segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Capítulo 22 – Contra-ataque

Notas iniciais: Alguém aí com saudades do Alê? Confesso que eu estou com muitas saudades dele e das suas palhaçadas!

Ahh, antes de começar, um agradecimento especial: no último capítulo a leitora Ritinha fez uma análise super bem feita da Gabi. Segundo as palavras dela, a Gabiera  como um balão de ar cheio de mais que estourou na hora errada. Super concordei, gente! Eu mesma não poderia ter feito análise melhor. Tanto que a citei logo no início desse capítulo. A-DO-RO quando vocês comentam e contam o ponto de vista de vocês. Há alguns capítulos a Kamih disse que queria LeGabi (ou seria GaLeo? Ai, não lembro! Hahaha) e, embora eu nem cogitasse essa hipótese antes,tá  aí está o nosso casal derrubando todos os forninhos com esse contrato bapho!

Portanto, fiquem à vontade para “meter o bedelho” de vocês sempre, viu? Pitacos são mais do quem bem-vindos!

E agora, bora pro jogo do Engana Trouxa (ansiosa, genteeeeee! Hahaha)
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Fiquei um tempo encarando a poltrona vazia na minha frente sem saber o que fazer. Será que minha mãe estava falando sério? Será que pretendia mesmo abrir mão da sua superproteção? E se isso de fato acontecesse, como seria minha vida dali para frente? Em uma coisa ela estava certa: eu não sabia fazer mais nada além de dançar. Desde que me conhecia por gente cada minuto do meu tempo foi gasto em esforços para o balé. E agora? O que eu faria?

Subi para o meu quarto com uma sensação estranha. Era como se há poucos minutos eu estivesse cheia de uma raiva venenosa, um sentimento ruim que fez meu sangue ferver a tal ponto que entrei em ebulição, despejando palavras quentes e letais por toda parte. E agora que aquela onda incontrolável passara, não sobrara mais nada. Era como se eu fosse um balão de ar que alguém havia esvaziado. Eu me sentia murcha, vazia...

Parei em frente ao guarda-roupa sem saber o que fazer. Será que eu deveria vestir a malha do balé? Eu e minha mãe já havíamos brigado feio antes e, mesmo assim, os ensaios continuaram como se fossem um território neutro. Resolvi esperar. Joguei minha mochila em um canto qualquer e peguei meu celular para me distrair um pouco. Vi que haviam notificações de novos snaps e abri o aplicativo para conferir as novidades. Um deles era um vídeo do Léo comendo o resto do pudim que a Laís fizera na sua casa. No final, ele lambia a calda que estava no prato, fazendo graça.

Fiquei rindo, imaginando como era possível que um garoto que se mostrava tão seguro de si em determinados momentos fosse capaz de fazer palhaçadas como aquela.

A outra notificação era da Carol. Ela postara a foto de alguns livros novos que acabara de comprar, alguns dos quais eu queria ler. Senti uma pontada de saudade por não ter mais com quem conversar sobre aquele assunto.

Fechando a imagem, soltei um riso amargo. Há menos de um mês, eu estaria no nosso grupo do Whats mandando áudios e mais áudios para descontar a raiva por causa da briga com a minha mãe. Agora eu não tinha com quem desabafar.

Estava ficando difícil enumerar todas as mudanças que estavam acontecendo na minha vida. A cada dia era uma guinada, uma nova situação para se acostumar, uma nova onda para resistir e não permitir que o mar me levasse. Talvez fosse por isso que o meu acordo com o Léo, por mais que parecesse loucura, me soava cada vez melhor. Ele era a tábua de salvação no meio dos destroços de cada parte da minha vida que naufragava.

Não pude deixar de reparar que na época que era amiga da Mari eu recebia muito mais notificações, solicitações de amizade e convites em geral. Agora meu celular andava tão “morto” que até a bateria estava durando mais.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo som do motor do carro da minha mãe saindo. Então ela estava mesmo falando a verdade? Dona Beatriz iria abrir mão do controle que tinha da minha vida de forma definitiva?

Senti a solidão e a tristeza entrarem devagarinho pela porta e pararem a poucos metros de mim, apenas esperando um mínimo deslize meu para se aproximarem. Eu sabia que se me entregasse, provavelmente, terminaria no banheiro vomitando todas as minhas angústias junto com as bobeiras que comeria para aliviar a dor.

