quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Capítulo 28 - O Tempo

Notas iniciais do capítulo:
Oi pessoal!
Tudo certo?
Todo mundo preparado para ler o penúltimo capítulo da fic?
Aqui já temos um resumo de tudo que aconteceu com quase todas as personagens (menos com o Lú e com a Cris, é claro!).
Então, bora ler?

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Ponto de vista da Cristal – Algum tempo depois

O tempo é o melhor remédio para quase todos os males. Ele cicatriza feridas, cura mágoas, nos empurra em direção ao presente nos obrigando a deixar o passado para trás. Em alguns casos as lembranças são tão fortes que mesmo o tempo não consegue afastá-las definitivamente, mas ele sempre dá um jeito de manter os fantasmas longe, pelo menos por tempo suficiente para que a gente encontre a saída para uma vida nova.

O tempo... É estranho pensar como não temos nenhum domínio sobre ele. Em um instante eu estava no meu apartamento com o Luan e com o Diogo e no seguinte eu já estava na casa dos meus pais. Tudo o que eu me lembrava desse período era de ouvir o Luan gritando o meu nome antes de cair no chão. Eu também me recordava da dor, da escuridão, do medo de perder o Lú...

Depois disso os dias foram uma mistura de pesadelos sem sentido. Às vezes eu tinha alguns momentos de lucidez, como quando eu ouvi o Luan cantando para mim ou quando senti a minha mãe segurando a minha mão me falando que estava ao meu lado.

Eu não tinha muita consciência do que tinha acontecido comigo enquanto fiquei internada no hospital. Eu só sabia que quando o meu ombro apresentou alguma melhora eu recebi alta e fui liberada para ir para a casa dos meus pais em Ilhabela. Segundo o médico, o meu maior problema naquele momento não era físico, e sim psicológico. E, nesse caso, o tempo era o melhor remédio para vencer as crises de pânico que insistiam em me perturbar.

Era o meu irmão e o Léo que me mantinha a par das novidades nos poucos momentos de lucidez que eu tinha. Foram eles que me contaram que o Diogo permanecia preso, acusado de tentativa de homicídio e porte ilegal de arma de fogo. Sobre isso eu me lembrava de ter comparecido uma porção de vezes à delegacia para contar a minha versão dos fatos.

O Léo me contou que a estratégia dos advogados do Diogo era alegar que ele estava sofrendo com distúrbios mentais, o que era uma verdade. Por outro lado, os meus advogados, contratados pelo Luan, esforçavam-se para incriminá-lo de todas as formas. Eles tentaram acusá-lo por danos morais e estupro, mas nós não tínhamos provas o suficiente contra ele. Mesmo assim a minha equipe de defesa tentava encaixá-lo em todas as leis de proteção às mulheres para mantê-lo o mais longe possível de mim.

A repercussão da prisão do Diogo foi péssima para os negócios da família. O “seu” Francesco teve que usar toda a sua influência e apelar para os seus longos anos de experiência no mercado para garantir que os barcos não ficassem encalhados no estoque.

Para piorar a crise, o Léo finalmente tinha tomado coragem para pedir demissão da empresa. Ele mudou-se para a praia, abriu um restaurante na marina da sua família e estava trabalhando na construção de um barco a vela para ele em parceria com o meu pai.
Quem assumiu o seu lugar na empresa foi a Laura, que passou a ser o braço direito do pai no estaleiro além de comandar a sua própria empresa de decoração para embarcações. Fora isso, ela parecia ainda estar dedicada ao plano de manter a família unida. Era ela que cuidava da situação do Diogo na prisão. Foi ela também quem cuidou da substituição do Léo na empresa. Agora a Laura comandava a família com “mãos” de ferro para que nada mais saísse do lugar. Eu não poderia culpá-la por tentar, mas aquela já era uma luta perdida. O Léo não conseguiriam superar o que o Diogo irmão fez comigo e o próprio Diogo não voltaria mais a ser o mesmo depois de tudo... Infelizmente a família da Laura já estava condenada a conviver com os seus próprios fantasmas.

Quem se deu bem com toda aquela confusão causada pelo Diogo foi o meu irmão. A Laura o escolheu para ficar no lugar do Léo no comando da marina e da loja do litoral e os dois andavam se dando muito bem. Eu duvidava que alguém conseguisse dar um jeito no gênio difícil da Laura, mas o Tomás gostava de desafios. Talvez ele até conseguisse “domar aquela fera”.

