terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Capítulo 26 - Amores Incondicionais

Notas iniciais do capítulo:

Hey girls!
Tudo certo?
Mew, eu pirei escrevendo esse cap. Diogo me assusta...
Certo, aqui vão alguns avisos:
1 - Capítulo está tenso. É praticamente uma D.R. entre a Cristal e o Diogo. Aqui eu começo a explicar as razões, causas e motivos de cada um para agir como eles agiram. Tudo isso para encerrar a história sem nenhum ponto solto.
2 - Lembram do prólogo da nossa história? O primeiro capítulo onde a Cristal parece ter sofrido um acidente ou coisa do tipo? Então, ele se encaixa no final desse cap! Emoções fortes vem por aí...
3 -  Eu chorei com a Cristal. E tudo isso me fez pensar que o amor pode ser o melhor e o pior sentimento do mundo. Tudo depende de como você lida com ele.
Espero que vocês gostem...

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PONTO DE VISTA DA CRISTAL – ALGUMAS HORAS ANTES

Eu olhava as ruas passarem pela janela do carro sem realmente prestar atenção em nada. Eu estava no banco do passageiro sentada ao lado do Diogo enquanto ele dirigia para a minha casa. Pelo menos era o que o caminho que ele estava fazendo me indicava.

O silêncio entre nós era incômodo. Desde que eu tinha aceitado o seu pedido para conversarmos, feito lá na porta do escritório, nenhum dos dois tinha falado mais nada. A Martha tentou me impedir de entrar em um carro sozinha com o Diogo, mas eu acabei indo mesmo assim. Primeiro porque eu não queria causar nenhuma confusão na porta do meu local de trabalho. Não agora que o Anderson estava disposto a pensar melhor sobre o meu relacionamento com o Luan. E segundo, porque algo dentro de mim pedia por esse encontro. Para exorcizar de vez o fantasma do Diogo da minha vida eu precisaria encará-lo de frente. Mais do que isso, eu precisaria entender as razões que lhe fizeram agir daquela maneira comigo. O único jeito de ser feliz ao lado do Luan era deixar o meu passado completamente para trás e passar a viver essa oportunidade que ele estava me oferecendo: uma vida com amor de verdade. E se esse era o preço para ficar com o Lú, então eu estava disposta a pagá-lo.

Era estranho, mas eu não sentia medo do Diogo. Ali, sem o álcool para me deixar zonza, ele não poderia tentar nada contra mim. Era mais a raiva que me consumia. A vontade de fazê-lo pagar na mesma moeda tudo o que ele me fez passar. Só de lembrar daquela noite eu já sentia o meu corpo tremer de nervoso. Precisei respirar fundo várias vezes para voltar ao normal. Perder o controle ou demonstrar fraqueza não me ajudaria em nada naquele momento.

Senti o carro parando silenciosamente em frente ao meu prédio. Desci e não esperei que o Diogo viesse atrás de mim. Porém, eu sabia que ele viria. Ele não desperdiçaria a única oportunidade que eu lhe dei de conversamos a sós. Segundo a Laura e o Léo, ele estava mudado e estava realmente arrependido. O olhar dele me dizia outra coisa. Será que era só perto de mim que ele assumia aquela postura tão arrogante?

Passei rapidamente pelo saguão do prédio onde pude ver pelo canto do olho que o porteiro me encarava assustado. Com certeza ele não esperava que eu fosse receber uma visita daquelas na minha casa. Bom, as coisas mudam, não é mesmo? Há alguns meses atrás eu não estaria disposta a apostar tudo para ficar com o Luan.

Peguei a chave de casa, abri a porta e esperei até que o Diogo entrasse. Só naquele momento percebi que ele estava trazendo a mala que trouxe de Sorocaba. Bom, pelo menos para alguma coisa ele servia. Eu já estava cansada e não estava afim de carregar peso.

Apontei o sofá para ele depois que fechei a porta atrás de mim e ambos nos sentamos, um de frente para outro. Enfim, éramos só nós dois novamente. Mas dessa vez eu já conhecia os seus truques. Ele não conseguiria me enganar novamente.

– E então, o que você quer falar comigo? - Fui direto ao assunto, curta e grossa – Aliás, como foi que você me encontrou? – Aquela pergunta estava martelando na minha cabeça há algum tempo.

