segunda-feira, 23 de março de 2015

Capítulo 4 – A primeira impressão é a que fica

- Gente, parece que eu não dormi naaaaada...

- Mas você não dormiu mesmo! Pensa que eu não sei que você ficou lá embaixo se pegando com o Caio?

- Ué gente, eu também tinha que aproveitar a festa, né? A Gabi já tinha se dado super bem com o bonitão do Edu, não queria ficar para trás!

- Rá! Isso porque você não viu o que eu vi! Gabi ganhou massagem do garoto novo!

- Como assim, Brasil? Gabi, pode ir me contando tudo!

- Ahhh gente, depois eu conto! Estou morrendo de sono – virei para o lado, puxando o lençol para cobrir a cabeça. Eu não havia conseguido pregar o olho a noite inteira. Ou melhor, a madrugada e boa parte da manhã, já que a festa se estendeu até as três da madrugada para mim, até as quatro e meia para a Mari e para a Carol... bom, acho que ela entrou no quarto com o dia já claro.

Estava exaustava fisicamente por causa dos ensaios, mas minha cabeça se recusava a me deixar dormir. A apresentação que seria ali duas semanas não saía da minha cabeça. Além disso, logo em seguida as aulas recomeçariam e, junto com elas, também vinham as decisões que precisaria fazer até o fim daquele ano. Isso sem falar no Edu, claro.

 Eu ficava repetindo a nossa conversa mentalmente, procurando por novos detalhes, tentando registrar cada detalhe na minha memória para nunca mais esquecer. Não havia como fugir: nosso primeiro encontro havia mexido comigo e seria difícil apagar essa primeira impressão que o carioca deixara.

- Nem pensar, dona Gabriela! Eu quero saber, e quero agora... – Carol disse, pulando da sua cama para o meu colchão de ar e fazendo o maior estardalhaço no quarto. Levantei com tudo, assustada com o barulho e acabei me enrolando com o lençol, o que fez minhas duas amigas caírem na risada.

- Caramba! Acho o primo do Alê fez alguma coisa com a Gabi! Olha isso! A menina não está bem – a Cá provocou com as mãos na barriga de tanto rir.

- O que rolou além daquela massagem, hein Gabriela? Quero saber! – Mari voltou a questionar, respirando fundo para conseguir voltar ao normal.

- Nada demais, gente. Ele me ouviu comentando com o Alê sobre a apresentação e de como minha mãe ficaria brava se eu me machucasse... Acho que o Edu ficou com a consciência pesada por ter esbarrado em mim e por isso quis tentar ajudar – expliquei a contragosto.

- E foi só isso mesmo?  - Marília insistiu, dessa vez séria.

Hesitei por um momento. Eu até queria contar sobre a nossa conversa e todas as indiretas que ele soltou. Por exemplo: será que eu havia entendido certo aquele lance do Romeu? Ou será que era só uma brincadeira para descontrair? Mesmo com todas aquelas dúvidas na minha cabeça, achei melhor não tocar no assunto. Ainda era muito cedo para chegar a qualquer conclusão – Claro que foi! Acabamos de conhecer o rapaz, o que esperava que eu fizesse? Que pulasse no pescoço dele? – falei, sendo um pouco mais dramática do que gostaria.

- Ahhh Gabi, como vamos saber? Nunca vimos você assim... “apaixonadinha” por alguém – Carol mexeu as mãos querendo fazer um “entre aspas” com os dedos – Você sempre foi tão de boa com os garotos, nunca ligou para ninguém...

- Mas não estou “apaixonadinha” – imitei o seu gesto com a expressão fechada.

- Ahhh, não era o que a sua cara dizia quando entraram na festa juntos, não é Mari? – ela rebateu.

- Verdade, Gabs. Não há como negar: você ficou impressionada com o garoto – Marília disse, ganhando um sorriso de aprovação da Carol – Mas acho bom mesmo você não se apaixonar por ele.

- Mas por quê? Formaram um casal tão bonito... – a Carol perguntou, surpresa.

- Porque o Alê me disse que o primo não está afim de se apegar a ninguém agora. Que ele quer curtir, conhecer a cidade, fazer amigos, aproveitar um pouco, entende? O garoto está na pista, mas não é para negócio – Mari explicou se ajeitando melhor no colchão.

- Ahhh, mas ele disse isso antes de conhecer a Gabi – foi a vez da Carolina opinar – Além do mais, é completamente possível fazer tudo isso namorando...

