terça-feira, 20 de novembro de 2012

Capítulo 20 - E que tudo mais...

Notas iniciais do capítulo:

... Vá para o inferno.
Lado Maluquete da Cristal entrou em ação nesse cap.
Como vocês costumam dizer: "A coisa ficou séria!".
Bora ler 13 páginas de muitas emoções com direto a "Tributo ao Rei"?

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Alguns dias depois...

Todo aquele rolo com a funcionária do hotel só serviu para uma coisa: Para deixar eu e o Luan ainda mais próximos. Todo o nosso “improviso” e cara de pau junto com as mensagens SMS’s e a noite que eu dormi no quarto dele foram o suficientes para “colorir” de vez a nossa amizade.

Eu até tentei resistir ao Luan e impedir aquela nossa aproximação, mas não teve jeito. Eu já não conseguia mais ficar sem conversar com o Lú, sem tomar café da manhã com ele, sem trocar mensagens no celular, sem ficar no camarim antes do show, sem rir das piadas sem graça dele e de ouvi-lo tocar violão depois dos shows. Basicamente, eu não conseguia mais ficar longe dele.

O Luan, claro, sempre que podia se aproveitava dessa minha “fraqueza”. Ele sempre dava um jeito de me pegar desprevenida e me beijar sem que eu pudesse reagir. Eu tentava ao máximo impedir que aquilo acontecesse, mas quando acabava rolando eu não fugia mais. O resultado disso era que as coisas andavam esquentado muito entre nós. Os beijos estavam ficando cada vez mais intensos, mas ele sempre acabavam terminando do mesmo jeito.

– Luan não, por favor, não... – Falei conseguindo fugir do seu abraço e correndo para o outro lado do camarim. Eu já estava ficando craque em fugir dele sempre que o beijo começava a fugir de controle.

O meu "patrãozinho" estava fazendo uma turnê pelo sul do país. Para o nosso azar, estávamos no inverno e fazia um frio tremendo no Rio Grande do Sul. Eu estava vestindo três blusas e ainda sentia os efeitos do clima gelado. Quer dizer, naquele momento eu vestia duas blusas e meia, porque uma o Luan tinha quase tirado quando me pegou de surpresa, me colocou contra a parede do camarim e me beijou.

– Ô nega, vem cá vem... Tá frio de mais, a gente tem que ficar “juntinho” para esquentar – Ele fez cara de “cachorro sem dono” junto com o “biquinho” que só ele sabia fazer. Combinação perigosa para quem estava sozinha em um camarim com ele. “Calma Cristal, calma”, repeti o meu mantra pessoal para tentar me controlar.

– Luan, você tá maluco? Quer que alguém pegue a gente de novo? Já não basta o rolo com a funcionária do hotel? – Falei arrumando a minha blusa que o meu “patrãozinho” tinha tentando arrancar minutos antes - Você sabia que o Welligton já está desconfiando da gente?

Por sorte a história da camareira do hotel não tinha rendido muito. Os fãs batizaram a aparição da tal mulher no quarto do Luan de “A loira do hotel”. A história acabou ficando o dito pelo não dito, as Luanetes passaram a “investigar” outras coisas da vida do Lú e, consequentemente, o pessoal do escritório acabou deixando a história de lado. Mas eu ainda tinha muito medo de perder o meu emprego, e por isso fazia o possível para manter a minha “amizade” com o Lú em sigilo. Principalmente em locais onde as fãs poderiam nos ver. Elas nunca aceitariam ver o Luan se relacionando com alguém.

– Cristal, deixa de ser boba. O Welligton sabe, e sabe muitooo bem, o quê rola entre a gente. Ele só finge que não sabe – Ele comentou enquanto ajeitava os cabelos que eu tinha bagunçado enquanto nos beijávamos.

– Sabe? – Perguntei alarmada.

– Claro que sabe, né nega? Ele está todo dia com a gente. Do nada a gente some e reaparece junto, o que você acha que ele fica pensando? Ele já me perguntou se estamos juntos... – O Luan comentou enquanto terminava de se arrumar para o show.

– Sério? Ai meu Deus! E o que você disse? Nossa, e eu achando que a gente era super discreto – Respondi surpresa.

– Falei que a gente tava junto, uai... Ou melhor, que a gente estava tentando ficar junto, né Cristal? – O Lú respondeu simplesmente, como se aquilo fosse a situação mais normal do mundo.

