domingo, 2 de dezembro de 2012

Capítulo 25 - Tratos desfeitos

Notas iniciais do capítulo:
Aproveitem o capítulo 26, que tá TOP! (Pelo menos eu acho...)
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No último capítulo:

– Ah, não desculpo não, Cristal. Sabe o que eu acho? Que você deveria me dar um beijinho para sarar – Ele aproveitou que os seus braços ainda estavam ao meu redor para me puxar novamente para perto dele. Em um instante eu estava parada, o encarando frente a frente, me deliciando com aquele melhor sorriso “safado” que só ele sabia dar. E no instante seguinte, nós estávamos nos beijando, minhas mãos estavam deslizando pelos seus cabelos enquanto ele me virava e me prensava contra parede. O nosso beijo tinha pressa, tinha urgência, tinha muito desejo. E aquilo foi o suficiente para me fazer esquecer completamente todas as minhas lembranças do Diogo. Naquele momento, só o Luan importava.

Eu sentia o toque das suas mãos na minha pele, o calor do seu corpo contra o meu e tudo o que eu conseguia ouvir era o meu coração disparado dentro do peito. Eu não queria interromper o nosso beijo. Talvez porque eu sentisse medo que se parássemos eu seria capaz de estragar tudo de novo voltando a brigar com o Luan e acabar tendo que ficar longe dele novamente, ou simplesmente porque talvez eu estivesse com muitas saudades dos seus beijos, dos seus abraços, de sentir o seu cheiro tão perto de mim... Bom, talvez fossem as duas alternativas, mas naquele momento eu estava ocupada demais para decidir.

Quando finalmente paramos para tomar um fôlego, eu comecei a falar, ainda empolgada por conta dos últimos acontecimentos.

– Luan...

– Ah não, nega. Nem vem com o seu discurso que você não pode ficar comigo, que a gente não deveria ter se beijado, que o Anderson vai te demitir, ou que alguém vai chegar... – Ele disparou a falar ainda sem me soltar dos seus braços.

– Na verdade... – Falei olhando para ele enquanto deslizava uma das minhas mãos até o bolso traseiro da sua calça e pegava a chave do quarto que eu sabia que estaria lá – Eu só queria sugerir que a gente saísse do corredor – Completei a frase balançado a chave na frente do seu rosto.

– Mas “cê” tá ficando espertinha, né Cristal? – Ele falou antes de abrir um daqueles sorrisos que sempre me deixavam sem fôlego. – Essa é uma ótima ideia! Vem cá comigo, vem... – Ele me puxou pelas mãos e praticamente me carregou até a outra ponta do corredor onde ele estava hospedado . Depois ele pegou a chave da minha mão e abriu a porta, tudo isso em uma velocidade impressionante.

– Onde a gente parou mesmo? – Ele me perguntou voltando a se aproximar de mim e beijando os meus lábios suavemente depois que já havíamos entrado no seu quarto.

– Paramos na parte que você ia confessar que não consegue viver sem mim – Falei brincando enquanto ele me dava alguns selinhos.
– Não... sei... viver... sem... você – Ele intercalava as suas palavras com beijos em diferentes partes do meu corpo, como pescoço, orelha, ombros...

– E que eu sou a pessoa mais legal que você conhece, embora você adore me chamar de brava – Resolvi abusar da boa vontade do Luan, já que ele estava tão disposto a me agradar.

– Você é a pessoa mais linda que eu conheço, Cristal – Ele falou sério me encarando nos olhos – Não só linda de beleza, mas como pessoa, como mulher, como a pessoa que eu sempre quis ter ao meu lado...

Por um momento eu não soube o que dizer. Eu não estava preparada para ouvir aquilo. Saber o que o Luan pensava sobre mim serviu para afastar todos os meus medos e as minhas dúvidas. E embora eu soubesse que logo que o dia amanhecesse todos aqueles sentimentos ruins voltariam com força total, naquele momento eu só queria me deixar levar pela emoção que tomava conta de mim. E era uma sensação tão boa! O Luan me passava confiança através do seu olhar e as suas mãos firmes me segurando me faziam sentir segura e protegida. Eu me sentia amada, e queria muito retribuir aquele sentimento para ele.

