terça-feira, 16 de outubro de 2012

Capítulo 5 - Revelações da Cristal - Parte II

Notas iniciais do capítulo: 
Preparadas para mais reveleções da Cristal?
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– Chegamos! – O “seu” João nos avisou enquanto parava o carro em frente ao prédio principal onde o Luan iria gravar. O hotel tinha uma arquitetura estilo “colonial” e era cercado por árvores e muito verde. Não era a toa que era um dos melhores hotéis da região, o local era muito bem cuidado.

Depois que o carro parou, olhei para o banco de trás para avisar o Luan que uma equipe já estava o esperando para iniciar os trabalhos. Antes de começar a falar percebi que ele estava dormindo com a cabeça encostada no vidro, todo torto no banco. Pelo jeito eu não era a única que quase não tinha conseguido levantar da cama de tanto sono.

Sai do carro e abri a porta de trás do veículo enquanto o João ia até a recepção para avisar que nós havíamos chegado. Ajoelhei-me sobre o banco para ficar mais próxima ao Luan e, com delicadeza, coloquei uma mão em seu ombro e o balancei de leve.

– Luan, chegamos! Você precisar acordar. – Disse.

Ele abriu os olhos vagarosamente como quem se situa de onde está. 
– A gente já chegou? – Ele perguntou com a voz sonolenta.

– Sim, já estamos em Atibaia. Agora vem, vou te levar até o banheiro para lavar o rosto, isso sempre ajuda a acordar – Estendi a mão e ele a segurou. Saímos juntos do carro, ainda de mãos dadas, o Luan “grogue” de sono.

Passamos pela recepção onde uma funcionária do hotel nos esperava para indicar o caminho. Antes de seguir, pedi para que o “seu” João pegasse a mochila do Luan no carro e trouxesse até o lugar das fotos.

– Moça, antes de nos levar até onde a equipe está, você pode me mostrar onde fica um banheiro que ele possa usar? – Apontei para o Luan ao terminar de falar. Atrás de mim, o “patrãozinho” parecia um zumbi de tanto sono.

– Por aqui, por favor – Ela nos conduziu por um corredor e nos apontou uma porta onde estava escrito “Homens”.

– Vai lá Luan, eu te espero aqui – Disse apontando a entrada para ele. O Luan entrou no banheiro e dez minutos depois saiu de lá com uma expressão bem melhor.

Enquanto a funcionária do hotel continuava a nos mostrar o caminho, não pude deixar de aproveitar a situação para “tirar uma” com a cara do meu "patrãozinho".

– Ainda bem que as suas fãs nunca te viram com sono – Ri.

– Nossa, fui dormir muito tarde ontem. Ainda bem que você me ajudou, senão ia chegar no set todo torto – Ele riu.

– Na verdade, torto você ainda está – Apontei para o cordão que ele carregava no pescoço. O crucifixo que a imagem formava estava para trás enquanto a parte de trás estava virada para frente. Além disso, a gola da camisa estava toda enrolada como se ele tivesse a vestido de qualquer jeito.

– Vem cá, deixa eu arrumar isso, vai... – Ele parou de caminhar e eu fui até as suas costas para arrumar o colar e a gola – Bem melhor – Sorri ao terminar.

– Desse jeito eu vou ficar mal acostumado, Cristal – Ele brincou enquanto voltávamos a andar.

– Não se acostume! Lembre-se que na verdade quem vai te acompanhar nos eventos é a Dag. Fui contratada apenas para ficar no escritório – Comentei.

– Que pena! Você ia gostar de ficar na estrada com a gente – Ele comentou.

– Talvez, mas ficar lá no escritório também dá um “trabalhão” que você nem imagina – Disse.

– Pronto, chegamos – A funcionária interrompeu a nossa conversa parando em uma porta que dava para uma área externa enorme.

Na parte de fora do hotel era possível ver uma espécie de jardim com árvores, gramado, alguns arbustos e até mesmo um pequeno lago mais para o canto.