- Claro que não! Ter namorado sempre empata tudo... – a outra enfatizou.

- Gente, gente... Vamos voltar à realidade, por favor? – estalei os dedos para chamar a atenção delas – o Edu é livre para fazer o que quiser, assim como eu também sou, ok? E nós não temos nada um com o outro. Foi só uma conversa...

- E uma massagem – Carol interrompeu.

- Ok, teve a massagem. Mas foi só isso. Nem sei se voltaremos a nos falar. Não peguei o Whats dele, nem nada... – completei ajeitando meus cabelos em um coque. Minha situação não poderia ser mais deplorável: franja bagunçada, olhos vermelhos de sono, corpo dolorido por conta dos ensaios, maquiagem borrada... Carol estava com uma aparência melhor: seus longos cabelos castanhos estavam presos em uma trança improvisada, seu rosto limpo de maquiagem e os grandes olhos pretos, que pareciam duas jabuticabas, atentos, dançavam de um lado para o outro. Das três, ela era a mais “menininha”. Ela gostava de se arrumar, de usar rosa, de combinar roupa e sempre sonhou com o príncipe encantado. Aquele cara para casar e viver o resto da vida juntos, até envelhecer.

Já a Marília era completamente diferente. Loira, alta, dona de impressionantes olhos azuis. Ela chamava a atenção e sabia disso. Das três, era sempre a mais assediada pelos meninos. Descolada, era muito popular no colégio e a principal razão do nosso trio fazer tanto sucesso. A Mari era cara de pau, falava com todo mundo e fazia amizades rapidamente. O tipo de pessoa que cativava a todos.

Sempre me identifiquei mais com a minha Caramelo, como gostava de chamar a Cá. Talvez porque ambas tínhamos um lado mais tranquilo e discreto... Nossas opiniões geralmente batiam e dividíamos os mesmos gostos musicais e literários. Por outro lado, a Marília trazia para a minha vida uma energia diferente... Ela conseguia despertar uma Gabi mais festeira, que se importava menos com os problemas, que tinha coragem para fugir um pouco das imposições da mãe.

Talvez fosse por isso que me dava tão bem com elas. As duas me ajudavam a manter o equilíbrio. E com a vida que eu levava, isso era algo muito, mas muito importante. Eu não tinha ideia de como sobreviveria sem aquela dupla por perto.

- Tudo bem, então. Vamos encerrar esse assunto e voltar à realidade – a Cá decretou, ficando de pé com um pulo – O que me lembra que temos um Gueto para limpar, meninas!

Respirei aliviada por me ver livre daquele assunto. Depois do que a Mari falou, tudo ficou ainda mais confuso na minha cabeça. Com muita dificuldade, consegui sair do meu colchão e ir para o banheiro me arrumar. O sol brilhava com força no céu e fazia um calor sufocante, típico da nossa cidade. Eu sentia como se tudo ao meu redor estivesse rodando, e aquilo nada tinha a ver com ressaca. Era muita informação para pouco eu.

Depois de um café rápido, começamos a organização. E por mais que eu adorasse as festas no Gueto, eu sempre odiava o dia seguinte. Era incrível como conseguíamos fazer tanta bagunça em apenas uma noite!

Mas era como dizia o velho ditado: tudo que é bom dura pouco. Logo, o jeito era encarar a arrumação. Pelo menos aquilo me ajudaria a ficar longe dos meus outros problemas.

***

Os pais da Carol voltaram no final da noite. Geralmente eles ficavam na casa da praia durante todo o final de semana e só voltavam na segunda bem cedo. Porém, dessa vez eles tinham um aniversário para ir, por isso precisaram subir a serra mais cedo.

Com a Cá sã e salva com sua família, aproveitei que o irmão mais velho da Mari foi buscá-la para pegar uma carona até o meu condomínio. Como morava perto da portaria, desci por ali mesmo para evitar o trabalho que eles teriam de preencher um cadastro para entrar. O Alpes, onde eu morava, era o condomínio mais caro e chique da cidade e, por isso, tinha um monte de regras de segurança para visitantes. Essa parte era bem chata, mas de resto era tranquilo morar ali. Essa era uma das poucas coisas que meu pai havia contribuído para a minha vida. Como era um importante empresário que morava em Nova York, nós não tínhamos muito contato. Tudo o que sabia era que ele trabalhava como um louco e que pagava uma generosa pensão para minha mãe. E era toda essa “generosidade” que mantinha alguns dos nossos confortos, como a casa e o carro. Aquilo era o máximo de “pai presente” que tive durante toda a minha vida, incluindo algumas ligações no Natal e aniversário.

