Capítulo 10 - A princesa, o farol e o oceano

Notas iniciais:

Capítulo está um pouco tenso. Isso porque vamos começar a "mergulhar" nos sentimentos da Jú para entender esse mistério que ela esconde.

Temos mais dicas nesse cap, viu?

Preparadas para a D.R. Lúlia? Então aproveitem!

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- Jú, pelo amor de Deus, o quê aconteceu? Eu e a Thá estamos aqui te chamando no chat e você não responde – Ouvi a Bruninha me perguntar preocupada do outro lado da linha.

- Estou na frente da sua casa – Respondi, estacionando o Amora no meio fio. Passar pela portaria do condomínio foi fácil. O porteiro já me conhecia da outra visita que fiz à minha amiga.

- Na frente de casa? O quê...? – Ela fez uma pausa e imaginei que ela estivesse tentando processar os últimos acontecimentos – Ai meu Deus! E que voz é essa Júlia?

Foi só aí que me dei conta que estava chorando. Desliguei o carro com as mãos trêmulas e respirei fundo. Meu mundo tinha caído. De repente me vi de volta ao mesmo oceano ao qual fui atirada há três anos. Sozinha, perdida e sem o Luan... O pequeno raio de esperança que me puxava de volta à superfície havia morrido. E agora eu estava me afogando no próprio mar de mentiras que eu mesma criei.

- Anjinha... eu preciso de você... – Pedi com a voz fraca.

- Calma, Jú! Eu tô indo aí te buscar! Aguenta aí – Ouvi a minha amiga desligar o celular e fiquei contemplando o final da tarde através do para-brisa da minha Pajero. Como tudo pode mudar tão rápido? E por que a vida tinha que ser assim? Ter o Luan em minhas mãos e perdê-lo de forma tão... boba?

Liguei o rádio para quebrar aquele silêncio que me sufocava. Qualquer coisa era melhor que conviver com as minhas lembranças. Um CD com uma seleção variada de músicas que eu mesma fiz começou a tocar e eu ouvi a Maria Gadú dar voz aos meus sentimentos. Nenhuma canção seria mais apropriada para aquele momento...

*** Link para música - https://www.youtube.com/watch?v=2JjjrYSyJJY *** (Trilha para os meus momentos de “deprê também ...)

- Destino, seu grande idiota – Resmunguei em voz baixa. Era incrível o poder que eu tinha de ouvir as músicas certas nos momentos errados...

“Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar”

Cantei a estrofe sozinha no carro. Minha vida desde que deixe o Luan foi, sem dúvidas, uma longa noite sem estrelas. E realmente, só o que importava, era que eu tinha feito o melhor para ele...

“E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar”

Fui me “afogando” cada vez mais na letra apoiando a cabeça no volante e deixando o choro lavar a minha alma. Depois de tudo o que aconteceu, eu aprendi sim a me virar, aprendi a ser a senhora de mim, a tomar as minhas próprias decisões... Mas as marcas sempre estariam ali, tatuadas na minha pele, dentro do meu coração.

“Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar...”

E eu só esperava pelo Luan. Só ele poderia ser a luz, o farol para me guiar de volta...

- Jú, que isso? Para de chorar.... – A Bruninha se desesperou ao ver o meu estado dando a volta correndo no carro e entrando pela porta do passageiro. Sua expressão era de preocupação quando me abraçou. Será que eu estava assim tão mal?

A minha resposta veio em seguida. Ao sentir os braços da Anjinha em torno de mim eu desabei. Chorei botando para fora todas as minhas tristezas, culpas e medos. Minhas lágrimas corriam pelo meu rosto e encharcavam a blusa da minha ex-cunhada, mas eu não conseguia parar. Meu coração sangrava e a única forma de suportar aquela dor era chorar.

Não sei quanto tempo passei chorando. Minutos? Horas? Naquele momento eu me sentia sem chão, sem ar, sem saída. O Luan era o meu ponto fraco, e saber que agora ele era, oficialmente, de outra foi o golpe mais cruel que recebi em toda a minha vida.

