ele vai acabar te procurando para tirar essa história a limpo. Acho que ele só está esperando o Diogo resolver contar o que aconteceu naquele barco aquele dia, o que eu acho que nunca vai acontecer – A Laura revirou os olhos como se aquilo fosse uma piada. - Por isso eu vim até aqui. Eu preciso que você me prometa que não vai contar nada para o Léo sobre essa história. Ele e o Diogo já têm diferenças demais, eles não precisam de mais um motivo para brigar.

Oi? Era sério aquilo? A Laura estava me procurando pensando no bem-estar do Diogo e do Léo? E quem pensaria em mim?

– Desculpa Laura, mas não faz sentido o que você está me pedindo. Eu conheço o Léo e sei que ele não concordaria com as atitudes do irmão. Eu fiz tudo o que eu pude para preservar a família de vocês. Eu me afastei, mudei de emprego e nunca mais procurei nenhum de vocês. Mas, se algum dia o Léo vier me procurar para saber a verdade, eu vou contar tudo para ele – Mantive firme a minha posição. Aquele pedido da Laura não tinha o menor cabimento.

– Cristal, só peço que você seja razoável. Eu tenho trabalhado para unir os dois novamente e fazer com que eles voltem a se dar bem. Uma notícia dessas poderia abalar para sempre a relação dos dois – Ela ainda tentava argumentar.

– Desculpa Laura, mas isso já não é um problema meu – Respondi curta e grossa.

– Cristal, por favor, estou te pedindo isso como uma amiga – A minha ex-chefe apelou.

– Se você fosse mesmo minha amiga não estaria me pedindo uma coisas dessas. Na verdade você estaria muito mais preocupada comigo do que com o seu irmão – A raiva tomava conta de mim. Não dava para acreditar que uma pessoa tão bacana como a Laura poderia defender o traste do Diogo.

– Cristal, entenda, eu preciso fazer com que eles se entendam para o bem da empresa. Meu pai precisa dos dois trabalhando juntos...

– Olha Laura, me desculpe, mas essa conversa não vai nos levar a lugar algum. Só quero deixar algo bem claro para você: Se o Léo vier me procurar querendo saber o quê o Diogo fez comigo, eu vou contar a verdade para ele...

– Tá certo, Cristal, se é assim que você quer – A Laura fez uma cara feia para mim que eu fingi não entender – Só queria te pedir mais uma coisa: Já faz um tempo que o Diogo tem te procurado para conversar. Dá mais uma chance para ele, escuta o que ele tem para te falar...

Agora a Laura estava passando de todos os limites. Escutar o quê o Diogo tinha para me falar? E o que ele iria dizer? “Olha Cristal, eu sei que eu estraguei a sua vida, mas será que nós podemos ser amigos?”. Francamente, ou a Laura havia perdido o juízo ou ela estava se deixando levar pelo egoísmo do irmão.

Achei melhor nem responder aquela pergunta. Eu estava tão nervosa que seria capaz de falar muitas más criações para a minha ex-patroa. Para a minha sorte, o Luan e o Welligton entraram no restaurante interrompendo a conversa “amigável” que eu estava tendo com a Laura.

– Olha, apareceu a margarida! Cristal, você não responde o seu rádio, não? Estamos te chamando a horas. Tivemos um imprevisto com a programação do show, e eu estou tentando falar com você e nada... – O Welligton me deu um pequeno sermão.

Droga! Com toda aquela confusão eu havia me esquecido completamente da vida. Eu tinha colocado o meu Nextel no modo silencioso e o jogado de qualquer jeito na bolsa. - Desculpa Welligton, eu me distrai aqui. Mas o que aconteceu, é algo urgente?

– Não, mas eu preciso que você me ajude – O secretário me respondeu com a voz tranquila o que me deixou mais aliviada.

– Cristal, cadê o seu irmão? – O Luan perguntou encarando a Laura da cabeça aos pés. Pelo jeito ele não tinha ido com a cara dela.

– Ele já foi embora, Luan. Aliás, essa aqui é a Laura. Ela é filha do dono da empresa onde eu trabalhava antes – Apresentei a minha acompanhante de má vontade.

– Laura, é? – O Luan também fez cara feia. Com certeza ele lembrou que ela era a irmã do Diogo e do Léo.

– Prazer – a Laura levantou-se da mesa e cumprimentou os dois – Aliás, eu preciso parabenizá-los. Trabalhar com vocês tem feito muito bem a Cristal – Ela comentou com um sorriso no rosto tentando parecer mais simpática do que ela realmente era.

– É porque na nossa equipe só trabalha gente de bem. Quando a gente fica em um ambiente assim a gente também melhora – o Luan respondeu na mesma hora para ela. Não pude deixar de sentir orgulho do meu “patrãozinho” naquele momento. Ele tinha calado a boca da Laura em grande estilo.

– Bom, então vamos, né? Laura, a gente se vê – Falei curta e grossa para ela. Não estava afim e prolongar a nossa conversa.

– Até mais, Cristal. E pensa em tudo o que conversamos, ok? Se mudar de ideia é só me procurar – A Laura me aconselhou enquanto me dava um beijo no rosto. Depois ela se despediu dos meninos e seguiu para a saída do hotel.

– O quê vocês conversaram, Cristal? – O Luan não fez cerimônias e foi direto ao ponto.

– Depois eu explico, Luan. Agora a gente precisa se concentrar no show... – Falei me sentindo pior do que eu estava naquela manhã. Aquela conversa com a Laura me deixou com uma dor de cabeça horrível e um arrepio estranho no corpo, como se eu sentisse que seria mais difícil do que eu imaginava deixar aquela família para trás de uma vez por todas.