O meu irmão foi um grande companheiro durante o período que sofri com as crises de pânico. Quando não estava trabalhando ele me levava para passear na praia. Ele sabia o quanto era massante para mim ficar em casa sem fazer nada... No início foi realmente muito difícil. Principalmente quando eu precisei contar para os meus pais toda a verdade. Eu havia escondido aquela história deles para poupá-los. Eu sabia que a minha família e a do Diogo eram muito unidas. Eu temia abrir o jogo de vez e acabar prejudicando a relação entre elas e, consequentemente, que isso acabasse refletindo no trabalho do meu pai e do meu irmão, que eram contratados da marina.

Meus pais foram compreensivos comigo e entenderam o porquê eu não me abri com eles antes. Agora eles conseguiam entender o porquê eu larguei o meu trabalho no estaleiro, me mudei para um apartamento e passei a viver sozinha. Eles nunca tinham aceitado muito bem a minha decisão e não me apoiaram na época. Agora eles sabiam que tinham me julgado mal. 

Aquele tempo na casa dos meus pais me fez muito bem. Depois de quase um ano morando sozinha era bom receber um “paparico” de mãe e não precisar se preocupar em manter o apartamento em ordem.

Difícil mesmo era viver longe do Luan. Por causas das minhas crises de pânico o médico me obrigou a ficar em casa me tratando. Ou seja, nada de trabalho, de viagens, de acompanhar o Luan nos shows e qualquer coisa parecida.

Oi? Era sério mesmo que o médico achava que ficar longe dele era o melhor para mim?

A gente se virou como pôde para matar as saudades que sentíamos um do outro. Mas, se o tempo era o melhor remédio para as mágoas, ele era implacável para os corações apaixonados. As horas se arrastavam quando eu não estava perto do Lú.

Com toda aquela bagunça, os compromissos do Luan e as minhas crises ficou impossível de a gente se encontrar e quase não sobrava tempo para a gente se falar.

A imprensa, claro, caiu “matando” em cima do meu caso e aproveitou os “foras” que eu o Luan tínhamos dado para nos apontar como namorados. Eu pensei que as fãs iriam ficar malucas com aquilo, mas foi ao contrário. O Lú declarou na mídia que não mediria esforços para que o Diogo pagasse pelo o que me fez e as “Luanetes” também trataram de fazer a sua parte. Elas criaram nas redes sociais uma campanha chamada “Toda mulher merece um príncipe”, querendo dizer que todas nós merecíamos alguém como o Luan.

Não era a toa que ele tinha as melhores fãs do mundo que sempre o apoiavam em tudo. Uma grande parte delas até passou a simpatizar comigo e aos poucos passaram a apoiar o meu “namoro” com o Lú. Bom, se existia um lado positivo em passar pelo tudo o que passei, com certeza era ser aceita pelas “primeiras esposas” do meu "patrãozinho".

Quando passei a me sentir melhor das crises e fui retomando aos poucos a minha vida, a equipe do Fantástico me telefonou. Eles queriam que eu participasse de uma entrevista para contar a minha versão dos fatos. No início eu não quis aceitar o convite para não expor ainda mais o Luan, mas ele, assim como todo o pessoal do escritório, achou que aquela era uma boa maneira de incentivar as mulheres vítimas de violência a denunciarem os abusos que sofriam. Naquela altura eu já tinha me tornado uma espécie de “exemplo” que demonstrava o quanto os crimes contra as mulheres ainda aconteciam em grande número em todo o Brasil.

Para mim ainda era difícil falar sobre tudo o que eu tinha passado. Era como mostrar para todos uma cicatriz que eu escondi por muito tempo. Mas, por fim, eu me deixei convencer que aquele era um bom momento para abrir o meu coração e botar para fora de uma vez tudo aquilo que me machucava por dentro. Eu já havia sofrido por muito tempo calada. Já fazia um tempo que eu estava determinada a exorcisar todos os meus fantasmas e deixar o meu passado pra trás para sempre. Aquela seria uma ótima maneira de conseguir fazer tudo isso.

