Notas iniciais: Não, eu não fui abduzida por extras terrestres.
Capítulo demorou, mas saiu! Espero que gostem!
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No
capítulo anterior:
Resolvi especular
o que acontecera na minha ausência com a Carol. Como estava me esforçando para
não responder o Edu, acabei ficando distante das redes sociais durante a
viagem. Eu precisava de uma atualização geral para poder definir os meus
próximos passos.
“Cááá, cheguei!
Acabo de desembarcar na Terra da Garoa. Estou pegando o táxi para GMA.”
Digitei usando a
abreviação do nome da nossa cidade.
“Ebaaa! Estava com
saudades, Gabs”.
A Carol, como
sempre, estava online no Whats.
“Eu também! Aliás,
quero relatório completo. Como estão as coisas?”
“Ai Gaaabs... Não
vão nada bem. Você não vai gostar do que tenho para te contar”.
Respirei fundo me preparando para o que
estava por vir. Pelo visto, a quarta-feira realmente seria de cinzas.
“Ai Carol, o que aconteceu?
Fala logo, antes que eu tenha um treco”.
Precisei
apagar e reescrever a mensagem várias vezes. Fiquei tão nervosa que não
conseguia digitar direito. Senti cada parte do meu corpo ficar tensa. Minha intuição
me dizia que era algo relacionado ao Edu e a Mari.
“Você sabe que eu estava
tentando me manter neutra nessa história, né? Como você e a Mari são minhas
amigas, não queria ter que defender uma e ser injusta com a outra. Mas agora
não dá mais... Fiquei me sentindo horrível ontem. Chorei muito sem saber o que
fazer. Quase te liguei para a gente conversar. Só não fiz isso porque sabia que
estava viajando e pelas fotos você estava curtindo muito o passeio”.
A
cada palavra eu sentia minha alegria ir diminuindo até sumir completamente. No
seu lugar, a velha e conhecida sensação de medo e ansiedade tomou conta de mim.
Minha mente girava em alta velocidade, imaginando mil situações diferentes,
cada uma mais terrível que a outra.
“Carol, o que aconteceu? Me
fala, pelo amor de Deus. Você está me deixando preocupada”.
“Espera, vou explicar por
áudio”.
Peguei
o fone dentro da bolsa e conectei ao celular enquanto esperava. Fiquei
encarando a mensagem de “gravando aúdio” na tela, amaldiçoando cada minuto de
espera. O que ela tanto tinha para falar? Será que não dava para resumir?
Assim
que a mensagem de voz chegou apertei o play para ouvir.
“Gá, lembra que estávamos
agitando no colégio de ir no show do Michel Teló?”.
Parei
um segundo para lembrar. A prefeitura da cidade sempre organizava uma
programação especial de shows para celebrar o carnaval. Naquele ano, teríamos
vários cantores de sertanejo, como Thaeme e Thiago e Luan Santana. Lembro que o
pessoal estava agitando para ir no do Michel, mas não estava nada certo ainda.
E com a festa do Gueto para organizar, isso acabou ficando em segundo plano.
Bufei
de raiva. Se a notícia tinha a ver com o show, então era pior do que eu
imaginava. Nessas apresentações de Carnaval sempre rolava “pegação”. Inclusive,
foi em um dessas comemorações que a Carol conheceu o Caio e o “rolo” deles teve
início. Caramba! Não dava para acreditar que já tinha passado tanto tempo...
“Sei,sim. O Alê que estava
agitando...”, respondi, ficando ainda mais impaciente. Será
que não dava para ir direto ao assunto?
“Então, ontem a gente foi no
show do Michel. O Alê chamou todo mundo no grupo e a Mari super agitou o rolê.
Além de nós, o Edu e a Nathália também foram. O carioca não estava muito afim,
mas a Marília e o primo o convenceram. A gente mal chegou e a Má já começou a
colocar as garrinhas de fora. Ai Gabs, foi horrível... Ela ficou falando que
você está se jogando em cima do Edu, que foi ridículo o que aconteceu na festa,
que você parecia uma biscate se oferecendo para o carioca e que vocês só
ficaram por causa disso”.