– Eu vi que você postou no Facebook que estava vindo para São Paulo. Algo relacionado com romper tratos e acordos... Por isso concluí que você seguiria direto para o escritório – Ele me respondeu. Amaldiçoei o meu vício em redes sociais em silêncio enquanto ele continuava - Nossa, são tantas coisas que preciso falar para você, Cristal. Eu nem sei por onde começar... É incrível ver como você mudou. Está tão mais segura, tão mais mulher, tão mais bela – Ele emendou desviando os seus olhos que estavam registrando cada detalhe da sala para mim – Sempre a mais bela entre todas as pedras preciosas.

– Cristais são belos como jóias, Diogo, mas também são duros como pedras. Eu aprendi a me virar, mesmo depois de tudo – Falei enquanto sentia a raiva crescer cada vez mais dentro de mim.

– Mesmo depois de tudo... – Ele repetiu com um tom um pouco irônico na voz – Não sou um cristal, mas eu também sobrevivi. Mesmo depois de tudo...

Oi? Ele estava tentando me dizer que ele também sofreu com tudo o que aconteceu? Era difícil de acreditar...

– O que você quer dizer com isso? – Perguntei. Minha vontade de voar no pescoço dele aumentava a cada segundo.

– Cristal, eu sei que o que eu fiz com você é inadmissível. Eu sei que nada que eu diga vai justificar a minha atitude... Você pode achar que foi fácil para mim, mas na verdade não foi.

– Ah não? Não foi fácil para você, Diogo? Por favor, não venha falar de dor comigo – Falei seca. Eu realmente não estava disposta a discutir  para quem aquela situação foi mais difícil.

– Você pode não acreditar, mas é verdade Cristal! Eu te amo, e te perder foi a coisa mais difícil pela qual já passei na minha vida.

– Me ama? Você? – Eu não conseguia entender a lógica daquele amor que era capaz de chegar às consequências mais extremas para conseguir o que queria.

– Que foi? Eu não sou como o Léo que precisou te perder e descobrir tudo o que tinha rolado entre a gente para se dar conta que gostava de você – Ele riu irônico botando para fora o verdadeiro Diogo. Até aquele momento ele estava indo bem com o seu truque de “garoto arrependido”, mas falar no Léo fez a sua máscara cair.

– Quando eu voltei da Itália passei a te ver com outros olhos. Você estava ainda mais bonita, mais mulher, muito longe daquela “garotinha” que eu sempre conheci. Mas você estava completamente apaixonada pelo Léo. E aí Cristal, junto com o fato de eu te achar linda e superinteressante ainda tinha o agravante de você me ignorar completamente. Isso foi o que fez o meu interesse por você crescer cada vez mais – Ele ia dizendo aquelas palavras com um tom de voz tranquilo, como se a pessoa a quem ele se referisse não fosse eu. Era quase como se ele estivesse descrevendo uma situação de negócios. Quanto foi investido, qual foi o retorno da negociação e coisas do tipo.

Permaneci sentada no meu lugar, me encolhendo cada vez mais no meu canto do sofá e sofrendo com um sentimento de repulsa, ou pior, de nojo da pessoa que estava na minha frente.

– Foi aí que tentei chamar a sua atenção. Você, claro, só me ignorava. Para piorar, a Laura começou com as “piadinhas” dizendo que o Léo era melhor para você do que eu. Cara, eu fiquei louco com isso, Cristal! Pela primeira vez eu queria algo que eu não poderia ter – Não sei o que se passava pela cabeça do Diogo, mas repentinamente ele aumentou o seu tom de voz. Imaginei que lembrar que eu não estava nem aí para ele o deixava muito irritado. Certamente ele não estava acostumado a ser ignorado – Nenhum dinheiro no mundo te compraria. Nada do que eu fazia chamava a sua atenção. A única maneira de ficar com você era ser o Léo. E foi o que eu fiz... – Na última frase ele interrompeu o seu jeito ansioso de falar e a pronunciou quase como se estivesse relutante em dizer. Bom, eu sabia que tudo o que o Diogo queria na vida era ser diferente do Léo. Por um momento eu consegui compreender o tom de tristeza na sua voz ao assumir que teve que ser como o irmão para conseguir ficar comigo.

Tentei me manter firme na minha posição e parecer indiferente à declaração de amor do Diogo e todas suas explicações até aquele momento. Mas, quanto mais o assunto se aproximava da noite no barco mais tensa eu ficava. Nem todo o tempo do mundo seria capaz de me preparar para relembrar aquela noite com o Diogo.