A entrevista aconteceria em São Paulo, na minha antiga sala no escritório do Luan. O Léo topou me levar até lá e agora nós estávamos seguindo rumo à capital, subindo a serra, ouvindo música e conversando. Quem olhava de fora com certeza não seria capaz de adivinhar todas as mudanças que tinham acontecido nas nossas vidas nos últimos meses.

– Preparada para a entrevista? – Ele puxou assunto enquanto abria a janela do carro e deixava o vento bagunçar o seu cabelo. O tempo estava bom, mas como era dia da semana e baixa temporada a estrada estava vazia.

– Acho que sim. É difícil prever como vai ser quando ela me fizer aquele monte de perguntas, mas eu me sinto tranquila. Diria até que estou confiante. Sei que essa é a coisa certa a se fazer – Respondi olhando a estrada a nossa frente. Já fazia um tempo que as minhas crises de pânico estavam sobre controle e que o meu ombro e todas as outras escoriações que sofri quando fui baleada tinham sarado. Agora eu me sentia bem, forte, capaz de tocar em frente a minha vida, de reassumir as minhas obrigações, e, principalmente, de voltar a ficar perto do Luan.

– É estranho, mas eu nunca te vi como essa pessoa forte e determinada que você é. Eu sempre te enxergava como a minha irmã, a caçulinha que precisava ser protegida. Isso só mudou quando você foi trabalhar com o Luan – Ele me disse enquanto prestava atenção na estrada – Aquele dia que eu fui atrás de você, lá no sul lembra? Então, eu me surpreendi com você. Eu jamais poderia imaginar que iria te ver tão bem, como se você sempre tivesse pertencido aquele lugar.

– Eu fui muito bem recebida por toda a equipe do Luan. O pessoal é muito gente boa, é como se todo mundo fosse uma família mesmo – Comentei.

– E você sente falta dessa família?

– Muita... – Confessei.

– E do Luan? – Ele emendou logo em seguida.

– Mais ainda... – Eu sentia o meu coração apertado só de lembrar que já fazia muito tempo que eu não o via.

– Naquele dia que ele foi te visitar no hospital eu consegui entender o que você quis dizer com “o meu lugar é ao lado do Luan”. Porque quando você me disse isso na noite em que jantamos eu achei que vocês estavam só ficando, ou sei lá... Mas no dia que ele entrou pela porta daquele quarto e te viu dormindo eu enxerguei no olho dele exatamente a mesma coisa que eu vi no seu olhar naquela noite. É um brilho diferente, algo que não dá pra explicar com palavras... Eu só sei que se ele pudesse dizer algo naquele momento, com certeza ele teria dito “O me lugar é ao lado da Cristal”.

– O Lú é mesmo uma pessoa muito especial – Sorri sozinha ao me lembrar dele – Mas, e você? Como você tem lidado com tudo isso? Sabe, essa coisa do Diogo falar que me amava, de eu me relacionar com o Luan... – Já fazia algum tempo que eu queria perguntar aquilo para o Léo. Ele foi um bom amigo para mim durante o meu período de recuperação na praia, mas eu não sabia se aquilo era porque ele estava com peso na consciência por causa do que o irmão fez, ou se era por causa do sentimento que ele havia confessado sentir por mim da última vez nos encontramos antes de toda aquela confusão.

– Olha Cris, eu vou ser sincero... Eu estava disposto a lutar por você, a te convencer a voltar e tudo mais... Mais depois de tudo o que meu irmão te fez, me parece egoísta demais te pedir para viver com a nossa família e a voltar a trabalhar na nossa empresa. Meu irmão acabou com aquela Cristal que nós conhecíamos... Quer dizer, você é ainda é a mesma Cristal, mas agora você tem uma parede de proteção que você construiu ao seu redor que quase ninguém consegue passar... Só a sua família consegue romper essa barreira. E o Luan... Ele também consegue, e eu não posso competir com isso. O mais certo é eu tocar a minha vida e te deixar seguir a sua – Ele disse com um tom um pouco triste na voz, mas não parecia magoado. Era como se aquela fosse uma decisão que ele já tinha tomado há algum tempo e por isso já estava acostumado com ela.

– Hãã... Falando em Luan, na última vez que nós nos falamos por telefone, ele comentou uma coisa sobre a sua mãe. Parece que ele ouviu o seu pai dizendo que o Diogo fez a sua mãe sofrer. O que aconteceu com a Dona Júlia? – Eu me lembrava da esposa do “seu” Francesco como uma pessoa triste e calada. Eu nunca soube o porquê ela era daquele jeito.

