Capítulo 15 - Verdade ou desafio?

Notas iniciais do capítulo:

Capítulo 16 tá completo: Tem briga, tem revelações da Cristal, tem reconciliação, tem beijo e tem um acordo entre o nosso quase-casal. E Não esqueçam que essa é a terceira parte do "Plano B" do Luan.
Já aviso: As revelações da Cristal serão fortes! Mas a gente conversa sobre isso lá embaixo.
Por enquanto, aproveitem!
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PONTO DE VISTA DA CRISTAL

– Primeiro de tudo, Luan, sai desse corredor! Se alguém te vê parado na porta do meu apartamento a uma hora dessas da madrugada a gente vai parar nas primeiras páginas das revistas de fofocas – Eu praticamente o empurrei para dentro de casa tamanho era o meu desespero.

A última pessoa que eu imaginava que poderia me fazer uma visita aquela hora da noite era o meu “patrãozinho”. E, no entanto, ele estava ali, parado na minha frente me fazendo uma proposta, no mínimo, indecente.

Respirei fundo. “Calma Cristal, calma”, tentei repetir para mim mesma, mas nem o meu “mantra” pessoal deu certo dessa vez. O Luan me encarava com uma expressão travessa no rosto como se quisesse me dizer “Te peguei nessa, hein nega?”. A minha vontade era a de pular no pescoço dele e tirar aquele sorriso do rosto dele à força.

Mas primeiro eu precisava ganhar tempo para descobrir como sair daquele beco sem saída em que ele havia me colocado.

– Huum... Me dá um minuto, ok? Preciso colocar uma roupa descente primeiro. Não posso te receber na minha casa de pijama – Disse depois que fechei a porta atrás de mim. Respirei aliviada ao me lembrar que a faxineira havia feito uma limpeza geral na casa naquela manhã. Pelo menos o meu apartamento estava apresentável, totalmente ao contrário de mim.

– Nã nã ni na não... A senhorita não vai pra lugar nenhum. Já te conheço Cristal, você adora fugir de mim – o Luan falou enquanto me pegava pelo braço e me puxava pela sala - Por isso, você vai se sentar aqui nesse sofazinho, de frente para mim e vai me responder o que você escolhe: Verdade ou desafio – Ele praticamente me colocou sentada no sofá e depois sentou-se também de frente para mim - E além do mais, eu adorei esse shortinho – Ele completou dando uma boa olhada para as minhas pernas.

Fiquei furiosa. Quem aquele moleque achava que era para invadir a minha casa daquele jeito me propondo desafios, dando ordens e ainda olhando as minhas pernas? Bufei de raiva. Do outro lado do sofá o Luan ria de mim. Ele devia estar adorando aquela situação.

– Posso saber quais “verdades” o senhor “eu dou as ordens” quer saber? Porque eu escolho Verdade. Beijo não é algo que se proponha em desafios. Beijos precisam ser conquistados, ninguém nunca te disse isso, Luan? – Falei só para provocar. Eu estava tão nervosa que sentia o meu corpo inteiro tremer.

– Não, nunca me disseram isso não. Mas, sabe que eu sou muito bom de conquistas, sabia? Só seu eu já conquistei dois beijos! – Ele disse piscando para mim.

Bufei de raiva de novo. Eu já estava me preparando para falar “poucas e boas” para o Luan, mas ele foi mais rápido do que eu.

– Mas, antes que você continue a me dar mais “patadas”, vamos ao que interessa! A primeira pergunta que eu quero que você responda é: Por que você sempre foge de mim? Poxa Cristal, eu sou tão feio assim?

Foi impossível não rir. Ainda mais porque ele fez uma cara de “cachorro sem dono” que era irresistível. Acabei esquecendo completamente que estava a ponto de matá-lo a dois segundos atrás e acabei entregando toda a verdade para ele.

– Não, não é porque você é feio. Na verdade, eu sempre fujo de você por dois motivos. O primeiro é porque eu prometi que eu nunca mais me apaixonaria por ninguém de novo, e ficar perto de você não me ajuda muito a cumprir a minha promessa – Me surpreendi com a minha própria sinceridade. Mas ele queria a verdade, e mais do que qualquer pessoa ele merecia ficar a par de toda a história. Afinal, eu sempre dava mil “patadas” nele e ele sempre relevava tudo. Respirei fundo e continuei – E segundo porque o Anderson, a Dag e o Welligton não podem nem sonhar que a gente andou se beijando. Senão eu perco o meu emprego.

