sábado, 20 de junho de 2015

Capítulo 13 – Entregando o jogo

Passei pelo jardim da casa da Carol e abri o portão, que estava destrancado, saindo para a rua. Foi só aí que me dei conta: ainda não havia ligado para o táxi. Puts, como eu era burra!

Bufando de raiva, peguei o celular na bolsa e procurei o número na agenda. O “seu” João era um velho conhecido da família e um taxista de confiança. Eu sempre ligava para ele quando precisava voltar para casa e não tinha carona.

Alguns toques depois ele atendeu.

- “Seu” João, é a Gabriela, filha da Beatriz, da escola de balé...

- Oi, Gabi! Tudo bem, filha? Já sei: está no Itapema, não é? – ele perguntou com simpatia.

- Isso mesmo. Será que o senhor pode vir me buscar naquele mesmo endereço? – tentei animar um pouco a minha voz para não parecer mal educada.

- Claro, em dez minutos estou aí.

- Perfeito, fico esperando – disse antes de desligar.

- Chamou um táxi? – Edu me perguntou de modo receoso, me olhando como se eu fosse um bicho feroz prestes a dar o bote.

- Sim... O “seu” João já está acostumado a vir me buscar. Ele disse que daqui a dez minutos está aqui – cruzei os braços e fechei a cara, demonstrando que não estava nem um pouco a fim de conversar.

- Nossa, rápido assim? – claro que ele insistiu em puxar assunto. E claro que fiquei ainda mais irritada por causa disso.

- Cidade pequena, carioca! Aqui só tem uma rua que sobe e outra que desce... Guararema é um ovo, esqueceu? – meu tom era azedo.

- Ihh, qual é? Vai ficar “bravona” até quando?  - ele se aproximou com um sorrisinho forçado no rosto, tentando amenizar o “climão”.

- Não estou brava – resmunguei de volta.

- Não? Tem certeza? – provocou, chegando mais perto.

- Não. Só estou cansada desses joguinhos de de quinta série da Mari – acabei desabafando, ainda com a cara emburrada.

- Joguinhos de quinta série... – o Edu repetiu como se estivesse analisando a frase.

- É, quinta série! Não consigo entender o que ela quer com isso... Fica pegando no meu pé, inventando um monte de coisa, criando situações chatas – continuei falando, mais para mim mesma do que para ele. Eu sentia uma mistura estranha fervilhando dentro de mim. Eram tantos sentimentos que eu mal conseguia diferenciá-los: raiva, medo, amor, desejo... Teria dado qualquer coisa para fugir daquela situação, para ir a algum lugar longe daquela bagunça.

- Quinta série... Fica pegando no seu pé e criando situações – ele continuou repetindo, parecendo um analista.

- Vai ficar repetindo tudo o que eu falo feito um papagaio? – descontei a minha raiva.

- Vixii... Calma aí, mocinha – ele ergueu as mãos em um gesto conciliador – Olha, a Mari é só minha amiga. Quer dizer... ela tem me ajudado muito, principalmente lá na escola. Eu ainda me sinto meio perdido...

- Eu não me importo com o que rola entre você e ela – disparei, o interrompendo – Só quero poder ficar em paz, entende? Não quero ninguém me dizendo o que tenho que fazer, ou se metendo no que eu sinto ou no que deixo de sentir.

Um silêncio inquieto surgiu entre nós. Aquele tipo de silêncio carregado de palavras presas na garganta e sentimentos aprisionados. Aquele silêncio que faz a alma gritar e o coração ficar apertado dentro do peito, que faz o corpo ficar tenso e que são tão pesados que chegam a curvar os nossos ombros.

- Eu entendo... – o carioca disse, por fim, com a voz baixa e carregada de significados. Nossos olhares se cruzaram e por um minuto senti como se estivesse de fato conectada com ele. Como se o Edu realmente fosse capaz de me compreender, de ler o que passava na minha mente e acalmar o meu coração.

Balancei a cabeça e cruzei os braços com força, como se quisesse me proteger de tudo o que estava acontecendo. Cansada, fechei os olhos e me encostei no muro, pedindo silenciosamente que a noite terminasse bem.

Ao longe, ouvi o barulho de um carro se aproximando. O “seu” João cumprira a sua promessa e chegara com rapidez. Respirei fundo, soltando o ar pesadamente. Pelo menos alguma coisa saiu como o planejado...

- Boa noite, boa noite! – o motorista nos cumprimentou assim que entramos no carro – Nossa menina, que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?

- Não, não... É só uma dor de cabeça forte. Só preciso ficar quietinha um pouco – menti.

- Ahhh, é o calor dessa cidade! Fica tão quente que parece que o ar está nos sufocando – gesticulou as mãos de modo agitado enquanto caprichava no seu sotaque de cidade do interior.

- É, deve ser isso mesmo. Hoje está mais quente que o normal – improvisei alguma coisa só para não deixá-lo falando sozinho.

- Mas fica tranquila! Rapidinho a gente chega na sua casa, aí você toma um comprimidinho e vai dormir um pouco. Aí acorda boazinha para viajar amanhã – o motorista me ofereceu um sorriso amigável antes de dar a partida e começar a dirigir.

- Como o senhor sabe da viagem? – levantei a sobrancelha, intrigada.

- Sua mãe me ligou hoje. Vou levá-las até ao aeroporto. E é bom você já colocar o despertador para tocar. Senão vai perder o horário e sua mãe embarca sem você – “seu” João soltou uma risada alta, como se tivesse acabado de contar uma piada muito engraçada. Me esforcei muito para abrir um sorriso, só para não parecer antipática. O meu estado de espírito estava péssimo naquele momento.

O resto da viagem se resumiu ao motorista rindo, imaginando como seria hilário se eu ficasse sozinha em casa no maior estilo “Esqueceram de Mim”, enquanto eu apenas balançava a cabeça com um meio sorriso engessado no rosto. Edu também se esforçava para parecer que estava gostando do assunto dando uma risadinha amarela de vez em quando.

Felizmente, chegamos rápido até a porta do condomínio. Peguei a bolsa para pagar a corrida, mas o Edu estendeu a mão e acertou o valor antes que eu pudesse interromper. Lancei um olhar contrariado na sua direção, só para receber de volta um dar de ombros como se não estivesse nem aí para o que eu pensava.

Depois das despedidas, descemos juntos e passamos pela portaria do prédio enquanto o taxista dava meia volta e seguia para a próxima corrida.

Caminhamos lado a lado, o peso do silêncio entre nós. Senti o Edu se aproximando, como se quisesse segurar minha mão, mas cruzei os braços assumindo uma posição de defesa. Tudo o que eu queria era chegar em casa, deitar na minha cama e esquecer aquela noite.

Senti meu celular vibrando dentro da bolsa. Soltando o ar pesadamente, pesquei o aparelho.

“Gabi, você chegou bem em casa? Cara, estou meio bêbada! Demorou para cair a ficha que você tinha ido embora...”.

A voz enrolada da Carol na mensagem não deixava dúvidas. Ela realmente bebera além da conta.

- Não, jura? Nem percebi que você estava alterada – comentei em voz alta de modo irônico.

- Está falando sozinha, Gabriela? – Edu riu de mim.

Apenas lancei outro olhar contrariado na sua direção, antes de apertar um botão na tela e começar a gravar uma mensagem de voz.

“Relaxa, acabei de entrar no condomínio. Daqui a pouco estou em casa. Mas ó, nada de deixar o Alê dirigir nesse estado, hein? Coloca ele para dormir no sofá”.

A resposta chegou logo na sequência.

