-
Gabriela, está tudo bem? Eu nem te vi chegar... - ouvi minha mãe perguntar.
Pelo reflexo do espelho vi que ela estava parada na porta, com o corpo
encostado no batente e os olhos fixos em mim. Eu não fazia ideia de há quanto
tempo ela estava ali.
-
Ahan, está tudo ótimo! - ofereci o meu melhor sorriso amarelo fazendo esforço
para realmente parecer bem.
-
Então por que você ainda está com a sua mochila nas costas? - ela apontou para
a bolsa nos meus ombros onde estavam as roupas que havia levado para a casa da
Cá.
Com
um movimento rápido, puxei as alças e pousei a peça sobre a pia - Nossa, nem
percebi que ela ainda estava aqui - falei em tom indiferente, como se aquela
fosse uma atitude completamente normal.
-
Huuum... Então tá - ela deu de ombros, preferindo não discutir - Achei um
documentário ótimo na internet sobre balé de repertório. O que acha de assistir
comigo?
Minha
vontade era negar o convite, me jogar na minha cama e passar o resto do domingo
tentando entender o que estava acontecendo comigo.
O
beijo do Edu me deixara completamente sem chão. Eu não estava esperando por
aquela atitude tão... espontânea. E muito menos pela minha reação. Na hora que
me beijou, foi como encontrar algo pelo qual sempre procurei. Ao mesmo tempo
que era calmo e doce, também tinha força e desejo. Havia cumplicidade, encaixe
e entrega. Havia química, muita química... Foi um beijo calmo, sem pressa, como se ele quisesse conhecer o que havia na minha alma. Mas também foi cheio de mistério. Porque, por mais que tenha sido bom – e, aparentemente, ele também tivesse gostado –
depois do beijo ele se afastou, disse um simples “tchau, Gabi” e
foi embora.
Nem
uma explicação, nenhuma palavra, nada. Ou melhor, tudo. Porque agora minha
cabeça girava com tantas hipóteses. Ele estava interessado em mim? Ou só estava
brincando comigo?
-
Terra chamando Gabriela! Terra chamando! - minha mãe estalou os dedos para
chamar a minha atenção - Se topar, deixo você pedir comida japonesa.
A
proposta me trouxe de volta para o presente. Consegui sorrir, dessa vez de
forma um pouco mais sincera, e concordar com a cabeça.
Descemos
juntas, fiz o meu pedido pelo telefone e depois nos sentamos do lado de fora da
cozinha para comer e comentar sobre o tal documentário.
Nossa
casa não era uma mansão, nem nada do tipo, mas era bem confortável. Contava com
quatro quartos - um deles transformando em uma espécie de escritório onde minha
mãe ficava – e uma cozinha ampla com portas de vidro que davam para um pequeno
jardim. Do lado de fora, que chamávamos carinhosamente de varanda, havia uma
grande mesa e bancos de madeira. Ali era o nosso lugar predileto para fazer
refeições: aconchegante e mais fresco. Um pouquinho mais para o fundo tinha uma
piscina pequena que quase nunca era usada - minha mãe não gostava que eu
tomasse sol em excesso com medo de prejudicar a minha pele.
Mesmo
que não fosse uma casa grande, muitas vezes eu me sentia completamente sozinha
ali. Não eram raros os dias que minha mãe se trancava no escritório cuidando
dos detalhes da casa ou do trabalho e eu ficava no meu quarto ou na sala,
assistindo TV e ouvindo música. Nossa relação era boa. Quer dizer, eu seguia a
risca todas as suas ordens e, em troca, tinha algumas regalias como curtir as
festas no Gueto, viajar para a casa de praia da Carol e coisas do tipo…
-
Olha filha, a leveza que essa bailarina tem... É isso que eu quero quando peço
para você se soltar mais... – dona Beatriz comentou, completamente absorta nas
imagens.
-
Aham... é perfeito mesmo – balancei a cabeça, concordando mesmo sem estar
prestando o mínimo de atenção – Mãe, posso ir deitar? Estou me sentindo meio
enjoada – menti, tentando me livrar daquela chatice. Eu já tinha coisa demais
na cabeça para ficar prestando atenção em leveza de movimentos.
