Passei
pelo jardim da casa da Carol e abri o portão, que estava destrancado, saindo
para a rua. Foi só aí que me dei conta: ainda não havia ligado para o táxi.
Puts, como eu era burra!
Bufando
de raiva, peguei o celular na bolsa e procurei o número na agenda. O “seu” João
era um velho conhecido da família e um taxista de confiança. Eu sempre ligava
para ele quando precisava voltar para casa e não tinha carona.
Alguns
toques depois ele atendeu.
-
“Seu” João, é a Gabriela, filha da Beatriz, da escola de balé...
-
Oi, Gabi! Tudo bem, filha? Já sei: está no Itapema, não é? – ele perguntou com
simpatia.
-
Isso mesmo. Será que o senhor pode vir me buscar naquele mesmo endereço? –
tentei animar um pouco a minha voz para não parecer mal educada.
-
Claro, em dez minutos estou aí.
-
Perfeito, fico esperando – disse antes de desligar.
-
Chamou um táxi? – Edu me perguntou de modo receoso, me olhando como se eu fosse
um bicho feroz prestes a dar o bote.
-
Sim... O “seu” João já está acostumado a vir me buscar. Ele disse que daqui a
dez minutos está aqui – cruzei os braços e fechei a cara, demonstrando que não
estava nem um pouco a fim de conversar.
-
Nossa, rápido assim? – claro que ele insistiu em puxar assunto. E claro que
fiquei ainda mais irritada por causa disso.
-
Cidade pequena, carioca! Aqui só tem uma rua que sobe e outra que desce...
Guararema é um ovo, esqueceu? – meu tom era azedo.
-
Ihh, qual é? Vai ficar “bravona” até quando? - ele se aproximou com um sorrisinho forçado
no rosto, tentando amenizar o “climão”.
-
Não estou brava – resmunguei de volta.
-
Não? Tem certeza? – provocou, chegando mais perto.
-
Não. Só estou cansada desses joguinhos de de quinta série da Mari – acabei
desabafando, ainda com a cara emburrada.
-
Joguinhos de quinta série... – o Edu repetiu como se estivesse analisando a
frase.
-
É, quinta série! Não consigo entender o que ela quer com isso... Fica pegando
no meu pé, inventando um monte de coisa, criando situações chatas – continuei
falando, mais para mim mesma do que para ele. Eu sentia uma mistura estranha
fervilhando dentro de mim. Eram tantos sentimentos que eu mal conseguia
diferenciá-los: raiva, medo, amor, desejo... Teria dado qualquer coisa para fugir
daquela situação, para ir a algum lugar longe daquela bagunça.
-
Quinta série... Fica pegando no seu pé e criando situações – ele continuou
repetindo, parecendo um analista.
-
Vai ficar repetindo tudo o que eu falo feito um papagaio? – descontei a minha
raiva.
-
Vixii... Calma aí, mocinha – ele ergueu as mãos em um gesto conciliador – Olha,
a Mari é só minha amiga. Quer dizer... ela tem me ajudado muito, principalmente
lá na escola. Eu ainda me sinto meio perdido...
-
Eu não me importo com o que rola entre você e ela – disparei, o interrompendo –
Só quero poder ficar em paz, entende? Não quero ninguém me dizendo o que tenho
que fazer, ou se metendo no que eu sinto ou no que deixo de sentir.
Um
silêncio inquieto surgiu entre nós. Aquele tipo de silêncio carregado de
palavras presas na garganta e sentimentos aprisionados. Aquele silêncio que faz
a alma gritar e o coração ficar apertado dentro do peito, que faz o corpo ficar
tenso e que são tão pesados que chegam a curvar os nossos ombros.
-
Eu entendo... – o carioca disse, por fim, com a voz baixa e carregada de
significados. Nossos olhares se cruzaram e por um minuto senti como se
estivesse de fato conectada com ele. Como se o Edu realmente fosse capaz de me
compreender, de ler o que passava na minha mente e acalmar o meu coração.
Balancei
a cabeça e cruzei os braços com força, como se quisesse me proteger de tudo o
que estava acontecendo. Cansada, fechei os olhos e me encostei no muro, pedindo
silenciosamente que a noite terminasse bem.
