Capítulo 38 – Que tiro foi esse? –
parte 1
Notas iniciais: Alguém segura
o Time B, porque nesse cap eles vãos derrubar todos os forninhos. A realeza que
se prepare, porque vem tiro por aí...
____________________________________
No capítulo anterior:
Respondi em forma de
brincadeira enquanto assistia ao vídeo pela terceira vez no canal. Uma coisa
era certa: a Laís havia tirado a sorte grande!
Desci a barra de rolagem
para ler os comentários, mas um em especial me fez prender a respiração.
"Ainda bem que pelo menos você desencalhou,
porque a Gabi continua sendo trouxa e correndo atrás do Edu. Foi até na festa
da Carol atrás dele. Manda sua amiga parar, porque tá feio! O cara não quer
nada com ela, até mudou de escola para não ter que aguentar mais essa iludida,
e mesmo assim ela não desiste. Muito otária!".
Oi? Ir à festa da Carol
atrás do Edu? Como assim? E outra: nosso encontro tinha acontecido na sexta à
noite. Como o pessoal da escola já estava sabendo que estávamos juntos no
Gueto? Ainda era domingo, nem para a aula havíamos ido ainda...
Foi aí que a ficha caiu.
Mari estava contra-atacando. O jogo ainda não havia acabado...
Como estava vendo o vídeo no notebook, tirei uma foto da tela e mandei
para o Alê pelo Whats.
“Acho que a Marília resolveu
colocar as garrinhas de fora novamente”.
“Eita! Será, Gabs? Nos últimos
tempos ela tem estado muito focada em fingir que você não existe. Por que
mudaria isso agora?”
“Com esse rolo do seu beijo na
Carol e da Beca e do Caio acabei não te contando: enquanto eu e o seu primo
estávamos conversando lá no Gueto a Marília chegou e tentou se fazer de santa,
dizendo que nunca espalhou boato nenhum e nunca quis me prejudicar. Só que eu e
o Edu não deixamos barato e acabamos a colocando no seu devido lugar”.
Escrevi, completando com o emoji que mostrava um sorriso amarelo.
“Êêê Monster High! Você não tem
jeito, né? Foi provocar a onça com cabo curto...”.
“Não seria cutucar com a vara
curta?” .
Perguntei já rindo das trapalhadas do meu amigo.
“E eu sei lá... deve ser isso
mesmo. Não manjo muito desses ditados populares. O que eu sei, com absoluta
certeza, é que esse seu lance com Edu e Mari ainda vai render muito. Está
pronta para o jogo do Engana Trouxa? Porque esse vai ser o assunto da escola
amanhã”.
Parei para pensar por um minuto. Na época, o jogo era uma ótima ideia.
Afinal, eu estava no fundo do poço e não aguentaria me expor mais. Logo, criar
uma personagem para disfarçar as minhas feridas era a saída ideal. Mas eu não
queria mais fingir. Se a briga com a Mari e a situação com o Edu me ensinara
algo era, justamente, a ser eu mesma, sem se importar tanto com o que as outras
pessoas pensavam e sem tentar ser perfeita só para agradar alguém.
“Nem me fala... Só eu sei o quanto
foi chato ficar ouvindo os comentários maldosos dos outros alunos pelos
corredores. Às vezes, dá vontade de dar o troco para a Marília na mesma moeda,
só para ela saber o quanto é bom”.
Evitei falar do jogo do Engana
Trouxa propositalmente.
"Até o final do ano você fica
expert em lidar com situações como essa. Fica tranquila!”
Ler a resposta do meu amigo me trouxe uma sensação de inquietude. Eu não
podia ficar presa naquele ciclo vicioso para sempre. Foi aí que lembrei de uma
conversa que tive com o meu pai sobre analisar as situações para que pudéssemos
mudá-las. Da primeira vez eu estava fraca demais para agir, então, apenas reagi
à situação, deixando tudo no controle da Mari. Dessa vez eu precisava fazer
algo.