– COMO ASSIM? Luan, e agora? O que eu vou fazer? E se ele contar para o Anderson? – Fiquei desesperada. Na minha mente eu já conseguia visualizar a minha carta de demissão assinada pelo Anderson com a mensagem “Você não cumpre promessas”.

– Relaxa, nega. O Testa não vai falar nada para ninguém... Ele sabe de todos esses seus rolos aí. Pode ficar tranquila, dona Cristalzete! – Ele se sentou em uma cadeira que havia no camarim e passou a me encarar – Mas você sabe que essa sua promessa aí tá meio furada, né? Já, já você vai ter que falar para o Anderson que esse acordo já foi pro pau faz é tempo...

– Até onde eu sei, o acordo dizia que eu não poderia me apaixonar por você. Ninguém falou nada sobre dormir junto, beijar ou abraçar – Falei em tom sério para tentar parecer convincente. Mas, lá no fundo, o meu lado “Maluquete” gritava “Fala sério né Cristal? Para de jogo duro e assume logo que ama esse rapaz”.

– Olha só, você tá abusando de mim, né sua bandida? Eu aqui achando que você tá gostando de mim e na verdade "cê" “tá” só se aproveitando – Ele falou isso em um tom de brincadeira, mas eu percebi a mágoa que existia por trás daquele comentário. Tanto tempo junto tinham me ensinado a ver além do que o Luan realmente dizia. Ele tinha aquela mania de brincalhão, o que às vezes não nos deixava ver os seus verdadeiros sentimentos. Com o Lú as maiores verdades eram sempre ditas como se fossem coisas sem importância.

– Fala sério, né Luan? Até parece que você também não está só se aproveitando dessa nossa situação. Você poderia ficar com quem você quisesse, porque iria querer ficar com uma pessoa tão cheia de rolos, como você diz que eu sou? – Falei também fingindo usar um tom descontraído. Desde o dia que dormi no quarto dele a nossa conversa sempre terminava do mesmo jeito. Eu não dava o braço a torcer que gostava dele e sempre tentava argumentar dizendo que não era a garota certa.

– Eita muié “braba” meu Deus! Cristalzete, vem cá minha nega, me fala uma coisa: Qual é a “muié” que você acha que eu quero? – Ele falou mexendo no cabelo me encarando com uma expressão travessa no rosto. Eu poderia apostar, aquele ali estava aprontando alguma coisa!

– Hãã... Acho que alguém do tipo da Cacau... Bonita, com o corpo em forma, que faz o estilo “mulher moderna” – Na verdade eu queria dizer “piriguete”, mas eu não sabia se ele ainda sentia alguma coisa por ela, então achei melhor não apelar.

Mal terminei de falar e o Luan caiu na risada. – Tá com ciúme da Cacau, nega? – Ele perguntou se segurando para não rir.

– Não, claro que não! Imagina! Por que eu teria ciúme dela? – Disparei a falar tentando me justificar – Só acho que ela faz o seu tipo.

– Nega, faz o seguinte, vai hoje à noite lá no meu quarto que eu te mostro o que faz o meu tipo – Ele disse me presenteando com o seu melhor sorriso. Aquele que era capaz de me fazer perder o ar.

Fiquei muda. O Luan sempre mandava umas indiretas me chamando para ir dormir com ele. Mas era sempre algo mais sútil. Ele sempre brincava que eu deveria ficar com ele para não ter pesadelos, ou para que ele cuidasse de mim caso eu tivesse febre. Aquele convite, de forma tão direta, me deixou sem reação.

– Olha que quem que cala consente, hein Cristal? – O Luan provocou. Imediatamente ouvi o meu lado “Maluquete” gritar dentro da minha cabeça. “Aceita, aceita, aceita”. Logo depois o meu lado profissional exclamou “Cristal, perdeu o juízo mulher? Fale não agora mesmo”.

Eu não sabia o que fazer. Ainda sentado na cadeira o Luan me encarava divertindo-se da minha situação.

– Tudo bem, eu topo. Mas você dorme no sofá – Improvisei uma resposta aceitando o seu desafio.

– Eita que agora o trem ficou “bão”! Do sofá para a cama é só um pulo, você sabe né Cristal? – Ele comentou me deixando ainda mais sem graça.

– Cristal, tem um rapaz aí fora querendo falar com você. Posso deixar entrar? – O Welligton apareceu na porta do camarim interrompendo o assunto. Respirei aliviada. O lado bom de ter um secretário sem noção é que, às vezes, ele me ajudava a sair de algumas “saias justas” que o Luan me colocava.