***

Trabalhar durante o show não foi fácil. Minha cabeça doía, meu corpo todo estava dolorido e eu não parava de espirrar. Para piorar, eu deveria estar com uma febre muito alta, porque já havia colocado todas as blusas que eu tinha e o frio que eu estava sentindo não passava.

A conversa com a Laura ainda estava na minha mente, o que fazia a minha cabeça doer ainda mais. O Luan me encarava preocupado. Ele me perguntou mais de duas vezes o quê eu e a minha ex-patroa tínhamos conversado, mas eu continuei dizendo que eu explicaria tudo para ele quando me sentisse melhor. Eu não sabia o que ele estava pensando, mas eu poderia apostar que ele estava imaginado algo ruim.

– Nossa, acho que um show nunca demorou tanto para passar – Comentei com o Welligton enquanto nós assistíamos o Luan cantando no palco. Eu estava delirando por causa da febre ou o Luan ficava ainda mais bonito quando estava cantando?

– “Cê” tá mal, hein Cristal? Por que você não vai descansar um pouco? Depois quando o show estiver acabando eu te chamo – Ele me sugeriu.

– Acho que vou aceitar essa proposta – Falei me sentindo muito fraca – Vou tirar um cochilo lá na van. Lá vai estar mais silencioso. Espero vocês no carro para ir para o hotel.

– Combinado. Mas já se prepara... O Luan tá doido para saber o que a tal de Laura veio te dizer hoje. Ele tá achando que ela te chamou para voltar a trabalhar no estaleiro e tá morrendo de medo que você queira aceitar essa proposta – O Welligton me avisou.

– Nem que ela quisesse eu voltaria. Mas depois eu explico tudo com calma para o Luan – Falei antes de sair.

Não sei como consegui chegar até o local onde a van estava estacionada, mas pelo menos aquela noite eu estava com sorte. O motorista estava por perto e abriu a porta para eu entrar. Eu praticamente me joguei em um dos bancos e menos de dois minutos depois eu apaguei completamente. Eu só lembrava que tinha dormido e sonhado com o Luan.

***

Quando abri os olhos novamente o dia já estava claro. Levantei assustada me sentindo completamente perdida. Olhei em volta. Eu estava em um quarto de hotel que se parecia muito com aquele que nós estávamos hospedados. Concluí que alguém havia me levado para o hotel, mas aquele não era o apartamento que eu estava hospedada. Aquele era mais chique, mais sofisticado.

Olhei para mim. Eu estava deitada em uma cama, um edredom daqueles bem “fofinhos” e chiques cobria as minhas pernas. Eu não podia ver, mas conseguia sentir que não estava vestindo nada além da minha calcinha da cintura para baixo. Imediatamente um sinal de alerta se acendeu na minha cabeça.

Chequei o quê eu estava vestindo da cintura para cima. Respirei mais aliviada. Uma camisa xadrez abotoada quase até o último botão cobria o meu corpo. Pelo menos na parte de cima eu estava vestida descentemente. Olhei de novo para a camisa. Não era um modelo feminino. Puxei pela memória, eu precisava lembrar aonde eu já havia visto aquela camisa.

Quando eu me dei conta da onde eu conhecia aquela peça quase cai da cama. Aos poucos eu fui me dando conta de onde eu estava. Muito devagar virei o meu rosto para o outro lado da cama. Deitado ao meu lado estava o dono da camisa dormindo como um anjo.

– Luan? – Eu praticamente gritei. Eu só poderia ainda estar delirando por conta da febre. Ou então eu ainda estava sonhando. Tinha que ser uma daquelas duas opções, tinha que ser!

– Bom dia, nega – O Luan me respondeu com a voz sonolenta.

Ai meu Deus, eu não estava sonhando nem muito menos delirando. Eu estava era no quarto do Luan vestida só com a camisa dele. E agora, o que eu iria fazer?
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Notas finais do capítulo:
Cristal no quarto do Luan vestindo só uma camisa? E ela ainda me diz que não sabe o quê fazer? Fala sério né, Cristalzete! kkkk
E aí, amores? O que vocês acham que aconteceu?
No próximo cap eu conto tudo, ok?!
Beijo grande e não se esqueçam: Façam uma quase-escritora feliz, comentem! kkkk

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Capítulo 16 - Teus segredos

Notas iniciais do capítulo:
Capítulo 17 está aqui, finalmente!
Cap tá morno, mas vocês já conhecem o esquema, né? Tudo isso porque o próximo estará melhor.
Para variar só um pouco, Cristal e Luan brigaram de novo! E, depois do Diogo, chegou a vez do Léo causar a discórdia no cap.
É isso meninas! Divirtam-se!

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Algumas semanas depois...

O Luan era um homem de palavra. Assim como ele havia decidido naquela noite que jogamos verdade ou desafio na minha casa, eu assumi definitivamente o lugar da Dagmar e passei a ser a assessora de imprensa do Luan em todos os shows e eventos que ele fazia por todo o Brasil. A Dag adorou a “folga” que ela ganhou e foi uma verdadeira “mestra”, me passando todos os “truques e macetes” para não dar nenhum furo e não prejudicar a carreira do nosso “patrãozinho”.