Sem pensar muito, procurei o Edu no meu Whats. Tinha muito tempo que não
nos falávamos e foi estranho ter a janela da conversa dele aberta de novo no
meu celular. Balancei a cabeça para espantar as lembranças e digitei:
"Você não vai acreditar! A
Mari está espalhando boatos sobre a gente de novo".
Fui direto ao assunto, ignorando as formalidades de dizer oi e perguntar
se estava tudo bem. Eu sabia que o carioca não ligava para este tipo de coisa.
O tipo de conversa preferida dele era aquela que deixava tudo nas entrelinhas.
"Sério? O que ela disse dessa
vez?"
Mandei a foto do comentário e expliquei a minha teoria que a Mari havia
nos visto juntos no Gueto e distorcido totalmente a situação para o colégio
inteiro.
"Essa garota é muito sua fã!
'Cê' é louco!"
"E ela ainda tem a cara de pau
de vir com aquela conversinha de que sempre gostou de mim e nunca quis me fazer
mal. Aff!" - acrescentei vários emojis revirando o olho para deixar
bem clara minha opinião sobre o assunto.
"Acho que dessa vez, ao invés
de gravar um clipe falando que é melhor deixar pra lá, você deveria fazer algo
do tipo ‘segura o seu recalque aí, queridinha”.
Foi como em um desenho animado, quando uma lâmpada se acende em cima da
cabeça do personagem indicando que ele teve uma ideia muito boa. Sem querer, o
carioca me deu a resposta que estava procurando.
“Nossa, seria incrível!
Principalmente se nós dois estivéssemos juntos no clipe, só para deixar claro
que temos uma relação normal de amizade”.
Digitei cruzando os dedos e torcendo para que ele mordesse a isca que eu
jogara. Caso ele se mostrasse a favor da ideia, eu já tinha até a música
perfeita para dançarmos.
“Eu topo! É só me chamar para
gravar”.
Abri um sorriso de orelha e orelha. Acho que nunca fiquei tão feliz com
uma mensagem do Edu quanto naquele momento.
“Você toparia mesmo? Porque queria
fazer algo com a música 24 horas por dia da Ludmilla. É perfeita para a Mari,
principalmente quando fala ‘tu não tem nada pra fazer e fica nessa agonia, fala
de mim, pensa em mim, 24 horas por dia’...”
Falei tudo de uma vez, revelando os meus planos. Afinal, já que era para tombar...
“Caramba! A música se encaixa
direitinho. Vai ser um recado direto e reto para ela”.
“Vou falar com o pessoal sobre a ideia e ver
se eles me ajudam a produzir o vídeo. Vamos tombar essas recalcadas”.
Com a cabeça explodindo de ideias e empolgação, abri o grupo do Time B no
Whats e contei a novidade. O primeiro a se prontificar a ajudar foi o Miguel.
Fernando, Rebeca e Laís aceitaram na sequência. Nem fiquei esperando a resposta
do Alê. Eu sabia que ele toparia só para ter o gostinho de ver o primo pagar
aquele mico.
“Miguel, você pode vir aqui amanhã
logo depois da aula para ensaiarmos a coreografia? Se tudo der certo, até umas
16 horas já teremos todos os passos decorados. Aí é só gravar, editar e se
preparar para ver a reação da realeza”.
“Claro, Gabs. Já vou pesquisar na
internet como se dança essa música. Vai ficar ótimo!”. Meu ex-partner
escreveu.
“Vou pesquisar referências de cabelo e make.
Quero que os dois fiquem maravilhosos nesse vídeo”. Laís entrou no clima da zuera.
“Levo minha filmadora para ajudar o
Alê a captar imagens. Vamos sambar na cara das inimigas, gente! Adoro!”. Fernando estava tão empolgado quanto eu.