– O quê? – Ele parecia muito surpreso com a minha revelação – Peraê nega, vamos por partes. Primeiro eu quero saber dessa história de perder o emprego. Isso tem a ver com o tal acordo que você fez com o Anderson e que minha mãe comentou com você lá em casa? A Bruna que me falou sobre isso...

– Tem. É o seguinte, quando eu aceitei trabalhar no escritório, o Anderson me impôs uma condição: Eu nunca poderia me apaixonar por você. Nossa relação tinha que ser completamente profissional – Desabafei. Eu não sabia onde aquela conversa ia dar, mas toda a situação já havia fugido ao meu controle. Só o que me restava era abrir o jogo com o Luan.

– Mas por que ele fez isso? O Anderson tá louco? – O Luan não conseguia se conformar com o que eu havia acabado de lhe contar.

– Não briga com o seu empresário. Ele fez isso para te proteger! É muito difícil contratar pessoas competentes e profissionais para trabalhar com você. A maioria das pessoas só aceita a vaga para ficar perto do Luan Santana. Foi como o Anderson me disse quando eu aceitei o emprego: "Você vai trabalhar para o Luan Santana, mas vai precisar pensar sempre no Luan Rafael. Vai precisar respeitar as vontades dele, os desejos dele e principalmente, a privacidade dele".

– É, você tá certa! O Anderson sempre foi muito mais que um empresário para mim, sempre foi um amigo. Mas, mesmo assim, ele não tinha o direito de fazer isso. E se você se apaixonasse por mim, o que iria acontecer?

Oi? E se eu me apaixonasse por ele? Acho que ele ainda não tinha entendido muito bem a situação...

– Na verdade, eu acho que o Anderson me contratou já pensando nisso. Tenho certeza que ele achou que eu não fazia o seu tipo e que você não faria o meu. Logo, ele não precisaria preocupar-se com esse detalhe. Esse acordo que a gente fez foi só uma garantia, entende? Só para deixar bem claro que eu não poderia me envolver com você.

– Mas que tranquera esse Anderson! Ele fez tudo isso escondido de mim! Não gostei disso, a gente é uma equipe, precisamos trabalhar juntos. Até onde ele ia com esses “segredinhos”? – O Luan mexia nos cabelo, nervoso.

– Hey, calma – Falei segurando as mãos dele tentando acalmá-lo – Pode ter certeza que ele fez isso para o seu bem. Ou você ia preferir que uma maluca qualquer trabalhasse para você? Imagina a confusão que isso ia dar! Todos os seus segredos de carreira, tudo o que a gente conversa no escritório indo parar na boca de todos os fofoqueiros de plantão. Ou pior, indo direto para a concorrência? – Tentei mostrar a ele o lado positivo da situação.

– E você ainda defende o Anderson? Pensei que você ia ficar braba com ele também, que nem fica comigo! – Ele parecia confuso. Acabei rindo sem querer. Era estranho o Luan pensar que eu era tão brava daquele jeito.

– Fui eu quem aceitou essa condição. Eu já sabia como seria desde o início e mesmo assim eu aceitei. Na verdade, eu estou brava comigo mesma. Eu não poderia ter deixado a situação chegar a esse ponto... E agora eu não sei o que fazer – Desabafei. Eu não sabia o porquê eu estava contando tudo aquilo para o Luan. Mas estar ali, sentada no sofá da minha casa e de frente para ele deixava a situação muito mais fácil. Fazia muito tempo que eu não conversava com alguém de coração aberto daquele jeito. A sensação era que um peso enorme estava sendo tirado das minhas costas.

– Eu estou completamente confusa. Tem tanta coisa na minha cabeça... Tem essa promessa para o Anderson que eu não consegui cumprir, tem você, tem o Diogo maluco que não me deixa em paz... E tem todas as minhas lembranças do meu passado que ficam voltando toda hora para me assombrar como se fossem fantasmas – Eu não havia percebido, mas quando me dei conta duas grossas lágrimas rolavam pelo meu rosto. Sequei com a manga do meu moletom o mais rápido que eu pude. Eu tinha prometido para mim mesma que não choraria na frente de nenhum homem nunca mais na minha vida.