Precisei
ouvir a mensagem três vezes para que “ficha caísse”. Meus olhos encheram de
lágrimas e parecia que alguém amarrara um bloco de pedra no meu coração, de tão
pesado e dolorido que ele estava. Como assim a Marília, uma das pessoas que eu
considerava como a minha melhor amiga, poderia falar de mim daquele jeito?
E
outra, eu não havia feito nada demais na festa. Tudo bem que fui quem tomou a
iniciativa de beijar o Edu, mas ele não tinha reclamado, não é mesmo? Pelo
contrário: pareceu gostar bastante dos meus beijos. Tanto que terminamos a
noite no quarto dele.
“Cá, eu não acredito que a
Marília disse tudo isso. E olha, isso me parece a suja falando da mal lavada.
Afinal, não é exatamente isso que ela faz quando está afim de alguém?”,
digitei, sentindo a raiva tomar conta de mim.
“Pois é... Eu também pensei
nisso. É sempre a Má que toma a iniciativa com os garotos que ela está afim.
Ela chama no Whats, vai até onde eles estão de propósito... Sem falar que vive
pegando no meu pé falando que sou ‘mole’ demais com o Caio. Difícil saber o que
ela quer da vida”. O aúdio da Carol chegou logo na sequência.
“Marília resolveu pegar no
meu pé por causa do Edu, só pode! Só não consigo entender o que ela ganha com
isso... Mas e aí? O que aconteceu depois disso? Ninguém falou nada?”, perguntei,
cruzando os dedos para que alguém tivesse saído em minha defesa.
“O Edu ficou apenas ouvindo,
sem falar nada. Já o Alê ficou super bravo. Ele disse que a Marília era uma
falsa, que estava ‘viajando’, que todo mundo sabia que você não era desse
jeito. Os dois discutiram sério e ele saiu de perto da gente antes mesmo do
show acabar. Na hora eu não falei nada porque não queria me meter nesse rolo de
vocês. Mas quando cheguei em casa, me senti péssima. Desculpa, Gabs. Eu também
deveria ter te defendido. A Mari passou dos limites dessa vez”.
Pelo seu tom de voz dava para perceber que a Carol realmente estava
arrependida.
Respirei
fundo, controlando as lágrimas que ameaçavam rolar do meu rosto. Eu nem sabia por
que estava prestes a chorar: tristeza, raiva, medo, mágoa... Pela janela do
carro eu via o mundo lá fora passar como um borrão enquanto eu tentava me
encontrar no meio daquela confusão de sentimentos.
“Pois é... Estamos tão
acostumadas a ver, e até ajudar a Mari, a fazer esse tipo de coisa com outras
pessoas que nos esquecemos o quanto pode doer ser vítima das armadilhas dela”,
escrevi, me forçando a recuperar o foco. Eu já tinha perdido as contas de
quantas vezes a Marília tinha arrumado brigas no colégio. Sempre que alguém se
metia em seu caminho, era exatamente aquilo que a loira fazia: inventava calúnias,
falava mal do seu comportamento, fazia o possível para que seu “oponente”
perdesse a credibilidade. Como era muito popular, ela sempre vencia no final. E
eu e a Cá sempre colaborávamos com os seus planos e nos divertíamos da situação
– a Mari tinha o poder de tornar tudo engraçado, como se não estivéssemos
machucando ninguém e sim contando uma piada muito boa. Agora eu estava sentindo
na pele o quanto doía estar na situação inversa. Eu só não conseguia entender o
porquê ela me escolheu como seu alvo....
“Acho que foi por isso que
fiquei tão mal. Sério, Gabs. Eu me senti péssima. Fiquei achando que era a pior
amiga do mundo por não ter ficado ao seu lado. E ainda teve todo o rolo com o
Alê...”, o ânimo da Carol no áudio só não era pior que o meu.
“Rolo com o Alê? Como
assim?”. Fiquei preocupada. Não bastasse a minha situação, o meu
amigo também estava em apuros?
