terça-feira, 23 de outubro de 2012

Capítulo 11 - Em Londrina - Na minha "humilde" residência

Notas iniciais do capítulo:

É isso aí meu povo! Cristal está na casa do Luan (que não é nada humilde, diga-se de passagem).

E já aviso: Cap tá top, modéstia a parte.

____________________________________

Pousamos em Londrina alguns minutos depois. O Luan tinha uma reunião com o grupo de vereadores que havia decidido homenageá-lo com o Título de Cidadão Honorário de Londrina. Aparentemente, os políticos queriam agradecer todas as boas ações que o Luan fazia pela cidade antes da cerimônia oficial, e claro, aproveitar para pedir mais algumas “coisinhas”.

O Welligton, secretário do Luan, já nos esperava para nos levar até o encontro. O Anderson já tinha me falado sobre o ele. Pelo o que eu sabia, ele era o responsável por organizar o camarim, cuidar da segurança, do transporte e de tudo mais que o Luan precisasse durante as turnês de shows.

Quando desembarcamos e entramos no carro, o Luan nos apresentou. Em uma primeira impressão eu só podia dizer que o Welligton me pareceu ser uma pessoa legal, mas, que de alguma forma, tinha sido “picado” pelo “bichinho da fama”. Pude perceber que ele olhava para as outras pessoas com um ar de superioridade, como se fosse melhor que alguém. Eu não gostava muito desse tipo de atitude, mas ainda era cedo para julgá-lo dessa forma.

A caminho do escritório dos vereadores o Luan pediu para ver o vídeo que tínhamos feito no avião. Passei o celular para ele, e pelo canto do olho pude perceber que o Welligton nos observava. Certamente o Anderson tinha pedido para ele ficar “de olho” se eu estava cumprindo a minha promessa.

Achei melhor ficar alerta. Era melhor não dar bobeira tão longe do escritório e das pessoas que eu já conhecia e confiava.

***

A reunião foi rápida e tranquila. Enquanto o Luan falava com os vereadores eu aproveitei para me apresentar para os assessores dos políticos e já pegar os contatos de todos eles. Já era quase de noite quando finalmente o Luan pode ir para a casa.

– E aí pessoal, vocês vão jantar lá em casa, né? Minha mãe tá preparando aquele arroz com quiqui que só ela sabe fazer.

– Aquele que passou na Ana Maria Braga? – Perguntei.

– Esse mesmo. Nega do céu, é “bão” demais. O Welligton já comeu, fala aí se não é “bão” mesmo, cara – O Luan comentou.

– É uma delícia mesmo. A dona Marizete é uma cozinheira de mão cheia – O Welligton completou. Nós estávamos no carro dele e ele conduzia o veículo para o condomínio onde o Luan morava. Eu e o meu “patrãozinho” estávamos sentados no banco de trás enquanto o secretário do Luan ia sozinho na parte da frente do carro.

– Aí Cristal a gente já aproveita e coloca esse vídeo no Youtube. Ficou muito top! Tenho certeza que as minhas negas vão adorar – O Luan disse.

– Tem certeza Luan? Não é melhor perguntar para o Anderson ou para a Dagmar primeiro? – Achei melhor confirmar para não ter nenhum tipo de surpresa desagradável.

– Não, tem problema nenhum não, não é Welligton?

– Não sei Luan, acho que a Cristal tem razão. Quando chegarmos na sua casa você me mostra o vídeo e a gente vê o que faz, beleza? – O secretário comentou encerrando o assunto. Não sei se era impressão minha, mas na minha opinião, ele não tinha gostado muito da história do vídeo.

***

Minutos depois estávamos na casa do Luan. Somente uma palavra poderia descrever o que era o local onde aquele garoto morava: Maravilhoso! A casa parecia aquelas mansões de cinema, espaçosas, bem decoradas e elegantes. Mas o mais interessante é o que o lugar permanecia com um ar “simples”, sem exageros na decoração ou na mobília. Resumindo, era uma casa, ou melhor, uma mansão, muito bonita, mas sem extravagâncias.