– Calma Cristal. Eu to aqui, fica calma, nega – Senti o Luan me dar um abraço bem apertado. Fiquei sem saber o que fazer com aquela reação dele. Eu tentei me soltar, mas foi sem sucesso. Então, eu o abracei de volta ainda mais apertado. Afinal, como diria o Edward Cullen, personagem do filme que havíamos assistido juntos, já que eu estava indo para o inferno, era melhor eu melhor eu aproveitar o caminho.

– Tá mais calma agora? – Ele perguntou depois que se soltou do nosso abraço. Ele me olhava de uma forma tão carinhosa que, por mais que eu tentasse, eu não conseguia me afastar dele.

– Tô sim – Respondi respirando fundo.

– Ótimo, porque eu tenho mais perguntas para você – Ele sorriu quebrando o “climão” que tinha ficado na sala.

– Certo, mas primeiro você precisa me jurar que não vai comentar nada com o Anderson nem com ninguém que eu te contei sobre a promessa, combinado? – Eu praticamente implorei. Se ele resolvesse falar alguma coisa para o seu empresário eu estaria demitida, na certa.

– Combinado. Mas já vou dizendo que não acho certo isso aí não. O Anderson não pode mandar nos sentimentos de ninguém. Mas tudo bem, eu entendi que ele fez isso para o meu bem, e no final das contas, tudo acabou dando certo, né linda?

– Hãã... Depende do que você entende como certo... – Do meu ponto de vista, nada tinha dado certo. Prova disso era ele estar na minha casa em plena madrugada para jogar verdade ou desafio. Se tudo estivesse certo era para ele estar bem longe do meu apartamento naquele momento.

– Ah Cristal, nem vem mudar o assunto da conversa, não. E agora, a próxima pergunta: Por que você jurou que não ia mais se apaixonar por ninguém? – O Luan era uma pessoa muito curiosa. Haja pergunta para uma mesma noite.

– Porque eu me decepcionei muito com uma pessoa – Respondi simplesmente.

– Essa pessoa é o Diogo?

Concordei com a cabeça. Eu já podia sentir que a próxima pergunta 
não seria tão fácil de responder.
– E o que ele fez com você, Cristal? – O Luan perguntou delicadamente como se já adivinhasse que o assunto era muito difícil para mim.

Respirei fundo e encarei o Luan nos olhos. O que vi ali não foi uma expressão de curiosidade, mas sim um ar de preocupação, como se ele realmente se importasse comigo. Aquilo me encorajou a começar a contar a verdade para ele.

– Hãã.... Bom, você lembra que eu falei que o Diogo e o Léo eram irmãos gêmeos, né? E lembra também que eu eu contei que nós crescemos juntos? E que eu expliquei que o Diogo era mais próximo ao pai deles, o “seu” Francesco, mas que os dois brigaram e aí ele viajou para a Itália e o “seu” Francesco botou o Léo para trabalhar no lugar dele. Lembra de tudo isso? – Aquilo estava parecendo o começo do capítulo de “Vampire Diaries” quando o narrador fazia o resumo do capítulo anterior. Mas, não tinha jeito, eu precisava me certificar que ele se lembrava de todos os detalhes.

– Lembro sim, nega. Você me contou tudo isso lá em casa... – O Luan disse sério. Ele estava muito compenetrado na história.

– Bom, o que eu não te contei é que eu era completamente apaixonada pelo Léo. Todos os anos que nós trabalhamos juntos eu fui muito afim dele. Mas ele nunca quis ficar comigo... Ele sempre dizia que me achava muito bonita, muito inteligente, mas que eu seria eternamente a sua “irmãzinha” que brincava de futebol com ele e com o irmão na praia – Comentei meio chateada. Lembrar do Léo sempre me deixava triste. Eu sempre esperei que ele fosse me procurar depois que deixei de trabalhar no estaleiro, mas ele nunca nem mandou nem um e-mail para perguntar se estava tudo bem comigo.

– Você gostava desse tal Léo mas ficou com o Diogo mesmo assim? – O Luan parecia intrigado.

– Eu não fiquei com o Diogo, eu fiquei com o Léo... Sei que pode parecer confuso, mas deixa eu terminar de explicar que você vai me entender – Eu não queria que o Luan fizesse um mal juizo de mim. Olhando daquele ponto de vista, realmente parecia que eu tinha apenas trocado os irmãos. Mas a história era muito mais complicada do que parecia.