– Você estava tão linda naquela noite do coquetel – Ele continuou a narrativa mantendo o tom de relutância e amargura na voz – E eu estava completamente apaixonado por você. Nunca quis tanto uma mulher como eu te quero, Cristal. E aquele idiota do meu irmão tinha você nas mãos e não soube aproveitar! Aliás, ele nunca soube aproveitar nada! Meu pai estava colocando nas mãos dele uma oportunidade de ouro entregando a loja e a marina de Ilhabela para ele administrar e tudo o que ele fez foi fingir que estava aturando os nossos clientes durante o coquetel e ainda te dar o fora... Onde já se viu, brindar com você e depois fugir como um moleque? – Mais uma vez ele voltou a falar de maneira alta e ansiosa, como lembrar daquilo fosse extramente irritante e desconfortável para ele. Não pude deixar de reparar que ele mexia as mãos nervosamente. Comecei a temer que ele estivesse perdendo o controle.

– Você ali, pronta para cair nos braços dele, e ele fugindo de você... Aquilo me irritou, Cristal. E me fez querer muito te mostrar o quanto eu era melhor que ele – Aquele foi o primeiro momento que eu vi o Diogo ser completamente honesto. Dezenas de sentimentos diferentes passaram pelo seu rosto enquanto ele me explicava quais foram as razões que o levaram a abusar de mim no barco. Inveja do irmão, ressentimento causado pela confiança que o pai depositava no Léo para tocar os negócios que a família mantinha no litoral, rejeição por eu não me interessar por ele, orgulho e, finalmente, a covardia. Conhecer as suas razões não me ajudava a compreendê-lo. Pelo contrário, só me fazia julgá-lo de forma ainda pior do que eu fazia antes.

– Claro, beber me ajudou a ficar mais confiante – Ele completou tentando julgar a culpa de tudo no champagne. Eu, claro, não engoli essa – E aí Cristal, quando eu dei por mim, eu não conseguia parar. Eu queria você, e você me queria porque pensava que eu era o Léo. Até hoje eu não sei como você me reconheceu... Só me lembro de você me pedindo para parar e eu não te soltando... Tudo o que eu queria era te mostrar que eu poderia ser tão bom quanto o Léo...

Senti um enjoo, uma sensação de nojo e uma vontade enorme de sair correndo daquela sala sem nem olhar para trás. Já era difícil lidar com o meu passado, mas as revelações do Diogo tornavam tudo insuportável. Saber que ele praticamente acabou com a minha vida porque queria se mostrar superior ao irmão me fez eu me sentir com um objeto, uma simples peça no seu jogo que ele mexia como bem entendesse.

– Bom, depois você sabe o que aconteceu... A Laura percebeu que eu não estava bem e acabou arrancando de mim toda a verdade. Foi aí que ela passou a me ajudar, a me ouvir... Foi estranho ela não ter me julgado. Na verdade, ela me protegeu. Arrumou um psicólogo para tomar conta de mim, cuidou para que o meu pai não soubesse de nada, e quando o Léo descobriu toda a verdade ela o convenceu a me dar mais uma chance – O Diogo usava um tom de voz cansado, como se toda aquela situação fosse demais para ele suportar. Foi a primeira vez que o vi tão pequeno, com o seu charme e carisma tão apagados. - O objetivo da Laura agora é reconstruir a nossa família, nos unir novamente – Ele completou fingindo animação.

– Eu sei disso. Ela me procurou há um tempo atrás – Agora eu conseguia entender as palavras que a Laura me disse quando nos encontramos no Guarujá. Na época eu tinha ficado brava com ela, mas agora eu compreendia que aquela era uma tentativa desesperada de unir uma família tão abalada pela morte da esposa do “seu” Francesco e tão envolvida com as disputas por poder que o dinheiro traz.

– Muita coisa mudou desde então, Cristal. Até o paspalho do meu irmão anda colaborando mais na empresa. A Laura tem se dedicado à novas coleções, meu pai anda projetando iates ainda mais modernos e eu... Bom, eu estou tocando toda a parte de marketing e comunicação do estaleiro, mas é difícil planejar estratégias de ação para uma empresa quando você não consegue colocar em ordem a sua própria vida. E é por isso que eu estou aqui hoje.