A desculpa que o Luan tinha usado para essa repentina “troca” de assessoras, aliás, foi justamente que a Dag estava cansada demais e que precisava descansar um pouco. Por isso, ele achava justo que eu e a minha “chefinha” revezássemos essa função. Coincidência ou não, o Luan havia colocado na internet o vídeo que nós tínhamos gravado no camarim dele antes do show no Vila Country. O vídeo fez ainda mais sucesso que o primeiro, e por isso as fãs subiram uma TAG no Twitter “QueremosDiárioDeBordoLS”. Juntando o pedido das fãs com a mais que merecida “folga” da Dag, o Luan tinha o motivo ideal para me fazer viajar com ele. Até o Anderson concordou que ter uma pessoa da mesma idade viajando com o meu “patrãozinho” poderia fazer bem a ele, e de quebra, os vídeos seriam ótimos para divulgar ainda mais a carreira do Luan.

E assim eu arrumei as minhas malas e, em algumas poucas semanas, já conhecia mais cidades do que eu jamais poderia ter sonhado na minha vida. E como o Luan também havia prometido, a nossa relação era estritamente profissional. Para falar bem a verdade, a nossa relação era quase nula. Nós falavámos somente o necessário e quando era necessário. Quando viajávamos juntos, ele ia em um lado do “Bicuço” e eu me sentava lá na outra ponta. Nós não almoçávamos nem jantávamos juntos, e o Luan me chamava apenas de Cristal. Sem “nega”, “linda”, amore” ou qualquer outra coisa do tipo. Era Cristal e ponto.

Meu “patrãozinho” estava seguindo a risca o acordo que ele havia me proposto: Ele não se apaixonaria por mim e eu não me apaixonaria por ele, o que significava que não poderia existir nenhuma intimidade entre nós.

O Luan estava cumprindo a palavra dele e aquilo só me deixava ainda mais confusa. Desde a nossa conversa lá em casa duas coisas não saiam da minha cabeça. A primeira era o que eu realmente sentia pelo Léo. Depois de tudo o que tinha acontecido entre mim e o irmão gêmeo dele, eu não conseguia mais distinguir se o Léo ainda mexia ou não com o meu coração. E o fato de a gente nunca mais ter se encontrado e nem se falado não ajudava muito. Eu sabia que estava chateada porque ele simplesmente se esqueceu de mim durante todo aquele tempo. Mas tinha um pedacinho dentro de mim que conhecia o Léo o suficiente para saber que ele sozinho nunca tomaria a atitude de vir me procurar. Ele sempre precisava que eu ou a Laura ficássemos praticamente “empurrando” ele para que tomasse uma atitude e fosse atrás daquilo do que ele queria. Querendo ou não isso alimentava uma pequena esperança dentro de mim, a esperança de que ele ainda fosse me procurar.

A segunda coisa que não saía da minha cabeça e não me deixava em paz era atitude do Luan. Ele havia movido “meio mundo” para me fazer viajar com ele. Tudo isso para me deixar segura e longe do Diogo. Até aquele momento ele tinha sido tão carinhoso e atencioso comigo que eu cheguei até a imaginar que poderia rolar algo entre nós se não existissem tantas promessas e acordos entre a gente. Mas, desde que eu tinha embarcado naquele avião, tudo tinha mudado. O Luan me tratava de uma forma séria, fria... Eu sabia que eu deveria estar feliz por ele seguir o acordo e não me fazer perder o meu emprego, mas aquela distância entre nós mexia comigo. Eu não sabia o que fazer quando estava perto dele. Eu tentava chamar a sua atenção de alguma maneira, mas era como se ele tivesse bloqueado todas as “brechas” entre nós. No entanto, o que mais doía dentro de mim era ver que ele também não estava feliz. Ele disfarçava e tentava manter o mesmo tom brincalhão de sempre, mas eu sabia que ele não estava 100% bem.

A única coisa boa em toda aquela loucura foi o fora que eu dei no Diogo. Ele insistia em me chamar para jantar para que nós pudéssemos conversar, e a última coisa que eu queria na vida era conversar com ele. Por isso, da última vez que ele me mandou um SMS eu fui categórica na resposta:

Sinto muito Diogo, mas tenho mais o que fazer do que perder meu tempo com você. Vê se me esquece!”. Claro que o fato de eu estar bem longe de São Paulo me ajudava a ter coragem de dar “um passa fora” bem dado no meu ex. Mas nem a minha pequena vingança conseguia me alegrar. Aquelas últimas semanas haviam sido muito tensas.

– Você e o Luan levaram a sério mesmo esse acordo que vocês fizeram lá na sua casa, né? – O Welligton comentou comigo nos bastidores de um show no interior do Rio de Janeiro aonde o Luan iria se apresentar naquela noite.

Era muito difícil de acreditar, mas desde que o meu “patrãozinho” tinha aberto o jogo com o Welligton e contado tudo que havia acontecido entre nós, o Testa estava nos apoiando. Ele ajudou o Luan a convencer o Anderson que eu deveria viajar para acompanhar os shows e sempre “quebrava o gelo” entre nós quando eu o Luan ficávamos sem saber o que fazer um na frente do outro.

Eu não sabia exatamente o quê o meu “patrãozinho” tinha contado para o Welligton, mas na primeira viagem que fizemos juntos ele apenas me disse que me entendia e que eu poderia contar com ele para o que eu precisasse. Aparentemente ele não achava mais que eu era uma “pirigueti” interessada em ter “uma noite” com o Luan.
No fim, eu fiquei muito feliz com a atitude do Welligton. Mais do que nunca eu iria precisar de um amigo ao meu lado para encarar todas aquelas novidades que haviam surgido na minha vida. Era muito bom ter o Testa como amigo, e não como inimigo.

