Capítulo 12 - Pra sempre com você

Notas iniciais do capítulo: Gente do céu, tô nervosa demais com esse capítulo!

Mas, bora lá!

Espero que gostem!

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(Ponto de vista do Luan)

No capítulo anterior...

- Toma... eu prometi que nunca ia contar, mas realmente acho que essa situação já fugiu do controle. Não importa o quê a Júlia acha, você merece saber a verdade. Não é justo ela sofrer calada por erros que ela cometeu pensando no seu bem...

Sentei na cama e peguei o pedaço de papel. Era uma folha de caderno, já meio amarelada pelo tempo com a letra corrida e sem muito capricho da Jú.

Prendi o ar antes mesmo de ler a primeira linha. Eu sabia que toda a verdade estava registrada naquela folha. Tomando coragem, comecei a ler a carta.

“Bruna,

Escrevo essa carta porque a dor que sinto no meu coração é demais e ameaça me sufocar. Não sei em quantas partes uma pessoa pode ser “quebrada”, mas eu sinto que fui quebrada em mil pedacinhos e agora preciso juntar cada parte de mim e colá-las para ver se ainda posso seguir em frente.

Sei que as coisas andaram um pouco bagunçadas nesses últimos dias. Acho que como o seu irmão, você também deve estar com raiva de mim por causa do quê aprontei.

Tudo o que eu te peço é uma chance de te explicar a verdade. Já adianto que tudo o que fiz foi pelo bem do seu irmão. Se você ler essa carta até o final, talvez você me entenda... E eu espero sinceramente que você seja capaz de me compreender, de não julgar os meus atos e de me ajudar. Porque eu preciso de ajuda, Bruna. Muito mais do que eu quis admitir nos últimos tempos.

Bom, você sabe que eu amo o seu irmão, né? Conheço o Luan tão bem e ele me conquistou de uma maneira tão única que, mesmo sendo nova, sinto que encontrei o amor verdadeiro nos braços dele. Sorrio só de pensar que ele ficou para sempre marcado na minha vida. Independente do que aconteça, eu sempre vou me lembrar do meu “Guri” como o meu primeiro amor, o meu primeiro namorado, o primeiro homem da minha vida, aquele cara por quem eu movi “céus e terra” para ver sorrir. Seu irmão é o dono do meu coração, Bruna. E ele sempre será. Porque se existe amor eterno, com certeza é esse sentimento que carrego por ele aqui, dentro do meu peito.

Esses meses que passamos namorando foram os melhores da minha vida. É muito bom poder dividir com o Lú todas as alegrias e as conquistas que ele tem alcançado na sua carreira de cantor. Sem dúvidas, ele é uma pessoa abençoada por Deus, e o talento dele é capaz de conquistar até mesmo os corações mais “duros”. Tenho um orgulho tremendo de conhecer uma pessoa como o seu Luan e tenho mais orgulho ainda de fazer parte desse sonho, por mais insignificante que possa ser a minha participação nele.

Sonhos... Meu sonho era estar ao lado dele sempre, independente do quê aconteça, encarando todos os desafios que a vida colocar no seu caminho. E o sonho dele é ganhar a vida cantando, conquistar multidões, emocionar pessoas, ser uma estrela...

Por mais que o meu sonho seja tão puro e bonito, abri mão dele para que o do Luan se torne realidade. E é sobre isso que eu preciso falar com você, Brú.

Sei que o seu irmão acha que eu o trai e o abandonei sem motivos. Mas a verdade não é essa. Terminei com o seu irmão por um pedido do Anderson e de todo o pessoal da gravadora.

Recentemente, eu descobri que estava grávida. Foi um choque para mim. Nunca imaginei ser mãe tão nova e fiquei completamente perdida. Contei a novidade para os meus pais, buscando ajuda, mas tudo o quê eles fizeram foram colocar o Anderson, que também é da família, contra a parede pedindo que o empresário tomasse alguma providencia sobre isso.

A posição da equipe LS foi unânime: Luan não poderia ter uma namorada grávida naquele momento da carreira. O “Meteoro” estava ganhando o mundo e um filho roubaria o seu foco. Eu conheço o seu irmão o suficiente para saber que ele jamais me deixaria grávida, sozinha, enquanto ele viajava pelo Brasil fazendo shows.

E então essa foi a primeira pancada: Deixar o seu irmão livre para seguir o seu destino.

