segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Capítulo 37 – “Deus é que me livre...”

Notas iniciais: “... de ficar sem postar!” Porque eu até posso demorar, mas cá estou eu, com um capítulo cheio de amor, fofuras e um pouquinho de recalque pra dar aquele PÁ na história!

Preparem-se, porque Alê vai provar para todas nós porque é um “homão” da porra.
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No capítulo anterior:

Encontramos nossa amiga sentada no meio-fio, com a cabeça sobre o joelho.

- Que foi, pequena nerd? Não conseguiu resolver o problema de matemática que o professor passou na aula? – Alê já chegou fazendo piada.

- Não estou para brincadeira hoje, Alexandre – ela retrucou de forma ríspida.

- Eita! Calma! Não precisa de tudo isso – Fernando tentou acalmar os ânimos – Só queremos saber o que aconteceu.

- Eu não deveria ter aceitado aquele desafio bobo – ela choramingou.

- Relaxa, Bequita! Foi só um beijo. Todo mundo faz besteira na vida – lancei um olhar de relance para o Edu para que ela entendesse o recado.

- Mas esse não é o problema. A questão é que eu gostei – a garota confessou baixinho.

O Edu soltou um assovio baixinho e o Alê colocou a mão na testa.

- Senhoras e senhores – Fernando chamou a nossa atenção com a voz séria – o forninho caiu.

- Eca! Eca! Não acredito que tive coragem para cometer esse atentado contra mim!

- Vai com calma aí, Hermione! Vai acabar com o meu pote de Listerine. E nem adianta fazer todo esse charminho porque você já confessou que gostou de beijar o Caio! Ei, ei! Não joga o pote em mim, garota! – o skatista exclamou, correndo do ataque da nossa amiga e fazendo todo mundo cair na risada.

Depois que “resgatamos” a Beca do jogo de Verdade e Desafio, resolvemos que o melhor a se fazer era deixar o Gueto. Por isso, nos apertamos todos no carro do Alê que nos trouxe para sua casa, onde ficamos curtindo a maior ressaca pós-festa na edícula de frente para o jardim.

Meu melhor amigo, embora tentasse disfarçar, estava uma pilha de nervos. Não parava de olhar o celular a todo minutos esperando uma resposta da Laís. Para deixá-lo ainda mais aflito a garota já havia escutado o áudio, mas não dera nenhum resposta. Ao invés disso, ela me chamou no Whats para perguntar o que tinha acontecido na festa para o Alê estar se comportando de forma tão estranha.

Fiquei encarando a notificação na tela do celular sem saber o que responder. Eu não queria entregar meu amigo, mas também não podia mentir para a Lá, umas das pessoas que mais me ajudara quando precisei. Enquanto quebrava a cabeça tentando achar uma solução para sair dessa cilada, Fernando tentava acalmar a Beca que ainda parecia em choque por causa do beijo.

- Ihhh, isso é tão normal, Rebeca! Quem nunca beijou uma pessoa errada na vida?

Institivamente, olhei para o Edú e fui obrigada a concordar com o garoto. Esperto como ele só, o Nando captou o meu olhar e matou de cara a charada.

- Pelo visto sou o único que saiu ileso dessa festa, né? Bom, não posso julgá-los. Afinal, o problema com os caras errados é que eles beijam bem, né?

- No meu caso, em primeiro lugar, não era um cara. Em segundo, ela não beijava bem e, em terceiro, com certeza sou o mais ferrado aqui. Beca só deu uns amassos em um moleque mala pra caramba que se acha o rei do camarote. Já eu.... – O skatista estava inconsolável. Enquanto falava, mexia no cabelo despenteado os fios, o que só o deixou ainda mais com aparência de desesperado.

- Olha Alê, não quero piorar a situação, mas a Laís me mandou uma mensagem perguntando o que rolou na festa... – confessei.

- E O QUE VOCÊ DISSE? – eu mal terminara de falar quando ele pulou do canto onde estava e veio parar na minha frente, os olhos arregalados de medo.

- Calma, garoto! Não disse nada ainda! – estendi as mãos pedindo um pouco de espaço – Mas, como você sabe, ela veio me sondar hoje antes de irmos para a festa e agora está desconfiando que tem algo estranho acontecendo....

- E depois não acreditam em sexto sentido feminino  - Fernando comentou em tom ácido.

- Não quero ser pessimista, mas você está enrolado, cara – Edu finalmente se pronunciou. Aliás, eu ainda não tinha entendido porque ele estava ali, já que não era de se socializar e, muito menos, de mostrar apoio aos dramas alheios.

- Uaaau! Diga uma novidade! – o Alê rebateu de forma irônica.