– Eu nunca sonhei com um príncipe encantado, mas se um dia eu tivesse imaginado algo desse tipo, com certeza ele ainda ficaria devendo para você – Falei acariciando o seu rosto – Eu não sei o que você tem, mas não é a sua beleza e nem todos esses músculos novos que você ganhou que me impressionam. O que me chama mais atenção em você é a forma como você me trata, como você me olha, como você me faz sentir bem... Uma Cristal que não precisa se fechar para se proteger das pancadas da vida... – Comecei a falar sem parar, eu precisava que ele soubesse como eu me sentia quando estava junto dele e o bem que só ele era capaz de me fazer – Só você consegue ver a verdadeira Cristal.

– “Braba” e fujona – Ele brincou enquanto mexia nos meus cabelos.

– Brava, fujona e apaixonada por você – Confessei meio sem jeito e sem coragem de encará-lo nos olhos.



E foi então que ele me puxou para mais perto dele e me beijou. E eu não pensei resistir. Na verdade, eu já estava cansada de fugir, por isso eu apenas deixei que ele me conduzisse, como da primeira vez que ficamos juntos. Como sempre, tudo entre nós foi apenas ação e reação. As suas mãos deslizavam pelo meu corpo tirando a minha blusa e o meu sutiã e eu respondia os seus gestos com beijos, abraços, tirando a sua camisa, falando baixinho no seu ouvido o quanto eu tinha sentido a sua falta.

Tudo dessa vez foi tão simples e ao mesmo tempo tão bom. Nós não precisávamos de palavras para nos entender. Aqui elas funcionavam como meros complementos de uma comunicação muda que nós já havíamos estabelecido há muito tempo através dos nossos olhares e que agora nós complementávamos com os movimentos dos nossos corpos.

Ficar com o Luan era fácil, era simples, e era perfeito. O que era o contraponto exato para a situação que nós vivíamos lá fora, distante daquele quarto de hotel. Diante dos outros, a nossa relação era complicada e praticamente impossível de dar certo. Para nós, o nosso amor já era algo sólido e real. Era um sentimento que nos completava e que nos dava força. Ele conhecia os meus defeitos e todas as minhas paranóias assim como eu também conhecia todos os seus pontos fortes e fracos. Mas nada disso importava quando estávamos juntos.

Naquela noite, deitada ao lado do Luan enquanto eu o via dormir, cheguei a conclusão que eu finalmente tinha descoberto o que era o amor. Aquilo que fazia o nosso coração disparar, as nossas pernas tremerem, aquela sensação de que não saberia viver se a pessoa não estivesse ao seu lado. Aquela vontade de tentar ser alguém melhor, de superar os seus limites, e de ser capaz de encarar qualquer desafio para ficar ao lado de quem se ama. Se aquilo era amor, então eu estava completamente apaixonada pelo Luan. E assumir aquilo me fez criar coragem para encarar de frente uma situação que eu precisaria definir mais cedo ou mais tarde: Eu precisava desfazer o meu acordo com o Anderson.

***

– Não vai dormir não, muié? – Ouvi o Luan perguntar ainda sonolento na cama. Eu estava sentada no chão, próximas as imensas portas de vidro que davam acesso à varanda do quarto. Ainda era cedo, o Sol estava se preparando para nascer. Eu sabia que o Luan costumava ficar acordado até “altas horas” mas naquela noite ele havia dormido como uma pedra. Com certeza por causa de todas as emoções que ocorreram ao longo do dia.

– Tô sem sono – Falei tentando vê-lo entre a claridade fraca que entrava pela janela.

– Teve pesadelo? – Ele perguntou preocupado se sentando com dificuldade na cama.

– Não... Só queria pensar um pouco em tudo o que tem acontecido – Falei, meio distante – Logo depois do que aconteceu com o Diogo, eu não conseguia dormir por causa dos pesadelos. Aí eu sempre me sentava perto da janela e via o sol nascer pensando se um dia eu conseguiria superar tudo aquilo – Falei, ainda encarando o céu lá fora – Mas hoje eu estou aqui pensando no que nós vamos fazer daqui em diante. Do que vai ser de mim e de você...

– E você chegou a alguma conclusão? – O Luan perguntou enquanto saía da cama e vinha até mim carregando um edredon e dois travesseiros.

