sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Capítulo 19 - Operação Fica Rafa - Parte I

Notas iniciais: Junte Uma Trupe Maluca, com um Operação Especial, mais uma Arma Secreta, uma Granfina e um Caipira mais que apaixonados e uma gata garota com talento de sobra para princesa queo resultado é o cap de hoje!

Preparem os corações, porque essa operação promete fortes emoções!

Aproveitem!
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Ponto de vista da Anita


Algumas semanas depois...


Passei a manhã toda cuidando dos detalhes do quarto da Nicole. Há alguns dias a decoradora tinha, finalmente, acabado as obras por lá. Apesar da "trabalheira", o cômodo ficou exatamente como eu havia planejado: os móveis em estilo colonial com tons claros, as gravuras coloridas, as referências lúdicas... Agora os móveis já estavam todos no seu devido lugar e só faltava instalar as peças de decorativas, além de guardar no closet as 59.763 peças de roupa que eu já havia comprado para a Nicole. O Luan vivia dizendo que era um exagero a nossa filha ser tão pequena e já ter um quarto apenas para guardar as suas roupas e sapatos, mas eu não resisti. Além do mais, aquilo poderia ser considerado como um investimento. Afinal de contas, a minha Nick ainda nem tinha nascido e já havia recebido tantos presentes que logo, logo, ela precisaria de muito mais que um closet para guardar todos os seus pertences. E se levássemos em consideração que ela teria uma tia como a Bruna e uma madrinha como a Rafa, com certeza um mero closet seria pouco. Aquelas duas iriam encher a Nick de roupas e acessórios cheios de estilo, eu já conseguia até imaginar...


E falando em Rafaela... Parei a organização do armário da minha filha por um instante e me sentei em uma das confortáveis poltronas que haviam por ali. Eu passara as últimas semanas tentando bolar o plano ideal para fazer a minha empresária permanecer no Brasil. Eu e a Malú passamos horas e viramos noites conversando para tentar encontrar a ocasião certa para “atacarmos” com a nossa “arma secreta”. Já estávamos quase perdendo as esperanças quando a sorte bateu à nossa porta. Literalmente.


Era uma das tardes de frio intenso em Londrina, uma daquelas que pedia um chá quente ao pé da lareira. Eu estava ao telefone dispensando todas as propostas de trabalho que recebera nos últimos tempos. Eu havia decidido que me dedicaria exclusivamente à minha filha naquele momento, e para tanto, era preciso deixar a minha carreira um pouco de lado. Era estranho ficar à toa, já que passei praticamente a minha vida inteira atuando, mas eu tinha feito a minha escolha. O lado bom era que o Luan ganhava o suficiente para sustentar sozinho toda a nossa família, então eu não precisaria me preocupar com esse "pequeno" detalhe... Dali em diante a minha profissão era a de ser mãe, trabalho esse que me prometia fortes emoções.


A Malú estava ao meu lado atualizando o blog que criara para postar as novidades sobre o seu projeto de fotografia, quando a campainha tocou.


A Dora correu para atender com a Divinha latindo atrás dela. Quando abriu, uma moça muito simpática, extremamente sorridente, baixinha, gordinha, dona de uma empolgação sem tamanho e de um sorriso contagiante disse estar procurando pela Maria Luiza Duarte. A mulher mais parecia uma chefe de excursão pronta para sair em mais uma expedição. Senti preguiça só de olhar para ela. Aquele lance de “energia, energia, energia” nunca foi o meu forte...


Para resumir, a Natália, como a chefe de excursão se apresentou, disse que estava ali representando um grande investidor que descobrira o projeto da Malú pela internet e que estava "afim" de bancar uma exposição onde ela pudesse mostrar suas fotos ao público.


Claro que a fotógrafa topou na mesma hora. Porém, o “Grande Investidor” deu apenas duas semanas de prazo para que a Malú e o Will selecionassem as melhores imagens e as colocassem em telas para a exposição. Além disso, ainda havia os textos que o amigo da Maria estava escrevendo e que também precisariam ser devidamente expostos junto com as fotos. O “G.I.” já havia reservado o Salão Nobre do nosso condomínio, contratado o buffet e garantido que os melhores fotógrafos e especialistas da área estariam presentes no evento. E, se tudo desse certo, ele assumiria os gastos da publicação do livro-fotográfico. Tudo que a Maria Luiza precisava fazer era montar uma exposição em 14 dias. Só isso...


Nós não tínhamos ideia de quem era esse tal “Grande Investidor”, mas de duas coisas tínhamos certeza: Ele era muito fã da Malú por topar financiar o projeto dela; e ele não tinha a menor ideia de quanto trabalho dava montar uma exposição e do tempo que isso demandava...


Desde aquele dia a Malú e o Will começaram uma verdadeira corrida contra o tempo, virando noites e noites trabalhando na seleção das imagens e textos e cuidando de todos os detalhes. A Natália aparecia todas as tardes para checar o andamento dos trabalhos e passar as instruções do “G.I.”. A sala da Toca virou o “QG” da missão e estava até “as tampas” de fotos ampliadas penduradas pelas paredes, papeis com lembretes grudados nos móveis e toda sorte de equipamentos fotográficos espalhados pra todo lado. Todo mundo foi convocado para ajudar: Rafa, Dora, eu, Luan... Até o André, mesmo a contragosto, deu alguns palpites que ajudaram muito. O diretor ainda fazia questão de “bater na tecla” que o tema do ensaio fotográfico da Malú era “clichê”, o que deixava a Malú soltando “fogo pelas ventas”, e claro, fazia os dois brigarem como cão e gato. A situação estava tão séria na Toca que até a Divinha e o Faísca fizeram as pazes para colaborar com o andamento da exposição.


Paralelamente a tudo isso, eu ainda arrumava tempo para arquitetar a “Operação Fica Rafa”. Eu sabia que o maior sonho da minha empresária era ser uma princesa, nem que fosse por apenas uma noite. E era exatamente isso que eu iria proporcionar a ela. Queria ver a loira resistir...


Finalmente o grande dia havia chegado e a minha casa estava fervendo com os últimos preparativos da exposição. As únicas telas que restaram por ali já estavam sendo carregadas para o Salão Nobre do Condomínio, por isso eu imaginava que a Malú teria alguns minutos livres para acertarmos os últimos detalhes do nosso plano.


Deixei o quarto da Nicole um pouco de lado e comecei a descer a escada lentamente rumo a sala apoiando as mãos nas costas.


- Lá vem a grávida! A barriga tá pesando, Any? – A fotografa brincou enquanto embrulhava, com a ajuda do Will, a última imagem com plástico bolha.


- Pior que tá! Nicole deve tá ficando sem espaço aqui dentro – Brinquei.


- E então? Veio nos ajudar, Anita? – O Will perguntou como se quisesse dizer “Vai botar a mão na massa ou vai só ficar aí, só observando?”


Lancei o meu olhar de “Não mexe comigo” para ele e cruzei o cômodo ignorando-o. Quem era aquele "jornalistazinho" metido a besta para falar comigo daquele jeito? Aff! A fama já estava lhe subindo a cabeça...

 – Malú, venha até o meu escritório – Chamei, mantendo a minha pose de “má” para impor respeito.
 
A fotografa me seguiu, e nos sentamos juntas à mesa de reunião, uma de frente para a outra.

- Bom, a minha parte no plano está caminhando perfeitamente bem. A exposição vai rolar, a Rafa garantiu presença e eu já avisei que reservei um carro para buscá-la. Bom... Na verdade, disse que o carro levaria todos nós até o salão e não somente ela, mas assim, pelo menos, ela não vai desconfiar de nada... E a sua parte, como anda? - Ela perguntou cruzando as mãos sobre a mesa, parecendo um daqueles chefes da máfia das séries americanas.
 
- Tudo certo também! Já aluguei a limusine, o vestido, os sapatos... Será uma noite especial! Memorável, eu diria – Garanti.

- E a nossa arma secreta? – Ela quis saber ainda com o tom sério e "mafioso".

- Bom, deixa eu ver... – Peguei meu celular para checar se havia alguma mensagem no Whats App – Rá! Melhor impossível! Escuta só: “Any, já estou a caminho de Londrina. O smoking e os sapatos que você me mandou ficaram perfeitos. Olha aí e me fala se aprova o resultado” – Li a mensagem que recebi antes de mostrar a foto que o Pato enviara junto com o texto. Na imagem ele estava vestido como um verdadeiro príncipe: paletó e colete preto, camisa branca, gravata borboleta, cabelos penteados para trás e um sorriso cativante no rosto.

- Está mais do que aprovado! – A Malú disse, “babando” ao ver a imagem.

- É, não é a toa que ele é a minha “arma secreta” – Falei, me gabando. Dessa vez eu estava fazendo tudo “direitinho”, sem dar nenhuma chance para o azar. Não tinha como o meu plano fracassar...

- Toda vez que você chama o Alexandre de arma secreta eu me lembro daquele comercial de produto de limpeza, sabe? Que o narrador fala “Confie no poder do Pato” – A Maria Luiza lembrou fazendo as duas caírem na risada.

