Notas
iniciais: Meninas, tudo certo?
Lembram
que comentei que a fic ia bombar nesse próximo capítulo? Pois é... Essa parte é
muito, mas muito importante para a história. Por isso, acabei me empolguei um
pouquinho aqui e escrevendo demais... hahaha
A
ideia era resumir tudo em um capítulo só, mas não deu. Só esse começo deu 11
páginas e ainda tem coisa pra caramba para acontecer. Daí não teve jeito! Tive
que dividir em duas partes. E como vocês sabem, a primeira parte é mais morna
(mas com muitas informações relevantes), porque a segunda vai ser ó... daquele
jeito!
Recado
dado, “bora” para o “esquenta” dO Grito de Carnaval do Gueto?
____________________________
-
Acho que já vou entrando... – sussurrei no ouvido do Edu assim que ele
interrompeu o nosso beijo. Como de costume, estávamos juntos na frente de casa
depois de passar um tempo com o seu primo.
-
Mas já? Está cedo ainda... A noite é uma criança – ele respondeu com seu
sotaque carioca e o seu típico jeito de malandro, que quase sempre me
conquistava.
Digo
quase sempre porque, em uma ocasião normal, eu estaria me derretendo em seus
braços só de ouvi-lo falar daquele jeito comigo. Qualquer demonstração de afeto
a mais já era o suficiente para disparar o meu coração em velocidade muito
acima do normal. Era quase como se alguém apertasse o botão turbo para ele
acelerar dentro do peito de tal forma que parecia que ia me machucar. Mas
naquela noite uma ansiedade diferente tomara conta de mim. Ao contrário dos
dias anteriores, quando todas as dúvidas em relação ao que estava acontecendo
me deixavam triste e me faziam devorar pacotes e mais pacotes de doce, agora eu
me sentia determinada. Eu tinha um objetivo: encontrar de uma vez por todas as
respostas que eu precisava. Para isso, estava disposta a apostar alto. Faria o
que fosse preciso para saber se o Edu estava mesmo afim de mim e também para
mostrar para Mari e companhia que eu era capaz de me cuidar muito bem sozinha.
Mais do que isso: que eu não era uma bonequinha de porcelana extremamente
frágil como elas julgavam. Se elas queriam briga, então era isso que teriam.
-
Hããã... É que eu ainda preciso terminar o dever de química. A professora passou
um monte de exercícios complicados, lembra? E sou péssima nessa matéria... –
reuni toda a minha força de vontade para inventar uma desculpa convincente.
-
Amanhã à tarde eu te ajudo a terminar. Sou bom nessa matéria. Além do mais,
isso não é problema! A química rola bem entre gente – o carioca disse me
lançando um olhar bastante sugestivo.
Ai
meu Deus!
-
Mas amanhã você vai estar enrolado com a sua mãe e a chegada do seu pai. E tem
a Festa no Gueto. Preciso chegar cedo para ajudar – argumentei usando as minhas
últimas reservas de força de vontade. Se ele insistisse mais um pouco...
-
Ahh é, verdade... – balançou a cabeça
como se estivesse avaliando a informação – Dia amanhã vai bombar, né? Pelo que
estão falando, essa festa promete!
-
E como promete – comentei em tom irônico. Sabia de nada, aquele inocente! Mal
desconfiava dos planos que se passavam pela minha cabeça.
-
Sendo assim, vou deixar você entrar para adiantar as suas coisas...
-
Ahh, você vai deixar? – cruzei os braços, contrariada. Eu odiava quando ele
usava aquele tom de “sabe tudo” comigo. Era extremamente irritante!
-
Sim, hoje eu te libero – confirmou de jeito sarcástico para me provocar mais
ainda.
-
Então tá. Vou indo – me virei de uma vez, pronta para entrar sem nem me
despedir.
-
Peraê, mocinha – ele me puxou, me fazendo parar exatamente entre os seus braços
antes de me beijar suavemente nos lábios – Boa noite, durma bem e sonha comigo
– completou quando me soltou com a voz baixa, o rosto apenas alguns centímetros
distante do meu.
Abri
os olhos devagar apenas para ver o seu par de rubis verdes cravados em mim, as
mãos firmes em minha cintura como se não quisesse que eu escapasse. Como não se
perder naquele mar esverdeado quando eles estavam tão próximos? Seus olhos eram
um convite para um mergulho no oceano sem nenhuma garantia de volta.