– Essa é uma longa história, Cris. Mas, resumindo, quando nós éramos adolescentes, por volta de uns 12 a 14 anos, o Diogo já dava muito trabalho para os meus pais. O meu pai ficava muito irritado com ele, e minha mãe sempre tentava protegê-lo. Quando o Diogo fez 15 anos, lembra que ele foi fazer intercâmbio no Canadá? – Eu confirmei com a cabeça e ele continuou – Então, meus pais descobriram que na verdade o Diogo cabulou todas as aulas do curso de Inglês que estava matriculado e gastou todo o dinheiro em drogas e em bebidas. Meu pai ficou uma fera com ele e os dois brigaram sério. O Diogo sempre foi daquele jeito arrogante, querendo ser o dono da verdade, e isso fazia a minha mãe se sentir culpada por ter o educado mal. Por causa disso ela entrou em depressão. O meu pai acredita que foi isso que a fez ficar doente e morrer tão nova.

– Nossa, eu não sabia dessa história... – Comentei.

– Porque quando você veio morar com a gente em São Paulo, logo depois que a minha mãe morreu, o Diogo e o meu pai deram uma “trégua” e tentaram se entender... Mas aí você já conhece a história. Eles brigaram, o Diogo foi pra Itália, e quando voltou resolveu te escolher como a próxima vítima dele... – O Léo falava com um pouco de raiva na voz, como se não perdoasse o irmão por tudo o que ele havia feito.

– Por isso você e a Laura nunca se deram bem com o Diogo? – Perguntei.

– É... – Ele confirmou meio sem jeito.

– E como vai ser daqui em diante? Você vai conseguir perdoá-lo por tudo? – Eu quis saber.

– Não sei. Vai ser difícil, mas quando ele sair da prisão eu penso nisso. E você? Vai conseguir perdoá-lo? – Ele me devolveu a pergunta.

– Eu achava que não. Mas o Diogo não entregou para a polícia que o Luan estava no meu apartamento naquela noite. Acho que ele merece alguma consideração por causa disso... Na verdade eu escrevi uma carta para ele dizendo que eu o perdoava por ter poupado o Luan. Da minha parte essa história acabou – Disse.

– Legal da sua parte. E esse também foi um ato bacana do Diogo. É como se concordando com essa versão ele estivesse tentando se redimir de tudo o que fez – O Léo avaliou.

– Para mim foi o suficiente, foi uma prova que ele realmente se arrependeu. Mas é só isso o que devo ao seu irmão. O resto das contas ele vai ter que acertar com a Justiça, porque mesmo arrependido ele tem que pagar pelo o que fez – Falei, decidida.

– Concordo com você. Fique tranquila Cris, tudo vai dar certo e todas as coisas vão voltar para o seu devido lugar, você vai ver só – O Léo disse enquanto dava seta e pegava a saída que seguia para São Paulo.

***

Chegamos no escritório no horário marcado e toda a equipe do Fantástico já estava a postos para começar os trabalhos. A Martha me ajudou a fazer uma maquiagem simples para aparecer na gravação e a Renata Ceribelli conversou comigo sobre as perguntas que ela pretendia me fazer. Todas elas eram de cunho pessoal, mas mesmo assim eu resolvi deixar a minha vergonha de lado, afinal, eu estava ali para contar a minha história.

Voltar ao escritório e rever todo o pessoal que trabalhava comigo antes me deixou muito animada. Todos eles me perguntaram como eu estava e foram muito carinhosos comigo. A Carlinha até me convidou para ser madrinha do casamento dela com Matheus. Pelo jeito a coisa entre eles tinha ficado séria pra valer...

Depois de cumprimentar todos da equipe eu segui até a minha antiga sala onde a entrevista seria gravada. Achei melhor não gravar na minha casa para não expor ainda mais a minha família com aquela bagunça toda.

Sentei de frente para a janela em uma cadeira e a Renata se posicionou ao meu lado . Atrás dela eu conseguia ver a avenida Paulista lá fora. As pessoas corriam pelas calçadas de um lado para o outro e nem imaginavam que ali, no andar onde estava, eu estava prestes a abrir o meu coração e contar para o Brasil a história que eu tive medo de repetir até para mim mesma por tanto tempo.