O Luan me apresentou à sua mãe Marizete, ao seu pai Amarildo e a sua irmã mais nova, Bruna. Alguns amigos do Luan estavam por ali também, mas acabei não decorando o nome de todos.

Os preparativos para o jantar já estavam a todo vapor, e não tardou muito uma mesa com muita fartura de comida já estava pronta para que todos se servissem.

– Meninas, venham comer enquanto está quente – A dona Marizete veio nos chamar. Eu e a Bruna estávamos do lado de fora da casa, perto da piscina. Nós tínhamos encontrado um gosto em comum: a série de TV "Vampire Diaries" e ficamos “fofocando” sobre os belos irmãos Salvatore longe dos meninos que estavam jogando vídeo game na sala. Ela aproveitou para pegar o seu notebook para me passar os últimos capítulos da série que eu não tinha conseguido assistir.

– Quer dizer que as duas já viraram amigas? – O Luan nos perguntou enquanto entrávamos na sala. O resto do pessoal já caminhava em direção à mesa de jantar.

– A Bruna estava me passando os últimos capítulos de Vampire Diaries. Graças a ela vou saber o que rolou na última semana – Falei, piscando para a minha mais nova colega.

– Eita Cristal, mas você gosta mesmo dessa coisa de vampiro, né nega? – O Luan comentou. Agora todos nós seguíamos em direção da cozinha.

– O que a gente pode fazer, não é Bruninha? Os vampiros são irresistíveis – Pisquei para a irmã do Luan que caiu na risada. Acho que ela tinha entendido a indireta sobre os vampiros.

– Eita, já to vendo que as duas juntas não vai prestar... Mãe, não deixa a Cristal dormir no quarto da Bruna hoje não. Senão as duas vão fofocar a noite toda – O Luan falou em tom descontraído enquanto sentava-se na mesa. A dona Marizete seguiu para se posicionar ao lado do “seu” Amarildo no outro lado da cozinha deixando as duas cadeiras ao lado do Luan livres para mim e para a Bruna.

– Deixa de ser chato, Luan. O quarto é meu e se a Cristal quiser ela vai dormir lá sim – A Bruna retrucou.

Oi? Dormir? No quarto da Bruna? O Luan estava achando que eu iria dormir na casa dele?

– Gente, podem ficar tranquilos! Eu já fiz a minha reserva em um hotel. Não precisa se preocupar comigo – Tentei desconversar.

– Ah Cristal, é sério? Achei que você fosse ficar por aqui para a gente conversar. Você também assiste “The Secret Circle”? – A Bruna emendou.

– Que isso Cristal, que vai pra hotel nada. Fica aqui, muié. Eu deixo você ficar com a Brú falando desses “trem” aí que vocês gostam – O Luan falou já se servindo com o jantar. Do outro lado da mesa o Welligton me olhava com uma expressão séria.

– Ah, você deixa? Tá vendo Bruna, agora a gente precisa de autorização do Luan – Não me aguentei. Eu tinha que fazer aquele comentário...

O Luan voltou a se sentar e depois me olhou com um ar provocador no rosto. – Olha que a última vez que você me tratou mal você se arrependeu depois. Tem outro filme na mala para compensar que nem você fez hoje lá no Bicuço?

Fiquei vermelha de vergonha. Perto de mim a Bruna ria junto com o Luan. Fiquei imaginando o que ela, a mãe e o pai dele estavam pensando de mim agora. Eu mal tinha coragem de olhar para o resto do pessoal na mesa. O Luan era terrível, tinha que falar aquilo alto? Com certeza aquele boato iria parar direto no ouvido do Anderson. O Welligton não deixaria passar uma informação tão “preciosa” como aquela.

Passei o resto do jantar sem falar mais nada. De canto de olho eu olhava para o Luan com uma vontade imensa de pular no pescoço dele e tirar a força aquele “sorrisinho” sem graça que ele lançava para mim de vez em quando.