-
Boa noite – enfim consegui responder, me soltando lentamente dos seus braços e
caminhando para dentro. Quando fechei a porta, minhas pernas estavam bambas.
-
Gabriela! – ouvi minha mãe chamar do andar de cima. Ainda com a respiração
acelerada, subi as escadas e caminhei até o seu quarto. Ao entrar, me deparei
com a dona Beatriz com um chapéu de praia na cabeça, uma mala aberta em cima da
cama e várias peças de roupa espalhadas ao redor.
-
Vai viajar? – foi a primeira pergunta que me veio a cabeça.
-
Sim! Na verdade, nós vamos!
-
Oi? Como que é?
-
A mãe de uma das crianças que faz balé lá na escola agendou uma viagem para um
resort lá na Bahia agora para o Carnaval. Só que aconteceu um imprevisto e ela
não vai poder ir. Então me perguntou se eu não gostaria de viajar no lugar dela
– minha mãe foi explicando enquanto continuava a tirar roupas do armário,
aparentemente selecionando quais peças deveria ou não levar. Para mim, tudo
aquilo era insano.
-
Ok, quem é você e o que fez com a dona Beatriz? – perguntei em tom sério
enquanto tentava assimilar a novidade.
-
Ai filha, para de bobagem! – ela riu, a animação escorrendo pelos seus poros –
A Gláucia, a mãe da aluna, me explicou tudo. É o seguinte: ela comprou essa
viagem em uma promoção que essa rede de resorts faz sempre. Porém, o prazo
máximo para ela usar o desconto era agora, até o Carnaval. Se ninguém for, ela
perde o que já pagou, entendeu? Aí fizemos um bem bolado: eu pago para ela o
valor da viagem e nós aproveitamos o Carnaval na Bahia. Não é perfeito?
-
Orra! Muito perfeito... – menti. Tudo o que eu pensava naquele momento era:
viagem em pleno Carnaval iria atrapalhar todos os meus planos.
-
Então, o voo está marcado para sábado de manhã. Sei que está em cima da hora,
mas já estou organizando tudo. Vou deixar meu cartão contigo amanhã, assim você
pode comprar um biquíni novo e o que mais estiver faltando. Acho melhor você já
deixar a sua mala pronta hoje, hein?
Fiquei
parada na porta do quarto sem conseguir falar mais nada. Era como se eu
estivesse assistindo um filme muito distante da minha realidade. Primeiro a
dieta liberada e pausa nos ensaios e agora viagem?! De repente tive a impressão
que alguém havia virado a minha vida de cabeça para baixo. A chegada do Edu, a
Mari agindo de maneira diferente, minha mãe deixando de ser tão rígida.
Caramba! Quando pedi por mudanças e novidades no começo daquele ano, eu não imaginava
que elas viriam com tamanha intensidade.
-
Hum... É acho melhor mesmo. Vou organizar tudo e fazer uma lista do que preciso
comprar – assenti de forma mecânica antes de sair e fechar a porta.
Caminhei
pelo corredor completamente perdida em pensamentos. A viagem de última hora
iria complicar, e muito, a minha vida. Sem falar que eu não tinha a mínima
cabeça para pensar em o que levar na mala. A situação era séria e pedia ajuda.
Assim
que cheguei ao quarto, sentei na cadeira da escrivaninha e olhei o meu Whats
App. A primeira pessoa de confiança que apareceu na lista foi a Carol. Hesitei
por um minuto. Eu e a Cá nós dávamos muito bem, mas os nossos papos eram mais
“cultos”, sempre girando em torno de livros, séries, ideias... O lado mais
prático, como moda e garotos, sempre ficava com a Mari. Porém, ligar para a Má
estava completamente fora de cogitação. Me peguei pensando como seria pedir
conselhos daquele tipo para a Carolina, e foi aí que me dei conta: eu nunca
precisei pedir ajuda sobre garotos para ninguém. Todos os outros foram casos
passageiros, paixões de momento, o famoso fogo de palha. O Edu era o primeiro
cara que realmente mexia comigo. Ele parecia uma tempestade, que destruía tudo
com sua fúria, mas que mesmo assim não deixava de encantar pela sua força e
beleza.
