quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Transcrição nº 10 – Se perder é o caminho

Notas da Estagiária: Assim como a Raquel, eu precisava tomar uma decisão. A bomba tinha estourado e, como sabia de tudo, era hora de determinar de qual lado eu ficaria.

Fiz o que achei que seria melhor para ela...

Quanto ao seu recado da transcrição anterior, podemos resolver isso de um jeito muito prático: eu posso parar de enviar os documentos, é só você e as suas leitoras pedirem.

E aí? O que vai ser?
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Transcrição da página 31 à 34

[“Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você” – Quase sem querer, Legião Urbana]

Abro os olhos devagar. 

Luzes brancas no teto.

Cheiro de álcool e remédio.

Agulha no meu braço.

Estou tonta. A cabeça dói.

Amor está ao meu lado. Furioso.

Tenho medo de perguntar o motivo.  Mas não há para onde correr. Preciso descobrir até que ponto ele sabe do meu “pequeno-grande” deslize. 

Sendo assim, finjo que não lembro muito bem o que aconteceu e peço para que me conte.

“Quase no fim da audiência a Estagiária te deu um remédio para dor de cabeça. Como você estava concentrada no desenrolar do processo, não prestou atenção e acabou tomando uma medicação da qual você é alérgica. Sua assistente me disse que não sabia nada a respeito da sua restrições a algumas substâncias.

A audiência foi suspensa e remarcada. Estávamos à beira da vitória e agora... voltamos para a estaca zero”.

Ok, vamos aos fatos:

- eu realmente sou alérgica a certos medicamentos;

- a Garotinha realmente não sabia nada sobre isso;

- porém, não foi um acidente. Eu tomei o remédio sabendo que ele causaria uma reação alérgica;

- por que tomei o remédio mesmo sabendo que me faria mal? Porque precisava de tempo. E o único jeito de ganhar tempo era dando um jeito de interromper a audiência. E a única forma de interromper a audiência era causando uma emergência. Portanto, eis a razão de tomar o comprimido;

- o lado bom: pelo jeito, ninguém percebeu que causei toda a confusão de propósito;

- o lado ruim: eu havia conseguido o tempo que tanto almejava. Mas agora não sabia o que fazer com ele;

***

Fiquei sozinha no quarto. Amor foi buscar roupas, comida e o laptop para trabalhar enquanto me fazia companhia. 

Isso significava uma coisa: a gente até poderia sair do escritório, mas o escritório não saía da gente.

Legal. Muito legal...

Meu estado era estável. Só precisava ficar em observação enquanto limpavam o meu organismo das substâncias que me causavam mal.

Irônico, não? Meu corpo passava por um estado de purificação enquanto eu tentava encontrar uma forma de limpar minha mente para encontrar a solução. A vida era mesmo cheia dessas coincidências estranhas...

A diferença é que meu corpo estava de repouso enquanto minha mente percorria mil quilômetros em um único segundo. Eu precisava aproveitar a trégua que o tempo me dera. Precisava decidir.

***

A porta se abriu. Achei que era a enfermeira com mais um antialérgico, mas ouvi um doce chamado me trazendo de volta para o momento presente. 

Era ele.

Contrariando todas as possibilidades, ele estava ali.

“Não tenho muito tempo, mas queria saber como você estava. A sua assistente me ajudou a entrar sem chamar atenção. Ela está vigiando e vai me ligar se o seu noivo voltar”.

A palavra noivo desencadeou um súbito entendimento: eu queria explicações. Mas antes, eu mesma precisava esclarecer algumas questões.

A sensação de que seus olhos eram espelhos refletindo meus sentimentos me ajudou. Ofereci, da minha parte, todas as respostas para as perguntas que eu mesma gostaria de saber.

“Sim, eu tenho um noivo. Quando a gente se conheceu éramos apenas namorados, mas recentemente eu aceitei o pedido de casamento”;

- “Propositalmente eu causei esse mal-estar porque não queria que você fosse condenado no processo. Eu acredito na sua inocência. Não sei  porquê, mas acredito”;

“Eu vi você e sua namorada na capa de uma revista. Sei que não posso te cobrar fidelidade, mas... doeu. E foi por isso que eu não atendi nenhuma das suas ligações. Se é que, de fato, eram suas...”

Em troca, recebi a resposta pelas quais tanto ansiei:

“Eu realmente tinha uma namorada. Mas acredito que temos que manter ao nosso lado as pessoas responsáveis por fazer o nosso coração bater mais forte. E essa pessoa, infelizmente, não era mais ela. 

 Por isso terminei nosso namoro e estou tentando falar com você desde então”;

Wooow! Quando dei sinceridade, não esperava tanta transparência de volta.

Aquelas palavras mexeram comigo. Muito.

Era como entrar em uma piscina gelada em um dia extremamente quente. O alívio e a alegria eram imediatos.

“Realmente sou inocente no processo. Não entendo dessas coisas, mas meu advogado tinha uma prova incontestável que nos daria a vitória. Mas aí você desmaiou e... agora estamos aqui”.

“Não sei como a gente vai sair dessa enrascada que a gente se meteu, mas se você topar, podemos fazer isso juntos”.

Foi como desfazer um nó. Como descobrir o caminho quando se está perdida. Como acender a luz de um quarto escuro.