O jantar, ao contrário do meu humor, estava muito animado. O “seu” Amarildo contava umas histórias de pescador muito engraçadas e fazia todos da mesa quase chorar de tanto rir. Eu até tentei entrar no clima no resto do pessoal, mas toda vez que eu olhava para o Luan a raiva voltava a tomar conta de mim. Ele pareceu perceber o quanto eu estava o odiando naquele momento, porque ele continuava a me provocar fazendo “piadinhas” sobre o meu mau-humor com a Bruna.

Uma hora depois, que mais me pareceu uma eternidade, o Welligton finalmente anunciou que iria embora.

– Você pode me dar uma carona? Eu estou hospedada naquele hotel bem no Centro da cidade, sabe? – Perguntei para o secretário do Luan.

– Claro Cristal, te levo embora sim – Ele comentou levantando-se da mesa para se despedir de todos.

Imitei o Welligton e comecei a me despedir do pessoal. Apesar de estar ao meu lado, fiz questão de deixar o Luan por último. Ele foi o único que permaneceu sentado na mesa me olhando enquanto mexia no cabelo como se estivesse pensando em alguma coisa. Eu tinha medo quando ele fazia aquela cara. Era um sinal que ele ia aprontar alguma coisa.

– Tchau Luan – Me aproximei dele para me despedir. Eu continuava com cara de “poucos” amigos e não estava muito afim de puxar papo.

– Tchau nega, até amanhã – Ele falou animado demais enquanto eu depositava um beijo de despedida na sua bochecha. Por um momento eu desconfiei que ele fosse aprontar alguma coisa, mas ele não disse mais nada. Respirei aliviada e me virei em direção a porta onde o Welligton já me esperava.

– Cristal, você passou aquele vídeo que a gente fez no avião para o meu computador como eu te pedi? – Ouvi o Luan perguntar atrás de mim enquanto eu caminhava para a saída.

Droga! Eu tinha esquecido. Fiquei conversando com a Bruna e não fiz o que o Luan havia me pedido. Que fora!

– Não Luan, eu esqueci. Me desculpe. Mas eu faço agora, é só um minuto – Falei virando para ele. Agora eu estava nervosa comiga mesma. Eu odiava não fazer o meu trabalho como eu deveria.

– Cristal, vai demorar? Tenho algumas coisas para fazer em casa ainda – Ouvi o Welligton falar nervoso da porta. Eu não tinha certeza, mas eu achava que ele também morava em Londrina.

– Pode deixar cara, eu levo ela depois – Ouvi o Luan dizer. Agora que eu estava ferrada de vez, pensei comiga mesma.

– Tem certeza Luan? – O tom dele era de total desaprovação.

– Tenho, ué... – O Luan insistiu.

– Calma gente, o problema é fácil de resolver. Eu passo o vídeo e pego um táxi depois para o hotel. Assim o Welligton não precisa me esperar e o o Luan não precisa sair de casa, não é Luan? – Eu torcia para que ele não insistisse na sua proposta. Senão eu seria uma pessoa demitida quando voltasse para São Paulo.

– Tá bão, então. Se é assim que você quer – O Luan deu de ombros.

– Ótimo. Vou pegar as minhas malas no carro do Welligton, então – Falei indo de encontro ao secretário que já caminhava em direção à saída. Pelo seu jeito, ele não parecia nada contente.

Quando finalmente consegui alcançá-lo, ele já estava com o porta-malas do carro aberto e colocava a minha bagagem no chão. O veículo estava estacionado em frente a casa, em uma espécie de rua interna do condomínio onde o cantor morava.

Quando terminou de retirar a minha bagagem o Welligton fechou a porta do carro e me olhou com uma expressão emburrada. Aí vinha bronca, eu já podia sentir.

– Cristal, você não se esqueceu da promessa que fez ao Anderson, né? – Ele me perguntou sério.

– De forma alguma – Respondi com um tom de voz firme. Agora não era hora para esmorecer.

– Olha, você tem esse jeito de “menininha” toda doce e pode até tentar ser amiguinha da irmã do Luan, mas eu não caio nessa. Essa história de filme no avião, de gravar vídeo, e de receber convite para dormir na casa dele tá mal explicada. – O secretário tinha esquecido completamente a educação e agora partia para a grosseria – Não pense que jogando charme para o Luan você vai garantir uma vida fácil para você. Ele tem aquele jeito simpático e carinhoso com as meninas enquanto não levou nenhuma delas para a cama. Depois que o Luan pega, ele não se apega. É um adeus e até logo... Por isso, se você for esperta e gostar do seu trabalho como o Anderson e a Dagmar dizem que gosta você, não vai querer parar na cama do Luan, vai Cristal?

