Capítulo 17 - Desejos e bruxas

Notas iniciais: Meninas,

Eu ia pular direto para a próxima parte, mas aí me toquei que até agora a Any não teve nenhum desejo, né? E que grávida seria ela sem ter nenhum desejo estranho, né? Por isso, coloquei essa cena "bônus" aqui. Espero que aproveitem!

Bora pro primeiro cap do ano?

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No capítulo anterior...
 

- Bom, já que estamos todos aqui reunidos dividindo confissões, eu também tenho algo para anunciar – A Rafa chamou a atenção para si. Ela tinha uma expressão séria no rosto, o que me fez pensar que não vinha coisa boa por aí.
 

A loira respirou fundo e soltou de uma vez – Eu estou indo embora.
 

Ponto de vista da Anita
 

Oi? Como é que era? Como assim a Rafa ia me deixar daquele jeito? Sem me avisar, sem nada, sem nem um “agradinho” antes para amenizar o “baque... Justo agora que a Trupe estava reunida novamente, vinha a minha empresária com esse papo “brabo”? Isso não era justo!

Olhei ao redor e reparei que todos estavam sem palavras diante aquela revelação. O André estava com o queixo caído, a Malú havia engasgado com o suco que estava bebendo e o meu marido encarava a loira com cara de perdido. Mas nada se comparava à expressão de desespero da Dora. A “secretária-barra-babá-barra-faz tudo” começou a soluçar e tremer de tanto chorar.
 

- Isso quer dizer que eu vou perder o meu emprego? – A Dora conseguiu falar enquanto tentava controlar o choro. Ela estava tão mal que o seu corpo tremia inteiro. Fiquei até com dó da pobre coitada... Ao ver todo aquele pranto, a Vick também desembestou a chorar, o que só piorou ainda mais toda a situação.
 

-Calma Dora, calma! Vai ficar tudo bem... Eu conheço muito pessoas, posso te indicar. Você tem ótimas referências, é super eficiente... – A loira tentou consolá-la pegando a Vick do seu colo, tentando fazer a filha parar de chorar também. Foi difícil, mas depois de uns quinze minutos, muitas palavras de consolo e alguns tapinhas nas costas, a Dora e a Caramelo, enfim, se acalmaram.
 

- Agora que a situação está sob controle, eu E-XI-JO explicações! Rafaela Prado, que história é essa de deixar o país? Quem colocou essa ideia AB-SUR-DA na sua cabeça? – O André intimou a Rafa. Como estava nervoso, o diretor se esqueceu de controlar o seu jeito de falar e a sua fala acabou saindo cheia dos seus “tiques”. Isso sempre acontecia quando ele estava “exaltado" demais.
 

- Não é uma ideia absurda! – Ela se defendeu – Mas eu acho que é hora de pensar um pouco em mim, entende? Acho que por toda a minha vida eu sempre dediquei à alguém. Primeiro o Caio, depois o Murilo, a Anita... – Sua voz soava triste o que fez o meu coração doer dentro do peito - Por isso estou de mudando para Nova York. Quero estudar moda lá. O pessoal da minha editora acredita que eu posso ter muito sucesso nesse ramo. Afinal, o meu primeiro livro está entre os mais vendidos do país até hoje...
 

- Mas isso já está certo? Tipo... Você já tem uma data para partir? – A Malú perguntou depois que conseguiu se recuperar do “acidente” com o suco.
 

- As coisas já estão mais ou menos encaminhadas. Como eu disse, o pessoal da editora está me ajudando com tudo. Eles até conseguiram um emprego para mim como colunista de moda em uma revista para brasileiros que circula lá por Nova York! Não é demais? – A Rafa sorriu empolgada e eu senti como se estivessem abrindo um buraco no meu estômago. Quanto mais ela falava, mais grave a situação ficava.  Eu estava muito ferrada para reverter aquele quadro!
 

- Enfim... as coisas estão caminhando, e se tudo der certo, em no máximo cinco meses eu já estou levantando voo – A loira continuou, esbanjando otimismo e empolgação. Aff! – Claro que vou esperar até a gravação do DVD do Luan, né? Não vou perder isso por nada!
 