Ao
longe, ouvi o barulho de um carro se aproximando. O “seu” João cumprira a sua
promessa e chegara com rapidez. Respirei fundo, soltando o ar pesadamente. Pelo
menos alguma coisa saiu como o planejado...
-
Boa noite, boa noite! – o motorista nos cumprimentou assim que entramos no
carro – Nossa menina, que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?
-
Não, não... É só uma dor de cabeça forte. Só preciso ficar quietinha um pouco –
menti.
-
Ahhh, é o calor dessa cidade! Fica tão quente que parece que o ar está nos
sufocando – gesticulou as mãos de modo agitado enquanto caprichava no seu
sotaque de cidade do interior.
-
É, deve ser isso mesmo. Hoje está mais quente que o normal – improvisei alguma
coisa só para não deixá-lo falando sozinho.
-
Mas fica tranquila! Rapidinho a gente chega na sua casa, aí você toma um
comprimidinho e vai dormir um pouco. Aí acorda boazinha para viajar amanhã – o
motorista me ofereceu um sorriso amigável antes de dar a partida e começar a
dirigir.
-
Como o senhor sabe da viagem? – levantei a sobrancelha, intrigada.
-
Sua mãe me ligou hoje. Vou levá-las até ao aeroporto. E é bom você já colocar o
despertador para tocar. Senão vai perder o horário e sua mãe embarca sem você –
“seu” João soltou uma risada alta, como se tivesse acabado de contar uma piada
muito engraçada. Me esforcei muito para abrir um sorriso, só para não parecer
antipática. O meu estado de espírito estava péssimo naquele momento.
O
resto da viagem se resumiu ao motorista rindo, imaginando como seria hilário se
eu ficasse sozinha em casa no maior estilo “Esqueceram de Mim”, enquanto eu
apenas balançava a cabeça com um meio sorriso engessado no rosto. Edu também se
esforçava para parecer que estava gostando do assunto dando uma risadinha
amarela de vez em quando.
Felizmente,
chegamos rápido até a porta do condomínio. Peguei a bolsa para pagar a corrida,
mas o Edu estendeu a mão e acertou o valor antes que eu pudesse interromper.
Lancei um olhar contrariado na sua direção, só para receber de volta um dar de
ombros como se não estivesse nem aí para o que eu pensava.
Depois
das despedidas, descemos juntos e passamos pela portaria do prédio enquanto o
taxista dava meia volta e seguia para a próxima corrida.
Caminhamos
lado a lado, o peso do silêncio entre nós. Senti o Edu se aproximando, como se
quisesse segurar minha mão, mas cruzei os braços assumindo uma posição de
defesa. Tudo o que eu queria era chegar em casa, deitar na minha cama e
esquecer aquela noite.
Senti
meu celular vibrando dentro da bolsa. Soltando o ar pesadamente, pesquei o
aparelho.
“Gabi, você chegou bem em
casa? Cara, estou meio bêbada! Demorou para cair a ficha que você tinha ido
embora...”.
A
voz enrolada da Carol na mensagem não deixava dúvidas. Ela realmente bebera
além da conta.
-
Não, jura? Nem percebi que você estava alterada – comentei em voz alta de modo
irônico.
-
Está falando sozinha, Gabriela? – Edu riu de mim.
Apenas
lancei outro olhar contrariado na sua direção, antes de apertar um botão na
tela e começar a gravar uma mensagem de voz.
“Relaxa, acabei de entrar no
condomínio. Daqui a pouco estou em casa. Mas ó, nada de deixar o Alê dirigir
nesse estado, hein? Coloca ele para dormir no sofá”.
A
resposta chegou logo na sequência.
“Ahh, que ótimo! Fiquei
preocupada. Está tudo bem, né? E pode deixar, não deixo o Alê sair daqui
dirigindo de jeito nenhum. Já tomei a chave do carro da mão dele”.
Eu
sabia que, na verdade, ela estava querendo saber sobre o carioca. E em relação
aquele assunto, tudo bem era o que, definitivamente, não estava. Mas eu não ia
dar o braço a torcer e reconhecer isso na frente dele...
-
Tia Melissa vai matar o Alexandre quando souber que ele bebeu na festa – o
carioca comentou ainda mais próximo de mim. Eu poderia apostar que ele estava
apenas esperando uma vacilada minha para me abraçar ou segurar minha mão. Mas
agora quem estava se fazendo de difícil era eu. Não estava nos meus planos
facilitar para ele...