“Ahh, que ótimo! Fiquei preocupada. Está tudo bem, né? E pode deixar, não deixo o Alê sair daqui dirigindo de jeito nenhum. Já tomei a chave do carro da mão dele”.

Eu sabia que, na verdade, ela estava querendo saber sobre o carioca. E em relação aquele assunto, tudo bem era o que, definitivamente, não estava. Mas eu não ia dar o braço a torcer e reconhecer isso na frente dele...

- Tia Melissa vai matar o Alexandre quando souber que ele bebeu na festa – o carioca comentou ainda mais próximo de mim. Eu poderia apostar que ele estava apenas esperando uma vacilada minha para me abraçar ou segurar minha mão. Mas agora quem estava se fazendo de difícil era eu. Não estava nos meus planos facilitar para ele...

- Tenho certeza que ele só bebeu para acompanhar a Carol. Seu primo sempre fica no refrigerante... – avaliei. Tinha algo de diferente no comportamento do meu amigo naquela noite, eu só não conseguia sacar o que era - Bom, sei lá... Alê estava meio estranho hoje – acrescentei assim que viramos a esquina da minha rua.

“Carol, está tudo ótimo. Acabei de chegar na rua de casa. Vou descansar que é amanhã é partiu Bahia. Cuida de tudo aí e depois me conta os babados da festa”.

Mandei a resposta ao mesmo tempo que passávamos em frente a casa do Alê. Pelo canto do olho fiquei reparando se o Edu fazia algum movimento demonstrando que ficaria por ali, mas ele permaneceu firme ao meu lado. Pelo jeito ele manteria a tradição de me levar até a porta.

- Boa noite, Edu – disse, assim que paramos na frente da minha casa. Ficando na ponta dos pés, estiquei o corpo para dar um beijo no seu rosto e depois me virei.

Subi os três degraus e percorri o pequeno espaço entre a área e a porta de casa quando ouvi sua voz me chamando – Não, espera! – Segundos depois, senti suas mãos me empurrando contra a parede. Antes que pudesse respirar, ele colou o seu corpo no meu de tal forma que não havia como eu fugir. Com firmeza, segurou o meu rosto e me beijou com intensidade, como se estivesse com medo de me perder.

Eu sempre sentia algo diferente quando nos beijávamos. O meu coração disparava e parecia que cada parte de mim implorava por ele. Era como se eu tivesse encontrado uma parte minha que estava perdida, como duas peças de quebra-cabeça que se encaixavam perfeitamente. Mas quando ele me beijou daquela maneira, parecia que alguém tinha duplicado a química que rolava entre nós. Tudo estava amplificado e cada gesto dele despertava uma reação intensa no meu corpo. Era como caminhar dias a fio sem comer e beber água e finalmente encontrar um oásis no meio do deserto. Ou talvez como encontrar o único remédio capaz de amenizar a minha febre.

Ele me segurava com firmeza, o calor do seu corpo me aquecendo, o seu típico cheiro de roupa limpa me convidando a me aninhar ainda mais nele, minhas mãos desbravando suas costas, braços, pescoço, peito....

Eu não conseguia mais me lembrar do porque estava brava com ele. Na verdade, acho que seria incapaz até de lembrar o meu nome... Estar com ele sempre era bom, mas dessa vez estava superando todos os limites. O desejo que rolava entre nós era como um ímã que não permitia que eu me afastasse.

- Eu não resisto a essa boca tão gostosa – ele se afastou um pouco de mim e sussurrou enquanto segurava o meu rosto com as mãos e me fixava seus olhos em mim.

Em seguida, ele desceu até o meu pescoço, distribuindo beijos naquela região – Esse perfume... – voltou a sussurrar, agora descendo a mão delicadamente pelo meu braço, o seu toque causando arrepio por onde passava – Essa pele... Eu não resisto a você, Gabriela – afirmou com um brilho intenso no olhar. Estiquei o corpo para beijá-lo, dessa vez de forma mais calma e carinhosa, aproveitando cada sensação que me invadia.

Meu coração enfim se acalmou. Para mim, não havia mais dúvidas: ele gostava de mim e me queria. Apesar do jeito fechado e misterioso, não tinha como ele esconder o que sentia quando me beijava daquela maneira.

- Você confia em mim? – perguntou com a voz baixa, como se ele próprio estivesse inseguro com a situação.

Parei por um instante, olhando o seu rosto fixamente. Os fios loiros caindo pela testa, os intensos olhos verdes, a pele levemente queimada de sol, alguns fios de barba que ensaiavam despontar marcando levemente o seu maxilar. Aquela pergunta confrontava tudo o que eu sentia por ele: vontade de me entregar e medo de estar me iludindo, desejo de ficar junto, de ficar de mão dada e de beijá-lo sempre que tinha vontade, contrariando as regras que ele mesmo impunha para nós. O doce encanto que vinha dele e que me desafiava todos os dias contra a vontade de ficar quieta no meu canto e voltar a ter a vida que sempre tive.

Ao pensar nisso, acabei rindo sozinha. Quem eu queria enganar? Minha vida nunca mais seria a mesma depois do Edu. Eu pedira por uma mudança, e o universo me atendeu. Tudo o que eu poderia fazer era aceitar o que estivesse por vir.

- Confio – respondi, tentando parecer firme e determinada. No fundo eu desconfiava que não havia conseguido, mas mantive a cabeça erguida mesmo assim.

- Então vem – ele segurou a minha mão e começou a me puxar em direção a sua casa.

- Edu, onde estamos indo? – perguntei enquanto me esforçava para acompanhar o seu ritmo me equilibrando sobre os meus sapatos.

- Você confia em mim, não confia? – o carioca me olhou de relance, um sorriso travesso brincando em seus lábios.

Quando chegamos em frente à casa do Alê, ele parou e com um movimento rápido se abaixou, levantando os meus pés e tirando os meus sapatos.

 - Eeeei... – protestei.

- Shhiuuuu... – me censurou, antes de voltar a me puxar. Peguei os sapatos das suas mãos e voltei a acompanhá-lo. Passamos pela garagem, que ficava na lateral da casa, em passos leves e silenciosos. Estava na cara que ele não queria acordar ninguém.

A casa lembrava muito aquelas que estamos acostumados a ver no litoral, com portas de madeiras que se abriam para a parte externa permitindo a entrada do sol. Nos fundos, havia outro jardim, esse ainda maior que o primeiro. Uma fonte de pedra dava um charme a mais às muitas flores coloridas que ali existiam e a vários cristais espalhados pelo chão. Bancos de pedra estavam dispostos por todo o espaço fazendo um convite a quem chegasse ali para sentar e aproveitar a calma que o lugar transmitia.

Nos fundos havia um espaço para refeições com churrasqueira, mesa de madeira no estilo rústico e redes. Como já visitara aquele espaço muitas vezes, sabia que ali também havia uma escada que dava acesso a uma espécie de quarto reserva. Dona Melissa mantinha aquele espaço montado para o caso de receber visitas e não ter espaço para abrigar todos dentro da casa.

Vi o carioca cruzar o espaço, abrir a porta de vidro que dava acesso a escada e ascender a luz – Resolvi ficar nesse quarto, porque minha mãe está no quarto de hóspedes e não queria incomodar o Alê – explicou antes de começar a subir.

Só quando percorri os primeiros degraus que me dei conta do que estava pela frente. Ele estava me levando para o seu quarto! Caraca! E agora? Aquele era um caminho sem volta. Eu não tinha como voltar atrás.

O carioca abriu a porta e ascendeu a luz, revelando um ambiente amplo, porém simples e com pouca mobília. As paredes eram brancas e os móveis em um tom de madeira claro. Havia um guarda-roupa, uma cama de casal, uma cômoda e uma cadeira cheia de roupas.