- É “nóis”, Rafinha! Esse DVD vai ficar top demais, “cê” vai ver só! – Meu marido fez um comentário completamente fora de contexto, o que me fez ter vontade de bater nele. O momento não era o melhor para ficar se gabando do seu novo projeto.
 

- Ahaaammm... – Pigarriei para chamar a atenção de todos – Assim... Será que você não está se esquecendo de nada, não? – Perguntei com a voz “escorrendo” ironia.
 

- Não Anita, eu não estou me esquecendo de nada – Ela me respondeu irritada – Eu já estou providenciando alguém para ficar no meu lugar e assumir o controle da sua carreira e a do Murilo. Você não precisa se preocupar.
 

- Tem certeza? Da última vez que você arrumou alguém para ficar no seu lugar eu tive toda a minha vida vendida para os paparazzi’s – Disse, me referindo à Monique, que trabalhara como assistente da Rafa na época em que a minha empresária ficou grávida. Eu sabia que não era o momento para brigar com ela, mas não resisti. A raiva tomou conta de mim. Como ela poderia decidir toda a vida dela, ou pior, tomar decisões sobre a minha vida daquela maneira? Sem nem me consultar, como se não se importasse comigo...
 

- Já disse que você pode ficar tranquila! Estou me precavendo de várias maneiras e fazendo entrevistas minuciosas com todos os candidatos. Dessa vez só o mais capacitado será escolhido – A loira me informou com a voz fria e profissional. Pelo jeito ela ainda estava magoada comigo. Será que era por isso que ela queria ir embora de vez? – Além disso, ainda vou ficar para te acompanhar em alguns compromissos que já estavam agendados. Como eu já estou por dentro de toda a situação atual, acredito que dessa maneira será mais fácil. Depois que tudo se acalmar, que resolvermos essa “crise” que estamos enfrentando no momento, então o novo empresário poderá assumir.
 

- Se tratando de Anita, quando é que as coisas vão se acalmar? – A Malú fez o comentário com a voz baixa, como se quisesse que ninguém ouvisse. Mas era claro que todo mundo ia escutar!
 

Fuzilei a fotógrafa com o olhar, mas ela apenas levantou os braços se justificando – É apenas a verdade, ué!
 

- E que tais compromissos são esses, Rafa? – O Luan tratou de mudar de assunto para acalmar o clima entre todos.
 

- A Anita tem algumas entrevistas em algumas revistas agendadas e dois roteiros de filme para analisar. Se gostar das histórias, então partiremos para a parte dos testes, contratos e etc. Também temos a continuação de “A Granfina e o Caipira” em negociação e a gravação do programa “Esquenta” ainda esta semana – Ela nos informou, assumindo a sua postura de empresária.
 

- Uiiiii! Esqueeeeeentaaaaa! – O André se empolgou imitando o famoso gesto do programa de colocar o dedo na boca e depois encostá-lo no bumbum, com direito até do barulho de “tssssiiii”.
 

- Se controla, seu maluco! – A Malú chamou a atenção do ex-namorado (ou atual, vai saber...), encarando-o de uma forma esnobe.
 

- Ihh, qual é, sua curica? Vai me julgar agora? Nem sou nada seu! – Ele retrucou respondendo, sem querer, a minha pergunta: Eles não eram mais namorados! Vixi, a “discórdia” andava solta naquela Trupe!
 

- Voltando ao que importa – A Rafa falou aumentando o seu tom de voz para chamar a nossa atenção – Eu estava pensando... Talvez pudéssemos aproveitar o Esquenta para resolver de vez esse “caos” que a separação de vocês causou. Pensem bem: O tema do programa é “A amizade”, e contará com a presença do Neymar, da Bruna, além de vocês, é claro. Estaremos todos em família, ou melhor, em Trupe. Acho que será a ocasião perfeita para anunciar que vocês estão juntos, que não se odeiam coisa nenhuma e que esse tempo separados não passou de um pequeno desentidido! Bom, e quem sabe vocês até podem aproveitar o embalo para contar ao público sobre... a Nicole. Mais cedo ou mais tarde vocês terão que fazer isso – A loira sugeriu de uma maneira delicada, pressentindo que o tema Síndrome de Down ainda era um pouco delicado para mim.
 