Meus instintos não estavam errados. O único crime pelo qual ambos éramos culpados era o de não resistir àquela força que nos atraía um para o outro. Mas como poderíamos, se era uma como uma onda que passava e arrastava a tudo e a todos?

E foi assim que encontrei a solução. 

A resposta não era ficar, ter, permanecer, temer.

O caminho era perder-se.

Então, com um simples gesto de cabeça, eu, meu coração e todo o meu ser concordamos com ele. 

Não importava como iriamos fazer para sair daquele labirinto, eu topava encarar o desafio ao lado dele.
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Notas da Manu: Aaaai gente, sou a única que fiquei suspirando aqui?

Agora dá para entender porque a Raquel está endoidando por causa desse menino. Ele é realmente um fofo! 

Olha, no lugar dela eu iria fácil, fácil, também. E vocês?

E pelo jeito a estagiária “tá” toda trabalhada no ressentimento. Calma querida, calma! 

Não precisa estressar. Estamos adorando o diário da Raquel, não é meninas? Tenho certeza que podemos entrar em um acordo de paz. O que acha?

Beijo gurias!

Até a próxima!


***Leia a próxima transcrição:Página 35 à 39: Enfim, vida

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Transcrição nº 9 – Bomba-relógio

Notas da Estagiária: Como a Raquel escreveu no diário, esse caso era realmente uma bomba-relógio. 

Eu acompanhava tudo só imaginando quando aquilo iria estourar. 

E o pior: o que eu iria fazer quando tudo desse errado. De qual lado eu ficaria? Do certo ou do perigoso?
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Transcrição da página 27 à 31

[“Uma gota no oceano ou um simples grão de areia
Podem mudar tudo
Reescrever a história, transformar dor em glória
Em um segundo” – Uma gota no oceano, NX Zero] 

Tic-tac. Tic-tac.

O tempo corria. E para mim era como uma bomba-relógio prestes a estourar.

Eu decidira tocar o processo adiante, sem fazer questionamentos. Meu coração deveria ser deixado de lado. Meu papel era vencer a causa, e foi nisso que me concentrei.

Tracei estratégias. Juntei provas. Mantive a máscara. Repeti para mim mesma que aquilo era certo. Me convenci que estava lutando pelos direitos de um empresário injustiçado e não pelo meu coração despedaçado.

Tudo dentro de mim gritava de desespero. Por fora, eu era uma rocha de otimismo e determinação.

Se me permitissem um pedido, eu desejaria tempo. Para fechar as feridas, para decidir o que era certo ou errado, para organizar a minha mente, para me encontrar no meio daquela bagunça.

Mas o relógio era implacável. Ele avançava e cada minuto a menos significava um passo a mais rumo ao fim do caminho.

***

Enfim, o grande dia chegou. Naquela tarde, aconteceria a audiência do caso. Para mim, mais parecia o juízo final.

Dramático? Sim. 

Mas a situação era extrema. Eu não conseguia mais sustentar a minha máscara. Era o fim do teatro.

Eu me vestira como se estivesse indo para a guerra: vestido social escuro, cabelo preso em um coque, sapatos de salto não muito altos, maquiagem bem feita. Armadura reluzente, palavras afiadas, planos alinhados.

Mas eu me sentia frágil, exposta. Eu parecia um bicho acuado prestes a ser capturado e não aguentava mais essa situação.  A única solução seria contra-atacar. Mas como?

Durante o percurso até o fórum fiz uma rápida avaliação das minhas possibilidades:

1 – sair correndo sem olhar para trás e nunca mais voltar;

2 – desistir do caso, contar toda a verdade para o Amor e encarar a fúria dele e da minha família por mandar um noivado e o melhor caso de todos os tempos para o espaço;

3 – ficar, encarar a situação e lidar pelo resto da minha vida com o sentimento de ter lutado por uma causa pela qual não acreditava;

4 – desistir do caso, procurar o rapaz da voz encantadora, contar tudo o que estava acontecendo no maior estilo “desabafo de vida” e esperar pela sua reação. Incluindo aí os riscos de ele não querer me atender, de estar ocupado demais para falar comigo, de nunca conseguir me aproximar por conta da barreira que “A Produção” fazia ao redor dele e, claro, dele estar muito feliz com a namorada e nem sequer se lembrar de mim – todas muito prováveis, considerando que recusei todas as ligações de número desconhecido que recebi nos últimos tempos porque não queria correr o risco de falar com ele;

5 – Aproveitar a situação para me vingar, mesmo acreditando seriamente que ele era inocente quanto as duas acusações;

Basicamente, todas as opções envolviam escolher entre o que eu realmente acreditava ser certo e tudo aquilo que a situação e as aparências diziam ser correto.

Ahh, como eu queria ter tempo... Mas a bomba-relógio estava prestes a estourar. Meu tempo já havia acabado.

***

Juiz, defesa, acusação, cliente. Todos estavam a postos em seus melhores ternos e expressões sérias e pensativas.

Eu lutava para manter a sanidade. Assumi o meu lugar e passei a rever papéis e contratos. Todos pensavam que eu estava concentrada e me julgavam profissional.

Eu tremia e lutava contra as lágrimas.

Ele ainda não estava lá. Não tinha certeza se compareceria. Havia a possibilidade de mandar um representante. Havia outros sócios envolvidos no processo que poderiam cuidar do caso.

