segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Procurando fic para ler?

Deixa eu adivinhar: não tem nada para fazer nesse feriadão e está procurando uma fic para ler. Acertei?

A-rá! Sabia! Nada melhor que uma boa história para passar o tempo, não é mesmo?

Para facilitar a sua vida, separei três dicas ótimas de fics escritas por leitoras minhas. Prontos? Então lá vai:

  • A Bela e a Fera: Só pelo nome já dá pra sacar que é sobre os lindos do Munhoz e Mariano, né? Quem escreve é a Luna e ó, ela está precisando de leitores. Vai lá dar uma força que a história vale a pena. Li os primeiros dois capítulos e o "trem" tá ficando bacana: http://amordecerejas.blogspot.com.br/2015/08/apresentando.html


  • Os opostos se atraem: Essa é para as Luanetes de plantão! A Ritinha é uma linda que escreveu com todo amor e carinho a história do Luan e da Larissa, que se conhecem de maneira inusitada e PÁ! ficam juntos. Tem até pool party, gente. Vai ler que é babado! 


E ó, pra quem não tem paciência de esperar capítulo, já está finalizada, viu? Não tem desculpa: https://www.wattpad.com/story/43504666-os-opostos-se-atraem/parts

  • Ritmo Perfeito: Ritinha que não é boba nem nada, já começou outra fic, gente! Esse é o momento que rola a voz de locutor para a chamada "Da mesma autora de Os Opostos se Atraem, vem aí, Ritmo Perfeito". hahahaa


A história conta sobre como um cantor e uma bailarina vão encontrar o quê? Adivinhem! O ritmo perfeito, é claro!


E claro, fiquem sempre à vontade para ler as histórias e posts aqui do blog. Vocês são sempre bem-vindas! <3

Beijo na testa e aproveitem o feriado!

Capítulo 22 – Contra-ataque

Notas iniciais: Alguém aí com saudades do Alê? Confesso que eu estou com muitas saudades dele e das suas palhaçadas!

Ahh, antes de começar, um agradecimento especial: no último capítulo a leitora Ritinha fez uma análise super bem feita da Gabi. Segundo as palavras dela, a Gabiera  como um balão de ar cheio de mais que estourou na hora errada. Super concordei, gente! Eu mesma não poderia ter feito análise melhor. Tanto que a citei logo no início desse capítulo. A-DO-RO quando vocês comentam e contam o ponto de vista de vocês. Há alguns capítulos a Kamih disse que queria LeGabi (ou seria GaLeo? Ai, não lembro! Hahaha) e, embora eu nem cogitasse essa hipótese antes,tá  aí está o nosso casal derrubando todos os forninhos com esse contrato bapho!

Portanto, fiquem à vontade para “meter o bedelho” de vocês sempre, viu? Pitacos são mais do quem bem-vindos!

E agora, bora pro jogo do Engana Trouxa (ansiosa, genteeeeee! Hahaha)
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Fiquei um tempo encarando a poltrona vazia na minha frente sem saber o que fazer. Será que minha mãe estava falando sério? Será que pretendia mesmo abrir mão da sua superproteção? E se isso de fato acontecesse, como seria minha vida dali para frente? Em uma coisa ela estava certa: eu não sabia fazer mais nada além de dançar. Desde que me conhecia por gente cada minuto do meu tempo foi gasto em esforços para o balé. E agora? O que eu faria?

Subi para o meu quarto com uma sensação estranha. Era como se há poucos minutos eu estivesse cheia de uma raiva venenosa, um sentimento ruim que fez meu sangue ferver a tal ponto que entrei em ebulição, despejando palavras quentes e letais por toda parte. E agora que aquela onda incontrolável passara, não sobrara mais nada. Era como se eu fosse um balão de ar que alguém havia esvaziado. Eu me sentia murcha, vazia...

Parei em frente ao guarda-roupa sem saber o que fazer. Será que eu deveria vestir a malha do balé? Eu e minha mãe já havíamos brigado feio antes e, mesmo assim, os ensaios continuaram como se fossem um território neutro. Resolvi esperar. Joguei minha mochila em um canto qualquer e peguei meu celular para me distrair um pouco. Vi que haviam notificações de novos snaps e abri o aplicativo para conferir as novidades. Um deles era um vídeo do Léo comendo o resto do pudim que a Laís fizera na sua casa. No final, ele lambia a calda que estava no prato, fazendo graça.

Fiquei rindo, imaginando como era possível que um garoto que se mostrava tão seguro de si em determinados momentos fosse capaz de fazer palhaçadas como aquela.

A outra notificação era da Carol. Ela postara a foto de alguns livros novos que acabara de comprar, alguns dos quais eu queria ler. Senti uma pontada de saudade por não ter mais com quem conversar sobre aquele assunto.

Fechando a imagem, soltei um riso amargo. Há menos de um mês, eu estaria no nosso grupo do Whats mandando áudios e mais áudios para descontar a raiva por causa da briga com a minha mãe. Agora eu não tinha com quem desabafar.

Estava ficando difícil enumerar todas as mudanças que estavam acontecendo na minha vida. A cada dia era uma guinada, uma nova situação para se acostumar, uma nova onda para resistir e não permitir que o mar me levasse. Talvez fosse por isso que o meu acordo com o Léo, por mais que parecesse loucura, me soava cada vez melhor. Ele era a tábua de salvação no meio dos destroços de cada parte da minha vida que naufragava.

Não pude deixar de reparar que na época que era amiga da Mari eu recebia muito mais notificações, solicitações de amizade e convites em geral. Agora meu celular andava tão “morto” que até a bateria estava durando mais.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo som do motor do carro da minha mãe saindo. Então ela estava mesmo falando a verdade? Dona Beatriz iria abrir mão do controle que tinha da minha vida de forma definitiva?

Senti a solidão e a tristeza entrarem devagarinho pela porta e pararem a poucos metros de mim, apenas esperando um mínimo deslize meu para se aproximarem. Eu sabia que se me entregasse, provavelmente, terminaria no banheiro vomitando todas as minhas angústias junto com as bobeiras que comeria para aliviar a dor.

“Seja forte, seja forte”, repeti para mim mesma, como se aquela frase tivesse o poder de manter minhas “velhas companheiras” longe.

Por sorte, meu celular tocou. Ansiosa, corri para ver o que era.

“Ainda está viva, bonequinha?”

Era o Alê querendo saber notícias.

“Sim, e precisando de você. Será que você pode me atualizar da matéria que perdi essa semana na escola?”.

Pedi, me agarrando com todas as forças naquela outra tábua de salvação. Alê sempre foi uma boa companhia e era exatamente disto que eu estava precisando naquele momento.