Por um instante eu não consegui falar. O que o Welligton achava que era para me tratar daquela maneira? Será que ele estava me confundindo com uma das “piriguetis” que o Luan já tinha ficado? Eu já estava pronta para falar poucas e boas na cara daquele otário quando ouvi o Luan gritar da porta da sala.

– Cristal, precisa de ajuda com as malas?

– Só tenho uma coisa para te dizer Anderson: Eu não sou esse tipo de pessoa que você está pensando. Eu sou muito melhor do que isso – Falei em um tom de voz baixo. Pelo canto do olho pude perceber que o meu “patrãozinho” se aproximava.

– Que foi gente? Se vocês vão ficar proseando então é melhor todo mundo voltar lá para dentro – O Luan disse descontraído.

– Não foi nada não, cara. Eu e a Cristal estávamos aqui combinando os detalhes para amanhã – O Welligton mentiu. Sem opção, concordei com ele.

– Agora eu vou embora mesmo. Até amanhã, pessoal – O secretário disse apressado e logo entrou no carro e deu a partida. Por mais que a gente tentasse disfarçar, estava estampado na nossa cara que nós estávamos discutindo antes do Luan se aproximar.

Respirei fundo e comecei a pegar as minhas coisas tomando o maior cuidado para não encarar o Luan nos olhos. Eu sabia que se me visse ele sacaria que algo estava errado. Ele era craque em fazer isso.

– Dá aqui, deixa que eu te ajudo – Ele falou pegando a mala maior e começando a caminhar na minha frente. Segui atrás dele tentando controlar a raiva que eu estava sentindo por causa do Welligton.

De repente o Luan parou na minha frente e virou-se de uma só vez ficando cara a cara comigo.

– Sabia que tinha alguma coisa errada! – Ele falou me encarando. Tentei desviar o olhar, mas agora era tarde demais – O que aconteceu, Cristal?

– Ih Luan, você tá inventando coisas. Não aconteceu nada – Menti na cara de pau.

– Tem certeza? – Ele insistiu.

– Absoluta – Mantive a minha mentira.

– Vocês dois vem ou não vem? Cristal, tô te esperando para mostrar para esses meninos como se joga vídeo game – A Bruninha gritou da sala.

– Adorei a sua irmã – Disse, sorrindo mudando de assunto rapidamente – E agora vem garoto desconfiado... Se você continuar “encanado” desse jeito vai ter rugas mais cedo, hein? Isso não é bom para você – Brinquei para descontrair o clima. Segui para a sala com um contrariado Luan Santana atrás de mim.

***

Depois que passei o vídeo para o computador do Luan e, principalmente, depois de ganhar duas vezes dos meninos no vídeo game, achei que era hora de ir embora. Aproveitei que a Bruna tinha ido até a cozinha para buscar mais refrigerante e fui atrás dela.

– Bruninha, eu preciso da sua ajuda – Disse, sem cerimônia.

– Que foi, Cristal? – Ela perguntou assustada.

– Eu preciso ir embora – Disse.

– Ah, sem problemas! O Luan vai te levar, ele adora dirigir – Ela falou despreocupada.

– Esse é o problema, Bruna. Ele não pode me levar.

– Por que não? – Ela fez cara de quem não estava entendendo nada.

– Isso é uma longa história... Se um dia eu tiver tempo eu te conto. Mas agora eu preciso muito que você chame um táxi para mim. Depois que o táxi estiver aqui o Luan não vai poder fazer nada. Ele vai ter que me deixar ir embora.

– Cristal, não sei por que você está de bobeira... A Dagmar sempre dormiu aqui em casa. Você nem precisa ir para o hotel. Fica aqui, por favor! Eu nunca tenho com quem conversar. É difícil para caramba trazer gente aqui para casa, ser irmã do Luan Santana não é fácil – Ela desabafou.