– Eu ainda não sei... Mas sei que quero ficar ao seu lado – Respondi olhando para ele que agora se sentava ao meu lado.

– “Num” tô falando que você tá ficando uma garota muito esperta? Bom, muito bom, nega! – Ele zombou da minha cara enquanto ajeitava a coberta e os travesseiros para que ficássemos encostados na parede próxima às portas de vidro de uma maneira um pouco mais confortável.

– Cris, “cê” lembra da primeira vez que a gente se encontrou? – Ele me perguntou segurando uma das minhas mãos.

– Lembro. Eu estava dançando em cima da cadeira quando você pareceu praticamente “preto” depois da sua viagem para Cancún – Lembrei, me sorrindo.

– A sua expressão quando me viu foi pior do que a cara de gente que vê assombração – Ele riu.

– Claro, você aparece do nada, sem avisar. Até hoje eu não sei quem abriu a porta para você, já que a Martha estava lá comigo – Falei.

– Foi a Carlinha que abriu a porta para mim. Ela ouviu o interfone e foi abrir – Ele explicou.

– Sempre a Carlinha... – Bufei – Você não sabe, mas foi só por causa dela que nós voltamos juntos daquele jantar de confraternização que você marcou antes do lançamento do seu CD, lembra? Ela queria ficar com o Matheus e me fez bolar um plano mirabolante para os dois saírem juntos e eu ficar para trás – Contei.

– Grande Carlinha! Naquele jantar a Martha teve um trabalho danado pra te convencer a ir. Você sempre querendo ser do contra, né dona Cristal? – O Luan se fingiu de bravo e eu fiquei sem entender nada.

Oi? A Martha teve trabalho? Será que ele sabia da aposta que tinha rolado entre mim e a minha companheira de escritório?

– Como assim ela teve trabalho? – Perguntei tentando esclarecer a situação.

– Porque fui que pedi para ela te convencer a aparecer no jantar, uai – Ele falou como se aquela resposta fosse a mais óbvia do mundo.

– É sério isso? - Eu quase não conseguia acreditar no que tinha acabado de escutar – E porque você fez isso?

– Porque eu queria te ver uma última vez. Eu não sabia se ia voltar para São Paulo depois daquela sessão de fotos em Atibaia que você me acompanhou... – Ele confessou meio sem jeito.

– É estranho, né? Porque naquele jantar eu também senti a mesma coisa. Uma espécie de medo de nunca mais te ver, sabe?

– Ah nega, confessa que foi amor à primeira vista. Você não resistiu quando me viu todo bronzeado naquele dia que eu te peguei dançando em cima da cadeira – O Luan disse todo se achando relembrando o nosso primeiro encontro.

– Ahh, fala sério, né? Foi você que veio de “papinho” pra cima de mim me chamando de linda e tudo mais – Acabei me lembrando do “passa fora” que dei no Luan achando que ele estava dando em cima de mim quando na verdade ele chamava todo mundo de linda.

Os dois caíram na risada divertindo-se do nosso primeiro encontro. Com certeza, alguém que tivesse assistido a essas cenas jamais teria apostado que eu e o Luan poderíamos ficar juntos um dia. Ficamos em silêncio por um instante depois de lembrar de mais alguns momentos que passamos juntos, como a vez que o Diogo apareceu do nada na minha casa, ou a nossa viagem para Londrina quando assistimos Crepúsculo juntos. O sol nascia lá fora e iluminava aos poucos o interior do quarto. Nós nos aproximamos ainda mais um do outro, e quando dei por mim, eu já estava deitada no chão, com a cabeça no colo do Luan enquanto ele acariciava os meus cabelos sentado encostado na parede.

– A verdade é que sempre rolou uma coisa meio diferente entre a gente, não é amor? Eu não sei explicar, mas todo aquele seu jeito de durona nunca me convenceu. Eu via no seu olhar que tinha alguma coisa errada com você – O Luan me falava enquanto mexia despreocupadamente nos meus cabelos e me encarava com uma expressão carinhosa no rosto – Acho que eu me apaixonei por essa Cristal, por essa menininha frágil e que gosta de colo. Essa Cristal que você sempre esconde por trás de tanta brabeza – Ele brincou apertando a minha bochecha.