Eu concordei com essa decisão com o coração sangrando. Como eu sabia que seria preciso muito mais que uma simples desculpa para terminar com o Luan, eu inventei a traição. Eu precisava que ele sentisse raiva de mim, e acho que consegui, né? É triste saber que ele está magoado por minha causa, mas eu não tinha outra opção. Nada pode ficar no seu caminho agora, ele precisa voar...

A segunda pancada veio na sequência.

Meus pais não queriam que eu fosse mãe solteira de um filho que nem poderia saber quem era o pai. Sinto uma tremenda vergonha e muito nojo de mim mesma por te contar isso, mas tive a parte mais bonita de mim, aquela que carregava uma “sementinha” do Luan, arrancada por um médico sem coração e sem escrúpulos que concordou com o plano maluco dos meus pais.

Brú, a única maneira de te explicar o que eu senti é dizendo que os dias ficaram negros como uma noite sem estrelas. O sol não nasceu para mim por muito tempo e eu vivi um pesadelo sem fim. Era como se faltasse um pedaço no meu coração, e aquele vazio só crescia, e nada conseguia fazer a dor parar...

Eu me perdi na minha dor. Saí da linha, deixei o juízo trancado em casa e ganhei a rua na esperança de encontrar algo capaz de levar de vez daqui. Porque se eu não podia ter o Luan, então eu não queria mais nada... Eu estava partida em mil pedaços, me afogando em um oceano de tristeza e solidão e a minha única taboa de salvação estava me odiando por algo que eu não fiz... Tudo parecia perdido, Bruna. Meu coração estava sem rumo e batia sem vontade.

Mas a vida ensina e a gente acaba aprendendo, de um jeito ou de outro. O que não mata, fortalece, Bruninha. Por isso estou tentando seguir adiante, juntar os meus pedaços, emergir do fundo desse mar que me sufoca.

Estou indo para a Espanha trabalhar como modelo. Esse era o meu segundo sonho, e já que o primeiro não pode ser real, vou me agarrar à essa oportunidade na esperança de crescer, ganhar meu próprio dinheiro e ser dona do meu próprio nariz. Nunca mais quero ser dependente de ninguém. Quero ter o direito de tomar as minhas próprias decisões, levar os meus próprios tombos e aprender com os meus erros e acertos.

Não sei qual será a sua reação após ler todas essas confissões, mas o que eu tenho para te pedir é simples, e mesmo que você não me compreenda, acho que seria capaz de  me ajudar.

Só o que eu preciso é saber se o seu irmão está bem, se a carreira dele está dando certo, se ele está feliz... Por favor, Bruna, será que você poderia me manter informada sobre o que está acontecendo com o Luan? Ficar sem saber dele seria o pior castigo para mim. Sei que fiz coisas que não são certas, assumo meus erros, mas ficar na ignorância e sem notícias do amor da minha vida seria uma penitência maior do que eu posso aguentar.

O que eu escrevi aqui foram palavras que saíram direto do meu coração, Buna. Não estou exagerando quando digo que amo o seu irmão e que sempre o amarei. Eu acredito no sonho dele e sei que nada o deixaria mais feliz do que conseguir conquistar esse objetivo. E sei que você também sabe, é apostando nisso que eu acho que você será capaz de me compreender.

Talvez, um dia, eu posso reencontrá-lo e a gente possa tentar de novo. Agora, infelizmente, esse não é o momento certo para a gente viver o nosso amor. Tudo nessa vida tem uma hora, e eu espero que a minha “hora” com o seu irmão algum dia realmente chegue. Nada me faria mais feliz do que carregar novamente um pedacinho do seu irmão dentro de mim. E é essa esperança de que dias melhores virão que me fazem segui em frente, de tentar recomeçar e “montar” uma nova Júlia com os pedaços que restaram do que sou agora.

Rezarei todos os dias por ele e para que Deus perdoe os meus pecados. Vou embora na certeza que fiz o melhor para o Luan. Espero que você não me prive de saber o que está acontecendo com a única razão da minha existência.

Bruna, se ficar alguma dúvida, me ligue. Explico tudo com calma para você por telefone ou e-mail. Embarco amanhã para a Espanha. Cuide do meu amor, por favor. Fique ao lado dele sempre. Estarei sempre aqui para ajudá-los, mesmo que de longe.