O Luan não disse nada. Apenas ficou me encarando, esperando para ver a minha reação.
 

- Huummm... Não sei. Preciso pensar sobre isso! Sem dúvidas a ideia é boa, mas... Eu queria aproveitar um pouco mais esse clima de “namoro escondido” com o meu marido – Pisquei para ele que retribuiu o meu gesto – E a Nicole... Não sei se quero expor a minha filha desse jeito. Quero protegê-la o máximo que eu puder...
 

- Mas Ní, a Rafa está certa! Mais cedo ou mais tarde teremos que contar... – Ele tentou me fazer mudar de ideia.
 

- Eu sei, eu sei... Prometo que vou pensar, ok? – Eu sabia que aquilo era o melhor que iria conseguir naquele momento: tempo para pensar.
 

- Tá certo! A gente tem até o final de semana para decidir! Não quero fazer nada que a Ní não queira... Até porque eu nunca mais quero brigar, ou ficar longe dela! Já aprendi a minha lição – O Lú falou me abraçado e me puxando ainda para mais perto de si. Ai como eu adorava quando ele me tratava assim, como se eu fosse a sua rainha.
 

- Vocês dois? Sem brigas? Aposto que essa reconciliação dura, no máximo, até a semana que vem... – A Malú não perdeu a chance de dar uma “alfinetada”.
 

- Deixa de rogar praga, sua mal-amada! – O André fez careta para a fotógrafa – BRILHA LUANITA, BRILHA! Pra SEM-PRE!
 

- Bom, acho que o nosso café da manhã já terminou, né? Então eu vou indo. Tenho uma porção de coisas para providenciar para a viagem ainda... Um bom dia para vocês! Dora, cuide da Vick até eu voltar, ok? – A Rafa se despediu e com um último aceno, nos deixou sozinhos na beira da piscina.
 

Não sei o porquê, mas aquele adeus mexeu comigo. Será que eu estava mesmo pronta para ver a minha melhor amiga ir embora?
 

***
A noite eu não consegui dormir. Fiquei me revirando de um lado para o outro na cama, o anúncio da Rafa me tirando a paz. Para piorar, por conta da minha barriga de seis meses de gravidez, ficava difícil encontrar uma posição confortável. Eu já estava sentindo saudades dos meus primeiros meses de gestação, quando eu “morria” de sono o tempo e inteiro e era só me “jogar” em qualquer canto para “sonhar com os anjos”. 

Tateei o outro lado da cama à procura do meu marido, mas não o encontrei. Na certa ele estava no estúdio cuidando das composições para o seu novo DVD. Eu mostrara a música que escrevi pensando nele quando estávamos brigados e ele adorou. Disse até que ia incluir no repertório do DVD. Claro que fiquei muito feliz com aquela notícia! Eu sabia o quanto aquele projeto era importante para o Lú e ter uma composição minha, feita para ele, entre as cancões que seriam gravadas me enchia de orgulho, além de me fazer sentir útil, verdadeiramente parte da vida dele.
 

Fui na ponta dos pés até o estúdio apenas para constatar o que eu já sabia. Ele estava no telefone, provavelmente falando com o seu produtor Dudu sobre o arranjo de alguma canção.
 

Fechei a porta sem fazer barulho para não atrapalhá-lo. O dia da gravação estava quase chegando e eu sabia que ele tinha muito trabalho pela frente. Além do mais, alguém precisava trabalhar naquela casa para sustentar a nossa família...
 

Voltei para dentro e acabei parando na cozinha, onde abri a geladeira e ataquei tudo o que vi pela frente.  De sorvete de chocolate ao resto da salada de brócolis, comi tudo, parecendo uma morta de fome. A ideia era afogar todas as minhas mágoas na comida.
 

Da onde estava, eu ouvia a Divinha chorando lá fora. Combinamos que revezaríamos, e cada dia um mascote ia dormir conosco dentro da casa e o outro no espaço perto da piscina. Tudo isso para evitar brigas entre cão e gato. Claro que a minha cadela não tinha gostado nada daquilo, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Enquanto aquele felino fedido estivesse por ali, era assim que teria que ser...
 