– Sim, o Luan é uma pessoa de palavra. E eu também – Respondi meio sem ânimo. Nós estávamos esperando os seguranças trazerem as fãs sorteadas para entrarem no camarim. Quinze Luanetes que teriam o direito de abraçar e beijar o Luan. Eu começava a sentir ciúmes delas...

– Cristal, você sabe por que eu não fui contra a esse rolo todo que você e o Luan criaram? – O Welligton perguntou sério referindo-se ao nosso acordo.

– Não... – Nós nunca tínhamos conversado muito sobre aquele assunto. Fiquei curiosa para saber o quê o “Testa” iria me dizer.

– Eu trabalho há muito tempo com o Luan. E eu nunca o vi desse jeito... Aquela noite que ele saiu da sua casa, ao mesmo tempo que ele estava preocupado e meio chateado com o que vocês conversaram ele também estava feliz. O Luan sempre trabalhou demais, sempre teve muita responsabilidade... O que o Anderson disse que seria bom ter alguém da mesma idade que ele por perto é a mais pura verdade. Acho que faz muito tempo que o Luan não é só o Luan, sabe? Sem precisar pensar na carreira e no sucesso. Você é capaz de fazer esse Luan aparecer, o Luan de verdade, sabe? E é por isso que eu apoio toda essa loucura de vocês...

Fiquei sem saber o que falar. As palavras do Welligton me pegaram de surpresa. De repente eu entendi porque ele e o Luan se davam tão bem. Eles eram muito mais que “patrão” e “empregado”. Eles eram amigos. - Você tá falando sério? – Perguntei ainda sem acreditar no que havia acabado de ouvir.

– Claro que to falando sério, né Cristalzete! – O Welligton brincou – Mas ó, se você quer saber de uma coisa, esse acordo de vocês não vai muito longe! Vocês são muito ruins em disfarçar as coisas. Tá na cara que um tá afim do outro...

– Eita Testa, para quem achava que eu seria só mais uma na cama do Luan, você tá sendo muito bonzinho comigo! – Falei aquilo em tom de brincadeira, mas era a mais pura verdade. Eu ainda sentia um pouco de mágoa por causa do que ele havia me dito naquele dia na frente da casa do Luan.

– Ah, Cristal, “cê” me perdoa pelo o que eu te disse naquela noite, né? – O Welligton ficou meio sem jeito – Mas naquela época eu realmente não achava uma boa ideia vocês dois ficarem juntos. E para falar bem a verdade, se você tivesse ficado com o Luan antes eu acho que você seria mesmo só mais uma na cama dele. Mas é essa “brabeza” sua que conquista o nosso “patrãozinho”.

– Para de falar besteira, vai... – Falei meio sem jeito e querendo mudar de assunto – Alá, as fãs já chegaram. Hora de trabalhar “Testa”.

***

Todas as fãs entraram no camarim, tiraram fotos, beijaram e abraçaram o Luan. E eu fiquei ali, apenas assistindo ele distribuindo charme e amor para todas as Luanetes. Tinham fãs de todas as idades. “Novinhas”, mães e filhas, meninos... A família LS era muito diversificada.

Chamei a última fã da lista quando duas adolescentes de uns 17 anos iam deixando o camarim.

– Luana, pode entrar – Falei na porta que dividia o lugar onde o Luan estava atendendo as fãs do resto dos bastidores.

A tal Luana veio caminhando até mim e eu quase caí para trás quando a vi. Ela usava um vestido tão curto e tão decotado que eu nem sabia se poderia chamar aquele pedaço de pano de vestido. A loura “oxigenada” chegou mais perto e assim pude conferir o resto do visual. Salto de quinze centímetros, maquiagem carregada e cabelo todo trabalhado na escova. Traduzindo, a tal estava vestida para “matar”.

O efeito “matador” da “prigueti” foi se espalhando pelos bastidores. Os seguranças se contorciam para dar uma última espiada antes de ela entrar no camarim, e o Welligton quase babou quando a loira passou por ele. E o Luan, bom o Luan foi o Luan de sempre. Ele abriu os braços e abraçou a “pirigueti” com aquele jeito todo carinhoso dele.

Meu sangue ferveu na hora. “Calma Cristal, calma”, repeti o meu mantra mentalmente. Respirei fundo e tentei manter a minha pose. Eu não poderia dar uma bandeira daquela na frente de todo mundo.

A “pirigueti” manteve o seu plano de ataque. Ela quase se jogou para cima do Luan e veio com um “papinho” de que ele estava ainda mais irresistível depois que havia começado a fazer musculação.

– Pô, cê acha mesmo, linda? Brigadão! Eu fico me matando que nem uma “égua veia” naquela academia, mas acho que tá tendo resultado, né não? – Aquele exibido comentou enquanto mostrava o braço para a tal Luana.

– Nossa Luan, se os braços estão assim fico imaginando como está o “tanquinho” – Ela falou. E eu estava louca para ver como ia ser bonito a minha mão voando na cara daquela “pirigueti”. “Calma Cristal, calma”, repeti mais uma vez.

– Ah, vamô para o hotel mais tarde que eu posso te mostrar como está o tanquinho. Cê tem alguma coisa para fazer depois do show? – O Luan fez o convite.

Cachorro, bandido, sem vergonha! Como o Luan poderia usar uma cantada tão “barata” como aquela?

Não aguentei. Fingi que meu celular estava tocando e sai do camarim. Eu sentia o meu sangue “ferver” Cafageste! Ele e aquela pirigueti se mereciam mesmo.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem para o Welligton.

“Tô indo checar se está tudo certo lá na frente. Toma conta desse ‘cachorro’ e vê se bota ele na coleira. Senão nem show ele faz hoje”.

