Capítulo 10 - Viagem para Londrina - Sessão Pipoca

Notas iniciais do capítulo:

A viagem para Londrina é muitoooo importante para a fic, por isso preciso caprichar. Essa é só a primeira parte! Aproveitem!
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– Luan, o que você está fazendo aqui? Não era para você já estar em Londrina? – Perguntei de “sopetão”. Não era a minha intenção, mas eu acabei soando um pouco grossa e não surpresa, como de fato eu estava.

– Você tá vendo, né Castro? Nem bom dia ela me fala... Essa aí só me ignora – O Luan comentou com uma cara um pouco aborrecida. Eu não sabia se ele estava fazendo “drama” ou se estava sendo sincero, mas de repente eu me senti arrependida por ter sido rude com ele.

– Pois é Luan, não são todas as meninas do Brasil que não resistem ao seu charme – O piloto brincou enquanto guardava a minha mala em um dos compartimentos do avião – Agora, por favor, prendam os cintos e desliguem os celulares. Vamos decolar em alguns minutos.

Enquanto falava o Castro foi seguindo em direção à cabine de comando. Ele fez um pequeno gesto de cabeça como quem dizia “até logo” e foi fechando a porta atrás de si. Porém, antes de se isolar na cabine, ele voltou a aparecer na parte do jato onde eu e o Luan estávamos para dar um último recado – Comportem-se crianças! – Ele disse rindo.

Eu já havia me sentado na minha poltrona e desligado o meu celular. Peguei o meu cinto e o afivelei, como o Castro tinha pediu. Respirei fundo e tentei relaxar na cadeira, mas uma “vozinha” muito chata na minha cabeça ficava repetindo toda hora que eu deveria ser mais simpática com o Luan. Para piorar o peso na minha consciência, quando olhei para o lado vi um Luan quieto, encolhido, olhando pela janela do avião como se estivesse chateado com alguma coisa.

– Ótimo, você deixou o seu patrãozinho” bravo. Cristal, se deseja ser uma boa profissional você precisa ser mais polida com os seus superiores – “Ouvi” o meu lado “Cristal Profissional” martelando na minha cabeça.

– Fala sério Cristal, é assim que você quer causar uma boa impressão no Luan? Você vai viajar ao lado de um gato desses e tudo o que você diz é “Você não deveria estar aqui?” – Agora o meu lado “Maluquete” me dava uma bronca. Aos poucos fui me sentindo pequena na poltrona, como se fosse a pior pessoa do mundo. Os meus pensamentos fluíam na minha cabeça com tanta intensidade que eu mal senti o avião decolar. E para piorar, “as vozes” na minha cabeça continuavam.

– Vai minha filha, faz alguma coisa! Você precisa quebrar esse gelo – A minha parcela “Cristal Maluquete” me exigia uma atitude.

– Eu odeio concordar com ela, mas a Maluquete aí tem razão. Você vai passar dois dias ao lado do seu chefe. É primordial que você mantenha um relacionamento cordial com ele – A porção “Cristal Profissional” aconselhou.

Olhei para o lado. O Luan tinha religado o seu celular e mexia distraidamente no aparelho. Fazia uns dois minutos o Castro tinha nos avisado pelo sistema de som que os equipamentos eletrônicos já poderiam ser religados.

– Não fica aí com essa cara de “pata choca”. Fala com ele, “muié” – A Cristal “Maluquete” praticamente me obrigou.

Respirei fundo retomando o controle da situação e tentei puxar um assunto.

– Hum... Sabe, antes de sair por aí dizendo que eu só te ignoro você deveria ser mais legal comigo. Eu só perguntei aquilo porque a Dagmar me disse que você iria junto com o Welligton para Londrina ontem a noite mesmo – Comecei a me explicar não muito confiante.

– O Welligton voltou ontem mesmo depois do show no Rio. Mas eu não gosto de voar a noite, e como o Castro teria que vir para São Paulo para te buscar ele deu uma “esticadinha” até o Rio e me pegou hoje mais cedo – Um Luan, bem mais animado, me respondeu. Finalmente ele tinha se virado na minha direção para falar comigo, e assim pude reparar que ele vestia uma camiseta branca com uma camisa xadrez por cima, uma calça jeans e um tênis. Um boné completava o seu figurino. Era simples, mas mesmo assim ele permanecia charmoso.