– Acredite em mim, ser funcionária dele também não é uma tarefa simples. Por isso eu preciso da sua ajuda. Chama o táxi, vai Bruninha – Eu praticamente implorei.

– Tá bom, tá bom... Mas você vai ter que me contar porque o meu irmão não pode te levar, combinado? – No ritmo que a coisa estava indo, não demorava muito e todo mundo, menos o Luan, iria ficar sabendo da promessa que eu fiz ao Anderson. Mas eu não tinha opção, tive que ceder à “chantagem”.

– Tá bom, chama o táxi, e enquanto a gente espera eu te conto – Falei, vencida.

– Tem certeza que o Luan não vai brigar comigo depois? – Ela questionou.

– Absoluta. Amanhã eu explico tudo tim-tim-tim para ele – Garanti.

– O que as duas estão fofocando sozinhas aqui na cozinha, hein minhas negas? – Era incrível a capacidade que o Luan tinha de sempre chegar “nas melhores horas”. Já era a segunda vez que ele fazia isso só naquela noite.

– A Cristal quer ir embora e não quer que você a leve até o hotel – A Bruna confessou. Quase quis pular em cima dela e fazer com que ela ficasse quieta na marra.

– E por que a Cristal não quer que eu a leve? – O Luan perguntou de cara feia sem me encarar. Agora eles conversavam como se eu não estivesse na cozinha.

– Não sei. Ela ia me contar depois que eu chamasse o táxi, mas você chegou antes e atrapalhou tudo – A sinceridade da Bruna me espantava. Eu teria aprovado a atitude se ela não estivesse me dedurando para o meu “patrãozinho”.

– E por que você não quer que eu te leve Cristal? – Ele me encarou sério.

– Eu... eu... Desculpa Luan, eu não posso te contar – Fraquejei ao encará-lo cara a cara. Ele me olhava de uma maneira tão intensa que eu não tive como inventar uma desculpa na hora. Era estranho, mas eu não sentia mais o domínio sobre as minhas vontades. Tudo o que eu queria era dizer que na verdade eu adoraria que ele me levasse. E foi exatamente o que eu fiz.

– Você não quer que eu te leve? – Ele perguntou um pouco inseguro.

– Não. Quer dizer, não é isso... Eu... quero que você me leve – Onde diabos eu estava com a cabeça para falar aquilo?

– Então vem – Ele não disse mais nada. Apenas pegou a chave do carro que estava pendurada próxima ao armário da cozinha e saímos pela porta dos fundos que dava acesso à garagem. A Bruna correu até a sala para pegar as minhas malas.

O Luan apertou o botão do alarme e abriu a porta do carro para mim. Depois que entrei ele foi ajudar a sua irmã com a bagagem. Dentro do carro era como se o mundo tivesse começado a girar ao contrário. Uma parte de mim implorava para que eu saísse dali e seguisse para o hotel de táxi. A outra parte de mim, no entanto, tremia de tanta ansiedade. Eu sozinha em um carro com o Luan? Será que isso ia dar certo?

Ele voltou para a garagem, e depois de acomodar as malas no banco de trás, entrou e deu a partida no veículo. Reparei que era um modelo esportivo desses bem caros e chiques. O interior era todo de couro e tinha um sistema de som de primeira linha. Com certeza aquele era um daqueles carros de luxo que nós não víamos todos os dias andando por aí.

Ele saiu com o carro da garagem e seguiu pelas ruas do condomínio. No interior do veículo o único som que escutávamos era o do rádio, que o Luan tinha acabado de ligar.

Enquanto o carro seguia uma lembrança maluca veio a minha cabeça. No filme que havíamos assistido à tarde a Bella também andava no carro super chique do Edward, o famoso Volvo prata. E eles também tinham uma cena como aquela, onde os dois estavam juntos dentro do Volvo sem falar nada um para outro. Não pude deixar de rir da comparação. Acho que eu já estava começando a delirar com toda aquela situação.

– Tá rindo de quê, nega? – O Luan perguntou em um tom curioso.