A produtora deu o sinal e a Renata começou a entrevista. A primeira coisa que ela quis saber foi como eu conheci o Diogo.

Expliquei que nós nos conhecemos ainda crianças porque meu pai trabalhava para o pai dele. A partir daí ela continuou querendo saber sobre como era o nosso relacionamento. Eu contei que eu fui morar na casa deles quando me mudei para São Paulo para cursar a faculdade, que comecei a trabalhar no estaleiro, que era muito amiga da família e que todos me tratavam muito bem, que o Diogo sempre foi muito egoísta e prepotente e que o Léo sempre foi muito mais amoroso e fácil de lidar, que os gêmeos não se davam bem, que eu era completamente apaixonada pelo Léo, que o Diogo brigou com o pai e viajou para a Itália e que quando voltou começou a dar em cima de mim, que ele não admitia me perder para o irmão e por isso se passou pelo Léo para me convencer a embarcar na lancha com ele na noite do coquetel.

Ela não perguntou detalhes sobre o que aconteceu no barco e eu também não quis falar sobre isso. Aquela era a parte da história que eu queria esquecer para sempre. Mas depois eu contei como foi voltar para casa e não contar nada para ninguém, como eu fiz para me virar sozinha e conseguir viver com esse trauma sem pedir ajuda, no que isso afetou na minha vida, como eu lidava com as perseguições do Diogo e, por fim, como foi quase perder a vida por causa de um amor tão doentio como o que ele dizia sentir por mim.

Eu precisei me segurar para não chorar várias vezes durante a entrevista. Principalmente quando eu contei como me sentia suja e vazia depois de tudo pelo que passei. Foi um período muito difícil que só começou a melhorar quando eu me mudei da casa do “seu” Francesco e comecei a trabalhar com o Luan. Antes disso eu chorava todas as noites sozinha no meu quarto.

Depois, quando eu fui lembrando a época que eu conheci o Luan e todo o pessoal da equipe, foi mais fácil de me controlar porque as lembranças felizes superavam os momentos difíceis pelos quais passei. Com certeza tudo o que aconteceu comigo ao longo do último ano foi um presente de Deus para compensar todos os “perrengues” em que eu me meti.

– Cristal, você já me disse que trocar de trabalho e mudar de casa foi algo essencial para que você pudesse tocar a sua vida em frente. Mas, o quê, ou quem, foi o que mais te ajudou a superar tudo isso? – A Renata me perguntou completamente envolvida na minha história.

– Foi um anjo – Respondi rápido – Um anjo de asas coloridas – Sorri, toda boba. Eu esperava que o Luan entendesse aquela minha resposta, porque ele era o único responsável por tudo aquilo. Se não fosse ele, eu ainda seria a Cristal que tinha se fechado para o mundo e prometido que nunca mais voltaria a amar outra pessoa.

– E agora, Cristal? Como vai ser a sua vida? Você acha que dá para voltar a viver de maneira normal depois de tudo isso que aconteceu? – A jornalista me fez outra pergunta.

– Eu espero poder continuar a minha vida de onde ela parou. Claro que isso sempre vai ser algo que eu vou me lembrar, mas eu não vou permitir que o medo, ou o trauma causado por essa situação me impeçam de viver. Uma vez eu ouvi que o que não te mata te torna mais forte. Com certeza hoje eu sou uma pessoa muito mais forte, mais sensata e mais consciente do quanto a vida é frágil para que a gente deixe de vivê-la – Respondi sem encará-la nos olhos. Na verdade eu olhava pela janela a vida passar lá fora e pensava que cada palavra que eu havia acabado de dizer era a mais pura realidade. Há algum tempo atrás eu não seria capaz de dizer tudo aquilo. Era incrível pensar como a vida tinha mudado tanto por causa de decisões erradas tomadas pelo Diogo.

– Para encerrar, gostaria que você comentasse sobre a campanha que as fãs do Luan organizaram na internet e que está ganhando corpo em todo o Brasil, a “Toda Mulher merece um príncipe”. A gente quer saber, você já encontrou o seu? Conta pra gente!

Gelei. O que eu iria responder? Minha situação com o Luan andava mais enrolada do que nunca. Com certeza eu tinha encontrado um príncipe, mas não sabia se poderia chamá-lo de meu.