Respirei
fundo. Foco, Gabriela!
Voltando
a atenção para a tela do celular, apertei o botão discar. Eu precisava falar
com alguém, se não iria enlouquecer. O jeito era torcer que a Carol estivesse
disposta a ser psicóloga pro alguns minutos.
-
Fala, Gabi! – ela atendeu depois de três toques.
-
Cá, preciso de ajuda! – já fui direto ao assunto. Sem enrolação, contei sobre a
foto da Nathy, o plano para pegar o boy e sambar na cara das inimigas durante a
festa e a viagem de última hora.
-
Caraca, quanta coisa! – ela comentou depois de me ouvir falar por cinco minutos
sem parar – Bom, vamos por partes. Em primeiro lugar, que mancada da Mari,
hein? Depois vou olhar essa foto com calma, mas poxa! Você está ficando com o
cara e ela sabe disso. Muita sacanagem ficar agitando outra garota para o
carioca nessas alturas do campeonato...
-
Nem preciso falar que também acho muita mancada, né? – disse com a voz
chateada.
-
Acho muito digno você querer mostrar para as duas que não está fora da jogada.
Mas qual é o plano? – pela indignação da Cá dava para perceber que eu não
estava exagerando ou criando caso à toa. A situação era realmente grave.
-
Então, eu ainda não sei... – confessei – Na verdade, nem sei ainda se o Edu
realmente vai. Por enquanto, tudo que decidi é que quero caprichar na maquiagem
e no cabelo.
-
Isso! Com a fantasia super poderosa que você comprou não vai ter para ninguém!
Vai ser a sereia mais bonita de todos os tempos – ela me incentivou.
-
Depois disso, é torcer para ele aparecer e improvisar algo...
-
Certo, amanhã durante a festa a gente bola alguma coisa. Também precisamos ver
como a Mari e a Natália vão se comportar, né?
-
Sim, você está certa – concordei – Mas mudando de assunto, será que você pode
ir comigo até o shopping de Mogi amanhã? Vou ter que voar até lá para comprar
as roupas, organizar tudo na mala, me arrumar e ainda ir para o Gueto – pedi.
Mogi, vizinha da nossa cidade, era bem mais desenvolvida que Guararema. Além do
shopping, contava com universidades e mais opções de serviços.
-
Nossa, vai ser corrido! Vamos fazer o seguinte: saímos da escola e já pega o
ônibus. Lá pelas seis a gente volta, você vai para a sua casa arrumar tudo
enquanto eu e a Mari vamos adiantando tudo para a festa. Aí lá pelas sete e
meia, oito horas você chega. Fechado?
-
Por mim está ótimo! Acho que vai dar tempo de organizar tudo – concordei.
-
Ótimo, então vamos nos falando por Whats. E fica tranquila, tudo vai dar certo.
Tenho certeza que o Edu está na tua. Só falta o empurrãozinho certo para ele
assumir isso publicamente – o que eu mais gostava na Carol era isso: não
importava a situação, ela sempre tinha uma palavra de apoio. Até em casos de planos
mirabolantes do tipo “conquistar o boy de uma vez por todas”.
Desligamos
o telefone e foi a minha vez de abrir o guarda-roupa e começar a fazer as
malas. Precisei ir até o quarto da minha mãe algumas vezes para confirmar
algumas informações. Acabei descobrindo que ficaríamos no Club Med em
Itaparica, localizado a uma hora de Salvador. Pelas imagens, o lugar era muito
top. O embarque estava previsto para o sábado, às 10 horas e o retorno para a
terça-feira de carnaval na parte da noite. Com certeza a viagem prometia. A empolgação
já estava quase tomando conta de mim. A única coisa que atrapalhava era o lance
com a Mari. Ficar fora em um momento tão tenso como aquele poderia ser ruim.
Não queria “abrir espaço” justo agora que estava determinada a marcar
território...
Naquela
noite, antes de dormir pedi a Deus que tudo desse certo no dia seguinte. Havia
muita coisa em jogo e eu estava apostando muito alto naquela festa.