- Mi casa, su casa – abriu os braços indicando o ambiente como se quisesse dizer que eu deveria ficar à vontade.

À vontade era tudo o que eu não estava naquele momento...

Respirei fundo e passei na frente dele, entrando no quarto. Ele seguiu o meu exemplo na sequência, fechando a porta e indo direto até o guarda-roupa. Enquanto fuçava no armário, observei o lugar. O perfume e o desodorante dele estavam sobre a cômoda. Um skate estava perdido em um canto perto do tênis da Nike – desconfiava que era o seu predileto, porque ele sempre o usava na escola. No geral, não havia muito para se ver ali.

- Ainda tem muita coisa minha no Rio – ele disse como se estivesse lendo os meus pensamentos – Meu pai vai trazer junto com a mudança.

- Deve ser ruim ficar sem as suas coisas, né?

- Um pouco, mas a gente acostuma – falou em tom indiferente. Mas pelo seu olhar dava para perceber que ele sentia falta da antiga cidade.

- E quando vocês se mudam para a casa de vocês? – quis saber. Deveria ser horrível ficar em um lugar que não era seu de verdade.

- No máximo até o mês que vem. Já está quase tudo certo. Minha mãe já fez todas as alterações que queria. Agora é só cair pra dentro – explicou colocando um notebook já ligado sobre a cômoda. Estava tão nervosa que mal reparei que o objeto estava em suas mãos.

Ele mexeu em alguns botões e uma música suave começou a tocar.

*** Link para músicahttps://www.youtube.com/watch?v=Z3E60Fc0b6o ***

A canção combinava perfeitamente com ele: lembrava sol, praia e tinha um ritmo lento e cativante. Encarei a tela e vi que tratava-se da banda Natiruts.

- Pra você relaxar um pouco – chegou mais perto com um sorrisinho tímido no rosto.

- E quem disse que eu estou nervosa? – coloquei a mão na cintura fazendo marra.

- Qual é, Gabi? Quer mentir para mentiroso? – riu da minha cara, chegando mais perto e colocando a mão na minha cintura – É sério, relaxa. É pra confiar em mim, lembra? – senti seus dedos roçarem de leve a minha bochecha em um gesto carinhoso.

Dei uma risada sem graça, sem coragem de olhar para ele. Estava tão ansiosa que mal conseguia me mexer.

- Vem cá... – ele me levou até a beira da cama, me colocando sentada ali. Depois apagou a luz antes de se juntar a mim. A tela do notebook fornecia a única fonte de iluminação, deixando o quarto com um clima um pouco mais aconchegante.

Senti seus braços me envolvendo de forma carinhosa enquanto ele acariciava de leve meus cabelos. Respirei fundo para tentar relaxar. Me concentrei no ritmo da música, soltando o corpo devagar, deixando o Edu me conduzir pra onde ele desejasse.

Com um gesto suave, ele me deitou na cama, colocando-se sobre mim. Senti sua boa sobre a minha e naquele momento, por mais que fizesse calor, senti um arrepio percorrer o meu corpo. O beijo começou de forma calma e lenta e aos poucos foi ficando intenso. Eu sentia as mãos do Edu explorando todo o meu corpo, causando arrepios e deixando minha respiração pesada.

Fechei meus olhos e permiti que ele me levasse por aquele mundo até então desconhecido por mim. Cada toque, cada nova descoberta, seu corpo sobre o meu... Nada parecia ser real. Era como se estivesse em uma realidade paralela, onde só nós existíamos. Longe de todos os problemas, dúvidas, boatos e pessoas que queriam noss atingir.

Naquele quarto com o Edu eu pude, finalmente, expressar tudo o que sentia. Eu o beijava, abraçava e não tinha medo de pedir por mais. Ali não existiam regras a serem seguidas. Eu só precisava seguir o amor que sentia por ele.

A sensação era tão boa que por alguns momentos eu apenas fechava os olhos, desejando que aquele encontro nunca mais acabasse. Quando voltava a abrir, era somente os seus olhos que via, brilhando contra a luz fraca do notebook e me chamando para mergulhar naquela imensidão esverdeada.

Não tive medo quando ele deslizou a mão pela minha cintura e puxou a minha blusa para cima, nem quando puxou o zíper da saia para tirá-la. Ele me olhava como se fosse uma joia preciosa e seus olhos brilhavam como faróis. Seus gestos eram delicados e firmes ao mesmo tempo. Ele me guiava e eu seguia todos os seus passos como uma aluna obediente.

Tudo aconteceu sem pressa, como se o mundo tivesse parado só para nós dois. No início, ele se preocupou querendo saber se estava doendo. Depois, ao perceber que eu estava mais à vontade, passou a se movimentar de maneira gentil, distribuindo beijos pelo meu rosto e repetindo a todo momento que eu era linda.

Eu nunca tinha parado para imaginar como seria a minha primeira vez. Claro que já tinha pensando sobre o assunto, mas nada que incluísse detalhes. Mas quando terminamos e ficamos abraçados olhando um para o outro, o meu coração batendo descontrolado dentro do peito, tive a certeza que nem se tivesse planejado cada passo teria saído de forma tão perfeita. Eu me sentia a garota mais feliz do mundo. A dona dos olhos verdes mais encantadores de Guararema.

- Foi a sua primeira vez, não foi? – ouvi sua voz preguiçosa perguntar.

Assenti com a cabeça, entretida em mexer nos seus cabelos.

- Agora você nunca mais vai esquecer de mim – ele sorriu de maneira convencida antes de depositar um selinho nos meus lábios.

- Quem disse? – provoquei.

Ele virou o corpo rapidamente, me surpreendendo. Quando vi, estava sobre mim, os braços apoiados um de cada lado da minha cabeça como se quisesse impedir que eu fugisse.

- Que foi? Está querendo me amedrontrar? – continuei mantendo uma postura determinada – Sabe o que eu faço com você?

 Ele apenas mexeu a cabeça como se estivesse me desafiando a continuar.

- Isso aqui, ó – falei antes de começar a fazer cosquinha na sua barriga. Não demorou para ele cair na gargalhada, se encolhendo todo na cama me pedindo para parar. Insisti com as cócegas, me divertindo tanto quanto ele.

Por fim, ele acabou conseguindo virar o jogo, agarrando as minhas mãos e me jogando com tudo na cama.

- Você é linda, sabia? – ele segurou os meus braços acima da minha cabeça e concentrou toda sua atenção em mim.

Fiquei séria, fixando meu olhar no dele.

- Sou mesmo um cara de muita sorte...

- É, acho que, sem dúvidas, hoje também foi meu dia de sorte...

***

*** Link para música - https://www.youtube.com/watch?v=hA0cago-VUo ***

Ficamos juntos por mais um tempo, deitados na cama. Vesti uma de suas camisetas e sentamos um ao lado do outro na cama, Edu me mostrando algumas de suas músicas prediletas no notebook.

O dia já estava quase amanhecendo quando lembramos de olhar a hora.

- Edu do céu, já são quase seis da manhã! Daqui a pouco minha mãe acorda e eu ainda não estou em casa – de repente o desespero bateu. Se dona Beatriz descobrisse que eu não havia dormido em casa eu teria muito o que explicar...

- Puta que pariu, nem fala! Daqui a pouco a tia Melissa acorda para meditar no jardim... Se ela ver a gente junto vai dar ruim – ele deu um pulo na cama e foi procurar uma bermuda.

- Meditar?

- É, ela acorda todos os dias para praticar yoga e meditar. Diz que é o seu ritual matinal – explicou, vestindo a roupa apressado.