Mas ele foi.

Quando entrou na sala, cercado por pessoas, como sempre, foi como se o meu coração falhasse uma batida. Nossos olhares se cruzaram e, quando me reconheceu, vi em seus olhos tudo o que sentia dentro de mim: saudade, medo, dúvida, vontade, sinceridade.

Éramos um espelho, refletindo um ao outro. 

Fui até ele e me apresentei como a advogada do empresário. Disse que esperava uma audiência limpa e rápida, e que todos saíssem ganhando.

Sua expressão foi da surpresa à dúvida. Silenciosamente, ele me questionava sobre o que estava acontecendo. Da mesma maneira, respondi que não teríamos tempo para explicações.

Éramos adversários.

Mas quando me afastei, meu coração ficou ao seu lado. 

Era inevitável.

***

A audiência corria exatamente como eu planejara. O advogado de defesa montara uma boa estratégia e estava quase ganhando a causa.

Aquilo não me surpreendia. No fundo, eu sabia que meu cliente não tinha muitos direitos.

Por isso, eu guardava uma carta na manga. Uma pequena cláusula no contrato que não fora muito bem estudada e que poderia mudar todo o jogo. Talvez não desse a vitória ao meu cliente, mas certamente renderia uma boa indenização.

No fundo, era isso que importava para ele.

Mas a defesa também tinha uma arma secreta. Claro que eles não sabiam disso, mas o depoimento dele decidiu “a partida”.

Enquanto contava como eles construíram a sociedade, o quanto lutaram juntos e como tudo sempre foi dividido e feito dentro da lei, eu não escutava a sua história. Eu a via. Fui capaz de visualizar cada obstáculo, cada vitória, as lágrimas, sorrisos, o sonho, a realização... a verdade. 

Ali eu soube que ele não era um vilão. Ali eu vi o brilho e o encantamento que me seduziram manifestar-se com seu típico jeito inocente e sereno. 

Talvez como eu, ele fosse só mais um bicho acuado tentando se defender. 

Ou talvez como eu, ele só estivesse usando uma máscara para disfarçar os seus verdadeiros sentimentos.

Mais do que a mim, o depoimento dele também impressionava o juiz.

Como sempre, ele mostrava-se um problema. 

E eu precisava de tempo.

“Você tem remédio para dor de cabeça?”

Rabisquei em um papel e entreguei o bilhete disfarçadamente para a Garotinha, que me auxiliava no caso.

Graças às forças superiores, ela acompanhou todo o processo sem comentar nada sobre “os desdobramentos” que ele trazia à minha vida. No fundo, eu sabia que ela me observava de perto, esperando um deslize para fazer o seu próprio julgamento da situação, comigo assumindo o papel de ré.

Mas não houve deslizes. 

Pelo menos, não até aquele momento.
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Notas da Manu: Só uma palavra: Socorro!

Gente do céu, o que essa menina aprontou? Será que ela vai colocar tudo a perder?

A cada transcrição eu fico com mais certeza de que a Raquel é MUITO louca! Gente, como ela consegue encarar tudo isso? Eu já teria surtado!

E Estagiária, estava conversando com as minhas leitoras e chegamos à seguinte conclusão: vamos procurar no Google Maps onde foi que a gente te deu essa liberdade.

Se estamos contando a história da Raquel, é porque o diário está BOM-BAN-DO! Mas pega leve aí, garota. Você chegou agora, tem muita coisa ainda para aprender. Não é bagunçado assim, não! Coloque-se no seu lugar.

Dito isso,

Até a próxima transcrição, pessoal.

Beijo, 

Manu.


***Leia a próxima transcrição:Página 31 à 34: Se perder é o caminho

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O nosso tempo é hoje!

Heey Gurias!

Antes de mais nada, um ótimo 2015 para todas nós! Que esse ano seja repleto de luz, esperança, força e coragem para que possamos ir atrás dos nossos sonhos e torná-los realidade.

Falando em transformar os sonhos em realidade, ao longo de 2014 eu não estive muito presente aqui no blog, como vocês devem ter percebido. Sei que sumi, mas o ano passado foi um pouco difícil para mim e por isso me afastei um pouco dessa função de escritora para cuidar de alguns problemas pessoais que precisavam de atenção.

Mas agora estou aqui, disposta a retomar o nosso blog e continuar postando histórias que alegram o meu e o dia de dia de vocês.

Para provar que comecei 2015 com a corda toda, já postei a terceira parte do capítulo bônus de A Granfina e o Caipira, prometido no final do ano passado. Se você ainda não leu, basta clicar ali na aba de AGeOC e descer até o final. Ali você encontrar a listinha com as três partes do capítulo especial. Todo mundo que leu, adorou (pelo menos foi o que as meninas me disseram. Rs! Caso queira tirar suas próprias conclusões, vá lá e leia!)!

Mas não para por aí! Agora a missão será concluir Desatino. A Estagiária já me mandou algumas transcrições do diário da Raquel e me manda e-mail TODOS OS DIAS cobrando as publicações. Como estou curiosa para desvendar esse mistério, vou me dedicar às transcrições a partir de agora. Se você ainda não está por dentro dessa história cheia de segredos, vá até a aba "Desatino" ali em cima e boa leitura!