- Boa, boa! Esse é aquele comercial que do nada uma repórter bate na porta da nossa casa e pergunta o que usamos para limpar o banheiro, não é? Imagina se isso acontece aqui... Vão nos perguntar o que estamos usando para manter a Rafa no Brasil. Aí a gente grita: O super Pato! Quac, Quac! – Me empolguei com a situação, deixando a minha imaginação ir muito além do que devia.


- Quac, Quac! – Ela repetiu o nosso “grito de guerra” às gargalhadas.


- Mas, vamos voltar ao que interessa – Tentei focar no plano, após recuperar o fôlego que havia perdido por causa da crise de riso  – O Murilo não vai, né?


- Então, é difícil afirmar porque foi o “Grande Investidor” quem fez boa parte da lista de convidados, e a Natália não me deixou ver os nomes. De toda a forma, ela me perguntou quem eu gostaria de incluir na lista. Coloquei o nome de todos os nossos amigos lá, menos o do “Bebê” – Ela me explicou.


- Ótimo! Bom, sei que você estará ocupada recebendo os convidados, então vou tentar monitorar o jantar dos dois da melhor forma que conseguir. Estou pensando até em subornar o garçom para ver se ele me manda uns vídeos do encontro - Ponderei - Não esquece de pedir ao André para dar uma força na operação também, tá?


- Então... O Dé não vai hoje. Ele está em Porto Alegre, em uma reunião com uma companhia de cinema de lá e não vai conseguir voltar a tempo... – A Malú me contou com olhar triste – Acho que ele fez de propósito. O André nunca curtiu muito a ideia desse meu projeto...


Fiquei sem reação. Eu sabia o quanto aquela exposição era importante para a Maria Luiza. E por mais que ela e o André não estivessem mais juntos, eu tinha certeza que ela gostaria de contar com a presença dele. A opinião do diretor era muito relevante para a Malú. Aquela seria uma desfeita muito difícil de ser perdoada... O diretor tinha pisado feio na bola dessa vez!


Enquanto eu procurava palavras para tentar consolá-la, lá fora alguém começou a tocar a buzina de um carro sem parar, fazendo o maior “furdunço” na  porta da minha casa.


- Mas que diabos é isso? Virou bagunça agora? Isso aqui é um condomínio de família! Pode isso, não! Cadê os seguranças? – Saí resmungando do escritório e corri para a frente da casa.


Eu já estava pronta para “soltar os cachorros” em quem quer que fosse que estive fazendo aquela algazarra toda, mas assim que passei pela porta, parei, congelada no lugar, completamente sem reação.


- Luan? – Foi só o que consegui dizer ao ver o meu marido parado ao lado de um carro tipo SUV branco. O veículo era lindo, exatamente do tipo que eu gostaria de ter (se soubesse dirigir, é claro).


- E aí Ní, o que achou do “Granfina Móvel”? Tá aprovado? – Ele me perguntou com um sorriso de orelha a orelha no rosto. Tava na cara que ele estava aprontando...


- “Granfina Móvel”? Que história é essa, Lú? – Perguntei, mesmo já desconfiando da resposta.


- Eu comprei pra você, ué! Tá na hora de aprender a dirigir e ter um carro não acha, Ní? Daqui a pouco a Nica nasce, você vai precisar levá-la para os lugares e vai fazer como? Por isso eu fui lá na agência e peguei um carro pra você. O moço que me vendeu falou que era o modelo mais top que eles tinham! – Ele falou, dando um tapinha no capô do carro, todo bobo com a nova aquisição.


- Caraca, é uma Sportage! Nossa, que luxo! – A Malú ficou de boca aberta quando viu o meu presente.


Cheguei mais perto para conferir melhor. Enquanto eu olhava, o Luan ia me contando tudo o que carro tinha parecendo que tinha decorado o discurso do vendedor – Direção hidráulica, vidros elétricos, GPS, câmbio automático, bancos de couro... – Claro que eu não prestei atenção nem na metade do que ele falou, mas mesmo assim deu para sacar que o modelo era bem completo e de última geração.


- Depois que a Nica nascer é só você tirar a habilitação e pronto! Já pode sair por aí pilotando a sua “caranga” – Meu marido disse chegando perto de mim, me puxando para junto dele para um abraço.


- É Nick, Luan! Nick! Eu já falei! – Chamei a sua atenção.


- Mas lá no Esquenta você falou Nica – Desde a gravação do programa ele fazia questão de voltar aquele assunto, só para implicar comigo.


- Aquele foi um momento de emoção, eu me perdi com as palavras. Mas é Nick! Esse lance de Nica não está com nada! – Falei de um jeito decidido, querendo encerrar aquela conversa de uma vez por todas.


- Tá certo, tá certo... Não vou brigar com você por causa disso! Bora estrear a sua “máquina” nova? Tenho uma outra surpresa para você – Meu marido voltou a sorrir daquele jeito atrevido e eu não resisti. Eu aceitaria ir até o fim do mundo com ele depois daquele sorriso.


- Só vou pegar a minha bolsa! Já volto! – Disparei para dentro da casa e poucos minutos depois já estava de volta com tudo o que eu precisava.


- Não se esqueça do nosso plano. Me mantenha informada! – Sussurrei ao passar pela Malú. O Will, a Rafa com a Vick e a Dora também tinham saído para ver o meu carro novo, por isso precisávamos manter a descrição. Ela assentiu com a cabeça fazendo um sinal de positivo com a mão – Volto no horário combinado. Mantenha a situação sobre controle até lá! – Passei as instruções finais antes de entrar no carro e fechar a porta.


O Luan deu partida e pegamos o caminho rumo à saída do condomínio. Agora que a situação com os fãs estava normalizada, eu não tinha mais medo de sair de casa. Os boatos da separação já haviam ficado para trás e as Luanitas haviam feito as pazes com a gente. Estávamos "in love" com os nossos fãs, o que me deixava muito feliz!


- Posso saber para onde estamos indo? – Perguntei encostando a cabeça no ombro do Luan enquanto ele dirigia, os olhos fixos na estrada. Fazia um dia típico de inverno, com o céu fechado e as árvores secas,deixando a paisagem com um tom triste, mas ainda sim belo.


- Já não falei que é surpresa? Sossega aí, muié! Quando chegar a hora você vai saber – Ele fez mistério.


Eu sabia que não adiantaria insistir. Quando o Lú cismava com alguma coisa ele ia até o fim. E nada o deixava mais feliz do que me irritar ou me deixar curiosa. Portanto, resolvi ligar o rádio e procurar alguma música boa em uma das estações para tentar me distrair. Aquela já era uma “guerra” perdida para mim...


***

Andamos por cerca de uma hora e meia. Já fazia um tempo que havíamos deixado o asfalto e agora seguíamos por uma estrada de terra, cercados por pastos e plantações.


- Você está pensando em me sequestrar? – Fiz graça, fingindo estar com medo.


- Sabe que essa não seria uma má ideia, né?  - Ele me encarou de um jeito muito provocativo, mordendo de leve os lábios – Mas, não. Não por enquanto... Hoje eu só quero que você conheça o nosso mundo – O Lú enfatizou bem as últimas palavras, aumentando ainda mais o suspense.


Fiquei o encarando sem entender nada, mas é claro que ele também não me explicou o que estava querendo dizer, o que só fez a minha curiosidade aumentar ainda mais.


Uns cinco minutos depois, o Lú parou diante de uma porteira de madeira, decorada com grandes aros no centro. Ele saltou do carro, destrancou o portão e depois voltou a assumir o volante, entrando na propriedade. Subimos por uma pequena ladeira ladeada por árvores até chegarmos a uma parte plana,e pararmos em frente a uma casa de campo.


Nesse instante as coisas começaram a se encaixar. Eu sabia que ele sempre sonhou em ter uma fazenda. E, mais cedo, quando ele disse que queria me mostrar “O Nosso Mundo”... Será que era isso que ele estava tentando me dizer? Que aquele lugar agora era nosso?


- Luan Rafael, não me diga que... – Não consegui completar a frase. De onde estava eu conseguia ver um pedaço da propriedade. A casa era gigantesca. Deveria ter, no mínimo, uns cinco quartos, além da piscina, churrasqueira e da varanda enorme cercada por jardins. Dali para ver as pastagens que começavam na parte plana e seguiam em uma leve descida até acabar em um grande rio. Mais para baixo dava para ver grandes galpões, que eu nem imaginava para quê serviam.


Do lado de cima, uma escada de pedra levava até o topo de uma pequena colina onde havia uma construção rústica com uma cruz em cima. Tudo indicava que era uma capela.


O Luan apenas sorria como um garoto que tinha acabado de ganhar uma bola nova - Fechei negócio na semana passada. O Rober veio aqui várias vezes olhar tudo de perto e me ajudou a comprar. “Tava” só acertando uns “trem” aí, mas agora tá tudo beleza. Essa agora é a nossa fazenda. O que achou do nome que eu escolhi?


- “Nosso Mundo”? É... perfeito! – Não havia outra palavra que pudesse usar. Eu estava completamente deslumbrada com o lugar.