– Então, como eu também já te contei, quando o Diogo voltou da Itália ele assumiu toda a parte de marketing do estaleiro e eu passei a trabalhar diretamente para ele. Nessa época o Léo foi transferido e assumiu a gerência da marina que a família dele tem lá em Ilhabela. Sabe, aquela que eu comentei que meu pai e meu irmão trabalham? – Fiz uma pausa para tomar um fôlego enquanto o Luan confirmava com a cabeça que estava acompanhando todo o meu raciocínio. Até aquele ponto estava fácil contar a história, mas eu sabia que eu precisaria de coragem para continuar dali em diante.

– Eu fiquei responsável por atualizar o Diogo de tudo o que havia acontecido na empresa desde de que ele tinha viajado, e nós acabamos ficando muito próximos por causa disso. Mas, ao contrário do Léo, o Diogo não fez cerimônia em relação ao fato da gente ter crescido junto e começou a “investir” pesado em cima de mim enquanto eu fazia o possível para fugir dele. Logo ele percebeu o meu “carinho” especial pelo Léo e começou a falar que eu estava apaixonada pelo irmão errado.

– Como ele percebeu que você gostava do Léo? – O Luan quis saber.

– Eu mantinha um contato direto com o Léo, mesmo ele trabalhando em Ilhabela. Aí pelos telefonemas, pelos e-mails e pela forma que eu falava do Léo para a Laura o Diogo acabou sacando a jogada – Esclareci a dúvida do Luan – Claro que a Laura também ajudou nisso. Ela e o Léo não gostavam muito do Diogo, e quando ela descobriu que o “gêmeo mal” estava dando em cima de mim, ela fez questão de deixar bem claro que preferia que eu ficasse com o Léo – Completei.

– E ela sabia que você gostava do Léo?

– Sabia sim. Na verdade, quase todo mundo percebia que eu era apaixonada por ele. Só o Léo não percebia, porque ele insistia em dizer que nós éramos “irmãos” – Confessei.

– Tá, mas e o que isso tudo tem a ver com o Diogo? – O Luan perdeu a paciência e foi logo direto ao assunto. Lá fora o dia já começava a dar sinais de que iria começar a clarear. Isso me fez pensar a quanto tempo eu já estava ali, jogando verdade ou desafio com o meu “patrãozinho”.

– Isso tem tudo a ver com a história, porque foi por causa disso que o Diogo conseguiu me enganar – Expliquei.

– Como assim, nega? Eu não tô conseguindo entender... – O Luan mexia nos cabelos impaciente enquanto tentava compreender toda a minha história. Eu não podia culpá-lo, a situação era um pouco confusa mesmo.

– Presta atenção agora que essa parte é importante – Disse antes de respirar fundo e continuar contando tudo para o Luan. Eu já sentia o meu corpo tremendo... Eu sempre ficava daquele jeito quando me lembrava daquela noite.

– Depois de um tempo o estaleiro organizou uma festa na marina lá em Ilhabela para promover o lançamento de um barco. Era uma festa muito chique, só para convidados com muita gente rica e sofisticada. Nós trabalhamos a noite toda recebendo os convidados e, quando a festa acabou, toda a equipe se reuniu para comemorar os bons resultados do evento.

Todo mundo se serviu de uma taça de champagne e fizemos um brinde ao sucesso do estaleiro. O Léo e o Diego estavam nessa festa. O Léo estava muito elegante de terno, mas foi o Diogo que chamou a atenção de todas as mulheres presentes. Era incrível como eles eram tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo – Eu não pensava no que eu estava falando, eu apenas fui despejando tudo em cima do Luan, contando todos os detalhes e mexendo as mãos sem parar enquanto falava. Ele devia ter percebido o quanto era difícil para mim falar sobre aquilo, porque ele não me interrompeu. Ele apenas colocou a mão suavemente sobre uma das minhas pernas como se quisesse me encorajar a continuar falando.

– Eu não estava acostumada a beber, por isso em todas as festas da empresa eu sempre parava na primeira taça de champagne. Mas, naquela noite, eu não sei o porquê, o Léo veio até mim me propondo um segundo brinde. Segundo ele, eu estava muito bonita naquela noite... A mais bela de todas! Fiquei empolgada com o comentário e bebi mais uma taça com ele. Naquela noite, eu não sabia o porquê, mas ele estava me olhando de uma maneira diferente, como se tivesse percebido que eu não era mais a “menininha” que costumava brincar com ele quando éramos crianças – Respirei fundo e continuei falando. Se eu parasse, eu sabia que eu não conseguiria terminar de contar, por isso eu falava rápido, como se eu quisesse terminar com aquele sofrimento de uma vez só.