Só te peço um último favor: Não conte nada disso para o seu irmão. Ele não merece que aquele sorriso iluminado que ele carrega no rosto seja manchado diante de tantas mentiras e confusões. Aceito sofrer sozinha e carregar essa culpa no meu coração para nunca ter que ver o Luan sofrer da mesma dor que estou sentindo agora. O papel dele nesse mundo é o de “encantar” pessoas. Ninguém com um dom tão belo como esse deve sofrer com o egoísmo e com a maldade humana.

Se ele estiver feliz, o meu coração estará feliz, e só isso basta para que eu continue vivendo.

Já disse e repito, Bruna. Amo o seu irmão com todas as minhas forças e faria tudo de novo para ver o sonho dele realizado.

Espero que você me entenda e seja capaz de compreender a extensão das minhas atitudes.

Carinhosamente,

Júlia”

Só quando terminei de ler a carta é que percebi que as minhas lágrimas estavam molhando o papel nas minhas mãos e borrando a tinta da caneta rosa que a Jú usou pra preencher aquelas linhas. Minhas mãos tremiam e só agora eu me lembrava que precisava respirar, porque prendi o ar durante o tempo que estava lendo.

Reli  a carta, meu coração disparado dentro do peito ameaçando sair pela boca.

Grávida? Tirar um filho meu? Ir embora em nome do meu sonho?

Minha Nossa Senhora. O quê tinha acontecido com a Júlia? Como eu não percebi tudo aquilo? Como eu pude me deixar levar? E como ela não me contou aquilo?

Eram tantas perguntas, mas agora eu tinha a resposta para muitas delas.

Encarei a minha irmã, o rosto tomado por lágrimas.

- Você sabia? – Minha voz era fraca e eu mal conseguia pensar direito.

- Sabia – Minha irmã confessou sem coragem de me olhar nos olhos – Mas eu não tinha como contar, a Júlia me fez prometer! – Ela tentou se defender, mexendo nos cabelos, se atrapalhando toda com as palavras – Só contei agora porque estou vendo vocês repetirem o mesmo erro, sem dar chance um para o outro.

- Grávida? – Repeti, sem acreditar. Agora a coisa tinha ido pro pau de vez!

- A Jú sofreu muito sem você. Passar por tudo isso sozinha não foi fácil, Luan... – A Bruna defendeu a amiga sentando ao meu lado na cama e colocando a mão no meu joelho, tentando me acalmar.

- Ela não foi embora porque não gostava mais de mim... Ela foi embora porque foi obrigada – Aos poucos eu fui entendendo a gravidade daquela situação. Era estranho! Tudo aquilo era muito triste, mas eu sentia o meu coração bater feliz dentro do meu peito. A Julinha não tinha me deixado porque não me amava mais... – E ela tirou o bebê! Nossa Senhora, que coisa horrível... Não acredito que os pais da Jú fizeram isso com ela!

- Ela foi precisou ser muito forte para superar tudo isso – Minha irmã concordou comigo, ainda desviando os olhos dos meus.

- E todo esse tempo... Vocês se falaram? – Quis saber, encarando-a.

- Isso... A Jú nunca deixou de te amar. Todos esses anos ela foi a sua fã número 1 – Vi a Bruna sorrir timidamente ao dizer isso – Ela até estava na gravação do DVD no Rio.

- “Cê” tá brincando! – Eu nem acreditava naquilo.

- Sério!  – Ela me afirmou, agora mais confiante.

- Quando ela vai embora? – De repente senti um medo terrível de perder a minha “tempestade”.

- Parece que amanhã. Tá só esperando uma confirmação do voo – Ao falar isso a minha irmã ficou com a voz triste e imaginei como era difícil pra ela ficar longe da amiga novamente.

- Obrigada por me mostrar a carta – Agradeci, sério, me levantando da cama e seguindo até a porta.

- O que você vai fazer? – A expressão da minha irmã era de preocupação.

- Vou atrás da Julinha, ué... A gente tem uma conversa pra colocar em dia – Saí do quarto praticamente correndo levando a carta comigo. Dentro de mim eu carregava um misto de sentimentos inexplicáveis. Era raiva, alívio, amor, saudade... Eu ainda não sabia como reagir à todas aquelas confissões, mas eu tinha a certeza de uma coisa: Eu precisava ver a Júlia e ouvi-la explicar todo aquele rolo pra mim. Dessa vez aquela “muié” não me escapava!