– Nossa, bem legal esse cenário – Comentei – Bom Luan, precisamos encontrar o Flávio, é ele quem é o responsável pela produção das fotos e do clipe.

– Então tá, nega. Se você está dizendo... – Ele concordou comigo. Na verdade eu achava que ele ainda estava dormindo.

Fui até uma pequena tenda onde parecia que todos os trabalhos estavam concentrados. O dia estava um pouco nublado e com o tempo fechado, o que ajudaria no cenário no clipe do Luan. Eu, no entanto, começava a me arrepender de ter colocado um vestido por causa do vento.

– Oi, eu estou procurando o Flávio – Disse para o rapaz sentado em uma mesa posicionada ao lado da tenda.

– Sou eu mesmo. Deixa eu adivinhar, você é a Cristal? A Dag me disse que você estaria acompanhando o Luan – O rapaz me cumprimentou. Ele era alto, forte, tinha o cabelo castanho claro com a barba por fazer e vestia o tradicional colete meio desbotado que toda pessoa que dirigia filmes, clipes ou coisas relacionadas vestia.

– Prazer Flávio, esse é o Luan. Luan, esse é o Flávio Azevedo, ele quem será responsável pela direção dos trabalhos hoje. – Apresentei os dois que apertaram as mãos.

– Estávamos esperando vocês para começarmos! Luan, preciso que você siga até a parte de maquiagem e figurino. A minha assistente pode te levar até lá. Cristal, você quer conferir os detalhes da nossa programação para hoje? A Dagmar me disse que eu poderia tirar todas as minhas dúvidas com você – Rapidamente uma menina que estava sentada na mesa levantou e pediu para que o Luan a seguisse para o interior do hotel novamente. Enquanto ele ia se preparar para as fotos, eu fui acertar todos os detalhes com o Flávio.

***

– Com licença, posso entrar – Perguntei batendo na porta do camarim.
–Entra aí, Cristal. Já to quase pronto – Ouvi a inconfundível voz do Luan vindo do interior do cômodo. Depois que entrei percebi que o camarim tinha sido improvisado e um dos quartos do hotel. O local era amplo, e tinha todos os móveis que um quarto costumava a ter – cama, criado mudo, armários – além disso, o pessoal da equipe tinha improvisado uma arara de roupas em um dos cantos e a escrivaninha perto do espelho tinha sido transformada em uma verdadeira bancada de maquiador e cabeleireiro profissional. Perto da janela, uma mesa com frutas e outras comidas e bebidas estava à disposição do Luan.

– Tudo bem por aqui, Luan? – Eu tinha ficado um pouco preocupada em deixá-lo sozinho no camarim. Tá certo que eu precisava finalizar todos os detalhes com o Flávio, mas eu não sabia se o Luan ficaria bem sozinho.

– Tudo certo nega. O que você acha? Tô bonito? – Ele perguntou enquanto se olhava no espelho para arrumar o cabelo. Atrás dele todas as meninas que trabalhavam na parte da maquiagem e do figurino estavam “babando” pelo meu “patrãozinho”.

Olhei para ele. Ele vestia uma jaqueta de couro marrom por cima de uma camiseta branca. Da cintura para baixo uma calça preta muito justa e um sapato tipo coturno fechavam o visual super charmoso.

– Está sim, muito bonito! – Antes que eu pudesse perceber eu já tinha respondido. Fiquei um pouco sem graça, mas eu só tinha falado a verdade. O Luan não fazia muito o meu estilo, mas aquele figurino tinha o deixado muito atraente.

– Na verdade, com essa roupa tá parecendo que você acabou de sair de um filme da Saga Crepúsculo – Brinquei tentando mudar de assunto.

– Ah, esse é aquele filme de vampiro, não é? – Ele quis saber. A essas alturas ele já tinha terminado de arrumar o cabelo e estava de pé conversando comigo.

– Esse mesmo! Com esse seu visual “Twilight” vai ter um monte de fã mandando carta para o escritório com a mensagem “Luan, me morda!” – Ri. Sempre chegavam muitas cartas divertidas no escritório. Sempre que podíamos nós tentávamos responder, mas era impossível dar conta de responder tantas mensagens.