Segui seu exemplo e coloquei minha saia. Peguei minha blusa, sapatos, bolsa e prendi o cabelo em um coque – tinha até medo de imaginar qual era a situação dele. Não tive coragem de tirar a sua camiseta. Estava tão cheirosa que queria guardar para mim como recordação. Como o Edu não disse nada a respeito, continuei com a peça dando um nó na cintura para não ficar tão cumprida.

Cinco minutos depois estávamos atravessando o jardim e a garagem parecendo dois agentes secretos. Andávamos na ponta dos pés e eu mal respirava de tanto medo de acordar alguém.

Assim que nos afastamos o suficiente da casa caímos na risada juntos por causa da situação.

- Acho melhor você ficar por aqui. Se minha mãe estiver acordada, posso inventar que dormi na Carol ou qualquer outra coisa... Mas se ela te ver, aí fica complicado explicar qualquer coisa – pedi, ainda tentando controlar o riso.

- “Tá” certo! Vai lá, então... – concordou, mexendo no cabelo. Percebi que ele não sabia como se despedir e por isso estava sem graça.

Um sorriso brotou no meu rosto. Eu estava começando a desvendar o mistério chamado Edu...

Me aproximei e fiquei na ponta dos pés para beijar sua boca – A gente se vê na quarta-feira de cinzas.

- A gente se vê – ele repetiu antes de eu virar e correr para casa.
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Notas finais: Desculpem o atraso na postagem! Essa semana foi muito corrida no trabalho!
Geeeente do céu, pelo amor, me contem a opinião de vocês! Estou curiosa!

Só quero avisar que a partir de agora essa bagaça vai pegar fogo! Pre-para que vem muitaaaaa coisa por aí!


*** Bora para o próximo capítulo? Então clique aqui

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Capítulo 12 – Dobrando a aposta

Notas iniciais: Todo mundo pronto para o Grito de Carnaval do Gueto? Só digo uma coisa: o capítulo está babado, confusão e gritaria! Aproveitem e lá embaixo tem recadinho, ok?
***Dedicado especialmente para Kamis que aguentou firme a espera e não me matou! Hahahaha
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- Atrasada como sempre, né Gabriela? – Marília já foi logo me acusando assim que entrei no Gueto. Porém, mesmo se fingindo de irritada, ela não conseguiu disfarçar o olhar de surpresa ao me ver. Ponto para mim! Pelo jeito minha superprodução estava funcionando.

Antes de responder, lancei um olhar rápido na direção delas. A Mari estava bonita como Rainha Elsa – sua maquiagem estava perfeita. Eu seria capaz de apostar que não fora ela quem fizera. A Nathy estava de bruxa enquanto a Mel havia escolhido uma fantasia de Sininho. Mais sem originalidade impossível... - Sim, mas eu tenho um bom motivo. A Cá não comentou da viagem de uma última hora que minha mãe inventou? – me justifiquei mais por etiqueta do que por vontade. A minha paciência com a Marília já estava por um tris.

- É ela comentou – a loira informou em tom de desdém – A sorte que a Natália e as outras meninas vieram ajudar, porque com você a gente nunca pode contar, né?

Nunca pode conter comigo? Como assim? Eu sempre ajudava a organizar todas as festas e ficava para limpar a bagunça que sobrava no dia seguinte. Isso sem falar em todas as vezes que ela se meteu em enrascadas e eu sempre ajudava com a maior boa vontade. Quem a Marília era vir jogar na minha cara algo daquele tipo?

- Vem, Gabs. Se elas já fizeram o trabalho duro, melhor pra gente. Assim você não precisa estragar a sua roupinha de sereia – Alê puxou meu braço com um sorrisinho cínico no rosto. Vibrei por dentro com aquela resposta. Com uma única frase ele colocou a Mari em seu devido lugar.

- Na verdade, tenho uma missão para vocês dois – Carol interferiu para tentar quebrar o clima – Preciso que alguém me ajude a pendurar aqueles enfeites ali – apontou para uma caixa de papelão que estava em um canto.

- Opa, é pra já! Eu te ajudo – Alê se ofereceu de pronto. Peguei a caixa e saímos para o corredor, conversando animados enquanto o Alê subia em um balde e pregava cartolinas recortadas em formato de máscaras de Carnaval nas paredes e pendurava linhas com pedaços coloridos de papel. Tudo era muito divertido, combinando com o clima da festa.

Quando terminamos, pegamos uma cerveja e ficamos lá fora conversando. Eu não estava afim de voltar para dentro e encarar o mau humor da Mari. Enquanto a Cá reclamava do Caio e o Alê ouvia, dava conselhos e, claro, não perdia a chance de criticá-lo, eu me dediquei a descobrir por onde andava o Edu.
Descobri que ele e a mãe foram buscar o pai no aeroporto e já aproveitaram e passaram na casa do irmão. Dependendo do horário que eles chegassem em Guarema, ele viria para a festa. O carioca começou a comentar sobre o pai e o irmão e acabei mudando de assunto, guardando minha ansiedade para mim. Apenas cruzei os dedos e torci para que tudo desse certo...

***
Lá pelas dez horas, o Caio e sua turma chegou, iniciando oficialmente o Grito de Carnaval do Gueto. Como os pais da Carol haviam viajado para a praia, estávamos liberados para ligar o som em volume máximo. Pegamos os petiscos na cozinha e liberamos as bebidas que a empregada da casa havia comprado – como não tínhamos idade suficiente, fizemos um acordo com a Neide: ela comprava as bebidas e nós a deixávamos levar uma parte para casa.

Tentei me animar e entrar no clima da comemoração, mas não tinha jeito. A cada dez minutos eu olhava o celular esperando uma nova mensagem do Edu. Já fazia um tempo que ele havia parado de me responder e achei melhor não insistir. Não queria bancar a chata que fica falando que nem uma tagarela mesmo sabendo que ele está em um jantar com a família.
Quando não consegui mais me segurar, perguntei novamente se ele viria. Foi o tempo de dar um gole na minha cerveja para a resposta aparecer na tela.

“Gabi, não sei se vai rolar aparecer aí. Estou saindo agora de São Paulo, mas não tenho fantasia”.

Não tem fantasia? Como assim? Fazia duas semanas que não falávamos em outra coisa a não ser naquela festa e ele nem teve o trabalho de pensar em algo para vestir? Senti a raiva e a frustração tomarem conta de mim. Não dava para acreditar que havia feito milhares de planos para impressioná-lo enquanto ele não estava nem aí.

“Não tem problema. Improvisa alguma coisa. Com certeza o Alê ainda tem uma das fantasias que ele usou no ano passado”.

Mesmo decepcionada, insisti para que ele aparecesse. Eu precisava dele ali. Era um sentimento inexplicável que crescia dentro de mim e que  que só ia sossegar quando soubesse que tudo estava bem entre a gente.

“Ahh, nem vai rolar. Vai estar todo mundo arrumado e só eu mulambento? Deixa quieto. Aproveita a sua festa aí”.

Aproveita a sua festa? Isso era uma dispensa?

Senti vontade de atirar o celular longe, tamanho o ódio que estava sentindo do Edu. Precisei respirar fundo várias vezes para voltar ao normal e fazer uma última tentativa.

“Nossa, vai perder a festa? O Grito de Carnaval já começou aqui e está bombando. A noite promete!”.

Esperei alguns minutos até que a resposta chegasse.

“Nem gosto tanto assim de Carnaval... Acho que vou aproveitar em casa mesmo”.

Aquilo foi o fim para mim. Declarei a batalha como perdida antes mesmo dela começar. Digitei um “então aproveite aí sozinho” e corri para o banheiro para que ninguém visse meus olhos cheios de lágrimas. Não dava para acreditar no que estava acontecendo! Por que o Edu fazia aquilo? Por que ele insistia em se manter tão distante?