***

Ponto de vista da Júlia

*** Link para música - https://www.youtube.com/watch?v=9ox9OURAlaM *** (Quando a trilha sonora é do Rei a coisa fica séria!)

“Acabei com tudo
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos
Rasgados na minha saída... “

O rei cantava à plenos pulmões enchendo a casa com uma batida envolvente. Eu adorava ouvir Roberto Carlos, por mais que pudesse parecer antiquado para a minha idade. Além do mais, aquela música era feita sobre medida para mim. Fera ferida era o que eu era, sem dúvidas.

“Mas saí ferido
Sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito
Muitas vezes
No peito atingido...”

Sentei no chão do banheiro cruzando as pernas como índio e coloquei a embalagem do teste de farmácia na minha frente. Eu estava organizando as minhas coisas para a minha partida quando dei de cara com um pacote de absorventes no meio da bagunça do meu quarto. Fiz as contas mentalmente e quase caí para trás. Nada de menstruação há mais de um mês! Corri para o meu anticoncepcional, um que eu havia comprado ainda na Espanha. Vencido! E tinha aquela noite que eu dormi com o Luan sem nenhuma proteção extra... A expectativa correu pelas minhas veias enquanto minha cabeça tentava assimilar o quê estava acontecendo.

Será? A vida esta me dando uma segunda chance? Uma oportunidade de corrigir os meus erros?

- Destino, seu lindo! – Comentei, agradecendo pela primeira vez à “força maior do universo”.

Corri e liguei para a farmácia. Minutos depois o teste estava em casa. Fui para o banheiro, abri o pacote e segui as instruções.

Agora era esperar. Três tirinhas azuis e eu seria a pessoa mais sortuda do mundo por poder continuar o meu “conto de fadas interrompido”, como classificou a Thaeme.

Os minutos demoravam a passar e o rei continuava a sua canção. Cantarolei com ele, tentando controlar a minha ansiedade.

“Eu sei!
Quanta tristeza eu tive
Mas mesmo assim se vive
Morrendo aos poucos por amor
Eu sei!
O coração perdôa
Mas não esquece à tôa
E eu não me esqueci...

Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou Fera Ferida
No corpo, na alma
E no coração...”

Chequei o pedaço de plástico na minha frente.

Uma tirinha azul...

Duas tirinhas azuis...

Campainha!

- Campainha? Mas quem é? Justo agora? – Resmunguei comigo mesma largando o teste jogado no chão do banheiro e correndo para a varanda para checar quem era.

- Luan? – Gritei lá de cima ao vê-lo parado, encostado na pick up preta do “seu” Amarildo”, segurando um pedaço de papel nas mãos e com um cara de... bravo?

Opa! Aí tem coisa!

Fiz sinal para que ele esperasse e desci correndo as escadas, desligando o rádio do quarto antes. Achei o controle do portão jogado de qualquer jeito sobre o sofá e fui abrir para o Luan. Era início de noite, o movimento na rua era pouco, mas eu não queria arriscar o deixando esperar muito tempo. Sem contar que eu estava muito curiosa para saber o motivo daquela visita tão inesperada. Nós não nos falávamos desde a nossa briga.

Vi o portão deslizar para cima e o Luan entrar decidido na minha garagem.

- Ao quê devo a honra, Sr. Disco de Ouro em Portugal? – Tentei quebrar o climão que estava entre nós sem sucesso.

Ele apenas caminhou até mim e sem aviso, me abraçou muito forte, me esmagando nos seus braços fortes. Fiquei sem entender nada, meu coração fazendo uma sequência incrível de saltos mortais dentro do meu peito de tão feliz que fiquei com aquele gesto.

- Tá, eu também estou com saudades de você, mas você vai me deixar sem ar desse jeito, Lú – Falei entre os seus braços, me deleitando com aquele contato tão íntimo.

Esperei pela sua resposta, mas o que eu ouvi foi ele começar a chorar.

Ai caramba! Como assim?

- Luan, o quê foi? – Fiquei preocupada e, com algum esforço, consegui me soltar dele e dar um passo para trás. Sua expressão era triste, os olhos vermelhos, o rosto molhado pelas lágrimas. Encarei as suas mãos e vi um pedaço de papel em suas mãos. Olhei melhor para aquilo... Folha de caderno, caneta rosa, letra sem muito capricho...