- Vem, “Paxão”! Quero ver como está tudo! Eu só vim aqui uma vez antes de comprar. E como mandei fazer umas modificações para que ficasse do seu gosto, quero conferir o resultado junto com você – Ele me chamou, descendo do carro e dando a volta para me encontrar do outro lado.


De mãos dadas, entramos na casa, andamos pela área externa, passamos pelo jardim, ele me apontou onde ficavam a garagem dos carros, os currais do gado, e me explicou que o “seu” Amarildo agora era o mais novo empresário do ramo agropecuário e que iria tocar os negócios da fazenda.


- E agora vem! Quero te mostrar a melhor parte! – Ele me puxou até a escada de pedra. Era uma subida longa, com uns trinta degraus de pedra que seguiam em forma de “L” até o topo do monte, mas com a ajuda do meu marido consegui chegar ao fim da escadaria.


Lá em cima, como eu havia imaginado, havia uma pequena capela pintada de branco. O lugar parecia ser antigo, mas era muito charmoso, com o teto baixo e pedras fincadas no chão indicando o caminho da entrada. Nas janelas haviam grandes vitrais por onde a luz do sol passava, iluminando o interior da capela e formando um mosaico de diferentes cores no chão. Passamos pelas grossas portas de madeira e entramos. Na parte de dentro a construção era bem simples. As paredes eram decoradas com quadros religiosos simples e o altar era feito de mármore. Ali, claro, estava uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Havia bancos de madeira dos dois lados, além de um tapete vermelho que percorria toda a extensão do corredor, desde a porta até o altar. No teto, lustres feitos de madeira davam um toque “rústico” ao ambiente.


- E aí, você gostou? – Meu marido quis saber, a expectativa estampada em seu rosto.


- Se eu gostei? Caramba Luan, e tem como não gostar desse paraíso? É tudo tão perfeito! Já estou imaginando a gente aqui, reunindo a família, passando as férias, a Nicole e a Vick correndo por aí, a Divinha nadando no rio... – Meus olhos se encheram ao imaginar as cenas.


- Eu também fiquei imaginando tudo isso quando vim aqui pela primeira vez. É bem como você disse... É  o paraíso, o nosso mundo! Tem um rio para eu pescar, espaço para as crianças brincar, uma casa para receber o pessoal, tocar umas “moda”, fazer churrasco, tomar umas “cachaça”... É tudo o que eu sempre quis! – Ele me abraçou por trás, apoiando a cabeça no meu ombro, os dois parados de frente para o altar, Nossa Senhora como testemunha da nossa felicidade.


- E eu estou muito feliz por poder compartilhar esse sonho com você. Tenho certeza que a gente vai ser muito feliz aqui – Segurei a sua mão junto da minha, querendo que aquele abraço durasse para sempre.


- Se você estiver aqui, tudo já vai estar mais do que perfeito... – Ele me virou para me dar um longo beijo na boca, sem pressa, aproveitando aquele momento de paz tão absoluta.


- Sabe do que eu mais gostei daqui? – Ele perguntou, após encerrar o beijo com selinhos rápidos – Da capela! Fiquei imaginando você vestida de noiva, entrando por aquela porta e eu paradinho ali no altar, te esperando...


- Sério? Mas Luan, nós já somos casados! Esqueceu? – Mostrei a minha aliança para ele, tentando refrescar a sua memória.


- Eu sei, eu sei... Foi só uma coisa que eu imaginei na hora – Ele se justificou, sem graça – É que eu sempre quis casar na igreja, “cê” sabe...


- Bom, a gente pode dar um jeito nisso agora mesmo! Vai lá para o altar – Falei, me soltando dele e correndo para fora.


- Você tá pronto? – Gritei parada junto à porta.


- Estou! Nada e fugir, hein “Paxão”! Se fugir eu te caço até no fim do mundo – Ele me respondeu lá de dentro, rindo.


Fui até o jardim que ladeava a capela e colhi uma flor que crescia por ali. Depois tornei a entrar na pequena igreja, o Luan improvisando a marcha nupcial.


-“TanTanTanTan, TanTanTanTan...” – Ele ia “cantando” enquanto eu percorria, sem pressa, o caminho até o altar.


Quando cheguei ao seu lado, respirei fundo e repeti os votos que fiz a ele no dia do nosso casamento.


– Eu, Anita Tunice, aceito Luan Rafael como meu legítimo esposo e agora oficialmente-marido, e prometo amá-lo acima de qualquer coisa, não importando em quantas confusões eu possa me meter ou se outras maldições vão aparecer no nosso caminho. Eu prometo cuidar do meu Caipira, estar ao seu lado quando ele mais precisar, ser a inspiração para as canções mais belas que ele escrever, a mão que vai ajudá-lo a se levantar quando cair, o ombro onde ele vai poder chorar, e as suas asas para que ele possa continuar voando muito alto... E acima de tudo, eu prometo ser a sua metade, aquela que o completa e a razão para ele sempre continuar sorrindo... – Falei, segurando a sua mão entre as minhas, os meus olhos colados nos seus.


- Eu, Luan Rafael, aceito Anita Tunice como minha legítima esposa, e prometo fazer dos nossos dias juntos os melhores das nossas vidas. Eu prometo segurar a sua mão quando ela sentir medo, entendê-la toda vez que se sentir confusa, ouvir sempre o lado dela na história e nunca me esquecer que apesar de se fazer de durona, na verdade ela é apenas uma menininha “mimada” que precisa de alguém para cuidar dela sempre... Também juro que vou relevar toda a falta de sorte que ela tem e não ficar “brabo” com as confusões que só essa Granfina sabe aprontar. E prometo também que mesmo que a minha vida esteja toda “certinha” e “arrumadinha”, sempre vou torcer pra ela chegar e bagunçar tudo de novo. Além disso, eu também serei a metade do que ali restou, aquele que a completa, e que não precisa de razões nem motivos para amá-la – Ele também recitou os seus votos, de um jeito tranquilo e com a voz confiante, como se estivesse reafirmando a sua promessa palavra por palavra.


 – Eu só me esqueci de incluir uma coisa nesses votos... – Ele me puxou para bem perto de si, passou os braços ao redor do meu corpo e sussurrou no meu ouvido – Que o meu amor por você é para sempre!


- Sempre! – Repeti antes de beijá-lo mais uma vez nos lábios, o coração disparado dentro do peito. Com os olhos fechados, fiz uma promessa que eu torcia para que todos os anjos dissessem amém: Que o nosso amor fosse eterno, e a nossa felicidade infinita.


***

O caminho de volta foi tranquilo. O Luan cantava baixinho para me fazer dormir, e eu acabei realmente pegando no sono, mesmo precisando focar na “Operação Fica Rafa”.


Quando cheguei em casa, a Divinha me esperava sentada ao pé da porta junto da Malú, que estava com bobes no cabelo, usando um roupão e batendo o pé no chão de maneira aflita. Tive que me segurar para não rir. Ela estava parecendo a Dona Florinda!


- Finalmente! Estou te ligando sem parar! Onde você se meteu? – A fotografa disparou a falar.


- Foi mal, esqueci o celular dentro da bolsa. Deve ter acabado a bateria – Expliquei – Mas e aí? Como está o nosso plano?


- O alvo está em casa. Ela está no quarto, se arrumando e o nosso tempo está acabando! – Ela disse, beirando o desespero.


- Ní do céu, e agora? Cadê o Marreco? Ele já não deveria estar aqui? – O Lú, que estava a par de tudo, perguntou com a voz bastante preocupada.


- Ai caramba, eu não sei! Será que aconteceu alguma coisa? Pior que se o meu celular estiver realmente descarregado, ele pode ter tentado me ligar e não ter conseguido... – Mexi na minha bolsa a procura do meu telefone, que de fato, estava desligado.


- Vou pegar o carregador e ligar para ele. Não deixem a Rafa fugir! – Falei, me dirigindo para a escada.


Não cheguei nem ao segundo degrau quando ouvi o som de uma buzina vindo de fora da casa.


- Pera, “vô” ver quem é... – O Lú se prontificou, correndo até a entrada e abrindo a porta – Rapáis, mas o Marreco tá chique “dimais”! Todo engomadinho! Tá mais pra pinguim do que pra Pato! E tá num “carrão” também, estilo daqueles que a gente vê em filmes gringos – Meu marido soltou a "pérola", anunciando que a nossa “arma secreta” finalmente havia chegado.


- Boa noite, pessoal! – O jogador cumprimentou a todos, entrando na casa carregando uma caixa enorme nas mãos. Ele estava vestido como na foto que me enviara naquele dia mais cedo. A diferença é que agora dava para sentir o seu perfume, uma fragrância suave, mas com um aroma marcante – Any, tive um problema no hotel, por isso acabei me atrasando. Tentei te ligar, mas...


- Eu sei, eu sei...Sai com o Luan e o meu celular ficou sem bateria. Foi mal! Mas vamos ao que interessa: Você está pronto? – Intimei o Alexandre. Ele era a peça-chave naquela operação. Se ele vacilasse, todo o meu investimento seria perdido.