– Nega do céu, você acredita que eu ainda não vi esse filme? – Ele comentou.

– Sério? Não acredito! Todo mundo já viu esse filme, Luan. Eu já até li os livros... Não dá para acreditar que você não viu – Era inacreditável que existia alguém no mundo que ainda não tinha assistido aqueles filmes.

– Pois é, tá me faltando companhia, nega. Tô esperando alguém me convidar para assistir – Ele falou fazendo graça para as maquiadoras.

Cara de pau! Usando a desculpa do filme para fazer charme para as garotas da maquiagem e do figurino. Fechei a cara na hora.

– Luan, o Flávio já está te esperando para começar as fotos. Você já está pronto? – Perguntei.

– Ah, já to sim nega. Vamos lá, então. Tchau meninas, mais tarde eu volto – Ele se despediu das maquiadoras e me seguiu para fora do quarto.

– E aí Cristal, você aceita assistir o filme comigo? – Ele me perguntou depois que saímos do camarim.

Parei de andar e me virei em sua direção. Ele só poderia estar brincando comigo, né? – Chama uma das meninas da maquiagem para assistir com você – Respondi azeda – E agora vamos que você tem muito trabalho pela frente.

***

A sessão de fotos começou. Uma fotógrafa muito profissional fazia as fotos do Luan que posava entre as árvores e até mesmo perto de um carro que foi levado para o hotel especialmente para aparecer no clipe da música.

Fiquei de longe apenas observando enquanto o Luan posava para fotos. A raiva que eu sentia dele era tanta que eu tinha vontade de bater nele ali mesmo, na frente de todos. Aquele cara de pau, como ele podia sair distribuindo cantadas por aí?

Respirei fundo. Aos poucos fui voltando ao normal. Claro que o Luan poderia distribuir cantadas como ele bem entendesse. Eu era apenas a funcionária dele e estava ali para fazer exatamente o que eu estava fazendo: Garantindo que tudo corresse o melhor possível.

Voltei a encará-lo no set. Ele tinha ficado realmente muito bonito com aquela roupa. A figurinista tinha acertado em cheio. Com aquele figurino e aquele sorriso iluminado ele poderia conquistar quem ele quisesse...

Um pouco mais perto da cena das fotos as meninas da maquiagem estavam de plantão, prontas para fazer o seu serviço caso o Luan precisasse. Elas mal disfarçavam que estavam “caidinhas” por ele. Devia ser o efeito do visual “vampiro”, ri comigo mesma. Fiquei imaginando quando aquelas fotos fossem divulgadas na internet o que as fãs iriam dizer. Eu poderia apostar que elas iriam subir uma tag no Twitter sobre aquele novo visual do Luan. Ri sozinha ao me lembrar dos comentários das “Luantes” sobre o seu cantor predileto. As negas eram terríveis!

***

O resto do dia correu sem imprevistos. Na pausa para o almoço eu levei a refeição do Luan até o camarim. Ele tentou puxar assunto, mas bem na hora o Flávio, diretor da sessão de fotos, apareceu e nós começamos um papo muito animado sobre cinema. De longe, o Luan só nos observava enquanto comia. Pela cara dele o almoço não devia estar muito bom...

***

Depois de algumas horas os trabalhos terminaram. Agradecemos a equipe do Flávio e a do hotel e seguimos para o carro onde o “seu” João já nos esperava.

– Podemos ir? – Ele perguntou.

– Claro, missão cumprida por aqui – Respondi sorridente enquanto entrava no carro. O Luan fazia o mesmo que eu.

– E deu tudo certo, Cristal? Como foi o seu primeiro dia como assessora do Luan? – O motorista quis saber enquanto dava partida no carro.

– Ô se deu! Precisa ver “Jão”, a Cristal fez o maior sucesso com o diretor da sessão de fotos – O Luan se meteu na conversa – Rolou um “papo cabeça” sobre cinema e tudo mais – Ele falava com uma expressão travessa no rosto me presenteando com o seu melhor sorriso.