Continuamos trocando ideias sobre os detalhes da produção até tarde da
noite. Todo mundo estava muito empolgado com o plano para desbancar a realeza
usando o que tínhamos de melhor: criatividade e união.
Quando finalmente fui dormir, sentia o corpo exausto, mas não poderia
estar mais feliz e cheia de boas expectativas. Tanto que no dia seguinte pulei
da cama assim que o despertador tocou, o que era algo raro de acontecer.
Encontrei o Alê na rua de casa e seguimos juntos para a escola. Como
imaginei, o clima no colégio não estava dos melhores para mim. Logo ao chegar
já percebi várias pessoas me olhando e soltando risadinhas ou fazendo
comentários umas com as outras. Foi inevitável me lembrar da vez anterior,
quando cada vez que alguém lançava um olhar de sátira na minha direção eu
sentia como se estivessem lentamente cravando uma faca bem afiada no meu coração,
várias e várias vezes seguidas. Eu chegava a me encolher tamanha era a dor.
Agora, embora não me ferissem mais, as reações tocavam em feridas que eu
gostaria de deixar quietas. Mas, respirei fundo e não deixei o pânico tomar
conta de mim. Eu tinha um plano e muita gente do meu lado me apoiando e
ajudando. Era só segurar a onda que tudo ia dar certo. Mesmo assim, evitei
andar sozinha pelos corredores ou ir ao banheiro para não ter que ouvir o que
não queria...
Quando o último
sinal tocou, eu me sentia um bicho encurralado que precisava fugir a qualquer
custo. Não só pelo climão que estava no colégio, mas porque
estava difícil aguentar a ansiedade por causa da gravação do clipe. Meu celular
não parava de vibrar com mensagens da Laís e do Miguel, sem falar que meus
companheiros de classe também estavam na maior expectativa. Quer dizer, menos a
Rebeca que não parava de falar que deveríamos prestar atenção na aula porque
ela não ia nos ajudar com a matéria depois. Mas, no fundo, a gente sabia que a
nossa pequena Hermione não ia nos deixar na mão. Afinal, era por uma boa
causa...
- E aí, Gabi? Vai rolar rango na sua casa hoje? - Alê perguntou enquanto caminhávamos todos juntos para a saída do colégio.
- Sim, eu mandei mensagem para a Maria avisando que receberia uns amigos. Ela disse que ia fazer strogonoff - falei abrindo o que eu acreditava ser o primeiro sorriso do dia. Eu sabia que ele adorava aquele prato.
- Hmmm... Aí sim! Na minha casa só rola strogonoff em ocasiões muito especiais. Minha mãe tenta muito me fazer virar vegetariano.
- E aí, Gabi? Vai rolar rango na sua casa hoje? - Alê perguntou enquanto caminhávamos todos juntos para a saída do colégio.
- Sim, eu mandei mensagem para a Maria avisando que receberia uns amigos. Ela disse que ia fazer strogonoff - falei abrindo o que eu acreditava ser o primeiro sorriso do dia. Eu sabia que ele adorava aquele prato.
- Hmmm... Aí sim! Na minha casa só rola strogonoff em ocasiões muito especiais. Minha mãe tenta muito me fazer virar vegetariano.
- Ahh, mas sua mãe faz uns pratos vegetarianos
maravilhosos! – eu amava comer na casa da dona Melissa só para experimentar as
iguarias que ela preparava sem carne.
- Sim, faz. Mas não fala isso para ela! Senão nunca
mais vai rolar hambúrguer em casa... – ele disse com a expressão de uma pessoa
que teme por algo muito sério.
A resposta do skatista fez todo mundo cair na risada.
Não demorou nada para a tensão do colégio ficar para trás. Quando chegamos em
casa eu já estava bem mais tranquila. Era como se tivessem tirado um King Kong
das minhas costas. Olhei rapidamente para meus companheiros de sala. Eu me
sentia tão bem ao lado deles. Me sentia... forte. Era a primeira vez que não
tinha a sensação que era uma peça fora do quebra-cabeça. Eu não precisava me
encaixar ali porque as coisas simplesmente fluíam, sem necessidade de encaixe.