– Charmoso? Cristal, você não tem que achar o seu chefe charmoso. E agora, foco menina! Você está indo bem no pedido de desculpas – Ouvi a “Cristal Profissional” reclamar na minha cabeça.

Balancei a cabeça tentando afastar tais pensamentos e voltei a me concentrar na conversa.

– Tá vendo só?! Eu tinha razão para estranhar... Vocês mudaram toda a programação – Falei, já um pouco mais confiante – E, além disso, para te provar que eu não só te ignoro, eu trouxe uma coisa para você – Sorri ao lembrar-me dos DVD’s que havia colocado na minha mala.

– Para mim? Você tá falando sério, Cristal? Quero só ver o que é – O Luan falou desconfiado.

– Guenta aê só um pouquinho. Vou pegar na minha mala – Sorri triunfante. Ainda bem que eu tinha colocado aqueles filmes na minha bagagem! Agora eles estavam me ajudando a “fazer as pazes” com o Luan.

Soltei o cinto, levantei da poltrona e estiquei os braços para alcançar a minha mala que estava em um espaço na lateral do jato. Rapidamente localizei o box com os DVD’s que eu havia colocado por cima de todas as minhas coisas. O avião seguia um voo tranquilo e por isso eu conseguia me equilibrar sem problemas na aeronave. Só agora, que eu estava mais relaxada e que as “vozes” na minha cabeça não me atormentavam mais, é que eu havia conseguido reparar no espaço a minha volta. O interior do jatinho do Luan era muito bem equipado e bem decorado, mas sem extravagâncias. Eram quatro poltronas, duas de cada lado de uma pequena mesa. A nossa frente, acoplada em uma das paredes do avião, havia uma TV de LCD. Ao lado das poltronas, na lateral da aeronave, ficava um móvel com espaço para guardar algumas bagagens, utensílios que geralmente usávamos durante viagens e alguns objetos do avião, como copos, talheres e guardanapos. Mais atrás havia uma geladeira e uma porta que eu imaginava que deveria ser o banheiro. A frente ficava a passagem que dava acesso à cabine de comando, onde o Castro estava pilotando.

– Bom, como você disse que ainda não tinha assistido, eu resolvi trazer “Crepúsculo” para você ver. Tá aqui ó, você pode assistir quando tiver um tempinho – Disse apontando para a caixa que estava em minhas mãos.

– Eita, olha só?! Não é que você lembrou que eu disse que não tinha assistido esse “trem” aí... Vem cá, vamos assistir agora mesmo... – Ele pegou o box das minhas mãos tirando o primeiro filme da caixa.

– Assistir? Agora? – Fui pega de surpresa. Eu havia levado o filme para emprestá-lo para o Luan, não para assistir com ele.

– É nega, senta aí, borá ver esses vampiros – Definitivamente o Luan estava muito animado para assistir o DVD.

– Mas, vai dar tempo? Digo, quanto tempo demora de São Paulo até Londrina? É rápido, não é? – Fiquei sem saber o que fazer. Não estava nos meus planos assistir o filme com o Luan.

– Dá tranquilo... A gente ainda vai ter que parar em Ribeirão para abastecer. Anda logo nega, senta aqui que eu vou colocar o filme – Ele falou ansiosamente já mexendo em alguns controles localizados na lateral da sua poltrona. Imaginei que deveria ser ali que estava o botão de liga e desliga da TV e do DVD.

– Aproveita a sua chance, “muié”! Assiste o filme e quando começar as cenas de luta você segura a mão dele dizendo que está com medo – A “Cristal Maluquete” voltou a se manifestar na minha cabeça.

– Deixa disso Cristal! Seja profissional. Isso é só um filme bobo de adolescentes com vampiros que brilham – A “Cristal Profissional” se impôs. Resolvi concordar com ela. Era só um filme bobo. Eu precisava parar de ficar tão impressionada ao lado do Luan.