“Então... antes de contar a
segunda parte da noite, preciso te atualizar de algo que aconteceu na festa. É
que... eu e o Alê ficamos”, ela vacilou ao falar a última parte,
como se estivesse com vergonha ou arrependida.
“Oi? Como que é? Explica
isso direito, Carolina!”, exigi.
“Não tem como explicar. A
gente bebeu muito na festa e o Alê, como sempre, foi superfofo comigo. Aí
juntou a minha carência por causa do término com o Caio e deu no que deu”,
agora era oficial: pela sua voz, a Cá estava arrependida.
“O
Alê é um fofo mesmo. Entre ele e o Caio, o nosso amigo é mil vezes melhor. Ai
Cá, eu adorei a novidade. Vocês tem o meu apoio. Acho que você se deu bem nessa
história”, um meio sorriso surgiu nos meus lábios enquanto digitava aquelas
palavras. Finalmente uma “luz no fim do túnel”.
“Não Gabi, nada a ver isso.
O Alê é nosso amigo, sempre foi. Além disso, a gente não tem nada a ver. Ele é
todo largado, sonha em ser skatista, não está nem aí para nada, é ‘maior vida
loca’... Eu e ele somos muito diferentes. E também... depois de ontem, não
quero ver o Alê nem pintado de ouro na minha frente”.
Fiquei confusa depois de ouvir aquele áudio. De triste e arrependida, a voz da
Carol foi para “super/mega brava”. Tinha algo de muito errado naquela
história...
“Carol,
será que dá para parar de enrolação e ir direto ao ponto, criatura? Conta o que aconteceu de uma vez”. Era
tanta confusão que, por um minuto, eu até esqueci da Marília e do Edu.
“Foi assim... Depois que o
Alê saiu, eu fiquei um tempo com o restante do pessoal. A Mari nem se abalou
com a briga e continuou falando mal de você. Só que ela te criticava e elogiava
a Nathália, como se quisesse insinuar que aquele projeto de perua fosse melhor
que você. Nossa Gabs, não sei como a Má conseguia falar aquelas coisas... Disse
que você era feia, sem graça, que ficava fazendo drama por causa do balé... Não
consegui ficar nem cinco minutos perto deles. Fiquei com tanto nojo que fui
atrás do Alê. Quando encontrei, perguntei se estava tudo bem e ele começou a
desabafar falando que achava a atitude da Marília ridícula. Eu concordei e
ficamos conversando, mas aí ele veio tentar me beijar e eu não deixei. Quando
quis saber o porquê, eu dei a mesma justificativa: que ele era ‘vida loca’
demais e a gente não combinava. Aí ele
ficou nervoso e começou a me ofender, dizendo que eu era tão hipócrita quanto a
Marília. Que aceitava ser feita de boba pelo Caio, porque ele é um ‘boyzinho’
bem vestido, mas que morre de medo de perder o ‘status’ de ‘popular’ por causa
dele”.
Encarei
a tela sem saber o que responder. Embora achasse a atitude do meu amigo um
pouco radical, eu concordava com ele. Afinal de contas, a própria Carol acabara
de confessar que não teve coragem de me defender diante às afrontas da Mari –
na certa porque tinha medo de ser a próxima “vítima” da loira. E em relação ao
Caio... bom, todo mundo sabia que o cara fazia a Cá de “gato e sapato”. Tanto
que teve a audácia de terminar o “lance” dos dois na festa que ela estava
organizando e ainda ficou para beber cerveja de graça.
“Cá, entendo que vocês
tenham estilos diferentes. Mas o Alê é super gente boa. Nós crescemos juntos,
lembra? É um ótimo pretendente para você”, defendi o skatista.
“Ótimo pretendente, Gabi?
Fala sério, né? Uma coisa é ser amiga, outra é ficar com o cara. Não tem nada a
ver. Não vou pagar esse mico!”, a voz dela transmitia tanto
nojo que me senti até enjoada. Como ela poderia falar daquele jeito do nosso
amigo? O que estava acontecendo com todo mundo?
“Você falou que nem a
Marília agora. Credo, Carolina! Que bobagem é essa? O Alê é um dos caras mais
bacanas que conheço”, mantive o meu ponto de vista.