- Maaaaaaria! Chegamos! – gritei assim que abri a porta
jogando a mochila de qualquer jeito em um dos sofás.
- Oi, pessoal! Servi a comida lá na beira da piscina,
assim vocês ficam mais à vontade. Espero que gostem! – nossa secretária do lar
avisou.
- Casa de gente rica é outro nível, né amores? Daqui a
pouco vão aparecer os garçons com o champanhe e os canapés – Nando soltou o seu
comentário irônico com o toque de humor que lhe era típico.
- Na verdade, pedi que servissem vinho seco hoje.
Imaginei que se encaixaria melhor na situação – entrei no clima da brincadeira
arrancando comentários divertidos de todos.
A piscina ficava na parte de trás da minha casa. Para
chegar até lá havia duas opções: entrando pela garagem e contornando pelo
jardim ou pela cozinha. Usamos a segunda e, após descer alguns degraus,
chegamos à área onde havia um grande guarda-sol com suporte de madeira clara e
cobertura de tecido branco. Logo abaixo, uma mesa de vidro com detalhes de
madeira estava posta com pratos, talheres e copos. Ao lado estava uma mesa no
mesmo padrão que a primeira, só que menor, sob as tigelas de arroz, strogonoff,
batata palha e salada.
Genteeee, essa é uma ideia de como é a área da piscina da casa da Gabi. Ryca, né? Desculpa aí, dona Gabriela! |
Demorou menos de
10 minutos para que todos ficassem à vontade. As mochilas foram deixadas sobre
as espreguiçadeiras e todos se sentaram para comer e conversar com a Maria que
roubou a cena do almoço. Seu strogonoff estava recebendo vários elogios.
Estava quase terminando minha refeição quando a Laís e
o Miguel ligaram para avisar que haviam chegado. Logo na sequência foi a vez do
Edu aparecer. A forma como me cumprimentou e interagiu com todos demonstrava
que ele estava bastante empolgado com a gravação.
- A comida e o papo estão ótimos, mas está na hora de
começarmos a trabalhar, né gente? Afinal, vocês não vieram até aqui só para
“filar o rango” da casa da Gabi, né? – Alê começou a agitar o pessoal.
A ideia era recriar o clipe original só que com um
toque especial: os meninos estariam vestidos de mulher, com exceção do Miguel,
que seria o “boy magia” pelo qual eu e a Laís brigaríamos, já que ela
representaria a Mari. Começaríamos com o “squad” da Realeza - formado pela
Lala, Edu e Alê – tirando selfies na
beira da piscina e postando no Instagram com a legenda “Às quartas usamos rosa”.
A Laís estaria com uma peruca loira, para enfatizar bem a indireta de quem ela
estava representando. Ainda com o celular na mão, um deles entraria no meu
Facebook e ficariam fazendo caras e bocas fingindo que estavam falando mal de
mim. Nesta parte, na hora da edição seriam acrescentadas frases na tela como
“que sem graça!”, “que magrela!”, ou “se acha, coitada!”.
Nessa hora, eu, Rebeca e Nando entraríamos causando no
local, ao mesmo tempo que eu dublaria a primeira estrofe da música olhando para
a câmera, como se realmente estivesse mandando um recado. Na sequência, Beca e
eu pularíamos com tudo na piscina fazendo voar água na Realeza, enquanto o
Nando fingia filmar tudo para postar no Face. Claro que elas não iam gostar
nada disso e ficariam nos encarando. Para não deixar barato, eu e Beca
encostaríamos na borda da piscina e devolveríamos o olhar marcante. Nesse
ponto, a música estaria na parte antes do refrão que fala “ô, mandada safadinha, eu já descobri o seu truque, para saber da minha
vida, não sai do meu Facebook”.