– Huum... Acho que ainda é pouco cedo para dizer, mas acho que sim, que eu encontrei um príncipe para mim. Basta agora descobrir se ele aceita ficar comigo. Porque de princesa eu não tenho nada, mas acho que até sou uma boa pretendente... – Consegui falar alguma coisa em meio a uma risada sem graça. Por sorte a Renata pareceu ficar satisfeita com aquela resposta meia boca.

A apresentadora encerrou a entrevista e eu tratei de fugir daquela sala o mais rápido possível. Eu precisava de ar, colocar as minhas ideias em ordem e pensar. Me traquei na sala de reuniões e me joguei na primeira cadeira que vi na frente. Imediatamente me lembrei do dia que eu conheci o Luan e de como fiquei irritada com porque ele não parava de se mexer durante a reunião com o pessoal do marketing.

Senti uma dor imensa no meu peito. A saudade que eu sentia dele era quase insuportável. Aquela história de ficar longe não estava funcionando muito bem. Além disso, eu sentia que ele estava preocupado com algo, mas que não queria dividir comigo para não me aborrecer. Mais do que nunca eu queria estar perto dele, abraçá-lo, beijá-lo e ter certeza que tudo estava bem entre a gente.

– Cris, a Renata já está indo embora. Eu disse que você estava um pouco cansada por causa da entrevista e que queria ficar sozinha um pouco. Ela disse que compreendia e agradeceu muito a sua participação – A Martha disse parada na porta da sala. Eu não sabia como ela tinha me achado ali.

– Obrigada Marthinha – Consegui dizer sem ânimo.

– O que foi, menina? Pensei que você estivesse melhor dessas crises – Ela quis saber.

– E estou. A minha crise atual é de saudades do Luan. Lembrar de todas essas coisas e não pensar nele é inevitável. – Respondi sentindo a dor no meu peito aumentar ainda mais.

– Adorei a resposta do anjo – A Martha disse se aproximando de mim – Mas não entendi a parte do príncipe. Como assim não sabe se ele te quer? Achei que isso já estivesse muito claro entre vocês – Ela me perguntou enquanto se sentava ao meu lado e segurava a minha mão.

– É que aconteceu tudo isso, e faz tanto tempo que a gente não consegue nem se falar direito... Ou eu estava dopada com os remédios ou ele estava em show. Sei lá, e eu não sou bem o tipo de garota que faz a linha princesa... Principalmente para um príncipe como o Luan – Respondi meio azeda.

– Cristal, sabe o que eu acho? Que está na hora de você ir tomar uma dose de remédio para essa sua crise – Ela me disse séria.

– Ah não... Mais remédio, não! E eu não quero calmante também – Eu praticamente gritei aquelas palavras tamanho era o meu medo de voltar a tomar medicações que me deixavam"grogue" e fora de mim.

– Não, Cris. Estou falando de outro remédio... Para outro tipo de crise! O Luan não está fazendo show hoje, não é? Sei que ele está na casa dele e que vai pescar amanhã com uns amigos – A Martha ia me dizendo essas coisas com um sorriso malandro no rosto. Eu comecei a entender onde ela queria chegar – E eu também sei que tem um avião direto de São Paulo para Londrina que parte daqui uma hora e meia do aeroporto.

– Mas e o Léo? Ele saiu para resolver umas coisas, mas prometeu que vai voltar para me buscar – Eu estava gostando muito da ideia da Martha. Muito mesmo.

– Bom, quando ele chegar eu posso dizer que você precisou ir embora mais cedo porque não estava se sentindo bem. Posso dizer que o João foi te levar... Ele só vai saber que isso não é verdade quando chegar lá em Ilhabela. O que vai te dar uma boa vantagem... E aí, topa? – Ela me perguntou animada.

– Claro que eu topo – Respondi ainda mais animada. Era como o Léo havia falado no carro: Tudo agora iria voltar ao seu devido lugar, e o meu lugar era ao lado do Luan.

***
PONTO DE VISTA DO LUAN

– Tá que pariu, viu... Cristal sempre fugindo – Resmunguei sozinho no meu quarto depois que desliguei o celular. O Tomás, irmão da Cris, tinha acabado de me ligar para me avisar que o Léo tinha a levado para participar de uma entrevista em São Paulo e que a perdeu no meio do caminho. Aquele Léo era mesmo muito “lerdinho” pro meu gosto, viu rapáiz...