“Sabe que está pedindo para a pessoa errada, né? Kkk Mas cola aí, eu tento te passar alguma coisa”

“Certo. Vou almoçar e passo na sua casa”

“Fechado, Gabs. Mas não alimente muitas esperanças... Não sou exatamente o gênio da nossa classe”.

Realmente, as chances do Alê conseguir me passar todo o conteúdo que perdi naquela semana eram quase nulas. Eu poderia apostar que ele passara, pelo menos, 70% das aulas mexendo no celular, procurando informações sobre skate, música ou qualquer outro assunto que ele lhe surgisse na mente. Meu amigo era um cara muito inteligente, mas isso não significava que era estudioso. No caso do skatista, em especial, esses adjetivos não caminhavam juntos.

Desci para almoçar sem muito ânimo. Eu sabia que a Maria devia ter escutado toda a discussão com a minha mãe e não estava pronta para encará-la. Por mais que me sentisse aliviada, eu não estava orgulhosa do que fizera. Gritar com a minha mãe ia contra tudo o que eu aprendera a vida inteira. Além do mais, eu sabia que, no final, eu tinha muitos motivos para me sentir grata por tê-la na minha vida. Mas é que tem momentos que a gente chega no nosso limite e estoura. Simples assim...

- Tem frango grelhado e salada, mas como sua mãe disse que você está liberada da dieta, podemos preparar mais coisas... – “Mary” disse assim que me viu na cozinha. Agradeci mentalmente por ela tratar tudo como algo corriqueiro e sem importância.

- Alguma sugestão? – levantei as sobrancelhas.

- Batata frita, talvez... – sugeriu como quem não quer nada.

- Nooooossaaaa! Batata frita! – fiquei empolgada imediatamente. Não era sempre que tínhamos opções gostosas no almoço.

 - Eu comprei na época que você estava de férias do balé e com a dieta liberada, mas acabamos não usando. Tem um saco enorme no freezer – ela sorriu, parecendo feliz por conseguir me ajudar.

- Você é uma gênia, Maria! – estendi a mão para um hi-five.

- Calma, Gabi! É só batata frita – ela riu fingindo modéstia.

Comi meu frango e salada enquanto as batatas eram preparadas. Como acompanhamento, a diarista fez uma maionese de alho divina. Comi tudo e até lambi os dedos.  Acabei sentindo um leve arrependimento depois, mas tentei afastar aqueles pensamentos rapidamente da minha cabeça. Não era o momento para ser fraca.

- Mary, estava uma delícia! Mandou muito bem no molho – disse, ao levar o prato até a pia – Vou subir para escovar os dentes e depois vou até a casa do Alê, beleza?

- Hum... Gabi – ela chamou, parecendo sem jeito – sua mãe disse que não posso deixá-la sair.

- Como assim? Eu só vou até a casa do Alê! E foi ela mesma quem disse que não ia mais controlar a minha vida – não estava entendendo mais nada!

- Ela disse que até falar com o seu pai e conversar sobre o que aconteceu, você não pode sair. Parece que ela está preocupada que você esteja andando com más companhias – contou secando a louça e guardando nos armários.

- Más companhias era as que eu tinha antes... – retruquei brava, mesmo sabendo que a Maria não tinha nada a ver com a história.

- Calma, Gabi. Sua mãe só está preocupada. Foi um susto para ela saber que você não estava na escola. Precisa ver como ela chegou aqui...

- Minha mãe precisa aprender a confiar mais em mim – desabafei cruzando os braços na frente do corpo como uma menina mimada.

A diarista riu ao ver minha reação – Melhor você se acostumar. Mães são sempre assim... Mas me fala uma coisa – fez uma pausa, ficando séria – Você vai mesmo para Nova York?

- Estou querendo.

- Mas como vai ser? Eu nunca ouvi você falar do seu pai... – sua pergunta parecia mais preocupação do que curiosidade. E eu não podia negar que a situação seria bem estranha. Eu mal falava com ele e, segundo minha mãe, seria o senhor Marcos Sérgio que tomaria conta da minha vida dali em diante. Eu não tinha ideia de como aquilo iria funcionar...

- Bom, acho que vou ter que começar a falar – dei de ombros – Posso chamar o Alê para vir aqui, pelo menos? – mudei de assunto.

- Bom, acho que isso você pode – concordou, sorrindo.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem no Whats para o meu amigo. Dez minutos depois ele estava na porta de casa.

- Uaaau! Você não me parece doente – foi a primeira coisa que ele disse quando abri a porta para recebê-lo.

- Hum... é porque eu não estava doente – respondi, evitando encará-lo nos olhos. Era difícil admitir que tinha mentido para ele.

- Oi? Como assim? – ele franziu a testa e levantou as mãos, confuso. Sua mochila estava pendurada despretensiosamente em um dos ombros, como se o material escolar fosse um mero enfeite que não servia para muita coisa.

- É uma longa história... Vamos subir que eu te explico – disse, fazendo sinal para que ele entrasse.

- Seguimos até o meu quarto em silêncio. No caminho eu percebi que o meu amigo me lançava olhares curiosos, como se eu fosse charada a ser desvendada. Quando chegamos, ele se jogou na minha cama sem o mínimo de cerimônia deixando a mochila jogada no chão.

- Não consigo entrar nesse quarto e não imaginar como a torre que aprisiona a princesa – ele riu – Isso aqui parece cenário de conto de fadas.

- Fico feliz em saber que você aprecia tanto a minha decoração – respondi, irônica.

- Desculpa, Gabs. Mesmo que você não goste, você parece muito uma bonequinha. Mas vamos ao que interessa – se ajeitou na cama, pegando um travesseiro e deitando de forma que pudesse me ver sentada na cadeira da escrivaninha – O que diabos aconteceu? Foi abduzida por E.T’s? Fugiu com o circo? Resolveu fugir de casa e viver de vender artesanato na praça?

- Não foi nada disso! – ri do seu jeito – Quer dizer, eu só fugi da escola e encontrei o Caio...

- O Caio? Fala sério, a história já começou mal...  – sabia que o Alê não aprovaria.

- Olha, ele até que foi um bom amigo... – tentei defendê-lo.

- Só porque tinha segundas intenções com você – ele rebateu na hora.

- Como assim? – fiquei surpresa que ele tivesse percebido.

- Qualquer pessoa sabia. Gabs. Ah não, pera! Só a Carol que não. Mas é porque ela gosta de caras “maneiros” e tem um excelente feeling para identificá-los – ele zuou, me fazendo rir de novo.

- Nossa, eu não achava que estava assim, tão evidente... – comentei.

- Sabe de nada, inocente! Eu sempre soube. Mas ok, e aí? Não me diga que você ficou com esse cara, por favor! Porque se você fez isso, vou perder essa visão que tenho de você como uma bonequinha e não sei se estou pronto psicologicamente para lidar com isso – ele fez drama.