– Tá, eu assumo que eu sou brava mesmo. Aliás, eu vou ter que te dar esse crédito. Você fez que fez que conseguiu me conquistar, não é senhor Luan Santana? – Sorri vendo ele se encher todo por causa da minha confissão – Mas essa coisa do olhar que você disse... Isso você tem razão. Eu também sempre vi no seu olhar mais do que aquilo que você me dizia.

– E ainda bem que a gente conseguia se entender sem falar muita coisa, né nega? Porque todas as vezes que a gente tentou se acertar foi um “arranca” rabo danado – Ele riu ao se referir as nossas brigas.

– Lú – Chamei tentando tomar coragem para o que eu iria dizer a seguir. Eu sabia que a frase poderia parecer fora de contexto, mas eu precisava expressar o que se passava pela minha cabeça naquele momento – Obrigada por ficar comigo. Obrigada por me entender e por não desistir de nós dois até mesmo quando eu não apostava na gente - Esse período que ficamos separados foi o suficiente para me fazer entender que o meu lugar era ao lado dele. Desde que eu tinha me apaixonado pelo Luan, pouco a pouco, eu fui deixando os meus medos e traumas para trás para me tornar uma pessoa capaz de amar novamente. E não era fácil passar por aquela transformação, tampouco era fácil ficar ao lado de uma pessoa com um passado como o meu. Somente naquele período que fiquei sem o Luan eu percebi o quanto ele me fez crescer e o quanto ele tinha se tornado importante na minha vida.

– Ô meu amor, mas você não precisa me agradecer. Eu sou muito feliz por ter você ao meu lado desse jeitinho mesmo que você é, toda complicada e perfeitinha para mim – Ele disse antes de se curvar e me beijar suavemente nos lábios.

– Estamos juntos nessa? Até o fim? Venha o que vier? – Perguntei o encarando nos olhos.

– Estamos juntos nessa, amor. Até o fim, venha o que vier – Ele me respondeu com os olhos brilhando.

– Eu te amo, Luan Rafael – Aquela era a primeira vez que eu dizia aquelas palavras para ele. E eu nunca pensei que pudesse ser tão fácil, tão simples me declarar desse jeito para alguém. Mas ali, deitada no colo do Luan, sentindo a sua mão me tocar suavemente e os seus braços me envolver eu sabia que aquela era a hora e o momento exato de para dizer aquela frase.

– Eu te vivo minha Cristal – Ele me respondeu com a voz baixa e por um tempo nós ficamos apenas nos olhando, aproveitando aquele momento coroado pelos primeiros raios de sol. E então o Luan me segurou pelo tronco e me levantou para que eu ficasse da mesma altura que ele. Em seguida ele me beijou e tudo o que consigo me lembrar depois disso foi que voltamos para a cama juntos dispostos a aproveitar as nossas horas de insônia juntos.

***

O Luan seguiu para o segundo dia de gravação do clipe e eu voltei para o meu quarto para me arrumar. O Welligton o acompanharia até o estúdio enquanto eu enviava alguns e-mails e resolvia alguns problemas que estavam pendentes.

Acabei fazendo tudo o que precisava sem um pingo de concentração. Desde a noite passada eu estava decidida que eu precisava conversar com o Anderson sobre o nosso acordo. Eu estava pronta para romper aquele trato e aceitar a minha demissão se assim fosse preciso. Eu e o Luan estávamos bem de novo e eu planejava aproveitar aquele momento de paz para ficarmos juntos de vez. Eu não tinha conversado com ele sobre isso, mas algo me dizia que ele não iria ser contra o meu plano. Para falar bem a verdade, eu tinha uma grande desconfiança que ele iria adorar a ideia.

Ainda pensando nisso peguei o celular e liguei para a Dagmar. Depois de três toques ela atendeu, prestativa.

– Bom dia Cristalzete. Como estão as coisas em Sorocaba? – Dag e seu eterno bom humor.

– Bom dia, Dagmar. Tudo está indo muito bem. Tão bem que eu queria aproveitar que estou perto de São Paulo e dar um pulo aí para falar com o Anderson. Será que eu posso? Você se importaria em vir para cá acompanhar o resto das gravações?

