Notas iniciais: Só acho que o nome desse capítulo deveria ser “Quando os forninhos caem”! hahaha Perdoem a demora! Nem vou mais me desculpar, porque né... Sempre fico me desculpando e desculpando e nunca consigo mudar essa demora rs! Mas caprichei bastante no cap. Espero que gostem!
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- Que horas mesmo você disse que ia chegar, dona
Gabriela? – minha mãe perguntou sentada no sofá, os olhos fixos na novela.
Dei uma olhada rápida no celular. Eram dez da
noite. Certo, eu estava encrencada. Muito encrencada – Desculpa, mãe. É que a
gente acabou entrando no cinema, por isso atrasou um pouco.
- Só espero que o seu dever de casa não esteja
atrasado – seu modo de falar era tão afiado quanto uma faca.
- Pode ficar tranquila, mãe. Tudo está sob
controle – mais uma “mentirinha” para a coleção, pensei comigo mesma.
- Vai logo tomar banho que preciso passar pomada
nas suas costas. E nem vou falar para você jantar, né? Com certeza deve ter se
entupido de pipoca no cinema...
- Já estou subindo – disse, atravessando a sala
e encerrando a conversa. Apesar da vontade de me defender e contar que não comi
nada demais enquanto estive fora, não queria estragar minha noite com
discussões inúteis. Meu estado de espírito estava tão bom que era difícil
acreditar que terminei a noite anterior chorando e que, menos de 24 horas
depois, seria capaz de dar pulos de alegria.
Subi as escadas de dois em dois degraus e
disparei pelo corredor até chegar ao quarto. Parecia que alguém tinha
recarregado minha bateria, porque sentia minha energia a mil. No meu pulso
estava a pulseira que o Léo costumava usar. Era simples, com três tiras de
couro marrom unidas por uma fivela. Ele deixara a peça comigo como “garantia”
do nosso contrato. Em troca, pegou um dos meus anéis de prata que usava na
falange – e que combinava com outros três decorados com strass que usava nos
dedos – e guardou na carteira. Fiquei tentada a perguntar se a namorada dele
não desconfiaria de nada, mas achei melhor não tocar no assunto. O contrato era
bem claro: nossa relação estava restrita às coisas boas. Nada de preocupação ou
neurose.
Falando em coisas boas, eu não parava de me
surpreender com o Léo. Depois que terminamos o lanche – fui obrigada a comer
metade da salada, mesmo relutando em fazer refeições na frente dele – ele
propôs que entrássemos no cinema, pois corríamos o risco de sermos vistos se
ficássemos na praça de alimentação, o que complicaria sua situação com a
Vanessa.
Enquanto estávamos em público, caminhamos um ao
lado do outro, conversando animadamente como grandes amigos. Uma das grandes
vantagens do meu “sócio” – como passei a chamá-lo – era o humor. Ele era muito
inteligente e sabia fazer observações pertinentes sobre todos os assuntos. Mas
o mais impressionante era como tudo fluía de um modo simples e natural entre
nós. Eu não precisava ficar decifrando mensagens ou gestos, me culpando por
considerar que agi errado ou de modo precipitado. Com o Léo, as coisas
simplesmente aconteciam e pronto.
Ele fez questão
de comprar os ingressos e a pipoca, muito embora eu tenha avisado que não iria
comer mais nada. Sentamos juntos e, assim que a luz apagou, ele colocou a mão
sobre o meu ombro. Achei que ele se aproveitaria da situação, mas não. Por um
bom tempo só ficamos abraçados, ele comendo pipoca e, de vez em quando, fazendo
comentários sobre o filme. Achei impressionante o fato dele gostar de comédia
romântica. A maioria dos homens costumava curtir apenas filmes de ação ou suspense.
- Quero ser escritor. Por isso gosto de todos os
tipos de história – ele sussurrou de volta depois que fiz uma piada sobre o
interesse pelo filme.
Fiquei de boca aberta com a declaração. Sem
dúvidas, aquele garoto era muito diferente de todos os outros.