– Claro, manda entrar – Respondi sem pensar. Estava tão atordoada com as “vozes” na minha cabeça e com o convite do Luan que nem quis saber quem era.

– Tá bom. Vou avisar os seguranças – O Welligton disse antes de sair do camarim.

– Rapaz querendo te ver? – O Luan repetiu com um tom desconfiado.

– Que foi? Tá com ciúme, Luan? – Provoquei.

Ele me encarou sério por um segundo como se estivesse ponderando a resposta. Quando ele ia abrir a boca para me responder alguém bateu na porta.

– Cristal? Posso entrar? – Ouvi uma voz que eu conhecia muito bem perguntar. Fiquei paralisada. Na minha frente a expressão do Luan mudou. De calmo e sereno ele passou para nervoso. Ele se levantou da cadeira e encarou a minha visita.

– Cristal, o que esse cara tá fazendo aqui?

Encarei a pessoa parada na porta. O mesmo cabelo preto, a mesma pele bronzeada de sol, o mesmo sorriso de galã de Hollywood. Mas o olhar... O olhar era diferente. Ali não tinha pretensão e egoísmo. Naqueles olhos tinham apenas um garoto sonhador que fingia ser um homem de negócios para agradar o pai.

– Cristal, foi você que chamou esse tal de Diogo aqui? – O Luan insistiu. Ele tinha caminhado até mim e parado ao meu lado. Eu dei um passo para ficar mais próxima a ele e coloquei uma das minhas mãos em seu ombro para tentar acalmá-lo.

– Calma Luan, calma. Esse não é o Diogo, esse é o Leo – Expliquei nervosa. O Léo sorriu ao saber que eu ainda era capaz de identificar quem era quem.

– Léo? – Ele me encarou confuso.

– Léo, o irmão do Diogo, lembra? Eu comentei sobre ele com você – Tentei acalmar o meu tom de voz para não deixar a situação ainda mais tensa do que já estava – Léo, o que você está fazendo aqui? Como soube onde eu estava? – Questionei. Eu tinha cortado completamente o contato com a família dele desde a minha última conversa com a Laura. Ele não tinha como me localizar.

– Eu estou na cidade a trabalho. Vim visitar um cliente, e fiquei sabendo que o Luan Santana iria fazer um show na cidade. Aí eu lembrei que a Laura comentou que você estava trabalhando como assessora de imprensa dele. Achei que se viesse até aqui eu conseguiria falar com você. Éééé... Será que a gente pode conversar? – Ele falou meio sem jeito revezando o olhar entre mim e o Luan.

– Conversar? – Repeti meio atormentada. Sem perceber coloquei a minha mão com mais força no ombro do Luan para me apoiar melhor. Depois de tantos anos, ele agora queria conversar comigo? Aquilo parecia uma piada muito sem graça do destino.

– É Cristal... A Laura andou me contando algumas coisas, acho que a gente precisa sentar e passar algumas coisas a limpo. Será que você aceita jantar comigo? Tem um restaurante ótimo aqui perto. Eu comi lá ontem... É comida italiana, você costumava não resistir, não é ragazza? – Ele falou em um tom mais descontraído tentando quebrar o clima tenso que estava no camarim. Lembrei que ele sempre falava italiano quando queria brincar comigo.

– Hãã... Eu ainda tenho algumas coisas para fazer por aqui, Léo. Não posso sair agora – Respondi séria. Ao meu lado o Luan apenas acompanhava a conversa com uma expressão ansiosa no rosto.

– Bom, se você não se importar, eu posso esperar. É que eu realmente gostaria de conversar com você, Cristal. E eu não sei quando teremos outra oportunidade como essa... Eu tentei te ligar algumas vezes, mas você nunca atendia – Ele argumentou usando o mesmo tom de voz sereno. O Léo tinha o poder de encantar qualquer pessoa com aquele olhar distante e com a sua voz mansa.

– É, eu andei um pouco ocupada esses dias – Desconversei. Eu me lembrava de ter visto várias chamadas perdidas de um número desconhecido no meu celular, mas eu achava que era o Diogo ligando para me atormentar. Eu nunca poderia imaginar que era o Léo.

– Imagino! Você sempre foi muito dedicada ao trabalho. E ser assessora de um cantor famoso não deve ser fácil – O Léo comentou tentando ser simpático – Bom, eu não quero atrapalhar. Se você aceitar o convite eu te espero no restaurante na hora que você achar melhor.