- O que você precisa é se inspirar nos clássicos. Já que é para pedir a Laís em namoro, faça isso direito, Alexandre! Com direito a rosas, serenata, declaração de amor e tudo o mais – Beca deixou o seu transe “eu beijei o Caio” de lado para tentar nos ajudar.

- Como você toca violão, uma serenata seria uma ótima ideia – opinei me lembrando do dia que o Léo dedicara uma música para mim. Mesmo sem nenhum instrumento aquele fora um momento muito especial entre nós dois. Imagine o efeito que causaria na Laís com o Alê cantando e tocando... – Tem um lugar aqui no condomínio perfeito para isso. É tipo um jardim mais reservado com alguns bancos de pedra.

- Hmmm... algo me diz que Gabs já recebeu uma serenata lá – Fernando não perdeu a oportunidade de me alfinetar.

- Quase isso... – pisquei, sem graça. Tinha entregado mais do que deveria naquela conversa.

- “Tá” vendo, cara! Você não faz serenata, por isso que tá aí, chupando o dedo – Alê mandou um “shade” para o primo que fez cara de limão azedo ao ouvir a indireta. Como odiava se expor, aquela brincadeira pegou o carioca bem no seu ponto fraco.

- Já que vai ser em um jardim, poderia rolar um piquenique, né? – Rebeca sugeriu – Acho tão romântico!

- Tipo o da Culpa é das Estrelas, quando o Gus conta que eles vão para a Holanda! Ai, amo esse filme! – Fernando mexeu as mãos, empolgado.

- Se vocês me ajudarem, eu faço tudo isso: piquenique, serenata, levo flores... Topo tudo para não perder a Laís – Alê disse nos olhando como quem diz “pelo amor de Deus, não me deixem na mão agora”.

- Mas é claro que vamos ajudar, não é mesmo pessoal? – foi a vez do Nando lançar um olhar bem enfático para todos nós, demorando-se um pouco mais no Edu que mal disfarçava sua cara de tédio.

- Já que vai rolar serenata, por que você não canta uma música da banda Onze:20? Essa aqui ó – o carioca mexeu no bolso para pegar o celular. Depois de deslizar o dedo pela tela algumas vezes, uma canção começou a tocar baixinho, afinal, já eram quase três da manhã e não queríamos acordar dona Melissa.

*** Link para música – https://www.youtube.com/watch?v=StKdv2dQAYg

“Deus é que me livre ficar sem você
Fica do meu lado que não falta amor
Sem o seu carinho eu vou enlouquecer
Vem, chega mais perto me dá o seu calor”

- Que música fofaaa! Eu ia amar se a cantassem para mim – Rebeca expressou a opinião de todos depois que a canção acabou. A letra falava de uma pessoa que não se imaginava vivendo sem a companhia do seu amor. Mais perfeito para o Alê, impossível.

- Cara, agora você mandou bem, hein? Quem diria que você é uma pessoa romântica! – o skatista estava impressionado com o primo.

- Não sei fazer serenata, mas tenho meus recursos... – o outro retrucou lançando um olhar de canto de olho na minha direção. Seria uma indireta?

Na dúvida, achei melhor mudar de assunto – Então, acho que podemos nos dividir e ver quem vai fazer o quê. Eu posso ir ao mercado comprar as comidinhas do piquenique.

- Eu vou providenciar a mesa e os detalhes como copos, pratinhos, guardanapos... – Nando disse logo em seguida.

- Eu escolho as flores! – Rebeca ergueu a mão no maior estilo Hermione.

- E você vai me ajudar a tocar essa música no violão – Alê apontou para o Eduardo fazendo uma intimação.

Mesmo fazendo cara de entediado, o Edu esperou o primo pegar o instrumento no seu quarto e depois sentou-se ao seu lado para ajudá-lo. Enquanto Beca e Nando combinavam os detalhes da decoração, mandei mensagem respondendo a Laís.

 “Lala, sei que rolou uma conversa do tipo séria entre Alê e Carol. Por quê?”

Achei melhor não comentar do beijo. Seria mais adequado meu amigo contar esse detalhe pessoalmente. Mesmo sendo tarde – ou cedo, dependendo do ponto de vista – não demorou para chegar a notificação de nova mensagem.

“Ele me mandou um áudio me pedindo em namoro e parecia estar bêbado. Achei muito estranho. Nem respondi! Fiquei com a impressão que o Alê só tomou essa decisão porque a Carol não quis nada com ele”.

- Pessoal, escuta isso – pedi a atenção de todos antes de ler a resposta que acabara de receber – Ela está achando que era a segunda opção na sua lista, Alê. Vamos ter que caprichar muito nessa serenata e piquenique para tirar essa impressão.