- Pronto eu estou! Mas você sabe, né? Sua amiga é linha dura! Ela não quer nem saber de mim – Ele comentou, nervoso – Além disso, eu tenho pouco tempo. Preciso estar amanhã de manhã em São Paulo por causa dos treino. E tenho que estar descansando, se não o professor briga comigo.


- É... É bom mesmo começar a se dedicar mais aos treinos, porque “ocê” não anda jogando essa bola toda, né cara? Aproveita e treina a bater pênalti também... – O Lú cobrou, deixando o seu lado jogador falar mais alto.


- LUAN! – Chamei atenção do meu marido, sem acreditar no que ele tinha acabado de falar. Poxa, aquilo não era hora de colocar a moral da nossa “arma secreta” para baixo.


- Alê, relaxa... Tenho certeza que o que você precisa para ajeitar de vez a sua vida profissional é uma mulher de verdade ao seu lado. E essa mulher é a Rafa! Então chega de perder tempo! Suba essas escadas, bata na porta do quarto dela e a chame para jantar! – Assumi a postura de uma verdadeira técnica de futebol – “Vamô lá”, moleque! Essa é a hora! Vamos virar esse jogo!


- Isso aí! Quac, Quac! – A Malú soltou o nosso grito de guerra, empolgada.


- Espero que você esteja certa, Anita. Porque eu estou muito apaixonado pela Rafaela – Ele confessou baixinho, antes de começar a subir as escadas comigo, a Malú, o Luan e a Divinha seguindo os seus passos.


Enquanto a Maria Luiza indicava a direção, repassei o meu plano mentalmente. A ideia era simples: A minha empresária sempre sonhara em viver um dia de princesa. Então eu simplesmente resolvi proporcionar isso a ela: Arranjei um príncipe, que vinha em uma carruagem (nesse caso uma limusine, porque as carruagens estavam em falta na cidade) e que a levaria para jantar no melhor restaurante de Londrina. Para completar, dentro da caixa que o Pato carregava nas mãos estava um vestido lindo-de-morrer, um par de sandálias-poderosas, e acessórios-bapho que combinavam com as peças.


Não tinha como dar errado. A Rafa ia ficar tão apaixonada que abandonaria aquela ideia maluca de se mudar para Nova York na mesma hora. Fala sério, eu era mesmo uma gênia!


Paramos todos em frente à porta da minha empresária e eu bati.


Quando abriu, ela nos encarou com os olhos arregalados, e parecia que estava prestes a ter um “piripaque”. Antes que ela desmaiasse, tratei logo de explicar a situação, empurrando o Pato para deixar os dois frente a frente - Entrega especial de um príncipe para você, Rafa! Faça bom proveito!

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Notas finais: Caraca, será que a Rafa vai se render ao "Poder do Pato"?
E quem é, afinal, esse "Grande Investidor"?
E a exposição, vai dar certo? Será que o André não vai mesmo dar às caras no evento?
E a Anita e o Luan casando de novo? A fazenda, "O Nosso Mundo", o carro Foi só eu que fiquei suspirando sem parar qui? É muito amor, né? Luanita tá demais!

Ai gente, essa reta final promete muito! Portanto, façam as suas apostas! O que vocês acham que vai rolar daqui pra frente, hein?

Beijão, a gente se vê no próximo capítulo!

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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Capítulo 18 - "Exxxquenta"!

Notas iniciais: Eu não sei cantar muito bem a música do programa, mas é mais ou menos assim que tá o cap hoje:

"Bateria arrebenta, todo mundo comenta
Com a Granfina e o Caipira a nossa quinta... Esquentaaaa!"

Bora ler quinze páginas caprichadas?
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- Eita muié, não vai parar de comer não? Já disse, desse jeito você vai ficar parecendo uma bolinha – O Luan me provocou me empurrando de leve com o seu ombro.


Eu já estava na metade da panela, comendo sem parar, parecendo uma maníaca por doce de leite com kiwi. Claro que já estava me sentindo mais do que satisfeita, porém continuei me deliciando com o meu “prato especial” mesmo assim. Afinal, foi muito difícil conseguir alguém para fazer o doce e eu passei por muitos “desafios” para poder comê-lo. Era justo que eu “detonasse” a panela inteira sozinha.


- Qual é, Paixão? Eu preciso comer. Senão a nossa filha vai nascer com cara de doce de leite com kiwi – Argumentei entre uma colherada e outra.


- E você não vai deixar nem um pouquinho pra mim?


- Tira o olho do meu doce, Luan! – Falei, puxando a panela mais para perto de mim na bancada. Na hora que me mexi na cadeira, percebi que algo estava errado. Eu já estava sentindo um pequeno desconforto desde que rolei no chão com a bruxa e o Luan, mas quando percebi algo quente entre as minhas pernas não precisei de muito para juntar as coisas. O tombo tinha, de algum jeito, afetado a Nicole.


- Luan... – Chamei baixinho tentando não deixar o desespero tomar conta de mim.


- Tá bom, Ní... Não precisa ficar fazendo essa cara de choro, eu deixo você ficar com o doce inteiro! – Ele ergueu as mãos, se dando por vencido, mas fazendo “biquinho” para mim.


- Não, não é nisso... – A primeira lágrima de desespero rolou pelo meu rosto.


-Então o que é? Outro desejo? – Ele perguntou com receio, na certa lembrando a “trabalheira” que a minha "vontade especial" tinha causado.


- Eu preciso ir para o médico. Agora – Consegui pedir, me esforçando muito para controlar a minha voz. Eu ainda continuava sentindo uma dor nas costas que agora se estendia até a minha barriga.


 - Minha Nossa Senhora Anita, que foi? O doce fez mal? – Ele ficou de pé com um pulo e em um instante estava ao meu lado – Eu bem desconfiei que aquela história de “bonanza” não era boa coisa.


- É “abonança”, Luan – Mesmo com a dor eu ainda consegui rir da confusão do meu marido – Ai, ai! Droga, tá doendo demais! – O esforço fez com que os meus sintomas piorassem, e eu me encolhi toda na minha cadeira. Foi aí que ele chegou ainda mais perto e viu que tinha uma mancha de sangue no grosso casaco de pele que eu estava usando por causa do nosso “disfarce”. Na mesma hora ele arregalou os olhos e ficou tão pálido que pensei que fosse desmaiar.


- ANITA DO CÉU, PELO AMOR DE DEUS! VAMOS PRO MÉDICO AGORA! – Ele gritou, saindo correndo para chamar o resto do pessoal.


- RAFAAAAAA! ANDRÉEEE! MALÚÚÚÚÚUU! DESCE AQUI AGORA! É URGENTE, CASO DE VIDA OU MORTE – Ouvi ele berrar antes de voltar para junto de mim.


- Ai meu Deus, foi tudo culpa minha! Eu nunca deveria ter pulado em cima da “veia doida”! Eu deveria ter previsto que você ia se machucar! Se acontecer alguma coisa com vocês duas... Não quero nem pensar nisso! Me perdoa, por favor! Me perdoa! – Ele segurou a minha mão e falava de um jeito tão agoniado que por um momento até me esqueci do meu sangramento e me concentrei só no que ele estava sentindo. Seus olhos estavam cheios de dor e culpa. Eu queria dizer que ele não precisava se desculpar, mas não consegui. O desespero dele tomou conta de mim um jeito que quando percebi estava aos soluços, agarrada ao meu marido, rezando baixinho para que nada acontecesse com a minha filha.


- MAS SERÁ POSSÍVEL QUE EU NÃO VOU CONSEGUIR TER O MEU SONO DE BELE... – O André entrou aos berros na cozinha, parando no meio da frase quando viu a minha situação – Mas o que está acontecendo A-QUI? – O diretor perguntou de forma urgente.


- A Ní precisa ir para o hospital. Ela está sagrando... – O Luan informou limpando as lágrimas dos olhos.


- Eu vou pegar o carro! – O diretor imediatamente saiu em direção à garagem, sem perder tempo com mais perguntas.


- E eu vou buscar as coisas dela – A Malú, que estava logo atrás do seu ex, anunciou já virando nos calcanhares e subindo as escadas novamente atrás da minha bolsa.


- Anita, o que aconteceu? – A Rafa foi a terceira a aparecer. Quando me viu, ela correu até mim, pegou as minhas duas mãos e me forçou a olhar para ela.


- Foi o tombo, Rafa! Certeza... Eu sou o culpado disso tudo! – Era difícil saber quem estava chorando mais: Eu ou o Luan. Ele estava tão nervoso que mexia no cabelo, deixando os fios completamente bagunçados.


- Anita, olha para mim – Ela me pediu com a voz firme – Vai ficar tudo bem! Nós já vamos te levar para o hospital e você vai ver que isso não é nada! Mas você precisa ficar calma! E você também, Luan! Não é hora para pensar em culpa, os dois precisam focar na Nicole – A loira chamou a nossa atenção não de uma forma brava, e sim de modo calmo e sério, até gentil – Eu preciso que você respire fundo e se acalme, Any. Por favor, você não pode ficar nervosa desse jeito!