“Você também com esse papo
que sou igual a Mari? Que foi? Você e o seu ‘amiguinho’ combinaram de pegar no
meu pé?”. Percebi que ela estava ficando ainda mais brava, então
decidi mudar de assunto. Eu tinha questões mais importantes para me preocupar
naquele momento.
“Bom, você sabe o que faz...
Voltando ao Edu e a Marília, e aí? Você sabe se rolou alguma coisa entre o
carioca e a Nathália?”, fiz a pergunta de um milhão de dólares.
“Desculpa Gabs, mas não sei
de nada. Eu não consegui mais encontrá-los depois da briga com o Alê. Mas pela
propaganda que a Marília fez e pelo tamanho do decote daquela garota, olha...
não duvido nada que tenha acontecido alguma coisa”.
Respirei
fundo várias vezes seguidas para segurar a vontade de chorar. Eu queria gritar,
bater em alguém, jogar o celular pela janela... qualquer coisa que pudesse
extravasar a raiva que estava sentindo. Justo agora que eu achava que tudo ia
dar certo... Parecia que alguém ficava só esperando: sempre que eu conseguia
colocar ordem na bagunça que a minha vida se tornara, vinham e tornavam a revirar tudo.
-
Que cara é essa, filha? – minha mãe perguntou, desviando a atenção do livro que
estava lendo.
-
Nada, não... Só cansaço... – improvisei.
-
Deu para aproveitar bastante, né? Valeu muito a pena essa viagem – ela sorriu
de uma maneira saudosa – Mas agora é bom você se preparar. Vou pedir para a
nutricionista montar a sua dieta e eu mesma vou cuidar dessa pele queimada de
sol, né? Teremos pouco tempo para recuperar a sua antiga forma...
Apenas
concordei com a cabeça, sem nem dar atenção ao discurso de “uma bailarina
precisa cuidar do seu corpo”. Minha mente estava muito longe dali.
Apesar
do ar condicionado forte do carro, eu me sentia sufocada. Eu precisava falar
com alguém, colocar para fora tudo o que estava sentindo, pedir conselhos,
ganhar colo... Mas quem? Acabei apelando para a pessoa mais improvável para
falar sobre garotos: o Alê.
“O que é que a baiana tem?”, ele
respondeu com seu típico humor alguns minutos depois de eu chamá-lo no Whats.
“Tenho vontade de oferecer a Carol e a Mari,
aquelas duas coisas ruins, como oferenda para Iemanjá”, tentei parecer um
pouco mais feliz do que realmente estava.
“Ela vai devolver. Iemanjá
só fica oferenda de primeira classe. É a Rainha do Mar, né querida? Não aceita
qualquer coisa”.
Como
alguém poderia querer ficar longe de uma pessoa como aquela? O Alê conseguia
alegrar qualquer pessoa com as suas palhaçadas.
“Pelo jeito você já está
sabendo o que rolou no show do Michel Teló, né?”, ele
questionou logo na sequência.
“Carol acabou de me
atualizar dos últimos acontecimentos. Tenho apenas duas coisas para falar.
Primeiro: OBRIGADA por me defender. Você foi o único que se importou comigo.
Segundo: Que babado é esse de ficar com a Carol e depois brigar com ela? Eu
viajo por alguns dias e vocês deixam tudo de pernas para o ar?”, fiz
questão de agradecer em letras maiúsculas para frisar o quanto gostei da
atitude do meu amigo.
“Não fiz mais do que a minha
obrigação, Gá. Nunca aprovei a atitude da Marília, mas nunca falei nada porque
você e a Cá pareciam não se importar. Mas dessa vez foi diferente. Não suporto
hipocrisia e gente que não honra com a sua palavra. Se ela é sua amiga, então
seja sua amiga, caramba! Não é porque um cara bonitinho chegou no colégio que
ela precisa pirar desse jeito”.
Com
certeza ele estava falando do Edu... Desde a chegada do carioca tudo estava
fora do lugar.