Olhei para o Luan. Ele me encarava com uma expressão séria no rosto. Pelo seu olhar pude perceber que ele não queria que eu aceitasse aquele convite. Mas eu precisava ir. Eu precisava definir de uma vez por todas o que o Léo ainda significava para mim. Só assim eu conseguiria me livrar de todos os fantasmas que me atormentavam. Era a hora de parar de fugir e encarar os meus problemas de frente.

– Tudo bem. Você tem o meu telefone, né? Me passa o endereço do restaurante por mensagem. Eu te respondo dizendo qual é o melhor horário para mim – Respondi tentando manter o meu tom de voz imparcial. Por dentro o meu coração estava disparado dentro do peito e a minha cabeça girava. Ao meu lado o Luan bufou de raiva e voltou a se sentar na cadeira. Ele evitava olhar para mim.

– Ótimo, Cristal. Vai ser muito bom conversar com você. Fico te esperando! – O Léo sorriu para mim animado – Uma boa noite para vocês. Foi um prazer conhecê-lo, Luan – Ele caminhou até o meu “patrãozinho” e estendeu a mão para cumprimentá-lo.

O Luan o encarou por alguns longos segundos e por um instante eu achei que ele não fosse retribuir o gesto do Léo. – Prazer. Até mais – O Luan disse sem vontade antes de estender o braço para dar um fraco aperto na mão do meu ex-chefe. Era óbvio que ele estava contrariado com aquela situação.

– Até mais, Cristal. Já te encaminho o endereço, ok? “Té” daqui a pouco – Ele falou enquanto ia deixando o camarim. Na saída um segurança lhe indicou a saída e o Léo desapareceu no corredor.

– Cristal, o que você vai fazer conversando com esse cara? – Foi a primeira coisa que o Luan disse assim que ficamos sozinhos. O seu tom de voz não era nada amigável.

– Luan, eu preciso conversar com o Léo. Preciso saber o que ele tem para me dizer. Fica tranquilo, é o Léo, não é o Diogo... – Tentei me justificar.

– Não interessa, Cristal. Sã todos da mesma “laia”. Ou você acha que se ele realmente se importasse com você ele ficaria tanto tempo sem te procurar? – O Luan jogou aquilo na minha cara.

– Eu sei disso, Luan. Sei que ele nunca ligou para mim – Respondi magoada. Aquele sentimento não correspondido que eu sentia pelo Léo ainda me magoava um pouco – Mas eu não tenho porque não falar com ele. O Léo sempre foi meu amigo, a gente sempre se deu bem... Eu sei que ele não vai me machucar...

– Cristal, você confia mais nesse cara que nunca reparou em você, que nem se quer quis saber por que você foi embora do que em mim? Quer dizer que tudo isso foi à toa? Foi para nada que eu te tirei de perto do Diogo, que eu aceitei as suas condições de não quebrar a promessa para o Anderson, de entender e respeitar tudo o que aconteceu no seu passado? Foi tudo à toa, Cristal? – Ele mexia as mãos muito rápido e falava em um tom de voz muito irritado. O Luan estava muito magoado comigo e eu não sabia como reverter aquela situação.

– Não, também não é assim... – Tentei argumentar com um tom de voz fraco. Eu nunca tinha parado para pensar no tanto de coisa que o Luan já havia feito por mim.

– Então é como, Cristal? Me explica porque você vai encontrar esse cara! Eu pensei que você quisesse ficar longe de toda aquela família – Ele me perguntou me olhando nos olhos.

Por um instante eu apenas sustentei o seu olhar sem dizer nada. Ele me olhava me acusando e eu respondia tentando me defender. Era uma conversa silenciosa, como várias que eu e ele já havíamos vivenciado.

– Eu quero ficar longe daquela família – Comecei a me explicar sem muita firmeza – Mas o Léo... – Eu parei no meio da frase. Eu não conseguia explicar quais eram as razões que me fizeram aceitar o convite. Eu só sentia que eu deveria ir. Algo dentro de mim me pedia aquilo e eu não ficaria tranquila se não respeitasse aquele meu instinto.

– Quinze minutos para o show Luan – O Welligton avisou da porta – Ah, gritem um pouco mais alto. O pessoal que está lá na fila ainda do lado de fora ainda não escutou a “D.R.” de vocês.