Respirei fundo. Eu sentia cada parte do meu corpo tensa, encolhida como uma presa fácil ali, sentada do outro lado do sofá. Eu sabia que havia chegado a hora. O momento que ele iria me pedir perdão. Com certeza ele esperava que eu dissesse que o que ele fez não interferiu em nada na minha vida, que eu não iria julgá-lo como a Laura fez e que lhe daria uma segunda chance, assim como o seu irmão. Mas será que eu estava pronta para aquilo?

– Cris, eu nem sei como dizer isso, mas eu sinto tanto a sua falta, principalmente lá na empresa. Não só eu, como também toda a minha família. E saber que você não está lá por um erro meu me deixa arrasado. Agora eu entendo que é errando que se aprende. E eu aprendi da forma mais difícil, te perdendo... Cris, por favor, eu preciso que você me perdoe. Vamos começar tudo de novo, a partir do zero. Me dá uma chance de te mostrar esse Diogo que você ainda não conhece – Agora eu via diante de mim um Diogo que eu nunca poderia imaginar que existisse. Ele curvou o seu corpo para mim e me estendeu uma das mãos como se aquele fosse um gesto de paz. A sua voz era fraca, a sua expressão abatida. Aquele era um Diogo arrasado, um perdedor, o oposto do que ele sempre foi.

Senti meu corpo tremer. Se aquela história de ver um filme passar pela sua mente realmente existia, então era isso que estava acontecendo comigo naquele momento. Eu me vi saindo do barco naquela noite completamente arrasada e seguir para a minha casa sem ter coragem de contar nada para a minha família. Me vi voltando para São Paulo, indo trabalhar no estaleiro, tentando controlar o estado de caos em que o Diogo havia me deixado.

Lembrei das noites em claro, dos pesadelos, da dor, da sensação de estar suja, de estar manchada pelo resto da vida... Tentei contar quantas lágrimas eu derramei sozinha no meu quarto e de quantas vezes eu precisei encontrar coragem para sair de casa e enfrentar o mundo. Calculei quanta energia eu gastei me vestindo e me penteando para a manter a imagem que estava tudo bem quando na verdade eu estava quebrada por dentro.

Somei a essa lista o fato de eu não o ter denunciado para a polícia e não ter contando para ninguém o que aconteceu comigo. Tudo isso em consideração a sua família e buscando preservar os meus pais e o meu irmão.

Por causa dele eu mudei de casa, de emprego, de vida. Por causa dele eu deixei tudo para trás. Por causa dele eu precisei juntar os meus cacos e a partir disso criei uma nova Cristal. Uma Cristal que tinha desistido do amor.

Eu já havia feito demais pelo Diogo. Perdoá-lo era algo que eu não estava disposta a fazer. Se ele precisava sentir dor para tornar-se uma pessoa melhor, então era melhor que ele continuasse se sentindo culpado. De qualquer maneira, nós estaríamos empatados. Eu jamais esqueceria o que ele fez comigo. Era justo que ele também não esquecesse o que me fez sofrer.

Balancei a cabeça negativamente enquanto buscava forças para pronunciar a minha resposta:

– Não Diogo, eu não posso te perdoar...

Por alguns instantes ele apenas me encarou confuso, como se não acreditasse na minha atitude. Depois, com voz fraca, ele me quis saber:

– O que eu preciso fazer para ter o seu perdão?

Eu já estava pronta para começar a explicar todos os motivos que me impediam de perdoá-lo quando ouvi alguém batendo com força na porta.

– Cristal, nega, abre pra mim, por favor... – Eu reconheceria aquela voz mesmo a quilômetros de distância. Levantei do sofá e fui correndo até a entrada do apartamento.

– Luan? – Falei logo depois que abri.

– Cristal, cê tá bem? Tô tentando te ligar que nem um louco! Por que você não atende o celular? Tá todo mundo doido atrás de você, muié – Ele foi logo me bombardeando de perguntas enquanto ia entrando no apartamento. O Luan mexia as mãos sem parar e a sua respiração ainda estava acelerada, o que indicava que ele tinha subido as escadas correndo. Ele vestia as mesmas roupas que colocou logo pela manhã, jeans e camiseta lisa, e o seu cabelo estava meio bagunçado, provavelmente por causa da corrida. Mesmo assim ele ainda estava lindo.