- Laís é esperta. Percebeu que nosso “skater boy” estava estranho e já pescou logo a situação no ar. Essa menina não é fraca, não – Fernando comentou.

- Eu realmente vacilei com ela. Mas a Carol soube como deixar balançado... Foi difícil resistir – o skatista voltou a se lamentar com cara de quem deixa o sorvete recém-aberto cair no chão.

  - Não falei nada do beijo, hein? Deixei para você contar – avisei.

  - Puuts, ainda tem essa! – meu amigo bateu a mão na testa, desanimado.

  - Relaxa, cara! Depois dessa serenata e toda essa produção, ela nem vai querer saber de beijo – Edu tentou reanimá-lo.

  - Seja sincero, abra o seu coração e diga o que acabou de nos dizer: a Carol jogou pesado e você acabou se deixando levar, porém percebeu seu erro quando ela te beijou e agora está disposto a correr atrás do prejuízo para tê-la ao seu lado. Jogue limpo e capriche no charme que tudo vai dar certo – Rebeca falou parecendo uma professora de primário ensinando criancinhas.

- Olha a nerd! Cheia de conhecimento sobre relacionamentos. Beijar o Caio te fez bem, hein? – claro que o Alê não ia deixar de zuá-la.

- Para de gracinha ou não te ajudo mais, hein? Ela retrucou apontando um dedo para ele fazendo cara de brava.

- Acho melhor você focar no ensaio e parar de birra com a Rebeca – chamei a atenção do meu amigo – Essa serenata tem que ser muito boa para convencer a Laís!

- Meu Deus, que idiota que eu fui! Prometo que se ela decidir ficar comigo eu nunca mais vou ser burro na vida! – Alê ergueu as mãos para o céu implorando por intercessão divina.

- Não prometa o que você não pode cumprir, Alexandre! Basta a primeira aula de matemática para você quebrar esse acordo – a nerd comentou de forma provocativa.

E foi assim, entre briguinhas e conversas sobre o evento do dia seguinte que acabamos dormindo por ali mesmo. Quando o relógio marcou 4h30, entramos e nos jogamos nos sofás da sala. Nando e Alê foram os primeiros seguidos de perto pela Beca. Como fiquei para trás para ajudar o Edu a guardar o violão, acabamos ficando sem opção: tudo o que havia sobrado era um sofá de dois lugares que mal cabia o carioca.

- Hmm.... Acho melhor eu ir para casa – meio que sussurrei por estar sem jeito com a situação.

- Nada a ver, Gabi! Vem, deita aqui – o carioca pegou algumas almofadas que sobraram e as posicionou lado a lado sobre um tapete desses bem fofinhos que ficava em um canto do cômodo, reservado para as leituras da dona Melissa. Sem perder tempo, ele tirou os tênis e se deitou, batendo uma das mãos na lateral do corpo como se fizesse um convite.

Hesitei por alguns instantes, mas acabei cedendo. Se fosse para casa agora, provavelmente eu acabaria acordando a minha mãe. E era melhor evitar irritar dona Beatriz.

Também tirei os sapatos e me deitei ajeitando a roupa – que não era muito confortável para situações como aquela. Fechei os olhos e só então percebi o quanto estava exausta. O dia fora de muitas emoções: teve Mari, Edu, Beca e Caio, Laís e Alê... Bastante coisa para processar.

Estava quase pegando no sono quando senti alguém acariciando meus cabelos de leve. Pensei em mudar de posição para, discretamente, tirar a mão do Edu de perto de mim, mas me deixei levar pela sensação gostosa do carinho e permiti que ele embalasse meus sonhos, dessa vez de verdade, já que sonhara com um momento como aquele por muitas noites e muitas noites

***
- Todo mundo pronto? A Laís já chegou! – avisei por Whats. Eu estava na minha casa enquanto todos os membros da nossa “equipe” já estavam no lugar da serenata acertando os últimos detalhes. Era quase final da tarde e o céu indicava que o por do sol daquele dia seria incrível. Eu aproveitara que a Laís estava me fazendo várias perguntas sobre o Alê e disse que seríamos melhor conversarmos sobre aquele assunto pessoalmente. A ideia era atraí-la até o local combinado e, ao chegar, fazê-la dar de cara com o Alê tocando o violão diante do piquenique pronto. Fernando estaria com a câmera filmando a cena. Caso a morena aprovasse, tudo seria postado no canal do Youtube do skatista.

- Pode trazer a “vítima”. Estamos prontos para acertar o alvo – Fernando respondeu.

- Nossa! Vocês estão levando esse papo de organização tática muito a sério – retruquei um pouco impressionada enquanto descia as escadas para ir encontrar minha amiga na portaria.