- Ei, ei... Isso não foi nada. Você sabe que o meu irmão é um lerdo! Com certeza ele fez isso sem pensar. Eu e você sabemos que esse namoro não vai dar em nada... – Ela tentou me consolar me apertando muito forte em seus braços – Mas agora levanta a cabeça, princesa! Senão a coroa cai e você tropeça no salto, lembra?

Ela conseguiu me arrancar um pequeno sorriso que foi capaz de me acalmar um pouco. Olhei no retrovisor e vi que o meu rosto estava coberto pelas lágrimas, meus olhos vermelhos e percebi que eu estava sem ar por conta dos soluços do meu choro. Era daquele jeito que uma pessoa se sentia quando perdia tudo no seu mundo?

- Ahhh Anjinha, por que eu faço tudo errado sempre? – Perguntei, me jogando no seu colo. Tudo o que eu queria agora era o carinho e os sábios conselhos da Brú. Só com ela eu poderia abrir o meu coração de verdade.

- Eu já disse que você carrega uma culpa que não é sua! Jú, você e o Luan eram muitos novos e estavam lidando com algo muito maior que vocês. Meu irmão de repente virou uma “estrela pop” e você se viu grávida com um empresário e uma assessora de imprensa malucos te dizendo que vocês não poderiam ficar juntos e com os seus pais dispostos a te convencer que você era muito jovem para criar um filho sozinha...

- Mas eu aceitei esse plano maluco, Brú! Eu aceitei! – Confessei, as lágrimas me dominando novamente.

- Era muita pressão em cima de você, Jú. Quem está pronta para ser mãe adolescente sem o apoio dos pais e sem poder contar nada para o pai do filho? Não tô te dizendo que o que aconteceu era certo, mas você não tinha escolha... Ainda mais quando o Sorocaba apareceu, todo “afim” de você e arrumou aquele emprego de modelo na Espanha... – A Bruna falava de uma forma tranquila, enquanto acariciava os meus cabelos tentando me acalmar.

Aquele era o nosso “ritual” secreto. Toda vez que eu ameaçava me afogar no meu “oceano” de tristezas, ela vinha e me tranquilizava com as suas palavras. Nós já havíamos passado horas ao telefone daquele jeito, mas ao vivo era muito melhor. Era bom saber que alguém era capaz de entender as minhas atitudes e não julgar as minhas escolhas erradas do passado.

- Eu só queria poder voltar atrás, poder mudar tudo o quê eu fiz... – Disse um pouco mais calma agora.

- Prin, ninguém pode voltar atrás e mudar o que já passou, mas todo mundo pode começar de novo e fazer um novo final – A Anjinha me aconselhou com a voz suave.

- Será que o seu irmão aceitaria começar de novo comigo? – Perguntei com meu coração se enchendo de esperança só de pensar naquela possibilidade.

- Claro que aceitaria. Mas para isso ele precisa saber de toda a verdade, só assim vocês poderiam começar do zero – Ela me deu a sua opinião.

- E como eu vou contar para ele, Brú? Como? – Passei os últimos dias pensando naquela questão. Eu tinha o direito de chegar agora e fazer todas aquelas revelações? Ele suportaria tudo aquilo? Ele me perdoaria? Ele me odiaria? Eram muitas perguntas, poucas respostas. O risco era grande, a chance de me machucar também. Mas será que eu poderia ficar mais machucada do que já estava?

- Não sei, Prin! Conta por carta, e-mail, mensagem de texto, DM no Twitter... Sei lá, mas conta! – A Brú fez piada da situação.

Acabei rindo também, novamente aquela sensação de alívio tomando conta de mim só por cogitar a hipótese de contar a verdade.

- Qual vai ser a cara que o seu irmão vai fazer quando descobrir tudo? – Acabei me pegando imaginando a cena, indo longe naquele devaneio.

- Não sei... Mas você pode descobrir agora... – A voz da Anjinha ficou séria e senti as suas mãos tensas ao acariciarem o meu cabelo.

- Como assim? - Eu não estava entendendo.

- Ele acabou de chegar, Prin! – Ela me avisou baixinho, como se tivesse medo da minha reação.

Levantei o meu corpo e me endireitei no banco do motorista. Do lado de fora, parado bem na frente do carro estava o Luan, contemplando a cena com uma expressão confusa, como se tentasse encaixar as peças de um difícil quebra-cabeça. Atrás dele vi o Rober sair de um sedan preto e seguir até o porta-malas para descarregar a bagagem do Lú.