– Mas depois da segunda taça o Léo pareceu se arrepender do elogio e fugiu de mim. Fiquei meio decepcionada e aí o Diogo deu o bote. Ele me ofereceu mais uma taça de champagne. Eu aceitei, estava com raiva do Léo e querendo afogar as minhas mágoas. O resultado disso foi que eu fiquei completamente tonta. Para me recuperar um pouco, eu fui até o escritório da marina e fiquei sozinha lá esperando que os sintomas da "bebedeira" passassem.

– Cristal bêbada? Essa eu queria ver... – O Luan falou baixinho.

– Isso só aconteceu uma vez na minha vida e nunca mais vai voltar a acontecer. Foi por causa dessa “bebedeira” que eu não me lembro como foi que o Diogo entrou no escritório com uma garrafa de champagne nas mãos. Depois eu fui descobrir que ele havia ido até o carro do Léo e vestido algumas roupas do irmão para me enganar. Mas naquela noite, ao ver o Diogo vestido com as roupas do irmão, com o cabelo igual ao do irmão e tonta do jeito que eu estava, eu acreditei que o Diogo era o Léo e aceitei beber mais uma taça de champagne com ele – Uma lágrima caiu do meu olho. Eu me sentia a mais completa idiota quando me lembrava que havia caído em um truque tão barato.

– Nós acabamos bebendo a garrafa inteira. O Diogo, se fingindo de Léo, me disse coisas lindas. Tudo o que eu sempre quis ouvir durante todos aqueles anos que eu fui apaixonada pelo Léo...

– Esse tal de Diogo se passou pelo Léo para conseguir ficar com você? Mas que cara mais covarde! – O Luan parecia bravo de verdade com o meu ex-patrão. De repente ele ficou muito agitado e começou a se mexer sem parar no sofá – Continua Cristal, quero saber onde essa história vai parar – Ele disse tentando se concentrar novamente na conversa.

– Já era tarde e todo mundo já tinha deixado o local da festa. Só os funcionários da marina ainda estavam por lá organizando os barcos em suas poitas. Foi aí que o Diogo me propôs dar uma volta de lancha. Eu, claro, aceitei. Para mim dar um passeio de lancha à luz do luar com o Léo seria perfeito. E eu estava tão tonta que eu nem desconfiei que quem estava ali comigo era o Diogo e não o Léo.

– Cristal, você aceitou sair de barco com esse tal de Diogo? Pelo amor de Deus nega, o que aconteceu nesse barco? - O Luan ficou nervoso de verdade ao ouvir a última parte da história. Eu até conseguia entender o porquê daquela agitação, afinal de contas, a partir dali não era difícil e imaginar o que havia acontecido.

Eu já não conseguia mais segurar as minhas lágrimas. O Luan pegou as minhas mãos e as segurou entre as suas. Eu tremia. Voltar para aquela noite sempre me fazia sofrer demais. Para mim era como se toda a dor que eu havia sentido naquele barco voltasse com ainda mais intensidade.

– Eu me entreguei para ele... O Diogo começou a me beijar, e ele falava como se fosse o Léo, eu estava tonta, eu não consegui resistir. Para mim aquela seria a noite mais feliz da minha vida, a noite que eu eu e o Léo finalmente ficaríamos juntos – Consegui confessar com a voz fraca. No fundo eu sentia vergonha de ter sido tão burra e ter permitido que aquilo acontecesse comigo – Eu só percebi a farsa por causa de uma corrente de prata que o Diogo costumava usar. Eu sabia que o Léo não usava aquele tipo de acessório. Mas quando eu me dei conta já era tarde demais... Ele não quis parar quando eu pedi... Eu não tinha como pedir ajuda e não tinha força para impedi-lo... Eu não queria, mas o Diogo não quis parar - Confessei aos prantos.

O Luan não disse nada. Ele apenas me abraçou e tentou me acalmar enquanto eu soluçava sem parar. Naquele momento eu havia acabado de deixar para trás todas as promessas que fiz para mim mesma. Eu tinha jurado que nunca mais choraria na frente de um homem e que não demonstraria fraqueza para mais ninguém. Mas o Luan tinha o poder de me fazer esquecer todas as minhas convicções. O jeito que ele olhava para mim, com tanto carinho e preocupação, quase me fazia esquecer completamente o meu passado. Mas, infelizmente, aqueles “fantasmas” do Diogo e do Léo sempre voltavam para me tirar a paz.