  Àquelas alturas a Lala devia estar super tensa imaginando o que eu tinha de tão grave para contar que precisava ser dito cara a cara. E, por mais que a ideia soasse cruel, no fundo, isso era algo bom. Afinal, quanto mais ela pensasse que tudo estava perdido, mais ela se impressionaria com a surpresa.

  - Menina, você conseguiu me deixar tensa com essa conversa, hein? – foi a primeira coisa que ela disse ao me ver, confirmando todas as minhas expectativas – O que aconteceu nessa festa?

  - Muita coisa aconteceu! Como diria o Nando, os forninhos rolaram – disse antes de dar um abraço e um beijo nela – Acredita que a Beca ficou com o Caio?

  - Oi? Como que é?  Me conta isso direito!

  Sorri ao perceber que ela mordera a isca. O plano era distraí-la contando da Beca e do beijo que dei no Edu até chegar ao lugar combinado. Por sorte, o jardim não ficava tão longe assim da portaria, então minha missão não seria tão complicada.

  - Tá! Já sei que foi uma noite de pegação, que todo mundo ficou com todo mundo. Mas e o Alê? Ele ficou com a Carol, né? – a morena não se deixou levar pelo meu papo furado e foi direto ao ponto principal.

  - Então, miga... – fiz uma pausa coçando a cabeça para dramatizar a situação. Estávamos quase chegando, eu só precisava enrolá-la mais um pouquinho – A notícia que tenho para te dar não é tão boa assim...

  - Ahh, sabia! Meu sexto sentido não me engana – ela manteve a expressão normal, mas sua voz entregava que estava chateada.

  - Olha Lala, o Alê fez uma coisa que, com certeza, você não vai conseguir esquecer. Ele realmente passou dos limites...

  - Caramba, Gabs! O que ele fez? Matou alguém? Você está me deixando assustada!

  - Olha pra frente que você vai ver – pedi. Já estávamos na entrada do jardim e faltava apenas alguns passos para que ela ficasse de frente com o skatista.

  Demorou um pouco para ela entender do que eu estava falando. Ela olhava para mim e depois para o jardim com uma expressão confusa até que o Alê pigarreou chamando sua atenção.

   - Laís, minha linda, preparei tudo isso porque fui um bocó ontem – Alê começou a falar com a voz tremendo - A primeira coisa que preciso fazer é te pedir desculpas. Eu fui o maior e mais completo babaca do mundo. Eu não deveria ter sequer pensado na possibilidade de dar bola para a Carol. Mas sabe quando um viciado em recuperação larga tudo para ir atrás da droga que usava? Foi bem assim que me senti. Eu sabia que aquilo não ia me fazer bem, mas já estava tão acostumado a viver com pouco que permiti que ela entrasse na minha vida e me dominasse. Mas ontem, quando ela me beijou, ao invés de ficar amortecido pelo efeito da droga, eu acordei e percebi o quanto estava sendo cretino com você e covarde comigo mesmo – o skatista fez uma pausa para respirar fundo - Sim, covarde, porque sabia que havia algo muito melhor me esperando, mas por falta de coragem de cortar as correntes continuava preso naquele mundinho tão triste. Quando a ficha caiu, eu só queria que você soubesse o quanto te quero. Mas, como você sabe, sou meio atrapalhado, né? - ele deu ima risada nervosa quebrando um pouco a intensidade do momento. Até ali ele dissera cada palavra com tanta seriedade que nem parecia o Alê brincalhão que eu conhecia – Acabei metendo os pés pelas mãos, te mandando mensagem ontem, não explicando nada direito... É por isso que o pessoal me ajudou a preparar essa surpresa. Para que eu possa te dizer isso daqui...

Ele ajeitou o violão e começou a tocar. De primeira a Laís continuou parada em frente ao meu amigo, como se estivesse paralisada. Depois, muito devagar, ela se sentou na sua frente, ao lado da toalha que estava estendida no chão para o piquenique. Ela sorria feito uma criança que acabara de ganhar um doce muito gostoso. Quando a música estava quase acabando, a Lala percebeu o buquê de girassóis que estavam sobre a toalha e os colocou sob o seu colo como se fosse um tesouro muito, mas muito raro. Ao meu lado, Rebeca abriu um sorriso convencido.

- Achei que girassóis tinham tudo a ver com a personalidade da Laís – ela cochichou para mim justificando sua escolha.