– Nem teve nada disso não, “seu” João. Eu e o Flávio apenas gostamos dos mesmos diretores de cinema – Disse séria, me esforçando para ignorar as provocações do Luan no banco de trás.

– Ah é? E por que você passou o seu celular para ele? – O Luan continuou provocando.

– Porque eu estava procurando alguém para assistir um filme comigo, sabe? Queria muito ver Crepúsculo, mas me falta companhia – Falei em tom irônico.

– Mas eu te convidei para assistir o filme comigo – Ele retrucou fazendo “biquinho”. O Luan era ótimo em fazer “caras e bocas”, isso eu já tinha percebido.

– Convite negado! Mas acho que as meninas da maquiagem estarão disponíveis hoje à noite – Falei pegando o meu MP4 da bolsa e colocando os fones no ouvido. Liguei a música no último volume e dei a conversa por encerrada.

***

A música eletrônica ecoava no meu ouvido no volume máximo. Eu gostava daquele estilo porque não tinha letra. A maioria dos outros estilos só tinha canções que falava de amor, e daquele sentimento eu queria muita distância. Já tinha me machucado uma vez, não queria me machucar de novo.

– Terra chamando Lua de Cristal, terra chamando Lua de Cristal, alguém na escuta? – De repente senti alguém puxando o fone dos meus ouvidos. Vire-me para o banco de trás disposta a matar quem tinha me interrompido.

– Luan! – Por um momento eu esqueci que ele era o meu “patrãozinho” e praticamente gritei com ele.

– Eita “muié braba’! Calma Cristal, o “Jão” tava querendo falar com você e você não estava escutando – Ele explicou se esforçando para não rir.

Respirei fundo. A paciência era uma virtude, eu não poderia me esquecer disso. – Queria falar comigo “seu” João? – Falei com o meu melhor tom de menina doce.

– Cristal, enquanto vocês trabalhavam eu corri em um mercado lá perto do hotel e comprei a peça que precisa para consertar o seu chuveiro. Você quer que passe lá agora para trocar? – Ele perguntou.

Ah como eu adorava aquele baixinho, barrigudinho de cabelo branco que era o “seu” João. Ele e a sua esposa, a Martha, eram uns verdadeiros anjos na minha vida. - Sério que o senhor fez isso? Mas como o senhor sabia qual era a resistência certa?

– Oh dona Cristal, quem foi que instalou aquele chuveiro no seu apartamento? – O João me olhou se gabando.

– Puts, é verdade! Tinha me esquecido... Perfeito, então! A gente deixa o Luan no hotel e o senhor conserta o chuveiro depois – Falei toda animada já espantando a ideia de outro banho gelado dos meu planos para a noite.

– Hããã Cristal, eu tinha pensando em passar na sua casa primeiro. Trocar a resistência é rápido, e o Luan falou que não importa em esperar. Senão fica muito fora de mão ir até o hotel e depois voltar – O “seu” João falou tentando me convencer.

O Luan Santana na minha casa? Fiquei até zonza só de pensar na possibilidade. – Huum... Então é melhor deixar esse conserto para depois. É melhor o senhor levar o Luan para o hotel. Amanhã ele tem trabalho e ele precisa descansar – Tentei arranjar uma desculpa convincente para adiar a visita do “patrãozinho”ao meu apartamento.

– Tem certeza, Cristal? Vai tomar banho frio de novo, nega? – O Luan comentou do banco de trás.

– É filha, fica tomando banho frio... Vai acabar ficando resfriada. É rápido, eu entro, troco a resistência, e você tem a sua ducha quente de novo – O motorista argumentou.

Fui vencida pelo cansaço. Os dois ficaram falando que eu acabaria doente tomando banho gelado junto com aquele tempo maluco que fazia em São Paulo. Acabei cedendo. Afinal de contas, seria tudo muito rápido. O Luan mal teria tempo de reparar na cor da parede da sala do meu apartamento.