A tensão só seria quebrada com a entrada do Miguel com
um copo de suco na mão. Como ele representava o “boy magia” do momento, eu e a
suposta Mari ficaríamos o “secando” com os olhos, enquanto ele chegava,
escolhia um lugar na beira da piscina e se sentava para tomar sua bebida.
Para tentar impressioná-lo, meu time sairia da piscina
como divas e começaríamos a dançar fazendo uma coreografia – no maior estilo
High School Musical. Eu e o Miguel não pararíamos de trocar olhares enquanto eu
arrasava no passinho. Vendo o nosso sucesso, primeiro o Edu deixaria a Realeza
para se juntar a nós. Depois viria o Alê, deixando a Lala sozinha do outro lado.
Encerraríamos o clipe com uma coreografia bem divertida
que teria direito até a quadradinho. No final, teríamos imagens de todo mundo
bagunçando, dançando em cima do banco ou pulando na piscina enquanto eu e o
“boy magia” ficávamos juntos e a “Mari Fake” pegava suas coisas e ia embora
sozinha.
Para a caracterização dos meninos usaríamos algumas
perucas que o Miguel pegara na escola da minha mãe e roupas minhas, da Beca e
da Laís. Aliás, montar o figurino foi um dos pontos mais engraçados. Foi hilário
ver o Edu e o Alê disputando para ver quem usaria uma saia preta com babados na
barra. Quem ficou mais à vontade com a situação foi o Fernando que havia
escolhido a parte de cima de um biquíni rosa e combinado com um short jeans
clarinho. Para fechar, ele colocou uma peruca preta com corte chanel. O
resultado ficou incrível! Ele realmente parecia uma garota, principalmente
porque se movimentava de forma um pouco mais delicada.
Depois de ensaiar as cenas e, principalmente, os passos
de dança algumas vezes, partimos para as gravações. Alê e Nando se revezavam
com a câmera e, como ambos eram bem exigentes, repetimos as sequências muitas
vezes até conseguir chegar a um bom resultado. A sorte é que todo mundo estava
muito empolgado e empenhado para tombar a realeza.
- Vamos lá,
pessoal! Só falta a cena que todos estão dançando juntos e faz o quadradinho.
Coloquei a câmera no tripé, assim consigo aparecer também. Todos prontos? – o
Alê gritou para chamar a atenção do resto da turma que conversava. Já era final
de tarde e o cansaço começava a bater. Além disso, como estávamos no outono, a
temperatura estava caindo, o que complicava a missão de parecer feliz e plena usando
apenas um biquíni com um short molhados por ter entrado na piscina.
- Eu ouvi quadradinho?
Uma voz que vinha da cozinha fez todo mundo se virar
para descobrir quem era.
- Isso aí, dona Beatriz! Está rolando um fluxo na sua
casa. Espero que não se importe... – o skatista ironizou.
- Claro que não! Quando o Miguel pegou as perucas hoje
depois do almoço fiquei super curiosa para saber o que estavam aprontando.
Posso participar do... fluxo?? – ela entrou na brincadeira, provocando o Alê.
- Só se me prometer que ficará em silêncio. Sei que
parece bagunça, mas estamos trabalhando duro nessa gravação, dona Bia – o
falso ar profissional do meu amigo pegou minha mãe desprevenida por um momento.
Quando sacou que tratava-se de mais uma brincadeira, caiu na risada. Como
alguém conseguia ser tão cara de pau?
- Prometo que vou me comportar – minha mãe respondeu
levantando uma mão como se estivesse jurando.
- Então vamos lá, galera! Caprichem ao máximo, porque
temos uma bailarina profissional no set. Todos em seus lugares! Vou contar até
três e aí já sabem, né? Arrasem! – o diretor deu as ordens antes de assumir o
seu posto.