“Seja forte, seja forte”, repeti para mim mesma, como se aquela frase tivesse o poder de manter minhas “velhas companheiras” longe.

Por sorte, meu celular tocou. Ansiosa, corri para ver o que era.

“Ainda está viva, bonequinha?”

Era o Alê querendo saber notícias.

“Sim, e precisando de você. Será que você pode me atualizar da matéria que perdi essa semana na escola?”.

Pedi, me agarrando com todas as forças naquela outra tábua de salvação. Alê sempre foi uma boa companhia e era exatamente disto que eu estava precisando naquele momento.

“Sabe que está pedindo para a pessoa errada, né? Kkk Mas cola aí, eu tento te passar alguma coisa”

“Certo. Vou almoçar e passo na sua casa”

“Fechado, Gabs. Mas não alimente muitas esperanças... Não sou exatamente o gênio da nossa classe”.

Realmente, as chances do Alê conseguir me passar todo o conteúdo que perdi naquela semana eram quase nulas. Eu poderia apostar que ele passara, pelo menos, 70% das aulas mexendo no celular, procurando informações sobre skate, música ou qualquer outro assunto que ele lhe surgisse na mente. Meu amigo era um cara muito inteligente, mas isso não significava que era estudioso. No caso do skatista, em especial, esses adjetivos não caminhavam juntos.

Desci para almoçar sem muito ânimo. Eu sabia que a Maria devia ter escutado toda a discussão com a minha mãe e não estava pronta para encará-la. Por mais que me sentisse aliviada, eu não estava orgulhosa do que fizera. Gritar com a minha mãe ia contra tudo o que eu aprendera a vida inteira. Além do mais, eu sabia que, no final, eu tinha muitos motivos para me sentir grata por tê-la na minha vida. Mas é que tem momentos que a gente chega no nosso limite e estoura. Simples assim...

- Tem frango grelhado e salada, mas como sua mãe disse que você está liberada da dieta, podemos preparar mais coisas... – “Mary” disse assim que me viu na cozinha. Agradeci mentalmente por ela tratar tudo como algo corriqueiro e sem importância.

- Alguma sugestão? – levantei as sobrancelhas.

- Batata frita, talvez... – sugeriu como quem não quer nada.

- Nooooossaaaa! Batata frita! – fiquei empolgada imediatamente. Não era sempre que tínhamos opções gostosas no almoço.

 - Eu comprei na época que você estava de férias do balé e com a dieta liberada, mas acabamos não usando. Tem um saco enorme no freezer – ela sorriu, parecendo feliz por conseguir me ajudar.

- Você é uma gênia, Maria! – estendi a mão para um hi-five.

- Calma, Gabi! É só batata frita – ela riu fingindo modéstia.

Comi meu frango e salada enquanto as batatas eram preparadas. Como acompanhamento, a diarista fez uma maionese de alho divina. Comi tudo e até lambi os dedos.  Acabei sentindo um leve arrependimento depois, mas tentei afastar aqueles pensamentos rapidamente da minha cabeça. Não era o momento para ser fraca.

- Mary, estava uma delícia! Mandou muito bem no molho – disse, ao levar o prato até a pia – Vou subir para escovar os dentes e depois vou até a casa do Alê, beleza?

- Hum... Gabi – ela chamou, parecendo sem jeito – sua mãe disse que não posso deixá-la sair.

- Como assim? Eu só vou até a casa do Alê! E foi ela mesma quem disse que não ia mais controlar a minha vida – não estava entendendo mais nada!

- Ela disse que até falar com o seu pai e conversar sobre o que aconteceu, você não pode sair. Parece que ela está preocupada que você esteja andando com más companhias – contou secando a louça e guardando nos armários.

- Más companhias era as que eu tinha antes... – retruquei brava, mesmo sabendo que a Maria não tinha nada a ver com a história.

- Calma, Gabi. Sua mãe só está preocupada. Foi um susto para ela saber que você não estava na escola. Precisa ver como ela chegou aqui...

- Minha mãe precisa aprender a confiar mais em mim – desabafei cruzando os braços na frente do corpo como uma menina mimada.

