quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Capítulo 38 – Que tiro foi esse? – parte 1



Capítulo 38 – Que tiro foi esse? – parte 1
Notas iniciais: Alguém segura o Time B, porque nesse cap eles vãos derrubar todos os forninhos. A realeza que se prepare, porque vem tiro por aí...
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No capítulo anterior:
Respondi em forma de brincadeira enquanto assistia ao vídeo pela terceira vez no canal. Uma coisa era certa: a Laís havia tirado a sorte grande!
Desci a barra de rolagem para ler os comentários, mas um em especial me fez prender a respiração.
"Ainda bem que pelo menos você desencalhou, porque a Gabi continua sendo trouxa e correndo atrás do Edu. Foi até na festa da Carol atrás dele. Manda sua amiga parar, porque tá feio! O cara não quer nada com ela, até mudou de escola para não ter que aguentar mais essa iludida, e mesmo assim ela não desiste. Muito otária!".
Oi? Ir à festa da Carol atrás do Edu? Como assim? E outra: nosso encontro tinha acontecido na sexta à noite. Como o pessoal da escola já estava sabendo que estávamos juntos no Gueto? Ainda era domingo, nem para a aula havíamos ido ainda...
Foi aí que a ficha caiu. Mari estava contra-atacando. O jogo ainda não havia acabado...
Como estava vendo o vídeo no notebook, tirei uma foto da tela e mandei para o Alê pelo Whats.

“Acho que a Marília resolveu colocar as garrinhas de fora novamente”.

“Eita! Será, Gabs? Nos últimos tempos ela tem estado muito focada em fingir que você não existe. Por que mudaria isso agora?”

“Com esse rolo do seu beijo na Carol e da Beca e do Caio acabei não te contando: enquanto eu e o seu primo estávamos conversando lá no Gueto a Marília chegou e tentou se fazer de santa, dizendo que nunca espalhou boato nenhum e nunca quis me prejudicar. Só que eu e o Edu não deixamos barato e acabamos a colocando no seu devido lugar”.

Escrevi, completando com o emoji que mostrava um sorriso amarelo.

“Êêê Monster High! Você não tem jeito, né? Foi provocar a onça com cabo curto...”.

“Não seria cutucar com a vara curta?” .

Perguntei já rindo das trapalhadas do meu amigo.

“E eu sei lá... deve ser isso mesmo. Não manjo muito desses ditados populares. O que eu sei, com absoluta certeza, é que esse seu lance com Edu e Mari ainda vai render muito. Está pronta para o jogo do Engana Trouxa? Porque esse vai ser o assunto da escola amanhã”.

Parei para pensar por um minuto. Na época, o jogo era uma ótima ideia. Afinal, eu estava no fundo do poço e não aguentaria me expor mais. Logo, criar uma personagem para disfarçar as minhas feridas era a saída ideal. Mas eu não queria mais fingir. Se a briga com a Mari e a situação com o Edu me ensinara algo era, justamente, a ser eu mesma, sem se importar tanto com o que as outras pessoas pensavam e sem tentar ser perfeita só para agradar alguém.

“Nem me fala... Só eu sei o quanto foi chato ficar ouvindo os comentários maldosos dos outros alunos pelos corredores. Às vezes, dá vontade de dar o troco para a Marília na mesma moeda, só para ela saber o quanto é bom”.

 Evitei falar do jogo do Engana Trouxa propositalmente.

"Até o final do ano você fica expert em lidar com situações como essa. Fica tranquila!”
Ler a resposta do meu amigo me trouxe uma sensação de inquietude. Eu não podia ficar presa naquele ciclo vicioso para sempre. Foi aí que lembrei de uma conversa que tive com o meu pai sobre analisar as situações para que pudéssemos mudá-las. Da primeira vez eu estava fraca demais para agir, então, apenas reagi à situação, deixando tudo no controle da Mari. Dessa vez eu precisava fazer algo.

Sem pensar muito, procurei o Edu no meu Whats. Tinha muito tempo que não nos falávamos e foi estranho ter a janela da conversa dele aberta de novo no meu celular. Balancei a cabeça para espantar as lembranças e digitei:

"Você não vai acreditar! A Mari está espalhando boatos sobre a gente de novo".

Fui direto ao assunto, ignorando as formalidades de dizer oi e perguntar se estava tudo bem. Eu sabia que o carioca não ligava para este tipo de coisa. O tipo de conversa preferida dele era aquela que deixava tudo nas entrelinhas.