A cena valendo ficou bem melhor que o ensaio. O fato
dos meninos não fazerem o quadradinho muito bem só deixou tudo melhor. Era
muito engraçado vê-los tentando requebrar e parecer sexy vestidos de mulher.
Pelo menos uma vez na vida eles saberiam o que passávamos quando queríamos
seduzir um deles.
- Uaaau! Ficou ótimo! Quem adaptou essa coreografia? –
pelo sorriso no seu rosto, minha mãe realmente tinha aprovado.
- Eu e o Miguel. Ele é muito bom nisso de criar passos
– falei.
- Ah, mas é você que consegue deixar tudo com uma
sequência mais fluida. Se dependesse de mim ficaria parecendo uma bagunça... –
Miguel respondeu de onde estava.
- A verdade é que fazemos uma boa dupla – sorri para o
meu parceiro de dança recebendo o mesmo gesto de volta.
- Sim, sempre formaram – dona Beatriz concordou com um
toque de saudade na voz. Provavelmente estava pensando no espetáculo – Vocês
deveriam explorar isso. Tem várias pessoas no Youtube ensinando como dançar
essas músicas de hoje em dia que vocês juram que são boas – disse, com aquele
típico ar de gente adulta que não entende os jovens – Como já gostam de gravar
vídeos, aposto que ficaria ótimo.
- Que ideia massa! Eu topo! – Miguel respondeu de pronto.
- Podemos mudar o nome do canal. Ao invés de ser só meu, pode ser de
todos nós e cada um posta um conteúdo diferente – Alê sugeriu, os olhos
brilhando de empolgação com a novidade.
- Aí eu também vou querer fazer vídeo de maquiagem – foi a vez da Laís se
pronunciar.
- Vejo que plantei uma semente aqui – minha mãe parecia feliz em estar
ali com a gente. Era bom vê-la sorrindo e com a expressão tão leve – Acho que
deveriam sentar e combinar os detalhes melhor depois. Agora, me expliquem uma
coisa: o clipe vai acabar assim? Ouvi algo sobre essa ser a última cena...
- Ahh, não... Já fizemos as cenas finais, com a Gabi e o Miguel em um
climinha de romance enquanto a Laís sai de fininho. Essa da coreografia vem
antes do “gran finale”, mas não precisamos gravar tudo em sequência. Dá para
encaixar depois na edição – nosso diretor se apressou em explicar. Quando ele
falava de modo sério e concentrado parecia até outra pessoa.
- Hmmm... Então no final temos um casal? – a notícia pareceu deixar minha
mãe ainda mais interessada. Será que ela achava que eu e Miguel estávamos
juntos de verdade?
- Gabi deu sorte de pegar esse boy magia aqui de jeito – Nando entrou na
conversa dando um abraço bem forte no Miguel que estava ao seu lado – Queria eu
ter essa sorte, viu! – emendou. Embora o tom do Nando indicasse que tudo não
passava de uma brincadeira, a reação do Miguel surpreendeu a todos. Ele se
soltou rapidamente dos braços do outro garoto, afastando-se como se estivesse
com medo de que o nosso amigo tentasse segurá-lo novamente.
Foi como se alguém tivesse apertado o botão pause. Todos ficaram imóveis
e em silêncio sem saber como reagir à cena. A situação era tão inusitada que
todos pareciam ainda estar processando a informação, como um computador com o
sistema muito lento que demora para abrir um programa. Eu conseguia quase ver a
mente do pessoal tentando fazer o download da informação: todo mundo brincava
que Miguel e Fernando poderiam ser um casal, mas aquela situação significava
que a possibilidade era real? E se fosse, significava que o Miguel estava
dispensando o Fernando na frente de todo mundo?
__________________________
Notas finais: esse final praticamente colocou uma “tela
azul” na mente de toda a galera. Que tiros foram esses, hein? E essa é só a
primeira parte. Na segunda tem Mari X Gabi. Prepara que o “tiroteio” vai ficar
ainda mais pesado.