– Certo, vocês venceram! O senhor pode trocar a resistência agora – Falei para o “seu” João – Mas, por favor Luan, o meu apartamento é muito simples, não tem nada de luxo. Nada de ficar reparando nas coisas, hein? – Falei para o “patrãozinho”.

– Que isso filha, o Luan é dos nossos, gente simples! Pode ficar tranquila que vai dar tudo certo! – o João me respondeu. Eu torcia para que aquilo fosse verdade. De repente eu estava com muita vergonha de levar o Luan para conhecer a minha casa. Será que ele ia gostar de conhecer um outro lado da Cristal, diferente daquele que eu tentava mostrar para ele?

***

Em menos de meia hora estávamos em casa. Pedi para o porteiro abrir o portão da garagem e o “seu” João entrou com o carro. Saltamos depois que o veículo parou e seguimos para a entrada do prédio.

– Hum... O prédio não tem elevador. Mas eu moro no terceiro andar, é rapidinho de escada – Tentei amenizar a situação. Por dentro o meu coração dançava dentro do peito. Eu mal conseguia controlar a minha ansiedade.

“Vou te esperar na minha humilde residência...” – O Luan começou a cantarolar enquanto subíamos os andares. O “seu” João” o acompanhou assoviando e logo os dois estavam fazendo um coro da música do Michel Teló. Aquilo só serviu para aumentar ainda mais a minha ansiedade.

Chegamos no terceiro andar. Peguei a chave na bolsa, abri a porta do meu apartamento e acendi a luz. – Bem-vindos – Disse tentando ser simpática.

O “seu” João entrou primeiro seguido pelo Luan. – Filha, nem vou perder tempo. Já vou consertar o chuveiro, tá bom? – Assenti com a cabeça. O João já conhecia o caminho, por isso ele seguiu pelo corredor sem hesitar com a peça nova do chuveiro nas mãos.

Encostei a porta atrás de mim e dei uma olhada para a sala do meu apartamento. Eu gostava da minha nova casa. A sala tinha amplas janelas de vidro que davam para a avenida lá fora. Na parede oposta, a que tinha a saída para o corredor, estavam uma estande com a minha coleção completa de DVD’s, além é claro, dos eletroeletrônicos que nunca poderiam faltar em uma sala: TV, DVD e aparelho de som. Um sofá e uma mesa de jantar completavam a mobília do cômodo. Uma colcha lilás enfeitava o sofá branco. A peça combinava com a cor da parede da sala. Mais adiante, uma bancada separava o cômodo da minha cozinha, que era pequena, mas muito organizada.

O Luan caminhou pela sala olhando cada detalhe. Eu daria o meu salário inteiro para saber o que ele estava pensando naquele momento. Ele seguiu andando até parar diante da estante, onde alguns porta-retratos sustentavam fotos pessoais minhas.

– Olha a Cristal “pequenininha” aqui – Ele riu ao ver uma foto minha criança – Essa é a sua família? – Ele perguntou se referindo aos dois senhores e um jovem que estavam comigo na imagem.

– São. Esse é o meu pai Francisco, minha mãe Rosa e o meu irmão Tomás – Disse apontando para as figuras na foto. Meu pai e meu irmão tinham os cabelos um pouco crespos e a pele queimada de sol. Já a minha mãe tinha os cabelos lisos e uma pele alva como leite. Ao fundo era possível ver o mar.

– Eles moram na praia? – O Luan continuou analisando a foto.

– Minha família mora em Ilhabela, litoral de São Paulo, conhece?

– Já ouvi falar... E essa aqui é você se formando na faculdade? – Ele passou para o porta-retrato ao lado que mostrava uma foto minha na minha colação de grau da universidade.

– Foi quando eu me formei... Nossa nem parece que já faz tanto tempo – Comentei ao reparar na minha cara de “novinha” na foto.

– Que tanto tempo nada Cristal! Você “tá” com a mesma cara de “braba” de hoje – O Luan zombou de mim – E aqui, é sua família também? – Ele passou para a terceira imagem deixando a segunda foto de lado.