-
Tenho certeza que ele só bebeu para acompanhar a Carol. Seu primo sempre fica
no refrigerante... – avaliei. Tinha algo de diferente no comportamento do meu
amigo naquela noite, eu só não conseguia sacar o que era - Bom, sei lá... Alê
estava meio estranho hoje – acrescentei assim que viramos a esquina da minha
rua.
“Carol, está tudo ótimo.
Acabei de chegar na rua de casa. Vou descansar que é amanhã é partiu Bahia.
Cuida de tudo aí e depois me conta os babados da festa”.
Mandei
a resposta ao mesmo tempo que passávamos em frente a casa do Alê. Pelo canto do
olho fiquei reparando se o Edu fazia algum movimento demonstrando que ficaria
por ali, mas ele permaneceu firme ao meu lado. Pelo jeito ele manteria a
tradição de me levar até a porta.
-
Boa noite, Edu – disse, assim que paramos na frente da minha casa. Ficando na
ponta dos pés, estiquei o corpo para dar um beijo no seu rosto e depois me
virei.
Subi
os três degraus e percorri o pequeno espaço entre a área e a porta de casa
quando ouvi sua voz me chamando – Não, espera! – Segundos depois, senti suas
mãos me empurrando contra a parede. Antes que pudesse respirar, ele colou o seu
corpo no meu de tal forma que não havia como eu fugir. Com firmeza, segurou o
meu rosto e me beijou com intensidade, como se estivesse com medo de me perder.
Eu
sempre sentia algo diferente quando nos beijávamos. O meu coração disparava e
parecia que cada parte de mim implorava por ele. Era como se eu tivesse
encontrado uma parte minha que estava perdida, como duas peças de quebra-cabeça
que se encaixavam perfeitamente. Mas quando ele me beijou daquela maneira,
parecia que alguém tinha duplicado a química que rolava entre nós. Tudo estava
amplificado e cada gesto dele despertava uma reação intensa no meu corpo. Era
como caminhar dias a fio sem comer e beber água e finalmente encontrar um oásis
no meio do deserto. Ou talvez como encontrar o único remédio capaz de amenizar
a minha febre.
Ele
me segurava com firmeza, o calor do seu corpo me aquecendo, o seu típico cheiro
de roupa limpa me convidando a me aninhar ainda mais nele, minhas mãos
desbravando suas costas, braços, pescoço, peito....
Eu
não conseguia mais me lembrar do porque estava brava com ele. Na verdade, acho
que seria incapaz até de lembrar o meu nome... Estar com ele sempre era bom, mas
dessa vez estava superando todos os limites. O desejo que rolava entre nós era
como um ímã que não permitia que eu me afastasse.
-
Eu não resisto a essa boca tão gostosa – ele se afastou um pouco de mim e
sussurrou enquanto segurava o meu rosto com as mãos e me fixava seus olhos em
mim.
Em
seguida, ele desceu até o meu pescoço, distribuindo beijos naquela região –
Esse perfume... – voltou a sussurrar, agora descendo a mão delicadamente pelo
meu braço, o seu toque causando arrepio por onde passava – Essa pele... Eu não
resisto a você, Gabriela – afirmou com um brilho intenso no olhar. Estiquei o
corpo para beijá-lo, dessa vez de forma mais calma e carinhosa, aproveitando
cada sensação que me invadia.
Meu
coração enfim se acalmou. Para mim, não havia mais dúvidas: ele gostava de mim
e me queria. Apesar do jeito fechado e misterioso, não tinha como ele esconder
o que sentia quando me beijava daquela maneira.
-
Você confia em mim? – perguntou com a voz baixa, como se ele próprio estivesse
inseguro com a situação.
Parei
por um instante, olhando o seu rosto fixamente. Os fios loiros caindo pela
testa, os intensos olhos verdes, a pele levemente queimada de sol, alguns fios
de barba que ensaiavam despontar marcando levemente o seu maxilar. Aquela
pergunta confrontava tudo o que eu sentia por ele: vontade de me entregar e
medo de estar me iludindo, desejo de ficar junto, de ficar de mão dada e de
beijá-lo sempre que tinha vontade, contrariando as regras que ele mesmo impunha para
nós. O doce encanto que vinha dele e que me desafiava todos os dias contra a
vontade de ficar quieta no meu canto e voltar a ter a vida que sempre tive.