- Lala, eu sei que meu mundo girou só para encontrar. Então, namora comigo, vai? Juro que do meu lado nunca vai faltar amor, nem risadas e bons momentos... Eu “tô” aqui, implorando para que Deus me livre de ficar sem você, porque não poderei viver sem aquela que me abriu as portas para um mundo novo onde quero criar raízes e colher as melhores flores e frutos. Sei que pode parecer um pouco precipitado, mas nosso coração tem um alerta especial que identifica quando a pessoa certa está à porta. E, como dizem, ela não costuma bater duas vezes, por isso quero ter certeza que fiz tudo o que pude para agarrá-la e segurá-la com as duas mãos.

Foi impossível não suspirar ao ouvir a declaração do skatista quando terminou de tocar a música. Ele mantinha a voz calma, mas suas mãos segurando o violão com força indicavam que, na verdade, estava muito nervoso.

- E como que eu posso dizer não depois dessa música e dessas palavras tão lindas? – a morena estava com os olhos marejados e a voz emocionada – É claro que eu aceito! Seria uma louca se fizesse ao contrário. E, na verdade, eu agradeço muito por você ter sido esse babaca que disse ser, embora não concorde com essa afirmação. Porque sei que estou diante do cara mais incrível, engraçado e gente boa que eu poderia encontrar e, justamente por isso, sei que jamais faria algo para me machucar. Se você ficou com a Carol, foi para se libertar dos fantasmas do passado que ainda te assombravam. Agora sei que você está livre do passado e que escolheu dividir o seu presente e futuro comigo. Nada poderia me deixar mais feliz e honrada. Prometo encher esse mundo novo de cores, sabores, músicas e poesia. Vamos construir um universo incrível juntos – ela colocou as flores de lado e se estendeu para dar um beijo no seu mais novo namorado. Com toda a delicadeza, o Alê pousou uma de suas mãos nos cabelos da Laís e brincou com os fios, acariciando a garota de leve.

- Cara, não consigo mais gravar. Vou começar a chorar e a fungar e vou acabar atrapalhando o áudio da filmagem – Nando confessou ao chegar do nosso lado – Só faltou ter um unicórnio para completar a fofura dessa cena, gente!

- Missão cumprida, time! Acho que já podemos deixar os pombinhos a sós – sugeri ao ver que o Alê tinha deixado o violão de lado e agora os dois se abraçavam e distribuíam beijos pelo rosto, pescoço e colo um do outro enquanto sorriam feito um casal apaixonado de filme.

Seguimos para a minha casa onde ficamos conversando por mais um tempo antes dos dois irem para casa. O Alê acabou subindo o vídeo para o canal naquela noite mesmo de tão empolgado que estava. Ele não parava de me mandar mensagens dizendo que ainda não acreditava que a Laís tinha aceitando namorar com ele.

“Deixa de ser bobo, garoto! Ela seria uma louca se não aceitasse! Um homão da porra desses, bicho”

Respondi em forma de brincadeira enquanto assistia ao vídeo pela terceira vez no canal. Uma coisa era certa: a Laís havia tirado a sorte grande!

Desci a barra de rolagem para ler os comentários, mas um em especial me fez prender a respiração.

“Ainda bem que pelo menos você desencalhou, porque a Gabi continua sendo trouxa e correndo atrás do Edu. Foi até na festa da Carol atrás dele. Manda sua amiga parar, porque tá feio! O cara não quer nada com ela, até mudou de escola para não ter que aguentar mais essa iludida, e mesmo assim ela não desiste. Muito otária!”.

Oi? Ir à festa da Carol atrás do Edu? Como assim? E outra: nosso encontro tinha acontecido na sexta à noite. Como o pessoal da escola já estava sabendo que estávamos juntos no Gueto? Ainda era domingo, nem para a aula havíamos ido ainda...

Foi aí que a ficha caiu. Mari estava contra-atacando. O jogo ainda não havia acabado...
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Notas finais: Quem quer um namorado que nem o Alê levanta a mão! Ai gente, Lalê é muito amor, né?

Nem preciso avisar que no próximo capítulo vai ter a parte dois da treta do ano, né? Mari X Gabi. Quem ganha?

E para apimentar ainda mais, olha só o que vai rolar: aniversário da Gabi, Gadu, reencontro da Beca com o Caio e a volta do Léo!

Juro que não vou demorar tanto para postar, viu?



Beijo! Até o próximo capítulo!


#Partiu próximo capítulo? Só clicar aqui 

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Capítulo 36 - Eita, Time B!

Notas iniciais: o forninho caiu...
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No capítulo anterior:
Resolvi ir até o banheiro para dar uma respirada. O local estava cheio, a música alta e algumas pessoas dançavam, enquanto a maioria ficava apenas conversando e bebendo. Peguei o celular para me distrair e dar uma olhada nas notificações quando, sem querer, esbarrei em alguém, me desiquilibrei e acabei quase caindo em cima da pessoa que me segurou firme pelos braços.

