segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Transcrição nº 11 – Enfim, vida

Notas da Estagiária: Aceito o acordo de paz que você e suas leitoras propuseram. Até porque, em breve, vocês estarão livres de mim.

Nessa parte do diário, a Raquel fez uma decisão muito, mas muito importante que mudou a vida dela.

Ela só não sabia que as consequências seriam tão terríveis...
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Transcrição da página 35 à 39

["Será que a sorte virá num realejo?
Trazendo o pão da manhã
A faca e o queijo
Ou talvez... um beijo teu
Que me empreste a alegria... que me faça juntar
Todo resto do dia... meu café, meu jantar
Meu mundo inteiro...
que é tão fácil de enxergar... E chegar" - Realejo, Teatro Mágico]

Voltei para casa.

Depois da audiência e dos dias no hospital, chegar em casa era um alívio.

Minhas coisas, meu quarto, minha cama, sem falar do me travesseiro...

Era como renovar as energias.

Ali eu me sentia mais forte, mais capaz de lutar pelo o que queria.

Tudo ali significava uma parte de mim: cada batalha e cada vitória. Era o meu porto seguro.

Por muito tempo o Amor fez parte daquele lugar, do meu mundo. Embora contrastasse com as cores e a decoração, ele se fez presente ali. Mesmo que contrariado.

Para ser sincera, ele nunca combinou muito com aquele cenário. Eu lutava para encaixá-lo.

Mas a guerra havia acabado.

Finalmente as peças haviam se encaixado. E o Amor não era uma delas.

Em palavras mais claras: ele era “carta fora do baralho”. 

E era hora dele saber disso.

***

Pedimos uma massa em um restaurante que gostávamos. Escolhemos um vinho.

Ele falava de trabalho, como sempre.

E eu só pensava em como anunciar minha decisão...

Até que as palavras finalmente escaparam, como um pássaro que procura a liberdade.

EU. QUERO. TERMINAR. O. NOSSO. NOIVADO.

O plano era poupá-lo dos detalhes. Por enquanto, era só o que ele precisava saber.

Esperei diferentes reações: da raiva à tristeza infinita.

Só tive o silêncio como resposta.

Com toda a paciência do mundo, ele terminou o jantar. Sua expressão era calma, concentrada.

Comecei a ficar com medo. O que será que ele estava pensando?

Quando terminou de comer, ele finalmente falou.

“Raquel, eu sei que você está trabalhando demais. Esse último caso foi particularmente estressante. Sei que teve muita pressão e cobrança. Mas e se a gente for viajar? Assim que esse processo terminar, podemos fazer um cruzeiro. O que acha?”

Assim que o processo acabar?

Cruzeiro?

Muita cobrança e pressão?

Então aquilo era uma negociação?

Por um momento, me imaginei no fórum tentando fazer um acordo para um cliente. Ou como um funcionário do escritório, pedindo por um aumento ou outros benefícios.

Será que ele entendia que um relacionamento afetivo precisava de muito mais do que desculpas esfarrapadas e compensações exageradas? Será que ele entendia que eu estava ali, falando de terminar e que isso significava o fim, e não uma reciclagem barata disfarçada em forma de viagem?

Fiquei firme. 

Devolvi o anel.

Senti um peso enorme saindo dos meus ombros.

E o principal: tive a certeza de que estava fazendo a coisa certa.

Era claro que a promessa do Garoto da Voz Encantadora não saia da minha cabeça.

“Nós podemos resolver isso juntos”.

Mas aquela atitude significava muito mais do que isso. Era a primeira vez que eu assumia as rédeas da minha vida. 

Porque se a vida passa voando, somos nós que devemos decidir para que lado ela deve soprar. E agora que havia descoberto isso, não queria mais sair do controle do meu destino.

Por fim, o Amor desistiu.

Levantou, nervoso. Pegou a carteira, abriu a porta.

Antes de sair, olhou para mim.

“Só acho que você precisa pensar se vale a pena trocar tudo o que você tem, todo o conforto, a sua carreira, um noivado e todo o resto por uma aventura a toa. Pensa, Raquel. Só por um minuto, pensa!”.

Bateu a porta.

Ficamos eu e a dúvida.

Ele sabia? 

A troca valeria a pena?

A sensação era a de quem pulava de um penhasco sem saber o que ia encontrar lá embaixo.


***

Fui trabalhar no dia seguinte como se nada tivesse acontecido.

Eu me sentia renovada. 

Aberta para novas possibilidades.

De cara percebi os olhares atravessados e os cochichos.

Eles sabiam...

Amor não estava lá. Estaria de cama sofrendo de dor de cotovelo?

O telefone tocou. Era minha mãe me dando sermão.

“Pense na amizade da nossa família, em tudo o que eles fizeram pelo seu pai, no seu trabalho, em quanto seu noivo está sofrendo...”

Pelo jeito, aquela história de que notícia ruim corria rápido era a mais pura verdade...

Veio o segundo tempo de sermão: agora do meu sogro.

“Raquel, uma crise agora no escritório prejudicaria os negócios. E tem aquele cliente novo, precisamos focar nessa causa...”.

Todos estavam preocupados com as aparências. Com o que aconteceria nos próximos capítulos.

Ninguém queria entender o que estava acontecendo agora. Ninguém queria me entender.

Me tranquei no banheiro. Precisava de cinco minutos de paz.

Lavei o rosto, mesmo borrando a maquiagem. Um refresco me faria bem.

Lá fora, o mundo estava contra mim. Ali dentro, eu me sentia viva.

Encarei a minha imagem no espelho: maquiagem séria (ou o que sobrou dela), cabelos presos. 

Para quê? Aquilo não era mais eu...

Soltei meus fios. Os cabelos vermelhos fizeram meus olhos verdes arderem em chamas.

Sim, eu estava viva. Como há muito não me sentia.

O celular tocou.

Era ele! Queria saber como eu estava.

Desabafei, contei tudo.

A resposta foi simples.

“Vem pra cá, eu cuido de você”.

Eu sorri.

Fui para casa.

Fiz as malas.

E fui.

Fugi.

Fui encontrar a minha vida.
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Notas da Manu: Meu Deus, o forninho caiu!

Caramba, o Amor perdeu! 

Tô passada, gente! Que bapho foi esse?

E que consequências graves são essas que a Estagiária disse? 

Cara, eu estou surtando aqui! Raquel, minha filha, se você estiver lendo isso, vem cá menina... precisamos conversar! Que rebeldia é essa? Hahahaha

Pode chamar a costureira: essa menina perdeu a linha! Mas eu AMEI! Estou adorando a atitude dela.

Já tô ansiosa pra saber o que vem por aí! E vocês?

Beijo, gurias!


***Leia a próxima transcrição:Página 40 à 43: Meu novo mundo

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