E aí, depois disso tudo, finalmente vamos conhecer a história da Gabi que, por enquanto, eu chamo de "Voar outra Vez". Muitas ideias e inspirações bacanas tem surgido para esse enredo e preciso confessar que estou muito animada para escrevê-la. 

Porém, antes de colocar a mão na massa, preciso da opinião de vocês.

É o seguinte: não sei se vocês chegaram a ver, mas no ano passado comecei a publicar aqui no blog uma espécie de diário da minha vida, intitulado "O nosso tempo é hoje". A ideia era dividir com vocês as muitas aventuras vividas durante 2014 por essa escritora que vos fala e dividir  com vocês alguns aprendizados que: 1 - não foram fáceis, mas 2 - foram absorvidos e me ajudaram, muito mesmo, a me tornar uma pessoa melhor.

Tudo estava indo muito bem até que me deparei com um problema: eu não tinha o direito de expor a vida das outras pessoas sem permissão. Por mais que mudasse os nomes, localização e descrição, ainda sim não poderia continuar. E outra: para manter essas postagens sem revelar informações sobre os outros personagens, eu também precisaria ficar no anonimato, o que não é o meu desejo. Quero estar em contato com vocês, dividir um pouco da minha vida, conhecê-las melhor e essas paradas todas. Rs.

E então? Qual foi a solução encontrada para esse imbróglio? 

O jeito foi pegar a ideia que eu já tinha para escrever a fic da Gabi, misturar algumas dessas histórias que me aconteceram e transformar tudo em uma história original (ou seja, sem Luan!). E aí, o que acham? "Cês" toparia ler algo que não está relacionado ao Nego diretamente (porque indiretamente ele estará lá, com certeza! rs!)? 

Fico ansiosa esperando a opinião de vocês! Pensem com carinho, e me respondam, ok?

Estão aí as metas para 2015. Agora é com vocês; gostaram? tem algum pedido, sugestão, crítica ou reclamação? Então solte a voz! Lembre-se que ninguém escreve uma história sozinho. Preciso de vocês para me dar o "gás" de continuar! Fiquem à vontade para deixar opiniões, porque esse espaço também é de vocês.

E claro, não poderia esquecer: em paralelo com esses projetos, continuo escrevendo uma fic em parceria com a minha amiga Sarah. Quem quiser ler, basta clicar no link onde está escrito "A quatro mãos" e aproveitar a leitura. A história está muito bacana, garanto!

Antes de encerrar, mais um recado rápido: Já deu para perceber que não estou ficando muito tempo online no Facebook e Twitter, né?

Caso queiram falar comigo, escrevam comentários aqui no blog, mandem e-mail para manudantas.trii@gmail.com ou deixem o número do Whats App que adicionarei todo mundo com grande prazer. Aliás, temos um grupo de leitoras no Whats que está precisando de novos membros! Alguém se habilita?

Para encerrar, quero que saibam que tentarei ficar o máximo de tempo presente aqui no blog, escrevendo e curtindo com vocês. Como já falei para algumas leitoras, 2015 será o nosso ano e quero aproveitá-lo ao máximo.

Portanto, "quero que se preparem, o nosso tempo é hoje". Que Deus nos abençoe e proteja e que bons ventos soprem a nosso favor nesse caminho. 

Com carinho,

Manu



Transcrição nº 8 – Máscara

Nota da Estagiária: Continue nesse ritmo, Manuela! Está chovendo e juntas podemos salvar a Cantareira! Rs!

E você me deu essa intimidade quando aceitou receber meus e-mails e postar o diário da Raquel. Aceita que doi menos.

Brincadeiras à parte, seguem novas transcrições. Como você adivinhou, a partir de agora a história fica um pouco mais complicada.
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Transcrição da página 24 à 26

[“Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar” – Meu mundo caiu, Maysa]

Acordar. Abrir o olho. Sair da cama. Colocar uma roupa. Ir trabalhar. Cada tarefa, tão facilmente executadas em dias comuns, agora me custava um esforço hercúleo. Era como se houvesse uma âncora no meu coração, que me puxava para baixo. Mais e mais...

Eu me sentia burra, enganada, incapaz, desiludida, pequena. Como eu poderia ter caído tão facilmente na lábia daquele rapaz? Como pude ser tão inocente? Por outro lado, como eu poderia julgá-lo se eu mesma também tinha um namorado (agora noivo)? 

Eu não queria alimentá-la, mas em meio a tanto caos ainda brilhava uma fagulha de esperança de que ele não estava me enganando. Que assim como a minha, no momento em que nos conhecemos, a vida dele também passou a ter um sentido diferente. Que assim como eu, ele também veio até mim por conta de uma atração que era maior do que tudo, até do que a nós mesmos.

Mas a despeito de dúvidas, esperanças, medos, erros ou acertos, a vida não para e cobra o seu preço. Ela exige movimento. Não havia como me esconder ou fugir. E como não podia contar para ninguém a razão do meu sofrimento, o jeito foi vestir uma máscara de felicidade e manter a rotina, arrastando a âncora do meu coração junto com todos os meus pecados e pedaços.

O anel no meu dedo me lembrava que eu fizera as minhas escolhas. E agora eu precisava arcar com cada uma delas.

***

Fechei a porta em um gesto claro: não queria ser incomodada. Infelizmente, a “barreira” não impedia a aproximação de noivos.