Sentei-me novamente na poltrona. Eu havia ficado tão “encucada” com aquela “sessão pipoca” que nem tinha percebido que o Luan já havia colocado o DVD no aparelho e apertado no play. Quando me acomodei no meu lugar a introdução do filme já estava rolando...

***

Conforme o filme foi passando, eu fui relaxando. O Luan comentava todos os detalhes comigo, e nós dois mais parecíamos duas “matracas” falando sobre o que víamos na tela. Pelo visto o Luan era como eu, adorava tentar adivinhar o que ainda iria acontecer na história.

**Para quem não se lembra do acidente - http://www.youtube.com/watch?v=vM7thd27V0o**

Finalmente chegamos na parte que o Edward salvava a Bella do acidente de carro que acontecia no pátio da Forks High School. O Luan ficou apreensivo achando que a van do Tyler iria acertar a Bella, e eu tive que me segurar para não suspirar quando o Edward salvava heroicamente a mocinha.

Na sequência, os dois personagens apareceram conversando no hospital. Na cena, o Edward tentava enganar a Bella inventando uma teoria maluca para explicar como ele conseguiu salvá-la do acidente evitando que a van se chocasse contra ela. Tudo isso para que a jovem não descobrisse que ele era um vampiro.

– Por que ele não conta a verdade para ela de uma vez? Ele tá “mó afim” dela,vai acabar tendo que falar tudo para a Bella mais cedo ou mais tarde – O Luan questionou.

Parei para refletir um pouco. Bom, para começar não deveria ser muito normal o cara que você está afim confessar que é um vampiro. Fora isso, eu conseguia entender os motivos do Edward porque, de certa maneira, me identificava com o problema dele. – Não sei, mas acho que tem segredos que são “pesados” demais para a gente simplesmente chegar e descarregar em cima de outra pessoa – Disse, um pouco mais sombria do que eu queria parecer.

– Para a gente? Você tá falando do vampiro ali ou de você mesmo, Cristal? – O Luan me perguntou sério.

– Do Edward, claro – Tentei consertar a situação. Tinha deixado escapar mais do que eu queria.

– Sei... Esse tal segredo “pesado” demais tem alguma coisa com o quê aquele tal de Diogo aprontou com você? – O Luan foi direto e objetivo na sua pergunta. Pelo jeito ele não tinha se esquecido da conversa que havia rolado no carro quando estávamos a caminho de Atibaia.

Por um momento eu não soube o que falar. Mais uma vez eu senti vontade de abrir o jogo e contar toda a verdade para ele. Eu não sabia o porquê, mas o jeito que o Luan me olhava era diferente. Ele tinha uma expressão tão calma, segura, reconfortante... Do seu lado eu me sentia segura, conseguia ser mais eu, sem lembranças, sem medos, sem traumas...

– Tem sim – Consegui confessar com a voz fraca.

– Cristal, o que esse cara fez com você? Ele te... bateu? – Aquele assunto era difícil até para o Luan, que não tinha nada a ver com a história.

Respondi balançando a cabeça em sinal de negação. Eu ainda não estava pronta para falar sobre aquilo. Abaixei a cabeça e fiz um esforço enorme para não chorar. Ao meu lado o Luan parecia não saber o que fazer, mas eu podia sentir que ele ainda me olhava com aquela expressão tão carinhosa que ele tinha no rosto momentos antes.

Alguns instantes se passaram. Eu me concentrava para controlar a minha respiração e não derramar nenhuma lágrima. Eu não podia demonstrar fraqueza ao lado dele. Eu tinha prometido para mim mesma que eu nunca mais seria fraca novamente.

Senti o Luan pegando uma das minhas mãos e a colocando entre as suas. – Tudo bem nega, se a Bella descobriu o segredo do Edward eu também vou descobrir o seu. É só uma questão de tempo – Ele disse tranquilamente antes de se virar novamente para a TV. Ele voltou a prestar atenção no filme, ou pelo menos fingir que estava prestando atenção, me deixando ficar quieta no meu canto. Coloquei a minha cabeça sob o encosto da poltrona e fechei os olhos tentando retomar o controle da situação. Eu mal tinha me dado conta, mas o Luan ainda segurava a minha mão. Pensei em puxá-la de volta, mas ele estava tão entretido com a história que achei melhor não interrompê-lo. Na minha cabeça, os meus pensamentos se misturavam com as lembranças do passado como se fossem um caleidoscópio. E a única coisa que eu conseguia pensar era: Eu não vou chorar.