Depois da sessão, enquanto deixávamos o shopping
e caminhávamos para o ponto de ônibus que ficava próximo dali, ele me contou
mais sobre o seu sonho: a ideia era escrever histórias que retratassem os
dramas reais vividos pelas pessoas, como dificuldades de relacionamentos entre
pais e filhos, bullying e coisas do tipo. Mas, ao invés de explorar o “drama”
por trás dessas situações, mostraris aos leitores o lado bom da vida.
- Nossa, que garoto mais culto e inteligente –
falei em tom de zuação.
- Está pensando o quê, garota? Que sou apenas um
rostinho bonito? Tem muito conteúdo por trás desses belos olhos azuis – meu
sócio não perdeu a chance de se gabar.
- E quando pretende começar a escrever sua
primeira grande obra? – questionei.
- Então, eis o grande problema – fez cara de
sofredor, como se estivesse passando por uma crise muito grande – Ainda não
achei a história certa, saca? Aquela que você olha e pensa “é essa!”. Já tive
muitas ideias, mas nada que realmente me cativasse. Aí sempre acabo desistindo
nos primeiros capítulos. Talvez estivesse faltando uma musa inspiradora –
sorriu para mim com aquele seu jeito de garoto arteiro.
Desviei o olhar, sem graça. Não estava
acostumada com tanto carinho e atenção. Com o Edu era tudo sempre tão difícil.
Receber elogios ainda era um pouco estranho para mim – Estava pensando em uma
coisa durante o filme – mudei de assunto propositalmente – Nosso contrato tem
vigência de três meses. Mas, nesse período, acho que precisaremos de algumas
regrinhas para que ele funcione direito.
- Só dizer, sócia – assumiu uma expressão séria,
como se estivéssemos falando de negócios que envolviam milhares de dólares.
- Primeiro de tudo: sigilo absoluto. Acabei de
sair de uma situação bem delicada. Não seria legal o pessoal ficar sabendo que
me meti em um contrato com um cara comprometido – exigi.
- Certo, acho seu pedido justo. Além do mais,
também não quero que a notícia se espalhe. Quero ser eu a contar para a Vanessa
sobre o nosso contrato e não esse povo fofoqueiro.
Será que ele realmente pretendia contar para
ela? A pergunta quase escapou da minha boca, mas mais uma vez me controlei. O
relacionamento dos dois não era da minha conta.
- Em segundo lugar, acho que precisamos ser
absolutamente francos um com o outro. Se algo desagradar, ou não estiver de
acordo com o combinado, precisa ser conversado e resolvido. Nada de indiretas,
mensagens subliminares ou códigos. E o principal, se um não estiver mais a fim,
o outro precisa ser o primeiro a ficar sabendo. Nada de mentiras ou enganações
– pedi, tentando me blindar de passar novamente pelas mesmas situações que vivi
com o Edu. Eu duvidada que seria capaz de me levantar se algo daquele tipo
voltasse a acontecer.
- Pedidos concedidos, sócia. Mais alguma
exigência? – continuou falando como uma falsa solenidade, o que me fez rir.
Parei para pensar alguns segundos antes de
responder - Não, acho que é só isso.
- Gabi, eu tenho certeza que esse contrato vai
dar certo – disse, antes de me puxar e me beijar gentilmente nos lábios.
Senti seus braços deslizarem pela minha cintura,
como se quisesse me segurar e nunca mais me deixar ir embora. Novamente a
reação me surpreendeu. O Léo me transmitia segurança, enquanto o Edu sempre me
deixava em estado de alerta.
Infelizmente, o beijo não durou muito. Ele me
soltou logo na sequência, mantendo apenas nossas mãos unidas enquanto
caminhávamos.
- Posso saber como você tem tanta certeza disso?
– provoquei na tentativa de disfarçar o quanto aquele beijo me deixara
desconcertada.
- Porque eu sei, ué... – disse, lançando um
olhar cheio de mistério na minha direção – E vem logo que acho que tem um
ônibus vindo – acelerou o passo, me puxando atrás dele.
Realmente havia um coletivo a caminho. Com uma corrida curta, conseguimos alcançar o
ponto e dar sinal. Sentamos no fundo e, como estava vazio, encostei minha
cabeça no seu ombro e recebi um cafuné tão gostoso que quase me fez dormir.
