Quando
desci, a festa já estava rolando. Música alta e cerveja animavam o local. Às
vezes, em ocasiões especiais, convidávamos bastante gente para as nossas
comemorações. Mas aquela noite seria só a velha e boa Turma do Gueto. Ou seja,
eu, Carol, Marília, Alê e seu primo, Caio, e mais a Natália, Mel e Deby.
Essas
três últimas estudavam na nossa sala, mas eu não costumava falar muito com elas.
Só algumas conversas sobre séries, filmes ou maquiagem. Nada pessoal. Elas eram
mais chegadas da Marília e por isso sempre eram presença confirmada no Gueto.
O Caio era o “rolo” da Carol há mais ou menos uns seis meses, quando os dois se
conheceram em um show de um desses cantores sertanejos da moda. Desde então,
eles ficavam nesse “chove e não molha”. Claro que o fato de ser moreno, alto,
forte, estiloso, dono de um sorriso arrebatador e muito bonito contavam
bastante a favor dele, mas às vezes ele era um pouco infantil. Estava sempre
querendo se exibir, o tipo de pessoa que faz tudo para chamar atenção.
Completamente o oposto da Cá, que era mais tranquila e na dela. Porém, como
todo bom cafajeste, ele sabia levar a minha amiga no papo muito bem... O
resultado era aquele rolo que vivia atando e desatando.
Já o
Alê era o skatista da turma e fazia a linha descolado e aventureiro.
Estudávamos juntos desde a quinta série e erámos praticamente vizinhos. Por
isso, eu e ele mantínhamos uma amizade muito especial.
Quase
todo mundo já estava por lá. Só faltava o Alê e o tal primo e a expectativa
pela chegada do novo morador da cidade não poderia ser maior. Em busca de
informações, as meninas chegaram até a fuçar o Instagram e o Facebook do skatista. Aparentemente, ninguém teve sorte, porque continuavam especulando.
Decidi
não fazer parte da conversa. Aqueles eram os meus últimos dias das férias escolares antes
de voltar à rotina enlouquecedora de escola + ensaios + decisões para a época
mais importante da minha vida (que envolvia escolher entre faculdade,
intercâmbio ou academia de dança. E, caso eu escolhesse a primeira opção, então
eu ainda precisaria escolher qual curso fazer). Era muita pressão! Por isso, eu
aproveitava cada minuto de folga como se fosse o último.
-
Gaaabi, pega lá os copinhos de dose! Vamos começar a rodada de porradinha! –
Carol gritou para mim sentada em um dos velhos sofás, rodeada pelo restante das
garotas. Caio estava em um canto, esperando o Alê para dar início às partidas de
truco.
-Beleza!
Tô indo lá! – Gritei de volta por cima do som, já me virando para ir em direção
a casa. No caminho não pude deixar de imaginar que a noite ia render. Sempre
que rolava porradinha, (uma mistura de vodka com soda servida em um copo pequeno
de dose. Antes de beber, a pessoa precisa bater a base do copo no joelho, o que
fazia o gás do refrigerante subir e tornava a bebida mais...interessante), alguém
ficava bêbado e acabava pagando mico. Como estávamos entre amigos, ninguém tinha
a preocupação se estava ou não passando da conta. Confiávamos uns nos outros
ali. Mas, era claro, que isso não impedia que a pessoa fosse muito zuada no dia
seguinte por causa da bebedeira, afinal, "the zoera never ends".
Subi
as escadas do sobrado correndo - tarefa difícil considerando que estava usando
uma sandália com o salto altíssimo - abri o armário da Carol, encontrei o
esconderijo secreto das bebidas e dos copos de doses e voltei, ainda em
disparada.
Passei
pela sala, cruzei a cozinha e ia saindo pela porta dos fundos, em direção ao Gueto
quando trombei em alguém. Consegui manter os quatro copos seguros em
minhas mãos, mas acabei me desequilibrando e quase fui parar no chão, não fosse
“o alguém” me segurar.
-
Opaaa Gabi, mas a festa nem começou e você já está bêbada? – ouvi a
inconfundível voz do Alê me zuar enquanto ria de mim.
Senti
“O Alguém” me endireitar e me segurar levemente pelos ombros como se quisesse
testar se eu realmente tinha condições de parar em pé sozinha. Demorou uns cinco
segundos para me recuperar do choque e conseguir me firmar sobre os meus
joelhos, mas enfim consegui me virar para conhecer o meu salvador.
Loiro,
alto, olhos de um tom verde acinzentado, pele queimada de sol, cabelo liso meio
comprido na frente caindo nos olhos.
“CA-RAM-BA!”.
Foi tudo o que se passou pela minha cabeça nessa hora. Não dava para acreditar
que eu tinha praticamente atropelado um cara gato daquele. Seria um desperdício
sem tamanho...
-
Gabi, esse é o meu primo, Edu. Edu, essa é a bonequinha de porcelana e
bailarina da turma, Gabriela – Alê tratou de fazer as apresentações. Agradeci
mentalmente a iniciativa dele, porque eu ainda estava sob o efeito daqueles
olhos verdes tão misteriosos.
Edu
deu um sorriso de canto de boca para mim e estendeu a mão para me cumprimentar
– Então é assim que vocês recebem as pessoas por aqui? Com trombadas? – ele
disse em tom irônico.
-
Não! Na verdade costumamos tacar ovos e jogar farinha, mas como só ficamos
sabendo da sua vinda em cima da hora, tivemos que improvisar qualquer coisa – dei
de ombros, esticando o braço para aceitar o seu cumprimento.
-
Então devo concluir que tive sorte por ser atropelado por você? – o rapaz perguntou.
Eu já estava me preparando para soltar a minha mão quando ele me puxou
para perto, colocou a mão na minha cintura e deu dois beijos no meu rosto –
Prazer, Gabriela!