E aí caiu a ficha... Ele sabia! E se estava com a minha carta nas mãos, a Bruna foi quem o ajudou a descobrir toda a verdade... Ahh Anjinha, por que você fez isso comigo?

- Você... – Apontei para o pedaço de papel nas suas mãos sem nem conseguir terminar a frase. Meu coração parecia que estava brincando de “estátua” dentro do peito, porque se recusava a voltar a bater e o meu sangue estava congelado nas veias. O quê eu ia dizer para o Luan? Como explicar todo o meu passado?

Ele apenas balançou a cabeça, indicando que sim enquanto secava as lágrimas do seu rosto e respirava fundo.

- Por que você não me contou, Júlia? – A voz dele era quase um sussurro e estava carregada de ressentimento.

- Era o seu sonho, Luan... Eu sabia o quanto ser cantor era importante para você! – Respondi tentando manter o meu tom de voz calmo e controlar todo o meu nervosismo.

- E o sonho que eu tinha de ficar com você, de casar com você... de ter filhos com você, onde fica nessa história toda, Júlia? – De repente a sua voz ficou alta, nervosa e ele bateu com força no Amora, que estava estacionado na garagem servindo de testemunha para a nossa discussão.

Fui pega de surpresa. Eu não imaginava que ele fosse dizer isso. Senti como se tivesse um tapa na cara, um choque de realidade. Eu nunca me permiti pensar em um futuro como aquele ao lado do Luan. Filhos, casamento... Ouvir ele dizer que planejava viver tudo aquilo ao meu lado mexeu comigo. Automaticamente me lembrei do exame de gravidez que esperava por mim no banheiro do segundo andar. Se ele realmente sonhava com uma vida ao meu lado, talvez a gente estivesse muito perto disso...

- Me fala, Júlia! Por que você não me contou? – Ele voltou a me perguntar, muito nervoso, andando de um lado para o outro, inquieto, balançando a carta com a mão. Voltei a minha atenção para ele deixando o teste de lado por um momento – Eu poderia ter cuidado de você, poderia ter cuidado do nosso filho... Júlia, eu já trabalhava, já era mais responsável que muito “marmanjo” por aí...

- Eu fiquei com medo do Luan! Tive medo de te prejudicar... O Anderson fez parecer que era a pior coisa do mundo estar grávida de você! E aí meus pais entraram na história, e... – Confessei, tropeçando nas palavras, desesperada para que ele me entedesse.

- Jú, eu não acredito que ele fizeram isso com você porque acharam que eu não ia assumir o meu filho. Você teve que tirar a criança... Meu Deus, Júlia! Você tinha que ter me contado... – A agonia na sua voz era tanta que me feria como dezenas de facas entrando na minha carne. Ele voltou a bater, nervoso, na lateral do Amora e depois caminhou até mim, segurando o meu rosto com as duas mãos, a carta arranhando a minha pele – Quando eu disse que estaria pra sempre ao seu lado, eu estava falando sério. Era pra sempre, Júlia! Você deveria ter me contado – Suas palavras foram duras, mas seu toque no meu rosto era suave, delicado e demonstrava toda a preocupação que ele tinha comigo.

- Para mim ainda é para sempre – Respondi baixinho, meus olhos verdes refletidos nos dele – E mesmo longe, eu sempre estive ao seu lado. E seu eu não contei, primeiro foi porque não quis atrapalhar o seu sonho. E depois foi porque não queria te fazer sofrer. Tudo isso é muito egoísta, Luan. É a pior parte de mim, é o que eu tenho de mais negro... Você não merece nada disso – Desviei o meu olhar ao dizer as últimas frases. Eu não tinha coragem de admitir aquilo na sua frente.

- Júlia, a culpa não foi sua... – Ele vacilou ao ver a minha expressão desconsolada – Aliás, eu não acredito que o Anderson fez isso com você! Eu vou ter uma conversa muito séria com ele...

- Não! Por favor, não... Vamos deixar isso no passado – Pedi, ansiosa.

- Por que? – O Luan fez cara de quem não estava entendendo nada.

- Ele já me pediu desculpas. O Anderson não tinha noção que os meus pais tomariam uma atitude tão... radical. Quando ele ficou sabendo, o pior já tinha acontecido e eu já estava na Espanha. O seu empresário e a Dag já me pediram desculpas – Expliquei – Foi na gravação do DVD do Rio. Nós concordamos em deixar isso para trás. Você estava feliz, e era isso o quê importava...