-
Ahh Gabriela, andou comendo besteira na casa da Carolina, né? E ainda por cima,
pede comida japonesa hoje. Semana que vem vou cuidar de perto da sua dieta, já
vou avisando! A estreia está chegando e não posso ter uma Julieta gorda ou
enjoada – ela finalmente desviou os olhos da tela do notebook para brigar
comigo.
-
Tá bom, mãe... Tá bom – não discuti. Apenas subi para o meu quarto, tomei um
banho e me deitei. Mas, de novo, não consegui dormir. A festa, a conversa com a
Marília, o beijo do Edu, as cobranças da minha mãe... tudo girava na minha
cabeça feito um caleidoscópio. Tudo o que queria era fugir para algum lugar
longe de toda aquela bagunça. Porém, para onde eu iria?
***
A
saída foi me dedicar completamente aos ensaios. Pelo menos, enquanto me
esforçava para ser Julieta, eu não precisava me preocupar com os meus outros
problemas. Foi desse jeito que evitei falar com as meninas para fugir de perguntas
sobre o Edu. Também fiquei longe da casa do Alê, assim não precisaria dar de
cara com o carioca.
Segui
a risca a dieta da minha mãe, comendo de três em três horas e fiquei até mais
tarde nos ensaios todos os dias. Como estávamos há uma semana da estreia, meu
parceiro Miguel topou fazer um “intensivo” para chegarmos ao grande dia sem
nenhuma chance de errar na coreografia.
A
apresentação aconteceria no Teatro Municipal da cidade que, ao contrário de
muitos teatros por aí, era um prédio moderno, construído a pouco tempo. A
explicação para esse fato era simples: Guararema era cortada pelo rio Paraíba
do Sul, o que atraía muitos turistas interessados em almoçar ou passear no
parque às margens do rio. Para atrair ainda mais público, o governo municipal
passou a investir em eventos culturais. Começou com luzes de Natal e a coisa
foi crescendo, crescendo, crescendo... até se transformar em um Festival de
Verão reconhecido pelo Brasil inteiro. Foi daí que surgiu a necessidade da
criação de espaços que suportassem espetáculos maiores e mais requintados. O
resultado foi um prédio com capacidade para receber até 500 pessoas, com
camarins e estrutura para suportar uma apresentação de ballet ao som da
orquestra sinfônica da cidade. Resumindo: algo top, muito top.
E foi por conta de todo esse
“crescimento” que minha mãe foi contratada para ser gestora do festival. O mais
irônico disso tudo é que precisei passar por uma seletiva extremamente acirrada
para conseguir o papel principal. Porém, como minha mãe era uma das
responsáveis pela peça e a “manda-chuva” do evento, todo mundo achava que eu
estava ali simplesmente por ser sua filha. Aquele era o maior desafio da minha
vida como bailarina e ninguém reconhecia que havia conquistado aquele mérito sozinha.
Frustrante. Realmente, frustrante...
-
Meninos, acho que por hoje chega, não é? –dona Beatriz interrompeu nosso
ensaio, batendo palmas para chamar nossa atenção – Estou muito feliz com o
empenho de vocês. Estou certa que a nossa cidade terá o prazer de ver o melhor
Romeu e Julieta de suas vidas – o sorriso e o brilho no seu olhar compensavam
todo o meu esforço. Ela vivia pela dança, e eu sabia que era somente através de
mim que ela conseguia ter acesso a essa paixão. - Vamos, filha! Hora de
descansar! Miguel, você quer uma carona? – ela emendou.
-
Seria ótimo, dona Beatriz – ele sorriu de forma amável. Aliás, não eu não
conhecia ninguém com um coração tão bom quanto o Miguel. Ele sempre levava um
sorriso no rosto e nunca reclamava de nada. E olha que a vida dele não era
fácil! Os pais não apoiavam sua decisão de dançar balé e os amigos viviam o
chamando de “bicha” e todos esses rótulos que um bailarino recebe. Às vezes eu
desejava ter essa mesma paz de espírito e determinação. Eu sempre estava
preocupada com o que as pessoas iriam pensar ou dizer...