Falar é fácil, né?; pensei comigo. Mesmo assim, fiz o que ela me pediu. Respirei fundo, enchendo os meus pulmões de ar e tentando pensar no quanto eu estava ansiosa para ver o rostinho da minha filha, para pegá-la no colo e poder enchê-la de beijos. Tudo isso fez com que eu conseguisse me concentrar no “lado bom” e esquecesse a dor, o medo e a sensação de tristeza por ter feito o Luan sofrer daquele jeito.


- Isso, isso... Se acalma, que tudo vai ficar bem – A Rafa ia falando para me incentivar. Ao meu lado o Lú também tentava fazer o mesmo, me segurando com força. Dava para sentir que ele estava tremendo por conta da situação, então eu tentei, da melhor forma que pude considerando o meu estado, acariciar a parte de cima da sua mão tentando acalmá-lo. Naquele momento me ocorreu que, de fato, como todo mundo costumava dizer, uma mulher precisava sempre ser forte, como a base de uma estrutura de um edifício muito  alto. 


- O carro está pronto! – A Malú gritou lá da sala.


- Vem, eu te carrego! – Meu marido fez questão de me pegar no colo e me levar até o Camaro Amarelo do André. Ele sentou no banco de trás e eu deitei a minha cabeça no seu colo, esticando o resto do meu corpo dolorido em cima do banco da melhor maneira que consegui. O sangramento parecia ter parado, mas só de ver aquela mancha de sangue no casaco parecia que me faltava o ar.


- Respira “Paxão”, respira! Continua fazendo aqueles “trem” que a Rafa pediu – O Luan me falou percebendo que eu estava encarando a mancha de sangue por muito tempo.


- Eu vou ficar por aqui. Se vocês precisarem de alguma coisa eu posso pegar um táxi e levar – A Malú avisou enquanto a Rafa se posicionava no banco do passageiro.


- Ótimo! Fique atenta ao telefone e peça para a Dora cuidar da Vick para mim. E não deixe a Divinha e o Faísca destruírem a casa – A minha empresária pediu pegando a sua e a minha bolsa que a fotógrafa estava lhe entregando.


- Rafaela Prado, eu agora sou apenas uma fotógrafa e não uma adestradora de animais – Ela retrucou cruzando os braços, emburrada.


- Ai sua curica MA-LA, só mantenha a casa em pé, ok? E agora tchau! Tenho que ir antes que a Anita suje todo o meu banco de couro CA-RÍS-SI-MO de sangue – O André encerrou o assunto acelerando o carro assim que a Rafa fechou a sua porta.


Disparamos pelas ruas de Londrina, André e Rafa ainda de pijama e eu e o Luan disfarçados de gringros. A cena não poderia ser mais bizarra! No caminho, a minha empresária pegou o meu celular e o dela nas mãos. Ela ligou para a minha médica de São Paulo, a “Bruxa Oriental com o cabelo oxigenado”, que por sua vez pediu que me levassem para a clínica do meu médico em Londrina, o Doutor Rubens. Depois, o Rubens ligou para a Rafa para ter um panorama mais completo do meu quadro e eu fiquei apenas ouvindo a conversa pensando que eu tinha médicos e bruxas de mais na minha vida. Serie esse um mal sinal?


Não demorou para chegarmos à clínica onde eu dera início ao meu pré-natal. Uma equipe de enfermeiros já me esperava com uma maca e logo eu fui empurrada para dentro da clínica onde o Dr. Rubens me esperava com uma cara de sono (natural, já que estávamos nas primeiras horas da manhã) e a sua habitual expressão meiga e carinhosa no rosto, o que sempre me lembrava aquele desenho “Ursinhos Carinhosos”. Bom, nesse caso, um ursinho careca e que usava camisas polos listradas por baixo do jaleco, mais ainda sim, um ursinho.


Fui examinada de todas as formas possíveis, picada no braço, empurrada de maca por muitos corredores na clínica até que, finalmente, os remédios fizeram efeito e eu caí no sono.


***

Quando acordei, estava em um quarto escuro que não se parecia em nada com o de uma clínica. A mobília era fina e de cores neutras, havia quadros nas paredes que não eram brancas ou beges, e sim de um tom de azul suave e tranquilo. Havia até mesmo um tapete, várias poltronas e um vaso com flores coloridas ao lado da minha cama.


O cômodo estava com as cortinas fechadas, com a luz da tarde entrando pelas frestas iluminando fracamente o ambiente, deixando o quarto com um ar aconchegante e seguro.  Olhei ao redor, à procura de alguém que pudesse me atualizar dos últimos “babados”.


- Ele estava aqui até agora, mas precisou sair por causa de uma entrevista em uma rádio que já estava agendada – Ouvi a voz da Rafa vindo da minha direita. Com algum esforço, consegui me virar em direção a voz e a vi sentada em uma poltrona, com um tablet nas mãos e um fone no ouvido. Provavelmente ela estava ouvindo música e navegando pela internet enquanto “vigiava” o meu sono.


- A entrevista seria em São Paulo, mas conseguimos fazer com que o bate-papo acontecesse por telefone. Por isso, seu marido está agora na Toca falando ao vivo na Nativa FM, respondendo perguntas de ouvintes e me chamando no Whats App a cada minuto para saber se você já acordou. A Malú está o ajudando e, aparentemente, eles estão usando o estúdio que você montou lá em casa – Ela continuou me explicando, parecendo uma apresentadora de telejornal quando anuncia as notícias da manhã, antes de digitar algo na tela do tablet – Pronto! Já avisei que você acordou!


Imaginei que ela estivesse ouvindo a entrevista pelos fones enquanto mantinha o Luan atualizado sobre o meu estado. Isso que eu chamava de serviço de comunicação de primeira qualidade!


- E a Nicole? – Tratei logo de perguntar, a ansiedade me matando. Já estava virando rotina acordar em um quarto de hospital e eu não gostava nada, nada daquilo...


- Sua filha está ótima! O sangramento aconteceu por causa da queda, como já prevíamos, e acarretou em um “probleminha” na sua placenta. O Dr. Ursinho explicou, mas confesso que não sou muito boa com termos médicos – A Rafa brincou e eu me lembrei que nós duas costumávamos chamá-lo daquela maneira na época em que ainda nos falávamos – O que importa é que você já está sendo devidamente medicada e que agora precisa de muito repouso e tranquilidade. Aliás, a sua médica, aquela que te atende em São Paulo, te mandou um recado.


- Recado? Ai meu Deus! O que aquela bruxa loira azeda quer? – Fiz careta só de imaginar. Na certa era bronca que vinha por aí...


- Ela mandou eu frisar muito bem para você o seguinte – Ela apertou o nariz com os dedos fazendo que a sua voz ficasse fina igual a da médica – "Dona Rafaela, por favor, diga à Dona Anita que embora gravidez não seja doença, ela não pode ficar extrapolando desse jeito. Se for preciso, a amarre no pé da cama, mas dê um jeito dela se comportar! Nada de ser uma grávida radical!"


- Grávida radical? O que ela está pensando? Que eu vou sair por aí pulando de "bungee jump" ou algo assim? – Repeti sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. Depois eu e a Rafa caímos na risada juntas, nos divertindo com aquele comentário tão sem noção.


- E de resto? Quão ruim estamos? – Indaguei querendo saber a minha atual situação. Naquelas alturas o meu mal-estar já deveria estar em todos os sites de fofocas, e claro, os paparazzi’s deveriam ter aumentando tanto a história que todo mundo deveria estar acreditando que eu estava à beira da morte, pronta para partir “dessa para uma melhor”.


- Por mais incrível que possa parecer,tudo está muito, mas muito tranquilo! Todo o pessoal da clínica foi muito discreto quanto a sua internação e por conta dos disfarces ninguém reconheceu você e o Luan quando entramos. Pedimos para te deixar em um quarto privativo e só as enfermeiras consideradas de confiança podem vir até aqui. Dessa vez, só para variar um pouco, a sorte está do nosso lado! – A Rafa me atualizou dos últimos fatos, animada.


- A sorte do meu lado? Ok, vamos todos juntar água e biscoitos e correr para as colinas! O mundo vai acabar, certeza! – Ironizei fazendo a Rafa cair na risada novamente.


Tudo estava tão perfeito! Nós duas conversando, nos divertindo juntas, nos dando bem como nos velhos tempos... Só agora eu me dava conta de como eu sentia saudade daquilo. A Rafa era a minha melhor amiga. Ou melhor, a minha irmã. Tá certo que ela tinha exagerado quando duvidou das minhas capacidades como mãe, mas quem nunca erra nessa vida? E no final das contas, por mais que eu nunca fosse dar o braço a torcer, bem lá no fundo, no começo da minha gravidez, eu também duvidara de mim mesma.


- Rafa, você vai mesmo embora? – Perguntei de repente, mudando o tom da conversa para algo mais sério e íntimo.


Ela apenas assentiu com a cabeça, encarando o tablet na sua frente, sem coragem de olhar nos olhos.


- E você precisa mesmo ir? – Insisti, a voz mais baixa e receosa do que eu gostaria.