Por um instante nos encaramos através do para-brisa do Amora. Um misto de sensações percorreu o meu corpo. Alívio por tê-lo ali, tão perto de mim, saudade do seu toque na minha pele, amor, que sempre fazia o meu coração sambar feito passista de escola de samba no peito e deixava as minhas pernas tremendo quando o via, desejo de beijá-lo novamente e, finalmente, a raiva por ele ser tão desligado e acabar com a minha chance de ficar com ele de novo.

Abri a porta e desci da Pajero, caminhando firme em sua direção.

- Então é isso que eu sou para você, Luan Rafael? Safadagem? Só agora você está namorando sério? Por um acaso eu fui alguma brincadeira para você? – Fui descarregando todas as palavras em cima dele sem lhe dar nenhuma chance de defesa. Meu sangue fervia nas veias. Como ele poderia fazer aquilo comigo?

O Luan me olhou surpreso com a minha abordagem tão... direta e nada pacífica. Depois ele me encarou de cima abaixo e foi só então que me dei conta que devia estar um verdadeiro “caco”. Rosto inchado e olhos vermelhos de tanto chorar, cabelo despenteado e ainda cheio de laquê por conta do ensaio de fotos que fiz naquela manhã, blusinha preta caindo por um dos ombros, shorts curto e Havainas.

Droga! Eu deveria ter me produzido um pouquinho melhor para aquele encontro... O Luan estava simplesmente lindo de matar com um boné de aba reta, camiseta verde, calça preta e tênis estilo coturno.

- Responde, Luan! – Cobrei, ignorando o meu visual e focando no motivo da minha “visita” à residência dos Santana.

- Hããã... Acho que eu não te devo satisfações, lembra? – Ele provocou me devolvendo a resposta que eu mesma lhe dei na noite que ele chegou em casa procurando por respostas.

Bufei de raiva. Era sério que ele ia me encarar? Pois bem, então ele podia vir quente, porque eu já estava fervendo.

- Ahhh... Mas você me deve muito mais satisfações do que imagina – Retruquei, a voz cheia de segundos significados.

- Meninos, vocês não vão querer discutir isso aqui e agora, né? – O Rober se intrometeu chegando perto.

- CALA A BOCA, ROBER – Eu e o Luan falamos juntos e por um momento eu quis muito rir. Aquilo era algo do nosso tempo de namoro, quando a gente sempre implicava com o secretário do Lú. Percebi que ele também precisou conter o riso por causa da lembrança.

- Hãã... Acho que você não vai querer se meter nisso – A Bruninha apareceu do meu lado aconselhando o Roberval – Mas eu concordo que vocês deveriam ir lá para dentro. Vem Prin, eu empresto o meu quarto para vocês conversarem... ou brigarem, tanto faz – Ela sugeriu já me puxando para o interior da casa. Percebi que ela trancou o carro apertando o botão do alarme e me entregou as chaves.

- Vai com calma, tá? Será que dá para ser menos tempestade e mais... garoa, ou sereno? – Ouvi a Anjinha me pedir com cautela enquanto subíamos as escadas da casa.

- Tá, eu vou tentar... – Respirei fundo entrando no cômodo.

O quarto da Bruninha parecia com o de uma princesa. Era todo rosa e creme, decorado com objetos e quadros delicados com um grande puff pink em um dos cantos. Era lindo e combinava com ela. Era meigo, mas sem esconder a personalidade da grande mulher que já desabrochava por trás daquele rosto de “menina”.

- Hum... Vou deixá-los conversando, ok? – A Bruna avisou assim que o Luan entrou no quarto – Mas, por favor, não destruam nada! Vou ajudar o Rober com a bagagem... – Ela avisou antes de sair e fechar a porta atrás de si.

Um emburrado e mal humorado Luan me encarava parado ao lado da entrada. Era possível achá-lo lindo até quando ele estava me odiando? Bom, meu coração disparado dentro do peito que nem cavalo correndo na raia dizia que sim.

Sentei na cadeira do computador e gesticulei para que ele se sentasse na cama, logo à minha frente. Contrariado, ele me obedeceu.