Ao
pensar nisso, acabei rindo sozinha. Quem eu queria enganar? Minha vida nunca
mais seria a mesma depois do Edu. Eu pedira por uma mudança, e o universo me
atendeu. Tudo o que eu poderia fazer era aceitar o que estivesse por vir.
-
Confio – respondi, tentando parecer firme e determinada. No fundo eu desconfiava
que não havia conseguido, mas mantive a cabeça erguida mesmo assim.
-
Então vem – ele segurou a minha mão e começou a me puxar em direção a sua casa.
-
Edu, onde estamos indo? – perguntei enquanto me esforçava para acompanhar o seu
ritmo me equilibrando sobre os meus sapatos.
-
Você confia em mim, não confia? – o carioca me olhou de relance, um sorriso
travesso brincando em seus lábios.
Quando
chegamos em frente à casa do Alê, ele parou e com um movimento rápido se
abaixou, levantando os meus pés e tirando os meus sapatos.
- Eeeei... – protestei.
-
Shhiuuuu... – me censurou, antes de voltar a me puxar. Peguei os sapatos das
suas mãos e voltei a acompanhá-lo. Passamos pela garagem, que ficava na lateral
da casa, em passos leves e silenciosos. Estava na cara que ele não queria
acordar ninguém.
A
casa lembrava muito aquelas que estamos acostumados a ver no litoral, com
portas de madeiras que se abriam para a parte externa permitindo a entrada do
sol. Nos fundos, havia outro jardim, esse ainda maior que o primeiro. Uma fonte
de pedra dava um charme a mais às muitas flores coloridas que ali existiam e a
vários cristais espalhados pelo chão. Bancos de pedra estavam dispostos por
todo o espaço fazendo um convite a quem chegasse ali para sentar e aproveitar a
calma que o lugar transmitia.
Nos
fundos havia um espaço para refeições com churrasqueira, mesa de madeira no
estilo rústico e redes. Como já visitara aquele espaço muitas vezes, sabia que
ali também havia uma escada que dava acesso a uma espécie de quarto reserva.
Dona Melissa mantinha aquele espaço montado para o caso de receber visitas e
não ter espaço para abrigar todos dentro da casa.
Vi
o carioca cruzar o espaço, abrir a porta de vidro que dava acesso a escada e
ascender a luz – Resolvi ficar nesse quarto, porque minha mãe está no quarto de
hóspedes e não queria incomodar o Alê – explicou antes de começar a subir.
Só
quando percorri os primeiros degraus que me dei conta do que estava pela
frente. Ele estava me levando para o seu quarto! Caraca! E agora? Aquele era um
caminho sem volta. Eu não tinha como voltar atrás.
O
carioca abriu a porta e ascendeu a luz, revelando um ambiente amplo, porém
simples e com pouca mobília. As paredes eram brancas e os móveis em um tom de
madeira claro. Havia um guarda-roupa, uma cama de casal, uma cômoda e uma
cadeira cheia de roupas.
-
Mi casa, su casa – abriu os braços
indicando o ambiente como se quisesse dizer que eu deveria ficar à vontade.
À
vontade era tudo o que eu não estava naquele momento...
Respirei
fundo e passei na frente dele, entrando no quarto. Ele seguiu o meu exemplo na
sequência, fechando a porta e indo direto até o guarda-roupa. Enquanto fuçava
no armário, observei o lugar. O perfume e o desodorante dele estavam sobre a
cômoda. Um skate estava perdido em um canto perto do tênis da Nike –
desconfiava que era o seu predileto, porque ele sempre o usava na escola. No
geral, não havia muito para se ver ali.
-
Ainda tem muita coisa minha no Rio – ele disse como se estivesse lendo os meus
pensamentos – Meu pai vai trazer junto com a mudança.
-
Deve ser ruim ficar sem as suas coisas, né?
-
Um pouco, mas a gente acostuma – falou em tom indiferente. Mas pelo seu olhar
dava para perceber que ele sentia falta da antiga cidade.