Ele me encarou com uma expressão cansada no rosto. Poucas vezes eu tinha visto o Luan acusar em sua expressão que estava cansado daquela rotina de apresentações – Cristal, eu preciso me preparar para o show. Preciso me concentrar, fazer a minha oração... Você sabe, né? – Ele foi falando com uma voz fraca como a de alguém que reconhece a derrota – Você pode me deixar sozinho... por favor?

– Claro – Respondi meio sem jeito. O Luan nunca tinha me pedido para deixar o seu camarim – Ééé... Eu só quero que você saiba que vai dar tudo certo, tá? Eu sei o que eu estou fazendo. Confia em mim. – Falei tentando parecer firme – Quebra tudo no show de hoje, tá? Boa sorte! – Fui até ele e depositei um beijo no seu rosto antes de deixá-lo sozinho no camarim.

Doía muito vê-lo triste daquele jeito mas eu precisava seguir em frente. Estava na hora de exorcizar os fantasmas do passado.

***

– Welligton, será que você pode segurar as pontas por aqui sozinho? Tenho um problema para resolver – Pedi ao encontrar o Testa parado do lado de fora do camarim.

– Vai Cristal, vai resolver isso logo. Até porque não adianta nada você ficar aqui brigando com o Luan, né? – Ele falou contrariado.

– Desculpa, isso não vai mais acontecer – Falei sem jeito. Eu sabia que eu estava errada. Eu jamais poderia permitir que um problema pessoal interferisse na minha vida profissional.

– Cristal, eu tenho feito vista grossa para o que está acontecendo entre os dois porque até agora vocês não tinham causado nenhum problema. Mas se for para começar a discutir antes do Luan entrar no palco eu não vou ter outra alternativa se não falar com o Anderson – Ele me alertou muito sério.

Concordei com a cabeça. Eu estava muito mal por causa da briga. Aquela “bronca” só serviu para me deixar pior.

Peguei meu celular. O Léo já tinha enviado a mensagem com o endereço do hotel. Ele também mandou o número do seu celular já que no meu aparelho aparecia como número desconhecido.

– Tem certas coisas que nunca mudam mesmo – Falei para mim mesmo rindo do jeito “certinho” do Léo. Se fosse o Diogo, com certeza ele estaria me esperando na porta do show e tentaria me pegar de surpresa.

Liguei para ele avisando que já estava a caminho do restaurante. A cada minuto que se passava eu ficava mais e mais nervosa para aquele encontro. Comecei a duvidar que estivesse preparada para encontrar o cara pelo qual eu fui apaixonada por anos.

Calma Cristal, calma – Repeti para mim mesma. Saí no frio da rua. O vento gelado cortou o meu rosto e me fez estremecer. Ao longe ouvi o a introdução do show do Luan tomando conta da casa de shows.

– Ah Lú, como eu queria que você estivesse aqui comigo agora – Falei triste enquanto chamava um táxi para seguir até o meu encontro.

***
– Cristal, você está tão diferente, tão... bonita, mais jovem, com uma expressão mais confiante – O Léo exclamou ao me ver. Eu estava o esperando sentada em uma mesa do restaurante. O local era bem simples e tinha um clima de casa de família. A decoração seguia a tradição italiana. O salão era pequeno, contava com algumas mesas e um bar no canto. O movimento estava fraco naquela noite. Certamente o frio tinha espantado os clientes.

– Obrigada, Léo – Respondi simplesmente. Ao encará-lo pude perceber que eu não poderia dizer o mesmo. Ele continuava do mesmo jeito: bonito, elegante, vestindo as mesmas roupas sociais e de grife que ele sempre usou. Mas era estranho que ele não me atraísse mais como sempre costumava fazer. Para mim ele era agora só mais um homem como os outros no restaurante – E você? Ao que devo a honra dessa visita? O que você precisa falar comigo? – Achei melhor pular as cortesias e ir direto ao assunto.

– Cristal, eu vim até aqui só para te fazer uma pergunta – Ele me avisou enquanto sentava-se em uma cadeira na minha frente – Por favor, fala que não é verdade o que o Diogo fez com você...

Balancei com aquela pergunta. Eu não imaginava que o Léo já soubesse de toda a verdade. Para mim ele estava ali justamente para me perguntar o que tinha acontecido.

– Como você soube? – Tentei ganhar tempo para me recuperar do choque.