Bufei de nervoso. Onde a Cristal tinha se metido, hein? Respirei fundo e queimei meus miolos pensando em um jeito de encontrá-la. 

E, se uma pessoa sabia do paradeiro daquela muié, essa pessoa com certeza era a Marthinha. Peguei meu celular e já ia procurando o número dela na agenda quando ouvi alguém batendo na porta.

– Entra, tá aberta – Falei sem nem ver quem era. Eu queria mesmo era descobrir o que a Cristal estava aprontando para fugir sem falar nada para ninguém.

– Tô sabendo que vai rolar uma pescaria animada amanhã. Será que tem lugar para mais uma no barco? – Ouvi alguém falar da porta do meu quarto. Quase pulei da cama quando identifiquei de quem era a voz. Aquilo não era possível! Será que eu já estava com tanta saudades dela que já estava imaginando coisas?

– Cristal? – Eu nem acreditava no que estava vendo. Larguei o violão de qualquer jeito na cama e corri para abraçá-la.

– Ai Lú, vai com cuidado! O meu ombro não está 100% ainda – Ouvi ela comentar rindo enquanto eu praticamente a esmagava entre os meus braços.

– Desculpa meu amorzinho, desculpa! Machucou? – Falei me afastando um pouco dela e vendo se eu tinha tirado alguma coisa do lugar.

– Não, não! Tá tudo bem, mas você vai precisar tomar cuidado com essas juntadas que você me dá... – Ela riu.

– É que eu não estava me “guentando” de saudades de você, nega. Mas o que “cê” tá fazendo aqui? - Precisei me controlar para não agarrá-la naquela mesma hora e arrastá-la direto para a minha cama. Eu sabia que a gente precisava conversar, e eu também estava curioso para saber como ela  acabou parando ali, por isso aguentei firme.

– Bom, eu estava no meio de uma crise de saudades de você e a Martha me disse que o único remédio capaz de me curar estava em Londrina. Aí você já sabe, né? Com a ajuda do João e da Martha eu fugi, mas dessa não foi de você, e sim para ficar com você – Ela ria enquanto falava e foi só aí que eu me dei conta que já fazia um bom tempo que eu não ouvia a Cristal rindo. Parei e reparei bem nela. Ela estava mais magra que o normal e com os cabelos mais curtos. Mas ainda era minha Cristal, com o mesmo brilho no olhar que me conquistava.

– Ah nega, tô tão feliz que você está aqui. Eu “tava” tão preocupado com você! Mandei todo mundo ficar de olho em tudo para você ficar bem, mas eu queria ter ficado mais ao seu lado. Você passou por um monte de coisa e eu não pude te ajudar em muita coisa – Falei meio sem jeito enquanto passava a mão pelo seu rosto e ajeitava uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.

– Mas você me ajudou, e muito. A gente se falou sempre que dava e você mesmo disse que cuidou de tudo para que eu ficasse bem... Não fica preocupado com isso – Ela disse enquanto me dava um abraço. Era muito bom poder ter ela novamente entre os meus braços.

– Ah Cristal, as vezes eu fico pensando que eu não sou o cara certo para você – Eu ainda pensava muito em tudo o que o Diogo me falou sobre eu não ser capaz de fazer a Cris feliz. E diante de toda aquela situação, eu achava que ele estava certo mesmo. Nem visitá-la durante a sua recuperação eu pude.

– Estranho você falar isso, porque eu pensei a mesma coisa hoje. E sabe o que a Martha me disse? Que pensava que isso já estava muito claro entre nós! E está, não é? Lembra que a gente combinou lá em Sorocaba que estamos juntos nessa, até o fim, venha o que vier? – Ela me perguntou séria, me encarando. Quando falava com aquele jeito de “braba” ela me deixava ainda mais “doido” por ela.

– Lembro, mas... – Comecei a enrolar. Eu não queria assumir que estava preocupado por causa das coisas que o Diogo disse.

– Mas o quê, Luan Rafael? Me fala, “homi”. Eu sei que você está preocupado com alguma coisa... – Ela me olhou ainda mais séria e aí eu percebi que era melhor eu começar a falar senão a coisa toda iria pro pau de vez...