Apoiei as mãos na pia e encarei a minha imagem no espelho fixado na parede. Eu me sentia a pessoa mais fracassada do mundo. E o pior: ainda teria que fingir que estava tudo bem até o fim da festa para não dar bandeira que estava triste. Era difícil acreditar na armadilha que eu mesma havia me metido! Como pude ser tão boba a ponto de fazer tantos planos acreditando que o Edu sentia algo por mim?

Senti uma lágrima correr pelo meu rosto anunciando a represa de tristeza que estava prestes a estourar dentro de mim. Fechei os olhos e respirei fundo várias vezes até conseguir voltar ao normal e segurar o choro. Apesar da dor no coração, eu precisava manter o controle. Não era hora de fraquejar. Eu teria quatro dias na Bahia para me recuperar do “baque”, mas naquela noite eu manteria de pé. Eu precisava ser forte, não havia outra escolha.

Reunindo forças de onde nem sabia que tinha, limpei o rosto com um pedaço de papel agradecendo mentalmente por o rímel não ter borrado e deixei o banheiro. Mal dei dois passos quando ouvi alguém me chamar.

- Gabi, como você está linda! Nossa, adorei a sua fantasia de sereia! – um garoto alto com cabelos castanhos veio até mim para me cumprimentar com um beijo no rosto.

Demorei alguns segundos para lembrar quem era - Ahh, você é o Felipe, né? Amigo do Caio, que estava na noite da pizza... – eu devia estar tão focada no celular e nas respostas do Edu que mal notei que ele estava presente na festa.

- Isso! Que bom que lembrou de mim. Naquele dia nem tivemos muito tempo para conversar – ele se animou todo com o fato de eu ter me lembrado.

- Pois é... Eu fiquei jogando truco com o pessoal e logo depois fui embora... – disse qualquer coisa só para desconversar. Achei melhor não falar que, na verdade, eu não falei com ele porque não senti a mínima vontade.

- Nossa, você foi embora muito cedo mesmo. Tinha acontecido alguma coisa? – seu tom era preocupado, como se fossemos amigos muito íntimos. Precisei segurar a vontade de rir. Um garoto, quando estavam interessados em você, podia ser muito cara de pau...

- Não, não... Eu só estava cansada por causa dos ensaios – expliquei.

- Ahh é, a apresentação! Eu vi a matéria que a TV local fez. Cara, você estava incrível como Julieta. De verdade mesmo, eu adorei – seu tom continuava entusiasmado, como se estivesse falando com uma atriz de cinema.

- Ahh, obrigada – respondi, um pouco sem jeito – A peça foi muito bacana mesmo. E teve uma repercussão bem legal. Recebemos até convites para participar de festivais em outras cidades.

- Uaau, que massa! Você deve estar super feliz, né? Mas e aí? Vocês vão aceitar esses convites?

Eu não estava muito afim de papo, mas a simpatia do garoto acabou me convencendo. Passei a responder suas perguntas e a conversa acabou rolando de forma natural. Contei sobre a vontade de fazer intercâmbio e do desejo da minha mãe que eu seguisse carreira como bailarina ou cursasse algo relacionado à dança na faculdade. Ele também dividiu seus planos comigo: queria ser biólogo e cuidar de animais selvagens, do tipo que passa dias na floresta investigando o comportamento de macacos. Algo bem exótico, não pude deixar de pensar.

Pelo canto do olho, percebi que a Mari e a Nathy não paravam de olhar na nossa direção e fazer comentários. Na certa estavam torcendo para o Felipe conseguir me conquistar para que saísse do caminho do Edu. Mal sabiam elas que eu já era carta fora do baralho e que fui descartada pelo próprio carioca...

O garoto buscou uma cerveja para nós e continuamos conversando animados. Do outro lado da festa, reparei que as coisas também não iam bem para a Carol. Ela estava conversando com o Alê com o olhar triste enquanto meu amigo a consolava segurando sua mão e falando algo que eu não conseguia entender. Não pude deixar de reparar no carinho com o qual o skatista olhava para a Cá. Parecia que era ele quem estava sofrendo, e não ela. Eu estava tão acostumada a ver o primo do Edu rindo e fazendo piadas que estranhei esse seu jeito mais “maduro” e atencioso. Aquele garoto não parava de me surpreender.

Passei o olhar pelo restante da festa à procura do Caio. Na certa aquele cretino devia estar aprontando algo! Olhei para a mesa de truco onde as garotas e outros convidados estavam e nada! Para a mesa onde estavam as comidas. Nada! Para o isopor com as bebidas. Nada! Foi quando meu olhar passou pela porta que eu vi. Loiro, alto, olhos verdes cativantes. O Edu acabava de cruzar a entrada, o olhar fixo em mim e no Felipe. Para completar a surpresa, estava vestido de pirata: chapéu preto com um lenço vermelho amarrado na cabeça, camisa branca um pouco mais larga, cinto de couro grande, colete, calça e botas pretas. Como ele conseguira uma fantasia? E por que logo de pirata? Será que tinha alguma coisa a ver com a minha?

- E aí? Tudo certo? – ele se aproximou para me cumprimentar com dois beijos.

- Ué, decidiu vir? – não consegui disfarçar a ironia na voz. Eu ainda estava muito chateada com ele.

- É, ouvi dizer que seria imperdível... – ele retrucou em tom sarcástico me olhando de uma maneira um pouco afetada demais. O que ele quis insinuar com aquilo?

- E aí, cara? Tudo bem? – o carioca estendeu a mão para o Felipe sem muito ânimo antes de resmungar qualquer coisa e se afastar de nós.

Fiquei com cara de “perdida”, tentando entender o que estava acontecendo.

- Hããã... Gabi – o Felipe me cutucou de leve – Acho que o Alê está te chamando.

Olhei para frente e vi o skatista e a Gabi balançando os braços como loucos para tentar chamar minha atenção. Mexi os ombros como quem diz “o que foi?” e vi o Alê apontando para o celular freneticamente. Os dois estavam tão eufóricos que nem parecia que há cinco minutos a Carol estava na maior “bad”.

Olhei para a tela do iPhone e vi que havia um Whats do skatista. Precisei segurar o riso quando terminei de ler:

“Gabi, aconteça o que acontecer, fique aí falando com o Felipe. Inventa alguma história, troquem receita de bolo, mas não deixa ele sair de perto de você! Aliás, para de fugir do rapaz! Deixa ele encostar no seu braço de vez em quando, ele não morde!

Lancei um olhar divertido na direção deles antes de responder:

“Tá, tudo bem. Mas por que?”

Da onde estavam eles soltaram um grito para me zuar. Na certa, eles achavam que a resposta estava óbvia.

“Não viu a cara que o Edu fez quando te viu conversando com o nerd aí? Está na cara que ele está com ciúmes. Você só precisa provocá-lo um pouco mais.”

Guardei o celular depois que li a resposta para não chamar a atenção do Felipe. Depois me lembrei do conselho que o Alê me deu no carro: eu precisava desafiar o carioca, tirá-lo do seu lugar comum. Seguindo essa linha de raciocínio, o plano dos dois era perfeito.

Sentindo uma nova esperança surgir no meu coração, me concentrei ainda mais na conversa com o Felipe. Ele começou a contar sobre como eram as coisas na sua escola e sobre a preparação para o vestibular enquanto eu fazia o possível para parar de “fugir” dele, como o Alê aconselhara.