– Ouvi sem querer uma conversa entre a Laura e o Diogo. Cristal, por favor, me conta o que aconteceu. Eu preciso ouvir isso de você – Ele me pediu de uma forma delicada, como se já imaginasse que aquele era um assunto muito difícil para mim.

Durante horas nós conversamos. Eu contei tudo para o Léo. Desde a parte que eu sempre fui apaixonada por ele, passando pelos acontecimentos daquela noite no barco até chegar ao acordo que fiz para conseguir o trabalho no escritório do Luan. A parte que eu não tinha conseguido cumprir a minha palavra eu omiti. Já era difícil assumir aquilo para mim mesma, quanto mais falar para uma outra pessoa que eu e o Luan tínhamos uma amizade mais colorida que desfile da Parada Gay.

O Léo se mostrou bastante solidário com a minha história. Ele chorou comigo quando eu contei que o Diogo tinha me forçado a ficar com ele e no final ele segurou a minha mão com delicadeza, como se quisesse de alguma forma me reconfortar.

– Cristal, eu nem sei o que dizer... Eu nunca poderia imaginar que tudo isso tinha acontecido aquela noite. Eu me sinto um idiota por não ter te procurado, por não ter te perguntando o motivo da sua saída repentina da nossa empresa. Na época eu só fiquei chateado porque você me deixou sozinho justo no momento que o Diogo tinha voltado ao Brasil. Eu só pensei em mim mesmo o tempo todo. Isso faz de mim tão egoísta quanto o Diogo! – Ele confessou com a voz amargurada.

– Você não é egoísta, Léo. Você é desligado, sempre com a cabeça nas nuvens, preso em um mundinho só seu... Você não é como o Diogo – Comentei ainda secando as lágrimas que ainda caíam no meu rosto. Aquele assunto sempre mexia muito comigo.

– Bom, a única coisa boa nessa história é que tudo isso fez o Diogo amadurecer. Ele está muito mudado Cristal, de verdade. A Laura tem o ajudado bastante... Quando eu ouvi a conversa dos dois ele acabou me confessando toda a verdade e disse estar arrependido. E eu acho que é verdade. Ele está tentando mudar aquele jeito marrento dele...

Eu me lembrei do dia que a Laura foi me procurar para falar sobre os seus irmãos. Era estranho pensar nos dois trabalhando juntos. Mais estranho ainda era ouvir o Léo elogiando o irmão gêmeo. Se aquela história tinha um lado bom, com certeza esse ponto positivo era a união dos irmãos.

– Poxa, fico feliz que o Diogo esteja mudando para melhor. E também fico feliz que vocês três estejam se entendendo. Vocês finalmente podem dizer que são uma família agora, né? – Tentei parecer animada. Falar sobre o Diogo era o que eu menos queria no momento.

– A Laura tem nos ajudado muito. Ela resolveu assumir de vez esse papel de irmã mais velha. As vezes ela até parece a nossa mãe. Eu achei que por ela ser mulher ela não fosse perdoar o Diogo, mas foi ao contrário. Ela ficou ao lado dele mesmo quando eu descobri toda a verdade e disse coisas horríveis para ele. Acho quer era disso que o Diogo precisava para poder mudar o seu jeito de tratar as pessoas, de alguém que ficasse ao seu lado.

Concordei com a cabeça enquanto dava um gole no suco que havia pedido. Nós acabamos nem tocando no jantar que havíamos pedido.

– Hãã... Cristal, sobre o que você disse sobre sempre ser apaixonada por mim... – O Léo começou a falar meio sem jeito. Meu coração deu um pulo nessa hora e quase saiu pela boca. Eu não conseguia acreditar que depois de tanto tempo nós iríamos falar sobre aquele assunto.

– Então... Eu tenho sentido muito a sua falta. Não só como funcionária, ou como amiga, mas de uma maneira que eu não achei que fosse possível antes. Eu sempre te admirei, sempre te achei linda, inteligente, divertida... Eu só não conseguia perceber que o nome disso é amor, amor entre duas pessoas, entre homem e mulher. Eu achava que o que eu sentia era uma espécie de carinho, de consideração por tudo o que passamos juntos, mas só agora que me vi sem você eu percebi que sinto falta do seu companheirismo, do jeito que você cuidava de mim, da forma como me olhava, como me incentivava e me colocava para cima... Eu sinto muito a sua falta, Cristal – Ele foi simplesmente despejando as palavras em cima de mim. Ele falava rápido como se tivesse medo de parar e perder a coragem de continuar. A sua mão continuava segurando a minha, agora com um pouco mais de força, e através do nosso contato pude perceber que ele estava tremendo um pouco.