Seguimos o resto do caminho em um silêncio
confortável, como se não precisássemos de palavras para nos entender.
O ônibus parava no centro e de lá peguei um táxi
para o condomínio. Como já estávamos em Guararema e corríamos o risco de sermos
vistos, nos despedimos apenas com um abraço. Foi aí que ele teve a ideia de me
entregar a pulseira e pegar o meu anel.
- Melhor do que selar o acordo com sangue – não
perdeu a oportunidade de fazer piada.
Comecei a rir sozinha ao me lembrar de todos os
acontecimentos da noite. O taxista olhava para gente com cara de “Oi? O que
vocês estão falando?”. Girei a pulseira no meu punho, sorrindo sozinha. Seria
possível que depois da tempestade eu tivesse encontrado um porto seguro?
- Gabriela, você não tomou banho ainda?
Dei um pulo ao ouvir a voz da dona Beatriz.
Quando me virei, me deparei com ela parada na porta do meu quarto, me “fuzilando”
com o olhar.
- Filha, o que está acontecendo? Você anda com a
cabeça nas nuvens nesses últimos tempos! Desde as nossas férias você não tem
mais se mantido focada. Acorda, Gabriela! – estalou os dedos para chamar minha
atenção.
- Já vou, mãe. Estava só relembrando uns
conteúdos da matéria que vai cair na prova amanhã. Queria ter certeza que
memorizei tudo certo - estava ficando cada vez melhor na arte de inventar
desculpas.
- E não pode fazer isso no banho? Vai logo,
quero deitar para descansar. Minha vida não é fácil que nem a sua – ralhou
comigo, sentando-se na minha escrivaninha – Estou esperando, vê se não demora!
Sem opção, acabei indo para o chuveiro. Tomei
uma ducha rápida para que minha mãe pudesse passar a pomada de uma vez nas
minhas costas. Quando terminou de fazer a massagem, dona Beatriz fez questão de
repetir que eu precisava melhorar minha disciplina, ou ela seria obrigada de
tomar atitudes mais drásticas.
Mesmo sentindo uma pontada de medo por causa da
ameaça, me permiti deitar a cabeça no travesseiro e sorrir. As coisas estavam
começando a melhorar. As nuvens negras de tempestade já não me atormentavam
mais.
***
Acordei tão empolgada no dia seguinte que a
Maria até estranhou meu bom humor matutino.
Me esforcei para chegar mais cedo na casa do
Léo, para poder cumprimentá-lo com um beijo antes que os outros chegassem.
- Bom dia, sócio – dei um selinho depois quando
o encontrei na sala.
- Muito bom dia, sócia. Vejo que acordou bem
disposta hoje. Mas não é assim que se dá bom dia para as pessoas... – balançou
a cabeça, desaprovando minha ação.
- E como é? – levantei a sobrancelha, confusa.
- Assim – com uma velocidade incrível, ele girou
meu corpo, me colocando contra a parede e me deu um beijo daqueles, apoiando as
mãos na parede e prensando o corpo no meu. Tudo foi tão rápido que mal tive
tempo de reagir. Quando dei por mim, ele já estava se afastando para atender o
interfone que tocava.
Antes de ir, porém, voltou e ajeitou meu cabelo
– Te deixei descabelada – deu uma risada gostosa ao ver minha cara de susto –
Agora você já sabe como dar bom dia para mim, sócia – deu mais uma gargalhada
antes de ir abrir o portão.
Passei a manhã inteira me controlando para não
dar nenhuma brecha para o pessoal. A Laís propôs que continuássemos jogando
truco. Claro que o Caio adorou a ideia e, novamente, fez o possível para tirar
proveito da situação. A morena também não perdeu tempo. Como era o último dia
do “retiro”, ela parecia estar determinada a fazer algo para chamar a atenção
do meu sócio. Minha vontade era de falar “amiga, para! Tá feio!”. Será que ela
não percebia que ele não queria nada com ela?