- Opaa! Cuidado por onde anda, bonequinha.

Levantei a cabeça tentando retomar o equilíbrio. Acabei soltando uma risada irônica ao perceber que tinha acabado de refazer a “cena” do meu primeiro encontro com o Edu. Pelo jeito, a noite ainda me reservava muitas emoções.

- Desculpa. Eu me distraí – disse, me afastando dele.

- Eu percebi. A festa está tão chata assim pra você ficar focada no celular? – o carioca provocou.

- Na verdade, está. Por mim eu já teria ido embora – fui sincera.

- “Tá” cedo ainda, Gabi. O melhor da festa começa agora.

Olhei séria para ele, ciente da sua mania de jogar frases com duplo sentido no ar.

- Será? Não tenho tanta certeza disso.

- Para, vai... Você só quer ir embora porque está brigada com as meninas – disse em tom provocador.

- Você também com esse assunto? – respondi de forma impaciente – Quero ir embora porque a festa está chata mesmo... Não tem nada a ver com Mari ou Carol.

Como se estivesse apenas esperando a deixa, a loira apareceu.

- Oi, Edu! Que bom que você veio – ela cumprimentou o carioca de forma bem entusiasmada – A festa está bombando. Entra!

- A Gabi disse mesmo que estava animada. Ela até me falou que ia dançar comigo – ao terminar a frase, o primo do Alê lançou um olhar de canto de olho e abriu um sorriso presunçoso.

Encarei o garoto na minha frente, a expressão no meu rosto deixando claro que queria matá-lo.

- Você prometeu, lembra? – foi a sua resposta ao perceber o meu olhar fulminante – Na casa da tia Melissa.
Respirei fundo, recordando a nossa última conversa. Fiquei ainda mais brava, porque fiz aquela promessa só para fugir dele.

- Que bom que vocês estão se dando bem – Mari se meteu no meio da conversa – Eu sempre achei que vocês não combinavam. Mas, pelo jeito, estava enganada.

“Ah, jura? Não me diga!”, pensei comigo mesma. Estava difícil lidar com tanta falsidade.

- Gabi é “parça”! Nós sempre nos demos bem – piscando para mim, o Edu respondeu em tom um pouco convencido.

- É que eu achava que vocês eram muito diferentes e que alguém ia acabar... se machucando. Por isso fiquei com tanto medo no início – a loira voltou a falar em tom inocente, como se fosse a santa da bondade e amor ao próximo.

- Relaxa, Marília. Você não precisa mais se preocupar – tentei controlar minha voz, mas o comentário acabou saindo de forma ácida.

- Você sabe que sempre gostei de você, Gabriela – ela disse, fazendo cara de ofendida.

- Eu sei, Marília. Só estou dizendo que não tem mais motivos para você querer me proteger falando para o colégio inteiro as suas conclusões – eu não queria, mas acabei jogando a verdade na cara dela. Eu sentia meu coração bater mais rápido e todo meu corpo em alerta, como se estivesse em modo de ataque. Daquela vez eu não iria deixar que ela conduzisse a discussão da maneira que quisesse.

- Eu não contei nada para ninguém. Apenas fiz um comentário que se espalhou pela escola – ela colocou a mão no peito e fez cara de que estava sendo acusado injustamente. Porém, sua expressão mudou de “ovelha encurralada” para raposa quando achou algo para argumentar – Não tenho culpa se falei a verdade e as pessoas se impressionaram com isso.

- Verdade ou não, da próxima vez é melhor você guardar a sua opinião para você – Edu entrou na conversa com uma postura decidida – É sério, Mari. Eu e a Gabi nos damos bem e sabemos nos virar. Se precisarmos de ajuda, nós pedimos.

- Vocês é que sabem – ela deu de ombros, seus olhos azuis frios como gelo – Vou lá na frente encontrar um pessoal que acabou de chegar. Tchauzinho para vocês – eu era capaz de sentir o cinismo escorrendo dos seus lábios. Aff!

O Edu ficou olhando ela se afastar por um tempo antes de virar para mim e levantar as sobrancelhas em uma expressão questionadora.

- Bem que a Beca disse que ela iria tentar se fazer de amiga pra amenizar as suas mancadas - comentei, mexendo no cabelo. Eu estava agitada por causa da discussão, com o coração acelerado.

- Muita cara de pau da parte dela, né? - o carioca parecia não acreditar que aquilo era possível.

- A casa caiu para o lado dela, né? A realeza está perdendo o poder. Ela está querendo passar um pano para a situação ficar menos feia - por mais que eu quisesse não me estressar com a situação, era quase impossível ficar indiferente diante a postura dissimulada da Marília. Como alguém poderia ser tão egoísta?