Amor entrou na minha sala com um sorriso radiante.

Aquilo só poderia significar uma coisa: dinheiro. E claro, eu estava certa. (Uma observação sobre uma relação de anos: ela se torna previsível).

Cliente novo. Um grande processo. Muito dinheiro envolvido. Se ganhássemos a causa, o resultado seria muito prestígio, ainda mais dinheiro e novos clientes grandes e importantes para o escritório.

Minha função: ganhar a causa.

Sem pressão, é claro... Era apenas o anel brilhante na minha mão direita cobrando o seu preço.

***

Como não queria pensar em mais nada, me joguei de cabeça no processo. O caso é o seguinte: uma sociedade milionária entre um empresário e um cantor. Por anos trabalharam juntos, mas agora o empresário queria romper o trato acusando o cantor de não cumprir com suas obrigações contratuais.

Conversando com o cliente, cheguei a uma conclusão: o empresário estava com “recalque”. Não contente por receber milhões pelo seu trabalho, queria mais e mais...

Típico dos homens...

 A pessoa perfeita para ser cliente do Amor. 

O tipo de pessoa que me dava tédio.

Mas meu papel não era julgá-las. Era estudar o caso, montar a defesa e ganhar a causa. E eu sempre vencia.

Porém, algo naquele processo me incomodava. Quanto mais a fundo eu ia, mais tinha a impressão que estava advogando pela causa errada.

Aprofundei a pesquisa. Já passava da hora de ir embora, mas não me importava. Precisava saber o que estava errado.

Meu coração parou.

O acusado era ele. O cara do sorriso perfeito e da voz encantadora. O cara que mudou o meu destino. Ele.

Eu tinha a chance de trabalhar para ajudar a condená-lo por tudo o que me fez, usando o empresário como desculpa para tal.

Afinal, essa era a minha função e eu era paga para isso. Ouso dizer que seria a justiça dos homens trabalhando a favor da Justiça Divina.

Mas, o que fazer com a fagulha de esperança no meu coração que dizia que ele era inocente de todas as acusações?

Eu tinha um problema. Ou melhor, ele era problema. E não havia como fugir: eu precisava encontrar a solução. 
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Notas da Manu: Uaaau! Gente, tô de cara!

O cara é o novo cliente dela! Puts, isso que eu realmente chamo de destino.

E agora? Será que ela vai ajudar o empresário a condená-lo?

Ai genteeeeee! Tô tensa! Se eu estivesse no Whats, enviaria aquela carinha do gatinho assustado, sacam?

Enfim, vou correr com a próxima transcrição!

Beijos,

Manu


***Leia a próxima transcrição:Página 27 à 31: Bomba-relógio

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Transcrição nº 7 – A Valsa

Notas da Estagiária: Manu postando rápido? Está querendo que chova, garota?

Essa parte do diário é triste. Mas é só o começo...
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Transcrição da página 21 à 24

A felicidade me tirou para dançar. Era um ritmo novo, que não conhecia, mas era contagiante. Envolvia todo o meu corpo, disparava o coração, se expandia pelo meu sorriso.

Eu me sentia leve, plena. Uma sensação indescritível. Acho que deve ser parecido com a sensação de um pássaro quando encontra o céu.

Sendo assim, abri as minhas asas e mergulhei no infinito de sensações daquela manhã: alegria, excitação, poder, adrenalina, plenitude.

Pela primeira vez, eu sentia que tinha o mundo inteiro pela frente. E sentia que os bons ventos sopravam a meu favor.

***

Cheguei ao escritório com uma nova perspectiva. Era como se estivesse cega e só agora começasse a enxergar. E o que vi não me agradou. Tudo era cinza demais e minha alma pedia por cores das mais variadas tonalidades.

***

“Pelo seu sorriso, o jantar foi um sucesso”.

Uma Garotinha como o rosto irradiando curiosidade me perguntou assim que entrou na sala. Pelo jeito, o “tradicional” bom dia não teria vez na conversa hoje.

Confirmei com a cabeça, sem dar muitos detalhes.

Aquele era o meu segredo, a minha rota de escape. Era como uma joia preciosa: precisava ser preservada para manter o valor.

***

Saí para almoçar com o Amor. Acredite, eu não estava feliz com aquilo. Tentei de todas as maneiras cancelar, mas ele parecia ansioso e estava irredutível.

Além do mais, que desculpas eu poderia dar? Falar que naquele dia estava valsando com a Felicidade por ter encontrado o meu Destino? Que dançar com o Amor estava fora de moda?

Bom, pensando bem, será que ele ainda era Amor? Talvez estivesse mais para Amizade ou Companheiro... 

Será que eu poderia mudar o que ele era desse jeito? Seria certo? Eu teria esse poder?

Eram muitas perguntas e eu nem sabia por onde começar a procurar as respostas. Tudo que eu sabia era que a nossa valsa já estava sem ritmo. E, com certeza, nunca teve aquela sincronia, ou a sensação de caminhos cruzados que finalmente se encontram para uma dança.

Meus pensamentos voavam enquanto esperávamos a nossa mesa. Amor tentava puxar conversa. Eu não estava para papo.

Foi quando vi um rosto estampado em uma revista que repousava, inocente, sobre a mesa de espera. A ideia era entreter os clientes enquanto esperavam, mas a mim ela causou uma sensação completamente diferente.