Minha mãe saiu para buscar o carro
no estacionamento e nós dois ficamos arrumando nossas coisas e conversando
sobre o ensaio. Estava tão cansada que nem troquei de roupa. Só tirei a
sapatilha e fui andando descalça mesma até os fundos do teatro, onde minha mãe
nos encontraria. Meu pé latejava e estava cheio de bolhas por conta de tantos
ensaios. Mas o cansaço físico me fazia bem. Pelo menos ali eu me sentia
inteira, dona da situação, ciente que meu esforço valeria a pena.
Apaguei assim que entrei no carro.
Acordei com minha mãe me cutucando para avisar que estávamos em casa.
- Vai tomar um banho, vai te fazer
bem – ela aconselhou com um tom amável. Eu adorava quando ela me tratava assim.
Me arrastei até meu quarto, tomei
uma ducha e, mal saí do chuveiro quando ouvi meu telefone tocar. Na tela
estavam o nome e a foto da Carol. Isso só poderia significar uma coisa: festa
no Gueto.
- Alô – atendi sem muito ânimo.
- Gabriela, onde você se meteu? Foi
abduzida para outra dimensão? Não deu notícias a semana inteira e não apareceu
no grupo do Gueto hoje – ela já foi me dando bronca logo de cara.
- Foi mal! Estou ensaiando pesado
essa semana. A apresentação é semana que vem, esqueceu?
- Ahhh é, verdade! – ela mudou o tom
de “amiga abandonada e indignada” para “amiga que entende e compreende os seus
problemas” – Mas está tudo indo bem, né? Digo, tenho certeza que a peça vai ser
um sucesso...
- Vai, sim! Estamos nos dedicando muito à
apresentação – sorri por conta da sua preocupação.
- E nós estaremos na primeira fila
para te aplaudir – afirmou em tom categórico - Mas já que está assim, tão
empenhada, acho que merece uma folguinha... Afinal, todo mundo merece um
descanso. Não é só ensaiar, ensaiar e ensaiar... Tem que se divertir um pouco
senão você vai ficar louca – a Carol desatou a falar.
- Eu sei, eu sei... Vou descansar
bastante nesse final de semana. Assistir um filme, sei lá...
- Que tal já começar por hoje? – dava para
sentir a animação na sua voz – É que vai rolar uma pizza aqui em casa. Meus
pais vão para São Paulo participar de um jantar e pensei em aproveitar a
oportunidade. Mas tem que ser light,
porque minha irmã está aqui...
- Sua irmã em casa? Que milagre é
esse? – a Alice, irmã da Carol, estudava Moda em São Paulo e nunca parava em
Guararema. Era tão difícil encontrá-la por aqui que, quando isso acontecia,
todo mundo estranhava. Às vezes eu tinha a impressão que era mais moradora
daquela casa do que a própria Alice.
- Pois é... Vai ficar o final de semana
inteiro aqui – ela explicou – Mas e aí? Você vem ou não? Toda a galera já
confirmou presença e o Alê disse que te dá carona.
Senti um calafrio percorrer o meu
corpo. O Edu estaria incluso nesse “toda a galera já confirmou presença”? E se
estivesse, o que eu iria fazer? – Hum... Acho que pode ser uma boa - concordei,
mesmo me sentindo um pouco apreensiva.
- Ahh, que ótimo! – ela comemorou –
Mas então corre porque você já está atrasada. A Mari e as meninas já estão chegando
aqui. Liga para o Alê e combina o horário. Anda logo, Gabi! Beijo! – e ela
desligou, sem nem se despedir direito.
Fui até o espelho e fiquei olhando o
meu reflexo, ainda com a toalha enrolada no corpo. Em ocasiões normais, eu colocaria
qualquer roupa, prenderia o cabelo em um coque, e iria direto para a casa do
Alê. O máximo de “cuidado” que eu teria seria passar desodorante e escovar os
dentes. Nada mais do que isso.