Era estranho, mas fazer aquele caminho para casa sempre me fazia pensar no quanto minha vida poderia ser diferente se morasse com ele. Houve uma época que eu temia que isso pudesse acontecer, que ele chegasse a pedir a minha guarda ou coisa parecida, mas já fazia um tempo que eu torcia para que isso, de fato, virasse realidade. Sei lá, só queria que uma mágica ocorresse e PUF! Tudo mudasse...

- Heeey Gabs! – ouvi alguém me chamar.

Virei o rosto, na direção de onde vinha a voz e vi o Alê e o Edu vindo de skate, um pouco mais atrás de mim. Estávamos na avenida principal do condomínio, que circundava o lago localizado no centro do residencial. Já era quase e sete e meia da noite, mas como era no horário de verão, o sol ainda estava se pondo. Raios dourados iluminavam as águas escuras do lago e a copa das árvores que margeavam a avenida, tingindo o cenário com uma luz especial.

- Heeey! Estão dando um rolê? – perguntei enquanto esperava que se aproximassem.

- Estou vendo se o Edu é mesmo tão bom no skate como ele diz – Alê disse quando chegou até mim, estendendo a mão na sequência para tocar na minha mão.

- Não disse que era bom no skate. Disse que sabia fazer algumas manobras, e só... Meu negócio mesmo são as ondas – Edu se defendeu – E aí, Julieta? Procurando seu Romeu? – disse ao se aproximar para me cumprimentar com dois beijos no rosto, o que me fez ficar um pouco perdida novamente.

- Mas não era Rapunzel?

- Alexandre! – coloquei a mão na cintura, irritada.

- Brincadeira, brincadeira! Eu sei que a apresentação será de Romeu e Julieta no Teatro Municipal no dia do encerramento do Festival de Verão. A orquestra da cidade vai tocar as músicas para vocês não, é? – ele se justificou enquanto deslizava no seu skate fazendo pequenas manobras. Edu e eu caminhávamos ao seu lado, sem pressa.

- Nossa, vai rolar até orquestra? Caramba, o negócio será grande, hein? – o loiro pareceu impressionado.

- Sim! Como te disse, minha mãe faz parte da organização e desde o início eles queriam algo grandioso. A ideia é inscrever a participação em grandes festivais, como o de Campos do Jordão e circuitos em São Paulo – expliquei – Por isso estou me dedicando tanto aos ensaios. Vai ser ótimo ter uma produção desse porte no meu currículo...

- E você já sabe o que vai fazer? Se vai mesmo estudar balé clássico? – Alê quis saber.

- Não... Continuo mais perdida do que antes. Sei lá... andei pensando em dar um tempo e fazer um intercâmbio enquanto não escolho entre faculdade ou escola de dança. Pelo menos posso aperfeiçoar meu inglês – contei ao virar a esquina da nossa rua.

- Seria uma boa, Gabs. Mas será que sua mãe concordaria? Você disse que ela está te cobrando entre as duas primeiras opções – Alê opinou, ainda deslizando em seu skate.

- Na verdade, ela quer mesmo a escola de dança. A faculdade fui eu quem sugeriu – estiquei a mão para pegar o boné que estava na sua cabeça e vesti-lo. Eu adorava fazer isso só para ver o cabelo do Alê bagunçado. Ele era do tipo que usava os fios mais compridinhos na parte de trás. Assim, com o acessório, ficava superbacana e descolado. Mas quando tirávamos o boné...

- Ahhh não, Gabi! Não faz isso! – ele protestou.

- Precisa pentear esse cabelo, menino! Olha isso! Parece um ninho – baguncei ainda mais seus fios, rindo alto.

- Vai Gabs, devolve aqui. Preciso entrar! Combinamos de ajudar minha tia com algumas coisas na casa nova, não é Edu? – ele pediu fazendo cara de emburrado.

- É sim! Ela está querendo agilizar a mudança, mas tem alguns detalhes que precisamos resolver antes. Tipo colocar algumas prateleiras, arrumar portas, nada demais – o carioca se justificou. Eu ainda não havia me acostumado com o seu sotaque carregado e achava engraçado ouvi-lo falando.