Peguei um pedaço de biscoito de chocolate e joguei na cabeça do Faísca com raiva. Infelizmente, ele comeu o biscoito e interpretou o meu gesto como uma tentativa de amizade, porque se aproximou de mim, ronronando.
 

- Sai daqui, Faísca! Eu não sou sua amiga! – Ralhei com ele em vão. O gato continuou se esfregando na minha perna, fazendo manha.
 

Fechei a geladeira e fui até a bancada para sair de perto dele. Dali comecei a analisar a cesta de frutas. Havia uma variedade grande: maçãs, peras, bananas, goiabas...
 

Hum... De repente me deu uma vontade de comer um kiwi... Não, melhor! Doce de leite com kiwi!
 

A vontade veio com tudo. O desejo era tão forte que já sentia a minha boca aguando só de imaginar o doce.
 

Saí correndo em direção ao estúdio, como se a minha vida dependesse daquilo. Eu precisava saborear aquele doce o mais rápido possível.
 

- Luan, Luan... me ajuda, pelo amor de Deus! – Entrei aos berros, atrapalhando a conversa que ele estava tendo com alguém por Skype.
 

- Que foi, “Paxão”? Que foi? – Ele largou o violão e veio até mim, desesperado.
 

- Lú, eu PRE-CI-SO comer doce de leite com kiwi. Pelo amor de Deus, minha vida depende disso! Se eu não comer, sei lá... Acho que a Nicole não vai ser uma criança feliz. Imagina, nossa filha já vai nascer traumatizada e toda vez que ver um kiwi vai cair no choro inexplicavelmente, sem entender que a culpa é minha que não comi doce de leite com kiwi quando estava a esperando – Exagerei no drama, sentindo cada vez mais a vontade de comer aquela “iguaria”.
 

- Minha Nossa Senhora, Anita! “Cê” quase me mata do coração! Achei que tivesse acontecido alguma coisa com você ou com a Nica... – Meu marido respirou aliviado, voltando a se jogar na cadeira.

- É Nick, Luan! Ou melhor, Nick-Cara-De-Doce-De-Leite-Com-Kiwi se eu não comer isso AGORA! – Enfatizei a minha necessidade.
 

- Tá certo, Ní! Podexá comigo! Vou resolver o seu problema agora! – Ele me respondeu com o ar confiante antes de sair em direção à cozinha, pegar duas tampas de panela e depois caminhar até a sala. Fui atrás dele sem entender nada. Estaria o Luan pensando em fazer algum truque de mágica? Tipo, ao invés de tirar o coelho da cartola ele ia sacar um pote de doce de uma das tampas de panela?
 

- ATENÇÃO CAMBADA! ALERTA VERMELHO, ALERTA VERMELHO! REUNIÃO DA TRUPE NA SALA EM CINCO MINUTOS! – De repente o Luan interrompeu os meus devaneios batendo uma tampa na outra e gritando como um doido. O barulho era tão ensurdecedor que eu quase caí para trás de tanto susto. Precisei tapar os ouvidos para resistir aquele “despertador improvisado”.
 

Aos poucos as luzes no andar de cima foram se acendendo e o pessoal surgindo na sala. Todos estavam de pijama e com a maior cara de sono. A última a descer foi a Rafa, que precisou correr até o quarto da Vick para acalmar a filha. Só quando a Caramelo voltou a dormir é que ela apareceu.
 

 - Tá “loco”! Ninguém mais dorme nessa casa? É todo dia uma emoção diferente! – A Malú reclamou coçando os olhos de tanto sono.
 

- Espero que seja algo... realmente importante, porque vocês estão atrapalhando... o meu sono de beleza – O André disse entre um bocejo e outro.
 

- É o seguinte, pessoal! A Ní teve um desejo! Ela quer comer doce de leite com kiwi. E agora? Onde eu vou arrumar esse “trem” a uma hora dessas? – Meu marido expôs o seu problema.
 

- Bom, o primeiro passo é descobrir onde encontramos doce de leite com kiwi... – A Rafa sacou o seu celular do bolso do pijama e digitou algo na tela – Aqui! 120 resultados para “venda de doce de leite com kiwi em Londrina”. Caramba, vender esse tipo de sobremesa dá dinheiro pelo jeito, hein? Deve ter muita procura...
 