- DVD do Rio... – Ele repetiu com o olhar distante, as mãos agora no meu ombro, ainda me segurando – Por que você não foi falar comigo? Sabia que eu cheguei a te ver no meio do pessoal? Mas eu não acreditei que era você...

- Você estava me odiando, lembra? – Levantei uma sobrancelha fazendo graça e ele riu. Respirei fundo, finalmente uma trégua naquele climão!

- Eu ainda não consigo acreditar... Por que você passou por tudo isso calada? – Ele balançou a cabeça, como se tentasse clarear as ideias.

- Porque eu te amava, Luan! Porque eu te amo, sempre vou te amar e seria capaz de fazer qualquer coisa para te ver sorrir – Respondi, com o tom de voz mais alto do que eu desejava. Mas aquela era a única verdade. Coloquei uma das minhas mãos no seu rosto e tomando coragem, continuei – Eu sei que tudo isso foi muito confuso, sei que talvez você nunca queira me perdoar, mas ainda existe uma chance, Luan. É como sua irmã vive me falando: Ninguém pode voltar atrás e mudar o que já aconteceu, mas todo mundo pode começar de novo e fazer um novo final... A gente pode fazer um novo final, Lú. Só depende de você – Pedi, cruzando os dedos para que ele aceitasse aquela segunda chance que a vida estava nos dando.

Ele me encarou sério, os olhos brilhando com a mesma paixão do tempo que namorávamos. Senti uma vontade enorme de beijá-lo, mas resisti. Agora ele tinha assumido a Jade, não seria certo ficar pulando no pescoço dele daquele jeito.

O Luan continuou me encarando sem falar nada, as mãos no meu ombro tremendo de leve, sua respiração acelerada. Eu quase conseguia ouvir a cabeça dele raciocinando, considerando as possibilidades, analisando a situação. Esperei pacientemente colocando a minha outra mão nos seus cabelos e o acariciando. Ele sorriu com o meu gesto e eu me derreti toda.

- Jú... – Por fim ele falou, a voz mansa de um menino – Eu preciso pensar em tudo isso. Tem muita coisa que eu ainda não entendo... É muita coisa pra processar, acho que a minha cabeça já tá pirando aqui.

Senti meu corpo relaxar. Pelo menos ele não disse não de cara...

- Vem, vamos sair da garagem – Peguei a sua mão e a puxei para dentro o levando até o sofá. Depois peguei a carta e coloquei sobre a mesa de centro – Pode perguntar, eu vou te contar tudo o que você quiser.

Passamos boa parte da noite esclarecendo todos os detalhes dessa história. Eu contei para ele tudo o quê eu dissera para a Thaeme, como a falsa traição, a minha época “dark”, e também falei dos anos que passei na Espanha e de como eu e a Bruna sempre mantivemos contato para que ela me passasse as informações da sua carreira.

Fiquei surpresa com a facilidade com a qual eu consegui abrir o meu coração para ele. Eu sempre imaginei aquela cena muito mais dolorosa, regada a muitas lágrimas e discussão, mas foi ao contrário. Eu abri o meu coração para o Luan. Expliquei cada detalhe, contei sobre a minha dor, sobre como vê-lo feliz me ajudou a seguir adiante. Ele apenas me olhava, a expressão livre de qualquer julgamento, disposto a escutar a minha versão dos fatos antes de chegar a uma conclusão. Nossa conversa foi como nos tempo de escola. Tudo era como estar desabafando com um colega de classe. Expus minha alma para o meu “guri” e ele recebeu toda a minha “bagagem” emocional, mandando toda a culpa que eu senti ao longo dos últimos anos embora. Aquele era o meu Luan, o meu melhor amigo, que me entedia com poucas palavras. E só ele conseguia ter o melhor de mim, a melhor parte da Júlia.

 

Ele ouviu tudo, calmamente, fazendo comentários e até rindo de algumas coisas que falava. Nós estávamos lado a lado no sofá, nossas pernas se encostando, o calor do seu corpo contra o meu, o cheiro dele me enfeitiçando... Eu estava fazendo um tremendo esforço para resistir à tentação de tocá-lo e beijá-lo e ele parecia estar fazendo o mesmo.