– Claro que não, Cris. Na verdade você deu uma tremenda sorte porque minha agenda está tranquila hoje. Mas aconteceu alguma coisa? – Ela quis saber com um tom de voz preocupado.

– Bom... Não aconteceu, mas acho que vai acontecer – Comecei a falar tomando coragem para dar notícia. Não tinha sentido eu esconder a verdade da Dag depois que o Anderson tinha me contado que ela torcia para que eu o Luan ficássemos juntos – Acho que de certa maneira vou pedir minha demissão hoje. Eu quebrei o trato que fiz com o Anderson...

– Você e o Luan ficaram de novo? – Ela perguntou empolgada do outro lado da linha.

– Ahã – Murmurei meio sem jeito.

– Eu falei para o Anderson que isso não ia dar certo! Ai menina, estou feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por vocês dois e triste porque vou perder a melhor assistente que já tive na minha vida. Ma vem pra cá, então! Fala com ele, quem sabe a gente não consegue acertar as coisas e você nem precisa ser demitida? – Ela sugeriu.

– Bom, tomara que você esteja certa!

– Vai dar tudo certo, Cristal. Tenho certeza! Fica com Deus menina. E depois me conta o que deu essa conversa, hein?

Falei mais algumas palavras de despedida com a minha chefe e depois desliguei. Aproveitei que estava cheia de coragem e resolvi não adiar a minha conversa com o empresário do Luan. Peguei o telefone, combinei todos os detalhes com o Welligton, avisei que a Dagmar estava a caminho, peguei as minhas coisas e segui para a rodoviária de Sorocaba de táxi. Por sorte, um ônibus com destino à capital sairia dali a menos de 30 minutos. Se a sorte continuasse ao meu lado, até o fim do dia eu estaria completamente livre para ficar com o Luan.

***

– Cristal? Mas eu nem vi você entrar. O que aconteceu? Por que você não está em Sorocaba com o Luan? Tá tudo bem com você? – Ouvi uma assustada Martha me encher de perguntas enquanto me via sair da sala do Anderson após uma longa conversa sobre a minha situação.

– Certo, vamos por partes. Sim, sou eu, Cristal. Você não me viu entrar porque o Matheus abriu a porta para mim enquanto você levava uns relatórios para o pessoal do marketing. Eu estava em Sorocaba com o Luan, sim. Mas resolvi deixar tudo de lado e vir até aqui resolver o meu problema com o Anderson – Respondi enquanto caminhava pela recepção do escritório e me sentava em uma das confortáveis poltronas que havia ali. Eu adorava aquele escritório. Ele tinha um ar contemporâneo com móveis modernos, cores despojadas nas paredes e iluminação diferenciada que combinavam com o perfil jovem do Luan e de todos que ali trabalhavam.

– Resolver problema com o Anderson? Cristal, você pode ser mais clara? – A Martha me encarava com uma expressão de quem não estava entendendo absolutamente nada.

Então eu expliquei os últimos acontecimentos para ela. Eu já havia contado que eu tinha ficado com o meu “patrãozinho”, que por causa dos vídeos o Luan acabou contando toda a verdade para o seu empresário e que isso nos fez ficar separados. Por isso só precisei atualizá-la sobre a gravação do clipe, sobre os meus deslizes ao responder os SMS’s, da nossa briga no corredor, do beijo, de como ficamos juntos e, enfim, da minha decisão de desistir de levar o trato com o Anderson adiante.

Quando terminei, ela me encarava com uma expressão orgulhosa no rosto, como uma mãe olha para uma filha que tira uma nota 10 na escola.

– E agora? O que o Anderson decidiu? Você foi demitida? – Ela me bombardeou com mais perguntas.

– Ele falou que eu não vou mais viajar com o Luan, mas que posso manter o meu trabalho aqui no escritório, por enquanto. Ele não disse claramente, mas deixou entender que vai esperar para ver se tudo isso não é fogo de palha. Ele até me perguntou se eu e o Luan estávamos namorando oficialmente – Contei.

– E estão? – A Martha quis saber.

– Não... – Eu tentei disfarçar o desapontamento na minha voz, mas infelizmente não tive muito sucesso. Naquele momento a desconfiança do Anderson que o nosso lance não passasse de fogo de palha estava martelando na minha cabeça. Eu não tinha pensado nisso antes, mas agora fazia todo sentido. Como eu poderia me arriscar daquele jeito sem ao menos ter algo concreto em que me basear?