Vendo o comportamento da garota, lembrei dos
comentários da Mari que eu estava me oferecendo para o Edu. Francamente, eu não
tinha feito nem metade daquilo pelo carioca. Na realidade, o comportamento dela
se encaixava muito mais no perfil da Nathy e da própria Marília: insistir de
todas as maneiras possíveis até conseguir o que queriam. A diferença era que,
enquanto a Laís jogava limpo e deixava claro o que queria, as “falsianes”
preferiam fazer planos ardilosos e não se importavam em derrubar quem quer que
estivesse no seu caminho.
Embora estivesse irritada com as investidas da
Laís, não pude deixar de admirar o Léo por resistir tão bravamente. Ela era uma
garota muito bonita, bem sensual, e ele estava segurando bem o “forninho”.
Diferente do Edu, né? Que caiu na “rede” da Nathália bem fácil...
Ai, droga! Será que esse garoto não ia sair
nunca da minha cabeça? Soltei o ar pesadamente, insatisfeita com os meus
pensamentos.
- Que foi, bailarina? Não encontrou seu
Quebra-Nozes? – o Léo me lançou um olhar provocativo.
- Olha, vamos falar de clássicos do balé agora?
– levantei a sobrancelha, surpresa.
- Já te disse, Léozinho também é cultura – o
cabeludo se gabou, mexendo no cabelo.
- Vocês dois se deram bem, né? – Gustavo
comentou usando um tom de voz que insinuava algo a mais.
Encarei o Léo sem saber o que fazer. Será que
tínhamos dado algum fora?
- E quem não se dá bem comigo, meu caro Gustavo?
Sou o charme e simpatia em pessoa – o dono da casa conseguiu driblar a situação
e nos tirar da enrascada.
Respirei aliviada quando o moreno começou a
implicar com o amigo, dizendo que ele estava disputando com o Caio o posto de
Rei do Camarote. A conversa seguiu animada e eu tratei de me concentrar no jogo
e não dar mais nenhum fora.
Quando chegou a hora de ir embora, todos se
despediram com abraços e vários comentários sobre como aqueles dias de retiro
foram divertidos. Enquanto os meninos se distraíam cogitando quando seria o
próximo encontro, fiz um agradecimento mental ao Caio. Se não fosse ele, eu
provavelmente ainda estaria chorando pelo Edu e sofrendo pela traição da Mari.
Por mais que o Rei do Camarote tivesse uma personalidade difícil, ele estava se
mostrando um bom amigo. Mesmo que só estivesse interessado em me ajudar com
segundas intenções...
Acabei me estendendo muito nas despedidas e
precisei correr até o centro para pegar o ônibus. Por mais que eu não quisesse
ir para o ensaio, também não queria despertar ainda mais a ira da dona Beatriz.
Ela já andava bem nervosa comigo e eu não estava disposta a dar ainda mais
motivos para ela ficar insatisfeita.
Desci em frente ao condomínio e apressei o passo
para chegar logo. Estranhei quando vi o carro da minha mãe parado em frente a
nossa casa. Será que alguma aula da manhã fora cancelada?
Entrei em casa e dei de cara com a dona Beatriz
sentada em frente à porta. Sua boca estava fechada em uma linha reta e suas
mãos cruzadas em frente ao corpo como se estivesse se segurando para não fazer
algo errado.
- Onde
você estava, Gabriela? – sua voz era fria como gelo.
Era óbvio que ela sabia de algo. Mesmo assim,
não quis entregar o jogo assim, tão fácil – Na escola, ué... – disse como se a
resposta fosse óbvia.