Mais uma vez ela apenas concordou com a cabeça. Tentei ler a sua expressão, mas ela estava concentrada (ou fingia estar, pelo menos) no tablet com os cabelos caindo na frente do rosto, o que dificultava a minha visão.


- E não tem nada capaz de fazer você ficar? – Agora a minha voz beirava o desespero. Sei que aquilo parecia coisa de menina minada, mas eu não estava ligando. Eu era uma menina mimada mesmo, então não fazia muita diferença...


Minha empresária ficou em silêncio por um momento, imóvel na sua poltrona. Fiquei ansiosa por uma resposta, me apegando naquele único fio de esperança de não perder a minha amiga. Mas ao invés de me responder, a Rafinha mudou radicalmente de assunto, levando a conversa de volta para um ponto confortável.


- Acabaram de perguntar sobre você lá na rádio. Luan se enrolou todo com a resposta, como sempre... Ele mente muito mal! – Ela contou sobre a entrevista que estava ouvindo pelo fone, se divertindo – Aliás, nenhum dos dois sabem. Por isso que as fãs já estão se ligando que esse “ódio” de vocês é fake.


- Sério que elas já perceberam? Será que vou poder voltar a sair na rua sem ter medo de apanhar? – Aquela seria a melhor notícia do dia. Eu não gostava de ter as fãs contra mim. Primeiro porque eu realmente as admirava e amava (Eu sabia que não era fácil gostar de mim, então qualquer pessoa que fizesse isso por vontade própria merecia todo o meu respeito). E segundo porque não era legal ser ameaçada de morte por milhares de pessoas. Isso diminuía consideravelmente as minhas já reduzidas possibilidades de andar livre por aí...


- Segundo o blog oficial das Luanitas – A Rafa me mostrou a página na tela do seu computador portátil – É óbvio que tem “algo” nessa história. Elas acham que vocês estão aprontando alguma coisa!


- É, não tenho como negar... Essas Luanitas são muito inteligentes. Não é a toa que são minhas fãs!


***

Dois dias depois...


- Ní, você não vai e pronto! – O Luan bateu o pé, enquanto se arrumava no nosso closet.


- Lú, por favor, quer deixar de ser teimoso? Eu estou falando que estou ótima! Aliás, estamos ótimas! – Apontei para a minha barriga de quase sete meses – Relaxa! Tá tudo bem! Já passou, o tombo foi só um susto mesmo. Eu estou tomando remédios, me cuidando e tudo vai dar certo! – Repeti aquela frase pela milionésima vez. Depois da crise “Eu não serei uma boa mãe” agora estávamos em meio a um novo dilema: o do “Eu não serei um bom pai”.


Claro que eu me preocupava com a minha saúde e com o bem-estar da Nick, mas eu me sentia bem de verdade. E as constantes “cambalhotas” que a Nicole dava na minha barriga indicava que ela também estava ótima. Do mais, eu estava tomando todos os medicamentos prescritos, o Dr. Rubens “Ursinho” acompanhava o caso de perto e todas as medidas de “segurança” haviam sido tomadas. Na boa, não havia motivos para não ir à gravação do Esquenta. Eu adorava aquele programa e não queria faltar naquele compromisso por nada!


- Ô “Paxão”, eu só não quero que mais nada aconteça com você e com a Nica... – Ele disse me encarando com os olhos cheio de medo e preocupação. Tava na cara que ele ainda se sentia culpado por causa do que acontecera no dia da “bruxa” e estava todo amoado por causa disso.


- Só confia em mim, tá? – Pedi caminhando até ele e dando um beijo rápido nos seus lábios – É hora de colocar a casa em ordem! Lembra do que a gente combinou sobre o Esquenta, né?


- Tá certo, tá certo... Mas você vai me prometer que vai pegar leve durante o programa – Eu assenti com a cabeça e então ele, finalmente relaxou um pouco – Agora me fala: Qual o plano?


- Plano? –Repeti, fazendo cara de perdida.


- Ué... Você mesma acabou de dizer que vai colocar a casa em ordem e não sei mais o quê. Tá aí, cheia de "banca"... Quero saber o que você vai fazer para anunciar que nós sempre estivemos juntos e ainda contar sobre a Nica – Ele falou arrumando os cabelos no espelho, ato esse que demorava, em média, uns trinta minutos (o dobro do tempo que demorava arrumando os meus, diga-se de passagem).


- Já falei, confia em mim! – Pisquei para ele, tentando passar confiança. A verdade é que eu NÃO tinha um plano. Mas se tinha alguma coisa que eu era boa, era no improviso. Com certeza eu ia inventar algo na hora!


***

Chegamos ao Projac por volta das onze da manhã com o Luan me enchendo de “paparicos”, extremamente preocupado e cheio de “recomendações”. Assim que cheguei, corri para o camarim. Eu ainda estava com uma aparência de “hospital”, mas o look que a Rafa escolheu (um vestido de mangas curtas com detalhes em renda), junto com a maquiagem e o cabelo certo me deixaram parecendo uma verdadeira "miss". Meu marido também estava impecável com um calça justíssima, coturnos, camiseta azul, além das tradicionais pulseiras e colares.


Logo depois que fiquei pronta, corri para os bastidores onde todos os meus amigos esperavam o início das gravações. A Bruna veio correndo para me abraçar, me enchendo de beijos e perguntando se estava tudo bem com a Nicole. A Rafa deveria ter comentado sobre o meu “acidente” com ela.


- Amiga, como é que você consegue se meter em tantas confusões? – Ela me perguntou assim que me soltou do seu abraço apertado.


- Ô princesa, até parece que você não sabe, né? A Diva é assim mesmo: A Rainha da Zica, a mais azarada desse mundo inteiro? – O Neymar se meteu no assunto, abraçando a nova namorada.


- Disse tudo, companheiro! A Ní é a recordista mundial das encrencas – Meu marido ousou concordar com o jogador.


- É “tóis”, parça! – Os dois riram às minhas custas.


- O Luan fica aí falando de mim, mas foi ele que achou que era o Anderson Silva, me deu um golpe de MMA me derrubando no chão. Tô achando que o Lú anda assistindo muita luta, viu? – Comentei irônica – Mas chega de falar de mim! Parem de me amar muito vocês dois! E Brú, me conta: Vocês vão mesmo assumir o namoro para todos no programa?


- Essa é ideia! Acho que a ocasião é perfeita! E queremos fazer isso antes do Júnior viajar – Ela me respondeu com o olhar triste. Faltava menos de duas semanas para o craque mudar-se para Barcelona, na Espanha, e com certeza a minha amiga já deveria estar sentindo os “pré-sintomas” do namoro à distância.


- Verdade, rapais! Falta pouco agora pra você ir lá “pras Europa”, né? Então bora usar o programa para fazer a sua despedida! – O Lú propôs empolgado.


- Opa, bora! Vai ser uma despedida em grande estilo! – Concordei sorrindo.


***

 Enfim a gravação começou. A Regina estava muito animada e usava uma de suas roupas “únicas”. A Rafa, que acompanhava o programa dos bastidores, a encarava da cabeça aos pés com uma expressão de desaprovação no rosto. Aposto que se pudesse, ela pegaria a apresentadora e daria a ela uma aula de como ser uma gata garota. Mas fazer o quê? Estilo é estilo!


A roda de samba puxou uma canção que falava sobre a amizade, anunciando o tema do programa e logo a Regina veio falar com a gente.


- Hoje aqui no Esquenta, vamos falar desse sentimento tão importante, valioso e necessário em nossas vidas: A amizade. E tem muita gente que acha que ela não existe no nosso meio, que famoso é tudo “metido à besta”, que não fala com ninguém, mas esses três estão aqui para provar que é sim possível ter uma amizade sincera nesse “vuco-vuco” que é a vida de uma atriz, de um cantor e de um jogador de futebol. Por favor, façam muito barulho para esse trio tão especial: Anita Tunice, Luan Santana e Neymar Júnior! – A morena nos anunciou com o seu sotaque carioca característico fazendo o público ir ao delírio.


Ela começou a nos entrevistar, perguntando como nos conhecemos, como fazíamos para manter o contato e etc, etc e etc. Enquanto falávamos, algumas fotos nossas apareciam no telão. A apresentadora pedia para que comentássemos as imagens e nós nos divertimos muito relembrando os nossos bons momentos juntos. O ponto alto, com certeza, foi uma foto do meu casamento que mostrava o  Luan fingindo uma cara triste ao lado do Neymar que segurava uma placa com as palavras “Game Over”.


Depois de muita “prosa” e muito samba comandado pela roda de sambistas, a Regina mudou o foco da conversa, passando a prestar mais atenção no Neymar e na Bruna.


 - Bom, todos nós sabemos que existe a amizade assim, entre amigos de verdade, mas que também tem aquela tal de “amizade colorida”, que é quando as coisas vão mais... além! Digamos que é quando coloca-se um pouco de pimenta nessa relação e aí vira aquela coisa louca, é uma pegação, uma vontade de ficar junto... – Ela brincou, fazendo a Bruna ficar vermelha de vergonha – E eu fiquei sabendo que tem duas pessoas aqui nesse programa que entendem muito bem desse assunto – A Regina lançou um olhar insinuante para os dois enquanto os outros convidados riam e faziam gozação da situação.