***
Acordei
no dia seguinte com olheiras que indicavam a minha noite mal dormida. Fiquei
revirando na cama, pensando em tudo o que me aguardava nas próximas horas. Sem
dúvidas, nunca um Carnaval foi tão animado.
Na
escola, tudo continuou na mesma. Mari me evitando e Edu na sua versão “sou seu
melhor amigo”. Mesmo assim, ainda nos falamos bastante durante o dia. Ele
perguntou como estavam os preparativos para a festa e detalhes sobre o horário.
-
Qual vai ser sua fantasia mesmo? – o carioca quis saber durante um dos
intervalos de aula.
-
Vou de sereia – respondi entretida em fazer as últimas anotações da aula.
-
Hum... Legal. Gosto dessas coisas do mar... – ele disse em tom vago, sem olhar
para ninguém em especial. Pelo canto do olho, percebi a Carol me encarando como
quem diz “essa indireta foi pra você, né?”
-
E você? Já sabe se vai aparecer? – perguntei fixando meu olhar nele.
-
Ainda não... Estou enrolando naquela história que comentei ontem – desconversou
arrumando alguns livros na mochila.
-
Ahh Edu, mas faz um esforço para ir. Essa vai ser “A” festa! Estamos
caprichando – a Cá insistiu. Eu tinha certeza que ela só estava fazendo aquilo
por mim.
-
Farei o possível para ir. Tenho certeza que vai bombar mesmo – foi tudo o que
ele disse antes da próxima professora entrar na sala e pedir silêncio.
De
modo discreto, eu e a Cá trocamos olhares. Ela nem precisou falar nada para eu
descobrir o que ela estava pensando: ele tinha que aparecer, de qualquer jeito.
***
O
sinal mal tocou e nós duas saímos correndo para o ponto de ônibus. Passamos a
tarde inteira no shopping comprando roupas. Acabei escolhendo dois vestidos
mais soltinhos e charmosos, dois shorts jeans, dois biquínis e algumas
blusinhas mais básicas e frescas. Também comprei um boné que seria muito útil
nos dias de sol intenso e um chinelinho lindo.
Nada
como ter uma mãe empolgada com uma viagem para liberar o cartão para as compras!
Aquela era a minha fase de sorte com a dona Beatriz.
Quando
voltamos para Guararema, cada uma correu para a sua casa. Antes de ir embora, a
Cá deixou bem claro que eu não precisaria me preocupar com a organização do
Gueto. Meu foco deveria ser o meu plano – mesmo que ainda ele não existisse, de
fato.
A
primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi terminar de arrumar a minha
bagagem. Joguei todos os itens que faltavam de qualquer jeito dentro da mala,
separei a roupa que usaria para ir ao aeroporto no dia seguinte e organizei a
minha bagagem de mão – que se resumia a carteira, um livro, carregador de
celular, gloss e prendedor de cabelo.
Na
sequência liguei para o Alê para pedir uma carona. Com algum custo, consegui
convencê-lo a chegar mais cedo à festa, mas no fim ele topou me ajudar.
Definido
esses detalhes, disparei para o banheiro, tirando a roupa e jogando de qualquer
jeito no chão pelo caminho.
Depois
de uma ducha relaxante e caprichada, voltei ao meu quarto focada no objetivo
principal da noite. E o primeiro passo para o meu plano se tornar real seria
caprichar na produção. Para começar, peguei o secador, o notebook e voltei para
o banheiro. Depois de rever algumas vezes o tutorial de como deixar os cabelos
com suaves ondas no Youtube, sequei um pouco os fios deixando-os úmidos, depois
enrolei algumas mechas com meias velhas e passei um fixador. Fiquei parecendo a
dona Florinda, mas desde que funcionasse, estava valendo.
Enquanto
as meias e o fixador faziam seu trabalho, passei para a maquiagem. Também havia
pesquisado um tutorial de make para o carnaval em um desses blog que falam
sobre maquiagem. Como tinha um pouquinho mais de experiência no assunto, essa
parte seria mais fácil.
Para
entrar no clima de “poderosa”, selecionei uma música da Anitta para tocar
enquanto trabalhava.