Não sei quanto tempo demorou, mas eu acabei adormecendo ali, de mãos dadas com o Luan.

***

Quando eu voltei a abrir os olhos, o filme já estava nos momentos finais. Com a visão um pouco embaçada consegui ver uma luta entre o Edward e o vilão James passando na tela.

– Acho que perdi toda a diversão – Disse ainda sonolenta – Onde estamos?

– Quase chegando em Londrina, nega. Já pousamos para abastecer, já decolamos de novo e você não acordou. Dormiu que até sonhou, hein? Você sabia que fala enquanto dorme? – Ele perguntou rindo. Imediatamente fiquei tensa imaginando o que eu poderia ter falado enquanto estava “apagada”.

– Sério? O que eu falei? – Tentei jogar “um verde” para ver se colhia o maduro. Mas, infelizmente, o Luan não caiu na minha armadilha.

– Nada demais – Ele ria sozinho, o que me dava a mais absoluta certeza que eu devia ter dado o maior fora enquanto dormia – Ih, olha aí, o filme acabou.

Ouvi a música do Linkin Parking tocando ao fundo e vi os créditos passando pela tela. Enfim, no final das contas, eu tinha sobrevivido a uma “sessão cinema” ao lado do Luan.

– E o que você achou? Gostou da história do Edward e da Bella? – Mudei de assunto. Era melhor não insistir na história do meu sonho. Afinal, eu poderia descobrir o que era melhor eu não ficar sabendo.

– Ih, você quer que eu comente a história, tipo aqueles caras da TV que ficam avaliando os filmes? – O Luan perguntou.

– Claro! Aliás, vou até gravar isso – Falei tirando o meu celular do bolso e colocado no modo câmera – Pronto, já podemos começar – Eu avisei virando o celular na minha direção.

– Olá negas e negos do meu Brasil. Hoje, no nosso Diário de Bordo, o Luan vai comentar o filme Crepúsculo, que ele acabou de assistir. E aí Luan, o que você achou da história? – Falei imitando aquelas repórteres de programas de TV que falavam super rápido tentando parecer “descoladas”. Eu havia feito muito isso na faculdade na aula de Telejornalismo e tinha um pouco de prática.

Virei a câmera do Luan e fiz sinal para que ele continuasse. Ele entrou no clima da brincadeira e desatou a falar.

– Bom, eu não gosto muito desse negócio de vampiro, mas a história é bacana. Gostei da parte da briga, dos “vampirões” se batendo, foi legal essa parte – Ele riu enquanto mexia no cabelo – Também gostei da trilha sonora, bem legal as músicas que escolheram...

– E Luan, agora que você assistiu o filme, você é Team Edward ou Team Jacob? - Perguntei sem tirar o foco da câmera dele.

Ele pensou por um pequeno momento. Depois olhou para a câmera, abriu um sorriso enorme e respondeu – Sou Team Bela, oxê. Eu lá vou ser de time de homem?!

Não aguentei com a resposta dele e caí na risada. – Bom, é isso pessoal. Até o nosso próximo Diário de Bordo – Falei ainda dando risadas.

– Isso aí, direto do Bicuço – O Luan completou.

– Bicuço? – Falei, ainda não desligando a câmera – Isso tem algo a ver com Harry Potter?

– Tem sim, você também viu os filmes? – Ele perguntou.

– Ih, isso já é assunto para outro vídeo.Por enquanto nós ficamos por aqui. Até mais pessoal – Falei encerrando a filmagem – Você anda vendo filmes demais, Luan – Comentei, me referindo ao “nome” do avião.
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Notas finais do capítulo:

E a Cristal com as vozes em sua cabeça? Deu pra entender, né pessoal?
Aliás, ficamos sabendo de uma parte importante do passado dela aqui, alguém reparou?
No próximo cap tem mais revelações!

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