"Sério? O que ela disse dessa vez?"

Mandei a foto do comentário e expliquei a minha teoria que a Mari havia nos visto juntos no Gueto e distorcido totalmente a situação para o colégio inteiro.

"Essa garota é muito sua fã! 'Cê' é louco!"

"E ela ainda tem a cara de pau de vir com aquela conversinha de que sempre gostou de mim e nunca quis me fazer mal. Aff!" - acrescentei vários emojis revirando o olho para deixar bem clara minha opinião sobre o assunto.

"Acho que dessa vez, ao invés de gravar um clipe falando que é melhor deixar pra lá, você deveria fazer algo do tipo ‘segura o seu recalque aí, queridinha”.

Foi como em um desenho animado, quando uma lâmpada se acende em cima da cabeça do personagem indicando que ele teve uma ideia muito boa. Sem querer, o carioca me deu a resposta que estava procurando.

“Nossa, seria incrível! Principalmente se nós dois estivéssemos juntos no clipe, só para deixar claro que temos uma relação normal de amizade”.

Digitei cruzando os dedos e torcendo para que ele mordesse a isca que eu jogara. Caso ele se mostrasse a favor da ideia, eu já tinha até a música perfeita para dançarmos.

“Eu topo! É só me chamar para gravar”.

Abri um sorriso de orelha e orelha. Acho que nunca fiquei tão feliz com uma mensagem do Edu quanto naquele momento.

“Você toparia mesmo? Porque queria fazer algo com a música 24 horas por dia da Ludmilla. É perfeita para a Mari, principalmente quando fala ‘tu não tem nada pra fazer e fica nessa agonia, fala de mim, pensa em mim, 24 horas por dia’...”

Falei tudo de uma vez, revelando os meus planos. Afinal, já que era para tombar...

“Caramba! A música se encaixa direitinho. Vai ser um recado direto e reto para ela”.

 “Vou falar com o pessoal sobre a ideia e ver se eles me ajudam a produzir o vídeo. Vamos tombar essas recalcadas”.

Com a cabeça explodindo de ideias e empolgação, abri o grupo do Time B no Whats e contei a novidade. O primeiro a se prontificar a ajudar foi o Miguel. Fernando, Rebeca e Laís aceitaram na sequência. Nem fiquei esperando a resposta do Alê. Eu sabia que ele toparia só para ter o gostinho de ver o primo pagar aquele mico.

“Miguel, você pode vir aqui amanhã logo depois da aula para ensaiarmos a coreografia? Se tudo der certo, até umas 16 horas já teremos todos os passos decorados. Aí é só gravar, editar e se preparar para ver a reação da realeza”.

“Claro, Gabs. Já vou pesquisar na internet como se dança essa música. Vai ficar ótimo!”. Meu ex-partner escreveu.

 “Vou pesquisar referências de cabelo e make. Quero que os dois fiquem maravilhosos nesse vídeo”.  Laís entrou no clima da zuera.

“Levo minha filmadora para ajudar o Alê a captar imagens. Vamos sambar na cara das inimigas, gente! Adoro!”.  Fernando estava tão empolgado quanto eu.

Continuamos trocando ideias sobre os detalhes da produção até tarde da noite. Todo mundo estava muito empolgado com o plano para desbancar a realeza usando o que tínhamos de melhor: criatividade e união.

Quando finalmente fui dormir, sentia o corpo exausto, mas não poderia estar mais feliz e cheia de boas expectativas. Tanto que no dia seguinte pulei da cama assim que o despertador tocou, o que era algo raro de acontecer.

Encontrei o Alê na rua de casa e seguimos juntos para a escola. Como imaginei, o clima no colégio não estava dos melhores para mim. Logo ao chegar já percebi várias pessoas me olhando e soltando risadinhas ou fazendo comentários umas com as outras. Foi inevitável me lembrar da vez anterior, quando cada vez que alguém lançava um olhar de sátira na minha direção eu sentia como se estivessem lentamente cravando uma faca bem afiada no meu coração, várias e várias vezes seguidas. Eu chegava a me encolher tamanha era a dor. Agora, embora não me ferissem mais, as reações tocavam em feridas que eu gostaria de deixar quietas. Mas, respirei fundo e não deixei o pânico tomar conta de mim. Eu tinha um plano e muita gente do meu lado me apoiando e ajudando. Era só segurar a onda que tudo ia dar certo. Mesmo assim, evitei andar sozinha pelos corredores ou ir ao banheiro para não ter que ouvir o que não queria...