***
Link para música – https://www.youtube.com/watch?v=w1vNtmh1SqU
***
“Não
dá mole, vem pra cá
Não
tem hora pra acabar
O
clima tá esquentando
Eu
só vim avisar
Se
pensou que ia desistir
Não
precisa se iludir
Não
sou daquelas que pedem pra parar
Pra
parar”
No
ritmo da canção, caprichei no delineador fazendo um leve puxado de “gatinho”,
no rímel e no lápis de olho. Usei uma sombra com brilho suave na lateral para
dar um “pá” diferente no olhar e passei um batom rosa, não muito forte para não
“roubar a cena” do olho marcante. Gostei do que vi ao checar o resultado final
no espelho. Como era carnaval, eu poderia ousar um pouco mais. Mesmo assim, a
make não havia ficado tão carregada ou pesada.
Contente
com a primeira fase concluída com sucesso, passei à fantasia. Na parte de cima,
eu usaria um top cropped com alças e detalhes bordados em formato de concha nos
seios. A peça era delicada e feminina, realçando o meu colo e deixando um pouco
da barriga à mostra, mas não de forma exagerada. Para completar, havia uma saia
cintura alta verde que descia justa até a altura dos joelhos. Dali, ela abria
na parte da frente deixando um pedaço das minhas pernas expostas e seguia na
parte de trás com um efeito simulando a cauda da sereia. A saia era verde
escura e com um efeito brilhante no tecido que lembrava as nadadeiras da
sereia.
Aproveitei
que estava com o cartão da minha mãe naquela tarde e comprei um scarpin divino verde
que combinou perfeitamente com a produção. Não era sempre que a dona Beatriz
resolvia ficar tão boazinha, então era melhor aproveitar...
Para
encerrar, separei brincos e colares de pérolas claras. Escolhi aqueles
acessórios por conta da alusão de virem das ostras do fundo do mar.
Agora
só faltava o cabelo. Com medo do resultado final, retirei as meias enroladas
nos fios e me surpreendi com o resultado. Não é que funcionava mesmo? Leves
ondas davam o volume perfeito para as minhas madeixas.
Dei
uma geral no espelho de corpo inteiro que ficava ao lado do guarda-roupa. A
primeira missão do dia estava concluída.
Produção
impecável, bonita e sexy, mas sem ser vulgar: confere.
-
Já está tudo pronto... Uaaaaauuu! – minha mãe entrou com tudo no quarto e parou
de súbito ao me ver – Filha, como você está linda! – ela veio até mim, segurou
uma das minhas mãos e me fez dar um giro completo para analisar a produção –
Caprichou, hein?
Sorri,
convencida – Como estou de sereia? – perguntei.
-
Linda! Vai ter um monte de pescador querendo que você caia na rede deles
– ela brincou, agora ajeitando um detalhe aqui e ali no meu cabelo e roupa –
comportamento típico de mãe.
-
Hãã... Acho que prefiro um surfista querendo me levar na sua prancha – comentei
em voz baixa.
-
Oi? O que você disse, filha? – minha mãe tirou a atenção do que estava fazendo
para me lançar um olhar confuso
-
Nada não, mãe. Nada não... – desconversei – Bom, vou indo que ainda preciso
ajudar na organização do Gueto.
-
Certo. Já deixou tudo pronto para amanhã?
Apontei
a mala abandonada no canto do quarto como resposta
–
Que ótimo! Conseguiu comprar tudo o que faltava?
Confirmei
com a cabeça, ansiosa. Por que as mães sempre decidiam puxar conversa nos
piores momentos?
-
Então nada de ficar até tarde nessa festa, hein? Amanhã temos que chegar cedo
ao aeroporto.
-
Fica tranquila, mãe. Tenho tudo sobre controle – menti. Naquela noite, nada
estava sobre controle – Agora preciso ir. Beijo, beijo – falei, pegando uma
bolsinha de mão qualquer na gaveta e jogando celular, batom e chave dentro. Nem
me preocupei em combinar o acessório. Provavelmente ela ficaria jogada no
quarto da Carol e eu só lembraria dela quando precisasse de algo... Cheguei até
a porta, só para voltar com tudo para trás: havia me esquecido do perfume!
Minha mãe riu da minha distração.
Depois
de tudo certo, desci as escadas apressada, rezando para tudo desse certo.