- E tem algum lugar aqui perto do condomínio? -  O Luan já se animou com o resultado da pesquisa.
 

- Hum... Tô olhando aqui... – A loira foi correndo o seu dedo pela tela enquanto todos nós a encarávamos com ansiedade – A revenda mais perto fica... Nossa, é muito longe! Láááá na zona rural, em uma estradinha de terra. O nome da fazenda é “Fazenda Nosso Doce – Fabricação de doces e compotas em geral”. Original esse nome, não?
 

- Ahh, não quero nem saber do nome! Eu quero é o doce! – Respondi, apressada - Eu preciso, necessito, minha vida depende de comer esse doce!
 

- Tem o endereço, Rafa? Bora ir lá buscar? – Meu marido perguntou já pegando as chaves dos carros.
 

- Milagrosamente, o endereço consta no Google Maps! Mas como vamos até lá a essa hora? Está muito tarde, não vão querer nos atender! E pode tratar de sossegar aí, Luan! Você e a Anita já aprontaram muito no lançamento do meu livro. Não quero que saia amanhã na imprensa que você bateu na porta, ou porteira, seja lá como for... Enfim, que você foi até uma fazenda no meio da madrugada querendo comprar doce! – A empresária tratou de acabar com a empolgação do meu marido que até “murchou” depois da “bronquinha” que ouviu.
 

- Eu vou, eu vou! Afinal, de doce eu entendo porque sou do-ce, do-ce, do-ce – O André anunciou com tom de “sou o heroi da noite”.
 

- Eu vou com você! Para te dar cobertura! – A Malú emendou pulando do sofá, despertando do seu sono, de repente.
 

- Mas são 4h30 da manhã! Como vocês vão fazer isso agora? – A Rafa bateu na mesma tecla.
 

- Eu dou o meu jeito! Curica, vamos! – O diretor chamou.
 

- Mas vocês vão de pijama? – Perguntei, assustada. Não queria que ninguém chamasse os meus amigos de loucos por saírem por aí vestindo roupas de dormir. Tudo bem que eles eram um pouquinho loucos sim, mas só eu tinha o direito de dizer isso deles!
 

- Anita Tunice Santana, apenas relaxe! Quando você menos esperar, eu estarei de volta com o seu doce! – O André me garantiu confiante antes de sair, seguido pela Malú.
 

- Já que a situação está sob controle, eu vou voltar para a cama, ok? Se precisarem de qualquer coisa, é só me chamar – A Rafa voltou a subir. Era impressão minha ou ela estava cada vez mais distante de mim? Há algum tempo atrás ela ficaria fielmente ao meu lado até o André chegar e se certificaria que eu comeria doce até matar toda a minha vontade. Ai meu Deus, será que aquele era o fim da nossa amizade? Será que eu e a Rafinha nunca mais voltaríamos a nos entender? E se ela me largasse mesmo, quem ia escolher as minhas roupas, sapatos, fazer as minhas maquiagens... Tudo bem que eu estava em uma “onda” de ser independente e tudo mais, mas... eu ainda precisava da Rafa! E muito! Quem mais toparia ser a minha melhor amiga? Ou melhor, minha irmã!
 

- Vem cá, “Paxão”! Vou cantar umas modas novas pra te distrair enquanto o seu doce não vem! “Cê” vai ver só, quando você piscar o olho o André já vai estar aqui de volta... – O Luan tentou me acalmar, me tirando do meu “drama” particular.
 

Para o meu azar, o “piscar de olhos” do meu marido demorou mais de duas horas. Nesse meio tempo, nós tocamos violão, namoramos um pouco, conversamos, contamos piada, assistimos TV, tiramos um cochilo e eu voltei a assaltar a geladeira com o Lú atrás de mim falando que eu deveria pegar leve, senão eu ia ficar parecendo uma “bolinha”. Aff, homens!
 

Já estava quase desistindo de esperar quando a Malú, finalmente, deu sinal de vida. - Equipe do Camaro Amarelo chamando Toca, Equipe do Camaro chamando Toca. Toca, por favor, responda!
 

- Malú, pelo amor de Deus, por que você está falando desse jeito? Vocês estão brincando de Missão de 007 ou estão atrás do meu doce? – Rebati, azeda.
 