Quando o último sinal tocou, eu me sentia um bicho encurralado que precisava fugir a qualquer custo. Não só pelo climão que estava no colégio, mas porque estava difícil aguentar a ansiedade por causa da gravação do clipe. Meu celular não parava de vibrar com mensagens da Laís e do Miguel, sem falar que meus companheiros de classe também estavam na maior expectativa. Quer dizer, menos a Rebeca que não parava de falar que deveríamos prestar atenção na aula porque ela não ia nos ajudar com a matéria depois. Mas, no fundo, a gente sabia que a nossa pequena Hermione não ia nos deixar na mão. Afinal, era por uma boa causa...

- E aí, Gabi? Vai rolar rango na sua casa hoje? - Alê perguntou enquanto caminhávamos todos juntos para a saída do colégio.

- Sim, eu mandei mensagem para a Maria avisando que receberia uns amigos. Ela disse que ia fazer strogonoff - falei abrindo o que eu acreditava ser o primeiro sorriso do dia. Eu sabia que ele adorava aquele prato.

- Hmmm... Aí sim! Na minha casa só rola strogonoff em ocasiões muito especiais. Minha mãe tenta muito me fazer virar vegetariano.

- Ahh, mas sua mãe faz uns pratos vegetarianos maravilhosos! – eu amava comer na casa da dona Melissa só para experimentar as iguarias que ela preparava sem carne.

- Sim, faz. Mas não fala isso para ela! Senão nunca mais vai rolar hambúrguer em casa... – ele disse com a expressão de uma pessoa que teme por algo muito sério.

A resposta do skatista fez todo mundo cair na risada. Não demorou nada para a tensão do colégio ficar para trás. Quando chegamos em casa eu já estava bem mais tranquila. Era como se tivessem tirado um King Kong das minhas costas. Olhei rapidamente para meus companheiros de sala. Eu me sentia tão bem ao lado deles. Me sentia... forte. Era a primeira vez que não tinha a sensação que era uma peça fora do quebra-cabeça. Eu não precisava me encaixar ali porque as coisas simplesmente fluíam, sem necessidade de encaixe.

- Maaaaaaria! Chegamos! – gritei assim que abri a porta jogando a mochila de qualquer jeito em um dos sofás.

- Oi, pessoal! Servi a comida lá na beira da piscina, assim vocês ficam mais à vontade. Espero que gostem! – nossa secretária do lar avisou.

- Casa de gente rica é outro nível, né amores? Daqui a pouco vão aparecer os garçons com o champanhe e os canapés – Nando soltou o seu comentário irônico com o toque de humor que lhe era típico.

- Na verdade, pedi que servissem vinho seco hoje. Imaginei que se encaixaria melhor na situação – entrei no clima da brincadeira arrancando comentários divertidos de todos.

A piscina ficava na parte de trás da minha casa. Para chegar até lá havia duas opções: entrando pela garagem e contornando pelo jardim ou pela cozinha. Usamos a segunda e, após descer alguns degraus, chegamos à área onde havia um grande guarda-sol com suporte de madeira clara e cobertura de tecido branco. Logo abaixo, uma mesa de vidro com detalhes de madeira estava posta com pratos, talheres e copos. Ao lado estava uma mesa no mesmo padrão que a primeira, só que menor, sob as tigelas de arroz, strogonoff, batata palha e salada.


Genteeee, essa é uma ideia de como é a área da piscina da casa da Gabi. Ryca, né? Desculpa aí, dona Gabriela! 

 Demorou menos de 10 minutos para que todos ficassem à vontade. As mochilas foram deixadas sobre as espreguiçadeiras e todos se sentaram para comer e conversar com a Maria que roubou a cena do almoço. Seu strogonoff estava recebendo vários elogios.

Estava quase terminando minha refeição quando a Laís e o Miguel ligaram para avisar que haviam chegado. Logo na sequência foi a vez do Edu aparecer. A forma como me cumprimentou e interagiu com todos demonstrava que ele estava bastante empolgado com a gravação.

- A comida e o papo estão ótimos, mas está na hora de começarmos a trabalhar, né gente? Afinal, vocês não vieram até aqui só para “filar o rango” da casa da Gabi, né? – Alê começou a agitar o pessoal.