Atendendo ao seu pedido, contei tudo o que aconteceu desde o meu encontro com o Caio até a conversa com a minha mãe e a ameaça de ir para Nova York. Só omiti a parte do Léo e do contrato. Achei que o Alê já tinha informação suficiente para absorver, por ora.

- Caramba, Gabi! Você realmente conseguiu quebrar a imagem que eu tinha de você como uma bonequinha! Como vou viver agora? – ele fingiu estar desolado.

- Para de ser bobo, Alê! Não mandei vocês criarem essa imagem tão frágil de mim – rebati, fingindo estar brava.

- Não, imagina! Só se veste como uma garotinha e vive no alto de uma torre de marfim – ele voltou a zombar da minha cara.

- Pelo jeito você não prestou atenção na história. Há muitas chances de eu mudar de país muito em breve e deixar essa torre – gesticulei para indicar o redor do quarto – Além disso, uma garotinha teria sentado e chorado de tudo, ao contrário do que eu fiz.

- Seria bem legal se você fosse para Nova york. Na verdade, até eu queria ir. Estou meio cansado de tudo isso aqui. As mesmas pessoas, os mesmos assuntos, o mesmo sistema de vida: se formar, ir para a faculdade, casar, ter filhos. Esse é um plano que não vai funcionar para mim...

O tom sério do Alê me surpreendeu. Era estranho ouvi-lo analisando uma situação sem fazer alguma piada.

- E qual plano vai funcionar para você? – fiquei interessada.

- Não sei. Por enquanto a única ideia é me formar e sair por aí, desbravando o mundo, conhecendo gente, andando de skate, coisas assim – seu tom era sonhador.

- É um plano bem possível. Só a parte do se formar que me parece completamente absurda se levarmos em consideração o seu histórico escolar – fui sarcástica de propósito para demonstrar o quanto aquilo parecia irreal.

- O que me faz lembrar que a senhorita me deve uma – ele me lançou um olhar contrariado.

- Posso saber o que fiz agora? – falei mexendo as mãos.

- Graças à história que a Mari espalhou por aí, tivemos que assistir palestrar sobre respeitar o próximo e sobre como manter a nossa autoestima, sem falar na campanha que precisamos criar para a aula de artes com o tema “Gentileza gera gentileza”. E agora temos cartazes antibullying espalhados pelo colégio. Você causou, Gabs! Aposto que Marília está arrependida do que fez. No fim, você ficou mais “famosa” do que ela – Alê riu, divertindo-se.

Parei para pensar na situação por um momento. Era claro que eu ficara arrasada com tudo o que aconteceu. Ninguém gosta de ter a intimidade exposta, ainda mais da forma maldosa como a Mari fez. Mas eu não pensei que aquilo poderia ter consequências além das minhas próprias feridas. Era estranho pensar que eu fui pega como exemplo para algo maior e que pudesse gerar resultados positivos de alguma forma. Era, de certa forma, um conforto no meio de tanta bagunça.

- Falando nisso, como estão as coisas no colégio? Agora que minha mãe descobriu minha farsa, não vou conseguir mais fugir das aulas – comentei com um tom apreensivo. Só de pensar no assunto eu já sentia calafrios.

- Bom, não tivemos muitas mudanças. Mari continua seu reinado com seus fiéis súditos babando seu ovo todo o tempo, os professores continuam passando pilhas e mais pilhas de deveres, a coxinha de frango com requeijão da cantina continua deliciosa...

- Alê, você sabe que não é isso que eu quero saber! – interrompi sua divagação.

- Bom, se você quer saber se você ainda é o assunto mais comentado dos trend topics da escola, sinto informar, mas é – ele me lançou um olhar de consolo – Ainda rolam muitos comentários, principalmente porque você sumiu, né? Isso deu margem para o pessoal falar que você estava chorando pelos cantos ou cortando os pulsos por causa do meu primo...

Ai droga! Aquele povo não tinha mais o que fazer da vida?

- E como o Edu saiu do colégio, aí que a bagaça bombou de vez. Olha, essa foi a primeira vez mais dramática de toda a história. Me sinto como naquelas novelas de época, que a honra de uma moça tinha que ser preservada a qualquer custo. Fala sério, você ficou com ele porque quis e ponto. Não importa os motivos. Até porque, tenho certeza que não foi um esforço tão grande para ele ficar com você...

Mordi os lábios, me segurando para não perguntar o que tinha acontecido com o carioca.

- Minha tia quis mudá-lo de colégio por causa do ritmo muito puxado da nossa escola. O Edu não estava conseguindo acompanhar direito as matérias, aí acharam melhor transferi-lo agora do que esperar as coisas complicarem. Já basta um na família quase repetindo de ano... – Alê deve ter lido na minha cara que estava morrendo de vontade de saber, porque contou com um ar meio entediado, como se estivesse pensando “já que você faz tanta questão”.

- Bom, então resumindo, segunda-feira eu ainda serei alvo de piadinhas e de olhares por todo o colégio. Já me sinto cansada só de imaginar – soltei o ar pesadamente – Sorte do seu primo que conseguiu fugir de tudo isso. Daria tudo para mudar de colégio também.

- Olha, não duvido que a transferência do Eduardo tenha algo a ver com isso. Ele odeia chamar a atenção mais que tudo nessa vida. Meu primo nunca lidou bem com pressão – o skatista avaliou – Mas você não precisa ser covarde a esse ponto. Até porque sempre achei que fugir pode ser uma solução temporária, mas uma hora você vai ter que enfrentar esse problema. Não tem jeito...

- Nossa Alê, o que aconteceu com você? Está falando todo sério, como se fosse um cara super inteligente e culto – provoquei.

- Qual é, Gabs? Por trás dessa fachada de vida louca existe um cara legal – ele se fez de ofendido antes de cair na risada – Mas tenho pensando muito em tudo o que aconteceu. Até porque eu também acabei sofrendo as “consequências” – ele fez um gesto com as mãos imitando aspas – Não frequento mais o Gueto e a Mari e suas amigas não falam mais comigo. Não que eu faça questão, mas...

- E posso saber o que se passa na cabeça desse grande pensador contemporâneo? – descontraí, fazendo meu amigo sorrir.

- Sei lá, esse lance das coisas sempre funcionarem da mesma maneira, sabe? Da Mari determinar o que é ou não certo e das pessoas seguirem sua opinião porque acham legal ou porque tem medo de estar na “mira” das suas maldades. De você precisar ter vergonha de brigar pelo cara que você gosta porque vai ser julgada. Das pessoas não ficarem com você por causa de status e esse tipo de coisa. É tão ridículo que a gente esteja no século 21 e ainda tenhamos que lidar com essas situações – ele sentou na cama e mexia as camas, bastante empolgado. Dava para ver que ele estava realmente incomodado com o assunto.