Não demorou muito para o Fê perceber que havia algo diferente e se aproveitar do “espaço” que abri. Sempre que podia, ele passava a mão suavemente pela minha e teve até um momento que chegou mais perto para afastar uma mecha de cabelo que caíra sobre o meu rosto. Fiz o possível para não evitar esses gestos mais carinhosos, já que o meu primeiro instinto era me afastar. Se aproveitando ainda mais da situação, o Felipe passou a me chamar de linda e fez vários elogios sobre a minha fantasia.

De relance, eu via o Edu passando de um lado para o outro, demorando mais que o necessário quando se aproximava de nós. Ele disfarçava, fingia estar interessado em algo, mas sempre acaba lançando um olhar na nossa direção como se quisesse saber como estava a situação. Sempre que isso acontecia, o Alê e a Cá faziam um gesto de positivo, me incentivando a continuar. Tentei achar a Marília e a Nathália, mas elas não estavam perto da gente. Na certa, haviam mudado o foco de mim para o carioca.

Porém, quanto mais eu ficava perto do Felipe, mais incomodada eu me sentia. Aquele garoto, que mal me conhecia, não se importava em ficar ao meu lado durante toda a festa e não parava de tentar me “mimar”, fazendo o possível para chamar minha atenção. O Edu, no entanto, agia de forma totalmente contrária. Só me tocava quando estávamos sozinhos, quase nunca me elogiava ou fazia algum tipo de esforço para ficar comigo. Comparando um com o outro, cheguei à conclusão que a minha situação com o carioca era ainda mais complicada do que eu imaginava.

- Está calor aqui dentro, né? O que acha de ir lá fora? – ele perguntou de maneira sutil, tentando disfarçar suas segundas intenções.

Ai meu Deus! E agora?

- Huum... Acho que preciso ir no banheiro primeiro. Bebi cerveja demais – o que, de fato, era verdade. Durante todo o tempo que conversamos eu estava com o meu copo na mão.

- Quer que eu te acompanhe?

Sério mesmo que ele seria mala aquele ponto?

- Não, imagina! Não precisa se incomodar. Eu também preciso ver se a Cá está precisando de ajuda com alguma coisa. Não sei se você sabe, mas eu ajudo a organizar a festa – arrumei uma desculpa qualquer – Mas a gente volta a se falar mais tarde, pode ser? – pisquei tentando parecer que tinha algum interesse nele. Não quis dispensá-lo totalmente. Afinal, ainda poderia precisar do garoto.

Me afastei com um sorriso muito falso no rosto e fui até o banheiro. Quando saí, a Cá já estava por ali, na certa só me esperando.

- Por que você saiu de lá? – questionou em tom acusatório.

- Porque ele me chamou para ir lá fora. E você sabe que não vai rolar ficar com ele – respondi enquanto olhava ao redor. A festa estava pegando fogo: muitas pessoas dançavam e conversavam e a mesa de truco estava a todo vapor. Não vi nenhum sinal do Edu e da Mari. Aquilo seria um mal sinal? Balancei a cabeça, tentando não pirar – Bom, eu dei a desculpa que iria te ajudar a organizar a festa. Então acho que agora precisamos fazer alguma coisa do tipo, para disfarçar – sugeri.

- Até que não é uma má ideia! A cerveja está mesmo acabando. Vem, vamos pegar mais – ela chamou, já caminhando em direção a casa.

No caminho, encontramos o Alê que já veio na minha direção com a mão levantada – Toca aí, sereia! Arrasou! Meu primo está pirando de ciúme!

- Bem feito! Ele fica vacilando! É bom para aprender que, se não der valor, vai perder a nossa sereia aqui – a Carol emendou.

Caminhamos até a cozinha e começamos a pegar as cervejas da geladeira. Eu e a Carol acomodávamos as latas em vasilhas e o Alê levava até o isopor com gelo localizado na entrada do Gueto. A conversa estava animada e o assunto principal era os acontecimentos da festa: que estava ficando com quem e coisas do tipo.

- Vocês estão precisando de ajuda? – alguém perguntou. Nem precisei me virar para saber que o Edu estava parado na porta, nos encarando.

- Pô primo, toda ajuda é bem-vinda! Até porque abastecer esse pessoal com cerveja está quase impossível – o Alê confirmou todas as minhas expectativas.

O carioca se juntou a nós e rapidamente terminamos o serviço. Para completar, colocamos mais alguns salgadinhos e lanches na mesa e disponibilizamos mais uma garrafa de vodka para o pessoal.

- Pronto! Agora a festa pode rolar até amanhã de manhã – o skatista brincou – Achava digno a gente aproveitar um pouco agora, né? Já trabalhamos bastante!

- Bora tomar uma cerveja, então? – foi a vez do Edu entrar na conversa.

Voltamos para a festa e arrumamos um canto para ficar. Mal abrimos as nossas latinhas, o Caio apareceu do nosso lado.

- Carol, posso falar com você? – seu tom era de quem já havia bebido um pouco além da conta.

- Eu não tenho mais nada para falar com você – ela retrucou com a cara fechada.

Fiquei impressionada. Nunca tinha visto a Cá falar daquele jeito com alguém.

- Deixa de ser boba! Chega aí, vamos conversar - ele insistiu.

- Cara, deixa ela aqui. Na boa... – o Alê interviu querendo defender a morena.

O Caio apenas deu de ombros antes de afastar, como se não fizesse diferença.

- O que está acontecendo aqui? Alguém pode me explicar? – minha curiosidade já estava a mil.

- Nós terminamos... – a Cá disse tentando não transparecer o quanto estava magoada.

- O que nunca começou, diga-se de passagem – meu amigo não perdeu a chance de alfinetar.

- Peraí... Mas o que rolava entre vocês, afinal? Nunca entendi esse lance direito – o carioca perguntou enquanto eu lançava um olhar de censura em direção ao Alê. Não era hora de pegar no pé dela. Poderíamos zuá-la quando a Cá estivesse melhorzinha.

- Nós ficávamos. Tipo, sem compromisso, saca? Só que eu acabei me envolvendo, mas ele não queria nada sério. Já fazia um tempo que estávamos nessa briga de eu querer que ele me levasse mais a sério e só levar fora como resposta. Aí hoje ele chegou e pediu para terminar porque queria curtir o Carnaval de boa. Disse que seria melhor assim – ela contou com a voz triste.

- Caramba! Ele teve a cara de pau de terminar com você e ainda ficar na sua festa? Bem que meu primo fala que esse cara não vale nada – Edu mexeu as mãos de modo indignado.

- É complicado isso. Por isso eu acho o seguinte: se a pessoa não está afim, é melhor chegar logo e falar. Esse negócio de ficar enrolando não está com nada – aproveitei para soltar a indireta. Senti que acertei o alvo quando o Edu me olhou de forma estranha, como se estivesse pensando sobre o assunto.

- É, eu concordo com você. Mas acho que não foi esse o caso. Fui eu que me iludi mesmo... – minha amiga disse de forma bem desanimada.

- Carol, você pode vir aqui, por favor? – a Mari apareceu do nada parecendo bastante contrariada.

 - O que aconteceu, Má?

- Quero falar com você, em particular – ela enfatizou a última parte.

- Tá, vai lá na cozinha que já vou indo – a morena revirou os olhos, impaciente.

- Te dou um doce se você adivinhar o que ela vai falar – a Cá disse olhando para mim depois que a Mari se afastou.

- Sobre o assunto predileto dela nos últimos tempos – foi a minha vez de revirar os olhos. Eu poderia apostar que eu era a pauta principal daquela conversa.

- Ahh não, eu vou lá com você. Não é justo ela ficar de “mimimi” justo no Carnaval. Não, não! Eu vou lá e vou colocá-la em seu devido lugar – o skatista disse, decidido.