- E então, que história é essa de “Estou namorando”? – Tentei parecer calma e disposta a negociar.

- Eu devia isso a Jade e a minha equipe achou que seria bom para a minha imagem pessoal – Ele respondeu simplesmente.

Precisei de um momento para assimilar aquela resposta. Acho que eu realmente era uma romântica à moda antiga. Namorar por amor? Passado! A moda agora era namorar pelo bem da imagem pessoal!

- Tá certo, vamos por partes – Fiz o máximo para conter a minha raiva e manter o tom de voz sob controle – Primeiro: Desde quando você precisa de uma namorada para promover a sua carreira? Aquela ideia me irritava profundamente. Na minha época, tudo o quê ele NÃO precisava era estar comprometido. E agora isso? Aquilo era demais para mim...

- Não sei... – Ele deu de ombros, sem jeito.

- Pois eu sei! Você é o cara que mudou o estilo do sertanejo no Brasil, o cantor que mais vende CD’s nesse país, que tem mais de quatro milhões de fãs, que arrasta multidões pelos quatro cantos do Brasil e que está prestes a ganhar o mundo com a sua música. Portanto, a resposta é: Você nunca precisou de uma namorada para se promover – Fui enfática em cada palavra, falando enquanto o olhava fixamente nos olhos.

- As coisas mudaram, Júlia... – Ele tentou se justificar.

- E não me venha com esse papo de que as coisas mudaram de novo! – Eu não aguentava mais aquela desculpa – Nada mudou, você está me entendendo? Nada – Eu praticamente gritei aquelas palavras para ele falando muito mais por mim mesma do que pelo resto. Da minha parte, realmente nada tinha mudado. Será que ele nunca ia entender isso?

- Tá “bão”, Jú! Tá “bão”! Você tá certa... Acho que não foi a coisa certa a se fazer... – Ele mexeu no boné para tentar disfarçar, mas eu percebi: Ele estava triste – Acabei me precipitando e metendo os pés pelas mãos. Agora minhas fãs estão chateadas, você está chateada, minha irmã está chateada...

- E você está chateado – Completei a frase. Ele apenas me encarou e vi em seus olhos um vazio tão grande que não resisti, pulei para o seu lado na cama e o abracei muito forte.

- Porque nós temos essa tendência tão cruel de sempre fazer a coisa errada? – Falei com a cabeça nos seus ombros enquanto ele me segurava nos seus braços, me esmagando no seu abraço.

- Não sei, Jú. Mas eu só faço “trapalhada” – Ouvi ele dizer com a voz baixa, meio sem vontade.

- Isso é porque você é um “tantim” lerdo pra perceber as coisas, né? – Provoquei, soltando o nosso abraço e cutucando a sua barriga. Ele riu e na mesma hora eu me senti melhor.

- Bom, vamos ao segundo ponto – Voltei a usar o meu tom sério me esforçando para lembrar o motivo pelo qual eu estava brava com o Luan – Você devia isso a Jade? Como assim devia? Desde quando se deve um pedido de namoro a alguém?

- Ela está sendo uma “companheraça” para mim. Não “tava” certo eu fazer o que eu estava fazendo com ela... A Jadinha sacrificou muita coisa para ficar comigo, achei que ela merecia essa consideração – Claro que ele não teve a dignidade de dizer isso me olhando de frente. Ele foi soltando cada palavra devagarzinho enquanto mexia na aba do boné, que de repente, ficou muito interessante para ele.

Senti a raiva tomar conta de mim e quase voei no pescoço dele. Ele só poderia estar brincando com essa história de “sacrificou muita coisa para ficar comigo”!

- Sacrifício? Sair das redes sociais e mudar o status de “Jade Pinóquio Magalhães” para “Jade Pinóquio Magalhães, aquela que namora o Luan Santana”? E isso lá é esforço? – Provoquei. A raiva “escorrendo” pela minha boca.

- Julinha... – Ele chamou a minha atenção fazendo um enorme esforço para não rir do meu comentário.

- Mas eu tô falando sério! – Gesticulei perdendo a paciência. Na boa? Ele não tinha ideia do que era “sacrifício” para vê-lo feliz.