-
E quando vocês se mudam para a casa de vocês? – quis saber. Deveria ser
horrível ficar em um lugar que não era seu de verdade.
-
No máximo até o mês que vem. Já está quase tudo certo. Minha mãe já fez todas
as alterações que queria. Agora é só cair pra dentro – explicou colocando um
notebook já ligado sobre a cômoda. Estava tão nervosa que mal reparei que o
objeto estava em suas mãos.
Ele
mexeu em alguns botões e uma música suave começou a tocar.
A
canção combinava perfeitamente com ele: lembrava sol, praia e tinha um ritmo
lento e cativante. Encarei a tela e vi que tratava-se da banda Natiruts.
-
Pra você relaxar um pouco – chegou mais perto com um sorrisinho tímido no
rosto.
-
E quem disse que eu estou nervosa? – coloquei a mão na cintura fazendo marra.
-
Qual é, Gabi? Quer mentir para mentiroso? – riu da minha cara, chegando mais
perto e colocando a mão na minha cintura – É sério, relaxa. É pra confiar em
mim, lembra? – senti seus dedos roçarem de leve a minha bochecha em um gesto
carinhoso.
Dei
uma risada sem graça, sem coragem de olhar para ele. Estava tão ansiosa que mal
conseguia me mexer.
-
Vem cá... – ele me levou até a beira da cama, me colocando sentada ali. Depois apagou
a luz antes de se juntar a mim. A tela do notebook fornecia a única fonte de
iluminação, deixando o quarto com um clima um pouco mais aconchegante.
Senti
seus braços me envolvendo de forma carinhosa enquanto ele acariciava de leve
meus cabelos. Respirei fundo para tentar relaxar. Me concentrei no ritmo da
música, soltando o corpo devagar, deixando o Edu me conduzir pra onde ele
desejasse.
Com
um gesto suave, ele me deitou na cama, colocando-se sobre mim. Senti sua boa
sobre a minha e naquele momento, por mais que fizesse calor, senti um arrepio
percorrer o meu corpo. O beijo começou de forma calma e lenta e aos poucos foi
ficando intenso. Eu sentia as mãos do Edu explorando todo o meu corpo, causando
arrepios e deixando minha respiração pesada.
Fechei
meus olhos e permiti que ele me levasse por aquele mundo até então desconhecido
por mim. Cada toque, cada nova descoberta, seu corpo sobre o meu... Nada
parecia ser real. Era como se estivesse em uma realidade paralela, onde só nós
existíamos. Longe de todos os problemas, dúvidas, boatos e pessoas que queriam
noss atingir.
Naquele
quarto com o Edu eu pude, finalmente, expressar tudo o que sentia. Eu o
beijava, abraçava e não tinha medo de pedir por mais. Ali não existiam regras a
serem seguidas. Eu só precisava seguir o amor que sentia por ele.
A
sensação era tão boa que por alguns momentos eu apenas fechava os olhos,
desejando que aquele encontro nunca mais acabasse. Quando voltava a abrir, era
somente os seus olhos que via, brilhando contra a luz fraca do notebook e me
chamando para mergulhar naquela imensidão esverdeada.
Não
tive medo quando ele deslizou a mão pela minha cintura e puxou a minha blusa
para cima, nem quando puxou o zíper da saia para tirá-la. Ele me olhava como se
fosse uma joia preciosa e seus olhos brilhavam como faróis. Seus gestos eram
delicados e firmes ao mesmo tempo. Ele me guiava e eu seguia todos os seus
passos como uma aluna obediente.
Tudo
aconteceu sem pressa, como se o mundo tivesse parado só para nós dois. No início,
ele se preocupou querendo saber se estava doendo. Depois, ao perceber que eu
estava mais à vontade, passou a se movimentar de maneira gentil, distribuindo
beijos pelo meu rosto e repetindo a todo momento que eu era linda.
Eu
nunca tinha parado para imaginar como seria a minha primeira vez. Claro que já
tinha pensando sobre o assunto, mas nada que incluísse detalhes. Mas quando
terminamos e ficamos abraçados olhando um para o outro, o meu coração batendo
descontrolado dentro do peito, tive a certeza que nem se tivesse planejado cada
passo teria saído de forma tão perfeita. Eu me sentia a garota mais feliz do
mundo. A dona dos olhos verdes mais encantadores de Guararema.