“Por
favor, Deus, me ajuda a bolar um plano. Me ajuda a bolar um plano.” – repeti
baixinho enquanto caminhava até a casa do Alê. Passei pelo muro baixo que
delimitava o limite da propriedade e pelo jardim extremamente florido – dona
Melissa amava plantas.
Eu
adorava aquela casa. Tratava-se um sobrado com janelas de madeira e vitrôs
coloridos, pintada em um tom de roxo delicado. Apesar de parecer ser “muita
informação”, todos os elementos se conversavam e formavam uma combinação
harmônica que dava um ar convidativo ao lugar.
Toquei
o interfone. Eram exatamente sete da noite. Pelo combinado, eu já deveria estar
no Gueto a, pelo menos, uma hora. Na certa, a Marília já estava querendo me
matar.
-
Uaaauuu! Como você está linda. Gabs – a mãe do Alê exclamou ao abrir a porta
para mim – Filho, tem uma sereia te esperando aqui embaixo! – gritou para que o
meu amigo pudesse ouvir.
Menos
de um minuto depois, o Alê apareceu vestido com o uniforme completo da Seleção
Brasileira e uma peruca gigante.
-
Você vai de David Luiz? – indaguei, surpresa.
-
Não curtiu? – ele fez um gesto com as mãos como se estivesse demonstrando a
fantasia.
-
Ai Alê, só você! – ri da descontração do meu amigo. Eu adorava a sua
espontaneidade.
-
Meninos, aproveitem a festa! E filho, já sabe, né? Nada de beber – dona Melissa
alertou antes de dar um beijo na testa do skatista.
-
Fica tranquila, mãe! Se a gente não voltar até o dia amanhecer é porque fugimos
para Las Vegas – ele brincou ao atravessar a porta.
-
Sem mim? Jamais! Se você for e não me levar, nunca mais deixo você entrar em
casa, entendeu? – ela se fez de ofendida.
-
Você tem que entender que não dá para levar a mãe em viagens como essa... – meu
amigo respondeu em tom sério, como se de estivesse realmente considerando a
hipótese.
Fiquei
observando a “discussão”, rindo sem parar. Eu não aguentava aqueles dois! Nem
de longe pareciam mãe e filho.
-
Isso porque você não sabe o que sou capaz de fazer – ela retrucou, desafiadora.
-
Então, beleza. Se a gente fugir para Vegas passo aqui para te pegar. Agora
vamos, Gabi. Beijo mãe! – se despediu antes de passar a mão pelo meu braço, me
conduzindo até o carro e dando a discussão por encerrada.
Entramos
na Ecosport – ele abrindo a porta para mim como um perfeito cavalheiro - e
depois de dar partida e ligar o som – a trilha sonora da noite era música
eletrônica – ele olhou sério para mim.
-
Que foi?
-
Nada... Só estava aqui pensando com as minhas madeixas – passou a mão pela
peruca para fazer graça – o que você está aprontando...
-
Eu? Por que?
-
Gabriela, eu não sou bobo. Te conheço desde quando você era uma pirralha – foi
dizendo enquanto manobrava para tirar o carro da garagem – Eu sei que o clima
está tenso entre você e a Mari. Também sei que todos os anos você chega super
cedo no Gueto para organizar tudo, porém – fez uma pausa dramática tirando o
foco da direção para olhar para mim por um instante – esse ano você ainda está
aqui, mais preocupada em fazer uma produção matadora do que cuidar dos
preparativos da festa. Considerando que meu primo está no meio desse rolo entre
você e a Marília, tudo me leva a crer que você está aprontando algo para ele.
Fiquei
impressionada. Para um garoto, o Alê era bem observador!
Tentei
encontrar algo para falar, mas só a minha reação entregou tudo: fiquei
vermelha, mexendo nos cabelos sem conseguir pensar em uma desculpa de modo
rápido.
-
Arrá! Eu sabia! – o David Luiz fake comemorou.
-
É que, não sei se você sabe, mas está rolando um boato de que a Nathy está afim
do Edu. E parece que a Mari está ajudando ela nesse “processo”. E claro que eu
fiquei chateada! Poxa, ela sabe que estou ficando o seu primo. Por que ela está
agindo contra mim? – resolvi abrir o jogo. Não adiantava esconder nada dele mesmo
– Para complicar a situação, seu primo se comporta como se fosse meu melhor
amigo na frente das pessoas. Não entendo porque ele faz isso! Já faz um tempão
que estamos ficando, mas parece que ele tem vergonha de mim...