Fechei o meu Nextel e sai bufando para checar se estava tudo ok com o palco.

***

Passei o show inteiro emburrada. Estava tão nervosa com o Luan que eu nem conseguia assistir a sua apresentação. A minha sorte foi que o organizador do evento, um tal de Rodrigo, veio conversar comigo e me ajudou a me distrair. Ele estava tentando me convencer a ir para uma festa que ele e os amigos estavam organizando. Eu não estava disposta a aceitar, mas conheci a irmã dele, a Marjorie, que me garantiu que a festa seria legal.

Olhei de novo para o palco. Lembrei do Luan chamando a tal de Luana para ir para o hotel com ele. Fiquei vermelha de raiva na mesma hora.

– Olha Marjorie, quer saber? Eu vou nessa festa sim! Me passa o número do seu celular, eu só vou encerrar o meu trabalho por aqui e te ligo para combinarmos! – Falei decidida. Se o Luan podia levar “piriguetis” para o hotel eu também poderia ir a uma festa com os meus novos “amigos”.

***

O show terminou e eu segui para os camarins. O pessoal da equipe já estava desmanchando os equipamentos e toda a banda junto com o Luan logo iriam para o hotel para descansarem.

– O show foi ótimo, pessoal! Quebramos tudo como sempre! – O Welligton parabenizou todos da banda enquanto saía do palco.

– O show foi ótimo mesmo, como sempre. A melhor banda de todas, né? – Cumprimentei os músicos enquanto eles seguiam para os bastidores. Apesar de cansados, eles sempre deixavam o palco com a adrenalina lá em cima. A energia que eles transmitiam era algo incrível. Devia mesmo ser uma sensação ótima cantar e tocar para todas aquelas pessoas.

– Rapaiz, a casa tava cheia hoje,hein pessoal?! Tava lindo demais! – O Luan comentou enquanto pegava uma toalha para secar o suor do rosto.

– Foi ótimo mesmo, Luan – O Welligton comentou enquanto ia arrumando as coisas para seguir para o hotel - Pessoal, o “Penumbra” já está lá fora esperando vocês. Cristal, você vai mesmo ficar por aqui? - Eu já havia combinado com o Testa que eu iria à festa com a Marjorie e com o Rodrigo. O secretário havia me dito que não havia problema algum. Já o Luan, pela cara que tinha feito, não tinha gostado muito da novidade.

– Vou sim, Testa. Já combinei com o pessoal, vou pegar uma carona com a Marjorie – Falei tentando parecer confiante. Por dentro eu estava uma pilha de nervos. Eu não estava acostumada aceitar aquele tipo de convites e tinha medo de cair em outra enrascada como a que o Diogo aprontou comigo, mas eu queria muito mostrar para o Luan que eu também sabia me divertir e por isso estava disposta a levar o meu plano adiante.

– Eu só vou pegar a minha bolsa lá no camarim e aproveitar para retocar a minha maquiagem – Avisei.

– Divirta-se, então. Só não esquece que amanhã a gente viaja cedo – O Welligton me advertiu.

– Pode deixar, qualquer coisa eu durmo no Bicuço amanhã. Agora deixa eu ir senão perco a minha carona – Falei enquanto entrava no camarim. Atrás de mim ouvi o Luan falar com a tal pirigueti.

– Só vou pegar umas coisas no camarim também e aí nós já vamos, tá minha linda? Pode ir descendo com o Welligton – Eu tinha tentado ignorar a presença daquela loira aguada, mas ouvir o Luan tratá-la daquela forma só serviu para me deixar ainda mais nervosa.

“Calma Cristal, calma”, repeti para mim mesma abrindo a minha bolsa e pegando a minha nécessaire de maquiagem. Posicionei-me em frente ao espelho e tentei me concentrar no que eu estava fazendo. Menos de um segundo depois o Luan entrou no mesmo cômodo onde eu estava.

– Então a Cristal vai para uma festa? – O Luan comentou enquanto pegava a sua mochila que estava pendurada em uma cadeira e começou a colocar alguns objetos pessoais que estavam em um balcão dentro dela. Ele estava a alguns poucos metros de mim, mas nós não nos olhávamos. Eu continuei passando o meu rímel enquanto ele terminava de recolher os seus acessórios.

– Pois é... O organizador aqui do show me convidou – Falei tentando não estender o assunto.

– E toda aquela pose de “braba” e aquela história de que nunca mais iria se apaixonar por ninguém, hein Cristal? Resolveu mudar os seus planos? – Ele tinha voltado até a cadeira onde havia pegado a mochila momentos antes. Ele apoiou a bolsa em cima da mesa que estava ao lado enquanto fingia que estava organizando os seus pertences dentro da mala. Eu saquei na hora que aquilo era um plano para ficar ali enrolando enquanto eu estivesse me arrumando.

– Estou só indo a uma festa. Continuo sendo “braba” como você diz, e sair com pessoas diferentes não significa que eu vá me apaixonar por alguém. – Disse com um tom de voz seco. Eu queria emendar que eu não era como ele que ficava com qualquer uma, mas achei melhor não tocar naquele assunto.

– Mas você sabe que essa sua promessa é furada, não é? Porque você sempre foi afim daquele tal de Léo – Ele parou de fingir que mexia na mochila e me encarava pelo espelho parado atrás de mim. Pelo seu reflexo pude perceber que ele não estava muito feliz com aquela situação. Tentei disfarçar o que eu estava sentindo, mas a minha imagem no espelho não me deixou mentir. Eu tinha sentido o golpe. O Luan tocou em uma das questões para as quais eu ainda não tinha resposta, o Léo.