- Mas quanto a isso não temos muito o que fazer... Já estive dos dois lados da situação, o que julga e o que é julgado – ri sem muito ânimo – É tipo um ciclo sem fim no qual a Mari e sua turma sempre saem ganhando, de um jeito ou de outro.

- Isso porque ninguém nunca teve “poder de fogo” suficiente para revidar. Mas dessa vez, a gente tem – ele sorriu de maneira pretensiosa.

- A gente tem? – levantei a sobrancelha, curiosa.

- Tenho pensando em um plano de contra-ataque – ele confessou bastante satisfeito consigo mesmo.

- É mesmo? E qual é? – fiquei bastante interessada.

- Queria gravar vídeos, tipo vlogs, comentando essas situações, mas de uma maneira engraçada, sabe? De forma leve, mas que faça as pessoas pensarem – ele contou esperando a minha reação.

- Caraca, Alê! É perfeito! Eu adorei! Já te imagino fazendo isso – fiquei super empolgada com a ideia.

- Sabia que você ia curtir. E pode se preparar porque vou precisar da sua ajuda para editar os vídeos. Não posso subir qualquer coisa no Youtube...

- Claro! Vai ser ótimo te ajudar nesse plano de contra-ataque. Podemos já pensar em assuntos para abordar e pensar em maneiras sutis de provocar a nobreza da escola – sugeri – Só tem um problema! Isso até pode resolver o meu caso a longo prazo, mas preciso de algo mais imediato, saca? Não sou covarde, mas não quero dar minha cara a tapa também – mexi as mãos, agitada.

- E nem vai – mais uma vez ele abriu um sorriso bastante pretensioso, como se soubesse que estava salvando a pátria.

- E qual é o plano dessa vez? – fui direto ao ponto.

- Gabi, qual foi a primeira coisa que te ensinei quando você estava aprendendo a jogar truco? – ele questionou, sério.

- Huumm.... quais eram os naipes e cartas mais importantes? – chutei.

- Não Gabi! Foi blefar. Enganar o adversário e surpreendê-lo. E é isso que você vai fazer – disse de maneira enfática.

- Sei não... Será que consigo? Uma coisa é fingir durante o jogo, outra é enganar o colégio inteiro – ponderei sem confiar muito na ideia.

- Qual é, Gabi? Você fez todo mundo pensar que era a Julieta naquele teatro. Vai ser fácil fazer cara de poucos amigos para uma meia dúzia de pessoas – ele insistiu – Eu até criei um nome para isso: o jogo do engana trouxa. Enquanto todo mundo acha que você está por baixo, você volta sambando na cara da nobreza.

- Jogo do engana trouxa? Sério mesmo, Alê? – cai na risada – Olha, só você! Por isso que eu acho que esse vlog vai bombar.

- Vai falar que você não dá conta, Julieta? – ele provocou.

Parei de rir e me concentrei, abaixando um pouco a cabeça e fechando os olhos. Respirei fundo, recordando algumas técnicas que aprendi na oficina de interpretação. Quando voltei ao normal, ergui o queixo, firmei a voz e lancei um olhar de desprezo em direção ao meu amigo – Tá olhando o quê? Nunca viu? – disse assumindo um papel.

- Booooa! Dá para melhorar, mas esse é o caminho. Tipo, não queria em uma pessoa petulante. Pensei em algo mais, “Queridinha, não cansa minha beleza, por favor” – ele falou fazendo cara daquelas madames que passam a tarde inteira no shopping.

Cai na risada de novo, gargalhando alto. Demorou uns cinco minutos para me recuperar, mas depois disso passamos o resto da tarde trabalhando na minha personagem  - uma Gabi que era superior, que não se arrependia do que tinha feito e que já estava pronta para outra – e pensando em assuntos para o vlog do Alê.

No final do dia, eu já estava craque em “enganar trouxas” e já havíamos criado um canal no Youtube. Eu tive uma ideia muito bacana para o nome e o meu amigo adorou: um vida louca, nem tão louco assim. Usei as brincadeiras que ele mesmo fizera durante a tarde  como inspiração.

Já era quase sete da noite quando o Alê foi embora. Nesse meio tempo,  vi que minha mãe havia voltado para casa, mas não passou no meu quarto. Uma série de mensagens do Miguel no meu celular indicava que ela havia anunciado que eu estava fora da companhia.

- Alê, você não ficou bravo por eu não ter mentido para você? – perguntei depois que abri a porta da sala.
- Fiquei um pouco, mas entendo seus motivos. Foi uma barra mesmo tudo o que aconteceu... – seu jeito seguro me acalmou.

- Muito obrigada por tudo! Mesmo! Você tem sido muito legal – dei um abraço demorado nele, descansando minha cabeça em seu ombro por alguns momentos.

- Que isso, Gabs! Só falta chorar agora – ele brincou – Mas é sério, não precisa agradecer. É como te disse, não concordo com isso e fico feliz de tentar fazer algo para mudar. Agora somos o Time B, saca? Que nem no Harry Potter, quando os Marotos se juntam para fazer artes pelo castelo.

- Nossa, foi longe agora, hein? – ri da sua recordação – Mas, sendo assim – fiz uma pausa, levantando a mão como em uma promessa – “Juro solenemente não fazer nada de bom” – tentei manter a expressão séria, mas acabei falhando.

- “Mal feito, feito”. A gente se vê amanhã, parceira – ele piscou para mim antes de se virar e sair.

Fechei a porta e voltei para o meu quarto. Agora era hora de explicar tudo o que acontecera para o Miguel, conversar com o Léo e tentar colocar meus pensamentos em ordem em relação aos acontecimentos do dia. Porém, de uma coisa eu tinha certeza: ter o Alê ao meu lado seria a minha arma mais preciosa naquele plano de contra-ataque. Sem ele, a “batalha” já estaria perdida.
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Notas finais: Só eu estou empolgada com esse plano de contra-ataque? Certeza que o Jogo do Engana Trouxa e o vlog vão dar o que falar.

Sentiram falta do Léo? Ele volta no próximo cap. Segurem essa ansiedade!

Sabe quem também vai aparecer? O pai da Gabi! Socorro, gente!

Gente, e o babado que o Edu foi embora? Será que ele e Gabs nunca mais vão se encontrar?

Ai gente, já diria Roberto Carlos, são muitas emoções.

Perceberam que não demorei tanto para postar? Mandei bem, hein? Hahaha

Beijo e ótima semana para vocês, meninas! <3

*** Bora para o próximo capítulo? Então clique aqui





sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Capítulo 21 – Quando as máscaras caem

Notas iniciais: Só acho que o nome desse capítulo deveria ser “Quando os forninhos caem”! hahaha Perdoem a demora! Nem vou mais me desculpar, porque né... Sempre fico me desculpando e desculpando e nunca consigo mudar essa demora rs! Mas caprichei bastante no cap. Espero que gostem!
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- Que horas mesmo você disse que ia chegar, dona Gabriela? – minha mãe perguntou sentada no sofá, os olhos fixos na novela.