- Mew, não tenho paciência pra gente assim. Parece que faz de tudo pra se mostrar... - Edu parecia realmente chateado.

- Eu só não consigo entender como fui amiga dela por tanto tempo. Como eu não enxergava isso? - desabafei, a voz tremendo de raiva.

- Na verdade, você não queria enxergar. Exatamente porque vocês eram amigas. E difícil ver o problema quando você faz parte dele - o carioca chegou mais perto colocando as mãos no bolso.

- E eu realmente fazia parte disso, infelizmente - lembrei de todas as piadas de mal gosto e preconceituosas da Marília que eu acabava apoiando só para manter o status de sua "BFF".

- Sabe... eu nunca te enxerguei como uma delas. Sempre te achei diferente, mais frágil... - ouvi o rapaz na minha frente falar com a voz fraca, como se as palavras tivessem escapado da sua boca.

- Como uma bonequinha de porcelana - revirei os olhos, impaciente.

- Não é isso - ele se apressou em consertar - É que, pra mim, você sempre foi um pássaro difícil de alcançar, daqueles que tem um canto triste e você quer colocar em uma gaiola para protegê-lo, só que ao mesmo tempo não tem coragem de capturá-lo.

Encarei o carioca sem saber o que dizer. Eu não esperava por aquela resposta tão sincera.

- Hmmm... Acho melhor a gente voltar para a festa - desconversei com medo que a conversa estivesse tomando um rumo pessoal demais.

Virei em direção ao Gueto e já estava dando o primeiro passo quando senti o Edu puxando o meu braço. Antes que pudesse fazer algo, sua boca já estava na minha, suas mãos me segurando delicadamente a minha cintura.

Foi um beijo bom, exatamente como eu imaginava que seria. Lento, do tipo que faz você querer ir além. Porém, eu me sentia diferente. Já não existia mais a ansiedade de tê-lo para mim e muito menos o medo de perdê-lo. Ele era um garoto bonito e que beijava bem e mais nada além disso. Não tinha expectativa, nem coração batendo forte, nada disso. O que existia era aquele momento, que decidi desfrutar até o fim.
- Eu queria tentar isso de novo... - sua voz soou doce no meu ouvido. Aah, como aquele garoto sabia ser sedutor quando queria...

Fitei seus olhos verdes de tempestade pensando na melhor maneira de respondê-lo. Como sempre, ele não havia deixado suas intenções claras com a sua fala.

- Você e os seus joguinhos de palavras - acabei expondo o que está pensando.

Ele ergueu as sobrancelhas, a expressão confusa. Eu conseguia imaginar os pensamentos tentando se organizar na sua cabeça. Aproveitei o momento de confusão para dar um passo para trás. Meu sinal de "alerta" dizia que o melhor era me manter longe.

De relance vi alguém vindo. Apertei o olho e me concentrei. Me surpreendi ao ver o Alê se aproximar com a cara de quem estava perdido em pensamentos.

Dei mais um passo para trás e me virei na direção do meu amigo. Ao captar para onde eu estava olhando, Edu também se virou e estalou os dedos chamando a atenção do primo - Ei, cara! "Tá" bem?

- Nossa, vocês estão aqui?! - o skatista estava no mundo da lua.

- Não, somos só uma ilusão d'ótica - o outro retrucou de forma irônica - É claro que estamos aqui. O que aconteceu com você?

- Eu beijei a Carol... - sua voz saiu fraca.

- Oi? Como foi isso, Alexandre? - perguntei, surpresa. Não achei que ele chegaria aquele ponto.

- Estávamos conversando de boa. Mas aí ela começou com uma história de arrependimento que matava, disse que sentia a minha falta e que só não tinha continuado a ficar comigo porque a Marília ficava zuando ela.

- Marília gosta de tomar conta da vida dos outros, né? - o carioca comentou de forma ácida.

- Tá, mas e aí? Pela sua cara você gostou do beijo - voltei a focar no assunto principal.

- Não, Gabs... Eu detestei - meu amigo mexia a cabeça enfaticamente, negando.

- Então por que está com essa cara? - fiquei sem entender.

- Porque é estranho. Há um tempo eu queria muito beijá- la. E agora que o jogo virou... - ele deu de ombros, querendo dizer que não significava nada. Eu entendia bem aquela sensação. Era estranho como empenhávamos todas as nossas forças construindo castelos de areia para as pessoas erradas. Será que havia, afinal, como saber quem é a tal pessoa certa antes de fazer planos? Ou, só o fato de planejarmos muito já significava que estávamos no caminho errado?  Será que o amor exigia mesmo tanto esforço e luta?

- Isso significa que você vai ficar com a Laís? - perguntei.