“Já sobre a Carol, estou
meio mal por tudo o que aconteceu. Não queria ter sido grosso com ela, mas já
estava nervoso por causa da Marília e acabei perdendo a linha. Na boa... nunca
achei que ouviria aquelas coisas da boca da Cá. Falar que não ficaria de jeito
nenhum comigo por causa do meu jeito? Então ela prefere sofrer com o Caio só
porque ele tem cara de bom moço?”
Eu
realmente não conseguia entender a lógica da Carol. Para mim, a única razão
para ela agir daquela maneira era para evitar chamar a atenção do pessoal do
colégio e não criar “falatório”. Ela sempre fez a linha mais “discreta”.
“Ai,
ai... O que a gente faz com essas meninas?”, digitei, soltando o ar
pesadamente. Desviei o olhar para a janela como se estivesse procurando uma
saída. O táxi passava pela entrada da cidade. Em alguns minutos, eu estaria de
volta a minha casa.
“Com a Carol eu não vou
fazer nada. Pensei que ela fosse o tipo de garota que valesse a pena, mas
percebi que só é mais uma ‘seguidora’ da Marília. Aliás, falando na Mari, acho
que você precisa ter uma conversa séria com ela. Tipo ‘papo reto’ mesmo. Aquela
garota já passou dos limites”.
Fiquei
assustada ao ler as palavras do Alê. O skatista sempre fora gentil e costumava
relevar todas as nossas ‘chatices’ de garotas. Tudo indicava que a briga com a
Carol e a Mari fora mais grave do que eu imaginava, para ele falar daquele
jeito.
“Você está certo. Eu já havia decidido fazer
isso antes mesmo de saber tudo o que aconteceu no Carnaval”,
contei. Nas minhas conversas com a Raíssa, ela me aconselhara a colocar a Mari
contra a parede e resolver essa questão de uma vez por todas.
“Boa sorte! Se precisar de
ajuda para se livrar do corpo depois, é só chamar”, ele
brincou me fazendo cair na risada, bem na hora que chegamos na porta de casa.
Enquanto
minha mãe pagava a corrida e descarregávamos as malas, voltei a chamar a Carol
no Whats.
“Vou pedir para a Mari me
encontrar amanhã de manhã na escola antes da hora da entrada. Quero conversar
com ela. O que acha?”
“É uma ótima ideia. Só não
fala que fui eu quem te contou da briga dela e do Alê, ok?”
Balancei
a cabeça, inconformada, com a resposta da Cá. Impossível alguém ficar “mais em
cima do muro” do que ela.
Coloquei
as malas no chão do meu quarto e fui direto para a ducha. Eu queria pensar
antes de fazer qualquer coisa. Lidar com a Mari não seria fácil. Eu precisava
me preparar para aquela conversa.
Chequei
meu celular assim que saí do banho. Tinha mensagens da Raíssa, Carol, Alê, até
do Miguel, meu parceiro no balé... Mas do Edu, nada! Eu sabia que ele estava
online. Então por que não falava comigo? Será que estava falando com a
Nathália?
Aproveitando
que uma nova onda de raiva tomava conta de mim, mandei uma mensagem para a
Marília perguntando se ela aceitaria conversar comigo no dia seguinte, logo
cedo.
“Combinado” foi
tudo o que ela respondeu. Eu poderia apostar que ela já desconfiava qual seria
o assunto principal do nosso encontro.
***
Mal
consegui dormir tamanha era a minha ansiedade. Pesadelos terríveis me
assombraram a noite inteira. Imagens do Edu me deixando, da Mari rindo da minha
cara, de cair no mar e ser engolida pelas ondas, de estar sozinha em um palco
diante de uma plateia que me olhava com olhares de repreensão... Acabei
acordando antes do despertador tocar. Peguei o celular, desesperada por
notícias do Edu. Nenhuma mensagem, nenhuma curtida em fotos, nenhum sinal de
vida... Uma sensação estranha causou um gosto amargo na minha boca. Uma mistura
de medo, angústia e preocupação. Por que o Eduardo tinha que ser tão instável?
Um dia me amava, no outro mal me dava atenção...