- Gabriela, eu falei com a diretora do seu
colégio hoje. Liguei para pedir que você fosse dispensada das aulas de Educação
Física e ter certeza que dessa vez minha ordem seria seguida. A Cecília me
garantiu que conversaria com a professora e que cuidaria pessoalmente do meu
pedido. Até aí, tudo caminhava bem e eu já estava prestes a desligar quando
ouvi a diretora perguntar quando você voltava para o colégio. Sem entender
nada, questionei sobre o que ela estava falando e adivinha o que eu descobri? –
ela me encarava como um predador que estuda a presa. Sua voz era fria e
calculada e seus olhos faiscavam de raiva, ressentimento e algo maior e ainda
mais profundo que não consegui decifrar. Eu nunca tinha visto dona Beatriz tão
contrariada e fora de si – Na segunda-feira alguém mandou um e-mail para a
diretoria do colégio em meu nome dizendo que você ficaria um tempo afastada das
aula porque estava muito fragilizada com os últimos acontecimentos – fez uma
pausa, engolindo em seco, como se o assunto fosse amargo demais – E foi assim
que fiquei sabendo que minha filha foi vítima de bullying na escola porque um
boato sobre você ter perdido a virgindade foi espalhado de forma maldosa entre
os alunos. E eu pensando que o seu único problema era a distração nos ensaios –
sua voz falhou na última frase. Eu sabia que era difícil para ela admitir que
falhara – Quando você pretendia me contar o que estava acontecendo, Gabriela?
- Eu não queria te preocupar, mãe – menti. Na
verdade eu sentia vergonha de admitir que tinha fracassado. Dona Beatriz era
tão perfeita que jamais perdoaria uma filha tão perdedora.
- Senta aqui. Quero saber essa história
direitinho, desde o começo – fez um gesto, apontando a poltrona na sua frente.
Só então me dei conta que ainda estava parada perto da porta.
Obedeci a ordem, deixando minha mochila ao meu
lado no chão. Tudo indicava que seria uma conversa longa e bem tensa.
- Meu Deus, que maquiagem é essa logo de manhã?
Pelo amor de Deus. Gabriela! Por onde você andou todo esse tempo? – minha mãe
parecia horrorizada com a ideia de ter perdido o controle da minha vida, mesmo
que só por uma semana.
- Com uns amigos... – foi tudo o que disse.
Tinha medo que ela entrasse em contato com a mãe do Léo e dos outros meninos e
acabasse entregando todo mundo. Era bem o perfil da dona Beatriz fazer isso.
Com uns amigos... – repetiu, contrariada – Ok,
vamos do começo – respirou fundo tentando se acalmar – Esse boato que você
perdeu a virgindade. É verdade?
Confirmei com a cabeça, sentindo a vergonha
escorrer de cada um dos meus poros. Não poderia existir modo mais constrangedor
de contar para sua mãe sobre a sua primeira vez.
- E com quem foi? – ela se controlava para
manter o tom de voz calmo.
- Com o Edu, primo do Alê – informei, encarando
o chão.
- E quando aconteceu? – o interrogatório
continuou.
- No dia da festa de Carnaval na casa da Carol –
senti um nó no estômago ao me lembrar. Se pudesse, apagaria essas recordações
da minha memória para sempre.
- E vocês estavam namorando?
Balancei a cabeça, negando. Eu esperava que
minha mãe não fosse do tipo conservador, que acreditava que uma mulher não
deveria se entregar sem ter um compromisso sério com o rapaz...
- Mas vocês estavam juntos já tinha um tempo,
né? Ele sempre estava aqui na frente de casa. E parecia gostar de você...
“Só parecia...”, tive vontade de dizer, mas
continuei fitando o chão, envergonhada.
- Bom, levando em consideração que vocês viviam
juntos, acredito que não é verdade que ele só ficou com você por dó. Alguém
espalhou essa fofoca para te prejudicar, não foi isso?
Ver a situação sob essa perspectiva não ajudava
em nada. Eu sabia que tudo era verdade, mas ouvir minha mãe resumir tudo com
palavras tão frias e mesquinhas reforçava a ideia que eles me usaram e, quando
cansaram, jogaram fora sem o mínimo de dó.
Afirmei com a cabeça sem muita convicção. Eu não
tinha como ter certeza que o Edu tinha outros motivos para querer ficar comigo.
O carioca sempre foi tão misterioso em relação aos seus sentimentos que era
difícil ter certeza que sentia algo por mim que não fosse pena.
- E quem fez isso? Você tem alguma ideia?
- Foi a Mari – consegui dizer depois de algum
esforço.