– Desculpa, acho que esqueci o celular no carro – Falei, tentando prestar atenção na conversa enquanto tateava os meus bolsos em busca do meu aparelho móvel.

– Tá, não tem problema. Agora vem, nega. O Welligton está nos esperando lá embaixo – Ele me chamou com um tom de voz tenso enquanto colocava um de seus braços por sobre o meu ombro e praticamente me puxava em direção a porta ainda aberta.

Eu queria muito ir com ele e simplesmente fugir de todo aquele papo “bravo” do Diogo, mas eu não poderia simplesmente deixá-lo ali, sozinho na minha casa. Por isso forcei o Lú a parar e me voltei em direção ao sofá.

– Diogo... – Comecei a falar, porém ele não me permitiu terminar a frase.

– Então é isso, Cristal? É por causa dele que você não quer me perdoar? Você acha que ele é o príncipe encantado e que sempre vai aparecer para te salvar quando você precisar? Você acha que ele sim, merece todo o seu amor, compreensão e carinho? – O Diogo levantou do sofá e começou a caminhar em nossa direção enquanto praticamente gritava aquelas frases. Estava claro que ele estava com ciúmes do jeito que eu o Luan nos tratamos alguns momentos antes.

– Ei cara, acho melhor você ficar na sua. A Cristal tem todo o direito de fazer o que ela quiser – O Luan não se intimidou e enfrentou a situação colocando-se entre mim e o meu ex-chefe. Certamente os seus novos músculos ajudaram-no a intimidar o Diogo que recuou um pouco.

– Ei, já chega vocês dois. Não admito brigas na minha casa – Achei melhor intervir antes que a coisa ficasse séria – Diogo, por favor, acho que já conversamos tudo o que tínhamos para conversar. Eu tenho um compromisso profissional agora, e não quero me atrasar – Falei. Lá fora a noite já tinha caído. O movimento de carros na rua indicava que era horário de pico. Eu torcia para que os vizinhos ainda não tivessem retornado do trabalho para não escutarem aquela discussão toda.

– Tudo bem, Cristal. Eu vou. Mas antes, eu só quero te lembrar de uma coisa – O Diogo olhou bem no fundo dos meus olhos e apontou o dedo para mim como se aquilo fosse algum tipo de bronca – Esse cara não é o príncipe encantado que você está pensando que é. Porque pensa bem... Será que ele vai poder levar uma vida sossegada com você? Casar, ter filhos? Passar os finais de semana com você, viajar, visitar os amigos? Será que ele vai ter tempo para você entre tantos compromissos e shows? Será que ele vai ser fiel a você enquanto ele estiver em turnê e você em casa? Será que ele estará por perto quando você mais precisar? Pensa Cristal! É claro que não! Porque para ele nada disso importa. Só o que vale é a conquista. Ele não te ama como eu te amo, Cristal. Ele não está disposto a fazer qualquer coisa por você – O Diogo perdeu completamente a razão e começou a gritar comigo enquanto o seu rosto ficava vermelho de raiva. A uma certa altura da conversa ele colocou as mãos em meus ombros e começou a me chacoalhar como se quisesse acordar uma pessoa adormecida. Ele tinha perdido completamente o controle, exatamente como aconteceu naquela noite no barco. Lembrar disso me fez perder os sentidos. Fiquei zonza, sem reação, sentindo o medo me dominar.

– Solta ela – Ouvi o Luan gritar ao meu lado tirando as mãos do Diogo de mim e acertando em cheio um soco no seu rosto. Isso fez com que eu retornasse à realidade. Aquele não era o momento para fraquejar. 

O impacto da pancada fez o Diogo recuar alguns passos perdendo o equilíbrio. Instantaneamente me virei para o Luan para checar como ele estava. Dei de cara com um rosto vermelho de raiva, uma expressão muito brava, e um Luan que eu nunca tinha visto na vida. Certo, eu precisava dar um jeito naquilo. Naquele exato instante.

– Luan... Sai daqui. Vai para o quarto. Eu vou chamar o Testa, o porteiro, sei lá... Por favor, não se mete nessa briga – Quase implorei pedindo para que ele deixasse a sala. Eu não poderia permitir que ele se envolvesse em uma briga. Primeiro porque o Diogo não merecia. E segundo porque se aquilo vazasse para a imprensa seria a manchete do ano.