– Você não tem o direito de falar isso. Eu não te contei toda a verdade para você ficar usando isso contra mim na primeira oportunidade – Falei olhando-o pelo espelho. – Eu tenho os meus motivos para não querer me apaixonar de novo. E mesmo que eu realmente goste do Léo... Eu não sei se valeria a pena abrir uma exceção para tentar transformar esse sentimento em algo real – Eu falava a verdade. Eu não sabia se todo o amor que eu sentia pelo Léo havia sobrevivido a tudo o que tinha acontecido comigo nos últimos tempos. Mas eu andava me questionando se, mesmo que aquele sentimento ainda existisse, se ele seria forte o suficiente para encarar os desafios que teria pela frente. Eu estava muito chateada com o Léo, e ele teria que se esforçar para reverter essa situação.

– Não Cristal, você não me contou toda a verdade para isso. Você me contou a verdade para manter o seu emprego. A única coisa que realmente importa para você. Eu só queria entender uma coisa, só uma coisa Cristal – Ele fez uma pausa enquanto passava uma das mãos no rosto.- Você teria coragem de ficar com esse tal de Léo mesmo depois de tudo que o Diogo te fez? Mesmo depois dele ficar sabendo que você saiu machucada e chorando daquela marina e nem te ligar para saber o que aconteceu com você? Mesmo depois de você pedir demissão sem mais nem menos daquele estaleiro e ele nem querer saber o motivo da sua saída repentina? Por que você fez essa promessa, Cristal? Foi realmente para não ficar com mais ninguém ou foi para esperar até que o Léo resolvesse te procurar? – O Luan mexia freneticamente as mãos e falava muito rápido. Ele estava nervoso. Eu o olhava pelo espelho sem coragem de encará-lo de frente enquanto respirava fundo e tentava desesperadamente controlar a minha vontade de chorar. Eu sabia que o Luan estava certo em todas as suas observações, mas eu não poderia dar aquele “ponto” para ele. Dentro de mim um sinal de alerta acendeu. Como ele sabia de todas aquelas coisas? Eu não tinha contado nada daquilo para ele! Tudo aquilo estava muito confuso para mim.

– Eu fiz essa promessa para nunca mais voltar a sofrer. E até onde eu sei, você não tem o direito de se meter na minha vida. Nossa relação é unicamente profissional, lembra? Foi você mesmo que propôs esse acordo – Falei grossa. Ele estava indo longe demais com todas aquelas perguntas sobre o Léo. O único jeito de me defender era devolvendo na mesma moeda.

– Não Cristal, eu não esqueci. Mas relação profissional você só tem comigo, né? Porque com o organizador do show você aceita ir para festa sem nem conhecê-lo direito. É assim que você pretende não sofrer mais?

Agora o Luan tinha ido longe demais. Ele estava insinuando que eu iria ficar com o Rodrigo só porque aceitei ir à festa com ele? Eu só estava indo naquela festa porque o Luan me provocou convidando a Luana para ir para o hotel com ele.

– Escuta aqui Luan – Disse me virando para ele – Eu não sou desse tipo que você está pensando, não. Que vai para festas para pegar o primeiro que vê pela frente. Ao contrário de você eu não fico com qualquer um – Falei antes de caminhar até a porta. Eu me esforçava para controlar o meu tom de voz e não berrar com ele. Mas com a raiva que eu estava sentindo, eu seria capaz de pular no seu pescoço e fazer que ele engolisse cada palavra que tinha acabado de dizer – Quer saber, aproveita bem a sua pirigueti lá no hotel... Eu não tenho mais nada para conversar com você – Disse saindo e batendo a porta atrás de mim.

Assim que fechei a porta me arrependi do que tinha acabado de falar. Meu coração estava quase saindo pela boca tamanha era angústia que eu sentia dentro do peito. Mas o Luan havia provocado. O que mais doía, era não conseguir responder todas aquelas questões sobre o Léo. Eu queria muito poder abrir o jogo com ele, mas antes eu mesma precisava encontrar as respostas para todas aquelas perguntas. E aquilo não seria fácil, eu já podia sentir.

***
 PONTO DE VISTA DO LUAN

A Luana havia acabado de deixar o meu quarto. Ela morava na cidade mesmo e disse que pegaria uma táxi para ir embora. Melhor assim...

Eu estava me sentindo mais sozinho do que antes de ficar com ela. Eu a convidei para ir para o hotel comigo porque achei ela bonita e muito sexy, mas antes mesmo do final do show eu já havia me arrependido. Era bom ficar com alguém e mandar toda a “tensão” do trabalho embora, mas não era a mesma coisa quando você não gostava da pessoa. Eu vivia “pegando” aquelas piriguetis, mas eu sentia falta de ficar com alguém que realmente mexesse com o meu coração.

Levantei da cama, vesti uma bermuda e peguei o meu violão que estava do outro lado do quarto. Fazia calor e eu não conseguia dormir. A minha briga com a Cristal não saia da minha cabeça.

Eu tinha perdido a cabeça e acabei falando o que não devia para ela. Eu sabia que a Cristal era “braba” demais e que se eu a provocasse ela me responderia na mesma moeda. Depois de um tempo trabalhando juntos eu já era capaz de adivinhar o que ela iria fazer. Com a Cristal era ação e reação. Se você a provocasse ela te daria o troco à altura. Se você a desafiasse ela toparia o desafio. Ela era exatamente como a minha irmã me falou: uma fera que precisava ser “domada”. Eu já sabia que ela fingia ser aquela “fera” para se proteger de tudo o que já havia acontecido com ela. No fundo a Cristal era tão delicada e frágil como uma rosa, que usava o seu espinho para ferir quem tentava machucá-la.