-
Foi a sua primeira vez, não foi? – ouvi sua voz preguiçosa perguntar.
Assenti
com a cabeça, entretida em mexer nos seus cabelos.
-
Agora você nunca mais vai esquecer de mim – ele sorriu de maneira convencida
antes de depositar um selinho nos meus lábios.
-
Quem disse? – provoquei.
Ele
virou o corpo rapidamente, me surpreendendo. Quando vi, estava sobre mim, os
braços apoiados um de cada lado da minha cabeça como se quisesse impedir que eu
fugisse.
-
Que foi? Está querendo me amedrontrar? – continuei mantendo uma postura
determinada – Sabe o que eu faço com você?
Ele apenas mexeu a cabeça como se estivesse me
desafiando a continuar.
-
Isso aqui, ó – falei antes de começar a fazer cosquinha na sua barriga. Não
demorou para ele cair na gargalhada, se encolhendo todo na cama me pedindo para
parar. Insisti com as cócegas, me divertindo tanto quanto ele.
Por
fim, ele acabou conseguindo virar o jogo, agarrando as minhas mãos e me jogando
com tudo na cama.
-
Você é linda, sabia? – ele segurou os meus braços acima da minha cabeça e
concentrou toda sua atenção em mim.
Fiquei
séria, fixando meu olhar no dele.
-
Sou mesmo um cara de muita sorte...
-
É, acho que, sem dúvidas, hoje também foi meu dia de sorte...
***
Ficamos
juntos por mais um tempo, deitados na cama. Vesti uma de suas camisetas e
sentamos um ao lado do outro na cama, Edu me mostrando algumas de suas músicas
prediletas no notebook.
O
dia já estava quase amanhecendo quando lembramos de olhar a hora.
-
Edu do céu, já são quase seis da manhã! Daqui a pouco minha mãe acorda e eu
ainda não estou em casa – de repente o desespero bateu. Se dona Beatriz
descobrisse que eu não havia dormido em casa eu teria muito o que explicar...
-
Puta que pariu, nem fala! Daqui a pouco a tia Melissa acorda para meditar no
jardim... Se ela ver a gente junto vai dar ruim – ele deu um pulo na cama e foi
procurar uma bermuda.
-
Meditar?
-
É, ela acorda todos os dias para praticar yoga e meditar. Diz que é o seu
ritual matinal – explicou, vestindo a roupa apressado.
Segui
seu exemplo e coloquei minha saia. Peguei minha blusa, sapatos, bolsa e prendi
o cabelo em um coque – tinha até medo de imaginar qual era a situação dele. Não
tive coragem de tirar a sua camiseta. Estava tão cheirosa que queria guardar
para mim como recordação. Como o Edu não disse nada a respeito, continuei com a
peça dando um nó na cintura para não ficar tão cumprida.
Cinco
minutos depois estávamos atravessando o jardim e a garagem parecendo dois
agentes secretos. Andávamos na ponta dos pés e eu mal respirava de tanto medo
de acordar alguém.
Assim
que nos afastamos o suficiente da casa caímos na risada juntos por causa da
situação.
-
Acho melhor você ficar por aqui. Se minha mãe estiver acordada, posso inventar
que dormi na Carol ou qualquer outra coisa... Mas se ela te ver, aí fica
complicado explicar qualquer coisa – pedi, ainda tentando controlar o riso.
-
“Tá” certo! Vai lá, então... – concordou, mexendo no cabelo. Percebi que ele
não sabia como se despedir e por isso estava sem graça.
Um
sorriso brotou no meu rosto. Eu estava começando a desvendar o mistério chamado
Edu...
Me
aproximei e fiquei na ponta dos pés para beijar sua boca – A gente se vê na
quarta-feira de cinzas.
-
A gente se vê – ele repetiu antes de eu virar e correr para casa.
_______________________________________________
Notas finais: Desculpem o atraso na postagem! Essa semana foi muito corrida no trabalho!
Geeeente do céu, pelo amor, me contem a opinião de vocês! Estou curiosa!
Só quero avisar que a partir de agora essa bagaça vai pegar fogo! Pre-para que vem muitaaaaa coisa por aí!