Fui me acalmando aos poucos e parando de chorar. O Luan ainda me pedia para ficar calma e me dizia que tudo ia ficar bem. A expressão dele era de quem estava bastante impressionado com a história, mas mesmo assim ele não fez nenhum comentário. Fiquei muito grata com aquele gesto dele.

Eu não tinha mais coragem para olhar para ele depois de todas aquelas confissões, então eu resolvi fazer o que eu fazia de melhor: Fugir.

– Luan, hããã... Acho que já está ficando um pouco tarde. Eu sei que amanhã você tem vários compromissos e que precisa descansar. O dia já está quase amanhecendo – Falei apontando pela janela da sala. Lá fora os primeiros raios de sol já começavam a aparecer no horizonte. Eu sabia que estava sendo um pouco grossa mandando ele embora daquele jeito, mas naquele momento eu precisava ficar sozinha. Em uma só noite eu tinha passado por muita coisa. Eu me sentia cansada física e emocionalmente.

- Tá certo, nega... O tempo voou mesmo – Ele pareceu entender o meu pedido silencioso para ficar sozinha. Acho que ele mesmo também precisava pensar em tudo o que eu havia acabado de contar para ele – Eu combinei com o Welligton para ele vir me buscar quando eu terminasse. Eu dispensei o "Jão" para ele ir descansar – O Luan comentou enquanto pegou o seu celular no bolso e começou a apertar as teclas como se estivesse mandando uma mensagem.

– Não, o Welligton não – Senti meu coração disparar só de imaginar o “testa de outdoor” contando para o Anderson que o Luan havia passado a madrugada na minha casa.

– Relaxa nega... Pode confiar no Welligton! Eu já contei para ele o que aconteceu lá em Londrina – O Luan me contou guardando o celular no bolso novamente – Pronto, o Testa já está vindo.

– Como assim ele já sabe de tudo? – Eu estava prester a ter um infarto com aquela notícia.

– Já disse que você pode confiar nele, Cristal. Deixa de ser “braba” muié! – O Luan riu quebrando o clima tenso que estava na sala. Só ele mesmo para me fazer rir em uma situação como aquela – Mas, antes de eu ir embora, eu tenho mais uma pergunta para te fazer.

– Faça. Eu já contei tudo para você mesmo – Ri sem ânimo enquanto olhava para ele.

– Quando a gente começou essa conversa você disse que não estava conseguindo cumprir a promessa que fez para o Anderson. O que você quis dizer com isso, hein nega? – Ele me encarava com o seu melhor sorriso torto no rosto. Ele estava realmente disposto a me colocar contra a parede naquela noite.

Respirei fundo. Eu sentia o meu coração disparado dentro do peito. E por mais que eu soubesse que aquele sorriso safado que só o Luan sabia dar me deixava completamente sem ar, eu não estava disposta a confessar aquilo para ele. Porém, acho que a minha expressão acabou falando por mim, porque o Luan me encarava com um sorriso enorme no rosto, como se já soubesse a minha resposta antes mesmo de eu falar qualquer coisa.

Ainda sorrindo ele veio até mim e me deu um beijo na boca. Foi um beijo suave, devagar, sem pressa, completamente diferente daquele que tinha rolado no camarim antes do show. Eu não resisti, apenas o beijei de volta acompanhando o seu ritmo. E por alguns instantes tudo foi tão perfeito que quase me esqueci o quê já havia acontecido até aquele momento.

Ele encerrou o beijo depositando alguns selinhos na minha boca e depois voltou para o seu lugar, ainda com uma expressão travessa no rosto. Porém, quando ele voltou a falar, o seu tom era sério. - E esse tal de Léo? Você ainda gosta dele?

Novamente fiquei sem saber o que falar. Eu estava muito chateada com o Léo. Afinal, ele havia me esquecido completamente desde que eu pedi demissão do estaleiro. Mas eu também não podia negar que eu sempre me pegava pensando como ele estava, se estava se virando bem na empresa, se continuava escrevendo o romance que ele havia começado... Entre eu e o Léo existia um "e se" que ainda não havia ficado completamente resolvido.

Um silêncio constrangedor tomou conta da sala. Mais uma vez a minha expressão deve ter falado por mim, porque o Luan fez uma cara não muito boa depois que leu as emoções no meu rosto.