– Mas Cristal, “cê” sabe que eu levo uma vida meio maluca, né? Viajando de lá pra cá? E se eu não tiver tempo para ficar com você para fazer todas aquelas coisas que namorados fazem? Tipo ir no cinema, viajar, fazer compras no shopping? – Mexi no cabelo, nervoso. Eu tinha medo da resposta que a Cristal iria me dar.

– Bom, se todas as vezes que voltar de uma viagem você me cobrir de beijos e dizer que sentiu muito a minha falta, não tem problema. E filme a gente pode assistir em casa juntos, podemos viajar nas suas férias e acho que aguento ir até o shopping sozinha de vez em quando – Ela disse fazendo graça da minha situação. Eita, eu todo nervoso e a Cristal rindo de mim...

– Mas e se a gente casar e tiver filhos? E se eu não puder ficar ao seu lado para cuidar deles? – Achei melhor colocar para fora todas as dúvidas que estavam me atormentado. Eu já estava fazendo papel de bobo mesmo... A Cristal olhava para mim divertindo-se com o meu nervosismo. Bandida!

– Se a gente casar, tenho certeza que serei a mulher mais feliz do mundo porque vou poder te chamar de meu marido. E, se for capaz de ensinar os seus filhos a ser pelo menos um pouquinho do que você é, essa pessoa carinhosa, iluminada e especial, você já vai ter me ajudado muito a cuidar deles – Ela disse, carinhosa, acariciando o meu rosto.

– E se inventarem que eu fiquei com outras e isso sair em todas as revistas e jornais? – Insisti, dessa vez um pouco menos ansioso. A Cristal estava conseguindo me deixar mais calmo.

– Eu vou confiar em você. Se você me disser que não ficou com ninguém, então eu vou ignorar completamente essas falsas notícias... – Ela falou baixinho perto do meu ouvido antes de me dar um beijo no pescoço.

– Juntos? – Perguntei colocando a mão no seu cabelo e acariciando suavemente.

– Juntos – Ela me respondeu dando outro beijo no meu pescoço.

– Para o que der e vier, até o fim? – Me aproximei dela posicionando melhor os nossos corpos e colocando a minha mão na sua cintura.

– Para o que der e vier, até o fim – Ela confirmou, dando uma piscada para mim, me provocando.

– Ahhh, então vem cá, vem minha nega – Puxei ela com tudo para perto de mim tascando um beijo bem dado na sua boca.

– Luan, o ombro... Vai com calma – Ela me lembrou em meio ao nosso beijo.

– Oh amor, desculpa... Não vou mais esquecer do seu braço, tá? – Falei dando um beijo no seu ombro – Tá melhor agora? – Brinquei.

– Muito melhor – Ela sorriu para mim, e foi ali que eu tive certeza que tudo iria ficar bem. Porque, no final das contas, eu e a Cristal sempre conseguíamos nos entender.

– Vem cá, meu amorzinho... Vou te encher de beijinhos e você vai ficar boa, viu? – Falei enquanto fechava a porta e ia a conduzindo com muita calma em direção a minha cama. Pelo caminho nós fomos trocando beijos e carícias sem pressa, matando aos poucos a saudade que eu estava dela. Completamente diferente da primeira vez que nos beijamos no meu quarto, quando a coisa pegou fogo entre a gente de uma vez só.

Agora era diferente. Eu não precisava ter pressa... Afinal, o que era o tempo para quem tinha uma vida inteira pela frente junto dela?
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Notas finais do capítulo:
E aí, o que acharam?
Isso foi praticamente um "resumão" do final! kkk
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Oiieeee.... xD

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Se estiver, não deixe de "perder uns minutinhos" para me contar a sua opinião, registrar o seu surto ou apenas para dar um oi! E se não estiver curtindo, aproveite o espaço para "soltar o verbo" e falar o que te desagradou!

Uma história não existe sem leitores! São vocês que me dão forças para continuar escrevendo e caprichando cada vez mais em cada capítulo! Portanto, deixe de "corpo mole" e venha "prosear" sobre as fics comigo e com as outras meninas que passam por aqui! *-*

Cada comentário ilumina muito o meu dia! Não deixe de fazer uma quase-escritora feliz: Comente! *-*

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