A ideia era recriar o clipe original só que com um toque especial: os meninos estariam vestidos de mulher, com exceção do Miguel, que seria o “boy magia” pelo qual eu e a Laís brigaríamos, já que ela representaria a Mari. Começaríamos com o “squad” da Realeza - formado pela Lala, Edu e Alê – tirando selfies na beira da piscina e postando no Instagram com a legenda “Às quartas usamos rosa”. A Laís estaria com uma peruca loira, para enfatizar bem a indireta de quem ela estava representando. Ainda com o celular na mão, um deles entraria no meu Facebook e ficariam fazendo caras e bocas fingindo que estavam falando mal de mim. Nesta parte, na hora da edição seriam acrescentadas frases na tela como “que sem graça!”, “que magrela!”, ou “se acha, coitada!”.

Nessa hora, eu, Rebeca e Nando entraríamos causando no local, ao mesmo tempo que eu dublaria a primeira estrofe da música olhando para a câmera, como se realmente estivesse mandando um recado. Na sequência, Beca e eu pularíamos com tudo na piscina fazendo voar água na Realeza, enquanto o Nando fingia filmar tudo para postar no Face. Claro que elas não iam gostar nada disso e ficariam nos encarando. Para não deixar barato, eu e Beca encostaríamos na borda da piscina e devolveríamos o olhar marcante. Nesse ponto, a música estaria na parte antes do refrão que fala “ô, mandada safadinha, eu já descobri o seu truque, para saber da minha vida, não sai do meu Facebook”.

A tensão só seria quebrada com a entrada do Miguel com um copo de suco na mão. Como ele representava o “boy magia” do momento, eu e a suposta Mari ficaríamos o “secando” com os olhos, enquanto ele chegava, escolhia um lugar na beira da piscina e se sentava para tomar sua bebida.

Para tentar impressioná-lo, meu time sairia da piscina como divas e começaríamos a dançar fazendo uma coreografia – no maior estilo High School Musical. Eu e o Miguel não pararíamos de trocar olhares enquanto eu arrasava no passinho. Vendo o nosso sucesso, primeiro o Edu deixaria a Realeza para se juntar a nós. Depois viria o Alê, deixando a Lala sozinha do outro lado.

Encerraríamos o clipe com uma coreografia bem divertida que teria direito até a quadradinho. No final, teríamos imagens de todo mundo bagunçando, dançando em cima do banco ou pulando na piscina enquanto eu e o “boy magia” ficávamos juntos e a “Mari Fake” pegava suas coisas e ia embora sozinha.

Para a caracterização dos meninos usaríamos algumas perucas que o Miguel pegara na escola da minha mãe e roupas minhas, da Beca e da Laís. Aliás, montar o figurino foi um dos pontos mais engraçados. Foi hilário ver o Edu e o Alê disputando para ver quem usaria uma saia preta com babados na barra. Quem ficou mais à vontade com a situação foi o Fernando que havia escolhido a parte de cima de um biquíni rosa e combinado com um short jeans clarinho. Para fechar, ele colocou uma peruca preta com corte chanel. O resultado ficou incrível! Ele realmente parecia uma garota, principalmente porque se movimentava de forma um pouco mais delicada.

Depois de ensaiar as cenas e, principalmente, os passos de dança algumas vezes, partimos para as gravações. Alê e Nando se revezavam com a câmera e, como ambos eram bem exigentes, repetimos as sequências muitas vezes até conseguir chegar a um bom resultado. A sorte é que todo mundo estava muito empolgado e empenhado para tombar a realeza.

 - Vamos lá, pessoal! Só falta a cena que todos estão dançando juntos e faz o quadradinho. Coloquei a câmera no tripé, assim consigo aparecer também. Todos prontos? – o Alê gritou para chamar a atenção do resto da turma que conversava. Já era final de tarde e o cansaço começava a bater. Além disso, como estávamos no outono, a temperatura estava caindo, o que complicava a missão de parecer feliz e plena usando apenas um biquíni com um short molhados por ter entrado na piscina.

- Eu ouvi quadradinho?

Uma voz que vinha da cozinha fez todo mundo se virar para descobrir quem era.

- Isso aí, dona Beatriz! Está rolando um fluxo na sua casa. Espero que não se importe... – o skatista ironizou.

- Claro que não! Quando o Miguel pegou as perucas hoje depois do almoço fiquei super curiosa para saber o que estavam aprontando. Posso participar do... fluxo?? – ela entrou na brincadeira, provocando o Alê.