Coloquei o violão de lado e comecei a andar pelo quarto. Eu era muito burro mesmo! Burro que nem uma égua “veia”! Eu já sabia tudo aquilo sobre a Cristal e mesmo assim havia cometido o erro de colocá-la contra a parede. A verdade é que eu estava louco para descobrir todos os segredos que ela guardava só para si. Eu já tinha descoberto uma boa parte, mas ela ainda fazia jogo duro e não me contava o que ainda a prendia ao Léo. E quanto mais mistério ela fazia, mais ela atiçava a minha curiosidade para descobrir tudo de uma vez.

Depois da nossa conversa na casa dela eu havia me decidido a respeitar o tempo que ela precisava para colocar todos os seus sentimentos em ordem. No dia seguinte eu liguei para a “Dona” Martha, que eu sabia que era muito amiga da Cristal, para pedir alguns conselhos. Eu gostava muito da “Marthinha” e sabia que eu poderia confiar nela e no “seu” João. A Martha me deu uns conselhos “bão” de verdade, como por exemplo, conquistar a confiança da Cristal pouco a pouco.

Aos poucos a Cristal vai te contando todos os segredos dela. Você precisa ter paciência! Tem algumas coisas que nem a própria Cristal vai conseguir te responder e você vai ter que descobrir sozinho”.

Lembrei-me das dicas que a Martha me deu. Era claro que ela estava se referindo ao Léo. Aquele era um problema que o só o tempo me ajudaria a resolver.

– Cristal e seus mistérios – Falei comigo mesmo pegando o meu violão de novo. Toda aquela história sobre a Cristal me fez lembrar de uma música dos meus parceiros, o Fernandinho e o Sorocaba que tinha tudo a ver com aquela situação.

Sentei na cama e comecei a “arranhar” os primeiros acordes no violão.

***Link para música: https://www.youtube.com/watch?v=ERQhmFq9hyI ***


“Será que amar sozinho vai ser a minha sina
Já conheço você bem mais do que imagina
Sua cor preferida é o verde
Seu aniversário é dia três
Adora mexer no cabelo
Curte rock, fala inglês
Odeia filme de terror
Canta e toca violão
Tem ciúmes dos amigos
Tem medo de escuridão

Ah, eu amo você
Teus segredos, vou aprender a decifrar

Teus desejos, me ensina a realizar
Eu te estudo, te admiro, te espero
Será que um dia vai me amar”.


Terminei a música e coloquei o violão de lado. Eu sentia um aperto enorme dentro do peito por causa da briga com a Cristal. Eu precisava fazer alguma coisa, não poderia deixar a situação daquele jeito. Sem pensar duas vezes, peguei o meu celular e mandei uma mensagem para ela com um trecho da música que eu havia acabado de cantar.

“Teus segredos vou aprender a decifrar”

Eu sabia que naquelas horas a Cristal estava “fervendo” na festa do tal organizador do show, mas achei que aquela estrofe combinava demais com a nossa história.

–“Capaiz” mesmo. Eu que faço todo o trabalho duro e o tal “organizador de show” que fica com o lucro – Falei alto enquanto deixava o celular em cima da cama.

Estiquei o braço para pegar o violão que estava do outro lado para me distrair. Mal peguei o instrumento, o celular apitou.

– Mensagem? – Nem eu acreditava. Será que era a Cristal? Peguei o aparelho e li o SMS que tinha acabado de chegar.

“Teus desejos, me ensina a realizar”

Sorri ao ler o conteúdo da mensagem. Era da Cristal. Não perdi tempo e respondi.

“Ensino nega, claro que ensino. Vem cá no meu quarto agora que eu já vou te explicando tudinho”.

Menos de dois minutos depois ela me respondeu.

“Você não tem jeito né, Luan? Não sei por que eu fui inventar de te responder. Rs! Acho melhor eu ficar por aqui mesmo. Da última vez que eu fui até o seu quarto não deu muito certo”

Ri sozinho me lembrando do nosso primeiro beijo lá em casa. Na mesma hora digitei uma mensagem para ela.

“Aposto que o meu quarto tá melhor que essa festa”.

Estava só esperando para ver o que a Cristal iria dizer. Sabia que ela odiava ser desafiada.

“Tenho que confessar que a festa estava muito chata mesmo, por isso já estou no meu quarto. Não sei como você aguenta ficar acordado tanto tempo, eu estou quebrada! Ainda mais depois de um show”.

Quer dizer que a Cristal já estava no quarto? Aquele “organizadorzinho” não tinha dado conta de domar a “fera”. Melhor para mim, pensei.

“Vem pra cá que eu te mostro como ficar acordada a madrugada toda”. Eu já até poderia prever a “patada” que a Cristal iria me dar depois daquela mensagem, mas eu já estava com saudades de provocá-la.

“ Luan, o quê aconteceu com aquele nosso acordo, hein? Mas tudo bem, vou deixar essa passar. Para falar bem a verdade já estava com saudade desse seu jeito...”.

Eu tinha entendido certo? Cristal falando que estava com saudade das minhas “indiretas”. Levantei da cama correndo, fui vestindo a minha camisa enquanto já ia saindo do meu quarto carregando o meu violão embaixo do braço.

Praticamente corri até o final do corredor onde eu sabia que a Cristal estava hospedada e bati na porta meio de qualquer jeito. Eu não sabia o que eu estava fazendo, mas eu não queria mais ficar brigado com a Cristal.