– Nossa Léo, eu nem sei o que dizer... Eu passei tanto tempo sonhando em ouvir isso de você. E agora... Bom, agora que eu ouvi eu não sei o que fazer, como agir, estou meio perdida – Fui sincera. Durante anos eu achei que aquele seria o melhor momento da minha vida. Eu ficava horas imaginando aquela cena, sonhando com cada detalhe. Mas agora que o meu sonho havia virado realidade eu não sabia o que fazer. Ouvir aquilo do Léo não mexeu comigo como eu imaginei que mexeria.

– Cristal, porque você nunca falou do seu sentimento por mim antes? Nós poderíamos ter ficado juntos e isso tudo nunca teria acontecido – Ele me olhava fixamente nos olhos. A sua expressão era de ansiedade, como se esperasse que aquela conversa pudesse compensar todos os anos que nós havíamos perdido.

– Eu tinha medo, Léo... Você sempre dizia que eu era sua amiga, a sua irmã. Tinha medo de te contar e você achar que eu estava confundindo as coisas, ou de estragar a nossa relação por causa desse sentimento que eu alimentava – Tentei explicar. Na verdade aquela pergunta não tinha uma resposta. Eu nunca me declarei para ele porque nunca tive a oportunidade. Eu quis muito ficar com ele, mas ele nunca enxergou o amor que eu sentia.

– Quanto tempo a gente perdeu, né Cristal? Mas... E se a gente tentasse recomeçar? Será que você aceita voltar comigo para São Paulo, reassumir o seu lugar na empresa, voltar a ficar do meu lado, dessa vez para valer? Hein, Cristal? Você aceita me dar mais uma chance?

Os olhos dele brilhavam de expectativa. Eu nunca pensei que ouviria o Léo falar daquele jeito comigo. Eu gelei com a proposta. Por um instante me imaginei como namorada dele. Nós dois trabalhando juntos, depois voltando para casa, jantando, dormindo como um casal e acordando na mesma cama no dia seguinte. Aquela era a vida que eu tinha sonhado por muitos anos. Considerei a possibilidade de voltar, cheguei a visualizar na minha mente todas aquelas cenas. E então eu me lembrei do dia que encontrei com o Luan pela primeira vez. Eu dançando em cima da cadeira e ele me encarando na porta da sala de reuniões ainda todo bronzeado por causa da viagem para Cancún. Lembrei-me do dia que eu briguei com ele pela primeira vez, da nossa viagem para a sessão de fotos em Atibaia, do dia que ele me protegeu do Diogo lá em casa, do nosso primeiro beijo, do nosso jogo de verdade e desafio, e de todos os beijos que trocamos escondidos no camarim antes dos shows.

– Desculpa Léo, mas eu não posso aceitar. A minha história no estaleiro, a minha história com a sua família já passou. Eu aprendi muito com tudo que vivi com vocês, mas é hora de seguir em frente. O meu lugar agora é ao lado do Luan – Eu disse firme.

Ele ainda tentou argumentar e dizer que eu não poderia trocar uma história de anos pelo meu trabalho atual onde eu estava há poucos meses. Eu apenas escutei o que ele disse sem realmente prestar atenção. Agora eu conseguia entender que o Léo não significava mais nada para mim. O meu lugar era ao lado do Luan, e eu tinha o magoado muito naquela noite quando aceitei jantar com o meu ex-patrão. Eu precisava consertar aquela situação urgentemente.

– Léo, me perdoe, mas foi um dia longo. Eu preciso descansar! Será que podemos continuar essa conversa em uma outra oportunidade? – Para mim não teria nenhuma outra oportunidade, mas eu precisava ser educada.

– Claro Cristal, eu entendo que você esteja cansada. Mas, por favor, vamos manter contato. Você é realmente muito importante para mim e para toda a minha família – Ele estava claramente contrariado por me deixar ir embora, mas os seus bons modos o impediram de me pedir para ficar.

– Vamos sim, Léo, claro – Resmunguei qualquer coisa só para conseguir ir embora. Aquele papo de importante para a família não colava mais comigo – Boa noite, Léo. Se cuida – Disse me levantando da cadeira e indo até ele para me despedir.