- Se eu vou ficar com a Laís? Eu vou é namorar com ela, casar, ter filhos... Hoje eu tive certeza do quanto ela é maravilhosa - ao ouvir a menção do nome da morena, os olhos do skatista brilharam.

- Vai com calma, cara. Você pode estar empolgado assim por causa do que acabou de acontecer - o Edu fez o papel de advogado do diabo.

- Calma, nada! Vou pedi-la em namoro agora mesmo - o Alê pegou o celular e desbloqueou a tela. Poucos segundos depois, o barulho que indicava o envio de audio no Whats soou e o garoto começou a falar - Laís, sua linda, quer namorar comigo? Eu queria muito ter você sempre ao meu lado, porque não é todos os dias que a gente encontra alguém legal, gente boa e, além de tudo, bonita que nem você. Acabei de perceber isso e não quero correr o risco de te perder por qualquer bobagem.

Quando ele terminou de falar eu e o Edu estávamos boquiabertos.

- Primo, você é maluco! - foi tudo o que o carioca conseguiu dizer.

- Foi muito sem noção? - ele pareceu cair na real da loucura que acabara de fazer.

- Foi um pouquinho - confessei rindo da situação - Mas, foi fofo. Tenho certeza que ela vai gostar.

- Vem, você precisa de uma cerveja - o primo o puxou pelo braço, também rindo. Meu amigo o seguiu, novamente com a expressão de alguém perdido. Coloquei a mão em seu ombro e os acompanhei, fazendo o possível para segurar o riso. O Alê era uma pesso única. Só ele para ser espontâneo e engraçado naquele nível...

 Quando chegamos ao ponto de concentração da festa, a maioria das pessoas estava sentada em um círculo, gritando e gesticulando para um garoto e uma garota que estavam no meio da roda.

- O que está acontecendo aqui? - perguntei, franzindo a sobrancelha.

- Parece uma roda de verdade ou desafio - o loiro respondeu.

- Pessoal, eu estou muito louco ou aqueles ali no meio são a Rebeca e o Caio? - o Alê apontou.
Demorou uns 10 segundos para que eu pudesse acreditar no que estava vendo. No centro do círculo, abraçados e trocando um beijo “de parar a rua” estavam as duas pessoas que eu nunca imaginaria que iriam sequer se falar um dia.

- Eu não estou acreditando no que estou vendo – consegui falar depois do susto. Se era pra tombar, a Beca tombou.

Quando finalmente se soltaram, a Rebeca estava com uma expressão pior que a do Alê depois do beijo com a Carol. Ela saiu apressada do meio da roda em nossa direção, o rosto mais vermelho que um pimentão.

- Quero ir embora da festa agora – disse, passando por nós que nem um foguete e indo em direção à saída.
Ficamos um encarando o outro sem entender nada até que o Fernando se aproximou.

- Gente, acho que a coisa foi séria – ele, que tinha uma expressão sempre sorridente e descontraída, estava com um ar de preocupado.

- Isso que dá ser tão nerd. Não aguenta nem uma brincadeirinha. Por isso que não gosto de estudar... – Alê comentou em voz baixa.

- Você não gosta de estudar por outros motivos, garoto. Não inventa! Agora, vem! Vou precisar de todo esse senso de humor para ajudar a nossa Hermione – Fernando disse já puxando o skatista para fora.

Encontramos nossa amiga sentada no meio-fio, com a cabeça sobre o joelho.

- Que foi, pequena nerd? Não conseguiu resolver o problema de matemática que o professor passou na aula?  – Alê já chegou fazendo piada.

- Não estou para brincadeira hoje, Alexandre – ela retrucou de forma ríspida.

- Eita! Calma! Não precisa de tudo isso – Fernando tentou acalmar os ânimos – Só queremos saber o que aconteceu.

- Eu não deveria ter aceitado aquele desafio bobo – ela choramingou.

- Relaxa, Bequita! Foi só um beijo. Todo mundo faz besteira na vida – lancei um olhar de relance para o Edu para que ela entendesse o recado.

- Mas esse não é o problema. A questão é que eu gostei – a garota confessou baixinho.

O Edu soltou um assovio baixinho e o Alê colocou a mão na testa.

- Senhoras e senhores – Fernando chamou a nossa atenção com a voz séria – o forninho caiu.
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Notas finais: o que não faltou nesse capítulo foi beijo, hein?

Cap foi mais curtinho, só pra tirar um pouco o “climão” que geralmente acompanha a história. E, gente, fala sério: o que foi a Marília fazendo a falsinha? Aff. Essa garota não tem jeito!

Próximo cap tem ressaca moral da festa. Eita que isso ainda vai render, viu?

Beijo, meninas!