– Nada não... Bruno Mars? Achei que você gostasse de ouvir Zezé de Camargo e Luciano ou Fernando e Sorocaba – Falei para mudar de assunto. Era melhor não contar para ele o que tinha acabado de passar pela minha cabeça.

– Tá vendo só? Olha você pensando que eu sou um completo caipira... – Ele brincou – Eu gosto pra caramba desse cara aí. Tenho ouvido bastante as músicas dele ultimamente. Gosto do jeito como ele interpreta as canções.

– Eu fui no show dele aqui no Brasil. Ele é ótimo mesmo, também gosto muito das músicas que ele canta – Olha quem diria, eu e o Luan tínhamos um gosto em comum.

– Caramba, eu ia adorar ir a um show dele. Quando ele voltar pro Brasil eu vou com certeza – Ele disse. O problema é que o Luan mexia muito as mãos enquanto falava o que fez ele errar a troca de marchas do carro uma porção de vezes. Sem contar que ele demorou um tempão para lembrar onde acendia o farol.

– Eita, alguém aqui tá precisando voltar para a auto-escola – Brinquei.

– Olha que foi você que pediu para eu te trazer. Não reclama! – Ele falou com um sorriso irônico no rosto. Fiquei sem graça na mesma hora.

– Você sabe dirigir, Cristal? – Ele puxou assunto quando percebeu que eu havia ficado sem reação.

– Melhor que você – Respondi na mesma moeda. Eu sabia que não deveria provocá-lo porque quem acabaria mal seria eu. Mas era impossível resistir.

– Ah é? Essa eu quero ver – Ele disse encostando o carro no meio-fio. Pela janela pude perceber que estávamos na entrada do condomínio residencial onde ele morava, o mais chique de Londrina.

– Luan, o que você está fazendo? – Perguntei assustada quando ele parou o carro e desceu.

– Quero ver se você dirige bem mesmo – Ele me respondeu com aquele mesmo sorriso irônico enquanto abria a porta do passageiro para mim.

– Vou te provar que mulher sabe dirigir muito bem – Lá estava eu de novo caindo na tentação de provocá-lo. Mas o que eu poderia fazer? Aquele sorriso me tirava do sério.

Dei a volta no veículo imitando o que o Luan tinha acabado de fazer e assumi o volante. Ajustei os espelhos e o banco e coloquei o carro para funcionar. Para a minha sorte, consegui sair suavemente sem dar tranco no veículo. Isso me deu confiança e logo eu já estava dirigindo como uma profissional pelas ruas de Londrina.

– Dirigi bem mesmo, hein linda? Com quem você aprendeu a pilotar desse jeito? – O Luan quis saber enquanto me dava as coordenadas para o hotel.

– Foi a Laura quem me ensinou. Mas eu aprendi mesmo quando tive que dirigir o carro do Léo. Ele não gostava de dirigir e sempre me pedia para assumir o volante – Contei enquanto prestava atenção no caminho.

– Léo? – O Luan perguntou. Era impressão minha ou ele tinha deixado escapar uma demonstração de ciúmes? Eu definitivamente estava delirando... Eu estava muito mais louca do que na noite que a Cristal “Maluquete” tomou conta da situação.

– Léo era o irmão do Diogo. Eu trabalhava com ele lá no estaleiro. Mas ele detestava toda essa história de marketing, plano de mídia, estratégia de ação, e tudo mais. Eu acabava ajudando-o a passar por tudo isso – Expliquei.

– Se ele não gostava, por que ele ainda trabalhava com vocês? – O Luan quis saber.

– É uma longa história, mas vou tentar resumir. Apesar de serem gêmeos, o Diogo sempre foi mais ligado ao pai e adorava o estaleiro. Ele levava o maior jeito para os negócios e todo mundo botava a maior fé que ele substituiria o pai no comando da empresa. Enquanto isso, o Léo sempre foi ligado à Laura, a irmã mais velha deles. A Laura é decoradora e sempre trabalhou com isso lá na empresa mesmo. Já o Léo sempre teve o sonho de ser escritor. Ele não gostava dessas coisas de empresa, cidade, barulho, estresse. O sonho dele era comprar um veleiro e sair por aí velejando pelo mundo – Desatei a falar. Ao meu lado o Luan prestava atenção na minha história, me interrompendo só para me dizer o caminho.