- E eu também! – O Luan retrucou me olhando enfezado – Eu sei que nela eu posso confiar, sei que ela não vai me trair... – As suas palavras vieram carregadas de acusações silenciosas que me machucaram instantaneamente.

- É sério, você não vai querer discutir fidelidade comigo – E percebi que a minha voz soou mais ameaçadora do que devia.

Ele pousou aqueles olhos negros sobre os meus sem voltar atrás. A mensagem era clara: Ele queria sim discutir aquele assunto. - Na verdade, eu vou querer, porque você sempre consegue arrancar as respostas que quer de mim, mas eu nunca sei nada sobre você! Minha vez de perguntar: O que você está escondendo de mim, Júlia?

Opa! Quando foi que a conversa mudou de rumo tão rápido? Precisei pensar rápido para escapar daquela.

- Hããã... Pensei que quem te devesse satisfações era a Jade e não eu – Repeti a mesma resposta que usei há uns dias para fugir dele.

O Luan fechou a cara ao me ouvir e cruzou os braços, nervoso, em frente ao corpo – Tá vendo por que não dá pra conversar com você, Júlia? Você sempre foge do assunto! Tá sempre se defendendo, se fechando nos seus mistérios – O Luan perdeu a linha mexendo as mãos enquanto falava.

- Não estou fugindo! Mas o assunto aqui não sou eu, o assunto é você e esse seu namoro idiota! – Deixei as palavras escaparem antes mesmo de pensar no que estava dizendo.

- Então tá certo. Agora o assunto é a gente, nós dois! E agora, vai me falar ou não?

- Não! Nada que eu diga vai mudar o fato de que agora você é o namorado da Jade! Por que Luan? Por que você acabou com a nossa chance de ficarmos juntos de novo? Por que você fez isso? – Perdi a linha também, falando mais alto do que ele. Meu coração estava dando pulos dentro do peito de tanta expectativa por aquela resposta.

- Por que eu não consigo confiar em você, Júlia! Você tá sempre escorregando pelas minhas mãos, sempre me enrolado... Eu não consigo enxergar aonde você quer chegar, o que você quer fazer... Eu não consigo te ver claramente – Ele me respondeu tirando o boné e o jogando de qualquer jeito na cama para mexer nos cabelos, aflito.

- Não consegue ver porque não enxerga o que está na sua frente! Você nem se dá o trabalho de questionar o quê acontece ao seu redor. Só vai aceitando, sem se preocupar com mais nada! – Nessas alturas eu já estava dominada pela raiva e apontava o dedo para ele, a voz alta, a mão livre mexendo no meu cabelo, ansiosa – Se você realmente quisesse me ver claramente, já teria percebido que quem fez sacrifícios reias por você não foi a Jade coisa nenhuma! Se realmente quisesse ver, você entenderia que ninguém te ama e é mais fiel a você do que eu! – Desabafei todos os meus sentimentos e as lágrimas marcando a minha face.

Ele me encarou por um momento, o rosto dominado pela surpresa.

- Então é isso? Você não me traiu, não é? Você não me deixou porque cansou de mim, como me disse antes de viajar para a Espanha? É isso, não é Júlia? – Ele pegou a minha mão e começou a apertá-la, desesperado para que eu confirmasse a sua teoria.

Droga! Falei demais!

Puxei a minha mão com força e, sem pensar duas vezes, sai correndo do quarto.

- Júlia, volta aqui! – Ele me alcançou antes que eu conseguisse passar pela porta colocando o peso do seu corpo contra o meu e jogando contra a parede.

- Mas se é verdade, por que você mentiu para mim? Por que foi embora? Por que ainda está mentindo? – Ele praticamente implorava pelas respostas, todo seu corpo me prendendo junto dele.

Respirei fundo tentando organizar as ideias. Olhei para o Luan e o vi ali, todo cheio de dúvidas, louco por explicações. Contemplei por um instante o seu rosto perfeito, o jeito de menino, os cabelos arredios... Ele já tinha problemas demais para lidar. O Lú não merecia mais tempestade na sua vida...

- Já disse, eu não te devo explicações. A sua namorada agora é a Jade. E se quer saber, eu não sou a favor desse namoro, nem vou desejar que vocês sejam felizes e que tudo dê certo. Eu quero mais é que essa droga de “faz de conta” de vocês acabe logo para você voltar a perceber o que é certo e errado na sua vida – Gritei enquanto lutava para me desvencilhar dele.