- A Marília? Sua amiga? – dona Beatriz colocou a
mão na frente da boca e balançava a cabeça, incrédula – Mas por quê? Vocês
sempre se deram tão bem...
“Essa é a pergunta de um milhão de dólares”,
pensei, amarga. Mas eu já não sabia mais se realmente queria saber a verdade.
Talvez a resposta fosse ainda mais dolorosa que a dúvida.
Minha mãe ficou em silêncio por um momento, como
se ainda estivesse em choque com a notícia. Quase dava para ouvir seus
pensamentos tentando encontrar uma resposta lógica para aquela questão.
- Certo, a Cecília disse que conversou com os
alunos e que está tomando medidas anti- bullying na escola – voltou a falar
quando desistiu de tentar entender os motivos da Marília – Infelizmente, ela
disse que não tem como punir os culpados com advertências ou suspensões porque
a notícia se espalhou como um boato e não temos como provar quem foi o autor da
mentira. Mas a diretora disse que você já pode voltar às aulas e que estará de
olho no pessoal da sua sala – fez uma pausa, me encarando como se esperasse que
eu me sentisse mais tranquila com aquela notícia. Mal sabia ela que só de
pensar em voltar eu já sentia todo o meu corpo tremer – Já eu posso falar com a
mãe da Marília. Alguém precisa colocar essa menina na linha...
- Não, mãe. Não precisa fazer isso – pedi,
interrompendo sua fala.
- Gabriela, você não precisa ter medo de
represálias...
- Não é nada disso, mãe! – a interrompi de novo,
dessa vez de modo mais enérgico – É só que isso é dar ainda mais munição para a
Marília usar contra mim. A situação está muito melhor do jeito que está. Pode
ter certeza disso.
- Ok, se você acha melhor assim... – assumiu um
tom apaziguador que me assustou. Dona Beatriz não era do tipo que abria mão tão
facilmente de um ponto de vista – Então vamos mudar de assunto. Bom, sei que já
tivemos essa conversa, mas você sabe que perder a virgindade é um passo muito
importante na vida de uma garota, né? É o primeiro passo para você se tornar
uma mulher de verdade...
Senti meu rosto queimar ainda mais de vergonha.
Eu e minha mãe já havíamos falado sobre sexo antes, mas daquela vez era
diferente. Havia uma falsa cumplicidade no ar, um entendimento forçado, como
se, na verdade, minha mãe não estivesse prestes a querer me matar por ter
aprontado tanta coisa. Infelizmente – ou felizmente para mim – as rugas em
torno do seu olho e o vinco na sua testa entregavam o que realmente estava se
passando pela sua cabeça.
- Bom, vou marcar um médico para você. Não tinha
feito antes por não achar necessário, mas agora você precisa tomar certos
cuidados. O que me faz querer saber algo muito importante – outra pausa
acompanhada de uma mexida desconfortável na cadeira – Você se cuidou, Gabriela?
Usou camisinha? Porque você sabe que com essas coisas a gente não pode brincar,
né? Veja o que aconteceu comigo! Um descuido e toda minha carreira de bailarina
foi por água a baixo...
- Mãe, não é porque aconteceu com você que
também vai acontecer comigo. Para de ficar tentando me usar para ter a vida que
você não teve – falei com um tom não muito amigável. Não sei porque tive aquela
reação tão exagerada, mas não consegui me segurar. Uma raiva irrefreável se
espalhou pelo meu corpo como se fosse um veneno.
- Não estou tentando te usar para nada. Só estou
preocupada com você, Gabriela! – respondeu, deixando sua máscara de mãe
controlada e compreensiva cair. Agora sim dona Beatriz estava se revelando de
verdade.
- Está tentando me usar, sim. Sempre esteve.
Você quer que eu seja bailarina profissional só porque você não conseguiu ser.
Você quer que eu seja disciplinada, forte e determinada, mas eu não sou nada
disso. E você quer saber por que não te contei sobre a Mari e o Edu? Foi porque
você nunca se interessou em saber o que eu realmente queria. Você sempre
decidiu o que era melhor para mim sem sequer consultar minha opinião. Então por
que eu deveria te contar o que estava acontecendo? – eu gritava, colocando para
fora tudo o que estava entalado na minha garganta – Agora mesmo, você nem quis
saber como estou me sentindo em relação a tudo o que aconteceu. Só se preocupou
em ter informações suficientes para poder assumir o controle da situação.
