terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Sobre desejos e tempestades

Sabe aquela história que você precisa tomar cuidado com o que deseja? Pois então... estou aqui hoje para dizer que esse lance é a mais pura verdade.

Já tem um tempo, mais ou menos uns dois anos, que eu escrevi uma história chamada “A Nossa Canção”. Nela, o personagem principal era apaixonado pela Júlia, que ele definia como “a sua tempestade”.

Para ser mais clara, segue o trecho onde ele explica o sentimento que tem pela moça:

“Ela é como uma tempestade. Chega e leva tudo consigo. Não dá para se defender da tempestade, você só fica ali e a deixa tomar conta de você. É algo muito forte, é bonito, é inevitável... Depois, quando vai embora, é como se não sobrasse mais nada...”

Eu não sei explicar muito bem o porquê, mas essa frase me marcou bastante e por muito tempo eu desejei viver um Amor Tempestade, desse tipo que arrebata o nosso coração e muda a nossa vida para sempre.

Quis tanto que a minha tempestade chegou em uma Sexta-Feira Santa e, coincidência ou não, tinha os mesmos olhos verdes marcantes da Júlia.

Claro que eu não sabia que aquele encontro iria mudar minha vida. Na verdade, eu não dei a mínima confiança para a situação. Uma semana depois, nos reencontramos novamente e o que começou como garoa veio dessa vez com tudo que tinha direito: coração disparado, pernas bambas, vontade incontrolável de estar junto. Era a tempestade, afinal, mostrando toda sua beleza e força.

Deixei-me levar por essa tormenta, deixei que o sentimento fluísse como a água que cai do céu, permiti que a tempestade se instalasse dentro de mim, até porque não há como se proteger dela. Como diz a frase, você só pode senti-la, nunca controlar.

Por um tempo, viver nesse ciclo vicioso me bastou. Ele vinha, chovia, molhava tudo o que havia para molhar e depois ia embora, deixando apenas nuvens escuras e enxurrada.

Porém, ninguém sobrevive muito tempo exposto à tempestade sem se machucar. Afinal, ela é capaz de destruir casas, carregar carros, derrubar árvores... Imagine só o que ela pode fazer com um simples coração? O resultado de tantas tormenta foi um solo completamente devastado, varrido de qualquer esperança, vontades ou desejos. Tornei-me um terreno estéril, incapaz de gerar qualquer fruto ou flor, porque nele só havia medo, confusão, ressentimento e raiva.

Lembro que na época que escrevi a história, fiquei na dúvida se esse tal amor tempestade era realmente algo bom. Durante esse período estéril, que não por coincidência aconteceu no inverno, eu estive convencida que não, que esse tipo de sentimento só sufocava, maltratava, entristecia.

Mas a mesma tempestade que destrói, também faz florescer. Com o tempo, as sementes que você deixou dentro de mim começaram a brotar. Sentimentos de compreensão, perdão, amor, paz... É louco pensar que, certamente, você não teve essa intenção, mas em muitas situações da minha vida escuto a sua voz comentando algo sobre aquele assunto. É como se a sombra das nuvens de tempestade me acompanhasse onde quer que vá.

Hoje percebo que a tempestade serviu para lavar. Levar tudo o que não era mais necessário e criar um jardim muito mais bonito, florido e capaz de resistir à novas tormentas. E agora me bateu uma estranha necessidade de te mostrar o resultado do que você ajudou a construir.

Talvez você nunca saiba do poder que teve (e sinceramente, ainda tem) sobre a minha vida. Mesmo sendo tempestade, mesmo nunca ficando o tempo necessário para me ajudar a me restabelecer depois da tormenta, mesmo sendo capaz de ter o melhor e o pior de mim.

A Nossa Canção é uma história que fala de segundas chances, sobre como em certos momentos da vida não somos capazes de tomar as atitudes certas e carregamos o peso dessas escolhas erradas por muito tempo em nossas vidas. Refletindo sobre isso, percebo que mesmo tendo renascido e permitido que coisas boas brotassem a partir do meu coração sobrevivente, ainda há algo que me prende a esse cenário cinza e frio.

É como se as nuvens de tempestade ainda pairassem sobre o meu jardim, e tenho fechado os portões com medo que ela entre e destrua tudo novamente. Mas hoje, com o sol brilhando e a brisa suave batendo no meu rosto, me dei conta que é hora de permitir a sua entrada e confiar no meu poder de aceitar e resistir.

E quando digo isso, significa que não me arrependo de ter vivido a tempestade, de ter morrido no inverno e muito menos de aceitar as transformações da primavera. Só me arrependendo de não ter permitido que você soubesse tudo o que acontecia dentro do meu coração durante esse período, de tomar consciência do poder que tinha. De assumir que você era tempestade, e não uma simples garoa.

Não ouso pedir nada, porque aprendi a minha lição: é preciso ter cuidado com aquilo que se deseja. Também aprendi que sou a única capaz de cuidar do meu jardim. Pessoas podem ventar ou chover, mas daqui em diante ninguém mais terá o poder de destruir o que cresceu nesses últimos tempos com raízes fortes e bem estruturadas.

O ciclo da vida continua e hoje eu não luto mais contra ele. O segredo para manter o seu jardim não é prever se amanhã vai fazer sol ou chuva. E sim saber ler os sinais e me preparar para o que vier.

Mas eu abri os portões, a grama está verde e as flores estão brotando, uma mais bonita que a outra. Talvez a chuva fosse bem-vinda...

[“Quando já não procurava mais
Pude enfim, nos olhos teus vestidos d'água
Me atirar tranqüila daqui
Lavar os degraus, os sonhos e as calçadas

E assim no teu corpo eu fui chuva
Jeito bom de se encontrar
E assim no teu gosto eu fui chuva
Jeito bom de se deixar viver” – Quando fui chuva, Maria Gadú]

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oiieeee.... xD

Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!

Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!