O brilho nos olhos, o sorriso encantador, o jeito de menino... Até mesmo em uma fotografia ele tinha o poder de me hipnotizar.

Disfarcei e peguei a publicação. Folhei as páginas rapidamente, procurando por ele.

E lá estava. O rapaz que mudou o meu destino ao lado de outra mulher. Eu não precisava ler a matéria para saber do que se tratava.

Ele tinha namorada.

O mundo parou.

O ar parecia de pedra.

Minha cabeça doía.

Era como cair. Cair de muito alto e só ter o chão para me amparar. Doía. Machucava cada pedaço. Não deixava nada no lugar. Era destruidor.

Eu não ouvia, eu não sentia e queria poder não ver. Porque a imagem estava escancarada na minha mão e eu não tinha forças para fechar a revista.

Como algo tão leve poderia causar tal efeito? Era só papel, e no entanto cortava como vidro.

A recepcionista apareceu para nos acompanhar até a nossa mesa. Eu só queria fugir. De repente a noite passada parecia um tremendo erro e agora eu estava pagando pelos meus pecados.

Mal mexi no meu prato. Apenas me esforcei para manter a postura de namorada dedicada.

Meu coração sangrava. Eu me sentia quebrada. E o pior de tudo: a culpa era minha. Toda minha.

Como era possível que pela manhã meu mundo estivesse colorido com diferentes tonalidades de felicidade e agora estar preenchido de dor? Como o mesmo sorriso poderia me causar sensações tão doloridas?

Do meio do caos surge um anel.

Um pedido de noivado. Um porto seguro em meio à tormenta. Uma nova chance de recomeçar, apesar de todos os meus erros.

Aceito.

Talvez voar não fosse para todos. 

Eu estava de volta ao meu mundo cinza. Mas agora com um anel brilhante no dedo.

[“E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias,
P'ra outro
Não eu!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
— Não negues,
Não mintas...
— Eu vi!...” – Trecho de A Valsa de Casimiro de Abreu]
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Notas da Manu: Ai gente, que dó! Depois de um encontro tão perfeito, dar de cara com o rapaz ao lado de uma mulher na revista.... Realmente não é fácil de segurar essa barra.

E poxa, pressinto que a história agora vai começar a pegar fogo. O que acham?

Antes de ir, um recado para a Estagiária: Tô só aqui procurando quando foi que te dei essas intimidades, garota! Olha o jeito que fala comigo! 

E mande mais transcrições, porque as outras já acabaram!

Beijo garotas,

Fiquem com Deus!


***Leia a próxima transcrição:Página 24 à 26: Máscara

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Transcrição nº 6 – Puro Êxtase

Notas da Estagiária: Ahhh Dona Manuela... Vejo que finalmente resolveu levar os meus recados a sério! Espero que agora você finalmente termine de postar as transcrições. E como foi observado no post anterior: o forninho vai cair.

Eu disse para a Raquel não ir, mas ela não me escutou. Ahh, se pudéssemos voltar atrás e evitar esse encontro...
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Transcrição da página 17 à 20

[“Esmalte vermelho, 
Tinta no cabelo, 
Nos pés o salto alto, 
Cheios de desejo...” – Barão Vermelho, Puro Êxtase]

A expectativa estava alta. Contei à Garotinha sobre o encontro. Ela me chamou de louca, maluca, cara de pau, mas depois topou me ajudar. No fundo, acho que ela também gostaria de viver uma aventura como aquela.

Combinamos tudo. Iria sair mais cedo do trabalho para me arrumar. Disse para o Amor que iria sair com as amigas. Para as amigas, pedi que confirmassem a minha história.

Claro que eu não queria mentir, muito menos enganar meu namorado, mas... a tentação falava mais alto. Só de lembrar do cheiro, do beijo, do toque, do encanto... Tudo era perfeito demais para que eu pudesse dizer não.

Só mais uma vez, só mais uma...

E então o meu castelo de areia desmoronaria para sempre.

***

A noite estava agradável. Perfeita para saias e sapatos com salto. Perfeita para o pecado.

Cheguei ao hotel onde ele estava hospedado 15 minutos antes do combinado. Ansiedade? Talvez... 

Mas o fato é que tudo parecia conspirar a favor daquele encontro: trânsito, Amor trabalhando até tarde, o clima...

Pedem que eu espere em uma sala cheia de poltronas, quadros, uma TV, muita expectativa, pouca informação.

Espero. Uma, duas, três horas.

Desisto.

Ele não viria. Eu não sabia o que era mais insano: a situação em si ou a minha esperança que tudo desse certo. 

Ele era norte, eu era sul. Ele era estrela e eu uma simples rosa. Dois mundos distintos, realidades diferentes, um amor que nasceu para durar apenas uma noite.

Me levanto e, sem ânimo, caminho para o saguão. Peço um táxi e separo o cartão de crédito. O prejuízo seria dobrado naquela noite: financeiro e emocional.

Espero. De longe escuto gritos e vejo um boné passar pelas portas de entrada cercado por homens de preto.

Fico parada, sem fôlego. Ele está ali! Cansado e com a aparência mais séria do que na noite em que nos conhecemos, mas está ali.