O
skatista ficou em silêncio por um momento olhando para os dois lados antes de
dobrar uma esquina. Quando começou a falar, sua voz estava baixa e grave – Ele
não tem vergonha de você. Ele tem medo.
-
Medo? Como assim? – aquilo era novidade para mim.
-
É elementar, minha cara – arqueou as sobrancelhas em mais uma de suas gracinhas
– Coloque-se no lugar do cara: ele acabou de chegar na cidade e logo de cara,
PÁ! Já trombou com você, literalmente. Claro que rolou um clima logo de cara:
você é bonita, gente boa, joga truco, tem os “paranauê” de Julieta. Chama a
atenção, saca? Não é algo que se encontra em qualquer garota por aí...
-
Nada a ver isso! Sou tão normal...
-
Você que pensa! Mas não me interrompe, menina! Deixa eu terminar – levantou o
dedo, fingindo autoridade. Assenti com a cabeça, e ele continuou – Até aí,
beleza. O cara gostou de você, você gostou do cara, vocês ficam na maior
pegação todo dia...
-
Opa! Também não é assim... – protestei.
-
Ahan. Sei que não é... – seu tom era irônico – Mas como eu ia dizendo – ele me
lançou um olhar que dizia “não me interrompa mais” – uma de suas melhores
amigas surge na história e começa com uns papos “bravos” de “ela vai se
machucar” e “cuidado com a nossa bonequinha porcelana”. Na sequência, essa
mesma pessoa se oferece para ser sua “brother” e, de quebra, te apresenta uma
outra amiga gata que, adivinha! Também está afim de você! É ou não é para ficar
confuso?
-
Ok, eu entendo que a Mari está complicando a situação. Mas isso não justifica o
medo do Edu de ficar comigo na frente das pessoas – retruquei.
-
Gabi, você já ouviu aquela música “Ê, ê, ele não é de nada... Essa cara
amarrada é só um jeito de viver nesse mundo de mágoas”? – cantarolou de modo
bem desafinado.
-
Nossa, essa música já é velha pra caramba... – comentei.
-
Então, mas é perfeita para o Edu. Ele se faz de marrento, de dono do próprio
nariz, mas no fundo tudo isso é só pose. O cara tem medo, entende?
Balancei
a cabeça, negando só para fazer o Alê soltar o ar pesadamente, irritado.
-
Pensa um pouco, Gabi! Não é você que ele tem medo de machucar. É ele próprio!
Meu primo tem medo de arriscar! O cara acabou de chegar na cidade, está em uma
cidade nova e um grupo novo. Claro que ele não quer desagradar os novos amigos,
entendeu? Senão ele vai acabar sozinho. Por outro lado, por mais que
goste de você, ele não quer se apegar. Não quer correr o risco de não dar certo
e quebrar a cara, ou de se envolver e assumir o risco. Ele quer ficar na dele,
seguindo a linha que, se não incomodar ninguém, não vai ter problemas.
Caramba!
Nunca tinha parado para analisar o Edu daquela maneira. Mas tudo o que o Alê
dissera fazia sentido. E quem poderia imaginar que toda aquela marra, na
verdade, era covardia?
-
Mas e agora? O que eu faço? – mesmo com todas as explicações, eu ainda
continuava confusa.
-
Tire ele da zona de conforto. Desafie-o – meu amigo disse como se fosse algo
muito simples. Para mim, parecia super complicado.
-
Falar é fácil, né? Quero ver fazer – cruzei os braços na maior pose de menina
“birrenta”.
-
Calma, eu vou te ajudar – ouvi o Alê falar em tom conciliador – Só o convença a
vir para a festa. O resto, deixa comigo! – piscou de modo amigável enquanto
estacionava o carro na frente da casa da Carol. Estendi a mão para ele e
fizemos um hi-five. Eu acabara de ganhar mais um aliado naquela “guerra fria”.
___________________________________
Notas
finais: E aí? O Edu vai ou não aparecer nessa festa? E o que a Gabs vai
aprontar?
É,
como diz a música “o clima está esquentando...”.
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Oiieeee.... xD
Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!
Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*
Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*
E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!