Levantei
da cama com enjoo e sentindo um peso estranho nos ombros, como se já estivesse
muito cansada mesmo fazendo poucos minutos que estava acordada.
Vesti
meu uniforme no modo automático, passei na cozinha para beber um copo de suco e
comer algumas bolachinhas e saí com a mochila nos ombros. Fazia um calor
gostoso e os raios da manhã tocavam o meu rosto como se desejassem boa sorte.
-
Nossa, alguém torrou no sol lá na Bahia, né? – ouvi a inconfundível voz do Alê
ao me aproximar do portão da sua casa.
-
Caiu da cama? – me aproximei para abraçá-lo.
-
Não queria te deixar sozinha com a víbora da Marília.
Lembrei
que comentara sobre o encontro com ele na noite anterior e sorri como forma de
agradecer o seu gesto. Ter companhia para andar até o colégio seria ótimo.
Ajudaria a espantar os “fantasmas” que andavam rondando a minha mente.
O
Colégio Raízes, onde estudávamos, não ficava muito distante do nosso
condomínio. Localizada em uma enorme área cercada por mata, a escola era
dividida em duas partes: de um lado da estrada ficava os prédios do ensino
infantil e primário. Já o outro lado era dedicado aos alunos do ginásio e
ensino médio. Passávamos o dia inteiro ali, entretidos com as aulas normais e
com atividades artísticas, prática de esportes, balé (classe da qual eu era
dispensada por motivos óbvios), e outros eventos extra curriculares, como
saraus, clube de poesia, exposições e toda sorte de tarefas que fizessem nosso
cérebro ferver com tantas obrigações. Apesar do clima do colégio ser bem leve e
ter bastante espaço, às vezes tantas aulas nos sufocavam. No fim do dia eram
tantos deveres que os alunos não sabiam nem por onde começar.
Na
hora do almoço, quase todo o colégio saía para comer em um pequeno centro
comercial na frente do condomínio. Na verdade, tratava-se de uma rua com duas
lanchonetes, uma papelaria, um restaurante por quilo além do restaurante
japonês que o Edu me levara depois da apresentação de Romeu e Julieta. Porém,
quando queríamos fazer um lanche rápido, comíamos na cantina que ficava dentro
da escola. Cercada por um belo jardim, o espaço era ótimo para passar as manhãs
e tardes de verão.
-
Vou buscar um suco para nós – o skatista se ofereceu depois que escolhemos uma
mesa em um canto mais reservado. Faltavam ainda cinco minutos para a hora
marcada com a Marília. Olhei ao redor, mas não ainda não tinha nenhum sinal dela.
-
Aqui. Suco de maracujá para acalmar os nervos – o Alê voltou com dois copos na
mão. Precisei respirar fundo antes de estender o braço. Minhas mãos tremiam e
suavam frio.
Já
havia bebido metade do meu suco quando a loira deu sinal de vida.
-
Desculpa, minha mãe ficou enrolando para me trazer – ela comunicou ao se
aproximar da mesa, o rosto uma máscara de frieza.
-
Bom madames, vou deixá-las a sós – o Alê se pronunciou colocando-se de pé –
Gabi, rola emprestar o dever de matemática? Não consegui terminar... – emendou
com um sorriso amarelo no rosto.
Rindo
da sua cara de pau, peguei minha apostila dentro da mochila e coloquei em suas
mãos.
-
Valeu, Gabs! – piscou para mim antes de se afastar, me deixando sozinha com a
Marília.
Essa
era a hora.
-
Senta aí, Mari – pedi, forçando uma simpatia que não existia. Só de olhar para
ela eu sentia a raiva ferver nas minhas veias, como uma febre muito alta.
-
E então, o que queria falar comigo? – questionou, deixando a mochila na cadeira
onde o Alê estivera antes e sentando-se na do lado.
-
Queria saber o que está acontecendo. Fiquei sabendo que você falou umas coisas
estranhas sobre mim... – joguei o “verde”, na tentativa de conseguir uma
confissão.
-
Eeeu? Que tipo de coisas? – seu ar de cinismo era profundamente irritante.