- Atenção às coordenadas equipe da Toca: Já temos o alvo a bordo e estamos nos aproximando de casa. O alvo não tinha o objetivo da missão pronto, mas tinha os ingredientes necessários para fazê-lo. Estamos levando tudo para aí, mas precisamos que vocês se disfarcem, porque falamos para o alvo que o doce é para um casal de gringos que está hospedado em nossa casa. A história que vendemos é a seguinte:A mulher está grávida e teve esse desejo, porém ela voltará para a Espanha pela manhã e PRE-CI-SA matar esse desejo antes de embarcar. Por isso saímos dirigindo como loucos pela madrugada. Não podemos deixar a nossa hospede ir embora do Brasil passando vontade, seria muita falta de hospitalidade... – A Malú me explicou de forma apressada, atropelando as palavras. Ela devia estar em algum lugar aberto, porque eu mal conseguia ouvi-la por causa do barulho - Certo, o André já terminou de abastecer, vou voltar para o carro. Preparem tudo, chegamos logo! Câmbio, desligo! – A fotógrafa esclareceu as minhas dúvidas e desligou, me deixando falando sozinha.
 

- E aí? – Meu marido esperava ansioso por notícias.
 

- Se eu entendi bem, eles estão trazendo a pessoa que faz os doces junto com os ingredientes para cá. Para essa pessoa, a Malú e o André são os donos da casa e nós somos um casal de gringos que estamos hospedados aqui. Para todos efeitos, nós embarcamos para a Espanha amanhã de manhã e por isso eu PRE-CI-SA-VA comer esse doce hoje, entendeu? – Tentei simplificar as difíceis coordenadas que a Malú me passara.
 

- Hããã... Não! – Ele coçou o cabelo fazendo cara de perdido.
 

- Tá, não tem problema! Só vem comigo! Siga-me os bons! – Puxei ele escada acima correndo para onde eu sempre corria quando as coisas fugiam do controle.
 

- RAFAAAAAAAAAAAAAAA! – Bati na porta do quarto dela. Ela veio meio cambaleando nos atender e eu lhe expliquei a situação rapidamente – E agora nós precisamos de disfarces! – Conclui, balançando as mãos, agitada.
 

- Disfarces? Bom, esse não é o meu forte, mas... posso ver o que tenho aqui – Ela me respondeu com os olhos brilhando, do jeito que sempre ficavam sempre que ia produzir os meus “looks” e “makes”.
A Rafa abriu o seu enorme closet (digno de uma gata garota) e em menos de meia hora ela improvisou dois disfarces perfeitos para nós. Eu realmente parecia uma gringa usando peruca loira estilo Chanel, óculos escuros que tampavam metade do meu rosto, um batom vermelho gritante e um enorme casaco de pele com sapatos de salto. Já o Luan trajava chapéu e sobretudo pretos, óculos escuros tão grandes quanto os meus, e um bigode fino que o fazia ficar com cara de francês, e não espanhol.
 

Ficamos prontos e descemos as escadas exatamente no momento em que a Malú irrompeu pela porta de entrada acompanhada por uma senhora que carregava uma panela enorme com muitos utensílios de cozinha dentro. Fiquei com medo assim que bati o olho na mulher. Ela parecia a bruxa do desenho da Branca de Neve: cabelo grisalho bagunçado, pele enrugada, nariz pontudo com uma verruga, olhos semi-cerrados que encaravam tudo com uma expressão de desconfiança. Senti um calafrio percorrer o meu corpo e me aproximei mais do meu marido como se quisesse que ele me protegesse.
 

- Então você é a grávida que está com desejo? – Ela perguntou me encarando de uma forma muito esquisita.
 

- Sí, soy yo – Com esforço, consegui lembrar da encenação e entrei na minha personagem, ainda parada no pé da escada.
 

- Pois bem, então você vai comer o melhor doce de leite com kiwi de todo o Paraná – Ela sorriu me mostrando os seus dentes amarelos – Mas eu preciso te contar um segredo... – Ela se aproximou de mim e tive vontade de sair correndo dali para sempre – Meus doces são mágicos. Não só pelo sabor, mas porque trazem a bonança para quem os come.
 