Um dos segurança dá um cutucão nele e aponta para mim. Seus olhos de faróis me guiam. É ali que quero morar.

Ele sorri e eu sorrio. Pareço uma menina, me atrapalho, não sei como agir.

Ele vem até mim. Me abraça, pede desculpas pela demora e age daquela maneira tão sutil, com o seu jeito de menino e o olhar matreiro que de tão inocentes são perigosos.

Pede para eu esperar mais um pouco. Não quero aceitar, mas o coração responde sim antes do meu orgulho.

No fim, isso é bom. Ele precisa de um tempo para se arrumar, e eu preciso de tempo para recuperar o juízo.

Não demora e ele está de volta. Roupas limpas, banho tomado e perfume exalando.

Sentamos em um canto reservado no restaurante do hotel. Estamos sozinhos, o que me parece algo raro para ele.

Sinto que está quieto e reservado. Talvez longe dos palcos ele fosse mais tímido e menos ousado.

Gosto desse detalhe. Acho interessante saber que ele não faz a linha “conquistador barato".

Aos poucos, ele se solta e o papo flui com mais naturalidade. Ou talvez fosse o vinho fazendo efeito, não dava para saber ao certo.

A verdadeira conversa acontecia nas entrelinhas. Um elogio, um comentário, um leve toque, um olhar...

A temperatura sabia. De repente o restaurante parecia grande demais e cheio demais, mesmo que só nós e o garçom estivéssemos ali. Eu queria tocá-lo, sentir o gosto, pagar o preço, pegar, levar, descobrir o que havia por trás, eu queria tudo. E queria agora.

Mas eu tinha que esperar. Não sei quem inventou tais regras, mas há um código de conduta a seguir quando se está em um encontro:

1 – Quando trata-se de um jantar, mantenha a conversa em uma “área segura” até a sobremesa;

2 – Espere o cara dar o primeiro passo;

Eu estava disposta a quebrar todas as regras, afinal, quantas chances como aquela eu ainda teria? 

Felizmente, éramos uma dupla de infratores, porque ele ignorou completamente o itinerário.

“Podemos pedir a sobremesa no meu quarto? Estou um pouco cansando...”.

E lá estava. O jeito sedutor disfarçado por trás de uma frase inocente. As verdades ditas nas palavras não pronunciadas. O pedido de mais, muito, mas muito mais...

Garotas normais não aceitariam o convite. Garotas comprometidas muito menos. Mas eu não era normal. Sabia que ele era problema, mas quem disse que eu me importava? 

Existe uma linha muito tênue que separa o certo do errado, o normal do inacreditável, o perigo do prazer. Eu estava prestes a cruzar todos os limites e a sensação era de mil borboletas voando no meu estômago.

***
A sobremesa estava divina. Não só pelo sabor, mas porque ele estava diante de mim, tocando violão e fazendo pequenas pausas para saborear o seu prato e conversar comigo.

Parecia uma cena corriqueira, que acontecia todos os dias, que ele e eu juntos Éramos rotina. De repente, o meu mundo fez sentido. Aquele era sim o meu lugar. Eu pertencia a ele, e tinha muita sorte por ter um destino tão perfeito quanto aquele.

Eu poderia viver todos os meus dias exatamente daquela forma. Eu enfrentaria qualquer batalha por aquele sorriso. Eu correria quilômetros para ter a chance de alcançá-lo independente do lugar para onde ele fosse. Eu atravessaria o oceano e ainda sim o tamanho do meu sentimento, da minha felicidade, não seria páreo para nenhum desses sacrifícios. Eu entregaria o meu mundo para ele ou por ele, porque entendi que, no momento que o conheci, meu universo não mais existiria sem ele.

Foi nesse momento que eu cruzei o limite. Me debrucei sobre ele e o beijei. Com calma e delicadeza, coloquei meus lábios sobre o dele e a mão no seu rosto. Não pedi permissão, não esperei pelo momento certo, não me importei se era certo ou não. O momento era grandioso demais para perguntas ou questionamentos. Ele precisava ser vivido. Apenas isso.

Ele então tomou posse do que já era seu. A mão descendo pela minha cintura, a boca descobrindo a minha pele, o corpo contra o meu. Eu, ele, a cama, um infinito de palavras trocadas em um único olhar, a sincronicidade de duas almas que se encontram.

Prazer.

Amor.

Vida.

Paixão.

Ele.

Eu.

Nós.

Tudo era um só, e o nosso encaixe era perfeito.

***

Voltei para casa com o dia amanhecendo. Me parecia errado que o tempo continuasse a correr quando eu queria que ele congelasse para sempre naquelas poucas horas.

Era muito injusto que a vida continuasse, a despeito da saudade que eu já sentia.

Mas o tempo é cruel e ele não espera ninguém. Sendo assim, a minha única opção era acompanhar o seu fluxo: para frente.

Estava na hora de eu tomar as rédeas da minha vida. Sem pais, Amor, carreira ou casamento pré-determinado. 

Meu mundo não era mais o mesmo. Não havia como voltar ao que era antes.

Os dados foram lançados. E eu me sentia com sorte. Muita sorte.
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Notas da Manu: Uaaauuu! O encontro foi hot, hein? 

Caramba, e essa declaração da Raquel: "Meu mundo não era mais o mesmo. Não havia como voltar ao que era antes.". Será que ela vai chutar o barraco, largar tudo e virar hippie? Rs!