Mas e agora? O que eu vestiria? Não queria ir de qualquer jeito, porque não queria correr o risco de encontrar o Edu parecendo uma mulamba. Mas também não poderia me arrumar demais, senão todas as meninas perceberiam que estava afim dele. E considerando que a)elas não sabiam do nosso beijo; b)nós dois não nos falamos depois do domingo, então eu não sabia o que pensar sobre ele; c)ainda tinha aquele papo dele não querer se apegar e estar “na pixta”; era melhor eu não dar bandeira e deixar transparecer que estava afim dele. Aliás, eu realmente estava afim dele?
Respirei fundo. “Foco, Gabriela. Uma
coisa de cada vez”, falei alto para organizar meus pensamentos. Resolvi começar pelo mais simples.
Peguei o telefone e liguei para o Alê. Com isso eu descobriria quanto tempo eu
teria para me arrumar.
- Alê, tudo bem?
- Fala, bonequinha! Tudo certo sim.
E você?
- Cansada por causa dos ensaios, mas
bem. E aí, que horas você vai para a casa da Carol? Ela disse que ia rolar uma
carona...
- Então, eu já estou pronto aqui.
Você vai demorar muito ainda?
- Hããã... Eu acabei de sair do banho
– falei, bastante sem jeito.
- Ahh, tranquilo! Eu te espero. Só
não vai demorar três horas para se arrumar – ele riu, tentando me zoar.
- Aaaah, seu lindo! Eu te amo! Pode
deixar. Vou me arrumar super rápido e passo aí, beleza?
- Belezinha, Gabi! Te espero! Beijo!
Joguei o celular na cama, empolgada. Sem perder tempo, abri todas as portas e gavetas do meu
guarda-roupa e comecei a analisar as possibilidades, ao mesmo tempo que passava
a toalha pelo corpo para me secar e escolhia uma calcinha e um sutiã para
vestir.
Passei o hidrante corporal em menos
de cinco minutos, caprichei no desodorante e escolhi a roupa que gostaria de
usar: saia jeans com uns “rasgadinhos”, camisetinha branca e kimono estampado
com figuras étincas. Eu adorova essas figuras que lembravam tribos ou etnias.
Meu armário estava cheio delas, além do velho e clássico jeans.
Para fechar, escolhi uma bota sem
salto de cano baixo, caprichei no rímel e no delineador, passei um pouco de pós só para dar
um “up” e um gloss nude. Graças aos deuses, eu havia lavado o meu cabelo no dia
anterior, então ele não estava tão ruim.
Escolhi um perfume não muito forte,
mas também não muito “apagado”, joguei todas as minhas coisas em um bolsa de
lado com detalhe em franjas (que eu também amava) e dei uma última checada no
espelho: arrumada, bonita e cheirosa sem parecer que fiz muito esforço para
isso.
Missão cumprida!
Voei até o quarto da dona Beatriz no
fim do corredor – Mãe, vou comer pizza na casa da Carol. Vou pegar um carona
com o Alê, tá?
- Pizza, Gabriela? E a sua dieta?
- Só hoje, mãe... - fiz biquinho.
Ela fez cara feia, mas não disse
nada. Como quem cala consente, aproveitei para dar um tchau rápido e disparar
novamente pelo corredor, dessa vez em direção à saída.
Enquanto descia as escadas, senti meu coração ficando apertado. Será que o Edu também estaria me
esperando? Me flagrei parada diante da porta, com a mão na maçaneta, imaginando
como seria o nosso reencontro. Será que ele me beijaria de novo? Ou fingiria
que nada aconteceu?
“Vai, Gabriela! Força, garota!”
Respirei
fundo, abri a porta e sai. Com o coração na boca, caminhei em direção à casa do
Alê. Não demorou muito para eu vê-lo andando de skate na rua, sozinho.
Experimentei uma sensação estranha. Não dava para saber se era alívio ou
tristeza por causa da ausência do carioca.