– Quase. Essa é a minha família de criação, pode se dizer assim. Era para eles que eu trabalhava antes de começar lá com a Dag – Expliquei. Na foto estavam um senhor muito elegante ao lado de três jovens que só de olhar já dava para perceber que eram seus filhos.

– Verdade? O que você fazia antes de trabalhar com a gente, Cristal? – O Luan quis saber enquanto olhava a minha coleção de DVD’s. Eu parei ao seu lado só agora me dando conta da proximidade entre nós. Menos de dois centímetros me separavam dele.

– Eu trabalhava na parte de assessoria de imprensa e marketing de um estaleiro de uma marca italiana de iates. O “seu” Francesco, o senhor aqui da foto, era o dono – Expliquei.
– Iates!? Você não é fraca não, hein nega – O Luan brincou – E 
como você conseguiu esse emprego? Ele ainda olhava cada detalhe da sala, do controle da TV até os bibelôs que estavam na bancada.

– Meu pai era marinheiro e trabalhava para o “seu” Francesco. Nossas famílias acabaram ficando muito próximas, e o patrão do meu pai ajudou o meu irmão a abrir um negócio próprio e depois me ajudou a estudar e me deu esse emprego na empresa dele – Tentei sintetizar a história que era muito longa.

– E foi assim que você me conheceu, não foi Cristal? – Uma terceira pessoa entrou na conversa, e pelo tom de voz eu não gostava daquele novo convidado.

– Diogo? – Exclamei ao ver o meu ex-namorado e ex-patrão parado na porta do meu apartamento. Já fazia um tempo que eu não o via, mas ele continuava como eu me lembrava: Alto, pele queimada de sol, cabelo levemente bagunçado que lhe davam um ar de garoto descolado, roupa de marca, perfume de grife e um sorriso irresistível. Ele era o garoto do sonho de qualquer garota, menos dos meus.

– A pedra mais linda entre todos os cristais – Ele disse fechando a porta atrás de si e caminhando até mim – Cristal, você mora sozinha em São Paulo agora. Sabia que deixar a porta aberta pode ser muito perigoso? – Enquanto falava ele se curvou ligeiramente e pegou a minha mão para beijá-la imitando um gesto nobre da realeza.

Eu não sabia o que fazer. Meu corpo estava paralisado de susto e de medo. Eu não contava encontrar com o Diogo assim, de repente, ainda mais com o Luan em casa. Senti meu corpo enrijecer e meu coração acelerar. Por um minuto eu me esqueci até como se respirava.

– Perdão, que indelicadeza a minha! Permita-me que eu me apresente – Ele soltou a minha mão e se virou para o Luan – Diogo, ex- chefe da Cristal.

– Luan – O meu atual “patrãozinho” disse simplesmente estendendo a mão para cumprimentar o Diogo. O meu ex-chefe retribuiu o gesto e os dois apertaram as mãos.

– Então foi por você que a Cristal nos trocou? Espero que esteja dando certo, porque a Cristal é uma excelente funcionária – O Diogo falava com um tom de voz de uma pessoa que se esforçava para ser simpático. Pelo canto do olho pude perceber que o Luan não tinha caído na dele.

– Então Cristal, que saudades de você menina! Vim até aqui para te convidar para jantar, mas como vejo que você tem visita acho que podemos mudar os planos. Que tal pedir uma pizza? Assim posso conversar melhor com o Luan ... Tenho ótimas referências da Cristal para te passar, cara – O Diogo agia como se aquele encontro fosse normal, como se nós nunca tivéssemos brigado.

Eu continuava paralisada. Só tinha consciência que continuava respirando, mais nada... E foi aí que o Luan me surpreendeu.

– Hããã... Acho que a Cristal está um pouco cansada, não é nega? Tivemos um dia cheio hoje – Ele disse colocando um dos braços sobre o meu ombro me abraçando. Com a outra mão ele apoiou o meu braço nas suas costas, como se soubesse que eu estava prestes a desmaiar.

– Tivemos sim... O Luan só veio me deixar em casa – Consegui falar com uma voz fraca.