A diarista riu ao ver minha reação – Melhor você se acostumar. Mães são sempre assim... Mas me fala uma coisa – fez uma pausa, ficando séria – Você vai mesmo para Nova York?

- Estou querendo.

- Mas como vai ser? Eu nunca ouvi você falar do seu pai... – sua pergunta parecia mais preocupação do que curiosidade. E eu não podia negar que a situação seria bem estranha. Eu mal falava com ele e, segundo minha mãe, seria o senhor Marcos Sérgio que tomaria conta da minha vida dali em diante. Eu não tinha ideia de como aquilo iria funcionar...

- Bom, acho que vou ter que começar a falar – dei de ombros – Posso chamar o Alê para vir aqui, pelo menos? – mudei de assunto.

- Bom, acho que isso você pode – concordou, sorrindo.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem no Whats para o meu amigo. Dez minutos depois ele estava na porta de casa.

- Uaaau! Você não me parece doente – foi a primeira coisa que ele disse quando abri a porta para recebê-lo.

- Hum... é porque eu não estava doente – respondi, evitando encará-lo nos olhos. Era difícil admitir que tinha mentido para ele.

- Oi? Como assim? – ele franziu a testa e levantou as mãos, confuso. Sua mochila estava pendurada despretensiosamente em um dos ombros, como se o material escolar fosse um mero enfeite que não servia para muita coisa.

- É uma longa história... Vamos subir que eu te explico – disse, fazendo sinal para que ele entrasse.

- Seguimos até o meu quarto em silêncio. No caminho eu percebi que o meu amigo me lançava olhares curiosos, como se eu fosse charada a ser desvendada. Quando chegamos, ele se jogou na minha cama sem o mínimo de cerimônia deixando a mochila jogada no chão.

- Não consigo entrar nesse quarto e não imaginar como a torre que aprisiona a princesa – ele riu – Isso aqui parece cenário de conto de fadas.

- Fico feliz em saber que você aprecia tanto a minha decoração – respondi, irônica.

- Desculpa, Gabs. Mesmo que você não goste, você parece muito uma bonequinha. Mas vamos ao que interessa – se ajeitou na cama, pegando um travesseiro e deitando de forma que pudesse me ver sentada na cadeira da escrivaninha – O que diabos aconteceu? Foi abduzida por E.T’s? Fugiu com o circo? Resolveu fugir de casa e viver de vender artesanato na praça?

- Não foi nada disso! – ri do seu jeito – Quer dizer, eu só fugi da escola e encontrei o Caio...

- O Caio? Fala sério, a história já começou mal...  – sabia que o Alê não aprovaria.

- Olha, ele até que foi um bom amigo... – tentei defendê-lo.

- Só porque tinha segundas intenções com você – ele rebateu na hora.

- Como assim? – fiquei surpresa que ele tivesse percebido.

- Qualquer pessoa sabia. Gabs. Ah não, pera! Só a Carol que não. Mas é porque ela gosta de caras “maneiros” e tem um excelente feeling para identificá-los – ele zuou, me fazendo rir de novo.

- Nossa, eu não achava que estava assim, tão evidente... – comentei.

- Sabe de nada, inocente! Eu sempre soube. Mas ok, e aí? Não me diga que você ficou com esse cara, por favor! Porque se você fez isso, vou perder essa visão que tenho de você como uma bonequinha e não sei se estou pronto psicologicamente para lidar com isso – ele fez drama.

Atendendo ao seu pedido, contei tudo o que aconteceu desde o meu encontro com o Caio até a conversa com a minha mãe e a ameaça de ir para Nova York. Só omiti a parte do Léo e do contrato. Achei que o Alê já tinha informação suficiente para absorver, por ora.

- Caramba, Gabi! Você realmente conseguiu quebrar a imagem que eu tinha de você como uma bonequinha! Como vou viver agora? – ele fingiu estar desolado.

- Para de ser bobo, Alê! Não mandei vocês criarem essa imagem tão frágil de mim – rebati, fingindo estar brava.

- Não, imagina! Só se veste como uma garotinha e vive no alto de uma torre de marfim – ele voltou a zombar da minha cara.