– Não Cristal, eu não vou te deixar sozinha – Ele rebateu nervoso, agitado com a situação.

Eu não estava disposta a discutir. O Luan iria sair dali, quer ele quisesse ou não. Mas foi aí que eu escutei o barulho. Anos e anos convivendo com aquela família me permitiam conhecer até mesmo os detalhes mais íntimos de cada um. E aquele clique, aquele simples ruído que poderia ser de qualquer coisa, me fez viajar para uma das inúmeras tardes que assisti o “seu” Francesco praticando tiro com os filhos durante as férias na fazenda. Aquela era uma das atividades preferidas deles. Atirar em pequenos alvos espalhados pela propriedade. “Seu” Francesco era um atirador de primeira. O talento passou para os filhos que tinham uma ótima mira. Aquele era o clique que sempre soava quando eles destravavam as armas e as deixavam prontas para o uso. Mas, naquela noite, o alvo não seria um tronco velho ou um galho caído no chão da fazenda.

Eu não tinha tempo para pensar, por isso a decisão foi rápida. Ele não tinha o direito de acabar com a vida do Luan como já tinha feito com a minha. Foi com esse raciocínio que eu me coloquei na frente do Lú no exato momento que o Diogo fazia a mira. Eu estava certa. Tive a certeza quando o vi empunhando uma das armas preferidas do seu pai. Eu não sabia o nome, mas a reconheci pelo porte pequeno e pela cor prateada. Então era aquilo que ele queria dizer quando usou a expressão “ele não está disposto a fazer qualquer coisa por você?”. Eu não teria tempo para tirar aquela história a limpo. As últimas coisas que eu me lembrava era a expressão confusa do Diogo ao perceber a minha reação e o Luan gritando o meu nome antes de eu cair no chão.

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Tudo estava escuro.

Eu não tinha noção de onde eu estava, ou de quem eu era.

Aliás, desde que o conheci eu não já não sabia mais quem eu era. Eu só tinha conhecimento do que eu poderia fazer e de até onde eu poderia chegar ao lado dele. Por ele.

E de repente, alguém veio e tentou levá-lo de mim. Briga, discussão, violência... As lembranças passavam pela minha mente em pequenos flashes sem que eu pudesse realmente me concentrar em nenhuma delas.

Mais lembranças.Mais dor. E então eu me lembrei: Um estouro, a dor, a escuridão... Apesar de tudo o que estava acontecendo comigo, a única coisa que eu pensava era se ele ficaria bem, se ele sairia vivo daquela confusão.

Fui retornando a consciência aos poucos. Eu precisava saber como ele estava e essa necessidade me puxava de volta à superfície, ao mundo real.

Ao longe eu ouvi alguém me chamando: “Cristal? Cristal?”

Era ele? Senti meus músculos enrijecendo-se e cada parte de mim ganhando vida conforme tive a certeza de que ele estava ao meu lado. Era como se algum poder mágico pudesse juntar os meus “pedaços” e consertar tudo que estivesse errado.

“Ohh nega, acorda! Eu preciso de você aqui” Agora eu tinha certeza: Era ele! E pelo tom de sua vez pude perceber que ele estava bem, que ele tinha sobrevivido... E era só isso que importava. Eu não sabia exatamente como eu estava naquele momento, nem mesmo tinha ideia se eu iria sobreviver, mas eu não me preocupava com isso.
Ele estava bem. E com essa certeza eu voltei para a escuridão...
_________________________________________

Notas finais do capítulo:
Só digo uma coisa: PELO AMOR DE DEUS, eu preciso saber o que vocês acharam. Estou com medo de ter ficado muito exagerado e tenso demais... Temo ter colocado os meus dragões onde não devia! (Quem leu o meu último post no Trii vai entender... kkk)
Enfim, uma ótima semana meninas! E as emoções continuam no próximo capítulo, hein? Com um detalhe muito legal: Um cap inteiro narrado do ponto de vista do Luan (Espero não pirar com isso!)
Ah, eu prometi e aqui vai: Cap dedicado especialmente para a @PiradanoLulubs e para todos os leitores novos que estão aparecendo por aqui! Sejam muito bem- vindos.
E mais um recado: Ingrid, a música que você pediu para entrar na história aparecerá no próximo cap, ok?
Ai Deus, eu preciso dormir. Beijo grande meninas!
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Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

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