– Cristal, relaxa, menina! Tenho certeza que tudo isso não é uma paixão passageira. Esse menino já fez uma verdadeira transformação em você. Nenhum fogo de palha duraria todo esse tempo e suportaria tanta coisa – A Martha me acalmou. Com certeza ela tinha notado a expressão apreensiva no meu rosto.

– Você tá certa, Marthinha! E quer saber de uma coisa? Isso merece uma comemoração. O que acha de jantarmos fora hoje? – Já era começo da noite e o escritório estava praticamente vazio. Só eu, a Martha e o Anderson permanecíamos lá. Fazia muito tempo que eu não me sentia empolgada daquele jeito e queria prolongar aquela sensação antes de chegar em casa e telefonar para o Luan para atualizá-lo sobre os últimos acontecimentos.

– Uma ótima ideia! O que acha de comida italiana? – Ela sugeriu já desligando o seu computador e pegando os seus pertences.

– Não, italiana, não! – Brinquei ao me lembrar do convite do Léo para jantar da última vez que nos encontramos – Acho que vou ficar na comida japonesa mesmo.

– Ok, nada italiano hoje. Não queremos estragar o momento! – A Martha disse pegando a sua bolsa e se certificando que tudo estava desligado antes de sair em direção a porta. - Falando em italianos, alguma notícia do Diogo? – Ela emendou enquanto procurava as suas chaves.

– Eu recebo algumas ligações de números restritos no meu celular, mas eu nunca atendo. Imagino que seja ele ou o Léo tentando falar comigo – Parei ao seu lado perto da saída enquanto eu a via colocando a chave na maçaneta para destrancar a porta.

– Que esse pesadelo tenha terminado, Cristal. Você merece ser feliz longe dessa família de malucos – Ela terminou de falar a frase e abriu a porta. Parado, do outro lado da saída estava justamente uma das pessoas de quem eu tinha acabado de falar.

A Martha ficou sem reação, ainda com a mão na maçaneta, pensando no que fazer enquanto virava a cabeça de mim para ele e dele de novo para mim. A expressão dela era de confusão. A dele era séria, centrada, como se esperasse por aquele momento há muito tempo. Já eu não tive reação. Apenas permaneci parada, o coração acelerado, o medo ameaçando tomar conta de mim. Precisei reunir todas as minhas forças para perguntar.

– Diogo? O que você está fazendo aqui?

– Eu precisava falar com você, Cristal. Será que nós podemos conversar por um segundo?

***

PONTO DE VISTA DO LUAN

Definitivamente aquele “trem” de atuar não era pra mim. Eu ia era continuar só cantando mesmo que já estava “bão” demais. Mas pelo menos o clipe tinha ficado “top” demais e eu tinha certeza que as minhas fãs iriam adorar a surpresa.

Passei o dia inteiro sem ver a Cristal, mas foi tudo tão corrido por causa daquele monte de maquiagem que eles tinham que passar em mim que eu mal tive tempo de perguntar por ela para o Testa.

Foi só no final do dia, quando eu finalmente tive tempo de conversar com o Testa, que ele me contou que a Cristal tinha viajado para São Paulo e me deixado um bilhete escrito às pressas antes dela deixar a cidade. Nós já estávamos na van, a caminho do hotel, quando eu consegui parar para ler o recado.

“Oi Lú,
Sei que pode parecer meio estranho, mas eu tomei essa decisão agora e preciso aproveitar esse momento, que estou com coragem, para levar essa ideia adiante.
Estou viajando para São Paulo para conversar com o Anderson e desfazer o trato que fiz com ele. Acho que não tenho mais porque me prender a esse acordo. Isso já não faz mais sentido. Eu já não consigo mais esconder o quanto eu te amo e o quanto eu quero ficar ao seu lado e você me dá todas as razões do mundo para eu acreditar nesse amor.
Por isso vou colocar fim nesse trato e deixar o caminho livre para a gente. Se tudo der certo, até o final do dia nós não teremos mais nada que nos impeça de ficar juntos.
Já com saudades,
(A sua) Cristal”.