– Poxa, mas que chato! Então acho melhor eu voltar outro dia – O Diogo tinha sentido o golpe. Quando o Luan me abraçou ele torceu a cara em sinal de desaprovação, mas ele não se daria por vencido. Manteve o seu falso tom de simpatia para escapar da situação.

– Também acho. Eu e a Cristal temos uma agenda cheia amanhã. Sabe como é, divulgação de novo CD, estamos trabalhando muito – O Luan imitou o falso tom de simpatia do Diogo. Cordialmente, o “patrãozinho” tinha colocado a minha visita para correr.

– Bom, aproveite para descansar então, Cristal! Quando tiver uma folga apareça lá em casa! A Laura morre de saudades de você – Ele disse se referindo à sua irmã – Você abre a porta para mim?

– Pode deixar que eu abro – O Luan se adiantou me girando e me colocando delicadamente sentada no sofá. Os dois seguiram até a porta e segundos depois eu ouvi o som da madeira batendo e da chave virando na fechadura.

Eu continuava paralisada. Aos poucos ia tomando consciência de que o Luan tinha me salvado de mais uma terrível discussão com o meu ex.

– Cristal... – O Luan chamou indo até mim – Ele sentou ao meu lado no sofá sem saber o que dizer. A minha aparência devia ser péssima, porque a expressão no rosto dele era de pura preocupação.

– Obrigada – Disse com a voz fraca antes de encostar a cabeça no seu ombro. Ele não disse nada, apenas colocou a mão sobre os meus cabelos e os acariciou levemente me reconfortando.

Não sei quanto tempo ficamos daquele jeito, mas quando o “seu” João entrou na sala com certeza ele não entendeu nada.

– Cristal, seu chuveiro já está bala! – Ele disse animado antes de nos ver no sofá – Hum, perdi alguma coisa?

– A Cristal recebeu uma visita indesejada – O Luan respondeu sem se mexer do meu lado.

– Nossa, nem ouvi nada lá do banheiro. Você tá bem, filha? – o João também ficou preocupado.

– Estou sim – Falei tentando firmar a voz – Acho que só preciso descansar um pouco... Muito obrigada por concertar o chuveiro “seu” João – disse me levantando e caminhando até a porta.

– Tem certeza que está bem? – O motorista quis confirmar.

– Estou ótima, foi só um susto. E agora você precisa levar o Luan para o hotel! Ele tem trabalho amanhã, né mocinho? – Fingi voltar ao meu tom habitual de “mandona”.

– Tá certo então, mas qualquer coisa você grita, hein? Se cuida menina – O João disse abrindo a porta de saída atendendo o meu pedido silencioso para ficar sozinha.

*** Link para trilha - http://www.youtube.com/watch?v=4wegmGMUunk&ob=av2e

O Luan veio na sequência. Parou na minha frente e me deu um beijo na testa antes de sair – Se cuida, nega – Ele falou baixinho.

Em seu olhar eu senti uma sinceridade tão grande naquela simples frase. Eu queria abraçá-lo para agradecer pela preocupação, mas os meus braços não me obedeciam. Tudo o que consegui foi assentir com a cabeça.

Ele passou pela porta e seguiu o “seu” João em direção às escadas. Eu já ia fechando a porta quando o ouvi chamar de novo.

– Cristal... – Abri a porta novamente e dei um passo em direção à escada para ouvi-lo melhor.

– Não esquece de trancar a porta – Ele me alertou parado no início da escada. Da entrada do meu apartamento tentei sorri para ele. Ele acenou com as mãos e continuou descendo as escadas apressado atrás do João.

Assim que fechei a porta atrás de mim eu não aguentei mais. Cai no choro ali mesmo, sentada encostada na parede da sala me sentindo completamente perdida.




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Notas finais do capítulo:
TENSO esse ex da Cristal, hein?
E o Luan a protegendo do ex?
P.S.: Meninas, inventei uma boa parte sobre a gravação do clipe porque não sabia as informações certas. Espero que não tenha ficado muito ruim...

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