- Uaaau, que garotos prendados! Sendo assim, vou para casa para não atrapalhar essa organização familiar – zombei, tirando o boné e devolvendo para o dono.

- Valeu, Gabi – ele agradeceu recolocando a peça na cabeça – E é sério, preciso mesmo ir nessa. Depois a gente se fala mais, beleza?

- Beleza, vai lá! E boa sorte na organização. Espero que dê tudo certo – me despedi com um beijo no rosto e um rápido abraço – Tchau, Edu... – virei na direção do loiro para me despedir, mas ele me impediu.

- Te acompanho até sua casa. É nessa mesma rua, não é?

- Sim, é aquela ali – apontei para o sobrado com janelas espelhadas e cortinas claras – Mas não precisa, sério.

- Relaxa, só quero saber como está o seu pé – ele mexeu nos cabelos, meio sem jeito. Estava óbvio que ele queria saber sobre qualquer coisa, menos sobre a situação do meu pé. Tão óbvio que o Alê se apressou para entrar, murmurando alguma coisa sobre procurar uma chave de fenda, tudo para nos deixar a sós o mais rápido possível.

De repente ficamos sozinhos, a não ser pelo silêncio chato que tomou conta da situação. Com um gesto rápido, ele apontou o caminho e então voltamos a caminhar, um ao lado do outro.

- E o seu pé? – ele puxou assunto.

- Está ótimo. Não senti nada hoje pela manhã – contei.

- Falei que minha massagem funcionava...

- É, acho que preciso mesmo agradecer – dei um meio sorriso, olhando-o de lado.

- Acho que o mínimo que mereço é um convite para assistir a apresentação – ele provocou.

Balancei a cabeça como se estivesse analisando a questão – Me parece justo... E de qualquer forma, preciso de pessoas conhecidas na primeira fila para me aplaudir, caso ninguém mais o faça... – emendei, parando em frente à minha casa.

- Se você dançar fazendo essa carinha de cachorro sem dono, duvido que alguém vá resistir. Todo mundo vai aplaudir, nem que seja de pena – ele parou de frente para mim, um pouco perto de mais para que eu conseguisse desviar o foco daqueles olhos verdes tão intensos.

- Poxa, esse foi um incentivo e tanto... Se já estava com medo antes, agora então... – caprichei ainda mais na minha expressão de “garotinha indefesa”, só para provocá-lo.

- Não, calma! Não foi isso que eu quis dizer... – meu plano deu certo, porque ele mexia as mãos, nervoso. Segurei firme a minha cara de triste, agradecendo mentalmente às aulas de interpretação que fiz.

- Olha, o que quis dizer é que independente do que faça no palco, as pessoas vão aplaudir de qualquer jeito. Porque é preciso muita coragem para encarar uma plateia disposta a fazer o seu melhor – ele colocou uma das suas mãos no meu ombro, fazendo meu corpo estremecer de leve – E eu sei que você será a Julieta mais linda que já existiu. Sorte de quem estiver lá para te assistir – ele encostou a ponta dos dedos na minha bochecha, acariciando levemente.

Fechei os olhos e me concentrei em apenas sentir. Primeiro o cheiro de roupa limpa que vinha dele, depois o suave toque dos seus lábios passando pelos meus, o meu coração disparado dentro do peito, sua outra mão na minha cintura até que, por fim, ele me beijou.

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Notas finais: Geeeeeenteeeee, rolou beijo! Como assim, Braseeeeel?

A pergunta que não quer calar: Edu está afim da Gabi? Porque a Gabs está muito caidinha por ele, né?

E depois desse beijo, como serão as coisas? Contem o que acharam, ok?

Beijocas e ótima semana para todos!


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2 comentários:

  1. Gente quanto amor!! Esse Edu ai não tá parecendo o original não kkkkk :P
    Mas melhor assim :D

    beijos

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    Respostas
    1. Eu tinha que deixar o Edu mais "atrativo", né? Senão ninguém ia querer saber dele! hahah

      Mas calma que um pouco mais para frente ele vai ficar mais próximo da realidade.

      E já começou a ler, trate de se atualizar logo para me ajudar a criar os roteiros, tipo em "Una Canción". Vou amar ter uma editora. E ninguém melhor que você, né? Que faz parte da história, literalmente. hahahahaha

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Oiieeee.... xD

Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!

Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

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