- Você ficou bem? Digo, depois de tirar o bebê? – Sua voz era cautelosa.

- Fiquei... Doeu um pouco, eu fiquei incomodada, mas naquela época a for física era o que menos me importava – Contei fazendo careta só de lembrar daquela época.

- Eu senti a sua falta – Ele confessou, olhando para as suas mãos pousadas no seu joelho  – Toda vez que eu cantava a nossa música eu sentia um aperto no peito, um vazio que não passava...

- Eu também senti muito a sua falta – Coloquei a minha mão sobre a dele – Desculpa se te magoei e se baguncei tudo. Tudo o que eu queria era te ver feliz.

- Acho que eu preciso te agradecer, né? – O seu tom era de angústia – Talvez, no fundo, o pessoal estava certo. Eu nunca teria te deixado sozinha com um filho meu e sairia para fazer shows por aí...

- Você não precisa agradecer nada – Resmunguei triste.

- Você acha que teria dado certo? Nós dois, um filho... – Ele ainda não me olhava. Aparentemente, o seu tênis era muito mais interessante naquele momento...

- Claro que teria – Respondi com firmeza.

- Eu chorei lendo a sua carta. Se eu não tivesse lido aquelas palavras, acho que eu não conseguiria entender nada disso. Foi como se eu pudesse tocar a sua alma, sentir a sua dor, ver o quanto você sofreu. Eu sinto muito que você tenha passado por tudo isso por mim... – Vi o Luan levantar o olhar pra mim e me encarar. E foi como sempre: Minhas pernas bambearam, meu coração dançou um frevo dentro do peito e eu perdi a noção. Aquele brilho que ele carregava nos olhos sempre me hipnotizava.

- Naquela carta está a minha Júlia, a menina que eu amo. E hoje eu vi ela aqui, sentada nesse sofá, conversando comigo como nós sempre fizemos. Eu pensei que tivesse perdido essa Jú para sempre – Ele virou o corpo para mim, a distância entre nós diminuindo consideravelmente. Meu coração parado dentro do peito. Ele disse “a menina que eu amo”? Foi isso mesmo?

- Eu estou muito aliviado por saber toda a verdade, Jú. Acho que “tô” até feliz... Mas me promete uma coisa? – Ele colocou a mão por debaixo do meu cabelo, segurando a minha nuca – Nunca mais mente pra mim. Nunca mais, entendeu? Eu quero, e vou estar sempre ao seu lado... Só preciso de um tempo para entender tudo isso.

- Você tem todo o tempo do mundo... Só o fato de você não me odiar já me deixa muito feliz – Confessei com a voz fraca. O seu toque tirando completamente o meu foco.

- Como eu poderia te odiar, Júlia? Passei um tempão torcendo para você voltar e dizer que se arrependeu de ter ido embora. E agora descubro que você nunca quis me deixar... Por mais que isso tudo seja uma loucura, eu não tenho como te odiar... – Suas palavras eram suaves, doces, a sua voz um calmante para todos os meus medos. Senti toda a tensão indo embora do meu corpo, só deixando a sensação da mão do Luan me segurando.

Fui debruçando o meu corpo contra o dele, até a distância entre nós ser de menos de um palmo. Fixei os meus olhos sobre os dele e coloquei a minha mão no seu ombro, buscando apoio.

- Você nunca vai me perder. No fundo, você sabe que a Júlia que você ama sempre esteve aqui o tempo todo. É por isso que a gente nunca consegue resistir um ao outro. Eu sou capaz de compreender até a sua alma e você conhece cada pedacinho de mim... – Fechei o olho por um momento e encostei o meu nariz no dele, a respiração acelerada. Ficamos por um momento dessa maneira, só sentindo o contato entre nós, deixando que os nossos corpos falassem pela gente.

- Jú, a gente não pode... – Ouvi ele me avisar, a voz quase uma súplica para que eu parasse.

- É, a gente não pode – Respondi, ainda de olhos fechados – Mas você ainda pode cantar para mim... Por favor, tenho tanta saudade disso!

Abri os olhos e afastei os nossos rostos. O Luan sorria para mim - Eu adorava cantar para você! – Ele me respondeu, animado.

Sem pensar duas vezes, e sem pedir permissão, deitei a minha cabeça no seu colo, ajeitando o meu corpo sobre o sofá. Ele me olhou surpreso, mas depois abriu ainda mais o sorriso e começou a cantar.