Contrariada, a Carol deixou sua latinha em um banco ali perto e saiu de perto de nós, seguida pelo Alê.

Ficamos só eu e o Edu, um olhando para o outro sem falar nada. Ele parecia incomodado o que me fez pensar se ele estava refletindo sobre a indireta que soltei um pouco antes.

- Você disse que não tinha fantasia. Onde arrumou essa? – minha curiosidade falou mais alto e acabei perguntando.

- Paramos em um shopping em São Paulo que tinha uma loja vendendo fantasias. Aí aproveitei e comprei – ele explicou depois de dar um gole na sua bebida.

- Ahhh, que sorte – comentei. Fiquei tentada a perguntar se ele escolhera aquela para combinar com a minha, mas me contive. Conhecendo o Edu como eu conhecia, eu sabia que ele não iria dar o braço a torcer – E seu pai e irmão? Estão bem?

- Estão bem, sim. Foi muito bom vê-los. Estava com saudade – a resposta foi curta e grossa.

Ok, agora era oficial: ele estava bravo. Restava descobrir com o quê.

- Ahh, olha lá seu amigo – ele apontou para o Felipe que passava por ali olhando fixamente para nós, sem nem disfarçar – Não vai falar com ele?

Ahhh, então era isso?  Um sorrisinho convencido brotou nos meus lábios quando percebi que ele estava com ciúme.

- Ele não é meu amigo. Nós só estávamos conversando... O Fê já fez um intercâmbio e estava me dando umas dicas – fiz questão de usar o apelido do Felipe, só para demonstrar uma intimidade que não existia.

- Ahã, percebi mesmo como vocês estavam se dando bem – ele mexeu a boca, gesto que eu sabia que significava que estava contrariado – Mas é sério, Gabi. Se quiser ir lá falar com ele, pode ir. Não quero atrapalhar a sua festa.

Foi inevitável não rir. Era quase impossível acreditar que o Edu, que sempre se achava o “bonzão”, estava no meio de uma crise de insegurança ali, bem na minha frente. Ao perceber que eu estava me divertindo com a situação, o carioca fechou ainda mais a cara, o que só me deixou com ainda mais vontade de rir.

Respirando fundo, me posicionei na sua frente e olhei fixamente para ele – Quer deixar de ser bobo, Eduardo? Por que você atrapalharia a minha festa? Não lembra que fui quem pedi para você vir?

- Ahh, não sei, né? Talvez você queira aproveitar o Carnaval, esse clima de todo mundo pega todo mundo... – ele deu de ombros evitando olhar pra mim.

- Nossa, tenho cara de quem sai por aí pegando todo mundo? – me fiz de ofendida – Eduardo, vou repetir: quer fazer o favor de parar de ser bobo? Não tem nada a ver isso que você está falando... – disse em tom carinhoso, para que ele percebesse que estava falando sério.

Ele não respondeu nada. Apenas virou sua cerveja, terminando de beber todo o seu conteúdo e deixando a lata de lado. Ficamos em silêncio mais uma vez, um olhando para o outro, menos de um metro separando meu corpo do dele.

Em ocasiões normais, eu não ultrapassaria aquele limite a não ser que ele pedisse. Mas eu tinha uma meta a cumprir naquela noite. Por isso, resolvi usar o exemplo do Felipe e partir para o ataque.

- Eu não quero pegar todo mundo... – passei a minha mão sobre a sua, chegando mais perto – Até porque, não sei se você sabe, mas as sereias sempre são atraídas pelos piratas – inventei a história na maior cara de pau.

O plano deu certo. Um meio sorriso surgiu no seu rosto, mas ele permaneceu quieto. Droga! Por que o Edu tinha que ser tão difícil?

- Me ajuda a terminar de beber? Não aguento mais essa cerveja... – pedi, dessa vez passando a mão pela sua mão e subindo um pouco pelo seu braço.

- Tá fraquinha hoje, hein? – ele brincou, pegando a minha latinha. Embora não retribuísse o meu gesto, ele também não me evitava. Concluí que isso era um bom sinal.

- Não é isso... É que não quero beber muito hoje. Amanhã vou acordar cedo para ir para o aeroporto e não quero chegar na Bahia de ressaca... – expliquei.

- Bahia? – questionou com um interesse renovado em mim.

- Minha mãe inventou uma viagem de última hora para o Club Med na Bahia. Vamos amanhã e voltamos só na terça-feira.

- Sério? – ele fechou a expressão. Será que vinha mais uma crise de ciúme por aí? – Pensei que você ia ficar por aqui...

Huum... Ele estava insinuando que sentiria a minha falta?

- Eu também pensei, mas dona Beatriz resolveu mudar os planos – fiz biquinho - Mas a gente ainda tem hoje para aproveitar... – decidi usar a situação a meu favor para ousar um pouco mais: dei mais um passo, diminuindo consideravelmente a distância entre nós, e estiquei o braço para acariciar o seu rosto.

Ao meu toque, ele fechou os olhos rapidamente. Quando abriu, cravou os dois rubis esverdeados em mim, tirando todo meu fôlego.

- Acho essa uma ótima ideia – sua voz rouca me fez estremecer de leve.

Respirei fundo. Agora era tudo ou nada. Se eu pretendia fazer algo para “fisgar” o Edu de vez, aquele era o momento.

- E como a gente pode fazer isso? – falei de modo um pouco mais insinuante, torcendo para que soasse de forma sedutora. Depois dei mais um passo, eliminando de vez a distância entre nós, e apoiei a mão no seu peito.

- Não sei, você tem alguma ideia? – ele permaneceu imóvel, mas seu tom e os olhos fixados em mim insinuavam que ele mesmo tinha muitas ideias sobre o que fazer.

Fiquei em silêncio analisando a situação. Uma parte de mim queria desesperadamente que ele me abraçasse, colocasse a mão na minha cintura, que fizesse algo que demonstrasse algum interesse. Era muito difícil lidar com aquela postura fechada e misteriosa. Todos seus movimentos eram praticamente indecifráveis. Ele dava pistas confusas, ora deixando entender que gostava de mim, ora que estava só brincando comigo.

Porém, o calor do meu corpo contra o dele, o toque da minha mão contra a sua pele, seus olhos verdes brilhando de expectativa, a música, meu coração disparado dentro do peito... Tudo isso falou mais alto. Me enchi de coragem e aproximei meu rosto do dele, ficando a poucos centímetros da sua boca. Com o corpo tremendo, fechei os olhos e pressionei os meus lábios contra o dele de forma suave, como se estivesse pedindo permissão para ir adiante.

Segundos depois ele passou o braço pela minha cintura, me puxando para ainda mais perto. O beijo começou de maneira delicada, mas foi aumentando de intensidade conforme eu deslizava as mãos pelas suas costas e acariciava o seu cabelo. Ele também aproveitava para desbravar o meu corpo, me segurando pela nuca e dando leves puxões no meu cabelo de vez em quando. Em certo momento, ouvi o barulho da latinha que ele tinha nas mãos caindo no chão, deixando-o com as duas mãos livres.

Eu estava completamente ciente que havíamos nos tornado o centro das atenções. E por mais que odiasse chamar a atenção, eu não estava me importando. Era tão bom ficar com o Edu! A química que rolava entre a gente, a forma como nos encaixávamos tão perfeitamente... Sem falar no fato de finalmente ficarmos juntos em público. Para mim, era uma verdadeira conquista! Talvez agora as coisas começassem a fluir de maneira mais fácil, sem tantas dúvidas e medos.