- Pelo jeito você não prestou atenção na história. Há muitas chances de eu mudar de país muito em breve e deixar essa torre – gesticulei para indicar o redor do quarto – Além disso, uma garotinha teria sentado e chorado de tudo, ao contrário do que eu fiz.

- Seria bem legal se você fosse para Nova york. Na verdade, até eu queria ir. Estou meio cansado de tudo isso aqui. As mesmas pessoas, os mesmos assuntos, o mesmo sistema de vida: se formar, ir para a faculdade, casar, ter filhos. Esse é um plano que não vai funcionar para mim...

O tom sério do Alê me surpreendeu. Era estranho ouvi-lo analisando uma situação sem fazer alguma piada.

- E qual plano vai funcionar para você? – fiquei interessada.

- Não sei. Por enquanto a única ideia é me formar e sair por aí, desbravando o mundo, conhecendo gente, andando de skate, coisas assim – seu tom era sonhador.

- É um plano bem possível. Só a parte do se formar que me parece completamente absurda se levarmos em consideração o seu histórico escolar – fui sarcástica de propósito para demonstrar o quanto aquilo parecia irreal.

- O que me faz lembrar que a senhorita me deve uma – ele me lançou um olhar contrariado.

- Posso saber o que fiz agora? – falei mexendo as mãos.

- Graças à história que a Mari espalhou por aí, tivemos que assistir palestrar sobre respeitar o próximo e sobre como manter a nossa autoestima, sem falar na campanha que precisamos criar para a aula de artes com o tema “Gentileza gera gentileza”. E agora temos cartazes antibullying espalhados pelo colégio. Você causou, Gabs! Aposto que Marília está arrependida do que fez. No fim, você ficou mais “famosa” do que ela – Alê riu, divertindo-se.

Parei para pensar na situação por um momento. Era claro que eu ficara arrasada com tudo o que aconteceu. Ninguém gosta de ter a intimidade exposta, ainda mais da forma maldosa como a Mari fez. Mas eu não pensei que aquilo poderia ter consequências além das minhas próprias feridas. Era estranho pensar que eu fui pega como exemplo para algo maior e que pudesse gerar resultados positivos de alguma forma. Era, de certa forma, um conforto no meio de tanta bagunça.

- Falando nisso, como estão as coisas no colégio? Agora que minha mãe descobriu minha farsa, não vou conseguir mais fugir das aulas – comentei com um tom apreensivo. Só de pensar no assunto eu já sentia calafrios.

- Bom, não tivemos muitas mudanças. Mari continua seu reinado com seus fiéis súditos babando seu ovo todo o tempo, os professores continuam passando pilhas e mais pilhas de deveres, a coxinha de frango com requeijão da cantina continua deliciosa...

- Alê, você sabe que não é isso que eu quero saber! – interrompi sua divagação.

- Bom, se você quer saber se você ainda é o assunto mais comentado dos trend topics da escola, sinto informar, mas é – ele me lançou um olhar de consolo – Ainda rolam muitos comentários, principalmente porque você sumiu, né? Isso deu margem para o pessoal falar que você estava chorando pelos cantos ou cortando os pulsos por causa do meu primo...

Ai droga! Aquele povo não tinha mais o que fazer da vida?

- E como o Edu saiu do colégio, aí que a bagaça bombou de vez. Olha, essa foi a primeira vez mais dramática de toda a história. Me sinto como naquelas novelas de época, que a honra de uma moça tinha que ser preservada a qualquer custo. Fala sério, você ficou com ele porque quis e ponto. Não importa os motivos. Até porque, tenho certeza que não foi um esforço tão grande para ele ficar com você...

Mordi os lábios, me segurando para não perguntar o que tinha acontecido com o carioca.

- Minha tia quis mudá-lo de colégio por causa do ritmo muito puxado da nossa escola. O Edu não estava conseguindo acompanhar direito as matérias, aí acharam melhor transferi-lo agora do que esperar as coisas complicarem. Já basta um na família quase repetindo de ano... – Alê deve ter lido na minha cara que estava morrendo de vontade de saber, porque contou com um ar meio entediado, como se estivesse pensando “já que você faz tanta questão”.

- Bom, então resumindo, segunda-feira eu ainda serei alvo de piadinhas e de olhares por todo o colégio. Já me sinto cansada só de imaginar – soltei o ar pesadamente – Sorte do seu primo que conseguiu fugir de tudo isso. Daria tudo para mudar de colégio também.