*** Link para música - https://www.youtube.com/watch?v=n_xY9cKb95g ***

Sua voz era suave, grave e perfeita. Ele mexia no meu cabelo me fazendo cafuné e me olhava com um imenso carinho nos olhos.

Fechei os olhos e apenas fiquei ouvindo o Luan cantar a nossa música, a nossa história de amor contada em versos de uma canção.

"E eu que achava que...
A vida fosse só uma viagem,
Que o mundo tinha me esquecido!
E eu que achava que...
O amor não existia pra todo mundo,
Que era coisa de cinema!"

Relaxei o corpo e fiquei apenas sentindo o seu toque suave, sua voz de mel nos meus ouvidos, os nossos corações batendo no mesmo ritmo.

"Aí você apareceu...
Com um olhar me convenceu
Anjo de asas coloridas,
Amor além da vida!
Eu não resisti a tanto amor...
O meu coração se entregou,
E venha o que vier,
Eu vou estar pra sempre com você!"

Aquele momento era tão perfeito que me lembrava a primeira vez que eu e ele nos beijamos. Ele chegou bem perto de mim, e com a mão na minha cintura, encostou os seus lábios nos meus, me beijando de uma maneira muito apaixonada. Depois ele me encarou, todo sem jeito e me disse:

“Você é tudo o que eu sempre quis, princesa”

“Você é muito mais do que eu sempre quis, Luan”

***

Acordei de madrugada na minha cama, com um cobertor em cima de mim. Demorou para entender o quê estava acontecendo, mas quando eu me lembrei de tudo, fiquei que nem uma boba sorrindo abraçada com o meu travesseiro.

O Luan devia ter me levado para cama antes de ir embora... Ele não me odiava, mesmo sabendo de toda a verdade. Senti uma onda de alívio tomar conta de mim. Era bom tirar todo o peso daqueles segredos das minhas costas.

Olhei para o lado. No criado mundo, meu celular piscava. Várias e várias mensagens da Bruna.

De: Bruninha

Para: Jú Prin

“ Meu irmão está indo para aí. Ele leu a carta. Atende esse telefone, pelo amor de Deus...”

De: Bruninha

Para: Jú Prin

“Meu irmão já está aí? Vocês estão bem? Jú, me dá sinal de vida!”

De: Bruninha

Para: Jú Prin

“Se você ainda não me ligou é porque a situação não deve estar tão ruim assim... Desculpa ter mostrado a carta, mas não queria ver vocês separados de novo”.

De: Bruninha

Para: Jú Prin

“A curiosidade está me matando. Queria ser uma mosquinha para saber o quê está rolando aí!”

De: Bruninha

Para: Jú Prin

“Meu irmão acabou de chegar em casa. Ele disse que vocês conversaram e que ele está tentando entender tudo o quê aconteceu. Ele também disse algo relacionado a encontrar a verdadeira Júlia de novo... Hum... Vocês se acertaram, é? Pelo amor de Deus princesa, me conta!

Ri do desespero da minha amiga. Agora era tarde, ela já deveria estar dormindo. No dia seguinte eu ligaria cedo para a Brú e passaria o relatório completo.

Reli a parte que ela escreveu sobre o Luan ter encontrado a verdadeira Júlia. Naquela noite eu realmente fui eu mesma, sem disfarces, sem mentiras. Abri o meu coração e como disse o Luan, permiti que ele enxergasse a minha alma.

Olhei para o meu celular novamente e o meu coração disparou dentro do peito. Era uma mensagem do Luan.

De: Luan

Para: Julinha

“Por favor, não vai embora.

P.S.C.V.”

Olhei para a porta do banheiro e levantei com um pulo da cama. Dependendo do resultado que eu encontrasse no teste jogado no chão, eu nunca mais o deixaria.

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Notas finais: E aí? O que acharam? Ficou bom?

Tô ansiosa aqui esperando as opiniões de vocês! Não sei se ficou tão bom, mas me esforcei bastante, juro! 

 Lembrando que já estamos na reta final de ANC! Façam as suas apostas: Jú está grávida? Ela vai embora? E a Jade? Huumm.... Fic tá fervendo!

Enfim,

Capítulo especialmente dedicado a minha querida Fatinha, que mesmo com um oceano nos separando, sempre está aqui, perto de mim!

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