- Só se me prometer que ficará em silêncio. Sei que parece bagunça, mas estamos trabalhando duro nessa gravação, dona Bia  – o falso ar profissional do meu amigo pegou minha mãe desprevenida por um momento. Quando sacou que tratava-se de mais uma brincadeira, caiu na risada. Como alguém conseguia ser tão cara de pau?

- Prometo que vou me comportar – minha mãe respondeu levantando uma mão como se estivesse jurando.

- Então vamos lá, galera! Caprichem ao máximo, porque temos uma bailarina profissional no set. Todos em seus lugares! Vou contar até três e aí já sabem, né? Arrasem! – o diretor deu as ordens antes de assumir o seu posto.

A cena valendo ficou bem melhor que o ensaio. O fato dos meninos não fazerem o quadradinho muito bem só deixou tudo melhor. Era muito engraçado vê-los tentando requebrar e parecer sexy vestidos de mulher. Pelo menos uma vez na vida eles saberiam o que passávamos quando queríamos seduzir um deles.

- Uaaau! Ficou ótimo! Quem adaptou essa coreografia? – pelo sorriso no seu rosto, minha mãe realmente tinha aprovado.

- Eu e o Miguel. Ele é muito bom nisso de criar passos – falei.

- Ah, mas é você que consegue deixar tudo com uma sequência mais fluida. Se dependesse de mim ficaria parecendo uma bagunça... – Miguel respondeu de onde estava.

- A verdade é que fazemos uma boa dupla – sorri para o meu parceiro de dança recebendo o mesmo gesto de volta.

- Sim, sempre formaram – dona Beatriz concordou com um toque de saudade na voz. Provavelmente estava pensando no espetáculo – Vocês deveriam explorar isso. Tem várias pessoas no Youtube ensinando como dançar essas músicas de hoje em dia que vocês juram que são boas – disse, com aquele típico ar de gente adulta que não entende os jovens – Como já gostam de gravar vídeos, aposto que ficaria ótimo.

- Que ideia massa! Eu topo! – Miguel respondeu de pronto.

- Podemos mudar o nome do canal. Ao invés de ser só meu, pode ser de todos nós e cada um posta um conteúdo diferente – Alê sugeriu, os olhos brilhando de empolgação com a novidade.

- Aí eu também vou querer fazer vídeo de maquiagem – foi a vez da Laís se pronunciar.

- Vejo que plantei uma semente aqui – minha mãe parecia feliz em estar ali com a gente. Era bom vê-la sorrindo e com a expressão tão leve – Acho que deveriam sentar e combinar os detalhes melhor depois. Agora, me expliquem uma coisa: o clipe vai acabar assim? Ouvi algo sobre essa ser a última cena...

- Ahh, não... Já fizemos as cenas finais, com a Gabi e o Miguel em um climinha de romance enquanto a Laís sai de fininho. Essa da coreografia vem antes do “gran finale”, mas não precisamos gravar tudo em sequência. Dá para encaixar depois na edição – nosso diretor se apressou em explicar. Quando ele falava de modo sério e concentrado parecia até outra pessoa.

- Hmmm... Então no final temos um casal? – a notícia pareceu deixar minha mãe ainda mais interessada. Será que ela achava que eu e Miguel estávamos juntos de verdade?

- Gabi deu sorte de pegar esse boy magia aqui de jeito – Nando entrou na conversa dando um abraço bem forte no Miguel que estava ao seu lado – Queria eu ter essa sorte, viu! – emendou. Embora o tom do Nando indicasse que tudo não passava de uma brincadeira, a reação do Miguel surpreendeu a todos. Ele se soltou rapidamente dos braços do outro garoto, afastando-se como se estivesse com medo de que o nosso amigo tentasse segurá-lo novamente.

Foi como se alguém tivesse apertado o botão pause. Todos ficaram imóveis e em silêncio sem saber como reagir à cena. A situação era tão inusitada que todos pareciam ainda estar processando a informação, como um computador com o sistema muito lento que demora para abrir um programa. Eu conseguia quase ver a mente do pessoal tentando fazer o download da informação: todo mundo brincava que Miguel e Fernando poderiam ser um casal, mas aquela situação significava que a possibilidade era real? E se fosse, significava que o Miguel estava dispensando o Fernando na frente de todo mundo?
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Notas finais: esse final praticamente colocou uma “tela azul” na mente de toda a galera. Que tiros foram esses, hein? E essa é só a primeira parte. Na segunda tem Mari X Gabi. Prepara que o “tiroteio” vai ficar ainda mais pesado.

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