Precisei ler o recado duas vezes para ter certeza que tinha entendido certo. Aquela nega estava sempre me surpreendendo mesmo! Eu não conseguia acreditar que ela tinha decidido por fim naquele trato sem sentido que ela fez com o Anderson. Eu me sentia a pessoa mais feliz do mundo, mesmo depois de ter trabalhado o dia inteiro, só de pensar que a Cristal agora poderia ser só minha sem nada para nos atrapalhar.

– Faz muito tempo que a Cristal foi embora? – Perguntei para o Welligton. Eu mal conseguia esconder a minha alegria.

– Faz. Ela foi logo pela manhã. A Dag veio ficar no lugar dela, mas ela já voltou para São Paulo também. E agora só restou a gente! Mas já está tudo pronto para embarcarmos para Londrina. Só falta você tomar banho e se trocar - O “Testa” me avisou.

– Vou correr lá pro meu quarto, então. Quando estiver pronto eu te chamo – Deixei a van com alguns seguranças no meu encalço em direção ao interior do hotel. Peguei o elevador, me livrando deles pelo caminho e, assim que cheguei no corredor do meu quarto, tirei o celular do bolso para ligar para a Cristal. Eu tava “doido” para falar com ela e saber o que tinha acontecido durante a reunião com o Anderson e o que ela estava pensando em fazer de agora em diante. Porque com a Cristal as coisas tinham que ser assim. Era ela quem definia a hora certa de dar o próximo passo. Eu não poderia tentar apressá-la como da última vez.

– Caixa postal. Eita “trem” – Falei finalizando a chamada. Achei melhor tomar um banho, trocar de roupa e tentar novamente mais tarde. Com a saudade que eu já estava sentindo da minha Cristal, eu ia dar um jeito de falar com ela nem que precisasse ligar para o telefone do seu vizinho.

Sai da ducha e tentei ligar para ela de novo. Caixa postal. Coloquei a roupa, escovei os dentes, sempre com o telefone na mão. Nada. A Cristal não me atendia.

Comecei a ficar preocupado. Pelo telefone do quarto o Welligton me interfonou para me apressar. Eu já estava saindo quando me lembrei da minha conversa com a Cris naquele dia mais cedo. Do jeito que a Cristal ficou surpresa ao saber que eu tinha pedido para a Martha levá-la a qualquer custo no jantar de confraternização do escritório. Foi aí que eu tive a ideia. Procurei o número na agenda e disquei. Se alguém sabia como a Cristal estava, essa pessoa era a Dona Martha.

– Alô? – Ela me atendeu após alguns toques.

– Martha? Oh Marthinha, é o Luan, tudo bem? To ligando pra perguntar se você sabe da Cristal... – Disparei a falar de tão nervoso que eu estava.

– Ah Luan, ainda bem que você ligou. Estou aqui morrendo de preocupação. Eu e o João não sabemos o que fazer... – Ela me respondeu com uma voz nervosa.

– O que aconteceu? – Falei já mexendo as mãos, nervoso. Eu sabia que alguma coisa estava errada.

– O Diogo... Ele apareceu lá no escritório pedindo para falar com a Cristal. E ela aceitou... Os dois foram para o apartamento dela e agora ela não atende o celular...

Ah, lasquera! Agora foi tudo pro pau de vez... Eu sentia o meu corpo tremendo de nervoso e uma raiva que ameaçava tomar conta de mim só de pensar no Diogo aprontando alguma coisa com a Cristal.

Corri para o quarto do Testa e bati de qualquer jeito na porta. Quando ele abriu, eu fui falando sem parar para pensar.

– A gente precisa ir para São Paulo. Agora! – Expliquei meio de qualquer jeito o que a Martha tinha me contado pelo telefone. Quando terminei de falar, o Welligton me olhou, sério.

– Luan, você não pode simplesmente largar tudo e ir atrás da Cristal – Ele tentou argumentar.

– Eu posso e eu vou. Com ou sem você – Falei me virando e seguindo em direção ao elevador. Eu não poderia deixar o Diogo encostar um dedo que fosse na minha Cristal.
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Notas finais do capítulo:
Palpites sobre esse encontro Cristal, Diogo e Luan?
Reta final da fic tá BOMBANDO! Lembrando meninas, já estamos nas nossas últimas emoções de Incondicional!

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