- A bonança? – Repeti me segurando para não tremer de medo.
 

- Sim, e muita boa sorte... – Ela me garantiu dando um sorriso “maroto”.
 

- Ahhhh, CHE-GA de conversa e vamos logo fazer esse doce, sua bru... digo, sua senhora tão simpática e amorosa – O André gritou empurrando a senhora em direção à cozinha.
 

Os preparativos começaram. Enquanto mexia na panela gigante, a “bruxa” cantava uma música estranha em uma língua mais estranha ainda que eu nem queria saber o quê significava.
 

O jeito agora era esperar... Saquei meu celular e comecei a mexer no meu “Pou” que estava completamente abandonando. Meu Deus, se eu cuidasse da Nicole como cuidava daquele bichinho a minha filha jamais passaria de nível...
 

*** 

Esperei, esperei, esperei e esperei... Esperei tanto que até tirei um cochilo no sofá da sala. Quando me acordaram, o dia já estava claro.
 

- “Paxão”, vem que o doce tá pronto – O Luan me chamou com jeito de quem também tinha tirado um cochilo.
 

Segui até a cozinha, me sentei na bancada e esperei que a bruxa me servisse. Pelo jeito todo mundo já tinha ido dormir, porque estávamos só eu e Luan ali.
 

- Pronto, aqui está! Espero que goste – A velhinha estranha disse me estendo um pote com doce dentro.
 

Experimentei a primeira colher e... Huummmm! Já diria a Ana Maria Braga: Solta os cachorros! O doce estava maravilhoso!
 

- E aí “Paxão”? Era desse mesmo que você estava com vontade? Tá gostoso, Anita? – A expectativa era tanta que o Luan esqueceu que deveria fingir que era um gringo e me perguntou com o seu sotaque “caipira” inconfundível, entregando a nossa verdadeira identidade.
 

- Ahhhh, eu sabia que eu conhecia vocês de algum lugar! – A “senhorinha” exclamou – Seus enganadores! Traidores! Minhas netinhas choraram a semana inteira pensando que Luanita tinha acabado! Vocês sabem quanto doce eu tive que fazer para acalmar o coração das duas? Agora vocês vão me pagar! – Ela gritou levantando a colher de pau que estava usando para mexer o doce e saindo correndo em nossa direção de uma forma muito ameaçadora. Nunca pensei que uma velhinha poderia ser tão perigosa, mas aquela ali me fez tremer na "base".
 

- AAAAAAAAAAHHHH! – Eu e o Luan olhamos um para o outro e gritamos, antes de corremos cada um para um lado – Vai Ní, se salva! Eu seguro a “veia” doida! - Ele tentou me ajudar.
 

Nesse instante, eu não sei como, a Divinha entrou correndo na casa, encontrou o Faísca na cozinha e aí a confusão piorou de vez. Novamente o Faísca se escondeu em cima do armário da cozinha, só que dessa vez escolhendo a estante próxima do fogão para se refugiar. Na tentativa de pegar o gato, a Divinha pulava e latia, quase derrubando o tacho de doce no chão. O problema é que eu ainda não tinha saciado todo o meu desejo, então, em um ato de muita coragem, me posicionei em frente ao fogão e tentei conter a briga entre a Divinha e o Faísca.
 

Foi aí que a bruxa veio em minha direção e me acertou no braço com a colher de pau. Para me proteger, o Luan saltou em cima dela com tudo e fez todos nós cairmos no chão, derrubando todas as xícaras e utensílios de cozinha que haviam no armário em cima de nós.
 

- Mas ninguém dorme mais nessa casa? SO-COR-RO! – O André irrompeu pela cozinha, irritado. Ao ver a nossa situação, ele ficou estático, completamente em choque, sem saber como agir.
 

- Anita, pelo amor de Deus, cuidado! O seu bebê! – A Rafa, que estava logo atrás do diretor, correu para me ajudar a levantar. Eu estava com uma baita dor nas costas, mas por sorte eu tinha conseguido me esquivar bem na hora e assim evitei que a bruxa e o Luan caíssem em cima de mim.
 

- “Paxão”, como você está? E a Nica? Minha Nossa Senhora, que foi que eu fiz? – O Luan perguntou, desesperado.