***
PONTO DE VISTA DA CRISTAL

Ouvi alguém batendo na porta.

– Não, não pode ser – Repeti para mim mesma. Coincidência ou não, eu estava exatamente do mesmo jeito quando o Luan bateu na porta do meu apartamento há semanas atrás: moletom, shorts e pantufa.

Caminhei até a porta um pouco receosa. No fundo, eu já sabia quem estava do outro lado. E eu não podia negar, eu estava muito feliz por ele estar ali.

– Luan, você tá maluco menino? – Falei depois de abrir a porta e vê-lo ali, parado na frente do meu quarto, segurando o violão em uma mão e com o cabelo todo molhado e bagunçado.

Eu não sabia o que tinha dado na minha cabeça de mandar aquela mensagem para ele, mas aprender a realizar todos os desejos do Luan era o que eu mais queria naquele momento. Depois que nós tínhamos brigado eu tinha me dado conta que eu sentia falta daquele “clima” que rolava entre a gente.

– Vim cantar uma música para você, uai... Até trouxe o meu violão aqui, ó – Ele balançou o instrumento na minha frente.

Oi? Música para mim? Show particular? Era agora que eu iria ter um infarto.

– Hããã... Luan, acho melhor a gente ir com calma, né? Já tá tarde, eu estou cansada, e você tem uma porção de compromissos amanhã. Acho melhor a gente deixar essa música para outra hora... – Juntei todas as minhas forças para falar aquilo. Doía no meu coração dispensar o Luan daquele jeito, mas eu não tinha opção. Já havia ficado mais que provado que eu e Luan no mesmo quarto não dava certo.

– Tá certo então, nega. Eu te mostro a música amanhã – Ele me respondeu com uma carinha de “cortar” o coração – Boa noite, Cristal – Ele me deu um beijo no rosto e virou-se seguindo sentido o seu quarto.

Mais uma vez eu estava vendo o Luan ir embora, e por mais que eu soubesse que aquilo era o certo a se fazer, o meu coração ficava apertado dentro do peito sempre que aquilo acontecia.

– Luan... – Não aguentei e fui atrás dele – Ééé... Desculpa pelo o que eu te disse hoje lá no camarim. Você tem o direito de ficar com quem você quiser. Eu é que não deveria ficar me metendo na sua vida – Falei sem jeito, parada na sua frente no meio do corredor.

– Tem problema não, nega. Eu é que comecei isso tudo... Não deveria ficar te “enchendo” só porque você queria ir a uma festa – Ele também parecia muito sem jeito com aquela situação - Mas, quer saber de uma coisa? Toda essa briga foi boa por uma coisa. Foi por causa dela que nós voltamos a nos falar. Estava um clima muito estranho entre a gente. Você andava mais braba” que o normal... – O Luan, como sempre, quebrou o clima entre nós e me fez rir. Ele era ótimo em fazer aquilo.

– Você que resolveu levar muito a sério esse papo de “Eu dou as ordens” – Brinquei – Acho que a gente não precisa levar esse nosso acordo tão a “ferro e fogo”. Afinal, em uma relação profissional a gente também pode brincar um com o outro de vez em quando, não é? – Eu não poderia acreditar que eu estava dizendo uma coisa daquelas! O Luan realmente tinha o poder de virar a minha cabeça.

– Amigos, nega? – O Luan fez que nem eu fazia com as minhas colegas do tempo da escola. Esticou o dedo mindinho para mim me propondo que nós fizemos as pazes.

– Amigos – Respondi entrelaçando o meu dedo mindinho com o dele. Rimos daquela situação juntos. Se eu contasse com certeza ninguém acreditaria que aquilo realmente aconteceu.

– Luan, você não existe – Falei ainda dando risada.

– Existo sim, ó... Sou de verdade – Ele falou fingindo beliscar o seu próprio braço. Aquilo me fez lembrar da “pirigueti” que tinha elogiado os seus músculos lá no camarim.

– Bom, acho melhor eu voltar para o meu quarto, né? Afinal, você tem visita te esperando lá na sua cama – Falei virando a cara.

– É, vai dormir sim nega, você tá com uma carinha de cansada mesmo... – O Luan falou com um sorriso torto no rosto. O que significava que estava pensando em aprontar alguma coisa 

– Boa noite Luan. Não esquece que a gente acorda cedo amanhã. Nada de perder a hora, hein? – Falei antes de dar um beijo no seu rosto e me virar para ir para o meu quarto. Ele não tinha comentado nada sobre a tal Luana, por isso eu concluí que ela ainda estava no quarto com ele.

– Cristal – O Luan chamou quando eu já estava na porta do meu quarto – Não precisa ficar com ciúmes não, tá? Não tem ninguém me esperando para dormir comigo – Ele me presenteou com o seu melhor sorriso safado que só ele sabia dar – Boa noite linda. Dorme com Deus.

– Boa noite Luan – Falei antes de fechar a porta e respirar aliviada. Ele havia mandado a “pirigueti" embora e nós tínhamos feitos as pazes. Aquela noite eu fui dormir com a certeza de que bons ventos estavam a caminho.
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Notas finais do capítulo:
Ai, ai... Esse quase casal ainda me mata!
Perceberam que os dois não conseguem mais ficar um longe do outro, né?
Então preparem-se, próximo cap tem a primeira aparição da Laura (irmã dos gêmeos) e tem mais beijos prá lá de calientes" entre o Luan e a Cristal!
O link da música funcionou aí? No meu pc a coisa tava complicada. Espero que tenham gostado da trilha sonora!
Beijo amores e não esqueçam: Comentem, por favor!

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