-
Sobre eu e o Edu. Parece que você andou me acusando de me jogar em cima dele,
de estar ‘pesando’ demais na do carioca – Falei cada palavra como se estivesse
desarmando uma bomba. Um movimento errado e bum! Tudo iria para os ares...
-
Quem falou isso? – seu tom era de exigência.
-
Não importa quem falou. Eu só quero saber se é verdade ou não – mantive uma
postura firme, demonstrando que não estava disposta a negociar.
-
Olha Gabi... – ela passou a mão pelos cabelos, assumindo uma posição menos
ofensiva – tenho reparado que faz um tempo que estamos distantes, e acho que
isso das pessoas ficarem se metendo na nossa amizade é o que está nos
prejudicando. Tenho certeza que foi o Alê quem te contou isso... Acho ridículo
ele ficar fazendo esse papel de “leva e traz”. Acaba criando essas briguinhas
bobas.
Olhei
para ela, incapaz de acreditar no que eu estava ouvindo. Era realmente sério
que ela ia jogar a culpa no Alê?
-
Não Mari, acho que você está enganada. O Alê não está causando nenhuma
briguinha boba – imitei o seu tom sarcástico - Pelo contrário, ele só está
tentando me ajudar. E consequentemente, te ajudar também, porque assim você
pode se explicar. Poxa, não é normal ouvir uma pessoa do seu grupo de amigos
falar mal de outro amigo... O Alê não achou justo e por isso veio me contar –
estava tão nervosa que acabei gaguejando algumas vezes, mesmo me esforçando
para me manter centrada. Eu não queria demonstrar fraqueza, mas não tinha como
não ficar nervosa. A Mari parecia estar disposta a me tirar do sério com a sua
falsidade.
-
Eu não falei mal de você! – apressou-se em se defender. Senti vontade de
revirar os olhos, mas me segurei. Queria ver até onde ela teria coragem de ir –
Eu só estava preocupada. Foi o que eu disse, Gabi. Faz um tempo que a gente
anda afastada. E eu sei que você está se envolvendo com o Edu. Tenho medo de
você se machucar...
-
Marília, ninguém está se machucando aqui. O Edu é um cara bem legal e a gente
está se dando bem. Mas isso não significa nada além do que acabei de falar:
estamos nos conhecendo e curtindo o lance que está rolando entre a gente. Não
precisa se preocupar. Eu sei muito bem me cuidar – retruquei, mexendo as mãos
sem parar e quase derrubando o meu copo de suco ainda pela metade.
-
Se você diz... – a loira deu de ombros, como se aquilo não importasse para ela.
-
Por que você está fazendo isso? – questionei, olhando fixamente nos seus olhos.
Eu procurava por algum vestígio da Marília que eu conhecia, mas não conseguia
enxergar nada além de descaso e desprezo.
-
Isso o que? – sua voz era a de quem tratava de um tema chato e entediante.
-
Por que está criando um muro entre a gente? A gente sempre foi superamiga...
Foi só o Edu chegar que tudo mudou. Por que? – deixei minha armadura de lado e
permiti que meus verdadeiros sentimentos transparecessem naquela frase. Eu
precisava saber. Mais do que isso: eu queria a minha amiga de volta. Queria ter
com quem dividir os meus problemas, alguém para rir das minhas burradas, um
colo para buscar carinho quando tudo desse errado. Essas pessoas sempre foram a
Mari e a Cá. Por que agora ela se recusava a cumprir o seu papel?
-
Não estou construindo muro nenhum. Foi você quem se isolou, quem me excluiu da
sua vida. E volto a dizer, tudo o que eu fiz foi para te proteger, Gabi. Não
quero que você se machuque – ela repetiu o seu discurso ensaiado. Eu não
conseguia mais decifrar o que era verdade ou mentira das suas palavras. Eu não
conseguia mais reconhecer a Marília...
-
Me proteger jogando a Nathália para cima do Edu, mesmo sabendo que eu estava
ficando com ele? – não me aguentei e acabei colocando o dedo na ferida.