– Então, um belo dia, o Diogo fez uma negociação errada e deu um terrível prejuízo para o estaleiro. Ele e o pai brigaram feio e ele foi passar uns tempos na Itália para estudar mais sobre barcos a motor. O “seu” Francesco, por sua vez, querendo mostrar para o Diogo que não precisava do filho, botou o Léo no lugar dele na empresa – Paramos em um farol e eu olhei rapidamente para o lado. O Luan me olhava sério enquanto mexia no cabelo. Eu queria muito saber no quê ele estava pensando.

– E foi aí que eu fui trabalhar na empresa. Para ajudar o Léo com essa parte de comunicação, que ele não entendia absolutamente nada – Falei arrancando novamente com o carro.

– Se o Diogo viajou para a Itália, quando foi que vocês começaram a namorar? – Então era nisso que o Luan estava pensado? No meu namoro com o Diogo?

– Nós não chegamos a namorar. Para falar a verdade, nós tivemos apenas um caso. Foi logo quando ele voltou da Itália. Ele fez as pazes com o pai e voltou a trabalhar na empresa. Eu tive que deixar o meu trabalho com o Léo e passar a assessorar o Diogo – Expliquei. Eu tentava me manter calma, mas eu sabia que aquela conversa seguia um rumo perigoso. Eu precisava estar preparada para “escapar” quando fosse a hora.

– Cristal tendo um caso com o chefe? Olha só, hein... – O Luan brincou. Senti meu rosto ficar vermelho na hora. Eu já estava contando mais do que deveria.

– E o resto da família dele soube desse caso? – Ele estava determinado a descobrir alguma coisa aquela noite. Dentro de mim um sinal de alerta tocava. Eu precisava tomar cuidado com aquela curiosidade dele.

– Não. A Laura e o Léo nunca perdoaram o Diogo pela briga que ele teve com o pai antes de viajar. Eles também nunca aprovaram o comportamento do Diogo, por isso eles não se davam muito bem. Por isso achei melhor não contar nada – Expliquei.

– Esse Diogo não deve ser “flor que se cheire” mesmo, né? Nem os irmãos gostavam dele – O Luan comentou.

– O Diogo tem um gênio muito difícil. Ele é completamente diferente da Laura e do Léo. Os dois são gentis, amorosos, amigos... O Diogo é um pouco egoísta, só pensa nele mesmo e não se importa de se dar bem a custa dos outros.

Quando o assunto era comparar os gêmeos eu poderia fazer isso com tranquilidade. Afinal de contas, eu fui apaixonada pelo Léo durante todos os anos que trabalhei com ele. Eu sabia exatamente do que ele gostava, o que ele fazia, como ele era, o que ele sentia... E quando fiquei com o Diogo eu pude ter a certeza que os dois eram completamente opostos, como gelo e fogo. O Diogo, claro, era o fogo. E eu, muito boba, tive que me queimar nesse fogo para aprender.

– E o Diogo te machucou e feriu o seu coração – O Luan disse completando a descrição que eu estava fazendo de um dos irmãos.

Fiquei imóvel por um instante tentando controlar o meu coração que quase pulava dentro do peito. Eu sabia que aquele assunto não era seguro para mim e que em algum momento o Luan perguntaria algo relacionado ao quê o Diogo me fez. Eu não estava preparada para falar sobre aquilo. Para mim, dividir aquela lembrança com alguém era dolorido demais.

Para a minha sorte, vi que estávamos chegando ao hotel. Consegui dirigir aos "trancos e barrancos" o trecho que ainda faltava até chegar à frente do prédio onde eu ficaria hospedada. Novamente a música do Bruno Mars era o único som que se ouvia no carro.

Quando estacionei o veículo, uma das minhas canções prediletas do cantor começou a tocar.