- Olha, não duvido que a transferência do Eduardo tenha algo a ver com isso. Ele odeia chamar a atenção mais que tudo nessa vida. Meu primo nunca lidou bem com pressão – o skatista avaliou – Mas você não precisa ser covarde a esse ponto. Até porque sempre achei que fugir pode ser uma solução temporária, mas uma hora você vai ter que enfrentar esse problema. Não tem jeito...

- Nossa Alê, o que aconteceu com você? Está falando todo sério, como se fosse um cara super inteligente e culto – provoquei.

- Qual é, Gabs? Por trás dessa fachada de vida louca existe um cara legal – ele se fez de ofendido antes de cair na risada – Mas tenho pensando muito em tudo o que aconteceu. Até porque eu também acabei sofrendo as “consequências” – ele fez um gesto com as mãos imitando aspas – Não frequento mais o Gueto e a Mari e suas amigas não falam mais comigo. Não que eu faça questão, mas...

- E posso saber o que se passa na cabeça desse grande pensador contemporâneo? – descontraí, fazendo meu amigo sorrir.

- Sei lá, esse lance das coisas sempre funcionarem da mesma maneira, sabe? Da Mari determinar o que é ou não certo e das pessoas seguirem sua opinião porque acham legal ou porque tem medo de estar na “mira” das suas maldades. De você precisar ter vergonha de brigar pelo cara que você gosta porque vai ser julgada. Das pessoas não ficarem com você por causa de status e esse tipo de coisa. É tão ridículo que a gente esteja no século 21 e ainda tenhamos que lidar com essas situações – ele sentou na cama e mexia as camas, bastante empolgado. Dava para ver que ele estava realmente incomodado com o assunto.

- Mas quanto a isso não temos muito o que fazer... Já estive dos dois lados da situação, o que julga e o que é julgado – ri sem muito ânimo – É tipo um ciclo sem fim no qual a Mari e sua turma sempre saem ganhando, de um jeito ou de outro.

- Isso porque ninguém nunca teve “poder de fogo” suficiente para revidar. Mas dessa vez, a gente tem – ele sorriu de maneira pretensiosa.

- A gente tem? – levantei a sobrancelha, curiosa.

- Tenho pensando em um plano de contra-ataque – ele confessou bastante satisfeito consigo mesmo.

- É mesmo? E qual é? – fiquei bastante interessada.

- Queria gravar vídeos, tipo vlogs, comentando essas situações, mas de uma maneira engraçada, sabe? De forma leve, mas que faça as pessoas pensarem – ele contou esperando a minha reação.

- Caraca, Alê! É perfeito! Eu adorei! Já te imagino fazendo isso – fiquei super empolgada com a ideia.

- Sabia que você ia curtir. E pode se preparar porque vou precisar da sua ajuda para editar os vídeos. Não posso subir qualquer coisa no Youtube...

- Claro! Vai ser ótimo te ajudar nesse plano de contra-ataque. Podemos já pensar em assuntos para abordar e pensar em maneiras sutis de provocar a nobreza da escola – sugeri – Só tem um problema! Isso até pode resolver o meu caso a longo prazo, mas preciso de algo mais imediato, saca? Não sou covarde, mas não quero dar minha cara a tapa também – mexi as mãos, agitada.

- E nem vai – mais uma vez ele abriu um sorriso bastante pretensioso, como se soubesse que estava salvando a pátria.

- E qual é o plano dessa vez? – fui direto ao ponto.

- Gabi, qual foi a primeira coisa que te ensinei quando você estava aprendendo a jogar truco? – ele questionou, sério.

- Huumm.... quais eram os naipes e cartas mais importantes? – chutei.

- Não Gabi! Foi blefar. Enganar o adversário e surpreendê-lo. E é isso que você vai fazer – disse de maneira enfática.

- Sei não... Será que consigo? Uma coisa é fingir durante o jogo, outra é enganar o colégio inteiro – ponderei sem confiar muito na ideia.