-
Pronta em tempo recorde! – Disse quando me aproximei.
-
Fiiuu, fiuuu – ele assoviou para me zuar – A gente vai mesmo para a casa da
Carol ou a festa mudou de lugar?
- Por que? – fiquei apreensiva.
- Você está toda bonitona...
- Ahh, nada a ver... – passei a mão
no cabelo, tentando disfarçar – Mas tipo assim... está muito exagerado?
-
Nãaoo, está linda! – sorriu – É que, geralmente, você vai de chinelo e moletom.
Meio largada e tals...
-
Aff, seu bobo – fingi ficar brava.
-
Entra logo no carro,vai... – ele ria da minha expressão – Senão é capaz da
gente chegar e não ter mais pizza.
Embora
ainda não tivesse idade, o Alê tinha permissão para pegar o carro, desde que
não saísse da cidade, não bebesse e não fizesse loucuras por aí... A mãe dele,
dona Melissa, ensinara ele a dirigir há alguns anos. Comparada às outras mães,
principalmente a minha, ela era super liberal, amiga e gente boa. Todas as vezes
que conversávamos eu tinha impressão de estar falando com uma velha amiga, e não
com uma pessoa mais velha, mãe do meu melhor amigo.
Eu
adorava andar com o Alê. Ele tinha um gosto musical super eclético e
diferenciado. Do sertanejo ao rap, ele ouvia exatamente de tudo, sempre
procurando as melhores referências.
-
Qual é a banda de hoje? – questionei.
-
Banda do Mar. Estou curtindo essa pegada mais “sussa” agora – ele explicou
enquanto manobrava o carro para sair da garagem.
Seguimos
conversando durante o caminho, mas evitei perguntar do Edu. Mesmo o Alê sendo
tranquilo, achei melhor focar na meta da noite: não dar bandeira. Mas consegui
“pescar” no meio do papo que o carioca estava com a mãe comprando coisas novas
para a casa e que, dependendo do horário, ele passaria na Carol. Claro que meu
coração deu um pulo ao ouvir isso, mas mantive minha expressão de garota
centrada e controlada.
“Segura
esse forninho, Gabriela”, repeti mentalmente tentando me acalmar.
-
Nossa, finalmente vocês chegaram! Pensei que nem viessem mais – a Carol nos
recebeu assim que chegamos. Ela e o Caio estavam do lado de fora sozinhos e
tudo indicava que estavam discutindo a relação.
-
E aí, pessoal! Pô Alê, estava mesmo querendo falar com você...Quero comprar um skate novo e queria trocar umas
ideias – o Caio correu na direção do meu amigo, nitidamente agradecido pela
nossa chegada. Ele sempre dava um jeito de fugir da Carol quando o assunto
ficava sério.
.
-
Está tudo bem? – perguntei em tom baixo ao perceber que a cara dela estava
péssima.
-
Só o mesmo de sempre... A gente está junto faz um tempão, mas não sei o que
rola de verdade... E não gosto de ficar “escondido”, ou de ter
que segurar a minha barra porque não temos nada sério. É complicado, fico
perdida às vezes – ela confessou.
Comecei
o meu discurso pronto sobre o tema “Caio, o cafajeste” que abordava três pontos
principais:
1
– o quanto ele se achava "a última bolacha do pacote";
2
– a forma como ele não dava valor à minha amiga;
3
– o fato dele sempre conseguir enrolá-la no final das contas (vide o que
acabara de acontecer);
Porém,
não tive a oportunidade de terminar porque fui interrompida pela Marília.
-
Gabriela, como assim você chega e nem vai falar comigo? – a loira gritou vindo
na minha direção – Estava esperando por você.
-
Nossa, quanto amor! O que aconteceu com você, Mari? – falei em tom de brincadeira.
Nosso relacionamento geralmente não contava com demonstrações de amor.
-
Tenho uma surpresa para você – ela respondeu fazendo mistério.
-
E que surpresa! – a Carol emendou – Olha Gabi, você lembra daquela conversa que
a vida não é só ensaiar? Então, acho que essa surpresa vai ajudá-la nesse
sentido...