Ficamos mais um tempo juntos, conversando e trocando beijos, uma de suas mãos na minha cintura. A sensação de alegria que tomava conta de mim era tão grande que eu desconfiava que seria capaz de sair flutuando por aí.

- Preciso dar um pulo no banheiro. Você me espera aqui?

- Claro, vai lá – respondi – Acho que vou aproveitar para ir também. Preciso dar uma olhada na minha maquiagem...

- Aff, para de bobagem. Está ótimo assim... – mexeu as mãos demonstrando que aquilo não tinha importância.

- Falou o cara que manja tudo de make up – falei de modo brincalhão – Vai por mim, é melhor dar uma checada. E você – coloquei a mão no seu rosto – melhor limpar o rosto também. Tem um monte de glitter da minha sombra aqui, ó – esfreguei os dedos de leve pela lateral do seu rosto, rindo da situação.

- Vixi, melhor eu ir logo, então... Não quero ficar brilhando por aí...

Assim que ele saiu, me virei para subir até o quarto da Carol. Eu sabia que encontraria tudo o que precisaria por lá, incluindo a minha bolsa. Logo que me viram cruzando o Gueto, Alê e Carol vieram em minha direção. Os dois pareciam estar bem “animadinhos”.

- Tá ouvindo a música? – ela praticamente gritou, o entusiasmo brilhando nos seus olhos.

- Que música? – perguntei sorrindo, já imaginando a resposta.

- A de você sambando na cara das inimigas – ela riu fazendo todo mundo cair na gargalhada.

- Aêê sereia, conseguiu fisgar o pirata! – Alê comemorou com uma dancinha duvidosa.

- Não seria o contrário: o pirata fisgou a sereia? – a Cá questionou.

- Vem cá, o que vocês andaram bebendo? – perguntei enquanto caminhava para o interior da casa com os dois no meu encalço.

- Shots de tequila! – responderam juntos em ritmo cantado antes de caírem na risada.

- Vocês dois estão muito amiguinhos essa noite, hein?

Tudo bem que eles sempre se deram bem, mas eu sentia algo diferente no ar. Só não sabia dizer o quê.

- Estamos comemorando! Sabe por quê? – Alê apontou para mim tentando fixar o dedo na minha direção, sem muito sucesso – Porque até um pé na bunda te põe para frente. Ou seja, a Carol assumiu a dianteira essa noite – ele completou caindo na risada como se aquele comentário fosse muito engraçado.

Nota mental: nunca mais deixar aquela dupla sozinha com uma garrafa de tequila.

Seguimos todos até o quarto da Carol e enquanto eu pegava o rímel da minha amiga emprestado para dar um up na minha maquiagem, ela e o Alê faziam guerra de travesseiros no quarto. Tentei entrar no meio para interromper a bagunça, mas não adiantou. Acabei levando alguns golpes até que finalmente consegui colocar “ordem” no lugar e convencê-los a voltar para a festa.

Desci as escadas e segui até o Gueto rindo sem parar da palhaçada dos dois. Eles estavam impossíveis fazendo uma piada atrás da outra. Porém, meu ânimo mudou quando cheguei na festa e vi a Mari em um canto conversando com o Edu. Ela mexia as mãos sem parar e passava a mão pelos cabelos parecendo ansiosa enquanto o carioca apenas escutava com os braços cruzados e jeito de entediado.

- Droga, o que ela está fazendo com ele? – senti meu corpo ficar tenso e a raiva tomar conta de mim. Tudo que eu queria era ir até lá e tirar o Edu de perto daquela víbora.

- Calma! Aguenta firme! – a Cá disse, como se estivesse adivinhando meus pensamentos – Seja superior. Enquanto ela tenta te prejudicar, nós – mexeu os dedos para indicar nós três – vamos para a pista dançar. Depois, quando ela cansar, você vai até lá e pega o seu boy de volta mostrando todo o seu poder de sereia, combinado?

Assenti com a cabeça, fazendo um tremendo esforço para me controlar. Eu sabia que a minha amiga estava certa. Me rebaixar ao nível da Mari seria fazer o jogo dela e isso era exatamente o que eu não queria. E no final das contas, o jogo estava a meu favor. Se alguém tinha motivo para desconfiar que eu não estava na parada pelo Edu, agora não tinha mais.

Os dois me puxaram para a pista improvisada no meio do Gueto e começamos a dançar junto com as outras pessoas. Alguém tinha colocado funk para tocar e a minha dupla “tequileira” começou a causar na pista, dançando até o chão e se divertindo muito. Mesmo contrariada, entrei no ritmo e tentei me divertir. Mas claro que eu não conseguia tirar o olho do lugar onde a Mari estava com o Edu.

Fiz o máximo que pude para relaxar e curtir a música, mas não consegui me segurar por muito tempo. A raiva e o descontentamento com aquela situação foram ganhando força e dominando, igual algo cozinhando em uma panela de pressão. Se eu não saísse dali, com certeza explodiria.

Vários pensamentos passavam pela minha mente, me deixando cada vez mais frustrada. Poxa, se eu queria ficar com o cara, então por que eu não podia ir até lá e simplesmente ficar com ele? Por que eu precisava ficar a mercê daqueles joguinhos bobos e cansativos? E o principal: se ele queria ficar comigo, por que não deixava a Mari falando sozinha de uma vez?

Cansada daquela confusão, subi para pegar minha bolsa e voltei para a festa determinada a ir embora. Ainda era cedo, quase duas da manhã, mas não aguentava mais aquele lugar. Passei pela Carol e pelo Alê e me despedi rapidamente. Animados como estavam, eles nem me deram atenção. No mínimo não entenderam que eu estava indo embora de verdade.

Deixei os dois para lá e foquei no meu próximo objetivo. Com a raiva pulsando nas veias, segui em direção à loira.

- Tchau Mari, tchau Edu, estou indo embora – fui direto ao ponto sem nem me preocupar em ser simpática ou educada. Todo meu corpo estava tenso e se eu não me segurasse, seria capaz de soltar umas boas verdades para os dois.

- Tchau, Gabi – a loira me respondeu de forma irônica, como se quisesse que eu já tivesse deixado a festa a muito tempo.

- Não, espera. Eu vou com você. É perigoso você sair agora sozinha – o carioca aumentou o tom de voz ao perceber que eu já estava me afastando.

Virei o rosto para encará-lo, a expressão fechada – Não precisa se preocupar, eu sei me virar sozinha.

- É Edu, e está cedo para você ir. A festa acabou de começar – Marília entrou na conversa usando um tom manhoso para convencê-lo.

Aff...

- Verdade, a festa está só começando... É melhor você ficar e curtir – enfatizei de modo sarcástico antes de virar e voltar a caminhar.

Ouvi o barulho dele correndo para me alcançar. Segundos depois, o carioca estava ao meu lado, mexendo a boca como sempre fazia quando estava bravo – Já disse que vou com você.

Lancei um olhar zangado na sua direção e cruzei os braços, me sentindo confusa, nervosa, frustrada e, sobretudo, com vontade de bater no Edu – Então vamos logo – foi tudo o que consegui dizer.

Deixamos a casa lado a lado em silêncio. Quais reviravoltas aquela noite ainda me reservaria?
_______________
Notas finais: Gente do céu, pensem em uma pessoa ansiosa querendo saber a opinião de vocês! O que acharam da festa? Cara, foram tantas reviravoltas que deu até para ficar tonta! Tadinha da Gabs!

E como vocês podem imaginar, as emoções da festa ainda não acabaram! Pois é, ainda tem muitaaaa coisa para acontecer! Portanto, façam suas apostas: o que será que vai acontecer com o casal Gadu?


Beijo gente, até semana que vem!

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