Dei uma olhada rápida no celular. Eram dez da noite. Certo, eu estava encrencada. Muito encrencada – Desculpa, mãe. É que a gente acabou entrando no cinema, por isso atrasou um pouco.

- Só espero que o seu dever de casa não esteja atrasado – seu modo de falar era tão afiado quanto uma faca.

- Pode ficar tranquila, mãe. Tudo está sob controle – mais uma “mentirinha” para a coleção, pensei comigo mesma.

- Vai logo tomar banho que preciso passar pomada nas suas costas. E nem vou falar para você jantar, né? Com certeza deve ter se entupido de pipoca no cinema...

- Já estou subindo – disse, atravessando a sala e encerrando a conversa. Apesar da vontade de me defender e contar que não comi nada demais enquanto estive fora, não queria estragar minha noite com discussões inúteis. Meu estado de espírito estava tão bom que era difícil acreditar que terminei a noite anterior chorando e que, menos de 24 horas depois, seria capaz de dar pulos de alegria.

Subi as escadas de dois em dois degraus e disparei pelo corredor até chegar ao quarto. Parecia que alguém tinha recarregado minha bateria, porque sentia minha energia a mil. No meu pulso estava a pulseira que o Léo costumava usar. Era simples, com três tiras de couro marrom unidas por uma fivela. Ele deixara a peça comigo como “garantia” do nosso contrato. Em troca, pegou um dos meus anéis de prata que usava na falange – e que combinava com outros três decorados com strass que usava nos dedos – e guardou na carteira. Fiquei tentada a perguntar se a namorada dele não desconfiaria de nada, mas achei melhor não tocar no assunto. O contrato era bem claro: nossa relação estava restrita às coisas boas. Nada de preocupação ou neurose.

Falando em coisas boas, eu não parava de me surpreender com o Léo. Depois que terminamos o lanche – fui obrigada a comer metade da salada, mesmo relutando em fazer refeições na frente dele – ele propôs que entrássemos no cinema, pois corríamos o risco de sermos vistos se ficássemos na praça de alimentação, o que complicaria sua situação com a Vanessa.

Enquanto estávamos em público, caminhamos um ao lado do outro, conversando animadamente como grandes amigos. Uma das grandes vantagens do meu “sócio” – como passei a chamá-lo – era o humor. Ele era muito inteligente e sabia fazer observações pertinentes sobre todos os assuntos. Mas o mais impressionante era como tudo fluía de um modo simples e natural entre nós. Eu não precisava ficar decifrando mensagens ou gestos, me culpando por considerar que agi errado ou de modo precipitado. Com o Léo, as coisas simplesmente aconteciam e pronto.

Ele fez questão de comprar os ingressos e a pipoca, muito embora eu tenha avisado que não iria comer mais nada. Sentamos juntos e, assim que a luz apagou, ele colocou a mão sobre o meu ombro. Achei que ele se aproveitaria da situação, mas não. Por um bom tempo só ficamos abraçados, ele comendo pipoca e, de vez em quando, fazendo comentários sobre o filme. Achei impressionante o fato dele gostar de comédia romântica. A maioria dos homens costumava curtir apenas filmes de ação ou suspense.

- Quero ser escritor. Por isso gosto de todos os tipos de história – ele sussurrou de volta depois que fiz uma piada sobre o interesse pelo filme.

Fiquei de boca aberta com a declaração. Sem dúvidas, aquele garoto era muito diferente de todos os outros.

Depois da sessão, enquanto deixávamos o shopping e caminhávamos para o ponto de ônibus que ficava próximo dali, ele me contou mais sobre o seu sonho: a ideia era escrever histórias que retratassem os dramas reais vividos pelas pessoas, como dificuldades de relacionamentos entre pais e filhos, bullying e coisas do tipo. Mas, ao invés de explorar o “drama” por trás dessas situações, mostraris aos leitores o lado bom da vida.

- Nossa, que garoto mais culto e inteligente – falei em tom de zuação.

- Está pensando o quê, garota? Que sou apenas um rostinho bonito? Tem muito conteúdo por trás desses belos olhos azuis – meu sócio não perdeu a chance de se gabar.

- E quando pretende começar a escrever sua primeira grande obra? – questionei.

- Então, eis o grande problema – fez cara de sofredor, como se estivesse passando por uma crise muito grande – Ainda não achei a história certa, saca? Aquela que você olha e pensa “é essa!”. Já tive muitas ideias, mas nada que realmente me cativasse. Aí sempre acabo desistindo nos primeiros capítulos. Talvez estivesse faltando uma musa inspiradora – sorriu para mim com aquele seu jeito de garoto arteiro.

Desviei o olhar, sem graça. Não estava acostumada com tanto carinho e atenção. Com o Edu era tudo sempre tão difícil. Receber elogios ainda era um pouco estranho para mim – Estava pensando em uma coisa durante o filme – mudei de assunto propositalmente – Nosso contrato tem vigência de três meses. Mas, nesse período, acho que precisaremos de algumas regrinhas para que ele funcione direito.

- Só dizer, sócia – assumiu uma expressão séria, como se estivéssemos falando de negócios que envolviam milhares de dólares.

- Primeiro de tudo: sigilo absoluto. Acabei de sair de uma situação bem delicada. Não seria legal o pessoal ficar sabendo que me meti em um contrato com um cara comprometido – exigi.

- Certo, acho seu pedido justo. Além do mais, também não quero que a notícia se espalhe. Quero ser eu a contar para a Vanessa sobre o nosso contrato e não esse povo fofoqueiro.

Será que ele realmente pretendia contar para ela? A pergunta quase escapou da minha boca, mas mais uma vez me controlei. O relacionamento dos dois não era da minha conta.

- Em segundo lugar, acho que precisamos ser absolutamente francos um com o outro. Se algo desagradar, ou não estiver de acordo com o combinado, precisa ser conversado e resolvido. Nada de indiretas, mensagens subliminares ou códigos. E o principal, se um não estiver mais a fim, o outro precisa ser o primeiro a ficar sabendo. Nada de mentiras ou enganações – pedi, tentando me blindar de passar novamente pelas mesmas situações que vivi com o Edu. Eu duvidada que seria capaz de me levantar se algo daquele tipo voltasse a acontecer.

- Pedidos concedidos, sócia. Mais alguma exigência? – continuou falando como uma falsa solenidade, o que me fez rir.

Parei para pensar alguns segundos antes de responder - Não, acho que é só isso.

- Gabi, eu tenho certeza que esse contrato vai dar certo – disse, antes de me puxar e me beijar gentilmente nos lábios.