O seu celular tocou quebrando o silêncio. Pela primeira vez eu agradeci mais uma interrupção do Welligton.

– Oi? Já chegou, Testa? Beleza, tô descendo... Me espera aí – O Luan falou no telefone.

– Já vai? – De repente eu queria muito que ele ficasse para que eu pudesse explicar melhor aquela história do Léo. Mas, ao mesmo tempo, eu não tinha o que dizer. O Léo foi o meu primeiro grande amor. Era natural que ele ainda tomasse conta do meu coração.

– O Welligton já chegou – O Luan respondeu se levantando do sofá.

– Hããã... Luan, eu só queria te avisar de uma coisa. Na segunda-feira eu vou até o escritório e vou pedir a minha demissão. Acho que eu não posso mais levar essa situação adiante. Não posso mentir para o Anderson e para a Dag e quebrar a promessa que fiz para o seu empresário – Falei meio sem jeito enquanto me levantava também.

– E se você se demitir você vai fazer o quê? Vai voltar trabalhar com a família do Diogo? – O Luan quis saber.

– Não sei ainda... A Laura me disse que eu poderia trabalhar com ela se eu quisesse. Mas de uma forma ou de outra eu estaria bem perto do Diogo e do Léo – Respondi sem coragem de encarar o Luan nos olhos. De repente uma mancha na cortina me pareceu muito interessante.

– Não Cristal, você não vai fazer isso! – Ele falou em um tom tão decidido que até me assustou – Você vai continuar trabalhando com a gente, entendeu? E tem mais, você não vai mais ficar aqui sozinha. Vou falar com o Anderson amanhã. Você vai voltar a viajar comigo. E isso é uma ordem, entendeu? – Ele tentou brincar, mas sua expressão era muito séria e o seu olhar entregava a tristeza que ele estava sentindo.

– Mas... E o acordo? – Eu precisava lembrá-lo daquele detalhe.

– Tudo bem Cristal. Se para você ficar bem a gente vai ter que cumprir esse tal de acordo, estamos combinados então. Eu não me apaixono por você e você não se apaixona por mim, certo nega? - Ele mantinha o mesmo tom de voz sério e a mesma expressão triste no rosto.

– Certo – Consegui dar um meio sorriso que não convencia niguém.

– Então acho melhor eu ir andando agora – Ele falou mexendo nos 
cabelos.

Seguimos até a saída e eu abri a porta para ele.

*** Link para música: https://www.youtube.com/watch?v=-BWit9kFJUQ

– Tchau Cristal – Ele me falou passando pela porta e me olhando pela última vez antes de começar a descer as escadas.

Eu fiquei parada apenas assistindo ele descer o primeiro lance de degraus ainda com o coração apertado dentro do peito. Eu não poderia simplesmente deixá-lo ir embora daquele jeito sem nem ao mesmo agradecê-lo por ter me escutado.

– Luan... – Gritei da porta do meu apartamento antes de sair correndo para encontrá-lo no meio da escada – Obrigada por tudo! – Eu disse praticamente me atirando em cima dele e o abraçando com força – Desculpa te envolver em toda essa confusão.

Ele retribuiu o meu abraço me apertando bem forte entre os seus braços. Não sei quanto ficamos daquele jeito, mas eu precisei me controlar para não chorar.

– Vai ficar tudo bem, nega. Pode confiar em mim – Ele disse antes de me dar um beijo na testa e terminar de descer as escadas com pressa, me deixando ali sozinha com os meus fantasmas.
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Notas finais do capítulo:

Ai, ai... Tô nervosa aqui! Será que ficou bom a revelação do segredo da Cristal?
É o seguinte meus amores:
Sei que o assunto é meio tenso, mas tentei tratá-lo de uma maneira bem sutil para não chocar muito niguém.
Mas eu escolhi abordar esse assunto por já ter vivido uma história como essa bem de perto. Conheci uma pessoa que passou por isso e sei o quanto essa é uma situação delicada.
Por isso, cuidado com bebedeiras e nunca se esqueçam que o príncipe encantado também pode virar sapo! (Me sinto uma titia falando isso!).
Mas, deixando o baixo-astral de lado, o que acharam da música? E do acordo que o nosso quase-casal fez? O que será da Cristal e do Luan daqui em diante?
Façam as suas apostas.
P.S: Depois de todas essas emoções mereço comentários caprichados, não mereço?

 

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