“O
prazer é todo meu, querido!” A pirigueti dentro de mim gritava, eufórica. Mesmo
assim, consegui segurar a onda. - Igualmente – disse devolvendo os beijos, meio
atrapalhada e me soltando da sua pegada logo em seguida.
- No
Rio as pessoas se cumprimentam com dois beijos – ele explicou ao perceber minha
expressão de confusa.
-
Vai ter porradinha? – O Alê voltou a entrar na conversa, novamente com o time
perfeito para me ajudar nos momentos em que estava sem fala.
-
Vai, vai sim! A Carol me pediu para pegar os copos – respondi, tentando manter
uma postura normal e indiferente. Eu não costumava ficar tão agitada perto de
meninos. Sempre fui conhecida por ser a desencanada e tranquila da turma. Mas
perto do Edu...
-
Eba! Sou o primeiro da fila! – Alê já se empolgou com a novidade.
-
Negativo. O Caio está te esperando para jogar truco – avisei.
-
Truco? Sou seu parceiro, primo! – Edu se ofereceu.
-
Quem disse? – perguntei em tom de desafio. Eu não era do tipo que gostava de
intimidar as pessoas, mas, definitivamente, não estava no meu estado normal naquele
momento. Talvez tenha sido a trombada que afetou o meu juízo.
- Eu
estou dizendo! – ele respondeu me olhando fixamente nos olhos.
-
Foi mal, cara. Mas a Gabi é minha parceira oficial de truco – o primo colocou
fim ao impasse.
-
Uma menina que joga truco? – o loiro ficou espantando.
-
Você não sabe as coisas que a Gabi é capaz de fazer! Aliás, não só ela. Marília
e Carol também são terríveis!
Ok,
o Alê estava merecendo um prêmio. Além de trazer o primo gato para a festa, ele ainda me ajudou em todos os momentos que – poderia apostar - fiquei com cara de
boba olhando para o Edu. Não bastasse isso, ainda disse que eu era uma garota
surpreendente. Sim, eu tinha o melhor amigo desse mundo e o nome dele era
Alexandre.
Edu
apenas deu de ombros, como se estivesse sem palavras, o que me fez abrir um
sorriso triunfante. Fiquei me achando a tal.
- Bora entrar então, parceiro? Temos uma
invencibilidade para manter – me gabei mais ainda, chamando os meninos. Porém,
quando me virei e tentei andar o meu pé falhou. Fiquei tão ocupada com o Edu e
a conversa que não me dei conta que ele estava latejando de dor.
-
Aaaaaai! – gritei, estendendo o braço para que o Alê pudesse pegar os copos das
minhas mãos.
-
Que foi, Gabs? – ele pegou os objetos me olhando preocupado.
-
Não sei, acho que zuei o meu tornozelo. Não estou conseguindo colocá-lo no chão
– me encolhi toda, fazendo drama.
-
Será que torceu? – Edu se adiantou me oferecendo apoio.
-
Nem brinca! Tenho uma apresentação muito importante no fim do mês. Se eu não
dançar minha mãe me mata! – dobrei a perna e tentei massagear o tornozelo
comprometido, ficando em uma posição torta e nada elegante perto do rapaz novo.
E lá se vai a ideia de causar uma boa impressão...
-
Caramba, eu lembro que você falou! Vai ser no Teatro Municipal, né? – Alê
também se aproximou entendendo a gravidade da situação – Caramba, Eduardo! Você
nem chegou e já quebrou a nossa bonequinha!
-
Nossa, desculpa! - a voz do novato soou
realmente preocupada.
-
Não foi nada! Acho que um pouco de gelo e um comprimido para a dor já resolvem
a parada – falei, me endireitando para parecer que já nem estava doendo tanto.
Eu não queria estragar a noite da galera só por causa de uma trombada à toa.
Tentei
andar normalmente, mas não tive sucesso. O tornozelo se recusava a colaborar.
-
Vem, eu te ajudo – Edu se ofereceu, colocando uma de suas mãos ao redor da
minha cintura.
Retomamos
a caminhada, passando pela área de serviço da casa e subindo uma pequena rampa
até chegar ao Gueto. Alê foi na frente, tagarelando sobre a minha habitual
falta de sorte e o quanto a minha mãe ficaria louca se eu não participasse
daquela apresentação.
Ao
meu lado, o Edu caminhava lentamente, esforçando-se para manter o meu ritmo. –
Acho que hoje eu vou ter que cuidar de você – ele me disse baixinho, seguido
por um sorriso que não dizia se aquilo era verdade ou apenas brincadeira.
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Dona Manuela, pode voltar a postar JÁ!
ResponderExcluirTo adorandooooo... Esse Edu hein!! Prevejo beijos hhhhaahaa
Oi, oi, oiiii!
ExcluirEu estou escrevendo! Juro que estou. O terceiro cap de VOV já tem umas seis páginas. É que está corrido aqui, aí não consigo arrumar muito tempo para escrever... Mas pode ficar tranquila que não abandonei a história!
E você está prevendo certo! Edu vai causar, já deu pra sentir, né?
Beijão e obrigada por comentar! =)
Gente pelo visto essa festa ainda vai render! KKKKKK
ResponderExcluirE quero dizer que primeiro me identifiquei com a Carol, mas depois com o Alê... estou confusa rs
Mas né, tá dahora!! Depois leio mais ;)
beijos
Olha só como você é esperta! Sim, era para a Carol ser inspirada em você, mas mudei de ideia no meio do caminho, e agora você é um boy. Como é ser um skatista descolado? Conte-me sobre isso! hahahahaha
ExcluirSim, festa vai bombar porque eu A-DO-RO um fervo. Sou dessas...
Beijoca