Senti seus braços deslizarem pela minha cintura, como se quisesse me segurar e nunca mais me deixar ir embora. Novamente a reação me surpreendeu. O Léo me transmitia segurança, enquanto o Edu sempre me deixava em estado de alerta.

Infelizmente, o beijo não durou muito. Ele me soltou logo na sequência, mantendo apenas nossas mãos unidas enquanto caminhávamos.

- Posso saber como você tem tanta certeza disso? – provoquei na tentativa de disfarçar o quanto aquele beijo me deixara desconcertada.

- Porque eu sei, ué... – disse, lançando um olhar cheio de mistério na minha direção – E vem logo que acho que tem um ônibus vindo – acelerou o passo, me puxando atrás dele.

Realmente havia um coletivo a caminho.  Com uma corrida curta, conseguimos alcançar o ponto e dar sinal. Sentamos no fundo e, como estava vazio, encostei minha cabeça no seu ombro e recebi um cafuné tão gostoso que quase me fez dormir.

Seguimos o resto do caminho em um silêncio confortável, como se não precisássemos de palavras para nos entender.

O ônibus parava no centro e de lá peguei um táxi para o condomínio. Como já estávamos em Guararema e corríamos o risco de sermos vistos, nos despedimos apenas com um abraço. Foi aí que ele teve a ideia de me entregar a pulseira e pegar o meu anel.

- Melhor do que selar o acordo com sangue – não perdeu a oportunidade de fazer piada.

Comecei a rir sozinha ao me lembrar de todos os acontecimentos da noite. O taxista olhava para gente com cara de “Oi? O que vocês estão falando?”. Girei a pulseira no meu punho, sorrindo sozinha. Seria possível que depois da tempestade eu tivesse encontrado um porto seguro?

- Gabriela, você não tomou banho ainda?

Dei um pulo ao ouvir a voz da dona Beatriz. Quando me virei, me deparei com ela parada na porta do meu quarto, me “fuzilando” com o olhar.

- Filha, o que está acontecendo? Você anda com a cabeça nas nuvens nesses últimos tempos! Desde as nossas férias você não tem mais se mantido focada. Acorda, Gabriela! – estalou os dedos para chamar minha atenção.

- Já vou, mãe. Estava só relembrando uns conteúdos da matéria que vai cair na prova amanhã. Queria ter certeza que memorizei tudo certo - estava ficando cada vez melhor na arte de inventar desculpas.

- E não pode fazer isso no banho? Vai logo, quero deitar para descansar. Minha vida não é fácil que nem a sua – ralhou comigo, sentando-se na minha escrivaninha – Estou esperando, vê se não demora!

Sem opção, acabei indo para o chuveiro. Tomei uma ducha rápida para que minha mãe pudesse passar a pomada de uma vez nas minhas costas. Quando terminou de fazer a massagem, dona Beatriz fez questão de repetir que eu precisava melhorar minha disciplina, ou ela seria obrigada de tomar atitudes mais drásticas.

Mesmo sentindo uma pontada de medo por causa da ameaça, me permiti deitar a cabeça no travesseiro e sorrir. As coisas estavam começando a melhorar. As nuvens negras de tempestade já não me atormentavam mais.

***
Acordei tão empolgada no dia seguinte que a Maria até estranhou meu bom humor matutino.
Me esforcei para chegar mais cedo na casa do Léo, para poder cumprimentá-lo com um beijo antes que os outros chegassem.

- Bom dia, sócio – dei um selinho depois quando o encontrei na sala.

- Muito bom dia, sócia. Vejo que acordou bem disposta hoje. Mas não é assim que se dá bom dia para as pessoas... – balançou a cabeça, desaprovando minha ação.

- E como é? – levantei a sobrancelha, confusa.

- Assim – com uma velocidade incrível, ele girou meu corpo, me colocando contra a parede e me deu um beijo daqueles, apoiando as mãos na parede e prensando o corpo no meu. Tudo foi tão rápido que mal tive tempo de reagir. Quando dei por mim, ele já estava se afastando para atender o interfone que tocava.

Antes de ir, porém, voltou e ajeitou meu cabelo – Te deixei descabelada – deu uma risada gostosa ao ver minha cara de susto – Agora você já sabe como dar bom dia para mim, sócia – deu mais uma gargalhada antes de ir abrir o portão.

Passei a manhã inteira me controlando para não dar nenhuma brecha para o pessoal. A Laís propôs que continuássemos jogando truco. Claro que o Caio adorou a ideia e, novamente, fez o possível para tirar proveito da situação. A morena também não perdeu tempo. Como era o último dia do “retiro”, ela parecia estar determinada a fazer algo para chamar a atenção do meu sócio. Minha vontade era de falar “amiga, para! Tá feio!”. Será que ela não percebia que ele não queria nada com ela?

Vendo o comportamento da garota, lembrei dos comentários da Mari que eu estava me oferecendo para o Edu. Francamente, eu não tinha feito nem metade daquilo pelo carioca. Na realidade, o comportamento dela se encaixava muito mais no perfil da Nathy e da própria Marília: insistir de todas as maneiras possíveis até conseguir o que queriam. A diferença era que, enquanto a Laís jogava limpo e deixava claro o que queria, as “falsianes” preferiam fazer planos ardilosos e não se importavam em derrubar quem quer que estivesse no seu caminho.

Embora estivesse irritada com as investidas da Laís, não pude deixar de admirar o Léo por resistir tão bravamente. Ela era uma garota muito bonita, bem sensual, e ele estava segurando bem o “forninho”. Diferente do Edu, né? Que caiu na “rede” da Nathália bem fácil...

Ai, droga! Será que esse garoto não ia sair nunca da minha cabeça? Soltei o ar pesadamente, insatisfeita com os meus pensamentos.

- Que foi, bailarina? Não encontrou seu Quebra-Nozes? – o Léo me lançou um olhar provocativo.

- Olha, vamos falar de clássicos do balé agora? – levantei a sobrancelha, surpresa.

- Já te disse, Léozinho também é cultura – o cabeludo se gabou, mexendo no cabelo.

- Vocês dois se deram bem, né? – Gustavo comentou usando um tom de voz que insinuava algo a mais.

Encarei o Léo sem saber o que fazer. Será que tínhamos dado algum fora?

- E quem não se dá bem comigo, meu caro Gustavo? Sou o charme e simpatia em pessoa – o dono da casa conseguiu driblar a situação e nos tirar da enrascada.

Respirei aliviada quando o moreno começou a implicar com o amigo, dizendo que ele estava disputando com o Caio o posto de Rei do Camarote. A conversa seguiu animada e eu tratei de me concentrar no jogo e não dar mais nenhum fora.