- E o que você queria que eu fizesse? Preciso
saber o que aconteceu para poder tomar as medidas necessárias e consertar essa
bagunça em que você se meteu – falou em tom sério, tentando impor respeito.
- Eu não me meti em bagunça nenhuma, mãe! Você
mesmo concluiu que fizeram isso para me prejudicar – me defendi, mexendo as
mãos de forma agitada.
- Mas você também não se ajudou muito, né? Saiu
por aí, dormindo com o primeiro rapaz que conheceu... – levantou as
sobrancelhas, irônica.
- Não muito diferente de você, né? –rebati de
forma ácida.
- Gabriela, me respeita! – levantou o dedo de
modo ameaçador – Tudo o que eu faço é pensando no seu futuro. Já passei por
muita coisa nessa vida, por isso tenho experiência para decidir o que é melhor
para você. Não quero que você sofra o que eu sofri.
- Será que nunca passou pela sua cabeça que o
melhor para mim talvez não seja o que você determinou? Será que já pensou que
posso tentar outras coisas que não tenham a ver com balé? Ou que a vida não se
resume à dieta, ensaio, disciplina e sofrimento?
- Que outras coisas você pode tentar? A única
coisa que você sabe fazer é dançar. Gabriela! – dona Beatriz beirava a
histeria.
- Eu não sei, mas estou cansada disso! Estou
cansada de não poder comer o que gosto e de não poder fazer o que quero. Estou
exausta de me esforçar tanto para te agradar e de você sempre exigir mais e
mais – lágrimas rolaram pelo meu rosto e eu não sabia se eram de nervoso,
tristeza ou frustração. Eu tinha vontade de gritar e gritar até que todo aquele
sentimento ruim deixasse de vez o meu peito.
- Você está me dizendo que não quer mais dançar?
– sua expressão era um misto de surpresa e raiva.
- Sim, é isso mesmo – confirmei.
- Então está ótimo, Gabriela. Não precisa mais
fazer balé já que isso é um fardo tão pesado para você – me provocou – Mas não
pense que essa sua vida de vagabundagem vai continuar. Segunda-feira você volta
para a escola. Farei questão de te levar e vou manter contato direto com a
Cecília para saber se você não fugiu. Como é seu pai que paga o colégio, vou
cuidar do seu desempenho escolar já que ele não pode fazer isso. Mas de
resto... – deu de ombros, indiferente – pode fazer o que quiser da sua vida. Eu
não vou mais me meter em nada. Coma o que quiser, vá para onde quiser, fique
com o garoto que der na telha. Mas assuma com as consequências dos seus atos e
não venha me pedir ajuda depois.
- Fica tranquila! Você não vai precisar me
aturar por muito tempo. Quero ir morar com o meu pai em Nova York – disparei
sabendo que aquele era um golpe muito baixo. Dona Beatriz não permitia nem uma
aproximação por telefone, quem dirá morar com ele.
Ela se levantou da poltrona e me lançou um olhar
de desprezo, como se eu não fosse digna da sua companhia – Ótimo! Então para já
ir se acostumando, passe a se virar com ele. Mesada, livros, peça tudo para o
seu querido pai. Esqueça que tem mãe. Gabriela – disse, antes de me deixar
sozinha na sala.
___________________
Notas finais:
Maaaas gente, o que deu nessa menina? Revoltou geral! Socorro!
E agora? O que fazer? Como
lidar? Como será essa volta para a escola? Será que vai ter reencontro com o
Edu? E o Léo? E esse contrato? É muita coisa pra lidar, Gabi tá se enrolando cada vez mais.
Ai gente, a única certeza é
que Alê volta no próximo cap. Vamos ver se ele consegue segurar essa menina,
né? Hahaha
Beijo, gente! Ansiosa para
saber opiniões!
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Oiieeee.... xD
Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!
Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*
Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*
E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!