- Calma, calma, tudo vai ficar bem! – A Malú correu para acamlmá-lo.
 

- Eu vou é embora dessa casa! Só tem louco nesse lugar! Eu deveria ter desconfiado desses dois batendo na porta da minha casa de pijama! Mas eles me ofereceram um bom dinheiro, aí eu não tive como negar! Mas agora chega! Eu vou me aposentar! Nunca mais vou fazer doce na minha vida, nunca mais! – A “veia doida”, como diria o Lú, saiu correndo de casa mancando, com a Divinha latindo no seu calcanhar.
 

- E aí, Anita? Como você está? – A Rafa quis saber, preocupada.

- Eu tô bem. Eu acho... – Respirei fundo e voltei a me sentar na bancada colocando a mão na minha barriga. Eu não sentia nenhuma dor diferente, além de um leve incomodo nas costas, então tudo deveria estar ok – É sério, nós estamos bem! Foi só o susto...
 

- Um susto digno de vídeo-cassetada, né? – A Malú não perdeu a chance de me zuar.
 

- Mas amanhã de manhã “cê” vai no médico fazer todos os exames! Deus me livre acontecer qualquer coisa com vocês! – Meu marido veio até mim e me abraçou por trás, todo carinhoso – É sério, não “guento” viver sem você não, “muié”. Sem você e nem sem a Nica!
 

- Céus, acho que agora eu posso FI-NAL-MEN-TE dormir, né? Por causa de vocês o meu sono de beleza está seriamente comprometido! Já posso até ver as rugas no meu rosto! – O André começou a reclamar, fazendo mais drama que o habitual.
 

- Pô cara, olha o que a gente conversou... “Manera aí” – Meu marido chamou a atenção para o jeito do diretor.
 

- Ahhh, quer saber? Danem-se vocês! Fui dormir! – O Dé perdeu a paciência e saiu em direção ao seu quarto.
 

- Eu vou também! Foi só a Anita voltar para casa que a Toca voltou a bombar! – A Malú comentou também deixando a cozinha.
 

- E bota bombar nisso! Já tinha até me esquecido como era ter uma Anita em casa! – A Rafa riu – Bom, eu também vou indo... Boa noite... ou bom dia para vocês.
 

Aproveitei que estávamos sozinhos e corri até o fogão. Graças a Deus a panela de doce ainda estava inteira e eu comecei a comer ali mesmo, no tacho.
 

- Ô “Paxão”, a gente precisa conversar – O Luan veio até mim, sério – Não dá mais para ficar assim, não! A gente precisa contar toda a verdade para os nossos fãs. Vamos seguir o conselho da Rafinha, vai! Bora contar tudo no Esquenta! – O Lú me pediu fazendo “cara de cãozinho sem dono”, o que ele sabia que eu não conseguia resistir.
 

- Tá bom, tá bom... – Concordei com a boca cheia. Eu não sabia se era a minha vontade enorme de comer o doce, mas estava divino! - Acho que está mesmo na hora de contarmos tudo. Até porque essa história tá ficando perigosa. É "pranchetada" do André, "colherada de pau" de "veia" doida... Quero nem ver qual será a próxima que vão inventar! - Brinquei fazendo o Luan cair na risada.
 

- E como nós vamos fazer isso? – Ele quis saber, roubando um pouco de doce da minha panela.
 

Parei por um segundo para pensar. Eu tinha dois problemas para resolver. O primeiro era acabar de vez com aquela história de divórcio e contar para os fãs sobre a Nicole. O segundo era impedir que a Rafa viajasse.
 

- Relaxa Paixão, Eu tenho um plano – Disse lhe oferecendo uma colherada cheia de kiwi – Esse trem vai ferver, “cê” vai ver só. E vai começar lá no Esquenta!

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Notas finais: Vixi, o que a Any vai aprontar?!

Tudo indica que essa gravação vai ferver mesmo!

E alguém aí já comeu doce de leite com kiwi? Será que é bom? Alguém aí ficou com vontade de comer?

Cap bônus ficou chique, né?! kkkk #NinguemDorme #ATrupeCausa #LuanMataAVeia

É isso aí, gurias!

Até o próximo capítulo!

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