- É assim, Júlia? – Ele me perguntou com amargura antes de me soltar dando um passo para trás – Então vai... Vai embora! Se você prefere continuar mentindo para mim, eu não posso fazer nada. Tô cansado desse seu jogo! Me deixa em paz, por favor! Some da minha vida, me deixa seguir o meu caminho... Foi você que criou todo esse rolo que nos separou. E se fez tudo isso era porque não queria ficar comigo... Chega de brincar com os meus sentimentos, Júlia! Vai embora, vai e não volta mais – Seus olhos se encheram de lágrimas e eu percebi a raiva em suas palavras.

Ele não me queria por perto. Aquilo fez cada parte do corpo doer. Meu coração parou de bater e a minha cabeça girava. Ele não me queria por perto... Era essa a realidade. Era isso que eu merecia depois de tudo...

Lentamente, eu dei o primeiro passo, me afastando dele. Depois outro e mais outro, a dor me impedindo de raciocinar. Quando não consegui mais conter o rio de lágrimas que ameaçava desabar, eu corri sem nem olhar para trás. Os soluços chacoalhando o meu corpo, minha visão embaçada por causa das lágrimas.

Passei que nem um furacão pela sala até alcançar a saída. Precisei de um esforço tremendo para conseguir pegar a chave do carro no bolso e apertar o botão do alarme.

Mas antes que eu pudesse entrar no Amora, senti os braços do Luan me puxando ao seu encontro - Não vai embora, princesa – Ele também chorava e o seu pedido era muito sincero.

Eu queria ficar. Eu queria contar toda a verdade. Eu queria ser dele para sempre. Mas a realidade é que eu não podia. Um oceano nos separava. Um oceano onde eu me afogava. Um oceano onde eu não permitiria que ele também se afogasse. Ele estaria melhor sem saber a verdade. Ele estaria melhor sem mim... Era da calmaria que ele precisava.

- Não me chame de princesa – Consegui dizer controlando o meu choro – Porque eu não faço esse tipo. E você merece alguém muito melhor do que eu...

Puxei meu braço e o mais rápido que eu pude, entrei no caro me trancando lá dentro, me mantendo longe do Luan.

Ele batia no vidro, chamando o meu nome, me pedindo para não ir embora.

Liguei o motor da Pajero, liguei o farol e antes de dar a partida desci o vidro e encarei o Luan.

- Você tá certo. Fui eu quem criei esse rolo todo que nos separou. E você também tá certo em não me querer mais por perto. Só quero que você saiba que tudo o que eu fiz foi pelo seu bem, eu juro! Eu nunca faria nada para te machucar... – Minha voz soou fraca, pálida, quase morta. Era exatamente o jeito que eu me sentia naquele momento. A luz no farol no se apagou e eu estava afundando de novo naquele oceano frio e sem saída...

- Eu não entendo... – Ele balançou a cabeça, confuso.

- Não precisa entender, só lembra disso, tá? Se cuida, meu guri! Você é a razão da minha vida, você é o meu farol, quem me traz de volta do fundo do mar...

E com essas palavras eu fui embora. Mais uma vez incapaz de contar a verdade, mais uma vez indo embora da vida do Luan. Era a história se repetindo novamente. Dias felizes, pessoas se intrometendo no nosso caminho, despedidas doloridas... Será que eu nunca teria a chance de ficar com o Luan de uma vez, em aquele maldito “oceano” para nos separar?

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Notas finais: Ai, ai, gente! Tô ansiosa aqui querendo saber o quê vocês acharam dessa briga!

Peloamor, me contem se ficou boa!

Aviso aos navegantes: Luan descobrirá toda a verdade no capítulo 11! (Aliás, ele já descobriu uma parte da história, né? Perceberam como ele estava "espertinho" nesse cap? kkkk)

E eu espero que vocês tenham notado a observação que a Jú fez no final do cap sobre a história estar se repetindo. Como fiz a Brú, todo mundo pode fazer um novo final!

E agora chega porque já falei demais!

Beijo, meninas!

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