-
Eu não joguei ninguém em cima de ninguém. Mas os dois são solteiros e livres
até onde eu sei... – novamente aquele tom de cinismo capaz de tirar do sério
até um monge tibetano – O Edu me pediu o Whats dela e eu passei. Foi só isso...
Nunca a expressão “procurar agulha no
palheiro” fez tanto sentido para mim. Era tanta informação e tantas emoções
envolvidas que era praticamente impossível conseguir encontrar quais eram
verdadeiras. Eu não sabia mais no que acreditar, muito menos o que pensar. Será
que o Edu realmente estava caçando assunto com a Nathy? Será que, no fundo, a
Mari tinha razão de querer me proteger?
-
Olha Gabi, eu só quero ficar de boa com você. Não quero que nada atrapalhe a
nossa amizade...
Por
que, de repente, ficou tão difícil acreditar naquela frase?
-
Eu também, Mari. Mas, sei lá... Parece que você passou para o outro lado. É
como se antes fizéssemos parte do mesmo grupo, e agora estivéssemos separadas
por time. Eu no A, a Carol no B e você no C... – usei o resto de forças que me
restavam para continuar na conversa. Minha vontade era sair correndo dali, para
um lugar onde ninguém pudesse me encontrar.
-
Mas eu não passei para lado nenhum – mexeu as mãos, irritada.
-
Passou sim. A Carol também acha isso – envolvi minha amiga na história, mesmo
sabendo que ela desejava ficar “neutra”.
-
Bom, eu não acho... Mas se vocês dizem... – deu de ombros - Acho então que
devemos tentar reverter isso. Criar um novo grupo, deixar para trás essas
“picuinhas” e começar de novo. O que acha? – não pude deixar de sentir uma
pontada de ironia quando ela falou das “picuinhas”. Ela iria mesmo insistir em
jogar a culpa nos outros?
-
Seria ótimo – concordei, só para não estender ainda mais o assunto.
-
Então ficamos assim. Vou falar com a Natália, Mel e Deby e você fala com a
Carol. Todo mundo esquece o que passou e a começa de novo, de coração aberto.
Vamos construir um novo grupo – sugeriu com uma empolgação forçada na voz.
-
Perfeito! É uma ótima ideia – assenti. A pergunta “desde quando a Nathália faz parte do nosso grupo?” ecoando na
minha cabeça como um alerta de incêndio. Para mim, sempre fomos nós três: eu,
ela e a Cá. E só. Mesmo não aprovando a ideia. Guardei o pensamento só para
mim.
-
Vou já procurar as meninas. A gente se encontra na sala, ok? – a loira avisou,
pegando suas coisas e me deixando sozinha.
Lentamente,
deixei a mesa e caminhei até o banheiro mais próximo. Me fechei em uma das
divisórias e encostei a cabeça na parede, esgotada demais para conseguir
raciocinar. Fechei os olhos e permaneci na mesma posição por muito tempo, não
me importando com as lágrimas silenciosas que insistiam em rolar pelo meu rosto.
Naquele
turbilhão de sentimentos, de repente uma frase do livro Cidades de Papel surgiu
na minha cabeça. Era parte de um diálogo entre a Margo e o Quentin, no prólogo
do livro quando eles conversavam sobre a razão de um cara ter se suicidado.
“Talvez todos os fios dentro
dele tenham se arrebentado”.
Nunca
algo fez tanto sentido para mim. A única questão era: quantos fios ainda me
restavam?
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Notas
finais:
Geeeente do céu, o carnaval rendeu, hein? Carol e Alê brigando, Mari fazendo a
cínica e o Edu...... Bom, esse só fez papel de árvore, né? #ChateadaComOEdu
E a Gabi, gente? Deu uma
dó... #ReageGabi
Mas ó, esse só o começo.
Muitos forninhos vão cair ainda. Estamos a dois capítulos de começar a segunda
fase e aí a coisa vai séria de verdade! PRE-PA-RA que vem fortes emoções por
aí!
Já deu para perceber que
estou empolgada, né? Hahahaha Juro que a demora vai valer a pena, gente. Juro,
juradinho!
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Oiieeee.... xD
Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!
Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*
Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*
E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!