Quando chegou a hora de ir embora, todos se despediram com abraços e vários comentários sobre como aqueles dias de retiro foram divertidos. Enquanto os meninos se distraíam cogitando quando seria o próximo encontro, fiz um agradecimento mental ao Caio. Se não fosse ele, eu provavelmente ainda estaria chorando pelo Edu e sofrendo pela traição da Mari. Por mais que o Rei do Camarote tivesse uma personalidade difícil, ele estava se mostrando um bom amigo. Mesmo que só estivesse interessado em me ajudar com segundas intenções...

Acabei me estendendo muito nas despedidas e precisei correr até o centro para pegar o ônibus. Por mais que eu não quisesse ir para o ensaio, também não queria despertar ainda mais a ira da dona Beatriz. Ela já andava bem nervosa comigo e eu não estava disposta a dar ainda mais motivos para ela ficar insatisfeita.

Desci em frente ao condomínio e apressei o passo para chegar logo. Estranhei quando vi o carro da minha mãe parado em frente a nossa casa. Será que alguma aula da manhã fora cancelada?

Entrei em casa e dei de cara com a dona Beatriz sentada em frente à porta. Sua boca estava fechada em uma linha reta e suas mãos cruzadas em frente ao corpo como se estivesse se segurando para não fazer algo errado.

 - Onde você estava, Gabriela? – sua voz era fria como gelo.

Era óbvio que ela sabia de algo. Mesmo assim, não quis entregar o jogo assim, tão fácil – Na escola, ué... – disse como se a resposta fosse óbvia.

- Gabriela, eu falei com a diretora do seu colégio hoje. Liguei para pedir que você fosse dispensada das aulas de Educação Física e ter certeza que dessa vez minha ordem seria seguida. A Cecília me garantiu que conversaria com a professora e que cuidaria pessoalmente do meu pedido. Até aí, tudo caminhava bem e eu já estava prestes a desligar quando ouvi a diretora perguntar quando você voltava para o colégio. Sem entender nada, questionei sobre o que ela estava falando e adivinha o que eu descobri? – ela me encarava como um predador que estuda a presa. Sua voz era fria e calculada e seus olhos faiscavam de raiva, ressentimento e algo maior e ainda mais profundo que não consegui decifrar. Eu nunca tinha visto dona Beatriz tão contrariada e fora de si – Na segunda-feira alguém mandou um e-mail para a diretoria do colégio em meu nome dizendo que você ficaria um tempo afastada das aula porque estava muito fragilizada com os últimos acontecimentos – fez uma pausa, engolindo em seco, como se o assunto fosse amargo demais – E foi assim que fiquei sabendo que minha filha foi vítima de bullying na escola porque um boato sobre você ter perdido a virgindade foi espalhado de forma maldosa entre os alunos. E eu pensando que o seu único problema era a distração nos ensaios – sua voz falhou na última frase. Eu sabia que era difícil para ela admitir que falhara – Quando você pretendia me contar o que estava acontecendo, Gabriela?

- Eu não queria te preocupar, mãe – menti. Na verdade eu sentia vergonha de admitir que tinha fracassado. Dona Beatriz era tão perfeita que jamais perdoaria uma filha tão perdedora.

- Senta aqui. Quero saber essa história direitinho, desde o começo – fez um gesto, apontando a poltrona na sua frente. Só então me dei conta que ainda estava parada perto da porta.

Obedeci a ordem, deixando minha mochila ao meu lado no chão. Tudo indicava que seria uma conversa longa e bem tensa.

- Meu Deus, que maquiagem é essa logo de manhã? Pelo amor de Deus. Gabriela! Por onde você andou todo esse tempo? – minha mãe parecia horrorizada com a ideia de ter perdido o controle da minha vida, mesmo que só por uma semana.

- Com uns amigos... – foi tudo o que disse. Tinha medo que ela entrasse em contato com a mãe do Léo e dos outros meninos e acabasse entregando todo mundo. Era bem o perfil da dona Beatriz fazer isso.

Com uns amigos... – repetiu, contrariada – Ok, vamos do começo – respirou fundo tentando se acalmar – Esse boato que você perdeu a virgindade. É verdade?

Confirmei com a cabeça, sentindo a vergonha escorrer de cada um dos meus poros. Não poderia existir modo mais constrangedor de contar para sua mãe sobre a sua primeira vez.

- E com quem foi? – ela se controlava para manter o tom de voz calmo.

- Com o Edu, primo do Alê – informei, encarando o chão.

- E quando aconteceu? – o interrogatório continuou.

- No dia da festa de Carnaval na casa da Carol – senti um nó no estômago ao me lembrar. Se pudesse, apagaria essas recordações da minha memória para sempre.

- E vocês estavam namorando?

Balancei a cabeça, negando. Eu esperava que minha mãe não fosse do tipo conservador, que acreditava que uma mulher não deveria se entregar sem ter um compromisso sério com o rapaz...

- Mas vocês estavam juntos já tinha um tempo, né? Ele sempre estava aqui na frente de casa. E parecia gostar de você...

“Só parecia...”, tive vontade de dizer, mas continuei fitando o chão, envergonhada.

- Bom, levando em consideração que vocês viviam juntos, acredito que não é verdade que ele só ficou com você por dó. Alguém espalhou essa fofoca para te prejudicar, não foi isso?

Ver a situação sob essa perspectiva não ajudava em nada. Eu sabia que tudo era verdade, mas ouvir minha mãe resumir tudo com palavras tão frias e mesquinhas reforçava a ideia que eles me usaram e, quando cansaram, jogaram fora sem o mínimo de dó.

Afirmei com a cabeça sem muita convicção. Eu não tinha como ter certeza que o Edu tinha outros motivos para querer ficar comigo. O carioca sempre foi tão misterioso em relação aos seus sentimentos que era difícil ter certeza que sentia algo por mim que não fosse pena.

- E quem fez isso? Você tem alguma ideia?

- Foi a Mari – consegui dizer depois de algum esforço.

- A Marília? Sua amiga? – dona Beatriz colocou a mão na frente da boca e balançava a cabeça, incrédula – Mas por quê? Vocês sempre se deram tão bem...

“Essa é a pergunta de um milhão de dólares”, pensei, amarga. Mas eu já não sabia mais se realmente queria saber a verdade. Talvez a resposta fosse ainda mais dolorosa que a dúvida.

Minha mãe ficou em silêncio por um momento, como se ainda estivesse em choque com a notícia. Quase dava para ouvir seus pensamentos tentando encontrar uma resposta lógica para aquela questão.

- Certo, a Cecília disse que conversou com os alunos e que está tomando medidas anti- bullying na escola – voltou a falar quando desistiu de tentar entender os motivos da Marília – Infelizmente, ela disse que não tem como punir os culpados com advertências ou suspensões porque a notícia se espalhou como um boato e não temos como provar quem foi o autor da mentira. Mas a diretora disse que você já pode voltar às aulas e que estará de olho no pessoal da sua sala – fez uma pausa, me encarando como se esperasse que eu me sentisse mais tranquila com aquela notícia. Mal sabia ela que só de pensar em voltar eu já sentia todo o meu corpo tremer – Já eu posso falar com a mãe da Marília. Alguém precisa colocar essa menina na linha...