- É o seguinte Regina – O Neymar começou a falar com cara de “moleque atrevido” – O caso é que eu e a Bruna começamos assim, como amigos. Mas a verdade é que eu nunca quis algo “em preto e branco” com ela. Aí eu fui, devagarzinho, com jeitinho, fui arrumando... e consegui conquistar a Bruninha aqui – Ele olhou para a minha amiga que também o encarava com os olhos brilhando de emoção – Hoje a nossa amizade é muito mais que colorida... Eu e a Bruna estamos namorando – O jogador assumiu, mexendo no cabelo, completamente sem jeito. Ao seu lado a Bruna sorria toda orgulhosa do namorado.


- Ah gente, tem coisa melhor do que dois amigos que viram namorados? Eu acho que quando o relacionamento começa assim tem tudo para dar certo, porque os dois já se conhecem, já sabem do que o outro gosta, aí não tem como dar errado – A Regina opinou – E olha que bacana: Os dois só se conheceram porque o Neymar é amigo da Anita que, por sua vez, é amiga da Bruna! Muito legal isso, né?


A partir daí foi uma bagunça só. Os convidados ficaram “zuando” esse lance de “amizade colorida”, comentando em seguida sobre “namoro à distância” e como o Neymar lidava com as cenas de beijo da Bruna e com o fato do último personagem dela ser uma pirigueti e usar roupas justíssimas.


Eu e o Luan só acompanhamos o papo, opinando de vez em quando em defesa do nosso padrinho de casamento e da minha amiga. Eu tinha levado o nosso tereré para o programa, porque achei que a bebida combinava com o tema do dia. Sempre que nos reuníamos em casa, bebíamos o tereré e jogávamos conversa fora, então quis levar um pouco desse nosso “programa de amigos” para o Esquenta. No final das contas, a minha ideia mostrou-se perfeita. Todos beberam da mistura de ervas e a produção até trouxe uma garrafa térmica com água gelada para que pudéssemos fazer doses “extras”.


Enquanto a Bruna e o Neymar enfrentavam uma verdadeira “sabatina”, o Lú pegou a guampa com o tereré e deu um gole. Pedi um pouco, mas ele me negou, voltando a beber só para me fazer vontade. Insisti com cara de “pidona”, o que fez ele mudar de ideia e estender o copo em minha direção, levando a bomba até a minha boca para que eu pudesse beber.


Claro que isso não passou despercebido, e logo a Regina voltou a falar com a gente. Ótimo, agora éramos o centro das atenções...


- E ainda tem gente falando por aí que esses dois se odeiam. Fala sério, se eles se odeiam assim, eu não quero nem ver quando estiverem se amando – Ela brincou – Não é fofo demais, gente? Acho que vou mudar o tema do programa para “Casais Apaixonados”, porque a coisa aqui hoje está puro amor! Mas Luan, me fala uma coisa: A gente sabe que vocês formam um dos casais mais queridos do Brasil, porque são uns fofos e fazem a gente ficar aqui, suspirando por vocês. Mas qual é o segredo disso tudo? Conta pra gente?


- Poxa Regina, acho que não tem muito segredo, não! Acho que é só que eu a Ní sempre nos demos muito bem. A gente se entende só de olhar um para o outro. Claro que de vez em quando a gente briga, se desentende, fala que odeia um ao outro, mas no fundo não conseguimos nos desgrudar, não. Eu sou doido por essa “muié”, e vou ser para sempre. Se existe um segredo, então deve ser esse – O Lú respondeu com o seu melhor sorriso no rosto, aquele que era capaz de contagiar todos ao seu redor.


Da plateia, alguém gritou “Brilha Luanita!”. Olhei ao redor e identifiquei o André sentando entre as pessoas que assistiam ao programa. O diretor estava entusiasmadíssimo, batendo palmas em sinal de aprovação ao que o Luan dissera.


Sorri para ele. O nosso primeiro “objetivo” foi alcançado. Agora, com toda a certeza, as pessoas sabiam que nós não nos odiávamos! Perfeito! Agora só faltava a parte mais complicada. Contar sobre a Nicole...


- Anita, e qual é a parte mais difícil de ser casada com o Luan Santana? – A apresentadora se dirigiu a mim fingindo que havia pensando na pergunta naquele momento. A verdade é que a produção já havia conversado comigo antes e nós tínhamos combinado que a minha resposta daria o gancho para a Regina chamar a próxima atração do programa.


- A mais difícil? Puts... Acho que é todo mundo ficar pedindo para a gente cantar a música que ele gravou junto com a Ivete, “Química do Amor”. Isso é muito frustrante! Olha pra mim, Regina! Não tenho nem metade da voz da “Veveta”, nem metade daqueles ‘pernões”, nem nada... Fica difícil desse jeito, né?  – Respondi fingindo que aquela situação me deixava muito magoada. Bom, aquilo nem era de todo uma mentira. De fato, todo mundo me pedia para cantar “Química do Amor” com o meu marido, o que me deixava sempre um pouco constrangida. Por mais que eu soubesse cantar, eu nunca seria como a Ivete! Era mancada me fazer passar por aquela “humilhação”...


- Fica tranquila Anita, que nós aqui do Esquenta vamos resolver esse problema! A gente não vai pedir para você cantar com o Luan! Nós vamos pedir para você cantar é com A I-VE-TE! – A morena anunciou a entrada da cantora, fazendo festa para a baiana.


Claro que nós não havíamos ensaiado, mas como eu estava ciente que aquilo aconteceria, foi fácil acompanhar a “Veveta” na música. A Banda LS (que graças a Deus conhecia bem o meu jeito de cantar) puxou a introdução e em poucos segundos eu e a baiana colocamos todo o público do Esquenta para dançar. Eu cantei as partes que originalmente seriam do Luan, enquanto a Ivete ficou com as estrofes que ela geralmente já cantava. Todos os convidados levantaram para curtir a música e foi uma diversão só. Neymar e Luan fizeram passinhos bizarros no palco acompanhados pelos bailarinos do programa, me fazendo cair na risada e não conseguir cantar o final da canção.


- Regina, minha linda, é um prazer estar aqui nesse programa tão lindo e que é a minha cara! – A Ivete cumprimentou a apresentadora quando a música acabou – Sem falar na honra que é cantar com essa gostosa da Anita! Sou apaixonada nesse casal!


- Regina do céu, você e a Veveta fizeram um verdadeiro milagre nesse palco! “Cês” não sabem o quanto é difícil fazer a Ní cantar em público. Lá em casa a gente sempre toca umas “moda” junto, mas assim, na frente de todo mundo? É muito difícil! – Meu marido contou, sorrindo cheio de orgulho para mim.


- “Laurence”, meu filho, aqui é Ivete Sangalo! “Anitinha” sabe que é só vir com a “mamãe” aqui que ela passa de ano! – A baiana tirou onda com a cara do Luan.


- Regina, Regina... Aproveita então que a Any resolveu soltar a voz e pede para ela cantar um música para o Luan! Ele sempre canta para ela, mas a Any nunca retribui! – a Bruna pediu levantando uma das mãos, parecendo o “Burrinho do Shrek”. Olhei para ela com a minha melhor cara de “Você quer morrer agora ou daqui a cinco minutos?”, mas não tive como fugir. Um coro de “canta, canta” tomou conta do lugar, me deixando sem saída.


- Rapáis do céu, essa eu quero ver! – O Lú ficou me olhando de onde estava, só analisando a minha reação.


Precisei pensar por alguns segundos, mas por sorte a canção perfeita surgiu na minha mente bem na hora.


- Fernandinho, Jujú, vocês me dão o tom? – Pedi para o pessoal da banda, cheia de moral, me achando "A" cantora.


*** Link para música - https://www.youtube.com/watch?v=i4ADNNl-Rkc ***


Fui até os meninos e combinei rapidinho com eles os detalhes da canção que eu acabara de escolher. Menos de um minuto depois, os dois já estavam mandando ver na introdução. Respirei fundo, tomando coragem e soltei a voz.


“Amor da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos
Foram traçados na maternidade

 
Paixão cruel desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas

 
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado”



Eu não acreditava no que estava fazendo. Cantar Cazuza de improviso, em um programa que seria exibido em rede nacional, me achando a tal era o tipo de coisa que só eu seria capaz de fazer! Por sorte, a banda LS era ótima e conseguiu me acompanhar em uma versão mais “simples” da melodia da música. Ainda sentado na sua poltrona, o Luan me assistia com um brilho tão intenso no olhar que aquilo me encheu de energia. Fechei os olhos e continuei, fingindo que só o meu marido estava ali para me ouvir.


“Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar

 
E por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais

 
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
"


- Ô coisa linda! Como eu poderia não ser apaixonado por essa mulher? – O Lú veio até mim para me dar um abraço muito apertado enquanto o público aplaudia de pé. Caraca! Eu tinha mandado tão bem assim?