Olha, esse diário está ficando cada vez mais misterioso. Estou curiosa para saber onde isso vai dar. E vocês?

Prometo correr para postar a próxima transcrição, ok? Enquanto isso, o que vocês acham que vem por aí? Será que a "Quel" (olha a intimidade! Rs!), vai terminar com o Amor?

Beijos,

Manu


***Leia a próxima transcrição:Página 21 à 24: A Valsa

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Transcrição n° 5 - Tarde Vazia

Notas da Estagiária: Depois de todo aquele drama de colocar as lembranças na caixa, eu realmente achei que esse rolo tinha chegado ao fim.

Mas eis que a Raquel não trancou a gaveta direito e o resultado é esse aí da transcrição...
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Transcrição da página 14 à 16

[“Você me ligou naquela tarde vazia,
E me valeu o dia...” – Tarde Vazia, IRA!]

Os dias passaram. E todos eram como um pesadelo, que se repetiam e repetiam, em um ciclo sem fim.

Semana corrida, processos e mais processos para resolver. A ironia da vida era justamente essa: ser capaz de resolver inúmeras encrencas judiciais e não ter ao menos a chance de, pelo menos, entender a bagunça que tomara conta da minha vida.

Conviver com o Amor também andava complicado. Até AQUELA noite, ele era o meu par ideal. O cara que me ouvia, entendia, não discutia e o principal: não enchia! Nove anos de namoro que começaram na adolescência e prometiam seguir até a minha velhice. O tipo que termina com os dois de mãos dadas sentados em cadeiras de balanço na varanda da casa, olhando para o jardim e esperando a vida passar.

Mas agora...

Eu já não tinha certeza de mais nada. Aliás, tinha só uma: que, se pudesse, voltaria para aquela noite. Eu precisava vê-lo, nem que fosse só mais uma vez, apenas para ter a certeza de que ele era real, que realmente existia, que não estava louca a ponto de idealizar aquele encontro só na minha cabeça.

Estava claro que não fechei direito a gaveta onde guardara as minhas lembranças, ou elas deram um jeito de fugir, porque estavam soltas e me atormentando mais do que nunca.

***

Tarde cinza. O vento soprava baixinho lá fora. Aqui dentro há uma pilha de trabalho chato e entediante para fazer. É nessas horas que o amor pelo o que se faz é colocado à prova.

Me distraio e deixo os olhos correrem pela cidade lá embaixo. Vejo tudo através das imensas janelas de vidro. Ah, se pudesse usar essas janelas para ver o passado, ou dar uma espiada no futuro...

O telefone toca. Número desconhecido. Meu coração dispara em expectativa, mas o meu lado lógico trata de acabar com a empolgação do momento. Eu não passei o meu número para ele. Logo, não há nenhuma possibilidade de receber uma ligação.

Uma vozinha dentro da minha cabeça lembra: o Empresário ficou com o meu cartão.

Atendo com uma fagulha de esperança. Será?

 Meu coração dá um salto. Do outro lado escuto a voz encantadora, com seu jeito perigosamente sedutor, chamar meu nome.

Fico sem reação. Como agir? Finjo que nada aconteceu ou o trato como um velho conhecido? Droga! Não tenho experiência com esse tipo de situação. Nunca flertei na vida. Aliás, era isso que as pessoas chamavam de ter um “rolo”? E no final das contas, o que ele era meu? Será que poderia me dar o luxo de dizer que ele “meu alguma coisa”?

Acabei optando pela opção “educada e simpática, porém reservada”. Era a que melhor se encaixava nas alternativas.

Ele falava de uma maneira calma, íntima e segura que o tornava tentador e irresistível. Uma combinação perigosa, tal qual fogo e gasolina.

Outro convite. Dessa vez, para encontrá-lo após um compromisso de trabalho na cidade vizinha.

Se eu tivesse juízo, eu não teria aceitado. Tudo bem que eu gostava de desafios, mas aquele garoto estava um nível acima. Ele era problema. 

Mas conhecê-lo me fez questionar o quão corajosa eu realmente era. Eu poderia enfrentar muitos desafios no trabalho – e era reconhecida por eles – mas na minha vida tudo estava parado demais, tedioso demais, rotineiro demais... Toda a minha vida seguia pela mesma trilha, o mesmo roteiro, até que, de repente, me deparei com uma opção diferente, mais interessante.

E uma vez que se experimenta do perigo, você não quer mais parar. Ter aquela adrenalina no meu sangue tornara-se um vício. Eu precisava dela para me sentir viva. 

Aceitei o convite com a promessa silenciosa que aquela seria a última vez que nos veríamos. Se tudo o que é bom dura pouco, aquela situação precisava acabar, e rápido. E o fim já estava decretado: seria naquele jantar.
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Notas da Manu: Maaasss gente... Tô passada! Vai rolar reencontro! Para quem não se acha corajosa, essa Raquel está surpreendendo, hein?

Só tenho um a coisa a dizer: o forninho vai cair! Chamem o Samu e ninguém sai!

Vou tentar trabalhar nas próximas transcrições durante o final de semana para garantir a continuação desse diário o mais rápido possível, ok?

Beijo gurias!


***Leia a próxima transcrição:Página 17 à 20: Puro Êxtase