Ele me deu um longo abraço e mais uma vez disse que sentia muito por tudo o que tinha acontecido. Tentei encerrar o assunto o mais rápido que pude. A minha cabeça fervia por causa da briga com o Luan. Agora eu entedia que o que estava me deixando aflita naquela noite era a discussão com o meu “patrãozinho” e não o encontro no restaurante.

Assim que “me livrei” do Léo corri até a recepção do restaurante e pedi um táxi. Para a minha sorte, o meu pedido foi atendido muito rapidamente. Menos de dez minutos depois eu já estava no interior do veículo seguindo para o hotel.

O motorista era um senhor de meia idade, já com cabelos grisalhos. Ele era simpático e falava com o sotaque característico das pessoas do sul do Brasil. Eu adorava aquele sotaque. No som, tocava um clássico do rei Roberto Carlos regravado na voz do grupo J Quest.



Eu não prestava atenção no caminho. Eu só conseguia pensar no que eu iria dizer para o Luan. Eu precisava encontrar uma maneira de explicar para ele tudo o que tinha acontecido naquela noite. Mais do que isso, eu precisava encontrar uma maneira de dizer para ele a conclusão que eu havia chegado depois do meu encontro com o Léo. Aquela conversa serviu para me fazer perceber que não adiantaria esconder o que eu sentia. Eu esperei por anos para ficar com o Léo e quando a oportunidade finalmente chegou, aquilo já não era mais o que eu queria. Eu não poderia cometer o mesmo erro com o Luan.

Cristal, por favor. Você não pode simplesmente dizer para o seu chefe que está apaixonada. Isso iria contra a sua palavra de que nunca se envolveria com ele” – Ouvi o meu lado profissional e sério se manifestar.

“Qual é, nega? Vai deixar uma oportunidade dessa passar? Fala sério, tá faltando homem no mercado, principalmente homens como o Luan. Errar uma vez é humano. Mas duas já é burrice. Bora pegar esse menino de jeito” – A minha parcela “Maluquete” rebateu.

“De jeito maneira. É completamente anti-profissional pegar o chefe de jeito” – A “Cristal séria” afirmou dentro da minha cabeça.

“Como se ela já não tivesse agarrado ele antes. Ah, vamos combinar? Dá para ser profissional e se divertir ao mesmo tempo. Só não vale ficar sofrendo negando um sentimento tão bonito. Isso a chata do seu lado sério não pode negar” – A Maluquete mostrou o seu ponto de vista.

Bom, eu não tenho como dizer o contrário. O mais importante é a sua felicidade, tanto no lado profissional como no sentimental” – O meu lado sério cedeu um pouco dando a oportunidade para a Maluquete ganhar ainda mais espaço.

“Tá vendo só? Onde tanto profissionalismo te levou? O Léo não ligava para você e o Diogo não te respeitou. Alôôô, é hora de deixar esse passado para trás, mulher! Você não é museu para viver de história. Bora pegar o nego de vez logo”

“Quer saber de uma coisa? Ela tá certa... Tá frio de mais para ficar sozinha. Faça como o rei: Peça para o Luan te esquentar nesse inverno e mande todo o resto para o inferno” – O meu lado sério e o meu lado maluquete finalmente entraram em um acordo.

Resolvi seguir as “vozes” na minha cabeça. Paguei o taxista quando chegamos ao hotel e praticamente disparei pelos corredores até chegar ao quarto do Luan.

Parei diante da única porta do andar e bati inúmeras vezes. Eu quase não me aguentava de ansiedade. Minha respiração estava acelerada por causa da corrida e eu estava tremendo de frio. Eu tinha me esquecido de pegar um casado mais grosso antes de sair e a temperatura tinha caído muito por já ser tarde da noite.

Demorou alguns instantes, que para mim pareceram uma eternidade, mas o Luan finalmente abriu a porta.

– Cristal? “Cê” quer me matar do coração batendo na minha porta a essas horas, muié? – Ele exclamou surpreso ao me ver. Ele estava todo embrulhado em um cobertor do hotel vestindo pijama de frio e meia. A cena seria cômica se eu não estivesse tão nervosa e ansiosa.

Respirei fundo. Busquei coragem não sei de onde para dizer o que eu queria dizer para ele.

– Hãã... Sabe o que é Luan? Tá fazendo muito frio... Será que eu posso ficar com você essa noite?
_____________________________________
Notas finais do capítulo:


Quem tá pirando com o final do cap grita EU! kkkkk

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Oiieeee.... xD

Espero que esteja curtindo a fic!
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Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

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