- Te vivo, minha rainha! – Ele sussurrou no meu ouvido me dando um beijo rápido nos lábios. Ele me olhava de uma forma tão intensa que só aquilo já foi o suficiente para fazer o meu coração disparar. Nada como amar e ser amado! Esse era, sem dúvida, uma das melhores sensações do mundo.


A partir daí a conversa mudou de rumo e eu deixei de ser o centro das atenções. A apresentadora voltou ao tema “Amizade”, dessa vez comentando entre as parcerias que rolavam entre amigos no meio musical. O Luan cantou a música que gravou com o Péricles, a roda de samba improvisou várias canções junto com a Ivete e o meu marido e todo mundo cantou e dançou muito.


- Eu já falei aqui de vários tipos de amizade, e claro, não poderia deixar de comentar da amizade que rola entre mãe e filho. Ivete, como é isso para você? – A Regina mudou novamente a direção do "bate papo".


- Eita, é muito massa! Não tem nada melhor do que ver aquele “bichinho” crescendo, te chamando de mãe, você ter a oportunidade de ensinar e aprender junto com ele... Olha, é demais! Diz aí Anita, se não é uma sensação porreta de boa – A baiana respondeu com a voz emocionada.


- É sim, Ivete. É algo único! Acho que principalmente para mim, tudo é ainda mais intenso. Fui pega de surpresa com a chegada da Nicole e acho que desde então já vivi todos os tipos de emoção. Quando descobri que estava grávida, primeiro a minha ficha “meio” que não caiu. Depois veio aquele frio na barriga, um medo de não ser capaz de segurar essa barra, de não conseguir ser uma boa mãe... – Fui abrindo o coração, sem medir as palavras, deixando apenas os meus sentimentos fluírem, esperando que daquele “raio” de inspiração surgisse a oportunidade para contar tudo sobre a minha filha.


- Nesses poucos meses de gravidez eu já amadureci tanto como pessoa, como mulher... Quando a Ivete disse que nós pais, além de ensinar, também aprendemos com os nossos filhos é a mais pura verdade. A Nick, ou Nica como diz o Luan – Olhei para o meu marido que mexia a cabeça para mim, em sinal de aprovação por ter usado o apelido que ele dera à filha – nem nasceu ainda e já nos ensinou tanta coisa né, Lú? Acho que a melhor parte de ser mãe é ter a oportunidade de mudar o mundo, porque é através dos nossos filhos, da educação e da criação que damos a eles, é que poderemos construir um futuro melhor. E eu acho que no meu caso e no do Lú... Bem, acho que a nós nos foi dada uma missão ainda mais especial...


Fiz uma pausa para tomar fôlego. O meu coração já estava quase saindo pela boca. Aquele era o momento! Era agora ou nunca! Eu precisava falar... Senti a mão do Luan sobre a minha para me dar força. Respirei fundo mais uma vez e então voltei a falar, a voz um pouco vacilante – A nós foi dada a missão de cuidar de uma criança com Síndrome de Down, um ser especial que precisará de todo o nosso amor, carinho e dedicação. É uma missão difícil, mas esse “serzinho” que está aqui dentro é o que me dá forças, ou melhor, é o que nos dá força né, Paixão? - Meu marido assentiu com a cabeça sorrindo e eu continuei – No começo foi meio difícil lidar com essa notícia, mas hoje me sinto como a mãe mais sortuda do mundo por ter a oportunidade de criar uma criança tão iluminada como essa – Conclui, com lágrimas nos olhos. O Luan beijou a minha mão e depois depositou outro na minha testa, balando a cabeça, assentindo comigo em tudo.


Encarei a apresentadora na minha frente, esperando ver em seu rosto algum sinal de espanto ou até de desaprovação, mas ela apenas sorriu para mim. Um sorriso sincero e iluminado, que me passou uma paz muito grande e reconfortante.


- Anita, você não poderia ter usado palavras melhor! Educar um filho é, com certeza, plantar uma semente para colher lá na frente um mundo sem preconceitos, discriminação e com muito mais amor e respeito. Tenho certeza que você e o Luan serão pais exemplares e que vão colher frutos maravilhosos! Eu espero, de coração, que vocês realmente consigam mudar o mundo, porque são de exemplos como esse que o Brasil precisa – Ela comentou de uma forma carinhosa, nos olhando com admiração e respeito.


Ao nosso redor, a expressão das pessoas foi da surpresa ao “Eu já sabia!”. A maioria das pessoas veio até mim depois que a gravação acabou e me parabenizou pelas palavras. A Bruna me deu outro abraço de "urso" e disse que estava muito orgulhosa de mim e que eu seria uma “mãe e tanto”.


Finalmente os segredos haviam acabado. Todo mundo já estava sabendo que eu e o Luan sempre estivemos juntos e que a nossa filha era portadora de Síndrome de Down. Agora era esperar a reação das pessoas...


***

Cheguei ao hotel naquele dia morta de cansaço. O dia fora longo e eu precisava de repouso. A barriga pesava e os meus pés estavam inchados, sintomas da gravidez.


- Vem minha "Bolinha", bora subir e ir direto pra cama! Vou preparar um banho de banheira para você relaxar um pouco – Meu marido disse, me paparicando - E nem pense em fugir! Eu não esqueci das recomendações do "Rubão" - Ele riu ao chamar o meu médico com aquele apelido tão excêntrico.


Descemos do carro, passamos pela garagem e seguimos rumo ao hall para pegarmos o elevador. No caminho, uma funcionária do estabelecimento nos parou, chamando a nossa atenção.


- Dona Anita, “seu” Luan, faz mais ou menos umas três horas que não para de chegar presentes para vocês aqui na recepção do hotel. O que devemos fazer com eles? – Ela nos perguntou em tom formal.


- Presentes? – Exclamei sem entender.


- Faz o seguinte, moça – O Luan assumiu a frente da situação – Pode mandar para o nosso quarto. Mas agora a gente precisa subir. A "Bolinha" aqui tem que descansar!


Subimos, e poucos minutos depois, os tais presentes chegaram. Fiquei de boca aberta com a quantidade de coisa que ganhamos. Ou melhor, que a Nicole ganhou, porque era tudo para ela! Eram ursinhos, roupinhas, sapatinhos, coroas de princesa, brincos, bonecas de pano... Uma coisa mais linda que a outra!


Eu e o Luan passamos a abrir as cartas e cartões e nos emocionamos com as mensagens de carinho dos fãs. Aquilo era algo incrível! O programa nem tinha ido ao ar ainda, mas todos já sabiam que a Nick era um bebê especial e fizeram questão de registrar o seu apoio à nossa filha. Era tão bonito que eu não conseguia encontrar palavras para descrever o que estava sentindo.


- No nosso mundo é assim, “Paxão” – O meu marido conseguiu definir, igualmente emocionado.


- O nosso mundo é quase assim, Paixão. Para ficar completo, tá faltando só uma coisa – Disse.


- O que, Ní? Um beijo apaixonado? – Ele fez bico, se oferecendo para mim.


- Também! – Ri, estendendo o corpo para dar um selinho nele - Mas não é só isso. Ainda tá faltando a Rafa. Mas eu já sei como dar um jeito nisso...


Pulei da cama e fui até o closet para pegar o meu celular dentro da bolsa. Disquei o número da Malú e esperei que ela atendesse do outro lado da linha. Era hora de colocar a “Operação Fica Rafa” em ação.
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 Notas finais: Pera, vamos por partes que o cap foi cheio de emoções:

1 - O que foi o susto que a Anita deu na gente no começo no cap? Ah se não fosse o Dr. Ursinho e a Bruxa Oxigenada... Rs!
2 - Anita conversando com a Rafa no quarto da clínica foi tãããooo vida, né?! Eu, particularmente, amei aquela parte!
3 - Bruninha e Neymar assumindo a amizade "mais que colorida" dos dois! Fofo demais!
4 - Anita e Ivete cantando juntas? Pode, produção? As duas arrasaram!
5 - Luan dando tereré na boca da Ní, Any falando da Nica, ops, Nick, Luanita brilhando muito! Fala sério, como não amar esses dois? Como?
6 - E, por fim, a Operação Volta Rafa! Hum... O que vem por aí, hein?

Ó, vem cá, me conta uma coisa:
Essa temporada tá ou não tá fervendo?

Beijo gurias, vejo todas no próximo cap! *--*
Mas antes de ir, gostaria de dedicar o cap à Beca e à Dani Noronha, que me ajudaram ao longo da criação da verdadeira bíblia que ficou o cap! Rs! Muito obrigada Gata Garotas!

Beijo grande!

P.S: Meninas, me desculpem de verdade pela demora! É que esses últimos caps da temporada estão exigindo um pouquinho mais de mim. Estou tentando caprichar bastante, porque temos muitos detalhes que não podem passar em branco e também porque quero garantir um capítulo da melhor qualidade para vocês!
Mas fiquem tranquilas que estou aqui, sempre pensando no melhor para a fic e correndo o máximo possível com os caps! =)
Obrigada pela compreensão e pelo carinho! 

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