- Não, mãe. Não precisa fazer isso – pedi, interrompendo sua fala.

- Gabriela, você não precisa ter medo de represálias...

- Não é nada disso, mãe! – a interrompi de novo, dessa vez de modo mais enérgico – É só que isso é dar ainda mais munição para a Marília usar contra mim. A situação está muito melhor do jeito que está. Pode ter certeza disso.

- Ok, se você acha melhor assim... – assumiu um tom apaziguador que me assustou. Dona Beatriz não era do tipo que abria mão tão facilmente de um ponto de vista – Então vamos mudar de assunto. Bom, sei que já tivemos essa conversa, mas você sabe que perder a virgindade é um passo muito importante na vida de uma garota, né? É o primeiro passo para você se tornar uma mulher de verdade...

Senti meu rosto queimar ainda mais de vergonha. Eu e minha mãe já havíamos falado sobre sexo antes, mas daquela vez era diferente. Havia uma falsa cumplicidade no ar, um entendimento forçado, como se, na verdade, minha mãe não estivesse prestes a querer me matar por ter aprontado tanta coisa. Infelizmente – ou felizmente para mim – as rugas em torno do seu olho e o vinco na sua testa entregavam o que realmente estava se passando pela sua cabeça.

- Bom, vou marcar um médico para você. Não tinha feito antes por não achar necessário, mas agora você precisa tomar certos cuidados. O que me faz querer saber algo muito importante – outra pausa acompanhada de uma mexida desconfortável na cadeira – Você se cuidou, Gabriela? Usou camisinha? Porque você sabe que com essas coisas a gente não pode brincar, né? Veja o que aconteceu comigo! Um descuido e toda minha carreira de bailarina foi por água a baixo...

- Mãe, não é porque aconteceu com você que também vai acontecer comigo. Para de ficar tentando me usar para ter a vida que você não teve – falei com um tom não muito amigável. Não sei porque tive aquela reação tão exagerada, mas não consegui me segurar. Uma raiva irrefreável se espalhou pelo meu corpo como se fosse um veneno.

- Não estou tentando te usar para nada. Só estou preocupada com você, Gabriela! – respondeu, deixando sua máscara de mãe controlada e compreensiva cair. Agora sim dona Beatriz estava se revelando de verdade.

- Está tentando me usar, sim. Sempre esteve. Você quer que eu seja bailarina profissional só porque você não conseguiu ser. Você quer que eu seja disciplinada, forte e determinada, mas eu não sou nada disso. E você quer saber por que não te contei sobre a Mari e o Edu? Foi porque você nunca se interessou em saber o que eu realmente queria. Você sempre decidiu o que era melhor para mim sem sequer consultar minha opinião. Então por que eu deveria te contar o que estava acontecendo? – eu gritava, colocando para fora tudo o que estava entalado na minha garganta – Agora mesmo, você nem quis saber como estou me sentindo em relação a tudo o que aconteceu. Só se preocupou em ter informações suficientes para poder assumir o controle da situação.

- E o que você queria que eu fizesse? Preciso saber o que aconteceu para poder tomar as medidas necessárias e consertar essa bagunça em que você se meteu – falou em tom sério, tentando impor respeito.

- Eu não me meti em bagunça nenhuma, mãe! Você mesmo concluiu que fizeram isso para me prejudicar – me defendi, mexendo as mãos de forma agitada.

- Mas você também não se ajudou muito, né? Saiu por aí, dormindo com o primeiro rapaz que conheceu... – levantou as sobrancelhas, irônica.

- Não muito diferente de você, né? –rebati de forma ácida.

- Gabriela, me respeita! – levantou o dedo de modo ameaçador – Tudo o que eu faço é pensando no seu futuro. Já passei por muita coisa nessa vida, por isso tenho experiência para decidir o que é melhor para você. Não quero que você sofra o que eu sofri.

- Será que nunca passou pela sua cabeça que o melhor para mim talvez não seja o que você determinou? Será que já pensou que posso tentar outras coisas que não tenham a ver com balé? Ou que a vida não se resume à dieta, ensaio, disciplina e sofrimento?

- Que outras coisas você pode tentar? A única coisa que você sabe fazer é dançar. Gabriela! – dona Beatriz beirava a histeria.

- Eu não sei, mas estou cansada disso! Estou cansada de não poder comer o que gosto e de não poder fazer o que quero. Estou exausta de me esforçar tanto para te agradar e de você sempre exigir mais e mais – lágrimas rolaram pelo meu rosto e eu não sabia se eram de nervoso, tristeza ou frustração. Eu tinha vontade de gritar e gritar até que todo aquele sentimento ruim deixasse de vez o meu peito.

- Você está me dizendo que não quer mais dançar? – sua expressão era um misto de surpresa e raiva.

- Sim, é isso mesmo – confirmei.

- Então está ótimo, Gabriela. Não precisa mais fazer balé já que isso é um fardo tão pesado para você – me provocou – Mas não pense que essa sua vida de vagabundagem vai continuar. Segunda-feira você volta para a escola. Farei questão de te levar e vou manter contato direto com a Cecília para saber se você não fugiu. Como é seu pai que paga o colégio, vou cuidar do seu desempenho escolar já que ele não pode fazer isso. Mas de resto... – deu de ombros, indiferente – pode fazer o que quiser da sua vida. Eu não vou mais me meter em nada. Coma o que quiser, vá para onde quiser, fique com o garoto que der na telha. Mas assuma com as consequências dos seus atos e não venha me pedir ajuda depois.

- Fica tranquila! Você não vai precisar me aturar por muito tempo. Quero ir morar com o meu pai em Nova York – disparei sabendo que aquele era um golpe muito baixo. Dona Beatriz não permitia nem uma aproximação por telefone, quem dirá morar com ele.

Ela se levantou da poltrona e me lançou um olhar de desprezo, como se eu não fosse digna da sua companhia – Ótimo! Então para já ir se acostumando, passe a se virar com ele. Mesada, livros, peça tudo para o seu querido pai. Esqueça que tem mãe. Gabriela – disse, antes de me deixar sozinha na sala.
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Notas finais: Maaaas gente, o que deu nessa menina? Revoltou geral! Socorro!

E agora? O que fazer? Como lidar? Como será essa volta para a escola? Será que vai ter reencontro com o Edu? E o Léo? E esse contrato? É muita coisa pra lidar, Gabi tá se enrolando cada vez mais.

Ai gente, a única certeza é que Alê volta no próximo cap. Vamos ver se ele consegue segurar essa menina, né? Hahaha

Beijo, gente! Ansiosa para saber opiniões!

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