*** Link para música: http://www.youtube.com/watch?v=W-w3WfgpcGg&ob=av2e

Respirei fundo tentando colocar minha cabeça no lugar. Demonstrar fraqueza naquele momento não me ajudaria em nada.

– Eu não posso dizer que o Diogo me machucou. Não fisicamente, pelo menos. Mas ele feriu muito mais que o meu coração. Ele feriu a minha alma profundamente – Parei para tomar fôlego. Eu não sabia da onde eu tirava forças para falar aquilo tudo, mas de alguma forma eu sentia que deveria dividir meus sentimentos com o Luan – Mas, por favor, eu não quero falar disso – Eu quase implorei para que ele não tocasse mais naquele assunto.

O Luan assentiu com a cabeça. Por mais um momento ficamos apenas ouvindo a música que tocava ao fundo.

– Bom, é melhor eu ir. Obrigada pela carona Luan, e desculpa te dar todo esse trabalho – Tentei parecer confiante e indiferente. Enquanto falava estiquei o meu braço e curvei o meu corpo para o lado para alcançar o banco de trás e pegar as minhas coisas, mas o Luan me parou no meio do caminho.

Nossos rostos ficaram muito próximos. Tão perto que eu conseguia sentir a sua respiração acelerada na minha face. Eu esperava que ele não percebesse o quanto a minha respiração também estava descompassada.

– Tudo bem que você não queira falar sobre isso agora. Mas você sabe que pode confiar em mim, né? – Ele falou novamente usando aquele tom de voz sério e com um olhar tão sincero que ele seria capaz de arrancar a verdade de qualquer um que ele encarasse daquele jeito.

Eu, claro, não resisti. Mais uma vez me deixei levar por aqueles olhos escuros tão intensos.

– Eu confio... – Disse com a voz fraca.

E então ele me abraçou. E eu não pensei duas vezes. Encostei a minha cabeça no seu ombro enquanto sentia os seus braços em torno de mim. Baixinho, ele começou a cantar o refrão da música enquanto eu me aconchegava ainda mais no seu colo.

Não sei quanto tempo ficamos assim. Mas quando me dei conta que estávamos parados na frente do hotel e que todo mundo naquela cidade deveria conhecer o carro do Luan, eu achei melhor tentar dar um jeito naquela situação o mais rápido possível. Não seria nada legal se alguém espalhasse o boato que o Luan estava parado na frente de um hotel abraçando a sua assistente.

Boa noite Luan – Falei meio sem jeito. Agora que eu tinha voltado a mim, não tinha coragem para encará-lo nos olhos. Não depois daquele abraço.

Sai do carro o mais rápido que pude pegando as minhas malas no banco de trás. Do banco do passageiro o Luan apenas me observava como se tentasse entender o que estava acontecendo.

– Fica com Deus, nega – Ouvi ele dizer antes de fechar a porta do carro.

Sem olhar para trás, eu praticamente corri até a recepção do hotel completamente desajeitada carregando as minhas malas. Definitivamente aquelas despedidas com o Luan estavam mexendo demais comigo.
________________________________________________________

Notas finais do capítulo:

Duas coisas muito importantes desse cap:
- Mais segredos da Cristal revelados! E aí, já sabem o que aconteceu com ela?
- Segundo: Luan tá ficando "caidinho" por ela! E ela tá "caidinha" pelo Luan.
Aviso aos navegantes: Primeiro beijo desse quase-casal acontece no próximo capítulo lá na "humilde" residência do Luan.
Ai, ai... essa viagem para Londrina é a minha parte predileta da história! xD
____________________________________

 *** Quer ler o próximo capítulo? Então clique aqui

E não esqueça de deixar o seu comentário! Pitacos são muito bem-vindos!

(*)

E veja também:
Segue no Twitter pra gente "prosear" - https://twitter.com/Manudantas_diz
Adiciona no Face - http://www.facebook.com/manuela.dantas.585
Tire suas dúvidas no Ask - http://ask.fm/Manudantasdiz
E não deixe de visitar o Trii - www.triipe.blogspot.com.br
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oiieeee.... xD

Espero que esteja curtindo a fic!
Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!

Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

E não esqueça de deixar o seu nome, ok?!