- Qual é, Gabi? Você fez todo mundo pensar que era a Julieta naquele teatro. Vai ser fácil fazer cara de poucos amigos para uma meia dúzia de pessoas – ele insistiu – Eu até criei um nome para isso: o jogo do engana trouxa. Enquanto todo mundo acha que você está por baixo, você volta sambando na cara da nobreza.

- Jogo do engana trouxa? Sério mesmo, Alê? – cai na risada – Olha, só você! Por isso que eu acho que esse vlog vai bombar.

- Vai falar que você não dá conta, Julieta? – ele provocou.

Parei de rir e me concentrei, abaixando um pouco a cabeça e fechando os olhos. Respirei fundo, recordando algumas técnicas que aprendi na oficina de interpretação. Quando voltei ao normal, ergui o queixo, firmei a voz e lancei um olhar de desprezo em direção ao meu amigo – Tá olhando o quê? Nunca viu? – disse assumindo um papel.

- Booooa! Dá para melhorar, mas esse é o caminho. Tipo, não queria em uma pessoa petulante. Pensei em algo mais, “Queridinha, não cansa minha beleza, por favor” – ele falou fazendo cara daquelas madames que passam a tarde inteira no shopping.

Cai na risada de novo, gargalhando alto. Demorou uns cinco minutos para me recuperar, mas depois disso passamos o resto da tarde trabalhando na minha personagem  - uma Gabi que era superior, que não se arrependia do que tinha feito e que já estava pronta para outra – e pensando em assuntos para o vlog do Alê.

No final do dia, eu já estava craque em “enganar trouxas” e já havíamos criado um canal no Youtube. Eu tive uma ideia muito bacana para o nome e o meu amigo adorou: um vida louca, nem tão louco assim. Usei as brincadeiras que ele mesmo fizera durante a tarde  como inspiração.

Já era quase sete da noite quando o Alê foi embora. Nesse meio tempo,  vi que minha mãe havia voltado para casa, mas não passou no meu quarto. Uma série de mensagens do Miguel no meu celular indicava que ela havia anunciado que eu estava fora da companhia.

- Alê, você não ficou bravo por eu não ter mentido para você? – perguntei depois que abri a porta da sala.
- Fiquei um pouco, mas entendo seus motivos. Foi uma barra mesmo tudo o que aconteceu... – seu jeito seguro me acalmou.

- Muito obrigada por tudo! Mesmo! Você tem sido muito legal – dei um abraço demorado nele, descansando minha cabeça em seu ombro por alguns momentos.

- Que isso, Gabs! Só falta chorar agora – ele brincou – Mas é sério, não precisa agradecer. É como te disse, não concordo com isso e fico feliz de tentar fazer algo para mudar. Agora somos o Time B, saca? Que nem no Harry Potter, quando os Marotos se juntam para fazer artes pelo castelo.

- Nossa, foi longe agora, hein? – ri da sua recordação – Mas, sendo assim – fiz uma pausa, levantando a mão como em uma promessa – “Juro solenemente não fazer nada de bom” – tentei manter a expressão séria, mas acabei falhando.

- “Mal feito, feito”. A gente se vê amanhã, parceira – ele piscou para mim antes de se virar e sair.

Fechei a porta e voltei para o meu quarto. Agora era hora de explicar tudo o que acontecera para o Miguel, conversar com o Léo e tentar colocar meus pensamentos em ordem em relação aos acontecimentos do dia. Porém, de uma coisa eu tinha certeza: ter o Alê ao meu lado seria a minha arma mais preciosa naquele plano de contra-ataque. Sem ele, a “batalha” já estaria perdida.
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Notas finais: Só eu estou empolgada com esse plano de contra-ataque? Certeza que o Jogo do Engana Trouxa e o vlog vão dar o que falar.

Sentiram falta do Léo? Ele volta no próximo cap. Segurem essa ansiedade!

Sabe quem também vai aparecer? O pai da Gabi! Socorro, gente!

Gente, e o babado que o Edu foi embora? Será que ele e Gabs nunca mais vão se encontrar?

Ai gente, já diria Roberto Carlos, são muitas emoções.

Perceberam que não demorei tanto para postar? Mandei bem, hein? Hahaha

Beijo e ótima semana para vocês, meninas! <3

*** Bora para o próximo capítulo? Então clique aqui





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Oiieeee.... xD

Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!

Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

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