-
Com certeza vai ajudar! – a Mari complementou. As duas trocaram olhares de
confidência enquanto eu fazia cara de perdida.
-
Mas do que diabos vocês estão falando?
-
Vem cá, você vai ver – Marília me puxou pelo braço, como ela sempre gostava de
fazer, me carregando para dentro. Só paramos quando chegamos em frente à mesa
onde dois garotos que eu não conhecia estavam sentados, comendo pizza, bebendo
cerveja e conversando.
-
Gabi, esses são o Felipe e o Renato. Meninos, essa é a minha amiga, a Gabi –
Mari fez as apresentações, com um sorriso pretensioso no rosto.
-
Oi – disse, de forma tímida. Por dentro, eu tentava entender o que estava
acontecendo ali. Desde quando eu me tornara um produto exposto em uma vitrine para
qualquer um chegar e levar?
-
Vem, Gabi! Senta aqui! Hoje você pode comer pizza, né? Não vai ficar de frescura
por causa da dieta? – a loira voltou a provocar.
Contrariada,
me juntei a eles e tentei fazer parte da conversa que estava rolando.
Aparentemente, a Marília e a Carol já haviam passado o meu currículo completo
para os garotos, porque eles não paravam de disparar perguntar sobre a minha
apresentação e todo o resto.
O
Felipe, em especial, estava muito empenhado em agradar. Ele não parava de me
elogiar, dizendo como eu estava linda, falando que fazia questão de estar no
teatro no dia da peça e etc, etc, etc... Estava claro que a Mari, com todo o
apoio da Cá, armou aquele encontro “casual” só para me empurrar pra cima
daquele menino. E o pior: ele nem fazia o meu estilo! Era alto, magro, com o
cabelo castanho curto e um pouco vesgo.
Ok,
sei que não deveria julgar as pessoas pela aparência, mas eu não estava nem um
pouco interessada em conhecer garotos novos. Eu queria mesmo era saber por onde
andava o carioca que roubara o meu sono durante toda a semana...
Lancei
um olhar esperançoso em direção à porta, mas ele ainda não havia chegado.
Depois olhei ao redor procurando a minha rota de escape que nunca falhava. Mas
pelo jeito, aquele era o meu dia de azar, porque o Alê estava ocupado
conversando com o Caio. E eu não estava afim de ficar ouvindo as
lorotas que aquele garoto chato tinha para falar...
Entediada,
comi o meu pedaço de pizza fingindo estar prestando atenção na conversa que
rolava na mesa. O foco havia mudado para o começo do ano letivo, escolhas para
o vestibular e o cursinho.
Aquela
era a minha deixa para fugir. Não queria sacrificar o resto das minhas férias pensando nisso.
-
Gente, já volto! Só vou atender o celular – menti, levantando apressada e
caminhando em direção à porta, fingindo que estava falando com a minha mãe.
Do
lado de fora, soltei o ar e encostei no muro, fechando os olhos por apenas um
segundo. Era muita coisa para lidar.
-
Você não está na história errada? – uma voz perguntou ao meu lado.
Abri
os olhos e dei de cara com o Edu me encarando. Senti meu estômago afundar e uma
sensação estranha tomar conta da minha garganta.
-
É a Cinderela que foge da festa, e não a Julieta – ele explicou ao perceber que
eu não havia entendido a pergunta.
-
Acho que estou criando o meu próprio roteiro hoje – respondi com a voz cansada.
-
Nossa, pela sua animação, a festa deve estar super animada... – Ele revirou os
olhos de forma irônica.
-
É... Acho que não estou assim, tão animada...
-
Acho que eu posso resolver isso – disse ao estender a mão em um convite
silencioso para entrar junto com ele.
____________________________________________________________
Notas finais: Fingir que está no celular só para fugir de uma conversa chata. Quem nunca? hahaha
E esse rolo da Gabi com o Edu? Vai ou não vai, hein? O que acham?
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Oiieeee.... xD
Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!
Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*
Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*
E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!